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1 SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO SERVIÇO SOCIAL ANA CLAUDIA SANTOS, ELIS ROSE RODRIGUES VALOES, IANA NASCIMENTO BACELAR SOUZA, JULIA DE BRITO SILVA, LUZINETE SANTOS VIANA, RAFAHELI SANTOS DE ARRUDA PARTICIPAÇÃO POPULAR NOS ESPAÇOS DE EXERCÍCIO DE CONTROLE SOCIAL NAS POLÍTICAS SOCIAIS. JEQUIÉ-BA 2017 2 ANA CLAUDIA SANTOS, ELIS ROSE RODRIGUES VALOES, IANA NASCIMENTO BACELAR SOUZA, JULIA DE BRITO SILVA, LUZINETE SANTOS VIANA, RAFAHELI SANTOS DE ARRUDA PARTICIPAÇÃO POPULAR NOS ESPAÇOS DE EXERCÍCIO DE CONTROLE SOCIAL NAS POLÍTICAS SOCIAIS. Trabalho apresentado ao Curso Serviço Social da UNOPAR - Universidade Norte do Paraná, para a disciplinas: Pesquisa Social e Oficina da Formação, Instrumentalidade em Serviço Social, Políticas Setoriais e Políticas Setoriais Contemporâneas, Movimentos Sociais, e Estágio em Serviço Social. Professores: Patrícia Soares Campos, Amanda Boza G. Carvalho, Maria Lucimar Pereira, Maria Angela Santini, Nelma S. A. Galli JEQUIÉ-BA 2017 3 SUMÁRIO 1 Introdução..........................................................................................................4 2 Desenvolvimento...............................................................................................6 2.1 Os Conselhos Gestores em Porto Alegre....................................................6 2.2 Participação popular......................................................................................7 2.3 O Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca), o Conselho da Criança e Adolescente e o Conselho Tutelar......................................................................8 2.4 O Conselho Tutelar.........................................................................................9 3.0 Conclusão........................................................................................................11 4 1-INTRODUÇÃO O conselho municipal de políticas públicas são canais institucionais, plurais, permanentes, autônomos, formados por representantes da sociedade civil e poder público, cuja atribuição é a de propor diretrizes das políticas públicas, fiscalizá-las, controlá-las e deliberar sobre elas, sendo órgãos de gestão pública vinculados à estrutura do Poder Executivo, ao qual cabe garantir a sua permanência. Mas, afinal, o que são os conselhos municipais? Esta é uma pergunta cuja resposta se torna essencial diante da atual controvérsia acerca da PNPS (Política Nacional de Participação Social). Para responder o questionamento apresentado no título, trazemos a definição de conselhos do Portal da Transparência: “Os conselhos gestores de políticas públicas são canais efetivos de participação, que permitem estabelecer uma sociedade na qual a cidadania deixe de ser apenas um direito, mas uma realidade. A importância dos conselhos está no seu papel de fortalecimento da participação democrática da população na formulação e implementação de políticas públicas”. A Constituição Federal de 1988 introduziu os princípios do controle social e da participação popular como instrumentos de efetivação de gestão político administrativa financeira e técnico-operativa, com caráter democrático e descentralizado, nas diversas políticas públicas. Com o advento desta Constituição ficou estabelecido que a Assistência Social é política pública, devendo ser gerida através das diretrizes democráticas da descentralização, municipalização, e participação. O artigo 204 da Constituição Federal e da Lei Orgânica da Assistência Social, em seu artigo 6°, dispõe: “as ações na área de Assistência Social são organizadas em sistema descentralizado e participativo constituído pelas entidades e organizações de Assistência Social (...) que articule meios, esforços, recursos, e por um conjunto de instâncias deliberativas compostas pelos diversos setores envolvidos na área” (LOAS, 1993). Neste marco histórico dois desafios estavam postos para a assistência social: consolidar-se como política pública – o que necessariamente demandaria a construção de estruturas públicas de serviços que acolhesse a sua demanda – e instituir um sistema de gestão democrático e participativo. Tais desafios tornavam- se, à época, ainda maiores tanto no que concerne ao primeiro ponto (consolidação 5 como política pública), pois tal fato demandaria do Estado colocar-se como agente principal na instituição deste novo sistema e, nesta linha, cabe lembrar o modelo de Estado proposto para a década de 1990, sob a orientação de diminuição de gastos na área social e também a assistência social no Brasil, que não havia, até então, se configurado como política de proteção social. Quanto ao segundo aspecto - que definia a instalação desta política de forma democrática e participativa; os novos preceitos da gestão de políticas sociais e as mudanças de paradigmas no âmbito da sociedade civil que estava respirando, depois de longos anos, a democracia - a assistência social deveria construir um caminho de não apenas ampliar a proteção social mas a capacidade de organização de seu público usuário. No entanto, a expansão quantitativa dos conselhos gestores e mesmo o seu caráter deliberativo não significam necessariamente seu sucesso em superar os desafios a eles interpostos. Este aspecto qualitativo é, realmente, mais desalentador, como revelam relatos de experiências práticas: deficiências quanto à representatividade dos conselheiros e quanto à capacidade de deliberar e impor suas decisões ao governo são frequentemente apontadas na literatura. (CARVALHO, 1998; TEIXEIRA, 2000a). Assim, diante da importância desta nova institucionalidade, torna-se pertinente um trabalho destinado a estudar os limites e as possibilidades dos conselhos para alcançarem os objetivos propostos: a democratização da gestão das políticas públicas e maior eficiência no controle direto da sociedade sobre os governos. Este é precisamente o propósito deste estudo. 6 2-DESEMVOLVIMENTO 2.1- Os Conselhos Gestores em Porto Alegre Os Conselhos Municipais em Porto Alegre estão presentes na estrutura da administração pública desde a década de 1930. Eles foram criados pelo artigo 101 da Lei Orgânica do Município, regulamentados por meio da Lei Complementar nº 267, de 16 de janeiro de 1992 e surgiram para ampliar o diálogo e a cooperação entre o Governo e a sociedade civil, propiciando um espaço de participação dos cidadãos na elaboração e na fiscalização das políticas públicas. São compostos por número ímpar de membros, observada a representatividade das entidades comunitárias de moradores, entidades de classe e da administração municipal. Os primeiros Conselhos Municipais de Porto Alegre foram o de Contribuintes (1938), o do Plano Diretor (1939) e o de Serviços Públicos (1952). Na década de 1970 a cidade chegou à casa dos oito conselhos municipais. Na década de 1990, foram implantados vários conselhos de composição tripartite, isto é, com a representação do executivo municipal, de instituições setoriais e das comunidades organizadas, que elegem seus membros. Que são: Casa dos conselhos municipais, Conselho municipal de alimentação escolar – CAE, Conselho municipalde agricultura e abastecimento – CMAA, Conselho municipal de assistência social – CMAS, Conselho municipal da cultura – CMC, Conselho municipal de desportos – CMD, Conselho municipal dos direitos da criança e do adolescente – CMDCA, Conselho municipal de direitos humanos – CMDH, Conselho municipal de desenvolvimento urbano e ambiental – CMDUA, Conselho municipal de educação – CME, Conselho municipal da juventude – CMJ, Conselho muni cipal de saúde – CMS, Conselho municipal dos direitos do povo NEGRO – CNEGRO, Conselho municipal sobre drogas – COMAD, Conselho municipal do meio ambiente – COMAM, Conselho municipal de acesso a terra e habitação – COMATHAB, Conselho municipal de ciência e tecnologia – COMCET, Conselho municipal dos direitos da mulher – COMDIM, Conselho municipal de justiça e segurança – COMJUS, Conselho municipal do patrimônio histórico e cultural – COMPAHC, Conselho municipal de segurança alimentar e nutricional sustentável de porto alegre – COMSANS, Conselho municipal de transporte urbano – COMTU, 7 Conselho municipal do idoso – COMUI, Conselho municipal de proteção e defesa dos direitos do consumidor –COMDECON, Conselho municipal dos direitos das pessoas com deficiência de porto alegre –COMDEPA, Conselho municipal de acompanhamento e controle social do fundo de manutenção e desenvolvimento da educação básica e de valorização dos profissionais da educação-FUNDEB 2.2-Participação popular Dos 26 conselhos instituídos por lei, 25 estão em funcionamento, o que mostra a importância dos espaços para a participação popular na cidade. Esses conselhos são fundamentais para qualificar o espaço democrático e fortalecer o exercício da cidadania. A partir de 2009, os Conselhos de Políticas Públicas decidiram organizar o Fórum dos Conselhos, instância com competência para encaminhar ao Executivo Municipal propostas de políticas públicas elaboradas conjuntamente pelos Conselhos Municipais e cujo conteúdo tenha uma abrangência transversal entre mais de dois Conselhos. O fórum foi criado em dezembro de 2010 e regulamentado em setembro de 2011. Em 2014, uma antiga reivindicação dos Conselhos foi atendida pela Prefeitura com a inauguração da Casa dos Conselhos. O espaço, localizado em uma antiga casa de dois andares que foi totalmente restaurada, conta com escritórios e um grande salão para realização das reuniões. 8 2.3-O Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca), o Conselho da Criança e Adolescente e o Conselho Tutelar No Brasil, em 1990 o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei federal normatizou a Doutrina de Proteção Integral que instaurou uma lógica em que a criança e o adolescente passam a ser vistos como sujeitos de direitos. O Estatuto assegura às crianças e adolescentes todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, (Direito à vida e à saúde, Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade, Direito à Convivência Familiar e Comunitária, Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho) além de proteção integral visando a proporcionar o desenvolvimento físico, mental, moral e social em condições de liberdade e dignidade. O estatuto afirma a condição jurídica da C/A como sujeitos de direitos reconhecendo-lhe prioridade absoluta, bem como sua condição de pessoa humana em processo de desenvolvimento, destinando-lhe proteção integral, mantendo-os a salvo de toda e qualquer negligência, discriminação, violência, crueldade, opressão e exploração. O Estatuto reafirmando a importância da participação da sociedade civil na defesa da criança e adolescente cria três novas estruturas: Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente, Fundos da Criança e do Adolescente vinculados aos respectivos conselhos (art.88, inciso II e IV) e o Conselho Tutelar (art.131). O Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente são "[...] órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária, por meio de organizações representativas, segundo leis federais, estaduais e municipais" (BRASIL/1990). Os fundos são responsáveis pela administração das verbas destinadas à criança e ao adolescente e devem ser vinculados aos respectivos Conselhos dos Direitos, que definem o emprego da dotação orçamentária. E o Conselho Tutelar (art.136), cuja finalidade central é zelar pelo cumprimento dos direitos das crianças e dos adolescentes, conforme enunciados no ECA. Portanto, o Conselho Tutelar, o Conselho da Criança e do Adolescente, e o Fundo fazem parte de um todo que visa a garantir os direitos da criança e do adolescente 9 num novo paradigma que se estabelece a partir do ECA que é o da proteção integral. 2.4- O Conselho Tutelar O Conselho Tutelar é um ente público, pertence às estruturas do Estado assim como os conselhos municipais. Da mesma forma, é permanente, isto é, independe da vontade de governos criá-los ou não. Surge no mesmo paradigma da criação dos conselhos municipais, na lógica de descentralização, da participação e da efetivação da cidadania, ensejadas na Constituição e detalhadas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os conselhos tutelares, assim como os conselhos gestores, não se configuram enquanto entidades de atendimento (previstas no art. 90 do ECA). Tem por atribuição zelar pela garantia dos direitos da criança e adolescente expressos no ECA reafirmando a Doutrina da Proteção Integral. Para zelar por estes direitos, tem as suas atribuições definidas em lei, entre outras, aplicar medidas de proteção às crianças e adolescentes previstas no art. 101, I a VII e medidas aplicáveis aos pais ou responsável elencadas no art. 129, I a VII. O Conselho Tutelar zela pelos direitos, mas não desempenha funções do assistente social, do pedagogo, do professor, do psicólogo, e tampouco substitui o papel dos pais. São instâncias de ordem pública, e que tem as suas finalidades e atribuições definidas em leis. Não é da competência do conselho determinar como devem as crianças e adolescentes serem educadas. Se sob esta ou aquela crença, esse ou aquele valor. Essas são atribuições que competem aos pais enquanto responsáveis pelos filhos. Os conselheiros não podem e não devem sobrepor-se a essa responsabilidade. Podem e devem intervir, sim, sempre que os direitos reconhecidos no ECA, forem ameaçados ou violados, pela sociedade, pelo Estado, pelos pais ou responsável, ou ainda em razão da própria conduta da criança e do adolescente. 10 Causa estranheza, portanto, quando em recente pesquisa realizada junto à conselheiros, mais de 70% apontam que a grande maioria das pessoas que buscam o conselho o fazem com a" intenção de provocar mudanças de comportamento" nas crianças e adolescentes. Esse dado nos leva a pensar que está havendo uma evidente transferência de responsabilidade dos pais e instituições para os conselheiros tutelares. Não é de estranhar, portanto, que a busca aos conselhos seja tão grande. O Conselho Tutelar não é um órgão punitivo ou repressor (nos moldes do antigo código de menores), e sim um órgão de defesa de direitos. É da competência do CT discutir a questão dos direitos humanos? A questão da redução da maioridade penal? Eu respondo que sim. E por quê? Porque discutir essas questões é estar em consonância com o paradigma que perpassa o ECA que é o da Proteção Integral e que disputa, na sociedade, instaurar-se enquanto paradigma hegemônico. Ainda mais, quando nos deparamos, cada vez mais com um retrocesso na defesa dos direitos humanos. Não existem verdades absolutase sim processos construídos historicamente que se fazem hegemônicos ou pela força (física, ideológica) ou pela persuasão, pelo convencimento, pela efetivação do bom debate e das boas práticas. A disputa pelo poder é uma luta legitima, quando instaurada pela disputa de um projeto, com vistas a torná-lo hegemônico. É preciso fazer a boa disputa explicitando os projetos, agindo na concretização desse projeto, conquistando aliados a esse projeto. As práticas autoritárias, clientelistas, patrimonialistas, de compadrio não se rompem apenas pela emergência de uma nova legislação, ou de um novo paradigma. A emergência de uma nova legislação é importante porque coloca na ordem do dia a discussão sobre o novo, o diferente. Ao mesmo tempo, instaurar novas práticas, novas atitudes consoantes com novos modos de pensar não se efetivam de uma hora para outra, ou mesmo em anos. São processos que dependem de disputa, de construção de hegemonia, onde forças adversas se confrontam e se antagonizam. 11 Na produção de conhecimento e na prática cotidiana do conselho e de toda a rede de proteção é onde se afirma, se consolida e se institui o Conselho Tutelar enquanto instância vinculada a PROTEÇÃO INTEGRAL. 3.0- Conclusão A possibilidade de participação na administração pública no país foi evocada com a Constituição Federal de 1988 e, no nível local de cogestão pública, a importância dos Conselhos Gestores de Políticas Públicas é inegável. Atendendo às exigências do dispositivo constitucional e demais legislações, houve uma proliferação dos conselhos por todo o país, reforçando o papel descentralizador preconizado pelo Estado e permitindo a manifestação das demandas da população. Nos municípios, ente que ganhou maior relevância após a descentralização, os conselhos foram se estabelecendo, em função do repasse de recursos vindos da União e dos estados, mas também devido às forças mobilizatórias locais, que não tinham esse espaço e autonomia em épocas que antecederam a Constituição de 1988. Este portfólio não objetivou esgotar as discussões acerca dos conselhos gestores na esfera local, mas contribuir para a construção de diferentes análises, a partir de novos olhares. Agregando, assim, para ressaltar a importância dos conselhos, sobretudo aqueles que visam à proteção social. Além disso, apresentou-se como eles são determinantes para a legitimação da gestão social, vertente que se encontra em curso e em via de institucionalização mais ampla e que, diante de um processo dialético de construção, tem desafiado os resquícios deixados pelos modelos de gestão pública fundamentados na prática empresarial econômica. Finalizando é preciso reafirmar que tanto os Conselhos Tutelares quanto os Conselhos Gestores de Políticas Públicas são instâncias criadas pela pressão dos movimentos sociais, como objetivo de ampliar o controle social através da participação popular, democratizar as estruturas de poder e fortalecer uma cultura de defesa de direitos, de cidadania. A efetivação desses propósitos é o desafio, ainda hoje, posto a todos nós.
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