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SOCIEDADE PIAUIENSE DE ENSINO SUPERIOR LTDA INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS PROF. CAMILLO FILHO BACHARELADO EM DIREITO. DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II – OBRIGAÇÕES. PROFESSOR: DILSON REIS DA ROCHA. 1º PERIODO DE 2017 / ENVIADO EM 24 DE MARÇO DE 2017. "o saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas, principalmente, nas ideias próprias, que se geram dos conhecimentos absorvidos, mediante a transmutação, por que passam no espírito que os assimilam”. Rui Barbosa OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS Pela análise do artigo 264 do Código Civil ocorre solidariedade quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado pela dívida toda. Diante da pluralidade de devedores o credor poderá exigir de qualquer um o cumprimento da obrigação, se o devedor demandado cumprir a obrigação libera os demais. Porém o devedor que pagar a divida toda sub-roga-se, passando a ser credor dos demais codevedores na parte que corresponde a cada um. Exemplificando: José + Francisco └ Pedro / credor └ valor 5.000,00 Portanto se José e Francisco forem devedores solidários de Pedro no valor de R$ 5.000,00 Pedro pode cobrar os cinco mil reais de qualquer devedor, caso receba o valor total do devedor José este terá direito de cobrar de Francisco o valor de R$ 2.500,00 reais correspondente a sua parte. Confirma-se que o mecanismo da obrigação solidária impõe levar em consideração a existência de duas relações: uma interna, entre os devedores solidários; e outra externa, entre estes e o credor ou credores. Porém a solidariedade só existe na relação externa, isto porque internamente cada devedor paga somente a sua parte. As características das obrigações solidárias são: ► Pluralidade de credores ou devedores, pois é imprescindível a ocorrência de mais de um credor ou devedor. ► Multiplicidade de vínculos, podendo ser iguais ou diferentes. ► Unicidade da prestação, visto que cada devedor responde pelo débito todo e cada credor pode exigi-lo por inteiro. ► E a corresponsabilidade dos interessados, já que o pagamento da obrigação por um dos devedores extingue a dos demais. Diferenças entre solidariedade e indivisibilidade. Existe diferenças entre solidariedade e indivisibilidade, desta forma, cada devedor solidário pode ser obrigado a pagar a divida toda, por ser devedor do todo. Nas obrigações indivisíveis o codevedor deve somente a sua parte, sendo obrigado pelo cumprimento integral da obrigação em virtude da impossibilidade de fracionamento do objeto. A solidariedade assemelha-se à indivisibilidade por um único aspecto: em ambos os casos, o credor pode exigir de um só dos devedores o pagamento da totalidade do objeto devido. As obrigações solidárias diferem das obrigações indivisíveis nos seguintes pontos: ► A causa da solidariedade é o titulo, e na indivisibilidade é normalmente a natureza da prestação; ► Na solidariedade cada devedor é obrigado pela divida inteira, enquanto na indivisibilidade solve-se a totalidade, em razão de não poder repartir as cotas devidas. ►A indivisibilidade se justifica pela própria natureza da prestação, mas na solidariedade é sempre de origem técnica, vale dizer, resulta de lei ou da vontade das partes. ►A solidariedade continua mesmo quando convertida em perdas e danos, o que não ocorre na indivisibilidade. Princípios comuns à solidariedade Pela égide do Código Civil dois são os princípios comuns à solidariedade (artigos 265 e 266). Senão vejamos: 1. Não presunção da solidariedade – O artigo 265 não admite a solidariedade presumida, resulta de lei ou da vontade das partes, portanto não se admite a solidariedade que não esteja prevista em lei ou no contrato. É assim, pois a solidariedade consiste em instituto excepcional, e, como toda exceção, não pode ser presumida. Solidariedade legal Já mencionamos que a solidariedade pode ser estipulada pela vontade das partes ou pode derivar de expressa disposição de lei. Podemos citar alguns exemplos de solidariedade proveniente de lei, senão vejamos: O artigo 932 do Código Civil menciona vários exemplos de solidariedade legal. (pai/filhos menores, tutor/curador e empregado/empregador). O mesmo diploma legal em seu artigo 672 menciona a solidariedade entre advogados, quando constar o nome destes no instrumento procuratório na qualidade de outorgados (recebe os poderes). Já o artigo 680 do CC preceitua, que se o mandato for outorgado (quem autoriza) por duas ou mais pessoas para negócios comuns cada um deles é responsável solidário perante o mandatário (advogado). A Consolidação das Leis do Trabalho em seu artigo 2º estabelece responsabilidade solidaria do grupo empresarial pelos direitos trabalhistas de seus empregados. Dessa forma, se José trabalha no Armazém Paraíba, estabelecimento este que faz parte de um grupo empresarial, o grupo é responsável pelos direitos trabalhistas não pagos a José. Desta forma, quando da reclamação trabalhista a ação deverá ser proposta contra o Armazém Paraíba, devendo solicitar a solidariedade do grupo empresarial para que responda de forma solidária pelas dividas. O artigo 942 do Código Civil preceitua que se uma pessoa sofreu ofensas morais de duas pessoas, estas respondem de forma solidaria pela reparação do dano. O Estatuto do Idoso (Lei n° 10.741 de 1º/10/03), disciplina a partir do art. 11 os alimentos devidos aos idosos, atribuindo-lhes, expressamente, natureza solidária. O artigo 12 da referida lei dispõe: “A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores”. É interessante ressaltamos que pela égide art. 1º do Estatuto, idoso são às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Caso os pais tenham idade inferir a 60 anos a ação alimentícia é regulada pelo Código Civil, desta forma, se os pais tiverem mais e um filho a ação deve ser proposta de forma pro rata, ou seja, por parte, não sendo portanto solidária. Outro caso de solidariedade prevista em lei pode visto no artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor , isto porque , os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor. A Constituição Federal em seu artigo 37, § 6º assegura que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviço público responderão pelos danos que seus agentes causarem a terceiros, assegurado a ação regressiva diante de dolo ou culpa. Solidariedade contratual A solidariedade contratual é decorrente da vontade das partes. Para o nascimento da responsabilidade solidaria contratual não é necessário palavras solenes, a mesma resulta de expressões equivalentes, como por inteiro, pelo todo, “pro indiviso”, cada um por todos, um por todos, todos por um, etc. 2. Princípio da variabilidade - Observe o artigo 266 do Código Civil para perceber que a obrigação pode ser diferente entre credores ou devedores. Desta forma a obrigação pode ser solidária entre os devedores, porém a data de vencimento da obrigação mesmo solidária pode ser diferente, vencendo para umno dia 10 e para outro dia 20, podendo também o vencimento ser em locais diferentes para cada devedor. Tendo em vista este princípio, percebe-se que a divida pode está vencida para um e não vencida para outros, então, quando da cobrança, o credor deve propor a ação contra o devedor que contenha o menor número de obstáculos, ou seja, deve reclamar o débito todo do devedor não atingido pelas cláusulas apostas na obrigação. Então, se a obrigação foi constituída com vencimentos diferentes, dias 10,15, e 20, no dia 21 a dívida pode ser cobrada de qualquer devedor, porém no dia 11 só poderá ser cobrada daquele cujo vencimento da dívida ocorreu no dia 10. Enquanto pendente condição suspensiva estipulada para um dos devedores, o credor não poderá acioná-lo. No entanto, sendo titular de um direito eventual (tem o direito mais ainda não pode exercê-lo, art. 125 do CC) poderá praticar atos conservatórios do direito, como no caso de cobrar antecipadamente a divida diante da lapidação do patrimônio pelo devedor. Portanto se o credor só estiver autorizado a cobrar um devedor no dia 20 de maio de 2017, este é titular de um direito eventual, o direito real só ocorre na data do vencimento, se o devedor tiver se desfazendo do patrimônio que garante o pagamento, o titular de um direito eventual poderá cobrar a divida antes do vencimento. OBS: veja que o artigo 333 do Código Civil em algumas situações autoriza a cobrança da divida antes do vencimento. Lembre-se: O princípio da variabilidade é de suma importância quando da oposição das exceções ou matéria de defesa, quando o credor demandar um devedor solidário este poderá opor as exceções comuns e pessoais, as exceções pessoais nascem em grande parte da variabilidade das relações. É interessante ressaltarmos que, se existirem relações variáveis, como no caso de vencimentos diferentes, se o devedor pagar a divida toda este sub-roga nos direitos do credor porém só poderá exercer o direito de regresso em relação ao demais codevedores após o vencimento da divida. Portanto se existirem três devedores solidários com vencimentos para os dias 10, 20 e 30 aquele que pagar no dia 10 sub-roga nos direitos do credor porém só poderá cobrar a parte dos demais nos respectivos dias de vencimento. Um exemplo irá facilitar o entendimento do princípio da variabilidade. Senão vejamos: Exemplo: José (dia 10), Pedro (dia 20) e Francisco (dia 30) / dev. solidários. └ Paulo = credor Dívida de R$ 3.000,00 Veja que são três devedores solidários, com data de vencimento do débito em dias diferentes, vejamos então como se procede a cobrança: Considerando que a dívida vence no dia 10 de maio em relação a José, dia 20 de maio em relação a Pedro e dia 30 de maio em relação a Francisco. No ato da cobrança Paulo deve observar a variabilidade de datas, podendo cobrar de cada um a dívida toda na respectiva data de vencimento. Veja que no dia 09 de maio Paulo não poderá efetuar a cobrança de nenhum devedor, pois não existe divida vencida. No dia 11 de maio ele poderá cobrar de José a divida toda. Se José pagar a divida toda no dia 11 de maio, ocorre a sub-rogação, porém só poderá cobrar a parte de cada codevedor na data de vencimento, portanto só poderá exercer o direito de regresso no dia 20 de maio em relação a Pedro e no dia 30 de maio em relação a Francisco. Se o credor cobrar o devedor Pedro no dia 11 de maio este terá como matéria de defesa o argumento de que é devedor solidário, porém beneficiado pelo princípio da variabilidade só poderá ser cobrado no dia 20. Veja que no dia 01 de junho o credor poderá cobrar a divida de qualquer um, pois todos já estarão em mora, não existindo mais a variabilidade. Espécies de obrigações solidárias 1. A SOLIDARIEDADE ATIVA: Exemplo: José + Pedro + Paulo = credores solidários └ Francisco = devedor Divida de R$ 6.000,00 A solidariedade ativa traduz um concurso de dois ou mais credores na mesma obrigação, cada um com direito de exigir a dívida por inteiro, bem como promover medidas assecuratórias do crédito, como a constituição do devedor em mora, podendo propor a consequente execução. Na solidariedade ativa há multiplicidade de credores, sendo que internamente são detentores de uma quota do crédito, como a obrigação é solidaria na relação externa cada credor poderá reclamar a divida por inteiro, porém o credor que receber deverá entregar a parte correspondente a cada cocredor. No mundo moderno praticamente não existe a solidariedade ativa, porém a vantagem é oferecer ao devedor à comodidade de pagar a qualquer dos credores a sua escolha. Diferente da obrigação indivisível com pluralidade de credores, na obrigação solidária o devedor poderá pagar a qualquer credor independente de caução de ratificação. A maioria dos doutrinadores mencionam como exemplo de solidariedade ativa a situação em que três irmãos proprietários de um imóvel alugam o mesmo para uma pessoa, se no contrato mencionar que são credores solidários qualquer um deles poderá reclamar o valor integral do aluguel, caso receba, responde internamente pela quota dos demais. Outro exemplo de solidariedade ativa seria a abertura de uma conta conjunta, então se José e Maria forem titulares de uma conta conjunta, neste caso existe a solidariedade ativa, podendo cada um movimentar a conta junto ao banco. Cada correntista na qualidade de credor, pode individualmente sacar todo o valor depositado, sem que o banco, devedor na condição de depositário, possa recusar o levantamento ou exigir a participação de todos. Porém mesmo sendo marido e mulher os titulares da conta conjunta, não são devedores solidários em relação a terceiros, desta forma se um deles emitir um cheque sem provimento de fundos responderá sozinho pela dívida. O mesmo não ocorre com a conta solidária, nesta, existe a responsabilidade solidária com relação a terceiros, desta forma se Maria e José forem detentores de conta solidaria e se o cheque desta conta for emitido em favor do credor Pedro. No caso do cheque não tiver fundos Pedro pode executar o valor de qualquer um, pois são devedores solidários perante terceiros. Efeitos jurídicos da solidariedade ativa: A solidariedade ativa caracteriza-se pela ocorrência de múltiplos titulares de um crédito em uma mesma relação obrigacional, cada um tendo direito a cobrar a dívida toda. Para entendermos os efeitos de uma relação jurídica solidaria é necessário a análise da relação pelo prisma interno e externo, senão vejamos: 1. Efeitos nas relações externas. ► Cada credor poderá exigir do devedor a prestação por inteiro. (art. 267) Não restam dúvidas que o credor solidário tem direito de cobrar a prestação por inteiro, caso receba, deverá repassar aos demais credores a parte de cada um. ► Qualquer credor poderá promover medidas para conservação de seu crédito. Diante da inadimplência do devedor, qualquer credor poderá ingressar na justiça com a ação cabível visando o cumprimento da obrigação, porém a execução da sentença só pode ser feita pelo credor autor da ação. ► Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem (entrar com uma ação) o devedor comum, este poderá pagar a qualquer um dos cocredores,porém se for proposta a ação de cobrança a divida só podera ser paga ao autor da mesma. (art. 268). Quando do cumprimento da obrigação o devedor poderá escolher qualquer credor para entregar o objeto devido. Portanto se José, Pedro e Paulo forem credores solidários de Francisco, este poderá pagar a divida toda a qualquer um deles. Se José propuser ação de cobrança contra Francisco a divida deverá ser paga para o autor da ação. Neste caso acontece o que o direito denomina de princípio da prevenção judicial, ou seja, vincula o credor demandante ao devedor demandado. Desta forma, o devedor perde a liberdade de pagar a qualquer um, devendo pagar somente aquele que propôs a ação, sob pena de pagar novamente. Exemplificando: José, Pedro e Paulo = credores. └ Francisco = devedor └ Dívida de R$ 6.000,00 Antes de ser demandado (cobrado judicialmente) Francisco poderá escolher livremente a quem pagar, se o devedor tiver sido demandado por José, só paga bem se pagar ao credor demandante. Neste caso correu a prevenção, ou seja, a obrigatoriedade do pagamento ao credor José. Lembre-se: se o juiz julgar improcedente a ação proposta por José, cessa a prevenção e volta a liberdade do devedor, podendo Francisco pagar a qualquer credor a dívida toda. ► O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a divida até o montante do valor pago (art. 269) A regra traduz a essência da solidariedade. Se qualquer credor tem direito de exigir a dívida por inteiro, o pagamento que lhe faça, necessariamente, há de extinguir a dívida. Se o pagamento for parcial, a extinção é apenas da parte do débito que foi paga. Se total o pagamento, é plena a extinção, restando liberado o devedor. No caso de pagamento parcial a dívida continua solidaria pelo restante. Desta forma, se a divida for de R$ 6.000,00 e um dos credores aceitar receber R$ 2.000,00 a dívida continua solidaria em R$ 4.000,00 reais, valor este que pode ser cobrado por qualquer credor. ►Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível (art. 270). No caso de falecimento do credor solidário, devemos analisar o número de herdeiros, se for herdeiro único, este assume a exata posição do credor falecido, podendo cobrar a dívida toda. Se deixar mais de um herdeiro, cada um só terá o direito de exigir, individualmente, do devedor, a parcela do débito correspondente ao seu quinhão hereditário. Um exemplo facilitará o entendimento: E F └ ┘ Exemplo: A + B + C = credores solidários └ D = devedor └ Divida R$ 6.000,00 Com o falecimento do credor “A” nada altera para os credores “B” e “C”, pois continuam com o direito de cobrar a divida toda. Com o falecimento do credor “A” a prestação poderá ser reclamada por inteiro se o falecido deixou um único herdeiro. Portanto se o credor “A” falecer deixando somente o herdeiro “E” este poderá cobrar de “D” o valor da divida toda, independente da mesma ser ou não indivisível. Se “A” vier a falecer deixando os herdeiros “E” e “F”, apenas poderão reclamar da quota do crédito do falecido (R$ 2.000,00), a metade relativa ao seu quinhão hereditário, assim “E” e “F” só poderão cobrar de forma individual o valor de R$ 1.000,00 de “D”. Se agirem conjuntamente os herdeiros de “A” poderão cobrar o valor da dívida toda, ou seja, podem cobrar R$ 6.000,00. Também poderão cobrar a dívida toda se a obrigação for indivisível. ►Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos da solidariedade. (271 do CC). Exemplificando: José, Pedro e Francisco = são credores solidários. └ Paulo = devedor └ Divida um animal. Qualquer credor poderá cobrar a dívida toda, não por ser indivisível e sim por ser solidária. Caso o cavalo venha a falecer por culpa do devedor a prestação se converte em perdas e danos. Digamos que o valor do cavalo foi liquidado em R$ 6.000,00 (seis mil reais), desta forma este valor poderá ser cobrado por qualquer credor, isto porque a solidariedade subsiste mesmo quando resultar em perdas e danos. OBS. Liquidar a dívida é encontrar o valor devido, ou seja, o equivalente ao animal falecido. Lembre-se: que nas obrigações indivisíveis não solidárias quando a obrigação for convertida em perdas e danos, cada devedor só paga a sua parte. ► O credor que perdoar a divida toda responderá perante os outros credores, que em virtude do perdão (remissão) poderão cobrar a divida do credor que perdoou e não mais do devedor que viu sua divida se extinguir (CC art. 272). O credor solidário é detentor do direito de cobrar a divida toda, podendo perdoar integral ou parcialmente a mesma. Então se A”, “B” e “C” são credores de “D”, na quantia de R$ 6.000,00 no caso de “A” perdoar a divida toda de “D”. “B” e “C” poderão cobrar de “A” seus respectivos créditos, ou seja, R$ 2.000,00. No caso de “A” perdoar somente a sua parte, ou seja, 2.000,00 a dívida continua solidária no valor de R$ 4.000,00, valor este que poderá ser cobrado por qualquer credor, inclusive o credor “A”. ►A um dos credores solidários não pode o devedor opor exceções pessoais oponíveis aos outros (CC art. 273). A palavra ação é conceituada como um ataque, já a palavra exceção é considerada como defesa, então quando alguém entra com uma ação nasce para o demandado o direito de opor exceções, ou seja, os argumentos que comprovam o pagamento, o perdão ou a prescrição da divida. Opor exceção pessoal é matéria de defesa que só pode ser usada contra um credor. (art. 273 do CC). As matérias de defesa que podem ser opostas contra todos os credores são chamadas de comuns, já as que podem ser opostas somente contra um dos credores são chamadas de pessoais. Um exemplo facilitará entendimento das exceções pessoais: Exemplo: José (10), Pedro (20) e João (30) = credores solidários. └ Francisco = devedor └ Divida R$ 3.000,00. No exemplo acima podemos notar que existe variação nas datas em que cada credor poderá cobrar a dívida toda, se Pedro cobrar Francisco no dia 21, o devedor não poderá usar contra o credor demandante o argumento de que não vai pagar a divida, pois esta ainda não está vencida com relação ao credor João. Esta defesa/exceção não poderá ser alegada contra Pedro, isto porque, a divida com este credor venceu no dia 20, esta matéria de defesa seria cabível contra João, se este credor tivesse cobrado o devedor no dia 21. Veja que o devedor estava tentando se defender da ação de cobrança movida pelo credor Pedro, usando uma matéria de defesa pessoal, que só pode ser oponível/alegada contra outro credor. ►O devedor demandado pode opor ao credor as exceções pessoais e as comuns a todos, não lhe aproveitando, porém as pessoais a outro credor. Já mencionamos que as exceções comuns podem ser alegadas contra todos oscredores, e as pessoais são situações especificas relacionadas a um credor. Um exemplo irá facilitar o entendimento sobre exceção comum. Exemplo: José (10), Pedro (20) e João (30) = credores solidários. └ Francisco = devedor └ Divida R$ 3.000,00. Veja que a existe variabilidade nas datas do vencimento da dívida. Desta forma se qualquer credor cobrar a divida no dia 09 o devedor poderá alegar como matéria de defesa que a dívida ainda não está vencida. Esta matéria de defesa pode ser oponível contra todos os credores que cobrarem a divida antes do dia 10, sendo, portanto uma exceção comum, ou seja, uma matéria de defesa que pode ser usada contra todos. Se no dia 15 o devedor for cobrado pelo credor José, o devedor não poderá apresentar como matéria de defesa o argumento de que a divida não está vencida para os demais, este argumento só poderá ser usado contra os demais credores, caso estes efetuem a cobrança no dia 15. ►O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles (art. 274). Isto é o preceituado no artigo 274 do CC, para melhor entendimento podemos mencionar que: quando um credor demandar/acionar judicialmente um devedor e tiver a ação julgada improcedente não proíbe os demais credores de ingressarem na justiça. Exemplificando: A + B + C = credores └ D = devedor Qualquer credor poderá cobrar a divida toda de “D”. No caso de “A” cobrar “D” e a ação for julgada improcedente tendo em vista que a dívida ainda não estava vencida, este julgamento contrário a “A” pode não afetar os demais credores, isto porque, perante os credores “B” e “C” a divida já poderá está vencida (principio da variabilidade) podendo os credores “B” e “C” cobrarem o devedor. Já o julgamento favorável ao credor “A” é aproveitado pelos demais, desde que o julgamento não tenha sido efetuado com base em exceção pessoal deste credor. Então se A”, “B” e “C” são credores de “D”, qualquer um pode cobrar “D”. No caso de “A” cobrar “D” e a ação for julgada procedente a regra é aproveitar a todos, ocorre que, pode não aproveitar para “B” e “C” tendo em vista que o julgamento foi favorável em virtude de uma característica pessoal pertencente ao credor “A”. (não agiu com dolo quando da feitura do contrato, sendo que os demais assim agiram). Concluindo: Quando o julgamento for contrário ao credor demandante, não podemos assegurar que também será contrario aos demais credores, isto porque temos que analisar a variabilidade na relação interna. Já o julgamento favorável em ação movida por um dos credores, em regra, aproveita aos demais. Porém pela nova redação do artigo 274 este julgamento favorável não exclui a possibilidade do devedor opor as exceções pessoais (apresentar matéria de defesa) contra os beneficiados pelo julgamento favorável. 2. Efeitos nas relações internas. Neste caso deve ser analisada a relação entre os cocredores, portanto pela égide do artigo 272 se um dos credores receber ou perdoar a divida responderá perante os demais pela parte que lhes caiba. Direito de regresso - o pagamento integral feito a um dos credores extingui a relação jurídica externa e o coloca na condição de devedor da parte dos demais credores. Portanto o credor que receber o crédito transforma-se em devedor dos demais, na parte que cabe a cada um, podendo sofrer uma ação regressiva caso não repasse a parte dos demais credores. Portanto se A + B + C forem credores de “D”, e “A” cobrar e receber integralmente a divida de “D” a divida estará extinta, assim como estará extinta a relação externa. Desta forma, aquele que recebeu o crédito deverá repassar a quota de cada cocredor, não fazendo o repasse, os cocredores “B” e “C” não podem cobrar do devedor “D” isto porque ao pagar a divida toda para o credor “A” a relação externa se extingue independente de caução de ratificação. RESUMINDO SOLIDARIEDADE ATIVA José + João + Pedro = credores └ Francisco = devedor └ 6.000,00 ►Cada um dos credores solidários pode exigir do devedor a prestação por inteiro. ► Enquanto os credores solidários não ingressarem em juízo para receber o crédito do devedor comum, o devedor pode pagar a qualquer um deles independente de caução de ratificação. ► Qualquer credor poderá ingressar em juízo e exercer a sua pretensão ao credito pela via executiva. Todavia se um dos credores se antecipar, acionando o devedor ao tempo do vencimento da obrigação, será premiado pelo fenômeno da prevenção (art. 268 do CC), neste caso para pagar bem o devedor deverá pagar ao credor demandante. ► Realizado o pagamento integral a qualquer dos credores solidários, faz extinguir a divida. ► No caso de falecimento de um dos credores solidários, os herdeiros só poderão exigir a quota parte que caiba a cada um, exceto se a obrigação for indivisível, ou se agirem em conjunto. ► Se a obrigação for solidária caso exista pluralidade de credores, (solidariedade ativa) o credor que receber o pagamento responde perante os demais pelas parcelas de cada um. Extinção da obrigação solidária - Não custa lembrar que pela égide do artigo 269 do Código Civil o pagamento feito a um dos cocredores solidários extingue a divida até o montante do que foi pago, desta forma, o pagamento feito a um dos cocredores produz a extinção do crédito para todos os demais. Lembre-se: somente o pagamento integral é que tem o poder de extinguir a divida e liberar o devedor. Lembre-se: o pagamento pode ser feito de forma direta (pagar com a coisa objeto da obrigação) ou pagamento indireto como no caso de pagar com coisa diversa desde que com anuência do credor. Lembre-se: que nas obrigações solidárias o pagamento pode ser feito pelo devedor a qualquer credor independente de caução de ratificação dos demais. Lembre-se: se o pagamento tiver sido parcial, a solidariedade permanece no restante, desta forma se “A” + ”B” + “C” forem credores solidários de “D” em divida de R$ 6.000,00 e “D” vem a pagar a quantia de R$ 3.000,00 ao credor “A”, a divida continua solidaria no resto, sendo que, o valor de R$ 3.000,00 poderá ser cobrada por qualquer credor. Lembre-se: é de pouca ou nenhuma valia a solidariedade ativa, por depender da confiança entre os credores. Podemos citar como exemplo a conta corrente conjunta, onde os titulares são credores e o banco devedor dos valores depositados, de sorte que qualquer um dos correntistas pode sacar a totalidade dos numerários, não cabendo ao banco indagar qual é a quota parte de cada um. 2. A SOLIDARIEDADE PASSIVA Exemplo: José + Pedro + Paulo = devedores solidários em R$ 6.000,00 └ Banco do Brasil = credor Existe a solidariedade passiva, quando na obrigação, concorrerem dois ou mais devedores, cada um com a responsabilidade pela dívida toda. Esta solidariedade pode ser derivada de lei ou da vontade das partes e cria a obrigação para o devedor pagar a dívida toda como se fosse o único responsável.Assim, estabelecida a solidariedade entre os codevedores, o credor passa a ter o direito de exigir de qualquer um deles a divida por inteiro, aumentando sua proteção contra os riscos da insolvência. A formação da solidariedade passiva não carece de muitas formalidades, basta a presença de mais de um devedor ficando cada um responsável pela divida toda, para que a obrigação seja solidária basta a presença no contrato de simples palavras, tais como: responsáveis pelo todo, devedores in solidum, todos por um, um por todos ou devedores solidários. A solidariedade passiva deve ser analisada na forma externa e interna. Quando se fala na forma externa deve ser analisada a relação entre os devedores e o credor. A forma interna é a relação entre os codevedores. Desta forma, quando um devedor pagar a divida toda, a relação externa fica extinta, ou seja, acaba a relação com o credor. Porém tem início a fase interna, onde o devedor que pagou a dívida toda pode cobrar dos demais devedores a parte que cada um devia ao credor originário. A solidariedade passiva pode ser derivada de um acordo entre as partes. Porém em muitos momentos a lei prevê a existência da solidariedade passiva, senão vejamos: ► A solidariedade do pai pelos atos dos filhos (filho menor) / 932 do CC. ► Entre patrão e empregado, (art. 932 do CC). ► Solidariedade entre empresas do mesmo grupo (art. 2º da CLT). ► Solidariedade entre devedor principal e fiador (artigo 828, II do CC). ► Solidariedade entre Administração e seus agentes diante de prejuízos causados a terceiros (CF. art. 37 § 6º). ► Solidariedade entre filhos no pagamento de pensão alimentícia (Lei 10.741/03 – Estatuto do Idoso em seu artigo. 12. ► Responsabilidade solidária de advogados/outorgantes (artigos 672 e 680 do CC). ► Responsabilidade solidária de fornecedor/produtor (artigo 13, § único e artigo 18) do Código de Defesa do Consumidor. 2.1 Consequências jurídicas da solidariedade nas relações externas / Relação entre os codevedores solidários e o credor. ►Direitos do credor. (275 do CC) Na solidariedade passiva unificam-se os devedores, possibilitando ao credor, para maior segurança do crédito, exigir e receber de qualquer deles o adimplemento, parcial ou total, da divida comum. O principal efeito da solidariedade passiva consiste no direito do credor de exigir de qualquer dos devedores o cumprimento integral da obrigação. Se o pagamento for integral exonera os devedores. Se for parcial e efetuado por um dos devedores, os outros ficarão liberados até o valor pago, permanecendo a solidariedade no valor restante. Portando se se o devedor acionado não efetuar o pagamento, poderá o credor agir contra os demais codevedores, conjunta ou individualmente (CC, art. 275 e parágrafo único). Se o devedor demandado pagar a divida integral, este sub-roga nos direitos do credor, podendo cobrar dos demais devedores a parte de cada um. Se o credor demandado não tiver como pagar integralmente a divida poderá chamar os demais devedores ao processo, com fundamento no artigo 130, III do Código de Processo Civil, não para que lhes auxiliem na defesa, mas também para que a eventual sentença condenatória valha como coisa julgada por ocasião do direito de regresso contra os codevedores. Um exemplo facilitará o entendimento: Exemplo: José + Pedro + João └ Francisco = credor. └ Divida de R$ 6.000,00 Diante da cobrança judicial efetuada pelo credor contra o devedor José, este tem a opção de: 1) Pagar a prestação por inteiro e sub-rogar. 2) Efetuar o chamamento ao processo dos devedores Pedro e João. A vantagem do chamamento ao processo é possibilitar que na mesma ação, caso o juiz julgue procedente o pedido do credor, mandar que o pagamento seja efetuado por todos os devedores. O chamamento ao processo é reservado ao processo de conhecimento, sendo vedado em sede de execução, pois pressupõe a existência de ação condenatória em andamento. Isto quer dizer, que só pode ser efetuado o chamamento ao processo antes da sentença final, se o juiz julgar procedente o pedido do credor e o devedor não cumprir a sentença este vai ser executado, portanto quando da execução da decisão judicial não mais poderá chamar os demais devedores ao processo. Concluindo: se a ação é movida contra o devedor José, este, em sua defesa/contestação poderá chamar Pedro e João ao processo. Veja que o processo está em andamento (fase de conhecimento). Caso não chame e o juiz julgar procedente o pedido de Francisco, e por conseguinte, atendendo pedido do credor mandar que José pague a divida, este deverá pagar sozinho, não podendo nesta fase (execução) chamar os demais ao processo. Lembre-se: A doutrina majoritária defende a tese de que o beneficiado com a renúncia da solidariedade não poderá ser chamado ao processo. Lembre-se: A doutrina majoritária defende a tese de que pode ocorrer o chamamento ao processo de apenas alguns dos codevedores, ou seja, não é necessário o chamamento de todos. Lembre-se: O chamamento ao processo é vedado no Código de Defesa do Consumidor (artigos 13, § único e 88). Assim havendo solidariedade passiva entre os fornecedores de produtos ou serviços que em virtude de acidente de consumo causar, danos patrimoniais e/ou morais ao consumidor, aquele fornecedor que for demandado não poderá chamar os demais ao processo. OBS Não poderá chamar ao processo, porém em caso de pagamento da divida poderá entrar com ação regressiva contra os demais devedores. ►Efeitos da morte de um dos codevedores solidários. (276 e 1.792 do CC) Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum deles será obrigado, senão, a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. Quando divisível a divida se desmembra em relação a cada um dos herdeiros. Portanto, falecendo um dos devedores solidários, a obrigação divide-se entre os herdeiros, cada um destes só poderá ser exigido até o limite de seu quinhão hereditário, salvo se indivisível a obrigação. Verifica-se que a morte de um dos devedores solidários não rompe a solidariedade, que continua a onerar os demais codevedores. Para melhor entendimento: “E” “F” └ ┘ Exemplo: A + B + C = são devedores solidários └ D = credor └ Divida de R$ 300.000,00 Se “B” vier a falecer deixando somente o herdeiro “E”, este poderá responder pela divida toda, desde que tenha recebido herança superior ao débito. Se “B” falecer deixando os filhos “E” e “F”. Neste caso cada um deles só estará obrigado a pagar a quota que corresponder a seu quinhão hereditário, isto é, a metade (1/2) da quota interna de “B” (100,000,00) o que equivale a R$ 50.000,00. Para que não reste duvida o artigo 276 do Código Civil deve ser analisado da seguinte forma: a) Divida indivisível: diante do falecimento de “B” qualquer herdeiro, mesmo que individualmente, pode ser obrigado a pagar a divida toda (ex. no caso da divida ser um animal ). Então “D” poderá cobrar a divida toda de “A”, “C” , “E” e “F” pois não altera a solidariedade). b)Divida divisível: nesse caso, a situação varia, dependendo se o herdeiro for acionado individualmente ou reunido com os demais herdeiros. b.1) Acionado individualmente: qualquer herdeiro paga apenas sua quota parte, não podendo obviamente ultrapassar as forças da herança, mesmo que tenha patrimônio pessoal superior. (no caso deve ser acionado para pagar o valor de R$ 50.000,00 ou seja, metade da parte que internamente cabia ao devedor “B”) b.2) Acionamento coletivo dos herdeiros: somente reunidos, os herdeiros podem ser obrigados a pagar a divida toda, pois ocupam a posição do devedor falecido, neste caso se o credor cobrar “E” e “F” conjuntamente cobra a divida toda.. Lembre-se: no caso dos herdeiros serem acionados conjuntamente e pagarem a divida toda nasce para estes o direito de regresso frente ao demais devedores. Desta forma, quando falamos de divida toda é o valor de R$ 300.000,00 e não o valor de R$ 100.00,00 que é a quota que cabia internamente a “B”. Lembre-se: a garantia de que cada devedor quando cobrado individualmente só responde pelo seu quinhão hereditário está contido nos artigos 1.792 e 1.997 do Código Civil. ► Consequências do pagamento parcial e da remissão (277 do CC) O pagamento parcial feito por um dos codevedores, bem como a remissão por ele recebida, não aproveita aos demais, senão até o valor da quantia paga ou perdoada. Deduz-se que o pagamento parcial reduz o crédito, sendo assim, o credor só poderá cobrar do que pagou parcialmente, ou dos outros devedores só o saldo remanescente. O perdão pessoal dado pelo credor a um dos devedores solidários não extingue a solidariedade em relação aos demais devedores, acarretando a redução da divida no valor perdoado. Desta forma o credor pode cobrar seu crédito, desde que reduza a parte perdoada. Exemplo: José, Pedro e Francisco = são devedores solidários. └ Joaquim = credor └ Divida de R$ 3.000,00 Se Pedro pagar R$ 1.000,00, reais (pagamento parcial), Joaquim poderá cobrar dos devedores a quantia de R$ 2.000,00. (continuando solidária no restante). Aproveitando o mesmo exemplo, caso Joaquim perdoe a parte correspondente a José (1.000,00) Joaquim pode cobrar de Pedro e Francisco a divida abatendo o valor perdoado, portanto pode cobrar o valor de 2.000,00. Lembre-se: o devedor solidário que efetua o pagamento parcial permanece obrigado pelo restante da divida, em solidariedade com seus consortes, a menos que o credor exonere-o de responsabilidade, pelos termos expressos na quitação. Lembre-se: o devedor que teve a sua divida perdoada fica liberado da divida, desta forma o credor só poderá cobrar dos demais abatendo do valor total a parte que foi perdoada. Discutiremos posteriormente se o devedor que teve sua parte perdoada está liberado definitivamente da divida ou se volta para responder pela parte do insolvente. Não esqueça: havendo pagamento parcial, ficam os demais devedores exonerados até o valor da quantia paga, mantendo-se a solidariedade sobre o resto. Assim se existirem três devedores solidários em R$ 6.000,00 o pagamento de R$ 2.000,00 não extingue a divida toda, permanecendo solidária em R$ 4.000,00, sendo que este valor pode ser cobrado de qualquer devedor. ►Cláusula condição adicional ( 278 do CC) Se existirem devedores solidários, qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos codevedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros devedores sem o consentimento destes. Desta forma nenhum dos devedores está autorizado a negociar com o credor, obrigação adicional que agrave a obrigação originária e piore a posição dos outros devedores sem o devido consentimento destes. O devedor pode negociar com o credor cláusulas sem o consentimento dos outros devedores, porém, esta obrigação torna-se pessoal cabendo somente ao devedor que negociar o pagamento desta obrigação adicional, não sendo portanto solidária com o demais. Assim, se a A+B+C forem devedores solidários de “D” na quantia de R$ 6.000,00 e através de um negócio jurídico sem a anuência de “A” e “B” , “C” solicitou mais R$ 1.000,00 reais para “D”, o credor pode demandar “A” e “B” em R$ 6.000,00 e demandar “C” em R$ 7.000,00 pois a cláusula adicional foi negociada entre “C” e “D” sem interveniência dos demais devedores. Nas obrigações solidarias ocorre a representação mútua, de sorte que cada devedor é representante de todos, ocorre que esta representação não é ilimitada isto porque nenhum dos devedores está autorizado a estipular com o credor cláusulas que agrave a obrigação originária dos representados sem o conhecimento destes. ►Impossibilidade de prestação (279 do CC) Se ocorrer a impossibilidade de prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos, o encargo de pagar o equivalente. Porém as perdas e danos quem paga é o devedor culpado. Exemplificando: José + Pedro + João └ Francisco = credor └ Animal Se três amigos tomarem emprestado um animal e se ainda não estiverem em mora com relação à devolução do mesmo, não respondem pelo perecimento em virtude de força maior. Se o animal vier a perecer por culpa dos três devedores, responderão em conjunto pela obrigação, ou seja, o credor poderá cobrar de cada um o valor equivalente acrescido das perdas e danos. Aquele que pagar a divida integral sub-roga-se em relação aos demais codevedores. Se a impossibilidade é por culpa do devedor José, todos os demais responderão pelo valor do animal, porém as perdas e danos cabe ao culpado. Com efeito, tratando-se de culpa pessoal, não pode a sanção civil ultrapassar a pessoa do próprio negligente ou imprudente, considerando-se que ninguém pode ser responsabilizado por culpa alheia. O devedor não responde pelos prejuízos decorrentes de força maior ou caso fortuito, se não for por ele responsabilizado. Para que o devedor não tenha culpa, o fato deve ser inevitável, não ter culpa antecedente, ser irresistível a força do ser humano e não se encontrar em mora. Deve-se ressaltar que na solidariedade passiva o caso fortuito e a força maior só exonera os devedores se o evento atingir todos os codevedores. Portando se existirem três devedores e a força maior atingir somente dois deles aquele que não foi atingido responde pelo pagamento da divida toda. Lembre-se: quando o cumprimento torna-se impossível sem culpa, resolve-se a obrigação sem perdas e danos. Se decorrer de culpa de um devedor, este responde pelo valor em dinheiro mais perdas e danos. ►Responsabilidade pelos juros (280 do CC) Juros moratórios serão devidos quando os devedores estiverem em atraso e a divida ainda interessar ao credor. Exemplificando: José + Pedro + João = devedores solidários em R$ 3.000,00 └ Francisco = credor Se José, Pedro e João forem devedores solidários e estiverem em mora, a prestação acrescida dos juros de mora poderá ser cobrada de qualquer devedor, porém se a mora tiver ocorrido por culpa de Pedro (este recebeu o dinheiro dosdemais e não pagou no dia) este vai responder perante José e João pelo valor acrescido a título de juros de mora. Isto ocorre, porque a mora de um dos devedores não pode ser nociva aos demais. Na situação posta, se a obrigação não for cumprida no prazo determinado, todos os devedores respondem pelos juros da mora, ou seja, Francisco poderá cobrar os R$ 3.000,00, acrescido dos juros, de qualquer devedor. Então, se a culpa do atraso no cumprimento da obrigação foi do devedor Pedro a ação de cobrança poderá ser proposta contra qualquer devedor. Se José for demandado e pagar o valor integral da divida acrescida dos juros, este sub- roga-se frente aos demais devedores, podendo cobrar do devedor João um terço da divida e do devedor Pedro (culpado) um terço da divida mais os juros, isto porque foi ele que deu causa a mora, portanto internamente responde sozinho pelos juros acrescidos. Se a divida, acrescida dos juros de mora for paga pelo devedor Pedro (culpado) este sub-roga-se, porém na ação regressiva só poderá cobrar de José e João o correspondente a R$ 1.000,00. ►Meios de defesa dos devedores - (281 do CC) Já mencionamos, que os meios de defesa são as respostas dos devedores quando demandados judicialmente pelo credor, sendo cabível opor as exceções pessoais e as comuns a todos, sendo que, as pessoais só aproveitam para o devedor detentor do direito de opor esta exceção, portanto não pode ser aproveitada pelos demais codevedores. Lembre-se: já mencionamos que existem exceções comuns, sendo estas os argumentos de defesa que podem ser aproveitados por todos os codevedores. Porém quando um codevedor é demandado não pode aproveitar as exceções pessoais de outro codevedor. Quando um codevedor é demandado e alegar que a divida está prescrita, caso a obrigação tenha vencido no mesmo dia para todos os codevedores, estamos diante de uma exceção comum, desta forma aproveita a todos os codevedores. Se o devedor for cobrado antes do vencimento ou pendente condição suspensiva, este pode opor uma exceção pessoal (aproveita somente para ele). Neste caso se a divida vence no dia 18 e o devedor é cobrado no dia 10, este poderá alegar que a divida ainda não está vencida, nem o devedor está inserido nas condições do artigo 333 do Código Civil para ter a divida cobrada antecipadamente. Como matéria de defesa o demandado pode alegar ainda: 1. Prescrição. 2. Pagamento direto ou indireto. 3. Perdão da divida. 4. Compensação (alegar que também é credor). 5. Renuncia da solidariedade para não pagar a divida toda. 6. Impossibilidade sem culpa. 7. Exceptio non adimpleti contractus (exceção do contrato não cumprido, ou seja, não pode exigir o cumprimento da obrigação quem não cumpriu a sua parte no contrato). 8. Vícios de consentimento ou incapacidade quando da formação do contrato. 9. Termo ou condição. 10. Ilicitude do objeto. Traduzindo: A + B + C = Devedores solidários └ D = Credor Se o credor acionar o devedor “A” e a decisão judicial a ele favorável for fundada em exceção pessoal e exclusiva a este devedor, não aproveita aos demais. Desta forma o credor não perde o direito de acionar os demais devedores. Se ao contrario, a decisão favorável ao devedor “A” se fundar em matéria comum a todos os devedores, é certo que os efeitos do julgado se estendem a todos os devedores solidários. De outro modo, o julgamento contrario ao devedor “A” pode não atingir os demais, isto porque a relação interna pode ser variável. ►Renuncia da solidariedade (282 do CC) A renúncia diz respeito apenas à solidariedade, não a obrigação em si, que continua inalterada. O credor abre mão apenas do direito de exigir que a prestação seja paga pelo conjunto de devedores. Pela égide do artigo 282 do CC o credor pode renunciar a solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Se renunciar em favor de um devedor a solidariedade subsiste nos demais. Pode ocorrer a renúncia em relação a todos os devedores, sendo que a partir deste momento cada devedor será responsável somente pela sua parte. Se ocorrer a renúncia em favor de um devedor, este continua devedor individual de sua parte. Exemplo: José, Pedro e Francisco = devedores solidários. └ Joaquim = credor. └ Divida de R$ 3.000,00. Se o credor renunciar a solidariedade em relação a um dos devedores, não está perdoando a divida, apenas o separa dos demais codevedores. Considerando que o credor renunciou a solidariedade em relação ao devedor José. Com a renúncia o credor poderá cobrar de forma solidária 2.000,00 reais de Pedro ou Francisco, porém só poderá cobrar de José a sua parte, no caso 1.000,00 reais, isto porque o credor renunciou a solidariedade em seu benefício. Veja que renúncia da solidariedade é diferente de perdão da divida, na renúncia o beneficiado continua devedor, porém não mais da coisa toda, deve pagar somente a sua parte. Não há duvida, que a solidariedade dos devedores não exonerados, refere-se à divida reduzida, ou seja, com o abatimento da parte do devedor exonerado da solidariedade. Concluindo: se Joaquim perdoar a parte de José, passa a existir duas relações, ou seja: uma entre Joaquim e José no valor de R$ 1.000,00 e outra solidaria entre os codevedores Pedro e Francisco e o credor Joaquim, neste caso, o credor poderá cobrar de cada um valor de R$ 2.000,00. Veja outro exemplo de renuncia da solidariedade: “A” + “B” + “C” └ D = credor “A”, “B” e “C são devedores solidários de “D” pela quantia de R$ 30.000,00. “D” renuncia a solidariedade em favor de “A”, perdendo, então o direito de exigir de “A” uma prestação acima de sua parte no débito, isto é, R$ 10.000,00: “B” e “C” responderão solidariamente por R$ 20.000,00, abatendo da divida inicial de R$ 30.000,00 a quota de “A” (R$ 10.000,00). Assim os R$ 10.000,00 restantes só poderão ser reclamados daquele que se beneficiou com a renuncia da solidariedade. 2.2 Relação dos codevedores entre si / relação interna Segundo o artigo 283 o devedor que pagar a divida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos codevedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, presumindo-se iguais as partes de todos os codevedores. Exemplo: José, Pedro e João = devedores solidários no valor de R$ 3.000,00 └ Joaquim = credor. Se José pagar a divida integral sub-roga-se nos direitos do credor, desta forma, como internamente a relação não é solidaria vai cobrar o valor de R$ 1.000,00 dos demais codevedores. Lembre-se: que internamente os valores devidos podem ser variáveis, portando se frente ao credor principal cada um deve R$ 3.000,00, internamente um deles pode dever R$ 1.500,00, outro R$ 1.000,00 e o outro R$ 500,00. Isto interessa para efeitos da ação regressiva daquele que pagar a divida toda. Lembre-se: da divida de interesse exclusivo, neste caso se quem pagou é o interessado único nada pode cobrar dos demais. Se quem pagou não era o interessado pode cobrar do devedorexclusivo o valor total da divida. (art. 285). Um exemplo facilitará o entendimento: Exemplo: José, Pedro e João = devedores solidários. └ Francisco = credor └ Divida de R$ 3.000,00. Se internamente cada um dos devedores foi beneficiado com a quantia de R$ 1.000,00 aquele que pagar sub-roga-se, podendo demandar os demais devedores por sua parte. Se José tiver solicitado R$ 3.000,00 junto ao credor, e os demais codevedores são avalistas, podemos assegurar que internamente José foi beneficiado com o valor total, caso pague a divida junto ao credor, os demais ficam liberados, pois neste caso não existe ação regressiva, isto porque José é devedor exclusivo. Mesmo José sendo devedor exclusivo a dívida poderá ser cobrada de Pedro, caso este pague a dívida toda, cobrará do devedor José o valor total do débito, se não receber deverá cobrar de João o valor de R$ 1.500,00. OBS. Posteriormente a divida de interesse exclusivo será melhor explicada quando da análise do artigo 285. ►Insolvência de um dos codevedores solidários (284 do CC) A insolvência de um dos codevedores solidários impede o procedimento do rateio de forma igualitária, desta forma, será determinado o acréscimo da responsabilidade dos outros codevedores para cobrir a parte do insolvente. No caso do credor renunciar a solidariedade em favor de um dos codevedores solidários, se um dos que continuam solidários pelo resto ficar insolvente o devedor beneficiado com a renúncia volta a responder pela metade da parte do devedor insolvente. (Veja artigo 284 do CC.) Um exemplo irá facilitar o entendimento, senão vejamos: Exemplo: José, Pedro e Luciano = devedores solidários. └ Raquel = credora └ Divida de R$ 3.000,00. José, Pedro e Luciano são devedores solidários de Raquel na quantia de R$ 3.000,00. Se Raquel renunciar a solidariedade em favor de José, esta poderá cobrar o valor de 2.000,00 de forma solidária dos devedores Pedro e Luciano, de José só poderá cobrar R$ 1.000,00. Se Raquel cobrar e receber de Pedro o valor de R$ 2.000,00. Pedro, em ação regressiva poderá cobrar de Luciano o valor de R$ 1.000,00. Se Luciano não pagar porque ficou insolvente , o José, mesmo exonerado da solidariedade, volta para a relação jurídica para responder pela metade do valor da divida do insolvente. Assim José responde por 500,00 reais que é o valor da metade da divida interna de Luciano, já Pedro fica responsável para pagar 1.500,00 que é o valor de sua parte mais 500,00 da parte de Luciano. O Código Civil em seu artigo 284 menciona claramente que o devedor que obteve a renúncia da solidariedade volta a responder pela parte do insolvente. Não esqueça: se um dos devedores solidários tornar-se insolvente quem sofre o prejuízo não é o credor, mas os outros devedores que podem ser chamados a solver a divida por inteiro. Lembre-se: aquele que foi beneficiado com a renúncia deixa de dever o todo, passando a dever somente a sua parte. Porém, mesmo beneficiado com a renúncia da solidariedade volta para a relação jurídica para responder pela parte do insolvente. ► Efeitos do perdão parcial diante da insolvência de um codevedor Diante da omissão do Código Civil os doutrinadores discutem se o devedor que teve a sua parte da divida perdoada volta para a relação jurídica para dividir com os demais a parte correspondente a do insolvente. Um exemplo irá facilitar o entendimento, senão vejamos: Exemplo: Paulo, Francisco e Luciano / devedores solidários. └ Rosa/credora └ 6.000,00 Se Rosa perdoar a parte correspondente a Paulo não cobra nada deste devedor, podendo cobrar de forma solidaria o valor de 4.000,00 dos devedores Francisco e Luciano. Se Rosa cobrar e receber de Luciano o valor de 4.000,00 a relação externa se extingue, nascendo o direito de Luciano cobrar de Francisco o valor de 2.000,00. Considerando que Francisco está insolvente, portanto incapacitado de pagar o valor de 2.000,00. Discute-se então, se Paulo que teve sua parte perdoada divide ou não com Luciano a parte do devedor insolvente. Se aquele que teve sua parte perdoada voltar para a relação jurídica deve pagar para Luciano o valor de R$ 1.000,00, valor corresponde a metade interna da divida do devedor insolvente. Alguns doutrinadores defendem a tese de que o devedor perdoado na parte que lhe cabe na dívida, fica exonerado totalmente da relação jurídica, não respondendo pela parte do insolvente. Maria Helena Diniz (2011.p. 203) cita o Enunciado 350 do Conselho da Justiça Federal, que defende que o perdoado fica liberado do vinculo obrigacional, inclusive no que tange a parte do insolvente. Outros autores, como é o caso de Flavio Tartuce (2006.p.100) defende a tese de que diante da insolvência de um dos devedores ocorrerá o rateio proporcional, por regra entre os devedores restantes, defendendo que o rateio da parte do insolvente atinge os que tiveram suas dividas perdoadas. Pabro Stolze (2011.p. 114) menciona que, se o credor perdoar a divida de um dos codevedores solidários, este volta a responder pela parte do insolvente. Carlos Roberto Gonçalves (2010.p.158) ao tratar da remissão obtida por um dos codevedores solidários, preceitua que altera a relação interna entre eles, visto que o perdoado se liberou de sua parte na divida, porém continua responsável somente pela quota de eventual insolvente. Cristiano Chaves (2014, pag. 281) menciona que a renúncia da solidariedade diferencia-se da remissão, em que o devedor fica inteiramente liberado do vínculo obrigacional, inclusive no que diz respeito ao rateio da quota do eventual codevedor insolvente. Gustavo Tepedino (Comentários ao Código Civil, 2008, pag. 153) defende que, se o credor perdoou o débito por liberalidade sua, não sendo razoável que os demais devedores arquem com o desfalque da insolvência. Sofre o credor as consequências de seu ato, sem que prejudique os demais devedores solidários. ►Divida solidária de interesse exclusivo (285 do CC) Se a divida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para aquele que pagar. O exposto é o mandamento legal do artigo 285 do Código Civil. Para facilitar o entendimento podemos mencionar o seguinte exemplo: José + Pedro e Paulo = devedores solidários └ Banco do Brasil José solicitou um empréstimo junto ao Banco do Brasil, sendo que o banco requereu a garantia de dois codevedores solidários. Para ajudar o amigo, Pedro e Paulo tornaram-se avalistas de José. Veja que a divida interessa somente a José pois este ficou com todo o dinheiro do empréstimo. Por ser divida solidária o banco pode cobrar o valor de qualquer um, porém se cobrar e receber a divida toda de José este não sub-roga em relação aos demais devedores, pois José é o único interessado na divida. Se o Banco do Brasil cobrar e receber a divida toda de Pedro ou Paulo estes poderão cobrar o valor integral da divida do verdadeiro devedor que é o José. Se Pedro pagar a divida e não recebero valor do devedor exclusivo, terá ação regressiva contra o devedor Paulo para cobrar metade da dívida. Veja que a condição de devedor exclusivo não altera a relação externa, podendo o banco cobrar o valor de qualquer um, muda a relação interna quando do exercício da ação regressiva. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE SOLIDARIEDADE A solidariedade passiva é bastante comum no mundo jurídico, os detentores do capital e os fornecedores de bens e serviços querem vender seus produtos, porém, querem ter a certeza de que irão receber de seus devedores, para tanto exigem garantias, podendo recair em bens ou em pessoas. Quando recai sobre pessoas estes podem ser devedores solidários (avalista) ou devedores subsidiários (fiadores). Caso avalize um empréstimo para um “amigo” fique de logo sabendo que você tornou-se devedor solidário e pode ser obrigado a pagar a divida toda. A regra geral é de que o fiador é devedor subsidiário, portanto é detentor do benefício de ordem, isto quer dizer que ao ser cobrado antes do devedor principal o fiador poderá alegar que não foi observado a ordem de cobrança. A fiança é uma garantia acessória ao contrato, o fiador participa e tem conhecimento de que está garantindo um débito, isto porque teve acesso ao procedimento que gerou a divida, tendo inclusive prestado a garantia juntamente com sua esposa, exceto quando casado sob o regime da separação de bens. Já o aval é uma garantia dada aos títulos de crédito, portanto para se tornar avalista não é necessário as formalidades da fiança, basta assinar o titulo como avalista para que a obrigação solidaria se concretize. Por ser devedor solidário o avalista não pode exercer o benefício de ordem, portanto pode ser cobrado pelo credor, sem que antes o credor tenha cobrado o devedor principal. Assim como a fiança, o aval deve ser precedido da outorga marital, ou seja, o consentimento de marido ou esposa. (artigos 1.647, 1.648, 1.649, 1.650 do CC). OBS para alguns doutrinadores a inexistência de outorga não invalida o ato, apenas exclui da responsabilidade patrimonial os bens de quem não assinou. Para que não restem duvidas entre solidariedade ativa e passiva passaremos a analisar um quadro comparativo com suas características, bem, como será analisado um quadro comparativo entre as diferenças entre solidariedade e indivisibilidade. Diferenças entre solidariedade ativa e passiva Solidariedade ativa Solidariedade passiva Se o devedor pagar parte da divida a um dos credores, mantém-se a solidariedade ativa quanto ao saldo devedor em favor dos credores(art.269) Se o devedor pagar parte da divida, remanesce a solidariedade passiva quanto ao resto da divida, para os demais codevedores (art. 275). Se um dos credores remitir ou receber a divida, responde perante os demais pela parte que lhes couber (art. 272). Se o credor remitir a divida em relação a um dos codevedores, os demais ficam responsáveis pelo saldo da divida (art. 277) Se um credor falece, os herdeiros só poderão exigir do devedora sua quota, salvo se a obrigação for indivisível (ex. cavalo) (art. 270). Se um dos devedores falece, os herdeiros só estarão obrigados por sua quota, salvo se a obrigação for indivisível. (art. 276). Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade (art. 271) Impossibilitada a prestação por dolo ou culpa de um dos devedores, todos são solidariamente obrigados ao pagamento do equivalente, mas por perdas e danos responde só o culpado. (art.279). O devedor não pode opor aos demais credores, as exceções pessoais oponíveis a um deles. (art. 272). O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro codevedor. Diferenças entre obrigação solidária e obrigação indivisível Solidariedade (Entre sujeitos – ativos ou passivos) Indivisibilidade (do objeto) É decorrente da vontade das partes ou da lei. Decorre da natureza física ou jurídica da prestação 258 /CC O devedor paga o todo porque deve o todo. O credor recebe por inteiro porque é credor do todo. O devedor paga o todo porque não tem como ratear a coisa sem prejudicar lhe a natureza, não tem como repartir a coisa. Analisa-se o fenômeno da solidariedade sob o aspecto subjetivo, ou seja a vontade das partes. A situação é vista sob o ângulo objetivo (dos objetos). Visa facilitar o recebimento do crédito e o pagamento do débito. Assegura a unidade da prestação. Ex. cavalo, terreno. Cessa com a morte do credor e do devedor. Subsiste enquanto a prestação suportar (a morte do credor não encerra a natureza da coisa) As perdas e danos devidas em decorrência da solidariedade continuam com esse caráter 271/CC A indivisibilidade não acompanha as perdas e danos. Ela termina quando a obrigação se converte em perdas e danos. CC 263. RESUMINDO: 1. Efeitos da solidariedade ativa Já comentamos que é muito difícil encontrarmos casos de solidariedade ativa, contudo é possível concluir enumerando alguns efeitos: Exemplo A + B + C = credores solidários \ D = devedor ► Enquanto um credor não ingressar em juízo com a ação de cobrança, a divida poderá ser paga a qualquer um. Portanto se um credor já ingressou em juízo com a devida ação, o devedor deve pagar ao credor demandante. (268) ►O pagamento integral efetuado a qualquer credor extingue inteiramente a divida (269). Neste caso por ser uma obrigação solidaria não é necessário caução. ► Falecendo um dos credores solidários deixando herdeiros, cada um só poderá receber sua quota parte, salvo se: a) o objeto da prestação for indivisível, b) existir apenas um herdeiro; c) todos agirem conjuntamente. ►O credor que perdoar a divida responderá perante os outros credores, que em virtude do perdão (remissão), poderão cobrar a divida do credor que perdoou e não mais do devedor que viu sua divida se extinguir. (272) ►Se a prestação, por impossibilidade, converter-se em perdas e danos, subsiste a solidariedade pelo equivalente. (271). 2. Efeitos da solidariedade passiva Diferente da solidariedade ativa a passiva é bastante comum no direito moderno, sendo possível enumerar alguns efeitos: Exemplo A + B + C = devedores solidários \ D = credor 2.1 Entre os devedores e o credor / relação externa. ► O credor pode exigir de um ou alguns dos devedores a divida toda ou parte dela. (275) ► O recebimento ou o perdão parcial da divida, pelo credor, faz com que a solidariedade persista pelo restante (277). ► No caso de impossibilidade do cumprimento da prestação, a responsabilidade por perdas e danos é só do culpado, entretanto, todos os devedores respondem pelo equivalente de maneira solidária (279). ► Se aquele que ficou incumbido de pagar, atrasar, todos respondemperante o credor pelos juros moratórios deste atraso, entretanto, o culpado pela mora responderá perante os outros devedores, reembolsando integralmente o valor dos juros pagos pelo outro ou pelos outros devedores (275). ► Se o credor acionar um devedor e não conseguir receber, poderá, ingressar com ação contra outros(s) devedor(s) (275). ► O devedor demandado (que sofrer a cobrança) poderá opor contra o credor as defesas (exceções) que também são comuns aos outros devedores (pagamento já efetuado, objeto ilícito, nulidade, prescrição etc) e as suas particulares (renúncia da solidariedade por exemplo), todavia não é possível utilizar as particulares de outros devedores. ► Se o devedor falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. ► Se a divida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar. ► Qualquer alteração posterior ao contrato, estipulado entre um dos devedores solidários e o credor, que venha a agravar a situação dos demais só terá validade se for efetivada com a concordância destes. 2.2 Entre os devedores / relação interna ► Quitada a divida por um dos devedores, aquele que pagar estará autorizado a cobrar a quota parte de cada um dos codevedores, agora sem a solidariedade: Se algum deles cair em insolvência (não puder pagar), poderá o devedor que pagou ratear a quota deste insolvente entre os devedores remanescentes (283). ► Mesmo aquele devedor que foi exonerado da solidariedade pelo credor deverá contribuir pelo rateio da parte do insolvente. ► Se a divida for de interesse exclusivo de um devedor solidário, aquele que na qualidade de fiador pagar integralmente a divida, poderá cobrar a divida toda do devedor principal. (285). Lembre-se: diferente da solidariedade ativa, a passiva é de grande incidência e importância no mundo das relações obrigacionais, pois garante ao credor maior possibilidade de sucesso no recebimento da prestação acordada, tendo em vista a multiplicidade de devedores. Natureza jurídica Diante do que foi mencionando tanto da solidariedade ativa como solidariedade passiva podemos assegurar que a natureza jurídica da solidariedade representa um modo de assegurar o cumprimento da obrigação, reforçando e estimulando o pagamento do débito. Na solidariedade entre os credores, aquele que receber a prestação age na qualidade de representante dos demais, portanto o devedor pode pagar a qualquer credor independente de caução de garantia. Por sua vez também representa os demais aquele codevedor que pagar a prestação por inteiro, extinguindo a divida de todos frente ao credor. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES Se analisarmos as obrigações sob o aspecto subjetivo, a sua formação exige a presença de dois centros de interesses, ou seja, o polo ativo que é o credor e o polo passivo que é devedor. A transmissão das obrigações consiste na alteração dos sujeitos originários (polo ativo ou passivo), permitindo que o credor ou o devedor transmitam a terceiros a relação obrigacional, remetendo à uma ideia de permanência da obrigação, pois o direito adquirido pelo novo titular é exatamente o mesmo de quem lhe antecedeu. Portanto, toda forma de transmissão de obrigação se caracteriza pela conservação do negócio jurídico, que não sofre modificação em seu objeto por mais que ocorra sucessiva substituição de seus sujeitos. O direito moderno, admite sem maiores problemas a transmissão das obrigações por vontade das partes, tanto do lado ativo quanto passivo, podendo ser processada a tÍtulo gratuito ou oneroso, por ato inter vivos ou mortis causa, podendo englobar a transferência de um negócio jurídico que pode ser um direito, um dever, uma ação ou até mesmo um complexo de direitos, deveres e bens, não podendo porem ser cedidos direitos personalíssimos. A transmissão das obrigações só era processada por motivo de sucessão hereditária, isto porque, quando o credor falece os herdeiros passam a ter direito de exigir o cumprimento da obrigação, já os herdeiros do devedor estão obrigados ao cumprimento da obrigação até o limite da herança. O ato pelo qual se processa esta transmissão chama-se cessão, quem transmite é denominado cedente, quem recebe (adquirente) é denominado cessionário. São das seguintes espécies: cessão de crédito, cessão de débito e cessão de contrato. A cessão é um instituto importante e bastante utilizado na vida negocial moderna, como forma de potencializar e incrementar os negócios em geral. A relação jurídica nasce entre o sujeito ativo e o sujeito passivo. A posição do sujeito ativo pode ser transmitida a terceiro, assim também a posição do devedor. Nesses casos, quando o credor ou o devedor transmitirem suas posições a terceiros, haverá transmissão de créditos e débitos. O ato determinante dessa transmissibilidade denomina-se cessão, que vem a ser a transferência , a titulo gratuito ou oneroso de direitos e obrigações, de modo que quem adquire, (cessionário), passa a exercer posição jurídica igual à do cedente. Na verdade, a possibilidade da modificação do vínculo obrigacional pela troca de uma das partes, representa conquista moderna, isto porque, no direito romano privilegiava-se a noção individualista e personalista dos partícipes, sem qualquer possibilidade de serem substituídos, sob pena de extinção das obrigações. Com a substituição de um dos sujeitos da relação obrigacional, o direito ou a obrigação continua a existir como se não houvesse sofrido qualquer alteração. Há certas obrigações não podem ser transmitidas, porque resulta de expressa determinação legal, de ajustes entre as partes, ou da própria natureza das obrigações. Entre as obrigações intransmissíveis podemos mencionar as personalíssimas e o direito de preferencia. ESPÉCIES DE TRANSMISSÃO 1. CESSÃO DE CRÉDITO / 286 do CC. É um negocio jurídico bilateral, gratuito ou oneroso pelo qual o credor de uma obrigação transfere a outra pessoa, no todo ou em parte, seus direitos na relação obrigacional, independente do consentimento do devedor. Ao transferir a terceiros os seus créditos, o vendedor antecipa futuras receitas, obtendo recursos que lhe permite de imediato acelerar o ciclo produtivo de sua atividade, realizando novas operações que só viriam a se tornar possíveis após o retorno do capital, o que só ocorreria depois de decorrido o prazo originalmente concedido ao comprador. Um exemplo facilitará o entendimento: José (cedente) é credor de Pedro (cedido) no valor de R$ 400,00 └ Francisco (cessionário). José é credor de Pedro, tendo em vista que a dívida ainda vai vencer transfere o crédito para Francisco. O credor que transfere seus direitos denomina-se cedente. O terceiro a quem são transmitidos esses direitos denomina-se cessionário. O outro personagem, que é o devedor originário denomina-se cedido. Com relação ao cessionário o principal efeito decorre da aquisição da titularidade do crédito cedido com todas as garantias legais e contratuais, facultando-lhe inclusive exercer os atos conservatórios do direito cedido, independente do conhecimento da cessão pelo devedor. Ao transferir o crédito o credor quando necessita comunicar ao devedor, porém não é necessário a concordância deste.
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