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�PAGE � Prof. Maria Esmeralda Mineu Zamlutti Texto 05: A PSICOLOGIA SOCIAL ATUAL A PSICOLOGIA INSTITUCIONAL É a transposição do conhecimento psicológico do plano individual para o plano grupal, o que pressupõe a atuação do psicólogo para além do espaço do consultório buscando alcançar o espaço institucional. É a utilização de técnicas de intervenção psicológica no âmbito das organizações de saúde, ensino e trabalho- hospitais, clínicas, asilos, escolas, orfanatos, creches, escritórios, fábricas... É um fato (uma realidade) ainda bastante recente, pois só a partir das últimas décadas do século XX passou a ser praticada, com incursão inclusive nos currículos dos cursos de psicologia. A partir de diferentes orientações teóricas, diversos modelos de interpretação psicológica passaram a ser utilizadas sem nenhuma precisão quanto ao real papel da psicologia institucional. Convencionou-se chamar de Psicologia Institucional toda e qualquer atividade do psicólogo na área institucional, o que não representa a verdadeira proposta dos principais defensores desta nova modalidade do “fazer psicológico”. A Psicologia Institucional, na verdade, engloba tantas e tão variadas formas de atuação que o certo seria utilizarmos o termo “Psicologias Institucionais”. Para se conhecer o verdadeiro sentido do trabalho do psicólogo numa perspectiva institucional é indispensável conhecer as proposições de alguns de seus principais representantes, cujos estudos são de extrema importância à Psicologia Social: GEORGES LAPASSADE - (análise institucional... a análise das instituições). Filósofo e sociólogo francês falecido em 2008 aos 84 anos- Questiona a natureza das instituições e propões que a construção da realidade social se dá em 03 níveis: grupos, organizações e Estado. Obra: Grupos, Organizações e Instituições. JOSÉ AUGUSTO GUILHON DE ALBUQUERQUE - (o poder nas ins- tituições) Filósofo, sociólogo e analista político brasileiro, ex- pro-fessor da USP e assessor político de importantes políticos paulistas- Questiona as relações de poder em todas as instituições que formam as sociedades capitalistas. Obras: Análise Concreta das Relações de Poder nas Instituições e Metáforas da Desordem. RENÉ LOURAU - (análise institucional... a análise das instituições) Professor de Letras e cientista político francês falecido em 2000 c/ 67 anos- Considerado o fundador da Análise Institucional juntamente com Lapassade. Obra: A Análise Institucional como Cultura e Generosidade FRANCO BASÁGLIA - (analisa a violência nas instituições psiquiátricas) Psiquiatra italiano defensor da antipsiquiatria. Obras: A Instituição Negada e Psiquiatria Alternativa. DAVID COOPER - (analisa a violência nas instituições totais) Psiquiatra- um dos fundadores da antipsiquiatria Obra: Manicômios, Prisões e Conventos MICHEL FOUCAULT - (analisa o louco como bode-expiatório) Filósofo francês Obras: A História da Loucura na Idade Clássica; Vigiar e Punir; Microfísica do Poder Das importantes contribuições teóricas recebidas pela “Psicologia Institucional”, algumas merecem maior destaque devido a terem servido de orientação às práticas mais comumente utilizadas, como as de Bleger, Lapassade e Guilhon de Albuquerque BLEGER defende que o psicólogo institucional deve ... pensar a prática da psicologia para além dos limites do consultório ... atuar como profissional da saúde e não da doença ... fazer intervenção psicológica a nível dos grupos e instituições ... atuar como analista na relação com os grupos no trabalho institucional ... analisar, pontuar e interpretar as defesas, fantasias e ideologias do grupo ... atuar como assessor ou consultor do trabalho institucional e nunca como empregado da instituição ... estabelecer um vínculo contratual com a instituição e jamais um vínculo Empregatício “A realidade torna quase impossível a realização de um trabalho que segue fielmente os pressupostos da Psicologia Institucional porque raríssimas vezes as instituições pensam no psicólogo como um assessor ou consultor, contratando-o, quase sempre, como apenas mais um empregado” Obra: Psico-higiene e Psicologia Institucional- Porto Alegre: Artes Médicas,1984 LAPASSADE - defende que o psicólogo institucional deve ... fazer intervenção a nível organizativo e político ... realizar o trabalho de análise institucional através da intervenção de caráter político o rompimento da ideologia da instituição ... fazer análise através da ação do analista – é a ação que faz a análise ... defrontar os grupos que formam a organização para analisar suas estruturas de poder ... analisar o lugar que o grupo objeto da análise ocupa na estrutura de poder dos grupos que formam a instituição ... confrontar os grupos que formam a organização no que diz respeito ao poder de que são portadores no seio da mesma ... refletir sobre as relações de poder na instituição Obra: Grupos, Organizações e Instituições. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. Divergências marcantes entre BLEGER e LAPASSADE 1)- Quanto ao objeto de análise Bleger......... busca analisar as defesas, fantasias e ideologias da instituição Lapassade... busca o rompimento das ideologias da instituição 2)-Quanto ao papel do psicólogo Bleger............ propõe que o psicólogo deve atuar como “assessor ou consultor” para alcançar mudanças Lapassade...... propõe que o psicólogo deve atuar como “um com os outros” no processo de pensar e executar as decisões do grupo para conseguir o rompimento da ideologia da instituição GUILHON DE ALBUQUERQUE defende que o psicólogo institucional deve ... ver a instituição como um conjunto de práticas sociais, isto é, como algo concreto ... pensar as relações sociais no âmbito da instituição como “o fazer” dos agentes institucionais e da clientela da instituição ... entender as práticas e os agentes privilegiados na instituição e fora dela como representantes da imagem de sua função social ... perceber que a análise institucional se constitui apenas de uma análise e nunca de uma intervenção ... preocupar-se apenas em realizar a análise e nunca em modificar as implicaria em seu envolvimento com a instituição contaminando seu olhar analítico ... “pensar” a instituição no intuito de compreender as relações de poder que se processam em seu âmbito, especialmente o poder entre os agentes institucionais e o poder destes para com a clientela da instituição ... partir do pressuposto que a análise institucional só é possível com a análise dos ritos e dos mitos das instituições concretas (entendendo-se os mitos como o o conjunto das representações da prática institucional e não no sentido antropo lógico do termo) Obras: Metáforas da Desordem. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978 Instituição e Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1981 DIFERENÇAS BÁSICAS EM RELAÇÃO AO PAPEL DO PSICÓLOGO INSTITUCIONAL BLEGER LAPASSADE GUILHON ALBUQUERQUE Pensar a instit. como Pensar a instit. como Pensar a instit. como um conj. um conjunto de rela- um conjunto de rela- conj. de práticas sociais (algo- coes profissionais coes de poder concreto) Intervir em nível psi- Intervir em nível orga Nunca intervir nas relações cológico nizacional e políticogrupais A intervenção faz A intervenção causa o A intervenção contamina o conhecer rompimento da ideolo olhar analítico gia da instituição Analisar defesas, fan- Analisar através da Analisar os mitos e ritos das tasias e ideologias do ação do analista-- a instituições concretas grupo ação faz a análise Atuar como assessor/ Atuar como analista, Atuar como analista, mas ... consultor e... como... e também como / jamais como interventor interventor interventor Envolver-se como Envolver-se como Envolver-se como analista analista e não como analista e não como e não como interventor empregado detentor de algum poder A PSICOLOGIA COMUNITÁRIA A Psicologia Comunitária é bastante recente, tendo surgido na França, em fins dos anos 1960 e início de 1970, com a proposta inicial de colocar em questão a neutralidade dos psicólogos adeptos do modelo empírico-analítico ante as graves questões sociais que assolavam aa França e na Itália na época, especialmente a França, em decorrência dos acontecimentos políticos de 1968. Tal questionamento , responsáveis pela conhecida “crise da Psicologia Social” na Europa, fizeram com que as atuações dos psicólogos naqueles países passassem a ser criticadas e avaliadas de acordo com referenciais antropológicos, sociológicos, políticos e históricos. De acordo com Arendt (1997), embora o surgimento da Psicologia Comunitária tenha se dado primeiramente na Europa e depois nos Estados Unidos, foi na América Latina que a mesma mais se desenvolveu, pois foi lá que encontrou “clima favorável” ao seu desenvolvimento. Alguns defensores da Psicologia Comunitária defendem que a partir dos anos 1970 um grupo um rupo de psicólogos latino-americanos começou a sentir necessidade de “mudar o foco da Psicologia Social” por considerar que a mesma consistia numa clara imitação da Psicologia Experimental norte-americana, sem se preocupar com as reais condições sociais da sociedade na qual estava sendo praticada. Tais críticas levaram à organização de movimentos que buscavam responder à histórica frustração dos cidadãos que não recebiam atenção de seus governantes nem de organizações políticas que os representavam junto àqueles que detinham o poder político e econômico. Esses movimentos empenhavam-se em conscientizar a população sobre a importância de sua participação nas decisões de sua comunidade, bem como nas soluções dos problemas a ela pertinentes. Naquele momento os psicólogos defensores de uma Psicologia Social mais voltadas realmente aos problemas da comunidade, isto é, de uma psicologia verdadeiramente comunitária, inspiraram-se nas ideias de Paulo Freire e Orlando Borba, introdutores da pesquisa-ação como alternativa de envolvimento de profissionais de diversas áreas da ciência (educadores, psicólogos, sociólogos, assistentes sociais, médicos, antropólogos....) nas questões sociais de âmbito nacional e internacional. Tais fatos levaram à postulação de que as raízes da Psicologia Comunitária, especialmente na América Latina, encontram-se na ação de alguns psicólogos muito mais preocupados com o desenvolvimento da comunidade do que com o desenvolvimento individual daqueles que a compõe. Segundo Campos (2003), a Psicologia Comunitária é uma nova área de estudos e aplicação da Psicologia Social, que visa contribuir com a construção de relações sociais mais democráticas e solidárias, bem como para a promoção da autonomia e melhoria da qualidade de vida nas comunidades. Ainda de acordo com a autora acima, ao psicólogo comunitário cabe estudar as condições (internas e externas) que impedem o indivíduo de agir como sujeito, e auxiliá-lo em sua relação com o meio através do desenvolvimento de sua consciência social e política, como propõe “... a psicologia social comunitária estuda o sistema de relações e representações, níveis de consciência, identificação e pertinência dos indivíduos aos grupos. Visa o desenvolvimento da consciência dos moradores como sujeitos históricos e comunitários, através de um esforço interdisciplinar que perpassa o desenvolvimento dos grupos. Seu objetivo é a transformação do indivíduo em sujeito”. (Campos, 2003, p.34) Segundo DeSouza (1996), deve-se às “carências crônicas” de habitação, sistemas de saúde e educação, pobreza generalizada, desemprego e desamparo, o fato de a Psicologia Comunitária na América Latina ter-se voltado à população de nível sócio-econômico mais baixo. Isso explicaria, também, a diferença existente entre as Psicologias Comunitárias Européia, Norte-americana e Latino-Americana, pois trata-se de realidades sócio-culturais e econômicas diferentes, e, portanto, de “gentes diferentes”. De um modo geral, o que a Psicologia Comunitária propõe, é que a partir do conhecimento de uma dada realidade sócio-econômica, possa-se analisar e compreender seus problemas mais emergentes e, na medida do possível, tentar solucioná-los. Nesta perspectiva, caberia ao psicólogo comunitário investigar como a realidade social interfere na construção dos sujeitos membros de determinada sociedade, quais abordagens seriam mais apropriadas para ajudar na solução dos seus problemas, e que tipo de ações poderiam ser empreendidas no sentido de melhorar as condições de vida tanto em nível individual quanto social. Ainda de acordo com Arendt (1997, p.06) “... um psicólogo envolvido num projeto de desenvolvimento comunitário, fundado em uma teoria dinâmica de grupos e relações interpessoais, pode buscar a tomada de consciência do grupo da sua problemática contextual e contribuir para o processo de auto-gestão grupal, tudo dentro do mais estrito respeito á psicologia Social”. Referências: ARENDT, R. J. J. Considerações críticas sobre a pesquisa em psicologia comunitária. Em Sociedade Brasileira de Psicologia. Anais XXIII Reunião Anual de Psicologia. Resumos. Ribeirão Preto/SP, 1993. CAMPOS, R. F. C. (org). Psicologia Social Comunitária: da solidariedade à autonomia. Petrópolis/RJ: Vozes, 2003. DeSOUZA, E. Psicologia Comunitária nos Estados Unidos e na América Latina: implicações para o Brasil. Em Psicologia: Reflexão e Crítica, 1996. _________________________________________________________ Prof. Maria Esmeralda Mineu Zamlutti �PAGE \* MERGEFORMAT�1�
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