Buscar

BEMQ.Pesquisa cancer Mori

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

99
 Psicologia & Sociedade; 23(n. spe.), 99-108, 2011
99
REFLEXÕES SOBRE O SOCIAL E O INDIVIDUAL NA EXPERIÊNCIA 
DO CÂNCER
RefleCTIoNS oN THe SoCIal aND THe INDIVIDUal oN THe 
eXPeRIeNCe of CaNCeR
Valéria D. Mori e Fernando L. González Rey 
Centro Universitário de Brasília, Brasília-DF,Brasil
Resumo
Neste trabalho discutimos os processos subjetivos que se configuram a partir de aspectos da subjetividade individual 
e social na experiência de uma paciente com câncer, baseando-nos em uma visão de subjetividade numa perspectiva 
histórico-cultural. a pesquisa foi realizada através de um estudo de caso com uma pessoa com câncer. a análise foi 
feita em uma perspectiva qualitativa de base construtivo-interpretativa, a epistemologia qualitativa proposta por 
González Rey. No processo de construção de informação, diferentes hipóteses surgem e organizam-se em indicadores 
construídos pelos pesquisadores que são a base para as construções teóricas sobre o tema. Na análise realizada, é 
possível compreender os diferentes aspectos subjetivos que se configuram nos processos de saúde e doença.
Palavras-chave: câncer; subjetividade; sentido subjetivo.
Abstract
In this paper we discuss the subjective processes that constitute the basis of aspects of individual and social sub-
jectivity in the experience of a patient with cancer, based on the understanding of subjectivity from a historical-
cultural stand point. this research was carried out through the case study of a person who had cancer. the analyses 
was oriented on a qualitative methodology of a constructive-interpretative nature, the qualitative epistemology 
proposed by González Rey. In the process of building up information different hypoteses arise and are organized 
on indicators constructed by the researchers that are the basis for the theoretical constructions. In this analysis, 
it’s possible to understand the different subjective aspects that constitute the processes of health and illness.
Keywords: cancer; subjectivity; subjective sense.
Introdução
Neste artigo, pretendemos discutir os desdobra-
mentos da subjetividade individual e social na orga-
nização dos sentidos subjetivos de uma paciente com 
câncer. discutimos a dimensão subjetiva do adoecimen-
to integrando processos da pessoa e da sociedade, pois 
ambos se constituem recursivamente. Nesse sentido, 
o social é um elemento importante quando refletimos 
sobre o adoecimento crônico, pois os diferentes signi-
ficados que se organizam ao redor de uma doença têm 
impactos diferenciados nas pessoas que estão doentes. 
E esses diferentes impactos estão relacionados com os 
processos subjetivos constituídos no adoecimento e que 
vão se desdobrando em diferentes sentidos subjetivos 
para a pessoa que enfrenta essa situação. Tal afirmação 
não significa que o social seja determinante no adoeci-
mento, mas sim que o social e o individual se constituem 
mutuamente nesse processo, e dessa maneira o adoe-
cimento organiza-se na relação desses dois sistemas. 
Apresentamos uma análise dos aspectos configurados 
na experiência de uma paciente com câncer numa pers-
pectiva qualitativa de base construtivo interpretativa. 
A subjetividade e sua configuração nos 
processos da pessoa
a categoria subjetividade desenvolvida por Gon-
zález Rey (1997, 1999, 2003a) nos auxilia na discussão 
que pretendemos nesse trabalho, pois articula o social 
e o individual como processos que não estão em uma 
relação de determinação. Outro autor que faz importantes 
contribuições a esse tema é Guattari (1990), pois rompe 
com a ideia de uma subjetividade interiorizada e a define 
articulada tanto com espaços sociais quanto individuais: 
Minhas atividades profissionais no campo da psico-
patologia e da psicoterapia, como meus engajamentos 
políticos e culturais, têm me levado a insistir, cada vez 
P&S 23-Especial.indb 99 19/3/2012 16:30:41
100
Mori, V. D. & González Rey, F. L. Reflexões sobre o social e o individual na experiência do câncer
mais, na subjetividade na medida em que ela é produzi-
da por instâncias individuais, coletivas e sociais... E ela 
(a subjetividade) não conhece instância dominante de 
determinação comandando outras instâncias segundo 
uma causalidade unívoca (p. 3).
a intersecção entre saúde e subjetividade é pre-
sente também nas discussões de outros autores como, 
por exemplo, Carvalho (2009), Merhy (2009) e Campos 
(2009). Os autores sugerem pensar a saúde além de uma 
visão determinista, seja ela social ou individual, para 
que seja concebida como processo, pois “a interação 
entre fatores universais e particulares é que constitui as 
sínteses específicas: situações de saúde de cada pessoa 
ou de cada coletividade” (Campos, 2009, p. 53). E, ao 
operar com o conceito de subjetividade propõem recu-
perar a experiência humana na sua articulação com o 
social e valorizar a experiência das pessoas no sentido 
de valorizá-las como sujeitos que têm diferentes neces-
sidades e aspirações nos processos de saúde.
No presente artigo, a categoria subjetividade, por 
nós discutida, não é um processo individual e intrapsí-
quico, mas que permanentemente está em organização 
ao longo da vida das pessoas e dos espaços sociais. a 
subjetividade configura-se histórica e culturalmente e 
não é cópia nem internalização do social, senão uma 
nova produção que ocorre como resultado das múlti-
plas e simultâneas consequências do ‘viver’ do homem 
(González Rey, 1997, 1999). Nesse sentido, as próprias 
ações são fontes de processos de subjetivação que se 
configuram na experiência da pessoa. Essa visão de 
subjetividade enfatiza seu caráter contraditório, pois 
uma pessoa pode, ao mesmo tempo, ser agressiva e 
sensível, em virtude dos sentidos subjetivos, unidade 
dos processos emocionais e simbólicos (González Rey, 
2005), produzidos a partir de sua história e das circuns-
tâncias atuais da sua vida (Mitjáns, 2005). 
Ao definir subjetividade, González Rey (1997) 
utiliza-se de duas categorias para melhor explicitar 
os desdobramentos dos aspectos individuais e sociais, 
reiterando que não está definindo subjetividade indivi-
dual, por exemplo, como categoria intrapsíquica. Nas 
suas palavras:
a subjetividade social e a individual são momen-
tos diferentes de um sistema comum. as duas instâncias 
da subjetividade são sistemas processuais em desenvol-
vimento permanente que se expressam por meio de su-
jeitos concretos que se posicionam ativamente no curso 
desse desenvolvimento (González Rey, 2003a, p.145).
a subjetividade social e a subjetividade indivi-
dual, dessa forma, articulam-se no adoecimento, mas a 
maneira como esses sistemas tomam forma ao longo do 
tempo é uma produção da pessoa em relação aos dife-
rentes desdobramentos desse processo. Em razão disso, 
o posicionamento da pessoa nessa experiência é muito 
importante, pois os seus processos de subjetivação é que 
determinam se o adoecimento possibilitará a geração 
de alternativas ou não. Sendo que a impossibilidade de 
gerar alternativas, longe de fortalecer a pessoa para a 
luta com a doença e o desenvolvimento de sua vida de 
forma geral, termina sendo mais um elemento de enfra-
quecimento da pessoa e de infelicidade nesse processo. 
ao discutirmos os processos subjetivos da pessoa 
no adoecimento, ressaltamos o caráter único e singular 
da produção de sentidos subjetivos do sujeito. a pessoa 
não entra neutra na experiência do câncer, pois a sua 
vida organizada subjetivamente participa ativamente 
na forma em que a pessoa vive a doença. as diferentes 
representações e crenças a respeito do câncer estão 
presentes na subjetividade social, e estas têm impacto 
nos diferentes sentidos subjetivos que, por sua vez, 
se organizam de maneira distinta em cada paciente. a 
categoria sentido subjetivo “representa a constituição 
histórica no nível subjetivo, das diferentesatividades 
e relações significativas na constituição do sujeito” 
(González Rey, 2003b, p. 174). Na sua produção estão 
implicados tanto o individual quanto o social como 
sistemas que se articulam mutuamente. O sentido 
subjetivo não é uma reprodução linear de um tipo de 
comportamento ou emoção, mas uma produção singular 
da pessoa que está constituída pelo histórico (diferentes 
momentos da vida da pessoa no contexto da cultura) e 
o momento atual da história da pessoa. as diferentes 
produções de sentido subjetivo no adoecimento podem 
auxiliar a pessoa a ser sujeito da doença para que ela 
possa gerar alternativas diferenciadas nesse processo. 
O tema da subjetividade, a preocupação com uma 
definição de sujeito e sua posição em relação ao social 
tem sido questões presentes na obra de vários sociólo-
gos relevantes (Elias, 1994; Ferraroti, 1990; touraine, 
2006; Weber, 1964). touraine (2006) discute a relação 
do sujeito em seu contexto social e cultural e afirma que 
o mesmo não se reduz a esses contextos, mas o sujeito 
não pode ser reconhecido como tal fora dos contextos 
sociais e culturais. Segundo esse autor:
O que cada um de nós procura, no meio dos aconteci-
mentos em que está imerso, é construir sua vida indi-
vidual, com sua diferença em relação a todos os outros 
e sua capacidade de dar sentido geral a cada aconte-
cimento em particular. Essa busca não deveria ser a 
busca de uma identidade, já que somos cada vez mais 
compostos de fragmentos de identidade diferentes. Ela 
não pode ser senão a busca de ser autor, o sujeito de 
sua própria existência e de sua própria capacidade de 
resistir a tudo aquilo que dela nos priva – e torna nossa 
vida incoerente (p.124).
O sujeito não está determinado por um compor-
tamento em um cenário social que o defina de modo 
universal senão que emerge dos diferentes sentidos 
P&S 23-Especial.indb 100 19/3/2012 16:30:41
101
 Psicologia & Sociedade; 23(n. spe.), 99-108, 2011
subjetivos que se desenvolvem na vida da pessoa e sobre 
os quais ela assume sua autoria e responsabilidade em 
campos concretos de sua ação, enquanto que em outras 
áreas da sua vida não acontece o mesmo. a pessoa se 
transforma em sujeito na tensão entre sua subjetividade 
e a subjetividade social dominante em seus espaços de 
ação. Os diferentes processos da subjetividade social 
têm múltiplas repercussões para a saúde humana que não 
podem ser percebidas por uma relação de causa e efeito, 
senão pelos efeitos colaterais1, que só vão aparecer nas 
configurações subjetivas2 diferenciadas das pessoas no 
processo de ‘viver a doença’. as ações dos sujeitos são 
inseparáveis da rede de sentidos subjetivos que se organi-
za, pouco a pouco, nesse processo (González Rey, 2007). 
dessa forma, a produção subjetiva da pessoa na 
saúde e na doença é organizada a partir de diferentes 
elementos que estão presentes tanto na sua história 
individual quanto nos aspectos sociais e culturais. a 
história e o momento atual da vida da pessoa não estão 
numa relação de determinação, mas como constituintes 
da complexa configuração dos processos subjetivos. A 
saúde ou doença, nesses termos, são subjetivados pela 
pessoa na sua vida e lhe possibilitam diferentes produ-
ções de sentido em relação a eles. O que implica dizer 
que nenhum desses processos existe em abstrato, ou 
com uma representação já dada, mas como fenômenos 
que estão presentes e são subjetivados tanto socialmente 
como individualmente.
Epistemologia qualitativa
a metodologia utilizada no estudo de caso que 
fazemos apoia-se nos pressupostos da epistemologia 
qualitativa proposta por González Rey (1997, 1999) que 
enfatiza a produção de conhecimento na pesquisa como 
um processo construtivo interpretativo. Nesta proposta 
de pesquisa qualitativa privilegia-se a plurideterminação 
dos fenômenos além de uma relação de causa e efeito 
entre si (González Rey, 1997; Santos, 2007); e a relação 
do pesquisador com o momento empírico configura-se 
a partir das suas interpretações e construções teorica-
mente fundamentadas que não visam uma descrição da 
realidade, mas sua compreensão como processo singular 
(González Rey, 1997, 2002).
a proposta de González Rey (1999) para uma 
epistemologia qualitativa não significa que ele não 
reconheça que toda epistemologia como processo de 
conhecimento seja qualitativa, mas o autor salienta a 
necessidade de se especificar o qualitativo no campo 
epistemológico - preocupação de diferentes autores 
(Groulx, 2008; laparrière, 2008; Pires, 2008) - que 
ainda não encontrou posição explícita nas ciências 
sociais, que é um dos seus objetivos na sua proposta 
metodológica. a epistemologia qualitativa é uma ten-
tativa de produzir conhecimento que permita a criação 
teórica “acerca da realidade plurideterminada, diferen-
ciada, irregular, interativa e histórica, que representa a 
subjetividade humana” (González Rey, 1999, p. 35). 
Os processos subjetivos se organizam de maneira 
complexa, e o seu estudo com base na epistemologia 
qualitativa não permite a predição, descrição e o contro-
le (González Rey, 2002), pois a realidade não é linear e 
determinada. temos imprevisibilidade, interpenetração, 
desordem, que se desdobram em diferentes momentos 
impossíveis de serem mensurados em parâmetros es-
táticos e sob controle (Morin, 2007; Santos, 2007). da 
mesma maneira, o conhecimento não é apenas condi-
cionado, determinado e produzido, recursivamente ele 
é condicionante, determinante e produtor e está ligado 
à cultura, ao social e à prática histórica (Morin, 2007).
a epistemologia qualitativa apoia-se em três 
princípios (González Rey, 1999), conforme se segue: 
1. O conhecimento é produção construtivo-inter-
pretativa, ou seja, “o conhecimento é uma construção, 
uma produção humana” (González Rey, 2005, p.6). O 
papel do investigador nesse processo é o de alguém que 
pensa e produz conhecimento no confronto das suas 
ideias com o momento empírico em que a teoria não 
está pronta, mas se constrói em permanente tensão com 
o momento empírico. assim, a interpretação não se or-
ganiza com base em categorias universais para dar conta 
dos processos que aparecem no curso da investigação. a 
interpretação é uma construção do pesquisador, em que 
a teoria é um instrumento do investigador no processo 
interpretativo, que atua como “marco de referência que 
mediatiza o curso das construções teóricas do investi-
gador sobre o objeto” (González Rey, 1999, p.38). a 
pesquisa nesse modelo não esgota o problema, mas gera 
novas zonas de sentido3, abre novas possibilidades para 
construção teórica com relação ao problema abordado, 
passa-se de lógica da resposta para lógica da construção.
2. a produção de conhecimento tem caráter in-
terativo, “a pesquisa é um processo de comunicação, 
um processo dialógico” (González Rey, 2005, p.13). a 
conversação com o sujeito de pesquisa não é enquadrada 
em limites fechados com perguntas formuladas a priori, 
pois é importante seu envolvimento em um sistema 
conversacional que lhe permita sua expressão. a pessoa 
envolve-se em um processo de diálogo por sentir-se 
implicada no processo da pesquisa através da produção 
de diferentes sentidos subjetivos que se constituíram na 
relação com o pesquisador e seu tema. a comunicação é 
via de construção de conhecimento, pois por meio dela, 
a pessoa se expressa, se compromete no processo da 
pesquisa, possibilitando o aparecimento de diferentes 
processos de sentido subjetivo que caracterizam a ex-
pressão desse sujeito. Com isso não queremos afirmar 
que conheceremos diretamente os sentidos subjetivos 
P&S 23-Especial.indb 101 19/3/2012 16:30:41
102
Mori, V. D. & González Rey, F. L. Reflexões sobre o social e o individual na experiência do câncer
implicados na produção da pessoa, mas que eles irão 
emergir por vias indiretas duranteo processo dialógico. 
a subjetividade é sistema vivo, que é momento 
do processo discursivo em curso, que intervém na qua-
lidade da expressão narrativa, precisamente pela emo-
cionalidade produzida pelo sujeito na sua relação com 
o mundo, gerando outras formas de subjetivação que 
não estão presentes apenas no discurso. desse modo, 
a visualização da complexidade da sua constituição 
subjetiva não se baseia apenas no conhecimento de suas 
formas de organização dentro do discurso.
3. O conhecimento não se legitima pela quanti-
dade de sujeitos pesquisados, mas pela qualidade de 
sua expressão, sobre a qual é desenvolvido o modelo 
teórico sobre o qual descansam os significados produ-
zidos no curso da pesquisa. a adoção de epistemologia 
qualitativa privilegia a significação do singular para 
a produção de conhecimento (González Rey, 1997). 
a pessoa na sua constituição subjetiva é única, e as 
diferentes configurações subjetivas singulares nos 
permitem desenvolver uma representação abrangente 
dos sentidos subjetivos que se organizam em relação 
a um determinado problema, através da qual podemos 
estudar a dimensão subjetiva desse problema. desse 
modo, saímos de investigação que vê a pessoa como 
entidade objetivada para outra, que a percebe numa 
relação de recursividade entre social e individual pro-
duzindo emocionalidade diferenciada, de acordo com 
o momento de sua experiência. 
Nessa perspectiva, não se buscam processos 
padronizados, mas a participação dos sujeitos em pro-
cesso dialógico em que estes se motivam por meio da 
comunicação pesquisador-sujeito. a qualidade a qual 
nos referimos permite a construção do modelo teórico 
hipotético que vai ser a base das hipóteses em anda-
mento na pesquisa, pois as informações não têm versão 
final da realidade em si, mas constituem a fonte para o 
processo de produção de conhecimento. a produção de 
informação não está associada à significação estatísti-
ca, mas à qualidade da interação pesquisador-sujeito, 
que permite que o espaço relacional se constitua como 
cenário de pesquisa com base nas necessidades das 
pessoas envolvidas nele. 
o processo de construção de informação 
O pesquisador se posiciona constantemente em 
relação ao momento empírico, sem que, com isso, 
pretenda chegar a verdades universais ou encontrar 
categorias estabelecidas a priori no processo. Isso se 
dá com o desenvolvimento permanente de suas ideias, 
movido pela tensão entre o momento empírico e sua 
produção intelectual, que se organizam em sistema de 
significações que não são evidentes, explicitamente, nos 
processos pesquisados (González Rey, 2005). 
O pesquisador atua no processo de interpretação 
definindo certos elementos e formas de expressão da 
pessoa como significativos para abrir hipóteses, que 
no curso da informação estudada vão se transforman-
do em afirmações teóricas fundamentadas por novas 
evidencias ou vão dando passo para outras hipóteses. 
Esses elementos são definidos por González Rey (1997) 
como indicadores que se mantêm em fluxo e processo 
durante a pesquisa. assim, por exemplo, ao dizer que 
uma pessoa tem ou não autoestima, não significa nada 
em termos pessoais, pois essa categoria está associada 
com diferentes sentidos subjetivos que se organizam 
na experiência da pessoa em diferentes contextos e que 
não se manifesta na forma de uma característica estática 
da pessoa. Nesta forma de pesquisa as categorias não 
aparecem naturalizadas como entidades que tem um 
valor em si mesmas. a autoestima está relacionada com 
certos sentidos subjetivos que aparecem em determi-
nada configuração do sujeito em um campo de ação ou 
num contexto específico, e relaciona-se com emoções e 
processos simbólicos associados à pessoa na ação em-
preendida. Esta forma de pensar rompe a representação 
da psique centrada em elementos passíveis de serem 
descritos de forma geral.
Instrumentos
Os instrumentos da pesquisa qualitativa são um 
meio para que o sujeito possa expressar-se, “estimulando 
a produção de tecidos de informação, e não de respostas 
pontuais” (González Rey, 2005, p. 43). Não representam 
uma fonte de dados, mas de informação sobre o estudado, 
que toma forma nos indicadores a partir das informações 
produzidas pelo sujeito estudado (González Rey, 1999). 
São indutores de informações relevantes para os sujeitos 
participantes da pesquisa, mas isso não significa que 
encontramos na sua utilização, linearmente, as diferentes 
produções de sentido das pessoas, mas indicadores de 
sentido subjetivo que podem se constituir em hipóteses. 
Como bem coloca González Rey, (2005): “Cada ins-
trumento representa uma situação de sentido distinta, a 
partir da qual o sujeito estudado se posicionará, o que 
contribui para estimular o compromisso com a expressão 
de sentidos subjetivos” (p. 48).
durante a pesquisa podem ser de expressão oral 
ou escrita, em grupo ou individual, depende das ne-
cessidades do pesquisador, para que se eleja qual deles 
se adapta melhor às necessidades no momento. Nessa 
pesquisa, optamos pela dinâmica conversacional.
Dinâmica conversacional
a conversação se constitui pelo envolvimento dos 
participantes no processo de comunicação, facilitando 
a expressão individual sobre temas que são relevantes 
P&S 23-Especial.indb 102 19/3/2012 16:30:41
103
 Psicologia & Sociedade; 23(n. spe.), 99-108, 2011
para essas pessoas. O sistema conversacional permite 
diálogo e “o pesquisador desloca-se do lugar das per-
guntas para integrar-se na dinâmica de conversação” 
(González Rey, 2005, p. 45). Os processos de comuni-
cação são importantes vias de produção de informação 
em espaços relacionais.
a entrevista e a conversação diferem pela natureza 
dos seus processos. a primeira tem caráter instrumental 
em si, pois o pesquisador parte de questões feitas a 
priori, e o espaço de diálogo se centra nas respostas 
dadas pelos participantes, não pela qualidade da con-
versação, pois a implicação do pesquisador se limita 
à instrumentalização, que não envolve sua interação 
como participante do processo subjetivo que se inicia. 
a conversação caracteriza-se pela processualidade da 
relação pesquisador sujeito, “apresenta uma aproxima-
ção do outro em sua condição de sujeito e persegue sua 
expressão livre e aberta” (González Rey, 2005, p.49), 
e, de forma gradual, possibilita o envolvimento dos 
participantes, facilitando o aparecimento de sentidos 
subjetivos diferenciados no processo.
Análise e construção de informação - 
Roberta
O estudo de caso realizado nesta pesquisa foi feito 
através de dinâmicas conversacionais em diferentes 
momentos, as sessões de conversação foram gravadas 
e posteriormente analisadas concomitantemente às ano-
tações feitas pelos pesquisadores depois dos encontros 
com o sujeito de pesquisa. Neste trabalho discutiremos 
o caso de Roberta. Ela tem 43 anos, é psicóloga, mãe 
de dois filhos e atualmente mora sozinha. Tem câncer 
há 11 anos e trabalha com pacientes com câncer no seu 
consultório e em uma clínica de reprodução assistida 
dando apoio a pais que querem ter filhos e querem 
conversar sobre sua dificuldade em ter filhos. 
No trecho a seguir Roberta nos fala do seu traba-
lho em consultório e a sua experiência como paciente 
com câncer:
Eu tomei muito esse cuidado, à minha capacidade 
de exercer um trabalho proporcionalmente à minha 
vontade e a minha necessidade do trabalho. Porque 
eu dependo dele financeiramente, e dependo dele 
existencialmente. Eu gosto do que eu faço, e então 
não poderia ser uma mera teimosia. Passo muito tempo 
cansada, porque fazer quimioterapia, fazer radioterapia 
debilita muito e principalmente não me violentar. Me 
violentar pegando casos pesados, como alguém que 
está com uma evolução muito rápida ... você começa 
a se perguntar – ih, essa sou eu amanhã.
Na fala anterior, observa-secomo ao falar do 
trabalho não aparece apenas a questão financeira, mas 
a importância existencial que isso tem para ela, o que 
não é apenas declarativo, pois ela acompanha com a 
expressão “eu gosto do que faço”, o prazer associado 
à atividade aparece na sua fala espontânea. Unido a 
isso precisa ser destacado como ela consegue sair do 
estado emocional da doença para produzir outras emo-
ções e formas de expressão que destacam o estar viva! 
temos um indicador de sentidos subjetivos associados 
ao exercício da profissão que evocam nela interesse, 
prazer, realização pessoal, se sentir capaz de ser útil, 
enfim que poderiam estar presentes uma multiplicidade 
de emoções e estados que devemos seguir procurando 
em outros indicadores, mas o que destacamos aqui é 
que a profissão é um espaço de produção subjetiva. 
Para Roberta, assim como ela precisa do trabalho para 
sobreviver, ela precisa dele para continuar participando 
da vida com prazer. O trabalho associa-se a interesse e 
também a necessidade financeira, mas, antes de tudo, 
expressa um posicionamento ativo frente à vida, o que 
de fato representa um caminho alternativo de produção 
subjetiva. ainda que esteja doente e perceba que tenha 
algumas limitações em função do seu tratamento, ela 
não deixa de trabalhar, pois tem satisfação em relação 
ao seu trabalho no consultório. além disso, reconhece 
explicitamente suas limitações na possibilidade de 
atender alguém com uma evolução rápida da doença. 
Um outro indicador dos sentidos subjetivos já 
colocados antes em relação à profissão é o fato de que, 
apesar de fazer quimioterapia e radioterapia, ela quer 
manter o trabalho, especificando que sem se violentar. 
Esse não se violentar pode ser um indicador de como os 
pacientes nessa situação começam a tomar consciência 
de suas possibilidades, que longe de ser uma limitação, 
lhes permite manter suas atividades sem que se sintam 
prejudicados no percurso do processo de adoecimento.
Roberta posiciona-se em relação ao seu adoeci-
mento, e mantém seu interesse no trabalho, não vemos 
aqui uma ruptura em termos de identidade, pois ela 
ativamente continuou trabalhando e vendo-se como 
psicoterapeuta ao longo do seu processo. temos in-
dicadores com relação ao valor do trabalho para ela, 
expresso em vários momentos do seu relato, o que para 
nós significa que Roberta posiciona-se como sujeito 
desse aspecto relevante da sua vida. Citando touraine 
(1998): “o sujeito é o desejo do indivíduo de ser ator” 
(p. 73). Não significa ser ator nos termos individuais 
que marca a nossa sociedade atualmente, mas organizar 
experiências a partir dos diferentes desdobramentos 
que tomam e dos diferentes sentidos subjetivos que se 
organizam para posicionar-se e reconhecer-se como 
pessoa com possibilidades e dentro de espaços sociais 
diferenciados. 
Eu diria que é assim, receber um diagnóstico de câncer 
não é fácil, mas o de metástase é mais ainda, é como se 
fosse assim: ta, eu fiz tudo, e aí, sinto muito, mas não 
P&S 23-Especial.indb 103 19/3/2012 16:30:41
104
Mori, V. D. & González Rey, F. L. Reflexões sobre o social e o individual na experiência do câncer
tem jeito. aí, eu diria que foi uma outra ... né, avançar, 
porque foi muito difícil. Mas estou aí superando, nem 
meu próprio médico acreditava, como que cada fase 
eu ia lá, vencia, ele me disse isso em palavras, uma 
pessoa muito difícil de fazer elogios. Eu consegui que 
ele acreditasse que a postura do paciente faz toda a 
diferença. Isso pra mim foi muito bom.
Nesse trecho, aparece outro indicador sobre a con-
figuração subjetiva da doença que se apresenta na sua 
capacidade de seguir em frente ainda que tenha a notícia 
da metástase. Esse indicador é congruente com os que 
já apareceram em outros trechos de conversação, e de 
forma explícita evidenciam quanto é importante para ela 
vencer, assim como enfrentar os desafios. Vencer tem se 
tornado um importante valor pessoal que expressa essa 
configuração subjetiva em relação à doença que integra 
seu caráter ativo, seus interesses, a integração da doença 
na sua identidade lhe permitindo planos considerando 
essa condição pessoal. todos esses são indicadores de 
sentidos subjetivos (do valor do trabalho, de vencer) 
e elementos associados à configuração subjetiva da 
doença. O vencer não é apenas assumir o desafio de 
sair na frente, é receber o elogio do médico, e se sentir 
orgulhosa de si mesma, é sentir que é capaz de novas 
conquistas, é sentir o sucesso profissional e que é capaz 
de ter uma vida. São expressões de sentidos subjetivos 
diversos que integram a configuração subjetiva do “vi-
ver sua doença”. aqui se expressa mais que um sentido, 
não é o sentido de vencer em abstrato, no sentido de 
vencer está o sucesso profissional e a independência, 
da mesma forma que o vencer é um sentido subjetivo 
na superação das dificuldades no exercício da profissão, 
uma verdadeira configuração subjetiva!
a metástase aparece como um elemento que vai 
além do esforço de Roberta para a cura. Mas, ainda 
que tenha que lidar com a frustração e as contradições 
do adoecimento, mais uma vez ativamente lida com as 
dificuldades que se apresentam. Nesse ponto, vemos 
como Roberta posiciona-se frente aos processos de 
significado presentes na subjetividade social em relação 
aos pacientes com câncer. O que é um indicador da 
sua condição de sujeito, pois muitas vezes o paciente 
não é visto como alguém capaz de tomar suas próprias 
decisões, ou definir os rumos de sua vida. Ela continua 
sendo uma pessoa com capacidade para influenciar os 
outros, de lutar pelos seus critérios, de ser parte dos 
caminhos de sua vida em condições da doença, atributos 
todos estes que fazem a diferença entre ser paciente ou 
sujeito da doença e que são expressão da configuração 
subjetiva da doença. O que nos permite compreender a 
diferença entre o rumo objetivo da doença, já em me-
tástase, e a produção subjetiva sobre a doença que lhe 
mantém ativa e realizada como sujeito de seu processo 
de adoecimento. a realização neste momento de sua 
doença está associada a viver um dia mais, a superar 
uma nova dificuldade no tratamento, em sentir o elogio 
do médico, em se manter na sua vida profissional, em 
ser sujeito de suas decisões. Enfim, o viver a doença 
tem levado Roberta a um verdadeiro redesenho de seu 
mundo subjetivo, o qual não é nem melhor nem pior 
que outros, simplesmente diferente. 
aspectos da subjetividade social podem limitar 
os processos subjetivos da pessoa, mas também podem 
gerar contradições que levam a pessoa a produzir senti-
dos subjetivos diferenciados facilitando o seu posicio-
namento em relação a representações dominantes. No 
caso de Roberta, os sentidos subjetivos que produz em 
relação ao câncer não se subordinam aos aspectos da 
subjetividade social hegemônicos e são alternativas que 
alimentam sua postura em relação à metástase e frente 
ao “viver a doença” de forma geral. 
a discussão sobre subjetividade social no parágra-
fo anterior nos leva a outros momentos em relação ao 
trabalho de Roberta, pois ela também teve que lidar com 
as diferentes representações que seus pacientes tinham a 
respeito do câncer e os diferentes processos simbólicos 
e emocionais presentes quando o psicoterapeuta está 
com câncer e continua atendendo: 
Como que ia fazer com o consultório, se eu iria en-
caminhar, se eu iria conduzir com essas pessoas até o 
momento. E fui assim, aos poucos, né, dizendo, olha, 
em tal época eu vou fazer uma cirurgia, você quer 
interromper?Quer passar para alguém?Mas nunca 
entrei em detalhes. Bom, algumas pessoas nunca per-
guntaram, né, e eu nunca falei. Outras quiseram saber 
no momento, outras só foram perguntando na medida 
em que elas deram conta, então, esse foi um tema que 
muito me interessou, essa relação da transferência/
contratransferênciano processo psicoterápico, né. E 
uma me chamou a atenção, ela segurou na minha mão 
e disse: eu sinto que você não está bem, você está com 
algum problema, você está com alguma doença? Então 
foram experiências muito ricas, e eu não iria jamais 
desconfirmar, eu não tinha contado pra ninguém, essa 
foi a primeira. E aí eu disse: é, eu estou, vou fazer 
uma cirurgia, e tal e foi quando eu comecei a falar. No 
caso dela, eu contei que era um Ca de mama. E, nesse 
ínterim eu perdi alguma clientela, porque?Uns por 
carinho queriam me poupar, achavam que aquilo que 
eu estava passando merecia um cuidado pra comigo. 
Outros, assustados, porque assim, eu fiquei careca, 
uma hora estava com turbante, tentei usar peruca, não 
me adaptei. Por outro lado, também, eu fui procurada 
por alguns por ter passado por isso, então, assim, ficou 
meio contrabalançado.
É interessante notar que ainda que algumas pesso-
as parassem a psicoterapia em função do adoecimento de 
Roberta, ela não se desmobiliza e continua trabalhando, 
o que nos evidencia indicadores do valor do trabalho 
para ela como assinalamos anteriormente. além disso, 
P&S 23-Especial.indb 104 19/3/2012 16:30:41
105
 Psicologia & Sociedade; 23(n. spe.), 99-108, 2011
ela não faz uma avaliação ruim daquelas pessoas, ela 
os aceita como uma das alternativas possíveis frente à 
situação, o que poderia ser um indicador da segurança 
com que vive a sua doença, da força dos novos processos 
de identidade que tem desenvolvido frente a esta situação 
de vida. Os sentidos subjetivos que Roberta produz em 
relação ao trabalho são centrais frente à maneira como 
alguns de seus pacientes podem vê-la, ou seja, ela per-
cebe como questões que dizem respeito a essas pessoas 
e que não são suficientes para descaracterizá-la como 
psicoterapeuta. Pensamos que entre os pacientes que não 
comparecem mais pode estar pesando também o estigma 
do câncer, mas Roberta tem tão pouca preocupação com 
o que os outros pensam sobre sua doença que é capaz de 
seguir sua vida e não se coloca no lugar de vítima, mas 
valoriza a separação como a intenção deles de poupá-la, 
para que ela não se sobrecarregue.
Os processos simbólicos organizados na subjeti-
vidade social em relação a pessoas com câncer podem 
fazer com que a pessoa se sinta incapaz de gerar alter-
nativas diferenciadas no processo de adoecimento. O 
impacto que os pacientes de Roberta sentem ao saberem 
da sua doença poderia levá-la ao abandono não só do 
seu trabalho como também à produção de sentidos 
subjetivos que a levassem a sentir-se sem possibilidades 
frente ao câncer.
a partir dos momentos de conversação com Ro-
berta percebemos como aspectos da subjetividade social 
são importantes nos desdobramentos dos processos 
individuais. discutimos alguns elementos importantes 
desses processos, mas outros indicadores dos sentidos 
subjetivos e significados, que expressam a maneira 
como uma sociedade tem impacto nas pessoas que dela 
fazem parte, estão presentes em diferentes trechos dos 
relatos de Roberta:
Eu fazia tratamento no Hospital Y, onde a população 
carente é atendida. Hoje tenho convênio particular e me 
trato numa clínica bastante limpa e confortável. Houve 
uma época em que eu e duas amigas atendíamos, como 
voluntárias, um grupo de mulheres mastectomizadas no 
Hospital X. Não bastava trabalhar apenas sob a ótica da 
doença, perguntar o que a paciente estava sentindo por 
não ter uma mama. a escassez de recursos faz com que 
ela também se preocupe se terá ou não vale-transporte 
para voltar pra casa. tem-se que usar de solidariedade e 
considerar as precariedades das condições de vida. Fa-
zer um voluntariado em hospital público é burocrático 
e complicado, além da infra-estrutura não ser adequada. 
Já como paciente, fui atendida por uma equipe médica 
bastante empenhada, mas o sistema é completamente 
precário. de 1997 para cá, experimentei várias fases 
no Serviço Público de Saúde. E creio que a pior delas 
foi entre 2002 e 2004, quando faltavam remédios e 
máquinas de radioterapia, e vários pacientes esperavam 
a hora de serem atendidos.
Nesse trecho, percebemos como o social subjeti-
va-se em processos que se organizam em configurações 
subjetivas diversas nas pessoas que usam o serviço 
público de saúde. as mulheres do hospital X tinham um 
espaço para falar com as voluntárias de diferentes aspec-
tos da sua vida não apenas da doença. dessa maneira, o 
momento conversacional possibilita que a pessoa possa 
ter um momento para falar das suas preocupações do 
cotidiano e não só da mama que foi retirada. desse 
modo, as configurações subjetivas que se organizam em 
relação ao adoecimento são alimentadas por elementos 
da subjetividade social que favorecem o aparecimento 
de diferentes sentidos subjetivos no enfrentamento 
da doença. a urgência e pressão de vida das pessoas 
fazem que elas gerem sentidos associados à doença 
que passam pelas suas condições objetivas de vida, só 
que entre essas condições e os sentidos subjetivos não 
existem relações lineares, mas sim efeitos colaterais 
que marcam diferenças entre os sentidos subjetivos de 
camadas diferentes da população. É importante destacar 
o caráter social e cultural dos sentidos subjetivos, eles 
expressam o social, mas numa produção única do sujeito 
que vive a experiência. ainda que objetivamente uma 
situação se organize da mesma maneira para um grupo, a 
produção de sentidos subjetivos é absolutamente diversa 
e marcada por uma produção da pessoa que traz a marca 
da sua história individual, social e cultural.
Com relação à Roberta, temos indicadores de 
sentidos subjetivos com relação ao adoecimento que se 
expressam no seu desejo de estar com outras pacientes 
com câncer. Ela é uma paciente com câncer e trabalha 
como voluntária em grande hospital público da cidade 
(até o momento em que tivemos contato). O fato de 
ter câncer não a coloca na posição de vítima, mas de 
alguém que pode ser interlocutor de outros pacientes 
e do mundo de forma geral. a produção de sentido de 
Roberta em relação ao câncer converte-se em elemento 
que possibilita o trabalho com outras pacientes de cân-
cer para que estas tenham um momento para expressar 
sua relação como o adoecimento e outros aspectos da 
sua vida. 
É interessante assinalar que Roberta como pa-
ciente do serviço de saúde público deparou-se com 
diferentes processos da subjetividade social presentes na 
experiência das pessoas que usam esse mesmo serviço, 
como podemos ver a seguir:
aí fui para a rede pública me tratar e era questionada 
do porquê de estar ocupando a vaga de uma pessoa 
carente, se eu supostamente não era uma. Eu me sentia 
culpada, embora estivesse desempregada e possuísse 
o direito de usar o aparato público.
O usuário do serviço público de saúde é repre-
sentado como uma pessoa que faz parte da população 
P&S 23-Especial.indb 105 19/3/2012 16:30:41
106
Mori, V. D. & González Rey, F. L. Reflexões sobre o social e o individual na experiência do câncer
carente do nosso país. assim, quando alguém, que 
supostamente é um representante da classe média, torna-
-se usuário desse serviço é visto como uma pessoa que 
está tirando o lugar de um paciente que precisa mais. 
Ora, não podemos deixar de refletir sobre os processos 
que se configuram na subjetividade social quando 
nos deparamos com essas representações. ainda que 
paguemos impostos e tenhamos direito a esse servi-
ço, ele supostamente só serviria para uma camada da 
população. Quando Roberta precisa tratar-se em um 
hospital público, ela sofre o impacto dessas represen-
tações que geram sentimentos de culpa; e produz sen-
tidos subjetivos contraditórios em relação a isso, pois 
ao mesmo tempo em que assume seu direito de usar o 
serviço público, justifica-se com o desemprego e não 
com sua condição de cidadã. O que nos evidenciauma 
subjetividade social em que o serviço público de saúde 
é pensado para a população mais carente.
Outros indicadores de processos da subjetividade 
social estão presentes no seguinte trecho quando Ro-
berta nos relata sobre a sua imunidade:
É muito desanimador a minha imunidade cair na 
quimioterapia, eu ter que tomar vacina para aumentá-
-la, e cada ampola custar de 300 a 400 reais – se uma 
pessoa toma de quatro a cinco vacinas por semana, dá 
1.500 a 6.000 reais por mês só com ampolas, fora a 
quimioterapia. Você então chega no hospital público 
para fazer a requisição, e ouve que a vacina só é dada 
para quem tem “chance de cura”, que ela não pode ser 
fornecida como cuidado paliativo – e isto é um proto-
colo do Ministério da Saúde. Você se pergunta o que 
irá fazer, pois não pode assumir um emprego, passa 
meses sem trabalhar e acaba ficando sem dinheiro. Se 
para mim esta busca pela sobrevivência é uma angús-
tia incessante, desesperadora e cruel, imagine para a 
população mais carente e desinformada, que não tem 
subsídios para correr atrás. 
Nesse trecho, temos indicadores de como as ins-
tituições governamentais representam o paciente com 
câncer, como uma pessoa sem possibilidades e de como 
a saúde psíquica e os aspetos subjetivos do adoecimento, 
que são parte essencial da qualidade de vida desses pa-
cientes são ignorados em prol de uma vida representada 
como capacidade objetiva de sobrevivência física. Matta 
e Camargo Jr. (2007) ao discutirem sobre os aspectos 
da saúde na psicologia social reconhecem que não po-
demos resumir nosso trabalho à fala dos pacientes ou 
profissionais de saúde, mas essa diversidade de vozes 
envolve também “as relações institucionais e políticas 
que atravessam os processos de subjetivação presentes 
no campo da saúde” (p. 138). Os autores citados não 
compartilham do conceito de subjetividade social, mas 
reconhecem a importância da compreensão das diferen-
tes configurações sociais nos processos de subjetivação 
na saúde (Neubern, 2009). O impacto de elementos da 
subjetividade social nos processos de sentido subjetivo 
dos pacientes dessas instituições é grande, pois aspectos 
muitas vezes ocultos da organização social aparecem 
nos procedimentos com os pacientes que necessitam 
dos serviços dessas instituições. 
Notamos também que ainda que expresse sua 
insegurança, não deixa de se preocupar com a popula-
ção que não sabe dos seus direitos. desse modo, temos 
indicadores do valor do outro para Roberta, o que está 
presente em diferentes momentos do seu relato. apesar 
de viver com uma doença crônica que a debilita e muitas 
vezes impossibilita que saia de casa, Roberta continua 
com seu trabalho voluntário:
Nesta época, eu estava podendo ser tratada no Hospital 
Z (particular), onde 500 a 800 pessoas são atendidas 
por vez. lá eu dei muito apoio aos pacientes, ia na 
casa, conversava, conscientizava a família e os acom-
panhantes sobre questões simples, como o paciente de 
quimioterapia não poder ficar com a perna pendurada, 
etc. Essa colaboração era muito gratificante, despre-
tensiosa e informal.
Os processos de sentido subjetivo em relação às 
outras pessoas organizam-se em sentidos subjetivos 
que também se integram na configuração subjetiva da 
doença e de outras configurações de sua vida atual que 
aparecem em diferentes momentos da vida de Roberta. 
Estão presentes nos momentos em que trabalha como 
voluntária, como psicoterapeuta e no trabalho com 
reprodução assistida. É importante assinalar que o 
adoecimento tem um impacto grande na sua vida, mas 
não impede que ela gere alternativas que abrem espaços 
de relação com o outro, de diálogo. Ser sujeito dos pro-
cessos de saúde e doença implica viver as contradições 
desse processo e se posicionar em relação a eles, o que 
pensamos ser um aspecto a marcante dos processos de 
Roberta em muitos momentos.
Considerações finais
Esse estudo de caso nos traz reflexões importantes 
sobre os aspectos subjetivos na experiência de uma 
pessoa com câncer. Nesta pesquisa, percebemos que 
a condição objetiva do câncer não corresponde com a 
produção subjetiva na experiência de viver o câncer. 
Os processos subjetivos de Roberta representam um 
instrumento para vencer os efeitos e limitações obje-
tivas gerados pela doença. assim como uma via para 
viver esse processo com saúde psíquica, o que deveria 
ser objetivo essencial das políticas públicas de saúde. 
Os aspectos da subjetividade social muitas vezes 
geram contradições para o paciente com câncer. No caso 
de Roberta, ainda que reconheça o impacto do adoeci-
mento no seu trabalho clínico, avança e posiciona-se 
P&S 23-Especial.indb 106 19/3/2012 16:30:42
107
 Psicologia & Sociedade; 23(n. spe.), 99-108, 2011
frente às limitações do seu adoecimento. A configuração 
subjetiva da doença em Roberta integra a produção de 
nova identidade que mobiliza novos aspectos de ava-
liação e estima profissional. A profissão se converte em 
espaço de relacionamentos e reflexão que passam a ser 
elementos da configuração subjetiva de sua identidade 
e, também, da configuração subjetiva atual de Roberta.
O câncer é uma doença que por seu impacto mui-
tas vezes faz com que a pessoa gere emoções que não 
são facilitadoras de produção subjetiva que lhe permita 
avançar. O posicionamento da pessoa como sujeito no 
processo de adoecimento está relacionado não só com 
a organização de seus processos na subjetividade indi-
vidual como também com os aspectos da subjetividade 
social. Todo processo individual se configura através 
dos discursos, representações sociais e outras práticas da 
sociedade. Posicionar-se como sujeito na doença permite 
que a pessoa integre os processos de saúde e doença a um 
sistema de sentidos subjetivos a fim de que sua produção 
subjetiva facilite a experiência do adoecimento. 
Enfatizamos nesse aspecto, o caráter imprevisível 
da subjetividade individual em relação à subjetividade 
social. a posição da pessoa como sujeito na experiência 
da doença está relacionada tanto com os processos da 
subjetividade individual quanto com os processos da 
subjetividade social. Não existe um elemento a priori 
que defina o modo de produção subjetiva das pessoas em 
relação aos processos de sentido e significado da sub-
jetividade social. diferentes aspectos da subjetividade 
social devem ser considerados nos processos de saúde 
e doença. a forma como uma sociedade se organiza em 
relação aos seus cidadãos, por exemplo, tem reflexos 
na qualidade de vida dessas pessoas e nos processos de 
sentido e significado que recursivamente se integram 
na organização da subjetividade social.
As configurações subjetivas organizadas na expe-
riência das pessoas nos mostram seu caráter subversivo 
e a impossibilidade de definir essa categoria a partir da 
soma de elementos, que a constituem, de forma frag-
mentada. Ou seja, as diferentes configurações subjetivas 
organizadas nos processos de saúde e doença não são 
iguais ainda que as doenças sejam as mesmas, pois 
carregam em si a marca da história individual e sua 
organização singular. Os diferentes desdobramentos 
da subjetividade social são organizados em distintos 
processos de sentido nas diferentes configurações 
subjetivas. O que nos remete novamente ao caráter 
imprevisível e singular das configurações subjetivas.
O estudo dos sentidos subjetivos que se expres-
sam na experiência do adoecimento implica recuperar 
as pessoas na sua condição de sujeitos (González Rey, 
2005). O que é impossível em uma epistemologia que 
não integre o caráter processual e sistêmico de expres-
são da pessoa. a epistemologia qualitativa proposta 
por González Rey nos permite, desse modo, várias 
articulações no sentido de privilegiar a realidade como 
plurideterminada e processual, sem recorrer à busca de 
relações pontuais entre oprocesso de adoecimento e 
uma produção específica de sentido subjetivo. A episte-
mologia qualitativa contempla o estudo da subjetividade 
a partir de uma lógica configuracional que se relaciona 
com processos sociais e culturais através de múltiplas 
expressões do singular.
Refletir sobre os processos de saúde e doença 
nos conduz a uma construção teórica que possibilita a 
articulação de diferentes registros da organização do 
fenômeno humano. Essa articulação nos permite visão 
mais complexa e plurideterminada dos aspectos sociais 
e individuais. Ou seja, a compreensão dos processos de 
saúde e doença como processos de sentido e significa-
do configurados de maneira plurideterminda tanto na 
subjetividade individual quanto na subjetividade social.
Notas
1 termo cunhado pelo sociólogo Ulrich Beck (1997). O efeito 
é sempre um processo da organização psicológica da pessoa 
que vive a experiência.
2 Sistema de sentidos subjetivos organizados de forma relati-
vamente estável em relação a aspectos da história pessoal e 
da vida social (González Rey, 2003b)
3 Zona de sentido representa uma forma de inteligibilidade 
sobre a realidade que se produz na pesquisa e não esgota a 
questão, mas abre possibilidades para diferentes aprofunda-
mentos na construção teórica (González Rey, 2007).
Referências
Beck, U. (1997). a reinvenção da política: rumo a uma teoria 
da modernização reflexiva. In U. Beck, A. Gidenns, & S. 
lash (Orgs.), Modernização reflexiva (pp. 11-71). São Paulo: 
Unesp.
Campos, G. W. (2009). Clínica e saúde coletiva compartilhadas: 
teoria Paidéia e reformulação ampliada do trabalho em saúde. 
In G. W. Campos, M. C. Minayo, M. akerman, M. drumond, 
& Y. M. Carvalho (Orgs.), Tratado de saúde coletiva (pp. 
41-80). São Paulo: Hucitec.
Carvalho, S. R. (2009). Reflexões sobre o tema da cidadania e 
a produção de subjetividade no SUS. In S. R. Carvalho, S. 
Ferigato, & M. E. Barros (Orgs.), Conexões: saúde coletiva 
e políticas de subjetividade (pp.33-41). São Paulo: Hucitec.
Elias, N. (1994). a sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar.
Ferraroti, F. (1990). Una fe sin dogmas. Madri: Península.
González Rey, F. (1997). epsitemología cualitativa y subjetivdad. 
São Paulo: EdUC.
González Rey, F. (1999). la investigación cualitativa en psico-
logía: rumbos y desafios. São Paulo: EdUC. 
González Rey, F. (2002). Pesquisa qualitativa e subjetividade: 
caminhos e desafios. São Paulo: thomson learnig.
González Rey, F. (2003a). Sujeito e subjetividade: uma apro-
ximação histórico-cultural. São Paulo: thomson learnig.
P&S 23-Especial.indb 107 19/3/2012 16:30:42
108
Mori, V. D. & González Rey, F. L. Reflexões sobre o social e o individual na experiência do câncer
González Rey, F. (2003b). o social na psicologia e a psicologia 
social. São Paulo: Vozes.
González Rey, F. (2005). Pesquisa Qualitativa e Subjetivida-
de: os processos de construção da informação. São Paulo: 
thomson learnig.
González Rey, F. (2007). Psicoterapia, subjetividade e pós mo-
dernidade: uma aproximação histórico-cultural. São Paulo: 
thomson learnig.
Groulx, l. (2008). Contribuições da pesquisa qualitativa à 
pesquisa social. In J. Poupart, J. P. deslauries, l. Groulx, a. 
laperrière, R. Mayer, & a. Pires (Orgs.), a pesquisa qualita-
tiva: enfoques epistemológicos e metodológicos (pp. 95-126). 
Petrópolis, RJ: Vozes. 
Guattari, F. (1990). linguagem, consciência e sociedade. In 
a. lancetti (Org.), Saúde e loucura 2 (3 a 17). São Paulo: 
Hucitec.
laparrière, a. (2008). Os critérios de cientificadade dos métodos 
qualitativos. In J. Poupart, J. P. deslauries, l. Groulx, a. la-
perrière, R. Mayer, & a. Pires (Orgs.), a pesquisa qualitativa: 
enfoques epistemológicos e metodológicos (pp. 410-436). 
Petrópolis, RJ: Vozes. 
Matta, G. C. & Camargo Jr., K. R. (2007). O processo de saúde 
e doença como foco da Psicologia: as tradições teóricas. In 
M. J. Spink (Org.), A Psicologia em diálogo com o SUS (pp. 
129-139). São Paulo: Casa do psicólogo.
Merhy, E. E. (2009). Enfrentar a lógica do processo 
de trabalho em saúde: um ensaio sobre a micropo-
lítica do trabalho vivo em ato, no cuidado. In S. R. 
Carvalho, S. Ferigato, & M. E. Barros (Orgs.), Conexões: 
saúde coletiva e políticas de subjetividade (pp. 276-300). 
São Paulo: Hucitec.
Mitjáns, a. (2005). a teoria da subjetividade de González Rey: 
uma expressão do paradigma da complexidade na psicologia. 
In F. González Rey, Subjetividade, complexidade e pesquisa 
em psicologia (pp.1-25). São Paulo: thomson learnig.
Morin, E. (2007). Ciência com consciência. Rio de Janeiro: 
Bertrand.
Neubern, M. (2009). Hipnose, dor e subjetividade: considerações 
teóricas e clínicas. Psicologia em estudo, 14(2), 303-310.
Pires, a.P. (2008). Sobre algumas questões epistemológicas de 
uma metodologia geral para as ciências humanas. In J. Pou-
part, J. P. deslauries, l. Groulx, a. laperrière, R. Mayer, & 
a. Pires (Orgs.), a pesquisa qualitativa: enfoques epistemo-
lógicos e metodológicos (pp. 43-94). Petrópolis, RJ: Vozes. 
Santos, B. S. (2007). a crítica da razão indolente. São Paulo: 
Cortez.
touraine, a. (1998). Poderemos viver juntos? Iguais e diferentes. 
Petrópolis, RJ: Vozes.
touraine, a. (2006). Um novo paradigma: para compreender o 
mundo de hoje. Petrópolis, RJ: Vozes.
Weber, M. (1964). economia y sociedade. Mexico: Fondo de 
cultura economica.
Recebido em: 05/05/2010
Revisão em: 08/09/2010
Aceite final em: 17/11/2010
Valéria D. Mori é Professora do Centro Universitário de 
Brasília (Uniceub) - doutora em Psicologia. Endereço: 
SHIS QI 11 bloco O sala 307, lago Sul. Brasília-dF, 
Brasil. CEP 71625-640. Email: morivaleria@gmail.com
Fernando L. González Rey é Professor do Centro 
Universitário de Brasília (Uniceub). doutor em Psicologia. 
Email: gonzalez_rey49@hotmail.com
Como citar:
Mori, V. D. & González Rey, F. L. (2011). Reflexões sobre 
o social e o individual na experiência do câncer. Psicologia 
& Sociedade, 23(n. spe.), 99-108.
P&S 23-Especial.indb 108 19/3/2012 16:30:42

Outros materiais