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Princípios do Direito Processual do Trabalho • Princípios do Direito Processual do Trabalho • A – conceito: diretrizes fundamentais do DPT • B – funções: normativa (art. 5º, §2º da CR/88); orientadora (ponto de partida e fundamento para a criação, interpretação e aplicação de regras); unificadora (orientação do ordenamento jurídico); integrativa (lacunas); justificadora e legitimante (justificam opções legislativas e decisões judiciais); constitutiva da justiça (instrumento para a realização da justiça no processo – processo justo e na decisão do caso concreto - decisão justa). • C – princípios específicos do DPT: • 1. Unidade essencial ou íntima conexão entre o Direito Processual do Trabalho e o Direito do Trabalho: relação de meio e fim. Direito material e Direito processual devem estar em perfeita harmonia (os princípios de direito material do Trabalho devem ser respeitados no processo, por exemplo); • 2. Facilitação do acesso à justiça: a) capacidade postulatória (art. 791 da CLT: autorização para postular em juízo sem advogado); b) autorização para apresentação da reclamação e defesa oralmente (arts. 840 e 847 da CLT); c) estabelece que as custas processuais sejam pagas após o trânsito em julgado da decisão ou, no caso de recurso, dentro do prazo recursal (art. 789, § 1º, da CLT ); d) consagra critério especial na fixação da competência em razão do local (art. 651, caput, da CLT ); e) facilita a produção da prova testemunhal, por meio da dispensa de apresentação prévia do rol de testemunhas (art. 825 da CLT); f) . • 3. Simplificação das formas e procedimentos: a) limitação dos requisitos da petição inicial (comparação entre o art. 319 do CPC de 2015 e 840, § 1º, da CLT – NOVA REDAÇÃO: Lei n. 13.467/2017: pedido certo, determinado e com indicação do seu valor). • b) dispensa a apresentação de rol prévio de testemunhas como requisito para a sua oitiva (simplificação do procedimento probatório) e dispensa de que as partes esclareçam na petição inicial e na defesa as provas que pretendem produzir; • c) admite simples manifestação de contrariedade (protesto) contra ato judicial que fere interesse da parte como medida suficiente para evitar a preclusão do direito de questioná-lo (art. 795 da CLT); • d) vincula o valor das custas processuais ao valor da causa, do acordo ou da condenação (art. 789 da CLT) • e) promove a unificação dos prazos recursais (art. 6º da Lei n. 5.584/70); • e f) adota a notificação/citação inicial postal como regra (art. 841 da CLT). • 4. Celeridade ou proibição de dilações indevidas na tramitação do processo: a) imposição ao juiz do dever de velar pela rápida solução dos dissídios (art. 765 da CLT); b) fixação de prazo máximo para a realização da audiência no procedimento sumaríssimo (art. 852-B, III, da CLT); c) atribuição ao diretor de secretaria da obrigação de promover o rápido andamento dos processos, especialmente na fase de execução (art. 712, f, da CLT); • d) autorização ao juiz para indeferir provas excessivas, impertinentes ou protelatórias (art. 852-D da CLT); e) estabelecimento da irrecorribilidade das decisões interlocutórias (art. 893, § 1º, da CLT); f) exigência de depósito do valor da condenação para efeito de interposição de recurso no caso de condenação em pecúnia (art. 899, §1º, da CLT); e g) imposição da distribuição automática do recurso ordinário no procedimento sumaríssimo, com dispensa de revisor e parecer oral do Ministério Público do Trabalho na sessão de julgamento (art. 895, §1º, II e III, da CLT), por exemplo. • 5. Conciliação: a) os dissídios individuais e coletivos serão sempre sujeitos à conciliação, devendo os juízes e tribunais do trabalho empregar os seus ofícios e persuasão para a obtenção da solução conciliada dos conflitos (art. 764, caput e § 1º, da CLT); b) a Lei n. 5.584/70 inclui a conciliação dentre os princípios a serem observados no processo do trabalho (arts. 1º e 2º); c) prevê o art. 831, parágrafo único, da CLT, que o termo de conciliação valerá como decisão irrecorrível, salvo para a Previdência Social quanto às contribuições que lhe forem devidas (“Só por ação rescisória é atacável o termo de conciliação previsto no parágrafo único do art. 831 da CLT”: Súmula n. 259 do TST). • A conciliação é um processo, isto é, um conjunto de atos coordenados e interligados a um fim, que é a solução negociada do conflito levado ao Poder Judiciário. Estes atos consistem em: a) apresentação de propostas pelas partes; b) diálogo sobre as propostas apresentadas, visando à criação de consenso; c) escolha de uma opção de solução; d) lavratura do acordo celebrado. • Lei n. 13.467/2017: Art. 855-B. O processo de homologação de acordo extrajudicial terá início por petição conjunta, sendo obrigatória a representação das partes por advogado. • §1º As partes não poderão ser representadas por advogado comum. • § 2º Faculta-se ao trabalhador ser assistido pelo advogado do sindicato de sua categoria. • Art. 855-C. O disposto neste Capítulo não prejudica o prazo estabelecido no §6º do art. 477 desta Consolidação e não afasta a aplicação da multa prevista no §8º art. 477 desta Consolidação. • Art. 855-D. No prazo de quinze dias a contar da distribuição da petição, o juiz analisará o acordo, designará audiência se entender necessário e proferirá sentença. • Art. 855-E. A petição de homologação de acordo extrajudicial suspende o prazo prescricional da ação quanto aos direitos nela especificados. • Parágrafo único. O prazo prescricional voltará a fliur no dia útil seguinte ao do trânsito em julgado da decisão que negar a homologação do acordo.” • No Dissídio Coletivo: Art. 114, §§1 e 2º da CR/88 (negociação coletiva), art. 860 da CLT prevê, ao tratar do dissídio coletivo, a realização de uma audiência de conciliação assim que for recebida e protocolada a representação e desde que esta esteja na devida forma. Nota-se, portanto, que a tentativa de conciliação se converte em objetivo explícito da audiência, no dissídio individual e coletivo, observando-se, ainda, que, conforme os arts. 764, § 3º, e 852-E da CLT, às partes é lícito celebrar acordo em qualquer fase do processo. • A ausência de tentativa de conciliação implica nulidade do processo, desde que comprovado manifesto prejuízo processual às partes (art. 794 da CLT), o que resulta do caráter normativo da diretriz em destaque. • Anote-se que o CPC de 2015 dispõe que o Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos (art. 3º, § 2º) e impõe aos juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público o dever de estimular a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual dos conflitos (art. 3º, § 3º). • 6. Oralidade: 1) predomina a palavra falada (oralidade em sentido estrito); 2) os atos processuais fundamentais são concentrados em audiência, na presença das partes; 3) as decisões interlocutórias são irrecorríveis. • 7. Facilitação da resolução do mérito e da satisfação do direito consubstanciado em título executivo: a) limitação do número de requisitos da petição inicial, sendo exigido do autor breve relato dos fatos de que resulta o dissídio e a indicação dos pedidos neles fundados; b) disciplina que a CLT conferiu às nulidades: só haverá nulidade quando resultar dos atos inquinados manifesto prejuízo às partes (art. 794); as nulidades não serão declaradas senão mediante provocação das partes, salvo quando decorra de incompetência de foro (art. 795, caput e § 1º); a nulidade não será pronunciada quando for possível suprir-se a falta ou repetir-se o ato (art. 796, a); a nulidade de um ato não prejudicará senão os atos posteriores que dele dependam ou que sejam consequência (art. 798), o que demonstra a restrição à anulação de atos processuais, em favor do seu máximo aproveitamento dos atos processuais. • O Juiz temo dever de não dificultar o julgamento do mérito da demanda ou a satisfação do credor na execução e o dever de adotar medidas voltadas à sua facilitação, significando que as partes têm o direito a que não sejam criados empecilhos para o julgamento do mérito da demanda ou à satisfação do seu crédito e o direito a uma postura judicial que favoreça o exame do mérito da causa e a satisfação de crédito consubstanciado em título judicial, respectivamente. • 8. Livre indagação da verdade: ônus da alegação ou da fundamentação - na fase processual destinada ao estabelecimento das pretensões das partes (fase postulatória) do autor da demanda é exigida a indicação dos fatos que lhes servem de fundamento (art. 319 do CPC de 2015 e art. 840, §1º, da CLT) e do réu a exposição, na contestação, das razões de fato com que impugna o pedido do autor (art. 336 do CPC de 2015). • ônus da prova (arts. 818 da CLT e 373 do CPC): como diretriz fundamental a livre indagação da verdade, assegurando às partes ampla liberdade em matéria de prova; como a justa solução dos conflitos e a realização concreta do direito assegurado pela ordem jurídica também interessam à sociedade, ao juiz é conferida liberdade para determinar as diligências necessárias ao esclarecimento dos fatos relevantes para a solução do conflito de interesses (arts. 765 e 852-D da CLT). • Ainda por força desta diretriz, o direito processual do trabalho simplifica o procedimento probatório e dispõe que a testemunha suspeita deverá ser ouvida como informante (art. 829 da CLT), o que demonstra a opção pela facilitação da produção da prova em juízo, sendo evidente que à informação o juiz atribuirá o valor que ela mereça na formação do seu convencimento. • 9. Justiça do processo e das decisões: art. 852-I, parágrafo primeiro da CLT (o juiz deve adotar “em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e as exigências do bem comum”). Também consagra esta diretriz, no direito processual do trabalho, o art. 12, § 1º, da Lei n. 12.392/2011, segundo o qual a decisão que julgar dissídio coletivo deve traduzir, em seu conjunto, a justa composição do conflito de interesses das partes e ser adequada aos interesses da coletividade. • O CPC de 2015 adotou idêntica postura, estabelecendo que “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva” (art. 6º). • • O processo justo é aquele ao qual se tem acesso fácil e que se desenvolve de forma simplificada e publicamente, perante juiz previamente apontado como competente, independente e imparcial, em que seja respeitado o direito das partes ao pleno exercício, com liberdade e em simétrica paridade, do contraditório e da ampla defesa e que seja informado pela finalidade de, em tempo razoável, sem dilações indevidas, com o menor dispêndio econômico possível e forma fundamentada, concretizar o direito atribuído e garantido pelas normas constitutivas do ordenamento jurídico. (Cleber Lúcio de Almeida, 2016). • O processo deve ser justo e permitir que seja produzida uma decisão individual e socialmente justa. • Decisão justa: é aquela em que, de forma fundamentada, atribuir às partes aquilo e exatamente aquilo que lhes asseguram as regras e os princípios constitutivos do ordenamento jurídico, nem mais (excesso) nem menos (insuficiência), respeitadas, ainda, as seguintes condições: 1) congruência: respeito às pretensões das partes; 2) clareza e precisão: a decisão não deve gerar incertezas, mas definir, de forma clara a precisa, os direitos e as obrigações dos litigantes; 3) consistência: a decisão não deve apresentar contradições; (d) exaustividade ou completude: as questões relevantes para a decisão da causa devem ser enfrentadas e decididas; 4) coerência normativa: harmonia com as normas (regras e princípios) que compõem o ordenamento jurídico; 5) coerência narrativa: adstrição aos fatos, circunstâncias e provas constantes dos autos; 6) coerência com o caso concreto: a decisão deve respeitar e traduzir as particularidades do caso concreto. (ALMEIDA, 2016). • 10. Máxima eficácia das decisões judiciais: poder para, de ofício, promover a execução das suas decisões e impulsionar o processo no sentido da satisfação do direito nelas reconhecido (art. 878 da CLT – nova redação Lei n. 13.467/2017: “A execução será promovida pelas partes, permitida a execução de ofício pelo juiz ou pelo Presidente do Tribunal apenas nos casos em que as partes não estiverem representadas por advogado”); os recursos tem, em regra, efeito único, qual seja, o devolutivo (art. 889 da CLT) e é exigida, no caso de condenação em pecúnia nos dissídios individuais, a prévia garantia do juízo para a interposição de recurso (art. 899, parágrafo primeiro, da CLT – nova redação: limitações da exigência: Art. 899. §9º “O valor do depósito recursal será reduzido pela metade para entidades sem fins lucrativos, empregadores domésticos, microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte”; § 10. São isentos do depósito recursal os beneficiários da justiça gratuita, as entidades filantrópicas e as empresas em recuperação judicial”; § 11. O depósito recursal poderá ser substituído por fiança bancária ou seguro garantia judicial”. • 11. Despersonalização das obrigações decorrentes da relação de emprego: devem responder pelo crédito trabalhistas todos aqueles que se beneficiaram pelo trabalho do empregado (Para a hipótese de pluralidade de beneficiários dos serviços prestados pelo trabalhador, os arts. 2º, § 2º, 10, 448 e 455 da CLT, art. 3º da Lei n. 2.757/56 e o art. 9, §7º da Lei n. 13.429/2017 estabelecem a despersonalização das obrigações decorrentes da relação de emprego, criando um valioso princípio, qual seja, o de que respondem pelos créditos do trabalhador todos os beneficiados pelos seus serviços). • Alterações introduzidas na CLT pela Lei n. 13.467/2017 quanto aos dispositivos tratados neste tópico: “art. 2º (...).§2º: Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo econômico, serão responsáveis solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de emprego.” • §3º Não caracteriza grupo econômico a mera identidade de sócios, sendo necessárias, para a configuração do grupo, a demonstração do interesse integrado, a efetiva comunhão de interesses e a atuação conjunta das empresas dele integrantes. • 12. Tutela jurisdicional normativa: art. 114, §2º, da CR/88 (poder normativo: poder para decidir dissídio coletivo de natureza econômica e estabelecer, com força normativa, condições de trabalho, superando o impasse resultante da ausência de solução do conflito coletivo de interesses pelas próprias partes). O reconhecimento de poder normativo à Justiça do Trabalho é uma espécie de delegação legislativa, sendo atribuído à Justiça do Trabalho o poder para criar o direito, no que comporta aos dissídios coletivos de natureza econômica. • 13. Proibição de retrocesso social ou não reversibilidade: art. 114, §2º da CR/88 (devem ser respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho e as convencionadas anteriormente). • 14. Proibição de neutralidade: o juiz não pode ser neutro na apuração da alegação de ofensa aos direitos inerentes à dignidade humana, como tais reconhecidos na Constituição da República (direitos fundamentais) e em normas de direito internacional (direitos humanos). Esta diretriz é confirmada: pelo poder conferido ao juiz para participar ativamente da instrução do processo; pela exigência de que o juiz atue no sentido da mais rápida solução do conflito de interesses submetido a julgamento; pelo dever atribuído ao juiz de proferir decisão justae equânime; pela autorização conferida ao juiz para promover, de ofício, a execução das decisões judiciais. • 15. Disparidade processual: tratamento diferenciado, em razão da disparidade da situação social e econômica (art. 5º, caput, da CR/88). Situações de vantagem, em favor do trabalhador: competência (a competência é fixada levando em conta a facilitação do acesso à justiça por parte do trabalhador); tratamento diferenciado em relação aos efeitos do não comparecimento na audiência, vez que, segundo o art. 844 da CLT; ônus imposto ao empregador que optar por interpor recurso (depósito recursal); a possibilidade de o juiz conceder, de ofício, o benefício da justiça gratuita ao trabalhador em estado de miserabilidade; a concessão ao juiz do poder/dever para promover a execução de ofício das suas decisões.
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