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Administração Pública (Fontes, Estrutura, Entidades, Orgãos, Agentes, Direito Público vs. Direito Privado)

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LIVRO: DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO 
AUTORA: HELY LOPES MEIRELLES 
RESUMO ELABORADO POR HENRIQUE DANTAS DE OLIVEIRA 
I - NOÇÕES PRELIMINARES 
DIREITO PUBLICO E DIREITO PRIVADO 
O direito é dividido inicialmente em dois grandes ramos: Direito Público e Direito Privado.  
O Direito Público se subdivide em Interno e Externo. O Direito Público Interno visa regular os 
interesses estatais e sociais, cuidando só reflexivamente da conduta individual. Reparte-se em: 
Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Penal, Direito Processual 
ou Judiciário (Civil e Penal), Direito do Trabalho, Direito Eleitoral, Direito Municipal.  
O Direito Público Externo destina-se a reger as relações entre os Estados Soberanos e as atividades 
individuais no plano internacional.  
O Direito Privado tutela predominantemente os interesses individuais, de modo a assegurar a 
coexistências das pessoas em sociedade e a fruição de seus bens, quer nas relações de indivíduo a 
indivíduo, que nas relações de indivíduo com o Estado. Biparte-se o Direito Privado em Direito 
Civil e Direito Comercial.  
O Direito Administrativo como vimos, é um dos ramos do Direito Público Interno.  
CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO
O conceito de Direito Administrativo Brasileiro é o conjunto harmônico de princípios jurídicos que 
regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e 
imediatamente os fins desejados pelo Estado.  
O Direito Administrativo apenas passa a disciplinar as atividades e os órgãos estatais ou a ele 
assemelhados, para o eficiente funcionamento da Administração Pública.  
O Estado moderno, para o completo atendimento de seus fins, atua em três sentidos - administração, 
legislação e jurisdição - e em todos eles pede a orientação ao Direito Administrativo, no que 
concerne à organização e funcionamento de seus serviços, à administração de seus bens, à regência 
de seu pessoal e à formalização dos seus atos de administração.  
FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO
O Direito Administrativo abebera-se, para sua formação, em quatro fontes principais: a lei, a 
doutrina, a jurisprudência e os costumes.  
A Lei, em sentido amplo, é a fonte primária do Direito administrativo abrangendo esta expressão 
desde a Constituição até os regulamentos executivos.  
A Doutrina, formando o sistema teórico de princípios aplicáveis ao Direito Positivo, é elemento 
construtivo da Ciência Jurídica à qual pertence a disciplina em causa. A doutrina é que distingue as 
regras que convêm ao Direito Público e ao Direito Privado, e mais particularmente a cada um dos 
sub-ramos do saber jurídico. Influi ela não só na elaboração da lei como nas decisões contenciosas e 
não contenciosas, ordenando, assim, o próprio Direito Administrativo. 
A Jurisprudência, traduzindo a reiteração dos julgamentos num mesmo sentido, influencia 
poderosamente a construção do Direito, e especialmente a do Direito Administrativo. A 
jurisprudência possui um caráter mais prático, mais objetivo, que a doutrina e a lei, mas nem por 
isso se aparta de princípios teóricos que,  por sua persistência nos julgados, acabam por penetrar e 
integrar a própria Ciência Jurídica. Outra característica da jurisprudência é o seu nacionalismo, 
enquanto a doutrina tende a universalizar-se, a jurisprudência tende a nacionalizar-se. A 
jurisprudência, entretanto, não obriga que a Administração quer o Judiciário, porque não vigora 
entre nós o princípio norte-americano do stare decises.  
O Costume ainda exerce influência no Direito Administrativo Brasileiro em razão da deficiência da 
legislação.  
SISTEMA ADMINISTRATIVO BRASILEIRO
O Brasil adotou, desde a instauração de sua primeira República o sistema de jurisdição única, ou 
seja, o do controle administrativo pela Justiça Comum. Tal sistema, já conceituamos, mas convém 
repetir, é o da separação entre o Poder Executivo e o Poder Judiciário, vale dizer, entre o 
administrador e o juiz. Com essa diversificação entre a Justiça e a Administração é inconciliável o 
contencioso administrativo, porque todos os interesses, quer do particular, quer do Poder Público, se 
sujeitam a uma única jurisdição conclusiva: a do Poder Judiciário.  
Isto não significa, evidentemente, que se negue à Administração o direito de decidir. Absolutamente, 
não. O que se lhe nega é a possibilidade de exercer funções materialmente judiciais, ou judiciais por 
natureza, e de empresar às suas decisões força e definitividade próprias dos julgamentos judiciários.  
Neste ponto, a doutrina é pacífica em reconhecer que o sistema de separação entre a Justiça e a 
Administração torna incompatível o exercício de funções judiciais por órgãos administrativos, 
porque isto não seria separação, mas reunião de funções.  
II - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A ESTRUTURA ADMINISTRATIVA
1. Elementos do Estado 

O Estado é constituído de três elementos originários e indissociáveis: Povo, Território e 
Governo Soberano. Povo é o componente humano do Estado; Território, a sua base fixa; 
Governo Soberano, o elemento condutor do Estado, que detém e exerce o poder absoluto de 
autodeterminação e auto-organização emanado do Povo. Não há nem pode haver Estado 
independente sem soberania, isto é, sem esse poder absoluto, indivisível, incontrastável de 
organizar-se e de conduzir-se segundo a vontade livre de seu Povo e de fazer cumprir as suas 
decisões inclusive pela força, se necessário. A vontade do Estado se manifesta através dos 
denominados Poderes do Estado.  



2. Poderes do Estado 

Os Poderes do Estado, na clássica tripartição de Montesquieu, até hoje adotada nos Estados 
de Direito são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, independentes e harmônicos entre si 
e com suas funções reciprocamente indesejáveis (CF, artº 2). Esses Poderes são imanentes e 
estruturais do Estado. A cada um deles correspondendo uma função que lhe é atribuída com 
precipuidade. Assim, a função precípua do Poder Legislativo é a elaboração da lei (função 
normativa); a função precípua do Poder Executivo é a conversão da lei em ato individual e 
concreto (função administrativa); a função precípua do Poder Judiciário é a aplicação cativa 
da lei aos litigantes (função judicial).  

Referimo-nos à função precípua de cada Poder de Estado, porque, embora o ideal fosse a 
privatividade de cada função para cada Poder, na realidade, isso não ocorre, uma vez que 
todos os Poderes têm necessidade de praticar atos administrativos, ainda que restritos à sua 
organização e aos seu funcionamento, e, em caráter excepcional admitido pela Constituição 
desempenham funções e praticam atos que, a rigor, seriam de outro Poder. O que há, 
portanto não é a separação de Poderes com divisão absoluta de funções, mas sim, 
distribuição das três funções estatais precípuas entre órgãos independentes, mas harmônicos 
e coordenados no seu funcionamento, mesmo porque o poder estatal é uno e indivisível.  



3. Organização do Estado e da Administração 

A organização do Estado é matéria constitucional no que concerne à divisão política do 
território nacional, à estruturação dos Poderes, à forma de Governo, ao modos investidura 
dos governantes, aos direitos e garantias dos governados. Após as disposições 
constitucionais que moldam a organização política do Estado soberano, surge, através da 
legislação complementar e ordinária, a organização administrativa das entidades estatais, 
de suas autarquias e empresas estatais instituídas para execução desconcentrada e 
descentralizada de serviços públicos e outras atividades de interesse coletivo, objeto do 
Direito Administrativo e das modernas técnicas de administração.  

Na nossa Federação, portanto, as entidades estatais, ou seja, entidades com autonomia 
política(além da administrativa e financeira), são unicamente a União, os Estados-
membros, os Municípios e o Distrito Federal.  

As demais pessoas jurídicas instituídas ou autorizadas a se constituírem por lei ou são 
autarquias, ou são fundações, ou são empresas governamentais, ou são entidades 
paraestatais. Esse conjunto de entidades estatais, autarquias, fundacionais, empresariais e 
paraestatais constitui a Administração centralizada e a descentralizada.  



Organização da Administração  

Após a organização soberana do Estado, com a instituição constitucional dos três Poderes 
que compõem o Governo, e a divisão política do território nacional, segue-se a organização 
da Administração, ou seja, a estruturação legal das entidades e órgãos que irão desempenhar 
as funções através de agentes públicos (pessoas físicas). Essa organização faz-se 
normalmente por lei, e excepcionalmente por decreto e normas inferiores, quando não exige 
a criação de cargos nem aumenta a despesa pública.  

O Direito Administrativo impõe regras jurídicas de organização e funcionamento do 
complexo estatal; as técnicas de administração indicam os instrumentos e a conduta mais 
adequada ao pleno desempenho das atribuições da Administração.  



Governo e Administração  

º Governo: Em sentido formal é o conjunto de Poderes e órgãos constitucionais; em sentido 
material, é o complexo de funções estatais básicas; em sentido operacional, é a condução 
política dos negócios públicos. Na verdade, o Governo ora se identifica com os Poderes e 
órgãos supremos dos Estado, ora se apresenta nas funções originárias desses Poderes e 
órgãos como manifestação da Soberania. A constante, porém, do Governo é a sua expressão 
política de comando, de iniciativa, de fixação de objetivos do Estado e de manutenção da 
ordem jurídica vigente. O Governo atua mediante atos de Soberania ou, pelo menos, de 
autonomia política na condução dos negócios públicos.  



º Administração Pública: Em sentido formal, é o conjunto de órgãos instituídos para 
consecução dos objetivos do Governo; em sentido material, é o conjunto das funções 
necessárias aos serviços públicos em geral; em acepção operacional, é o desempenho perene 
e sistemático, legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em 
beneficio da coletividade. Numa visão global, a Administração é, pois, todo o aparelhamento 
do Estado preordenado à realização de serviços, visando ¡a satisfação das necessidades 
coletivas. A Administração não pratica atos de governo; pratica, tão somente atos de 
execução, com mais ou menor autonomia funcional, segundo a competência do órgão e de 
seus agentes. São os chamados atos administrativos. 



Comparativamente, podemos dizer que governo é atividade política e discricionária; 
administração é atividade neutra, normalmente vinculada a lei ou à norma técnica. Governo 
é conduta independente, administração é conduta hierarquizada. O Governo comanda com 
responsabilidade constitucional e política, mas sem responsabilidade profissional pela 
execução; a Administração executa sem responsabilidade constitucional ou política, mas 
com responsabilidade técnica e legal pela execução. A Administração é o instrumento de que 
dispõe o Estado para pôr em prática as opções políticas do Governo. Isto não quer dizer que 
a Administração não tenha poder de decisão. Tem. Mas o tem somente na área de suas 
atribuições e nos limites legais de sua competência executiva, só podendo opinar e decidir 
sobre assuntos jurídicos, técnicos, financeiros ou de conveniência e oportunidade 
administrativas, sem qualquer faculdade de opção política sobre a matéria.  

O Governo e a Administração, como criações abstratas da Constituição e das leis, atuam por 
intermédio de suas entidades (pessoas jurídicas), de seus órgãos (centros de decisão) e de 
seus agentes (pessoas físicas investidas em cartões e funções).  



ENTIDADES POLÍTICAS E ADMINISTRATIVAS

4. Entidades políticas e administrativas  

Entidade é a pessoa jurídica, pública ou privada; órgão é elemento despersonalizado 
incumbido da realização das atividades da entidade a que pertence, através de seus agentes. 
Na organização política e administrativa brasileira as entidades classificam-se em estatais, 
autárquicas, fundacionais, empresariais e paraestatais. 



Entidades Estatais 

São pessoas jurídicas de Direito Público que integram a estrutura constitucional do Estado e 
têm poderes políticos e administrativos. (Podem se descentralizar)  

Ex: União, Estados-membros, os Municípios e o Distrito Federal.  

A União é soberana; as demais entidades estatais têm apenas autonomia política, 
administrativa e financeira, mas não dispõem de Soberania, que é privativa da Não e 
própria da Federação.  



Entidades Autárquicas 

São pessoas jurídicas de Direito Público, de natureza meramente administrativa, criadas por 
lei específica, para a realização de atividades, obras ou serviços descentralizados da entidade 
estatal que as criou. Funcionam e operam na forma estabelecida na lei instituidora e nos 
termos de seu regulamento. As autarquias podem desempenhar atividades educacionais, 
previdenciárias e quaisquer outras outorgadas pela entidade estatal-matriz, mas sem 
subordinação hierárquica, sujeita apenas ao controle finalístico de sua administração e da 
conduta de seus dirigentes.  



Entidades Fundacionais 

São pessoas jurídicas de Direito Público ou pessoas jurídicas de Direito Privado, devendo a 
lei definir as respectivas áreas de atuação conforme o inc. XIX do art. 37 da CF, na redação 
dada pela EC 19/98. No primeiro caso elas são criadas por lei, à semelhança das autarquias, 
e no segundo a lei apenas autoriza sua criação devendo o Poder Executivo tomar as 
providências necessárias à sua instituição.  



Entidades Empresariais 

São pessoas jurídicas de Direito Privado, instituídas sob a forma de sociedade de economia 
mista ou empresa pública, com a finalidade de prestar serviço público que possa ser 
explorado no modo empresarial, ou de exercer atividade econômica de relevante interesse 
coletivo. Sua criação deve ser autorizada por lei específica, cabendo ao Poder Executivo as 
providências complementares para a sua instituição.  



Entidades Paraestatais 

São pessoas jurídicas de Direito Privado que, por lei, são autorizadas a prestar serviços ou 
realizar atividades de interesse coletivo ou público, mas não exclusivos do Estado. São 
espécies de entidades paraestatais os serviços sociais autônomos (SESI, SESC, SENAI e 
outros) e, agora as organizações sociais, cuja regulamentação foi aprovada pela Lei 9.648, 
de 27/5/98. As entidades paraestatais são autônomas, administrativa e financeiramente têm 
patrimônio próprio e operam em regime da iniciativa particular, na forma de seus estatutos, 
ficando sujeitas apenas à supervisão do órgão da entidade estatal a que se encontrem 
vinculadas, para o controle de desempenho estatuário. São denominados entes de 
cooperação com o Estado.   





ÓRGÃOS E AGENTES PÚBLICOS

5. Órgãos e agentes públicos 

Órgãos públicos são centros de competência instituídos para o desempenho de funções 
estatais, através de seus agentes, cuja atuação é imputada à pessoa jurídica a que pertencem. 
São unidades de ação com atribuições especificas na organização estatal. Cada órgão, como 
centro de competência governamental ou administrativa, tem necessariamente funções, 
cargos e agentes, mas é distinto desses elementos, que podem ser modificados, substituídos 
ou retirados sem supressão da unidade orgânica. Isto explica por que a alteração de funções, 
ou a vacância dos cargos, ou a mudança de seus titulares não acarreta a extinção do órgão.  



Os órgãos integram a estrutura do Estado e das demais pessoas jurídicas como partes desses 
corpos vivos, dotados de vontade e capazes de exercer direitos e contrair obrigações para a 
consecuçãode seus fins institucionais. Por isso mesmo, os órgãos não têm personalidade 
jurídica nem vontade própria, que são atributos do corpo e não das partes, mas na área de 
suas atribuições e nos limites de sua competência funcional expressam a vontade da 
entidade a que pertencem e a vinculam por seus atos, manifestados através de seus agentes 
(pessoas físicas). 

Como parte das entidades que integram, os órgãos são meros instrumentos de ação dessas 
pessoas jurídicas, preordenados ao desempenho de suas funções que lhe forem atribuídas 
pelas normas de sua constituição e funcionamento. Para a eficiente realização de suas 
funções cada órgão é investido de determinada competência, redistribuída entre seus cargos, 
com a correspondente parcela de poder necessária ao exercício funcional de seus agentes.  



Embora despersonalizados, os órgãos mantém relações funcionais entre si e com terceiros, 
das quais resultam efeitos jurídicos internos e externos, na forma legal ou regulamentar. E, a 
despeito de não terem personalidade jurídica, os órgãos podem ter prerrogativas funcionais 
próprias que, quando infringidas por outro órgão, admitem defesa até mesmo por mandado 
de segurança. 



Quando o agente ultrapassa a competência do órgão surge a sua responsabilidade pessoal 
perante a entidade, como também, quando esta desconsidera direitos do titular do órgão, 
pode ser compelida judicialmente a respeitá-los. Há, pois, que distinguir a atuação funcional 
do agente, sempre imputável à Administração, da atuação pessoal do agente além da sua 
competência funcional ou contra a Administração na defesa de direitos individuais de 
servidor público: aquela deflui de relações orgânicas; esta resulta de relações de serviço. 



CLASSIFICAÇÃO DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS

6. Classificação dos órgãos públicos 

Como as atividades governamentais e administrativas são múltiplas e variadas, os órgãos 
que irão realizá-las se apresentam diferençados na escala estatal, multiformes na sua 
estrutura e diversificados nas suas atribuições e funcionamento, procurando adaptar-se às 
especializadas funções que lhes são atribuídas. Dai a presença de órgãos legislativos, 
executivos e judiciários; de órgãos de direção, deliberação, planejamento, assessoramento e 
execução; de órgãos superiores e inferiores; de órgãos centrais, regionais e locais; de órgãos 
administrativos, jurídicos e técnicos; de órgãos normativos e fiscalizadores; de órgão 
simples e compostos; de órgãos singulares e colegiados, e tantos outros. 



Muitas classificações tem sido elaboradas para os órgãos públicos, na sua maioria sem 
interesse prático, pelo quê nos permitimos omiti-las, para grupá-los apenas quanto à sua 
posição estatal, estrutura e atuação funcional, porque essas divisões revelam as 
características próprias de cada categoria e facilitam a compreensão de seu funcionamento, 
suas prerrogativas e seu relacionamento interno e externo. 



Órgãos independentes, autônomos, superiores e subalternos: Quanto à posição estatal, ou 
seja, relativamente à posição ocupada pelos órgãos na escala governamental ou 
administrativa, eles se classificam em: independentes, autônomos, superiores e subalternos. 



6.1. Órgãos independentes 

São os originários da Constituição e representativos dos Poderes de Estado - Legislativo, 
Executivo e Judiciário - colocados no ápice da pirâmide governamental, sem qualquer 
subordinação hierárquica ou funcional, e só sujeitos aos controles constitucionais de um 
Poder pelo outro. Por isso, são também chamados órgãos primários do Estado. Esses órgãos 
detêm e exercem precisamente as funções políticas, judiciais e quase-judiciais outorgadas 
diretamente pela Constituição, para serem desempenhadas pessoalmente por seus membros 
(agentes políticos, distintos de seus servidores, que são agentes administrativos) segundo 
normas especiais e regimentais. 



Nessa categoria encontram-se as Corporações Legislativas (Congresso Nacional, Câmara 
dos Deputados, Senado Federal, Assembléias Legislativas, Câmaras de Vereadores), as 
Chefias de Executivo (Presidência da República, Governadorias dos Estados e do Distrito 
Federal, Prefeituras Municipais), os Tribunais juizes e os juizes singulares (Supremo 
Tribunal Federal, Tribunais Superiores Federais, Tribunais Regionais Federais, Tribunais de 
Justiça e de Alçada dos Estados-membros, Tribunais do Júri e Varas das Justiças Comum e 
Especial). De se incluir, ainda, nesta classe o Ministério Público federal e estadual e os 
Tribunais de Contas da União, dos Estados-membros e Municípios, os quais são órgãos 
funcionalmente independentes e seus membros integram a categoria dos agentes políticos, 
inconfundíveis com os servidores das respectivas instituições. 



6.2. Órgãos autônomos 

São os localizados na cúpula da Administração, imediatamente abaixo dos órgãos 
independentes e diretamente subordinados a seus chefes. Têm ampla autonomia 
administrativa, financeira e técnica, caracterizando-se como órgãos diretivos, com funções 
precípuas de planejamento, supervisão, coordenação e controle das atividades que 
constituem sua área de competência. Participam das decisões governamentais e executam 
com autonomia as suas funções específicas, mas segundo diretrizes dos órgãos 
independentes, que expressam as opções políticas do Governo. 



São órgãos autônomos os Ministérios, as Secretarias de Estado e de Município, a 
Consultoria-Geral da República e todos os demais órgãos subordinados diretamente aos 
Chefes de Poderes, aos quais prestam assistência e auxílio imediatos. Seus dirigentes, em 
regra, não são funcionários, mas sim agentes políticos nomeados em comissão. 



6.3. Órgãos superiores 

São os que detêm poder de direção, controle, decisão e comando dos assuntos de sua 
competência específica, mas sempre sujeitos à subordinação e ao controle hierárquico de 
uma chefia mais alta. Não gozam de autonomia administrativa nem financeira, que são 
atributos dos órgãos independentes e dos autônomos a que pertencem. Sua liberdade 
funcional restringe-se ao planejamento e soluções técnicas, dentro da sua área de 
competência, com responsabilidade pela execução, geralmente a cargo de seus órgãos 
subalternos. 



Nessa categoria estão as primeiras repartições dos órgãos independentes e dos autônomos, 
com variadas denominações, tais como Gabinetes, Secretarias-Gerais, Inspetorias- Gerais, 
Procuradorias Administrativas e judiciais, Coordenadorias, Departamentos e Divisões. O 
nome dado ao órgão é irrelevante; o que importa para caracterizá-lo superior é a 
preeminência hierárquica na área de suas atribuições. Assim, num Ministério ou numa 
Secretaria de Estado poderão existir tantos órgãos superiores quantas forem as áreas em que 
o órgão autônomo se repartir para o melhor desempenho de suas atribuições. 



6.4. Órgãos subalternos 

São todos aqueles que se acham hierarquizados a órgãos mais elevados, com reduzido poder 
decisório e predominância de atribuições de execução. Destinam-se à realização de serviços 
de rotina, tarefas de formalização de atos administrativos, cumprimento de decisões 
superiores e primeiras soluções em casos individuais, tais como os que, nas repartições 
públicas, executam as atividades-meios e atendem ao público, prestando-lhe informações e 
encaminhando seus requerimentos, como são as portarias e seções de expediente.





QUANTO À ESTRUTURA

7. QUANTO À ESTRUTURA

Quanto à estrutura, os órgãos podem ser simples ou compostos. 



7.1. Órgãos simples 

Órgãos simples ou unitários são os constituídos por um só centro de competência. 

O que tipifica o órgão como simples ou unitário é a inexistência de outro órgão incrustado 
na sua estrutura, para realizar desconcentradamente sua função principal ou para auxiliar seu 
desempenho. O número de seus cargos e agentes não influi na unidade orgânica se esta é 
mantida num único centro de competência,como ocorre numa portaria, que é órgão simples 
unitário, com diversos cargos e agentes. 



7.2. Órgãos compostos 

São os que reúnem na sua estrutura outros órgãos menores, com função principal idêntica 
(atividade-fim realizada de maneira desconcentrada) ou com funções auxiliares 
diversificadas (atividades-meios atribuídas a vários órgãos menores). Assim, uma Secretaria 
de Educação - órgão composto - tem na sua estrutura muitas unidades escolares - órgãos 
menores com atividade-fim idêntica - e órgãos de pessoal, de material, de transporte etc. - 
órgãos menores com atividades-meios diversificadas que auxiliam a realização do ensino, 
mas todos eles integrados e hierarquizados ao órgão maior. 

No órgão composto, o maior e de mais alta hierarquia envolve os menores e inferiores, 
formando com eles um sistema orgânico, onde as funções são desconcentradas (e não 
descentralizadas), isto é, distribuídas a vários centros de competência, que passam a realizá-
las com mais presteza e especialização, mas sempre sob a supervisão do órgão mais alto e 
fiscalização das chefias imediatas, que têm o poder de avocação e de revisão dos atos das 
unidades menores, salvo nos órgãos independentes. 





QUANTO À ATUAÇÃO FUNCIONAL

8. QUANTO À ATUAÇÃO FUNCIONAL

Quanto à atuação funcional, os órgãos podem ser singulares ou colegiados. 



8.1. Órgãos singulares ou unipessoais

São os que atuam e decidem através de um único agente, que é seu chefe e representante. 
Esses podem ter muitos outros agentes auxiliares, como normalmente os têm, mas o que 
caracteriza sua singularidade ou unipessoalidade é o desempenho de sua função precípua por 
um só agente investido como seu titular. São exemplos desses órgãos a Presidência da 
República, as Governadorias dos Estados, as Prefeituras Municipais, que concentram as 
funções executivas das respectivas entidades estatais, enfeixam-nas num só cargo de chefia 
suprema e atribuem seu exercício a um único titular. 



A formação e manifestação de vontade desses órgãos, ou seja, sua atuação funcional, nano 
exigem formalidades nem procedimentos especiais, bastando a autentificarão do Chefe para 
que se tornem eficazes nos limites de sua competência legal. 



8.2. Órgãos colegiados ou pluripessoais 

São todos aqueles que atuam e decidem pela manifestação conjunta e majoritária da vontade 
de seus membros. Nos órgãos colegiados não prevalece a vontade individual de seu Chefe 
ou Presidente, nem a de seus integrantes isoladamente: o que se impõe e vale juridicamente 
é a decisão da maioria, expressa na forma legal, regimental ou estatutária. 



A atuação desses órgãos tem procedimento próprio, que se desenvolve nesta ordem: 
convocação, sessão, verificação de quorum e de impedimentos, discussão, votação e 
proclamação do resultado. Com a proclamação do resultado torna-se inalterável a 
deliberação colegial, só admitindo modificação ou correção através de novo pronunciamento 
do órgão, se cabível, por via recursal ou de ofício. 



Nas relações com a própria Administração e com terceiros os órgãos colegiados são 
representados por seus dirigentes, e não por seus membros, conjunta ou isoladamente. O ato 
colegial só é necessário para a manifestação da vontade do órgão no desempenho especifico 
de suas funções. 



Assim, as Corporações Legislativas, os Tribunais e as Comissões, por exemplo, deliberam e 
decidem por seus plenários e câmaras, mas se fazem representar juridicamente e se 
administram por seus Presidentes, Chefes ou Procuradores. 



Apreciados os órgãos públicos como centros de competência, aptos à realização das funções 
do Estado, vejamos, agora, as pessoas físicas que atuam como seus agentes, com parcelas de 
seu poder. 





AGENTES PÚBLICOS

9. AGENTES PÚBLICOS 

São todas as pessoas físicas incumbidas, definitiva ou transitoriamente, do exercício de 
alguma função estatal. Os agentes normalmente desempenham funções do órgão, 
distribuídas entre os cargos de que são titulares, mas excepcionalmente podem exercer 
funções sem cargo. A regra é a atribuição de funções múltiplas e genéricas ao órgão, as quais 
são repartidas especificamente entre os cargos, ou individualmente entre os agentes de 
função sem cargo. Em qualquer hipótese, porém, o cargo ou a função pertence ao Estado, e 
não ao agente que o exerce, razão pela qual o Estado pode suprimir ou alterar cargos e 
funções sem nenhuma ofensa aos direitos de seus titulares, como podem desaparecer os 
titulares sem extinção dos cargos e funções. 



Os cargos são apenas os lugares criados no órgão para serem providos por agentes que 
exercerão as suas funções na forma legal. O cargo é lotado no órgão e o agente é investido 
no cargo. Por aí se vê que o cargo integra o órgão, ao passo que o agente, como ser humano, 
unicamente titulariza o cargo para servir ao órgão. Órgão, função e cargo são criações 
abstratas da lei; agente é a pessoa humana, real, que infunde vida, vontade e ação a essas 
abstrações legais. 



As funções são os encargos atribuídos aos órgãos, cargos e agentes. O órgão normalmente 
recebe a função in genere e a repassa aos seus cargos in specie, ou a transfere diretamente a 
agentes sem cargo, com a necessária parcela de poder público para o seu exercício. Toda 
função é atribuída e delimitada por norma legal. Essa atribuição e delimitação funcional 
configuram a competência do órgão, do cargo e do agente, ou seja, a natureza da função e o 
limite de poder para o seu desempenho. Dai por que, quando o agente ultrapassa esse limite, 
atua com abuso ou excesso de poder. 



Portanto, na estrutura e organização do Estado e da Administração distinguem-se 
nitidamente poder, órgão, função, competência, cargo e agente. 

Os agentes públicos, gênero que acima conceituamos, repartem-se inicialmente em quatro 
espécies ou categorias bem diferenciadas, a saber: agentes políticos, agentes 
administrativos, agentes honoríficos e agentes delegados, que, por sua vez, se subdividem 
em subespécies ou subcategorias, como veremos a seu tempo. 



9.1. Agentes Políticos 

São os componentes do Governo nos seus primeiros escalões, investidos em cargos, 
funções, mandatos ou comissões, por nomeação, eleição, designação ou delegação para o 
exercício de atribuições constitucionais. Esses agentes atuam com plena liberdade funcional, 
desempenhando suas atribuições com prerrogativas e responsabilidades próprias, 
estabelecidas na Constituição e em leis especiais. Não são servidores públicos, nem se 
sujeitam ao regime jurídico único estabelecido pela Constituição de 1988. Têm normas 
específicas para sua escolha, investidura, conduta e processo por crimes funcionais e de 
responsabilidade, que lhes são privativos. 



Os agentes políticos são as autoridades públicas supremas do Governo e da Administração 
na área de sua atuação, pois não estão hierarquizadas, sujeitando-se apenas aos graus e 
limites constitucionais e legais de jurisdição. 



Nesta categoria encontram-se os Chefes de Executivo (Presidente da República, 
Governadores e Prefeitos) e seus auxiliares imediatos (Ministros e Secretários de Estado e 
de Município); os membros das Corporações Legislativas (Senadores, Deputados e 
Vereadores); os membros do Poder Judiciário (Magistrados em geral); os membros do 
Ministério Público (Procuradores da República e da Justiça, Promotores e Curadores 
Públicos); os membros dos Tribunais de Contas (Ministros e Conselheiros); os 
representantes diplomáticos e demais autoridades que atuem com independência funcional 
no desempenho de atribuições governamentais, judiciais ou quase-judiciais, estranhas ao 
quadro do servidor público. 



9.2. Agentes Administrativos 

São todos aqueles que se vinculam ao Estado ou às suas entidades autárquicas e 
fundacionais por relações profissionais, sujeitos à hierarquia funcional e ao regime jurídico 
único da entidade estatal a queservem. São investidos a titulo de emprego e com retribuição 
pecuniária, em regra por nomeação e, excepcionalmente, por contrato de trabalho ou 
credenciamento. Nessa categoria incluem-se, também, os dirigentes de entidades 
paraestatais (não os seus empregados), como representantes da Administração indireta do 
Estado, os quais, nomeados ou eleitos, passam a ter vinculação funcional com órgãos 
públicos da Administração direta, controladores da entidade. 



Os agentes administrativos não são membros de Poder de Estado, nem o representam, nem 
exercem atribuições políticas ou governamentais; são unicamente servidores públicos, com 
maior ou menor hierarquia, encargos e responsabilidades profissionais dentro do órgão ou da 
entidade a que servem, conforme o cargo ou a função em que estejam investidos. De acordo 
com a posição hierárquica que ocupam e as funções que lhes são cometidas, recebem a 
correspondente parcela de autoridade pública para o seu desempenho no plano 
administrativo, sem qualquer poder político. 



A categoria dos agentes administrativos constitui a imensa massa dos prestadores de 
serviços à Administração direta e indireta do Estado nas seguintes modalidades admitidas 
pela Constituição: Servidores públicos concursados (Art. 37, II); Servidores públicos 
exercestes de cargos ou empregos em comissão titulares de cargo ou emprego público (Art. 
37, V); Servidores temporários, contratados “por tempo determinado para atender a 
necessidade temporária de excepcional interesse público”(Art. 37, IX). 



9.3. Agentes Honoríficos 

São cidadãos convocados, designados ou nomeados para prestar, transitoriamente, 
determinados serviços ao Estado, em razão de sua condição cívica, de sua honorabilidade ou 
de sua notória capacidade profissional, mas sem qualquer vínculo empregatício ou 
estatutário e, normalmente sem remuneração. Tais serviços constituem o chamado múnus 
público, ou serviços públicos relevantes, de que são exemplos a função de jurado, de 
mesário eleitoral, de comissário de menores, de presidente ou membro de comissão de 
estudo ou de julgamento e outros dessa natureza. 



Os agentes honoríficos não são funcionários públicos, mas momentaneamente exercem uma 
função pública e, enquanto a desempenham, sujeitam-se à hierarquia e disciplina do órgão a 
que estão servindo, podendo perceber um pro labore e contar o período de trabalho como de 
serviço público. 



Sobre estes agentes eventuais do Poder Público não incidem as proibições constitucionais de 
acumulação de cargos, funções ou empregos (art. 37, XVI e XVII), porque sua vinculação 
com o Estado é sempre transitaria e a título de colaboração cívica, sem caráter empregatício. 



9.4. Agentes Delegados 

São particulares que recebem a incumbência da execução de determinada atividade, obra ou 
serviço público e o realizam em nome próprio, por sua conta e risco, mas segundo as normas 
do Estado e sob a permanente fiscalização do delegante. Esses agentes não são servidores 
públicos, nem honoríficos, nem representantes do Estado; todavia, constituem uma categoria 
a parte de colaboradores do Poder Público. Nessa categoria encontram-se os concessionários 
e permissionários de obras e serviços públicos, os serventuários de ofícios ou cartórios não 
estatizados, os leiloeiros, os tradutores e intérpretes públicos, as demais pessoas que 
recebem delegação para a prática de alguma atividade estatal ou serviço de interesse 
coletivo. 



Embora nossa legislação seja omissa a respeito, esses agentes, quando atuam no exercício da 
delegação ou a pretexto de exercê-la e lesam direitos alheios, devem responder civil e 
criminalmente sob as mesmas normas da administração Pública de que são delegados, ou 
seja, com responsabilidade objetiva pelo dano (CF, art. 37, § 6o), e por crime funcional, se 
for o caso (CP, art. 327), pois não é justo e jurídico que a só transferencia da execução de 
uma obra ou de um serviço originariamente público a particular descaracterize sua intrínseca 
natureza estatal e libere o executor privado das responsabilidades que teria o Poder Público 
se o executasse diretamente. 



9.5. Agentes Credenciados 

São os que recebem a incumbência da Administração para representá-la em determinado ato 
ou praticar certa atividade específica, mediante remuneração do Poder Público credenciante.

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