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CONSUMIDOR E FORNECEDOR Direito do Consumidor Profa. Ms. Daniela dos Santos CONSUMIDOR Segundo o CDC: Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. � Filomeno conceitua: “É qualquer pessoa, natural ou jurídica, que contrata, para sua utilização, a aquisição de mercadoria ou a prestação de serviço, independentemente do modo de manifestação da vontade; isto é, sem forma especial, salvo quando a lei expressamente a exigir”. (2010, p. 23). � São três os elementos que compõe o conceito de consumidor do CDC: 1) Elemento subjetivo – pessoa física ou jurídica; 2) Elemento Objetivo – aquisição ou utilização de produtos e serviços); 3) Teleológico – finalidade pretendida com a aquisição de produtos ou serviços), destinatário final. ***Importante salientar que não é apenas consumidor aquele que adquire, mas também aquele que utiliza (familiar, presenteado, etc.). � A doutrina denomina o consumidor previsto no caput do artigo 2º como o “consumidor strico sensu” ou “standart”, o que diferencia os consumidores equiparados do parágrafo único do mesmo artigo e os previstos nos arts. 17 e 29: Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. � Segundo o caput do art. 2º a única característica restritiva que alcança o conceito de consumidor seria a aquisição ou utilização do bem como destinatário final. � Porém o texto legal não responde o que seria “destinatário final”, assim na doutrina consumerista duas são as correntes que se formaram a respeito do tema: a doutrina finalista (ou subjetiva) e a doutrina maximalista (ou objetiva). � A doutrina finalista parte do conceito econômico de consumidor, propõe que a interpretação deve ser mais restritiva, fundamentando-se no fato de que somente o consumidor, parte mais vulnerável na relação contratual, merece especial tutela. � Assim para a doutrina finalista o destinatário final é o que retira o bem do mercado ao adquirir ou simplesmente utilizá-lo (destinatário final fático), é aquele que coloca um fim na cadeia de produção (destinatário final econômico), e não aquele que utiliza o bem para continuar a produzir. � Nesse sentido o STJ: Tratando-se de financiamento obtido por empresário, destinado precipuamente a incrementar a sua atividade negocial, não podendo qualificá-lo, portanto, como destinatário final, inexistente é a pretendida relação de consumo. Inaplicabilidade no caso do Código de Defesa do Consumidor (STJ, Resp. 218505/MG, DJ 14/02/2000, Rel. Min. Barros Monteiro, j. 16/09/1999). � O grande embate da doutrina finalista e o CDC, é que sob o enfoque da necessidade de se dar uma destinação econômica ao produto ou serviço, inviabiliza o reconhecimento da pessoa jurídica como consumidora. � Como o CDC é claro ao dispor sobre a possibilidade da pessoa jurídica ser considerada consumidora, a doutrina finalista começa diferenciar quando o produto ou serviço é utilizado como insumo da produção, ou seja, nesse caso não seria considerada consumidora. � Fábrica têxtil: a) adquire algodão, trata-se de insumo e conhece bem a matéria prima, não há desequilíbrio, portanto não será consumidora; b) adquire carro ou contrata serviços de segurança – não são insumos utilizados no processo produtivo, há desequilíbrio, portanto pode ser considerada consumidora. � Já a doutrina maximalista com base no conceito jurídico de consumidor é visto de maneira amis ampla, abrangendo maior número de relações, pelas quais as normas do CDC devem regular a sociedade de consumo. � Ou seja, o destinatário final é aquele destinatário fático, pouco importando a destinação econômica que lhe deva sofrer o bem. � Para essa doutrina as normas do CDC seriam o novo regulamento do mercado de consumo brasileiro, e não normas orientadas para proteger somente o consumidor não profissional. � Assim, a definição de consumidor é puramente objetiva, não importando a finalidade de aquisição ou uso do produto ou serviço, podendo até mesmo haver intenção de lucro. � Nesse sentido STJ: A expressão “destinatário final”, constante da parte final do art. 2º do CDC, alcança o produtor agrícola que compra adubo para o preparo do plantio, à medida que o bem adquirido foi utilizado pelo profissional, encerrando-se a cadeia produtiva respectiva, não sendo objeto de transformação ou beneficiamento (STJ, Resp. 208793/MT, DJ 01/08/2000, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito). Finalista Conceito econômico de consumidor Conceito subjetivo Destinatário final e econômico Maximalista Conceito jurídico de consumidor Conceito objetivo Destinatário fático � Segundo Cláudia Lima Marques, para efeitos de definição do conceito d consumidor, deve-se levar em consideração o art. 4º que o reconhece como o “vulnerável” numa relação contratual, uma vez somente esses que merecem receber a tutela especial do CDC. � A autora aponta quatro tipos de vulnerabilidade: a técnica, a jurídica, informacional e a fática. a) Técnica: o comprador não possui conhecimento específico sobre o produto e ou o serviço, podendo ser mais iludido no momento da contratação. b) Jurídica: falta de conhecimento jurídico, ou de outros ramos como a contabilidade, economia, matemática, etc.; c) Informacional: devido ao grande déficit de informações na sociedade atual; d) Fática: vulnerabilidade real diante do parceiro contratual, seja em decorrência do poderio econômico, ou sua posição de monopólio, ou da essencialidade do serviço que presta, impondo a relação sua posição de superioridade. � Concluindo a autora adota a teoria finalista, mas a relativiza, pois admite exceções ao seu campo de atuação quando a pessoa física ou jurídica apresentar uma vulnerabilidade capaz de provocar o desequilíbrio na relação contratual. � Cláudia chama de Teoria Finalista Aprofundada. VULNERABILIDADE Técnica Jurídica ou científica Econômica ou Fática Informacional 15 “O consumidor é o elo mais fraco da economia. E nenhuma corrente pode ser mais forte do que seu elo mais fraco”. (Henry Ford) �Nesse sentido Filomeno ensina consumidor, vem a ser qualquer pessoa física que, isolada ou coletivamente, contrate para consumo final, em benefício próprio ou de outrem, a aquisição ou a locação de bens, bem como a prestação de serviços. (2010, p.23). �E conclui: será consumidor um dos partícipes da relação de consumo, que nada mais é do que relação jurídica por excelência, mas que devem ser observadas precisamente pela situação de manifesta inferioridade frente ao fornecedor de bens e serviços. � Diante do Código Civil de 2002 teoria finalista ganha força, uma vez que adotou vários princípios e cláusulas gerais que por si só são suficientes para equilibrar as relações entre empresários. � Assim, recentemente o STJ superou a discussão a cerca do alcance da expressão destinatário final e consolidou a Teoria Finalista mitigada. � Ao analisar o novo posicionamento do STJ, Cláudia aponta que “em casos mais difíceis envolvendo pequenas empresas que utilizam insumos para a sua produção, mas não na área de expertise ou com uma utilização mista, principalmente na área de serviços; provada a vulnerabilidade, conclui-se pela destinação final de consumo”. PESSOA JURÍDICA �Prevaleceu a inclusão da pessoa jurídica também como consumidor de bens e serviços, embora com a ressalvade que, nessa hipótese, age exatamente como o consumidor comum, ou seja, fazendo-se ela, pessoa jurídica, destinatária final dos referidos bens e serviços. �Mas é importante notar que a vulnerabilidade do consumidor pessoa física é presumida pela lei, enquanto que a da pessoa jurídica deve ser demonstrada no caso concreto. A PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO �Aplica-se o CDC, ainda que se trate de contrato administrativo, quando a contratante é a Administração, no sentido que lhe dá a Lei nº8.666/93 (Lei da Licitação), sendo ela consumidora ou usuária porque adquire ou utiliza produto ou serviço, como destinatária final. � Por fim, tem-se ainda os consumidores equiparados previstos no parágrafo único do art. 2º: Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. � Nesses casos é necessário que a coletividade de pessoas tenha participado, de alguma forma, da relação de consumo. � Assim se as pessoas de uma casa sofreram com danos decorrentes da utilização de algum produto contaminado comprado por apenas um deles, equiparam-se a consumidor, beneficiando-se das normas protetivas do CDC. A COLETIVIDADE DE CONSUMIDORES � O Art.2º, § único trata não mais daquele determinado e individualmente considerado consumidor, mas de uma coletividade de consumidores, sobretudo quando indeterminados, que tenham intervindo em uma relação de consumo. � Consagra a universalidade, o conjunto de consumidores de produtos e serviços, ou mesmo grupo, classe ou categoria deles, relacionado a determinado produto ou serviço. INTERESSES DIFUSOS �CDC, Art.81, inc. I,:...os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato”. Ex.: Hipótese de colocação de medicamentos no mercado com fator-risco bastante superior ao fator-benefício, um alimento deteriorado, uma publicidade enganosa ou abusiva. INTERESSES COLETIVOS �CDC, Art. 81, inc. II: “... os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base”. Ex.: milhares de pessoas adquirentes de um plano de saúde que são prejudicadas uniformemente por uma cláusula abusiva, ou então, por abuso do poder econômico. INTERESSES HOMOGÊNEOS �Art. 81, inc. III: “... são aqueles que decorrem de uma origem comum”. Ex.: O acidente ocorrido em 1996 com o jato da TAM, em que faleceram 99 pessoas, contando os passageiros, tripulantes e pessoas de terra, bem como a explosão de gás no Osasco Plaza Shopping, com a morte de 44 pessoas, e ferimentos e danos materiais a quase 500 outras pessoas. FORNECEDORES � Segundo o CDC: Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. � A chave para se encontrar a figura do fornecedor está na expressão “desenvolvem atividade”. Então, somente será fornecedor o agente que pratica determinada atividade com habitualidade. � Para o CDC o vocábulo fornecedor é delimitado como gênero, do qual são espécies o produtor, montador, criador, fabricante, construtor, transformador, importador, exportador, distribuidor, comerciante e o prestador de serviço. � A norma consumerista quando quer que todos sejam obrigados/responsabilizados, usa o termo “fornecedor”(gênero), mas quando quer indicar algum dos entes específicos, utiliza-se do termo particular (espécie). � No fornecimento de produtos e serviços, podem ser considerados como fornecedores tanto pessoas jurídicas (inclusive as públicas que tenham contraprestação DIRETA do consumidor) quanto físicas, bastando que se enquadrem nos ditames do artigo. � Os “entes despersonalizados” estão abrangidos pelo CDC para evitar que a falta de personalidade viesse a ser empecilho na hora de tutelas os consumidores. Ex. família que pratica atividades típicas de fornecedor, pessoas jurídicas de fato (camelô). ARTIGOS QUE ESPECIFICAM O FORNECEDOR Art. 8º, parágrafo único Fabricante - prestar informações em produto industrial Art. 12 Responsabilidade do fabricante, produtor, construtor e importador Art. 13 Responsabilidade do comerciante Art. 14, parágrafo 4º Responsabilidade dos profissionais liberais Art. 18, parágrafo 5º Fornecedor imediato=comerciante -produtos in natura Art. 19, parágrafo 2º Fornecedor imediato=comerciante – pesagem de produtos e balança não aferida segundo os padrões oficiais Art. 25, parágrafo 2º Fabricante, construtor e importador e quem realizou a incorporação – dano em função de peça ou componente incorporado ao produto Art. 32 Fabricantes e importadores – peças de reposição Art. 33 Fabricante – nome na embalagem na oferta ou venda por telefone PRODUTOS E SERVIÇOS �CDC, art. 3°, § 1°: Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. �Observa-se que o objetivo do legislador não foi o de limitar o que seria “produto”, contemplando as diversas formas possíveis. � Inserindo móveis (automóveis, objetos em geral, etc.), imóveis (apartamentos, casas, etc.), materiais (palpáveis) e os imateriais (programas de computador, etc.). � CDC, art. 3°, § 2°: Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. � Observando o artigo estariam excluídas aquelas atividades desempenhadas a título gratuito, como as feitas de favores ou por parentesco, mas existem os serviços chamados de aparentemente gratuitos, onde há remuneração indireta. � O STJ já se pronunciou nesse sentido: Inexiste violação ao art. 3º parágrafo 2º do CDC, porquanto, para a caracterização da relação de consumo, o serviço pode ser prestado pelo fornecedor mediante remuneração obtida de forma indireta (STJ, Resp. 566468/RJ, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ 17/12/2004). • Tem que ser o destinatário final • Presença da vulnerabilidade o caso concreto • Consumidores equiparados Consumidor • Precisa “desenvolver uma atividade”(habitualidade)Fornecedor • Bem amplo: móvel, imóvel, material e imaterial • Prestado “mediante remuneração” excluídas as relações trabalhistas. Produto Serviço Análise dos elementos da Relação de Consumo Referências FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor. São Paulo:Atlas, 2010. GARCIA, Leonardo De Medeiros, Código de Defesa do Consumidor Comentado artigo por artigo. Salvador: JusPODIVM, 2016. MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.
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