Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Profa. Daniela dos Santos Das Práticas Comerciais Art. 29 ao 38 do CDC Artigo 29 - Equiparação Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. �Segundo o artigo, são consumidores por equiparação (não somente os destinatários finais – art. 2º), todos aqueles expostos às práticas previstas nesse capítulo como a oferta, a publicidade, a cobrança de dívidas, a inserção de seus nomes em banco de dados e cadastros e as abusividades contratuais. Da Oferta Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. �O CDC assegura a inclusão da publicidade, desde que suficientemente precisa, como uma modalidade de oferta. �A oferta é um veículo que transmite uma mensagem, incluindo informação e publicidade. � Importante diferenciar publicidade de informação, toda publicidade veicula alguma informação, mas nem todas informação trata-se de publicidade. � Assim, a resposta do gerente de banco, o preço dado pelo feirante (de boca) são informações suficientes para VINCULAR o fornecedor. � Já a publicidade é entendida como o anúncio veiculado por qualquer meio de comunicação, inclusive embalagens, rótulos, folhetos, etc. � Assim a oferta (ou proposta) pode ser conceituada como a declaração inicial de vontade direcionada à realização de um contrato (cria um vínculo entre fornecedor X consumidor), surgindo uma obrigação pré-contratual (‘princípio da vinculação contratual da publicidade). �Presente o princípio da boa-fé objetiva, pela qual o fornecedor, através da oferta, deve portar-se no sentido de cumprir os deveres anexos de lealdade, proteção, informação, confiança e cooperação. �Nesse sentido o STJ: “Quando o fornecedor faz constar de oferta ou mensagem publicitária a notável pontualidade e eficiência de seus serviços de entrega, assume os eventuais riscos de sua atividade, inclusive o chamado risco aéreo, com cuja consequência não deve arcar o consumidor”. (Resp. 196031/MG, Rel. Min.Antônio de Pádua Ribeiro). �Para a aplicação do princípio da vinculação, é preciso que a informação contenha certa precisão, nos dizeres de Nelson Nery Júnior: “A informação que vincula o fornecedor é “aquela que contenha elementos claros para que possa ser identificados os seus termos, tais como a marca do produto, condições de pagamento, etc.”. �Os chamados puffing (exageros), a princípio, não obrigam os fornecedores, como por exemplo “o melhor carro do mundo”, essas expressões exageradas, não permitem uma verificação objetiva. � Antônio Herman Benjamin, por sua vez, doutrina que dependendo do contexto, os puffing podem vincular o anunciante, como quando afirma “o melhor preço da capital”. �Questão controversa é a possibilidade de o fornecedor alegar que houve equívoco na oferta para se escusar de cumprir o ofertado, nesses casos em respeito ao princípio da boa-fé objetiva, onde ambas as partes tem o dever de agir na base da lealdade e confiança, tem-se admitido o chamado erro grosseiro, como forma de não responsabilizar o fornecedor. � Erro grosseiro é aquele erro latente, que facilmente o consumidor tem condições de verificar o equívoco, por fugir ao padrão normal do que usualmente acontece. Ex: TV - art. 4º, III, CDC, buscar o equilíbrio contratual e a boa-fé objetiva, para evitar vantagem desmedida para qualquer um dos envolvidos no negócio jurídico. � Por fim, devido a regra do art. 429 do CC que dispõe: “ oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos”. � É preciso, então distinguir quando se aplica o CC e quando se aplica as regras do CDC: as regras do CDC se aplicam quando a oferta é voltada aos consumidores (art. 2º e 4º CDC), já as regras do CC aos comerciantes (venda a atacado). �O parágrafo único do artigo 429 CC prevê uma hipótese não contida no CDC, a revogação da oferta via divulgação, desde que tenha sido ressalvada expressamente essa faculdade, já nas relações de consumo, uma vez feita a oferta, não dispõe os fornecedores dessa faculdade. �Por fim, a responsabilidade pela oferta recairá sobre toda a rede de fornecedores, nesse sentido, já decidiu o STJ: É solidária a responsabilidade entre aqueles que veiculam publicidade enganosa e os que dela se aproveitam, na comercialização de seu produto. (REsp. 327257, Rel. Min. Nancy Anfrighi). Segundo entendimento firmado pelo C. STJ "é solidária a responsabilidade entre aqueles que veiculam publicidade enganosa e os que dela se aproveitam na comercialização dos seus produtos" (Resp. 327257/SP) Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével. �A informação clara e precisa é direito básico do consumidor conforme art. 6º, III do CDC. �Para o Min. Herman Benjamin, informação adequada, é aquela que se apresenta simultaneamente completa, gratuita e útil. � Por correta entende-se verdadeira, clara de fácil entendimento, precisa não prolixa ou escassa, ostensiva de fácil constatação e por óbvio na língua portuguesa. � Segundo o Ministro, a obrigação de informação é desdobrada em quatro categorias: a)informação-conteúdo: características intrínsecas do produto ou serviço; b) informação-utilização: como se usa o produto ou serviço; c) informação-preço: custo, formas e condições de pagamento; d) informação-advertência: riscos do produto ou serviço. � Exemplos: Lei 10.674/03 – alimentos industrializados deverão conter em seu rótulo, as inscrições “contém Glúten”. Cerveja com teor alcoólico reduzido não podem ter a inscrição “sem álcool”. Decreto n. 5.903/06 “outros dados” que reputar importante. � Por fim, algumas expressões utilizadas em língua estrangeira de conhecimento popular, tem sido toleradas, entretanto se algum consumidor vir adquirir o produto ou serviço de modo equivocado e o desconhecimento da expressão tenha sido a razão do erro, o fornecedor responde pelos danos que porventura venha causar. � Essa norma também se aplica aos produtos importados, ou seja, os importadores e demais fornecedores antes de inserir no mercado o produto ou serviço, deverão possibilitar a tradução dos dizeres no rótulo, embalagens, manual, etc. �O descumprimento acarreta vício de informação, gerando o dever de indenizar, além de configurar infração penal (art. 66, CDC). Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto. Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser mantida por período razoável de tempo, na forma da lei. � Regra do “gênero do fornecedor”, portanto a responsabilidade será do fabricante e importador (não está incluído por exemplo a concessionária, mas a montadora sim). � Como a lei não prevê o que seria “período razoável de tempo”, e na ausência de lei regulamentadora, caberá ao juiz fazê-lo no caso concreto. � Visando definir a expressão o Decreto 2.181/97, em seu art. 13, XXI, dispõe que o “período razoável” nunca pode ser inferior ao tempo de vida útil do produtoou serviço. Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve constar o nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos utilizados na transação comercial. Parágrafo único. É proibida a publicidade de bens e serviços por telefone, quando a chamada for onerosa ao consumidor que a origina. �Verifica-se nesse artigo o princípio da informação e da transparência. �O parágrafo único visa coibir abusos que os fornecedores diante da vulnerabilidade do consumidor oneravam suas contas telefônicas com publicidades enquanto aqueles aguardavam atendimento. �Ficaram de fora da normatização os call centers e SACs gratuitos, porém em relação a eles, somente estão liberados de veicular publicidade os que não foram abrangidos pelo Decreto 6.523/08. �Os SACs de energia elétrica, telefonia, televisão por assinatura, planos de saúde, aviação civil, empresas de ônibus, bancos e cartões de crédito fiscalizados pelo Banco Central) muito embora as ligações devam ser gratuitas, os fornecedores não podem veicular publicidade durante a ligação, a menos que o consumidor consinta expressamente, devido ao Decreto. Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos. �Caso de responsabilidade Solidária, podendo o consumidor acionar individualmente o preposto ou o fornecedor. �Ainda, “não há necessidade de um contrato típico de trabalho, é suficiente a relação de dependência ou que alguém preste serviço sob o interesse e o comando de outrem”, conforme Recurso Especial 304.673, Min. Barros Monteiro, STJ. Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos. � Como consequência do princípio da vinculação contratual da publicidade previsto no art. 30 do CDC, o fornecedor deverá cumprir a oferta ou publicidade, mas se não tiver condições de cumpri-la, o consumidor poderá optar conforme regra do art. 35 e seus incisos. � Em todas as hipótese do artigo, o consumidor pode ainda, pedir indenização pelos eventuais danos sofridos em decorrência da quebra de confiança. Da Publicidade Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal. Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem. (O não cumprimento é caracterizado como ilícito penal, art. 69, CDC). �Apesar de haver diferença entre publicidade (fato de tornar público, divulgar o produto ou serviço) e propaganda (difundir uma ideia, dado ideológico, político, religioso, econômico) o STJ trata-os como sinônimo. �A publicidade no Brasil se encontrava sem regulamentação até o CDC, o Conar (Conselho de Auto regulação Publicitária), somente controla eticamente as publicidades enganosas e abusivas, não exercendo, um controle legal. �Com o CDC hoje tem-se dois tipos de controle da publicidade, um legal pelo CDC e um privado feito pelo Conar, ambos compatíveis entre si. �O artigo 36 adota o princípio da identificação obrigatória da publicidade, esse principio visa proteger o consumidor, de modo a torná-lo consciente de que é o destinatário de uma mensagem publicitária e facilmente identificar o fornecedor e o produto ou serviço, é a chamada proibição da publicidade clandestina. �Esse principio proíbe a chamada publicidade subliminar, uma vez que atinge o inconsciente do indivíduo, fazendo com que não perceba que está sendo induzido a compras. �Outra técnica que esbarra nesse princípio é o merchandising. Técnica utilizada para veicular produtos e serviços de forma camuflada, inserindo-as em programas de televisão, rádio, espetáculos teatrais e filmes. https://www.youtube.com/watch?v=hUOW3zDmNpE � Nesse caso, também exige-se a observância do princípio da transparência da fundamentação, o fornecedor deverá comprovar, caso solicitado, que as informações publicitárias são verdadeiras e que não foram colocadas apenas para iludir os consumidores, ou seja, terão que ter em seu poder dados fáticos, técnicos e científicos, capazes de comprovar a veracidade do vinculado na publicidade. � Já a utilização do teaser não encontra óbice no CDC. Teaser consiste em criar uma expectativa ou curiosidade em relação aos produtos ou serviços que serão lançados (ex. “Aí vem o filme mais esperado do ano, aguardem!”). Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. § 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço. �Todos aqueles que tiveram algum proveito com a publicidade enganosa respondem, solidariamente, perante o consumidor. �Basta a mera potencialidade de engano para caracterizar a publicidade enganosa, ou seja,, não necessita da prova da enganosidade real, basta a indução do consumidor a erro. �Uma modalidade de publicidade enganosa muito comum é a chamada “publicidade chamarisco”. Ex.: anuncio de um determinado produto com preço altamente competitivo, quando o consumidor vai a loja é informado que esgotou o estoque e outros produtos similares são oferecidos. �É comum verificar publicidades abusivas, envolvendo crianças, assim são proibidos anúncios que causem sentimentos de inferioridade, caso não adquiram ou não possam adquirir um produto ou serviço, ou que estimulem a criança a constranger os pais a comprar determinados produtos ou serviços. �Como exemplos, teve aquela famosa propaganda de tênis onde ensinava as crianças a destruírem seus tênis para ganhar um novo da marca veiculada, outra propaganda que foi considerada abusiva foi de uma criança com uma “tesourinha” na mão dizendo: “eu tenho, você não tem”. �O que busca é evitar o abuso frente à ingenuidade, inexperiência e o sentimento de lealdade das crianças. � anunciante é objetivamente responsável pelos danos que seu anuncio vier a causar, sendo irrelevante sua intenção. Já a agência de publicidade, será responsável quando tiver agido com culpa ou dolo. �O CDC, no art. 60, prevê a contrapropaganda que deverá ser divulgada pelo responsável da mesma forma, frequência e dimensão e, preferencialmente, no mesmo veículo, local, espaço e horário. �A contrapropaganda visa tento reparar a verdade da publicidade enganosa como também desqualificar a mensagem abusiva, reparando, ao final, o direito à informação do consumidor que foi violado. �Por fim, vale destacar o princípio da lealdade publicitária, que deverá ser utilizado como parâmetro nas chamadas publicidades comparativas.�Publicidades comparativas ocorre quando a mensagem destaca um produto ressaltando suas características em relação a outros similares de outras marcas. �Esse tipo de publicidade é permitida, mas tem que observar algumas regras estabelecidas no Código Brasileiro de Autorregulação Publicitária (art. 32). �A desobediência dessas regras que venham a causar danos ao consumidor ou ao fornecedor concorrente, a empresa patrocinadora poderá ser responsabilizada. Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina. � Ao contrário da regra do art. 6º, VIII, a inversão do ônus da prova em relação a publicidade não está no poder discricionário do juiz. �O CDC de modo expresso, incumbe esse dever ao patrocinador do anúncio (inversão do ônus da prova ope legis), portanto a inversão é obrigatória. � Diante do artigo, observa-se que as agências de publicidade e os veículos de comunicação somente responderão a título de culpa ou dolo, recaindo a responsabilidade da prova da veracidade e correção da informação sobre os fornecedores que patrocinaram a campanha publicitária. Referência Bibliográfica: GARCIA, Leonardo De Medeiros, Código de Defesa do Consumidor Comentado artigo por artigo. Salvador: JusPODIVM, 2016.
Compartilhar