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1 PROCESSO COLETIVO NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 01. ANTECEDENTES HISTÓRICOS - As fases metodológicas do processo: (i) imanentista ou sincretista; (ii) autonomista; (iii) instrumentalista: processo coletivo como vertente do instrumentalismo substancial. - A ação popular romana como antecedente histórico das ações coletivas. - A “summa divisio” romana: divisão do direito em público e privado, de acordo com os possíveis titulares de direitos, ou seja, o indivíduo ou o Estado. - Necessidade de superação conceitual, ante a tomada de consciência de uma classe de direitos que transcendem tanto a esfera do indivíduo, por um lado, quanto a esfera do Estado, por outro. Exemplo: a consciência ecológica e o despertar valores ambientais, os direitos do consumidor. - A experiência norte-americana das class action: importância do estudo de mecanismos que inspiraram o legislador brasileiro, a saber: (i) o right to opt out; (ii) o sistema de fair notice ; (iii) a adequacy of representantion; (iv) o binding efect decorrente da coisa julgada. - A evolução do processo coletivo no Brasil: (i) a ação popular prevista no artigo 113, inciso XXXVIII da Constituição de 1934; (ii) A lei 4.717/65; (iii) a década de 70 e a “revolução dos professores”, inspirada no movimento de ACESSO À JUSTIÇA, comandado por CAPPELLETTI e BRYANT GARTH. 02. FUNDAMENTOS OU OBJETIVOS DAS AÇÕES COLETIVAS: - Acesso à Justiça. - Economia Processual. - Segurança Jurícia. - Isonomia. - Celeridade. - Prevenção de decisões conflitantes. 03. CONCEITO DE PROCESSO COLETIVO: - Para Didier e Zanetti Jr., “ conceitua-se processo coletivo como aquele instaurado por ou em face de um legitimado autônomo, em que se postula um direito coletivo 2 lato sensu ou se postula um direito em face de um titular de um direito coletivo lato sensu, com o fito de obter uma providência jurisdicional que atingirá uma coletividade ou um número determinado de pessoas”. 3.1. CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO COLETIVO - A especial legitimação para agir. - A afirmação em juízo de um direito coletivo lato sensu. - A extensão subjetiva da coisa julgada. 04. PROCESSO COLETIVO E MICROSSISTEMA DE TUTELA COLETIVA - O sistema de tutela coletiva é formado por diversas leis que se comunicam entre si, em verdadeiro diálogo de fontes, e que formam um verdadeiro microssistema do processo coletivo. - Principais Leis: Lei de Ação Popular (Lei n◦ 4.717/65); Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n◦ 6.938/81); Lei de Ação Civil Pública (Lei n◦ 7.347/85); CF/88; Código de Defesa do Consumidor (Lei n◦ 9.078/90); Lei do Mandado de Segurança (Coletivo) (Lei n◦ 12.016/09) e outros. 3 OS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU 01. INTRODUÇÃO - Direitos coletivos “lato sensu”: difusos, coletivos e individuais homogêneos. 02. A CONCEITUAÇÃO LEGAL - CDC, Artigo 81, parágrafo único. - Interesses ou direitos difusos: os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. - Interesses ou direitos coletivos: os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas, ligadas ente si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base. - Interesses ou direitos individuais homogêneos: assim entendidos os decorrentes de origem comum. - IMPORTANTE: apesar de conceituados no CDC, não se aplicam apenas às relações de consumo. 2.1. DIREITOS OU INTERESSES? - A doutrina amplamente majoritária afirma que o CDC não fez distinção entre as duas expressões. KAZUO WATANABE (Comentários ao CDC) afirma serem expressões sinônimas, na medida em que o interesse, quando amparado pelo ordenamento, adquire o status de direito. ELPÍDIO DONIZETI e MARCELO CERQUEIRA (Curso de Processo Coletivo) afirmam se tratar de distinção incabível, pois que os direitos coletivos são titularizados por coletividades, dispensando que se recorra ao conceito da doutrina italiana de interesse para permitir a sua tutela jurisdicional. 03. OS DIREITOS DIFUSOS: - Características principais: a) Titularidade: coletividade composta por indivíduos indeterminados e indetermináveis; b) Divisibilidade: ausente, pois que o direito difuso é essencialmente indivisível1; 1 Ricardo de Barros Leonel, em MANUAL DO PROCESSO COLETIVO, observa (pag. 91), dando como exemplo de direito difuso o meio ambiente: “O objeto do seu interesse é indivisível, pois não se pode 4 c) Origem: mesma situação de fato. - Exemplos típicos: meio ambiente, direitos do consumidor, patrimônio histórico, moralidade administrativa. 04. OS DIREITOS COLETIVOS STRICTO SENSU - Características principais: a) Titularidade: coletividade composta de indivíduos indeterminados mas determináveis; b) Divisibilidade: ausente, pois também são essencialmente coletivos; c) Origem: prévia relação jurídica base, mantida entre si ou com a parte contrária. - Exemplos típicos: OAB ou sindicato, na defesa dos interesses de seus associados; contribuintes de um determinado imposto. 05. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS - Características principais: a) Titularidade: grupo de indivíduos determinável; b)Divisibilidade: presente, pois se trata de direito essencialmente individual; c) Origem: situações de fato ou de direito equivalentes. - Exemplos clássicos: adquirentes de modelo de veículo com defeito; consumidores de um produto nocivo à saúde que buscam indenização. - IMPORTANTE: trata-se de direitos tipicamente individuais, que por poderem ensejar conflitos de massa (mass torts), receberam do legislador a tratativa na forma coletiva. - OBS 1: inspiração nas class action for damages do direito norte-americano. CASO CLÁSSICO: agent Orange case, no qual veteranos da guerra do Vietnã, por intermédio de um representante adequado, moveram uma ação coletiva (class action for damages) e processaram várias indústrias químicas americanas que manipularam esse agente químico. - Sobreleva, nesses casos, a questão do acesso à justiça e paridade de armas. repartir o proveito, e tampouco o prejuízo, visto que a lesão atinge a todos indiscriminadamente, assim como a preservação a todos aproveita”. 5 06. A QUESTÃO DA TITULARIDADE DOS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU - Ao contrário do que afirma parcela da doutrina, a titularidade não é indeterminada, mas determinada: a coletividade, que se faz presente em juízo por intermédio de um representante adequado. 07. QUADRO COMPARATIVO DOS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU ESPÉCIE TITULARIDADE DIVISIBILIDADE ORIGEM CLASSIFICAÇÃO DIFUSO Coletividade de indivíduos indeterminados e indetermináveis Indivisível Fato lesivo Essencialmente coletivo COLETIVO Coletividade de indivíduos indeterminados mas determináveis Indivisível Relação jurídica base anterior entre si ou com a parte contrária Essencialmente coletivo INDIVIDUAL HOMOGÊNEO Coletividade de indivíduos em situação jurídica homogênea Divisível Fato lesivo Acidentalmente coletivo 08. METODOLOGIA PARA A IDENTIFICAÇÃO DOS DIREITOS COLETIVOSLATO SENSU (PROPOSTOS POR ELPÍDIO DONIZETE E MARCELO CERQUEIRA) Primeira pergunta: a tutela jurisdicional é postulada em benefício de quem? De um indivíduo ou de uma massa de indivíduos? Segunda pergunta: em se dirigindo a um conjunto de indivíduos, há divisibilidade do direito coletivo pleiteado? Ou seja, poderia o direito ser postulado por cada indivíduo integrante do todo em ação própria? Terceira pergunta: Qual a origem do direito coletivo postulado? Havia prévia relação jurídica entre os membros da coletividade ou entre eles e a parte contrária? 6 CASO HIPOTÉTICO INTERESSANTE: (proposto por DONIZETTI e CERQUEIRA) - Fabricante de iogurte que, buscando aumentar suas vendas, divulga, mediante propaganda televisiva, que seu produto reduz o “colesterol ruim”. Pesquisas científicas demonstram, porém, que na verdade o consumo daquele iogurte aumentos os níveis de colesterol ruim. - 3 ações judiciais são propostas em decorrência desse fato: Ação X: busca a parte autora indenização pelos danos materiais e morais sofridos, decorrentes dos gastos efetuados com a compra do produto e o aumento dos níveis de colesterol. Ação Y: entidade legitimada pleiteia indenização pelos danos materiais e morais sofridos por todos os consumidores que adquiriram aquele produto. Ação Z: entidade legitimada que, com base na proteção ao direito à saúde do consumidor, pleiteia que a fabricante seja condenada a retirar seus produtos do mercado. IDENTIFIQUE O DIREITO EM CADA CASO. - CONCLUSÃO: o direito coletivo deve ser identificado no caso concreto, de acordo com o pedido e com a causa de pedir, pois um mesmo fato pode originar pretensões difusas, coletivas e individuais homogêneas. 7 PRINCÍPIOS DO PROCESSO COLETIVO 01. NOÇÕES GERAIS SOBRE TUTELA JURISDICIONAL - Classificação de acordo com a pretensão submetida à apreciação jurisdicional: tutela cognitiva, executiva ou cautelar. - Noção de crise jurídica. - Tipos de tutela cognitiva: declaratória, constitutiva/desconstitutiva e condenatória. 02. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO COLETIVO 2.1. Aplicação Residual do CPC: - O CPC, por seu caráter eminentemente individualista, terá aplicação meramente residual aos processos coletivos e desde que obedecidas as seguintes regras: (i) no microssistema de tutela coletiva haja omissão; (ii) a regra processual do CPC seja compatível com o processo coletivo, na medida em que não pode comprometer a eficácia da proteção aos direitos coletivos lato sensu. 2.2. Representatividade Adequada - Os substitutos processuais da coletividade atuam em nome desta e, por isso, devem ser representantes adequados. Os sistemas conhecidos são o de controle judicial (ope iudices) da representação adequada, como ocorre nos Estados Unidos, e o sistema de controle da representatividade adequada pela lei (ope legis), como ocorre no Brasil, eis que entre nós é a lei quem indica os representantes, prévia e abstratamente. DONIZETTI e CERQUERIA criticam a terminologia representante por se confundir com o instituto da representação no processo individual. Pensamos que a crítica não faz sentido, bastando lembrar que a expressão representante adequado é já tradicional na doutrina do processo coletivo e usada em um contexto que não permite confusão com a representação do processo individual. DIDIER e ZANETI JR., ao comentarem o princípio da representação adequada pontuam que cresce a necessidade de que seja feito, pelo juiz e no caso concreto, o controle da representação adequada, com vistas à segurança jurídica e garantia de efetiva proteção ao direito coletivo postulado em juízo. Se essa opinião prevalecer – e já há muitos juízes que fazem esse controle – o Brasil passaria a ter, na prática, um critério misto ou híbrido: a lei, prévia e 8 abstratamente, aponta os legitimados extraordinários; o juiz, no caso concreto, analisa se aquele legitimado extraordinário é, naquele específico caso, um representante adequado. 2.3. Não-taxatividade ou Atipicidade da Tutela Coletiva: - Decorrência direta de que de nenhuma lesão ou ameaça a direito pode ser excluída da análise do Poder Judiciário, a doutrina ensina que a ausência de procedimento próprio para a tutela de determinado direito coletivo não pode ser óbice à propositura da ação coletiva. DONIZETTI e CERQUEIRA chegam a afirmar que “nada impede, portanto, a propositura de uma ação coletiva inominada”. Essa idéia é anunciada no artigo 83 do CDC. Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este Código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua efetiva e adequada tutela. 2.4. Princípio da Ampla Divulgação da Demanda Coletiva e Princípio da Informação aos Órgãos Competentes: - O princípio da ampla divulgação decorre, diretamente, do artigo 94 do CDC. Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor. A doutrina ressalta que o princípio da ampla divulgação da demanda coletiva visa possibilitar: (i) que os autores individuais possam requerer a suspensão de seus processos; (ii) a propositura de uma única demanda coletiva, evitando casos de litispendência e coisa julgada; (iii) a intervenção de amicus curiae; (iv) a execução individual da sentença coletiva; (v) o controle da atuação adequada do legitimado extraordinário. DIDIER e ZANETTI JR. pontuam que se trata de princípio de encontra raízes na fair notice do direito norte-americano. - A seu turno, o princípio da informação aos órgãos competentes decorre dos arts. 6◦ e 7◦ da Lei de Ação Civil Pública: 9 Art. 6◦. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil e indicando-lhe os elementos de convicção. Art. 7◦. Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as providências cabíveis. 2.5. Princípio da Indisponibilidade Temperada e da Continuidade da Demanda Coletiva: - O princípio da indisponibilidade temperada da ação coletiva liga-se, sobretudo, ao Ministério Público, por ter o dever institucional de atuar na defesa dos direitos coletivos em sentido lato. Assim, ao contrário do processo individual, em que a propositura ou não da ação encontra-se no âmbito da faculdade do indivíduo, no processo coletivo, constatada a lesão a um direito coletivo lato sensu, a propositura da ação coletiva é uma imposição. Todavia, essa obrigatoriedade de propositura da ação coletiva deve ser considerada temperada, justamente porque o MP deverá fazer um exame de oportunidade e conveniência quanto ao seu manejo. Um bom exemplo do princípio da indisponibilidade da ação coletiva encontra-se tratado no artigo 9◦ da Lei de Ação Civil Pública (lei 7.347/85): Art. 9◦. Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente. §1◦. Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos,sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público. §2◦. Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de informação. §3◦. A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme dispuser o seu regimento. §4◦. Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação. Ainda sobre o princípio da indisponibilidade temperada da ação coletiva, merece destaque a opinião de DONIZETTI e CERQUEIRA no sentido de aplicá-lo não só ao Ministério Público, mas também às defensorias públicas e à advocacia pública, forte 10 no argumento de que estes também são essenciais à Justiça e incumbindo-lhes igualmente velar pelos direitos coletivos em sentido lato. - Por sua vez, o princípio da continuidade da demanda coletiva encontra-se positivado no §3◦ do artigo 5◦ da Lei de Ação Civil Pública (lei 7.347/85): Art. 5◦. (...) §3◦. Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. Sobre o dispositivo, duas observações: (i) não se trata de abandono da demanda coletiva apenas por associação, mas por qualquer legitimado; (ii) a continuidade também é temperada, pois não pode obrigar o Ministério Público ou outro legitimado extraordinário a dar prosseguimento a uma demanda infundada. 2.6. Princípio da Obrigatoriedade da Execução da Sentença coletiva: - Esse princípio decorre, primordialmente, do artigo 15 da Lei de Ação Civil Pública (lei 7.347/85), que reza: Art. 15. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. No mesmo sentido, o artigo 100 do Código de Defesa do Consumidor: Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a liquidação e execução da indenização devida. Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o Fundo criado pela Lei n◦ 7.347, de 24 de julho de 1985. O artigo 15 da LACP deixa claro que, se a propositura da ação coletiva comporta algum temperamento, a execução da sentença de procedência é absolutamente obrigatória, sem exceção. Logicamente, qualquer legitimado que não promova a execução da sentença coletiva poderá ser substituído por outro, a fim de assegurar a efetiva execução da sentença de procedência. O artigo 100 do CDC, por sua vez, trata das sentenças proferidas em ações coletivas que buscam a tutela de direitos individuais homogêneos: nesse caso, o 11 legitimado extraordinário busca uma sentença condenatória genérica, que será posteriormente liquidada e executada pelos substituídos, ou seja, pelos legitimados individuais. Ocorre que, não raro, tais legitimados individuais não comparecem para realizar a devida liquidação/execução, quer por não terem conhecimento da ação coletiva e da sentença condenatória (daí a importância do princípio da máxima divulgação), quer por falta de interesse econômico. Nesses casos, decorrido um ano sem o comparecimento significativo desses substituídos, deverá o Ministério Público ou qualquer outro legitimado promover a execução do julgado, que agora será em caráter coletivo e a fim de beneficiar toda a coletividade, pois que os valores apurados devem ser depositados nos fundos estatais de proteção aos direitos coletivos lato sensu. Trata-se do instituto que hoje é conhecido como fluid recovery ou reparação fluida. 2.7. Princípio da Extensão Subjetiva da Coisa Julgada e do Transporte in utilibus - Pela extensão subjetiva da coisa julgada, a decisão do processo coletivo se estende ou erga omnes ou ultra parts, beneficiando os membros da coletividade. Essa extensão subjetiva da coisa julgada (ou de seus efeitos, como oportunamente se estudará) é inerente ao processo coletivo, sendo um de seus elementos caracterizadores. - Já o transporte in utilibus permite que uma sentença, proferida em ação coletiva para a defesa de direitos essencialmente coletivos possa ser transportada para uma ação individual, originada, por exemplo, daquele mesmo fato. 2.8. Princípio da Intervenção Obrigatória do Ministério Público: - Esse princípio decorre do artigo 5◦, §1◦ da Lei de Ação Civil Pública, que reza: Art. 5◦. (...) §1◦. O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei. A intervenção do Ministério Público em uma demanda coletiva se dá de duas formas: na qualidade de autor e na qualidade de custos legis. Ora, quando atua na qualidade de Autor qualquer dúvida há, pois que o MP será parte na demanda. Surge o questionamento naqueles outros casos, em que não propôs a ação e, a nosso ver, sempre que houver uma ação coletiva não proposta pelo MP, esse deverá atuar como fiscal da lei, sendo intimado dos atos processuais. 12 2.9. Princípio do Interesse Jurisdicional no Conhecimento do Mérito do Processo Coletivo: - De acordo com esse princípio, visto por alguns como um subprincípio da instrumentalidade das formas, deve o juiz flexibilizar ao máximo as regras de procedimento, a fim de assegurar o direito da sociedade em ver apreciado o mérito da ação coletiva. Na seara, pois, da tutela dos direitos coletivos, o processo deve ser visto, mais do que nunca, como mero instrumento de viabilização da prestação da tutela jurisdicional. - Por fim, cita a doutrina ainda dois princípios: certificação da demanda coletiva e competência adequada. O primeiro não nos parece aplicável ao sistema brasileiro, e o segundo ainda carece de aprofundamento doutrinário, pelo que não serão comentados.
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