Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Novembro de 2010 Habilidade Clínicas para Farmacêuticos do Serviço Público Módulo 5. Saúde Mental Cassyano J Correr; Michel Otuki; Paula Rossignoli 2 OBJETIVO GERAL O Módulo IV – Saúde Mental – aborda, por meio de artigos selecionados e casos clínicos, as questões mais relevantes em termos de saúde mental e uso de medicamentos em transtornos psiquiátricos. É dada também especial atenção aos aspectos do relacionamento farmacêutico-paciente, tratando de aspectos como o vínculo e a dinâmica transferencial. O objetivo é fornecer os subsídios técnicos e clínicos para a provisão de serviços farmacêuticos clínicos a esses pacientes. Expediente: Guia de referência do curso “Habilidades Clínicas para Farmacêuticos do Serviço Público de Saúde” – Módulo V – Saúde Mental Guia Elaborado por: Cassyano J. Correr Farmacêutico, Ph.D., M.Sc. Departamento de Farmácia Universidade Federal do Paraná - UFPR Michel F. Otuki Farmacêutico, Ph.D., M.Sc. Departamento de Ciências Farmacêuticas Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG Paula S. Rossignoli Farmacêutica, M.Sc. Núcleo de Ciências da Saúde Universidade Positivo - UP Organização : Comissão de Serviço Público – CRF-PR Coordenação Geral do Curso: Natália Maria Maciel Guerra Vice-Coordenação: Deise Sueli de Pietro Caputo Coordenação Didática: Cassyano Januário Correr Apoio: Conselho Regional de Farmácia do Estado do Paraná – CRF-PR Associação Paranaense de Farmacêuticos – ASPAFAR Grupo de Pesquisa em Prática Farmacêutica - UFPR Novembro de 2010 Curitiba, PR 3 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Acolhimento do paciente e cidadania Relacionamento Profissional – Paciente Vínculo e responsabilidade da equipe A rede de atenção à saúde mental Classificação dos transtornos psíquicos Depressão Transtorno Bipolar Ansiedade LEITURA COMPLEMENTAR RECOMENDADA Ministério da Saúde. Legislação em Saúde Mental. Centro Cultural da Saúde/CGDI. 48 p. Disponível em: http://dtr2001.saude.gov.br/editora/produtos/livros/zip/02_0618_M.zip García A, Gastelurrutia, MA. Guía de Seguimiento Farmacoterapéutico sobre DEPRESIÓN. Universidad de Granada. 56 p. Disponível em: http://www.ugr.es/~cts131/esp/guias/GUIA_DEPRESION.pdf Ministério da Saúde. Reforma Psiquiátrica e política de Saúde Mental no Brasil. 56 p. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/relatorio_15_anos_caracas.pdf Secretaria do Estado da Saúde de Minas Gerais. Atenção em Saúde Mental – SUS. 238 p. Disponível em: http://www.saude.mg.gov.br/publicacoes/linha-guia/linhas-guia/LinhaGuiaSaudeMental.zip 4 http://amacaca.files.wordpress.com/2010/05/saude_mental1.jpg APONTAMENTOS SOBRE A RELAÇÃO FARMACÊUTICO-PACIENTE Acolhimento do Paciente Relação Transferencial Modelos de Relacionamento 29/10/2010 1 A Relação Farmacêutico-Paciente No Contexto da Atenção Farmacêutica Antônio Mainieri Psicólogo Clínico (Esp.) Instituto de Geriatria e Gerontologia do Paraná Parte I O Vínculo ProfissionalO Vínculo Profissional Vínculo Profissional • Não existe prática clínica sem o contato com o paciente. <3> p • Ter contato não significa ter vínculo. Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 2 • Supõe uma empatia mínima, um desejo assumido de aproximação para melhor compreensão da pessoa enferma ou Vínculo Profissional <4> compreensão da pessoa enferma ou adoecida. • Na vinculação o paciente deixa de ser um “caso” para ser considerado pessoa. Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. • Basta uma disposição primária no profissional em relacionar-se com o paciente de modo mais humano, mais Vínculo Profissional <5> p , personalizado, menos objetalizado. • A vinculação do profissional com seu paciente o alimenta afetivamente. Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. • O paciente, principalmente em fase aguda, sofre naturalmente de uma regressão em sua personalidade. Vínculo Profissional <6> • Fica carente, solicitando muita atenção. Seu núcleo narcíseo é estimulado e passa a sentir-se o centro do mundo ou o pior dos excluídos. Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 3 EQÜIDISTÂNCIA Critérios Do Vínculo Profissional Em Saúde <7> “É o espaço que necessita para não perder o foco” Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. EQÜIDISTÂNCIA • Espaço de manobra suficiente para lidar não neuroticamente com estas vivencias (as trazidas pelo paciente) e desenvolver uma Critérios Do Vínculo Profissional Em Saúde <8> trazidas pelo paciente) e desenvolver uma relação mais adequada e saudável. • O paciente projeta pesado no profissional e este sente o golpe. Como reflexo defensivo disso temos alienação e objetalização do paciente. Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. VIGILÂNCIA PARA O NÃO JULGAMENTO MORAL DO PACIENTE Critérios Do Vínculo Profissional Em Saúde <9> “Julgar automaticamente em qualquer nível pode embaraçar o relacionamento e até o raciocínio clínico” Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 4 VIGILÂNCIA PARA O NÃO JULGAMENTO MORAL DO PACIENTE Critérios Do Vínculo Profissional Em Saúde <10> • O reflexo que se desenvolve no lugar do julgamento é o da compreensão • Vincular com eqüidistância e sem julgamento moral saneia o procedimento profissional. Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Noção do LIMITES e RESPONSABILIDADES do PODER DE INFLUENCIA sobre o PACIENTE Critérios Do Vínculo Profissional Em Saúde <11> • A cilada da ONIPOTÊNCIA é muito sedutora Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. ELUCIDAR PARA SI O TEMA CENTRAL DA QUEIXA Critérios Do Vínculo Profissional Em Saúde <12> • Compreensão simbólica dos dramas existenciais que se misturam ao sofrimento atual Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 5 Eqüidistância, a Vigilância para o não Julgamento Moral, Vigilância Quanto à Cil d d P d C ã Critérios Do Vínculo Profissional Em Saúde <13> Cilada do Poder e a Compreensão Simbólica do Processo pelo Qual o Paciente Está Passando; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. • São Aspectos que auxiliam na higienização da vinculação do profissional; Critérios Do Vínculo Profissional Em Saúde <14> • A base psicológica mais profunda da vinculação profissional é a relação transferêncial Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Parte II A Relação TransferencialA Relação Transferencial 29/10/2010 6 • Observa-se em qualquer relacionamento humano A Relação Transferencial <16> • A relação profissional de saúde e paciente é recheada de vivências trasferênciais Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. • O paciente joga inconscientemente seus conteúdos sobre o profissional, este também projeta os seus sobre o paciente (relação A Relação Transferencial <17> p j p ( ç transferêncial) • O jogo transferêncial se dá sempre independentemente da vontade e da atenção Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. • É inútil querer evitar esse fenômeno A Relação Transferencial <18> • O importanteé identificá-lo, compreendê-lo e utilizá-lo a favor da relação profissional- paciente Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 7 • É necessário perceber o paciente e a si mesmo, como ele está e como o profissional está, o que cada um provoca no outro, A Relação Transferencial <19> , q p , perceber a alternância de sentimentos de cada pólo Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. • Muitas vezes, os pacientes não querem ficar bons, não querem se curar, e o cúmplice inocente nessa história é o profissional de A Relação Transferencial <20> inocente nessa história é o profissional de saúde, que “curte” de forma narcísea e distraidamente ser o pólo do qual sua clientela depende Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. • Não zelar para que o paciente não acenda sua própria força de cura é omitir-se de um A Relação Transferencial <21> passo fundamental, é operar de forma não profissional Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 8 • A “Cura Transferêncial” é um termo que se aplica ao “Efeito Placebo” A Relação Transferencial <22> • Um paciente pode se sentir melhor só pelo fato de estar sendo atendido (ouvido). Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Sentimentos contratranferenciais: • Toda pessoa carrega consigo seu pacote A Relação Transferencial <23> • Toda pessoa carrega consigo seu pacote pessoal de complexos afetivos (tecidos psíquicos permanentemente inflamados) • TocouÆ doeu Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Sentimentos contratranferenciais: • A relação enquanto vivência transferêncial, envolve A Relação Transferencial <24> complexos dos dois lados; • Cada profissional acaba, sem perceber muito, “cultivando uma clientela que se adapta ao seu jeito de ser” Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 9 Sentimentos contratranferenciais: • O profissional que não se comove, sempre frio, sem A Relação Transferencial <25> nunca perder a pose, soberbo, acima dos sentimentos humanos. Isto nada mais é que uma defesa psicológica grave. Desumaniza, substitui o sentimento e o calor da troca humana pelo valor relativo do conhecimento técnico, e ainda objetaliza o paciente Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. CIRCUITO DA COMUNICAÇÃO NA RELAÇÃO TRANSFERENCIAL A Relação Transferencial <26> • O circuito de comunicação da relação transferêncial pode ser vivido benéfica ou maleficamente Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. CIRCUITO DA COMUNICAÇÃO NA RELAÇÃO TRANSFERENCIAL Profissional Paciente <27>Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 10 CIRCUITO DA COMUNICAÇÃO NA RELAÇÃO TRANSFERENCIAL A Relação Transferencial <28> • Não identificar os próprios diálogos e não senti-los no paciente é deixar correr uma torneira aberta, que pode inundar o consultório de ressentimentos e adversidades ou outras situações estranhas à consulta propriamente dita; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. PROFISSIONAL PACIENTE • A) sujeito -------------------------------------------- objeto Categorias da Relação Profissional Paciente <29> • B) sujeito -------------------------------------------- sujeito • C) objeto --------------------------------------------- sujeito • D) objeto --------------------------------------------- objeto Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Relação Sujeito-Objeto • É a forma de comunicação mais comum; • Não considera o paciente em condições <30> Não considera o paciente em condições de opinar sobre si próprio ou sua doença; • Anula sua condição primária de sujeito e deixa-se reduzir; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 11 Relação Sujeito-Objeto • Esta é a posição que mais causa intoxicação psíquica; P fi i l fi d t <31> • Porque o profissional fica com as duas partes de sujeito (a dele e a do paciente) projetadas sobre ele; • Toda responsabilidade é carregada sobre o profissional; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Relação Sujeito-Objeto • Aos poucos o profissional fica desnutrido; <32> • Esta vinculação assemelha-se ao tipo: • Pai-Filho • Mestre-Discípulo Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Relação Sujeito-Objeto • É importante lembrar que o paciente nunca é objeto absolutamente; <33> • Ele não “entrega o ouro”, sente-se acolhido, mas também acuado; • O agente curador interno fica anulado; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 12 Relação Sujeito-Sujeito • É a mais idealizada; • Nesta relação há espaço de honra para <34> Nesta relação há espaço de honra para opiniões, vivências e histórico do paciente; • O profissional não se coloca como “todo poderoso”; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Relação Sujeito-Sujeito • Esta relação ativa o poder autocurativo do paciente; <35> • Este é colocado na posição de co-autor de seu processo de cura; • Neste lugar, o paciente pode aceitar levar uma “carta” do farmacêutico ao médico; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Relação Sujeito-Sujeito • Nesta relação o profissional ensina no intuito de municiar a autonomia do paciente; <36> • E não aumentar a dependência e admiração deste; • É o papel de orientador de qualquer profissional da saúde; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 13 • É muito mais fácil tentarmos nos fixar no velho método científico, e deixarmos o resto de lado (sujeito-objeto); Relação Sujeito-Sujeito <37> • Os pacientes requerem de nós uma preparação à altura de sua importância; • Se consideramos o paciente tão humano e nobre quanto nós mesmos, então temos um trabalho pela frente; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. • A Entrevista Farmacêutico-Paciente, no acompanhamento farmacoterapêutico, passa a incluir, além da história Relação Sujeito-Sujeito <38> p , tradicional, o interesse pelo conteúdo trazido pelo paciente; “Acolhimento do paciente” Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Relação Objeto-Sujeito • O profissional deixa-se levar pela imposição ansiosa do paciente, que sabe exatamente o que quer e não <39> q q sai dali sem antes conseguir; • O profissional apresenta-se sem força do sujeito por razões pessoais, ou institucionais; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 14 Relação Objeto-Sujeito • Esta categoria é inspirada na relação empregado-patrão; <40> • Essa posição proporciona que nada seja mexido no paciente durante um relacionamento; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Relação Objeto-Sujeito • O paciente dá as cartas e só baixa o jogo que lhe interessa; <41> • O profissional é figurante de luxo, um servidor fiel e passivo; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Relação Objeto-Objeto • Parece impossível, mas não é! • Considere um situação de atendimento em <42> que ninguém está interessado, nem o profissional, nem o paciente; • O paciente vem para pegar um remédio ou fazer uma injeção sem motivação além de manter-se emauxílio doença; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 15 Relação Objeto-Objeto • O profissional, manipulando impessoalmente o material asséptico; <43> • Não há vida, só encenação e bocejos disfarçados. O relógio é um tortura e o tempo não passa; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Relação Objeto-Objeto • A vivência transferencial é predominantemente negativa, em ambos os sentidos; <44> • Não há relação interpessoal, o que há é satisfação de necessidades de cumprimento de obrigações; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Categorias de Relação • Essas quatro categorias cobrem o universo possível na relação profissional-paciente; <45> profissional paciente; • De todas, a melhor é a relação profissional sujeito - paciente sujeito; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. 29/10/2010 16 Categorias de Relação • Não devemos ingenuamente imaginar que será sempre possível converter uma relação a essa categoria especial; <46> • Muitas situações impõem as outras categorias, sem espaço para alternativas; Fonte: A Relação Profissional-Paciente - Luiz Geraldo Benetton, 2002. Considerações Finais • A economia que o profissional pensaria estar fazendo em acionar somente a abordagem analítica à l tá di i d i é d <47> qual está condicionado, ao invés de se esforçar em compreender mais abrangentemente a situação, é pura ilusão. • Um paciente não acolhido em sua comunicação se frustra e frustra o profissional porque acaba passando o recado, de um jeito ou outro, que não t d d fi i l Considerações Finais <48> gostou do modo que o profissional conduziu a situação; • Não foi entendido, não gostou de ser reduzido a um objeto sem vida, sem desejos, sem medos e necessidades; 29/10/2010 17 “R h ” Considerações Finais <49> “Regras para se ser humano” “Regras para se ser humano” Você receberá um corpo. Pode gostar dele ou odiá-lo, mas ele será seu durante essa rodada. Você aprenderá lições Você está matriculado <50> Você aprenderá lições. Você está matriculado numa escola informal de período integral chamada VIDA. A cada dia nesta escola, terá oportunidade de aprender lições. Você pode gostar das lições ou considerá-las irrelevante ou estúpida. Extraído de “Vivendo no tempo”, de Palden Jenkins, que não conhece o autor. “Regras para se ser humano” Não existem erros, apenas lições. O crescimento é um processo de tentativa e erro: experimentação. As experiências que não deram certo fazem parte do processo, assim como as bem sucedidas. <51> Cada lição será repetida até que seja aprendida. Cada lição será apresentada a você de diversas maneiras, até que a tenha aprendido. Quando isso ocorrer, poderá passar para a próxima. Extraído de “Vivendo no tempo”, de Palden Jenkins, que não conhece o autor. 29/10/2010 18 “Regras para se ser humano” O aprendizado nunca termina. Não existe parte da vida que não tenham lições. Se você esta vivo, há lições para aprender. <52> “Lá” não é melhor que “Aqui”. Quando o seu “lá” se tornar “aqui”, você simplesmente encontrará outro “lá”, que parecerá novamente melhor do que o “aqui”. Extraído de “Vivendo no tempo”, de Palden Jenkins, que não conhece o autor. “Regras para se ser humano” Os outros são apenas seus espelhos. Você não pode amar ou detestar algo em outra pessoa, a menos que isso reflita algo que você ama ou detesta em si mesmo. O que fizer de sua vida é responsabilidade sua <53> O que fizer de sua vida é responsabilidade sua. Você tem todos os recursos que necessita; o que fará com eles é de sua responsabilidade. A escolha é sua. As respostas estão dentro de você. Tudo o que tem a fazer é analisar, ouvir e acreditar. Extraído de “Vivendo no tempo”, de Palden Jenkins, que não conhece o autor. “Regras para se ser humano” VOCÊ SE ESQUECERÁ DE TUDO ISTO <54> TUDO ISTO... Extraído de “Vivendo no tempo”, de Palden Jenkins, que não conhece o autor. 5 INSÔNIA http://www.senado.gov.br/portaldoservidor/jornal/jornal77/Imagens/insonia.jpg 31 Rev Bras Psiquiatr 2000;22(1):31-4 atualização Insônia primária: diagnóstico diferencial e tratamento Primary insomnia: differential diagnosis and treatment Jaime M Monti Departamento de Farmacologia e Terapêutica do Hospital das Clínicas, Montevidéu, Uruguai A insônia primária é uma dissonia caracterizada pela dificuldade em iniciar e/ou manter o sono e pela sensação de não ter um sono reparador durante um período não inferior a 1 mês. Do ponto de vista polissonográfico, é acompanhada de alterações na indução, na continuidade e na estrutura do sono. Geralmente aparece no adulto jovem, é mais freqüente na mulher e tem um desenvolvimento crônico. A insônia primária é observada de 12,5% a 22,2% dos pacientes portadores de insônia crônica, sendo precedida em freqüência somente na insônia de depressão maior. A insônia primária crônica deve se diferenciar da insônia vinculada a uma higiene inadequada do sono, uma síndrome depressiva ou um transtorno de ansiedade generalizado. O tratamento da insônia primária inclui: higiene adequada do sono, terapia cognitiva e de conduta e uso de fármacos hipnóticos. Entre esses últimos, se destacam o zolpidem e a zopiclona, que melhoram significativamente o sono sem alterar sua estrutura ou induzir a uma reincidência da insônia logo após uma interrupção brusca. Além disso, o desenvolvimento de fármaco-dependência e de vício é muito pouco freqüente. Primary insomnia is a dyssomnia characterized by a complaint of difficulty in initiating or maintaining sleep and the absence of restorative sleep that lasts for at least 1 month. The polysomnographic test shows alterations in the induction, continuity and structure of sleep. Primary insomnia typically begins in young adulthood, has a chronic course, and it is more prevalent among women. Its prevalence among patients with chronic insomnia ranges from 12.5% to 22.2%. Primary insomnia must be distinguished from insomnia related to inadequate sleep hygiene or another mental disorder, such as generalized anxiety disorder or a mood disorder. The treatment of primary insomnia consists of nonpharmacological strategies (sleep hygiene, behavior-cognitive therapy) and sleep-promoting medication (e.g. hypnotics). Few differences exist between benzodiazepines, zopiclone and zolpidem in terms of effectiveness in inducing and maintaining sleep. However, in contrast to benzodiazepines, zolpidem and zopiclone do not suppress slow-wave sleep. Rebound insomnia and drug addiction are uncommon. Resumo Summary A insônia primária no contexto das dissonias Dentro das alterações do sono, encontram-se os transtor- nos primários do sono. A etiologia desses últimos não se relaciona com uma afecção psiquiátrica, uma doença médica ou dependência a um fármaco,1 o que leva a sugerir que po- deria estar ligada a alterações dos mecanismos que regulam o sono e a vigília, agravados com freqüência por fatores de condicionamento. Os transtornos primários do sono se subdividem em dissonias (caracterizadas por produzir sonolência diurna excessiva ou dificuldade para iniciar e/ou manter o sono) e em parassonias (caracterizadas pela presença de condutas anormais associa- das ao sono, tal como é o caso do sonambulismo e sonilóquia). Características clínicas da insônia primária Dentro das dissonias se encontra a insônia primária, cujas características fundamentais são a dificuldade para iniciar ou manter o sono e a sensação de não ter tido um sono reparador durante período não inferior a 1 mês. O transtorno do sono pode dar lugar a um mal-estar clinicamente significativo ou a umadeterioração social no trabalho ou em outras áreas impor- tantes de atividade do paciente. Freqüentemente o paciente com diagnóstico de insônia pri- mária apresenta dificuldade para começar a dormir e acorda se- guidamente durante a noite. É menos freqüente o paciente se queixar unicamente de não ter um sono reparador, isto é, ter a sensação de que o sono foi inquieto e superficial. Rev Bras Psiquiatr 2000;22(1):31-4 32 Insônia primÆria Monti JM A insônia primária se associa habitualmente a um aumento do nível de alerta fisiológico e psicológico durante a noite, junto a um condicionamento negativo para dormir. A preocu- pação intensa e o mal-estar relacionados com a impossibilida- de de dormir dão lugar a um círculo vicioso, pois quanto mais o paciente tenta dormir, mais frustrado e incomodado se sen- te, o que acaba dificultando o sono. Com freqüência os paci- entes dizem dormir melhor fora do seu quarto e do seu ambi- ente. A insônia crônica pode acarretar uma diminuição da sen- sação de bem-estar durante o dia, caracterizada pela alteração do estado de ânimo e da motivação, diminuição da atenção, da energia e da concentração e aumento da sensação de fadi- ga e mal-estar. Embora existam sintomas de ansiedade ou de depressão, eles não permitem estabelecer o diagnóstico de um transtorno men- tal. No entanto, a alteração crônica do sono, que caracteriza a insônia primária, constitui um fator de risco para o aparecimen- to posterior de um transtorno de ansiedade ou depressão.2 Os pacientes que apresentam insônia primária crônica utilizam de maneira inadequada hipnóticos e álcool para favorecer o sono, e bebidas com cafeína ou outros estimulantes para combater a fadiga diurna. A Classificação Internacional dos Transtornos do Sono3 considera a insônia psicofisiológica e a insônia idiopática dentro das dissonias. Do ponto de vista clínico e polissonográfico existe uma grande semelhança entre essas entidades clínicas e a insônia primária. Deve-se assinalar que na revisão sobre o tema, realizada por Reynolds et al4 antes do aparecimento do DSM-IV, os autores concluíram que a evi- dência empírica existente sobre a confiabilidade e validade desses subtipos de transtornos do sono era limitada, e que não existia uma base firme para abandonar o conceito de DSM- III-R da insônia primária. Descobertas no laboratório do sono A polissonografia indica a existência de alterações da indução, da continuidade e da estrutura do sono. Dessa maneira, a latên- cia para o começo da etapa 2 do sono não-REM supera normal- mente 30 minutos. O tempo de vigília logo após o começo do sono é superior aos 60-90 minutos e o número de vezes em que a pessoa acorda durante a noite é com freqüência maior que 10. A duração do tempo total do sono não supera 5-6 horas e a eficiência do sono (relação entre o tempo que o paciente perma- nece deitado e o tempo durante o qual dorme) é geralmente inferior a 80-85%.5 Relação da insônia primária com a idade e o sexo A insônia primária é muito pouco freqüente durante a infân- cia e a adolescência. Aparece geralmente no adulto jovem (en- tre 20 e 30 anos) e se intensifica gradativamente. Com freqüên- cia, o paciente procura ajuda médica vários anos depois da insônia ter iniciado. A insônia primária é mais freqüente na mulher. Parece existir uma predisposição genética feminina para um sono superficial e alterado, embora até o presente não tenham sido feitos estudos genéticos e/ou familiares para resolver o problema. Desenvolvimento da insônia primária Os fatores que desencadeiam a insônia primária podem ser diferentes daqueles que mantêm o processo. Na maioria dos casos, o início é repentino, coincidindo com uma situação de estresse psicológico (tristeza, afastamento de um familiar), so- cial (perda do emprego, dificuldade econômica) ou médico (iminência de uma intervenção cirúrgica). A insônia primária persiste geralmente muito tempo depois do desaparecimento da causa original, devido à presença de um nível elevado de alerta e de um condicionamento negativo. Incidência da insônia primária Coleman et al6 analisaram 5.000 registros polissonográficos correspondentes a 11 Centros para o Estudo e Tratamento dos Transtornos do Sono. As alterações do sono e da vigília foram diagnosticadas de acordo com a nosologia proposta pela As- sociação dos Centros para o Estudo do Sono7 e o sistema de classificação proposto pelo DSM-III.8 A amostra de 26% apre- sentava dificuldade para o início e a manutenção do sono (in- sônia). Aproximadamente 50% desses pacientes tinham um di- agnóstico maior de depressão. Desses pacientes com insônia, 15% eram portadores de uma insônia psicofisiológica (que foi assimilada à insônia primária). Mais recentemente, Buysse et al9 estudaram 216 pacientes que se queixavam de insônia e caracterizaram seu tipo e freqüência de acordo com a Classificação Internacional dos Transtornos do Sono,10 o DSM-IV1 e o ICD-10.11 De acordo com a Classificação Internacional dos Transtornos do Sono, o diagnóstico mais usu- al foi a insônia associada a um transtorno do humor (32,2%), seguido de uma insônia psicofisiológica (12,5%). Com relação ao DSM-IV, os diagnósticos mais freqüentes foram de insônia rela- cionada à outra afecção psiquiátrica (44% dos casos) e de insô- nia primária (22,2% dos pacientes). Pode-se concluir, de acordo com estudos realizados em centros especializados, que entre 12,5% e 22,2% dos pacientes com insônia crônica apresentam um diagnóstico de insônia primária crônica. Diagnóstico diferencial A insônia primária deve diferenciar-se de: 1) Higiene inadequada do sono (ver mais adiante). 2) Transtorno afetivo. Isso é especialmente difícil na depressão “mascarada” (quando o paciente não tem a sensação consciente de tristeza ou de falta de esperança). A diferença se estabelece com base na presença de signos da depressão, como o despertar precoce na madrugada, a anorexia, a diminuição da libido, a varia- ção diurna do humor (pior durante a manhã), a constipação etc. Também devem ser levados em consideração a existência de even- tos recentes que possam levar à depressão e de indicadores bioló- gicos como a diminuição da latência para o começo do sono REM. 3) Transtorno de ansiedade generalizada. Esse diagnóstico se realiza quando os sintomas psicológicos e somáticos da an- siedade são predominantes. 33 Rev Bras Psiquiatr 2000;22(1):31-4 Insônia primÆria Monti JM Tratamento da insônia primária A insônia primária é um transtorno multidimensional e seu tratamento deverá combinar medidas não farmacológicas e far- macológicas. As estratégias não farmacológicas incluem a higi- ene do sono e a terapia cognitiva e de conduta. Em relação à higiene do sono, os pacientes serão aconse- lhados a: realizar exercícios físicos exclusivamente durante a manhã ou nas primeiras horas da tarde; comer uma refeição leve acompanhada de ingestão de água limitada durante o jantar; evitar a nicotina, o álcool e as bebidas que contenham cafeína (café, chá, infusão de erva-mate, bebidas “cola” e in- clusive o guaraná); providenciar que a cama, o colchão e a temperatura do quarto sejam agradáveis; regularizar a hora de deitar e levantar; utilizar o quarto somente para dormir; e man- ter a atividade sexual. Terapias de conduta têm sido desenvolvidas durante os últimos anos para ajudar o paciente com insônia primária. As mesmas se dirigem a reduzir a ansiedade e a apreensão que, embora em grau reduzido, incidem marcadamente no quadro clínico.12 A forma de terapia de conduta utilizada com maior freqüência é a de relaxamen- to que compreende uma série de procedimentos, como relaxamen- to muscular, meditação transcedental, ioga, biorretroalimentação e controle de estímulos. Pode-se ainda acrescentar a terapia de con- duta.13 Segundo Montgomery et al,14 os tratamentos baseados unicamente no relaxamento muscular são deêxito limitado, en- quanto os que se dirigem a melhorar o desamparo do paciente e a diminuir o alerta emocional e cognitivo são mais efetivos. O uso de fármacos hipnóticos desempenha um papel impor- tante na administração da insônia primária. Diversos tipos de medicamentos têm sido utilizados como hipnóticos durante os últimos anos. Os derivados benzodiazepínicos foram introduzi- dos na década de 70 e têm sido indicados amplamente durante os últimos 25 anos.15 Recentemente três compostos não relaciona- dos estruturalmente com os benzodiazepínicos passaram a estar disponíveis para o uso clínico. Esses são, respectivamente, a zopiclona (derivado da ciclopirrolona), o zolpidem (derivado da imidazopiridina) e o zaleplon (derivado da pirazolopirimidina). O midazolam (derivado benzodiazepínico) e o zaleplon são fárma- cos de vida média de eliminação plasmática ultracurta (1 hora), enquanto o triazolam (derivado benzodiazepínico), o zolpidem e a zopiclona têm vida média curta (2h a 3,5h). Por outro lado, o temazepam e o flunitrazepam (derivados benzodiazepínicos) têm vida média de duração intermediária (10h a 20h).16 Independentemente de sua estrutura química, todos os hip- nóticos mencionados diminuem a latência para o início da etapa 2 do sono não-REM, o número de vezes que o paciente acorda durante a noite e o tempo de vigília logo após o início do sono em um paciente com insônia primária. Em geral, o incremento do tempo total de sono obtido com a zopiclona, o zolpidem e o temazepam oscila entre 6h e 8h. Por outro lado, o midazolam e o zaleplon incrementam a duração do sono no máximo de 2h a 3h, o que é um grave inconveniente para o paciente, uma vez que ele acorda no meio da noite sem poder conciliar o sono. Todos os hipnóticos benzodiazepínicos diminuem acentua- damente o sono com ondas lentas (sono profundo) e o sono REM (com sonhos). Além disso, depois de algumas semanas de tratamento, começa a se observar a tolerância ao efeito hip- nótico em uma porcentagem elevada de pacientes. A retirada brusca dos derivados benzodiazepínicos de ação hipnótica com vida média curta ou intermediária (midazolam 15 mg, triazolam 0,25 mg, flunitrazepam 1 mg) dá lugar a uma reincidência da insônia (acima dos valores anteriores ao início do tratamento) que pode persistir durante 2 ou 3 noites. Outra complicação freqüente durante o uso prolongado de benzodiazepínicos é o desenvolvimento de uma dependência aos fármacos e de um vício não inferior a 30-45% dos pacientes com insônia primária. Os hipnóticos recentemente introduzidos (zopiclona 7,5 mg, zolpidem 10 mg) não modificam a estrutura do sono, ou seja, não diminuem o sono com ondas lentas e o sono REM. A rein- cidência da insônia logo após a suspensão brusca do tratamen- to é muito pouco freqüente, bem como o desenvolvimento de uma dependência aos fármacos.17 Do ponto de vista subjetivo, esses fármacos diminuem o tem- po de indução do sono, aumentam sua duração e dão lugar a um sono reparador e tranqüilo. Entre os efeitos adversos, observados durante a administração de fármacos hipnóticos, incluem-se a sonolência e a fadiga durante as primeiras horas da manhã. Os hipnóticos benzodiazepínicos alteram a memória anterógrada e podem afetar negativamente a esfera cog- nitiva e induzir disartria e ataxia em pacientes mais velhos e de tercei- ra idade. A zopiclona causa o aparecimento de gosto amargo na boca, o que freqüentemente obriga a abandonar seu uso. Embora a melatonina não seja um hipnótico, mas um ressincronizador do sono, tem mostrado certa efetividade no tratamento da insônia primária leve ou moderada do idoso. Em um estudo recente, no qual se incluíram pacientes de terceira e quarta idade com insônia primária crônica, a melatonina em do- ses de 3 mg deu lugar a um aumento clinicamente significativo do tempo total do sono em 5 de cada 10 pacientes.18 Não existem normas estritas sobre a duração do tratamento da insônia primária crônica com fármacos hipnóticos. Embora alguns autores sugiram que os hipnóticos não devem ser admi- nistrados durante períodos maiores de 1 a 2 meses, em muitas circunstâncias é necessário prolongar o tratamento durante meses ou anos. Considera-se que privar pacientes com insônia primária severa de uma medicação efetiva, especialmente os hipnóticos que apareceram recentemente, pode alterar signifi- cativamente a qualidade de vida familiar, social e do trabalho, e levar em médio prazo ao aparecimento de um transtorno de ansiedade ou uma síndrome depressiva. Uma alternativa ao tratamento farmacológico contínuo é o uso intermitente de um fármaco hipnótico (“em demanda”) de 4 a 5 dias por semana. Essa forma de administrar o hipnótico pode ser aceitável em pacientes com insônia primária leve ou moderada. Fármacos como o zolpidem estão especialmente in- dicados para esse tipo de tratamento, uma vez que a propensão a uma reincidência da insônia, quando sua administração é sus- pensa durante 1 a 2 dias, é mínima. Fontes de financiamento e conflitos de interesse não declarados. Rev Bras Psiquiatr 2000;22(1):31-4 34 Insônia primÆria Monti JM Referências 1. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders. 4th ed. Washington (DC): American Psychiatric Press; 1994. 2. Morin CM, Ware JC. Sleep and psychophathology. Appl Prevent Psychol 1996;5:221-4. 3. American Sleep Disorders Association. International classification of sleep disorders, revised: diagnostic and coding manual. Rochester, Minnesota: American Sleep Disorders Association; 1997. 4. Reynolds CF, Kupfer DJ, Buysse DJ, Coble PA, Yeager A. Subtyping DSM-III-R primary insomnia: a literature review by the DSM-IV work group on sleep disorders. Am J Psychiatry 1991;148:432-8. 5. Monti JM. Fármacos hipnóticos. In: Flórez J, Armijo JA, Mediavilla A, editores. Farmacología humana. 2ª ed. Barcelona: Masson; 1997. p. 469-76. 6. Coleman RM, Roffwarg HP, Kennedy SJ, Guilleminault C, Cinque J, Cohn MA. Sleep-wake disorders based on a polysomnographic diagnosis. A national cooperative study. JAMA 1982;247:997-1003. 7. Association of Sleep Disorders Centers: diagnostic classification of sleep and arousal disorders. Prepared by the Sleep Disorders Classification Committee. Roffwarg H, chairman. Sleep 1979;2:1-137. 8. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders. 3rd ed. Washington (DC): American Psychiatric Press; 1980. 9. Buysse DJ, Reynolds CF, Kupfer DJ, Thorpy MJ, Bixler E, Manfredi R, et al. Clinical diagnoses in 216 insomnia patients using the International classification of sleep disorders (ICSD), DSM-IV and ICD-10 categories. A report from the APA/NIMH DSM-IV field trial. Sleep 1994;17:630-7. 10. Diagnostic Steering Committee, Thorpy JM, Chairman. ICSD: International classification of sleep disorders: diagnostic and coding Manual. Rochester, Minnesota: American Sleep Disorders Association; 1990. 11. World Health Organization. International statistical classification of diseases and related health problems (ICD-10). 10th ed. Geneva: World Health Organization; 1992. 12. Hauri PJ, Esther MS. Insomnia. Mayo Clin Proc 1990;65:869-82. 13. Bootzin RR, Nicassio PM. Progress in behavior modifications. New York: Academic Press; 1978. p. 1-45. 14. Montgomery I, Perkin G, Wise D. A review of behavioral treatment for insomnia. J Behav Ther Exp Psychiatry 1975;6:93-100. 15. Monti JM. Benzodiazépines et nouveaux composés non benzodiazépiniques. In: Billiard M, editor. Le sommeil normal et pathologique. 2nd ed. Paris: Masson; 1998. p. 208-16. 16. Monti JM, Monti D. Pharmacological treatment of chronic insomnia. CNS Drugs 1995;4:182-94. 17. Monti JM, Monti D, Estévez F, Giusti M. Sleep in patients with chronic primary insomnia during long-term zolpidem administration and after its withdrawal. Int Clin Psychopharmacol 1996;11:255-63.18. Monti JM, Alvariño F, Cardinali D, Savio I, Pintos A. Polysomnographic study of the effect of melatonin on sleep in elderly patients with chronic primary insomnia. Arch Geront Geriat 1999;28:85-98. Correspondência Jaime M Monti J. Zudañez 2833/602 Montevideo 11300, Uruguay Fax: (00xx59) 82 487-3787 E-mail: jmonti@mednet.org.uy 6 ATIVIDADE EM GRUPO AB, masculino, 21 anos, estudante de farmácia, vai à farmácia com uma prescrição de diazepam 10 mg 1 comprimido à noite. O medicamento foi prescrito porque nas últimas 4 a 5 semanas ele tem apresentado insônia. Embora não tenha dificuldade para pegar no sono e não acorde durante à noite, AB tem despertado precocemente às 4h00. Durante o dia ele se sente muito cansado, ansioso e desanimado. Após 3 dias de uso do diazepam ele retorna à farmácia queixando-se que ainda não consegue dormir adequadamente. _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 7 ANSIEDADE http://www.feebrs.org.br/images/noticias/n1539p1_16e47c4_thumb.jpg 1 Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina O Projeto Diretrizes, iniciativa conjunta da Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidas neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente. Autoria: Associação Brasileira de Psiquiatria Transtornos de Ansiedade: Diagnóstico e Tratamento Elaboração Final: 24 de janeiro de 2008 Participantes: Versiani M 3Transtornos de Ansiedade: Diagnóstico e Tratamento Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina DIAGNÓSTICO TRANSTORNO DE PÂNICO1,2(D) A manifestação central do transtorno de pânico é o ataque de pânico, um conjunto de manifestações de ansiedade com início súbito, rico em sintomas físicos e com duração limitada no tempo, em torno de dez minutos. Os sintomas típicos são: sensação de sufocação, de morte iminente, taquicardia, tonteiras, sudorese, tremores, sensação de perda do controle ou de “ficar louco”, alterações gastrointestinais. Os primeiros ataques de pânico costumam vir sem qualquer aviso, de modo totalmente inesperado. Depois podem surgir a partir de um nível maior de ansiedade, a ansiedade antecipatória, ou serem precipitados pelo contato com algum tipo de situação. O transtorno de pânico inicia com os ataques e costuma progredir para um quadro de agorafobia, no qual o paciente passa a evitar determinadas situações ou locais por causa do medo de sofrer um ataque. Situações e locais típicos da agorafobia são: túneis, engarrafamentos, avião, grandes espaços abertos, shopping centers, ficar sozinho, sair sozinho. Em todas essas situações existe um denominador comum – o problema que o paciente enfrenta, caso nelas tenha um ataque. Com a progressão do transtorno, o paciente fica cada vez mais dependente dos outros e com seu espectro de atividades cada vez mais limitado. Outros transtornos mentais são comumente associados com o transtorno de pânico e precisam ser bem investigados para a elaboração de um plano de tratamento adequado, como depressão ou abuso de álcool ou drogas. TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL)1,2(D) No transtorno de ansiedade social (fobia social), os sintomas de ansiedade ocorrem em situações nas quais a pessoa é observada pelos outros. Situações típicas compreendem: escrever, assinar, comer e fazer uma apresentação na presença dos outros. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 4 Transtornos de Ansiedade: Diagnóstico e Tratamento Em contato com os outros, especialmente estranhos, o paciente sofre de sintomas como tremores, sudorese, enrubescimento, dificuldade de concentração (“branco na cabeça”), palpitações, tonteira e sensação de desmaio. Diferentemente dos ataques de pânico, os sintomas surgem durante as situações sociais temidas e duram até o contato com os outros terminar. O transtorno de ansiedade social começa muito cedo na vida da pessoa, há manifestações desde a infância, mas se torna mais evidente no início da vida adulta na medida em que os contatos com os outros se tornam mais obrigatórios. A evolução do transtorno de ansiedade social vai limitando cada vez mais a vida da pessoa e pode gerar complicações como o abuso e dependência de álcool ou depressão. TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO1,2(D) Obsessões são pensamentos, imagens e impulsos que ocorrem de modo repetitivo, intrusivo, usualmente associados com ansiedade, que a pessoa não consegue controlar, apesar de reconhecer seu caráter anormal. Compulsões são atos ou comportamentos, recorrentes e repetitivos, que o paciente é forçado a realizar, sob pena de entrar em um estado de acentuada ansiedade. As compulsões costumam se elaborar em rituais com atos relacionados com limpeza, verificação e contagem. O paciente toma dez, trinta banhos por dia, de acordo com um esquema predeterminado. Lava as mãos toda vez que se encosta a certo tipo de objeto. Conta as cadeiras de um cinema para se sentar, exatamente em determinada posição. Certifica-se, inúmeras vezes, de que não deixou uma porta aberta. As obsessões e as compulsões surgem, ou tornam-se evidentes, no início da vida adulta. Tendem a piorar com a evolução da doença e a ocupar uma parcela cada vez maior do tempo do indivíduo. O grau de incapacitação é sempre considerável e pode atingir extremos quando o paciente torna- se virtualmente paralisado pelos sintomas, incapaz até de levar um garfo até a boca. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA1,2(D) No transtorno de ansiedade generalizada, as manifestações de ansiedade oscilam ao longo do tempo, mas não ocorrem na forma de ataques, nem se relacionam com situações determinadas. Estão presentes na maioria dos dias e por longos períodos, de muitos meses ou anos. O sintoma principal é a expectativa apreensiva ou preocupação exagerada, mórbida. A pessoa está a maior parte do tempo preocupada em excesso. Além disso, sofre de sintomas como inquietude, cansaço, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular, insônia e sudorese. O início do transtorno deansiedade generalizada é insidioso e precoce. Os pacientes informam que sempre foram “nervosos”, “tensos”. A evolução se dá no sentido da cronicidade. TRATAMENTO PRINCÍPIOS GERAIS Os dois componentes principais do tratamento dos transtornos de ansiedade são o emprego de medicamentos em médio e longo prazo e/ou a psicoterapia cognitivo-comportamental3(A)4(B). O diagnóstico deve ser abrangente para se elaborar um plano de tratamento com objetivos bem definidos. Os graus de incapacitação variam 5Transtornos de Ansiedade: Diagnóstico e Tratamento Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina muito de caso para caso, nos diferentes transtornos de ansiedade. Certos sintomas, mesmo os considerados principais, muitas vezes não resultam em melhora significativa. Nem sempre o bloqueio dos ataques de pânico resolve a agorafobia. A evitação fóbica tanto no transtorno de pânico quanto no transtorno de ansiedade social costuma ser vencida somente de modo gradual, na medida em que o paciente passa a enfrentar situações que evitava. Nesse processo, o médico pode trabalhar com o paciente, estabelecendo, por exemplo, uma lista de situações a serem enfrentadas, hierarquizadas de acordo com o nível de dificuldade5(A). Os pacientes precisam ser informados quanto aos efeitos dos medicamentos, especialmente os indesejáveis. Deve ser explicado que os medicamentos demoram semanas para induzir os efeitos terapêuticos, ao contrário dos indesejáveis, que surgem depois do primeiro comprimido5-7(A)8(C). TRANSTORNO DE PÂNICO Antidepressivos Tricíclicos A imipramina é o medicamento com eficácia comprovada no maior número de casos, em ensaios duplo-cego, placebo-controlados, no tratamento do transtorno de pânico. A eficácia da clomipramina também foi demonstrada, em menor número de ensaios duplo-cego, placebo-controlados7(A). A imipramina deve ser empregada em doses de 150 a 250 mg/dia, em dose única, à noite. A dose única diária é possível por causa da meia- vida plasmática longa. Com o medicamento tomado à noite são minimizados os efeitos indesejáveis associados com o pico plasmático, principalmente a sedação. Existe dentre especialistas a noção de que a clomipramina seria superior à imipramina quanto à eficácia no tratamento do transtorno de pânico. Nos poucos estudos nos quais os dois tricíclicos foram comparados, em apenas um, com uma amostra pequena, foi encontrada superioridade da clomipramina9(B). Em alguns estudos não-controlados, a clomipramina foi eficaz em doses baixas (10–50 mg/dia), mas nos estudos controlados as doses eficazes foram em torno de 100 mg/dia. Nos estudos controlados com a imipramina, em subgrupos de pacientes, doses menores, em torno de 50 mg/dia, foram eficazes no controle da sintomatologia do pânico. Em um único estudo controlado foi adequadamente estudada a questão da dose da imipramina eficaz no transtorno de pânico, comparando-se três níveis, 50, 100 e 200 mg/ dia. Os níveis de 100 e 200 mg/dia foram comparavelmente eficazes e superiores ao placebo. O nível de 50 mg/dia foi tão eficaz quanto o placebo10(A). Tanto em ensaios clínicos controlados quanto na experiência de especialistas é notada a particular sensibilidade dos pacientes que sofrem do transtorno de pânico aos efeitos indesejáveis dos tricíclicos, especialmente a exacerbação da ansiedade no início do tratamento. Por isso, recomenda-se que o tratamento seja iniciado com doses muito pequenas (10–20 mg/dia) e que o aumento até os níveis terapêuticos habituais (100–150 mg/dia) seja feito de modo gradual, ao longo de 2 a 4 semanas. Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs) Dois Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs), a sertralina e a paroxetina, têm eficácia Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 6 Transtornos de Ansiedade: Diagnóstico e Tratamento bem demonstrada no tratamento do transtorno de pânico em estudos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados11,12(A)13(B)14(C). Nos estudos com diferentes níveis de doses fixas, os níveis de 50, 100 e 200 mg/dia de sertralina foram comparavelmente eficazes e todos superiores ao placebo15(A). No estudo de doses fixas com a paroxetina, com 10, 20 e 40 mg/dia, houve clara tendência de curva dose- resposta, tendo sido a dose de 40 mg/dia nitidamente superior às outras16(A). Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (IRSNs) A venlafaxina tem eficácia demonstrada no tratamento do transtorno de pânico, em dois estudos randomizados, duplo-cego, placebo- controlados17,18(A). Benzodiazepínicos de Alta Potência O alprazolam, depois da imipramina, é o medicamento mais estudado no tratamento do transtorno de pânico, com eficácia comprovada em estudos randomizados, duplo-cego, placebo- controlados19,20(B). Na maioria das pesquisas com o alprazolam, as doses eficazes para o controle da sintomatologia do pânico foram em torno de 6 mg/dia. Poucos estudos foram realizados com doses fixas. Apesar da evidência obtida em estudos de doses fixas ser pequena, parece que o alprazolam pode ser eficaz em grande proporção de casos em doses de 3 a 6 mg/dia. O alprazolam, em decorrência da meia-vida plasmática curta, deve ser administrado em quatro doses por dia: manhã, almoço, jantar e ao deitar. Quando isso não é feito, o paciente pode sofrer de sintomas de ansiedade nos períodos em que o nível plasmático diminui. O clonazepam é outro benzodiazepínico de alta potência com eficácia bem demonstrada em estudos randomizados, duplo-cego, placebo- controlados, no tratamento do transtorno de pânico. O espectro de doses do clonazepam que foi eficaz, nesses estudos, foi de 1,5 a 4,0 mg/ dia. Nesses estudos controlados, o clonazepam foi administrado em duas doses por dia, por causa de sua meia-vida plasmática mais longa. Na prática clínica, contudo, é comum o emprego do clonazepam em três doses por dia, o que induziria um nível plasmático mais estável21,22(A). TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL) Inibidor da Monoaminooxidase (IMAO) A eficácia da fenelzina no tratamento do transtorno de ansiedade social foi bem demonstrada em estudos randomizados, duplo- cego, placebo-controlados. Em dois desses estudos, esse medicamento foi comparado com a terapia cognitivo-comportamental e com o placebo, em combinação ou sozinho. Esses estudos indicaram que a fenelzina é altamente eficaz. A combinação do medicamento com a terapia cognitivo-comportamental foi mais eficaz do que os dois tratamentos isolados23(A)4,24(B). A fenelzina foi eficaz nos estudos controlados em doses entre 60 e 90 mg/dia. A fenelzina não está disponível no Brasil. O IMAO disponível no Brasil é a tranilcipromina. Há um estudo aberto demonstrando a eficácia da tranilcipromina no tratamento do transtorno de ansiedade social em doses entre 40 e 60 mg/dia25(C). 7Transtornos de Ansiedade: Diagnóstico e Tratamento Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina Inibidor da Monoaminooxidase Reversível (RIMA) Foram realizados quatro ensaios randomizados duplo-cego, placebo-contro- lados, com a moclobemida, um IMAO reversível, no tratamento do transtorno de ansiedade social. Em dois desses ensaios, a moclobemida foi superior ao placebo quanto à eficácia e, em dois, não houve diferenças significativas entre os efeitos terapêuticos obser vados nos grupos tratados com o medicamento e nos grupos tratados com o placebo26-28(A)24(B). As doses de moclobemida empregadas nesses estudos variaram entre 600 e 900 mg/dia. Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs) A eficácia da paroxetina no tratamento do transtorno de ansiedade social foi demonstrada em dois estudos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados, em doses em torno de 40 mg/dia. Esses estudos foram multicêntricose com amostras gran- des29,30(A). Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (IRSNs) A eficácia da venlafaxina foi demonstrada no tratamento do transtorno de ansiedade social em dois estudos randomizados, duplo- cego, placebo-controlados31,32(A). Benzodiazepínicos Em dois estudos duplo-cego, placebo- controlados, cada um realizado em um único centro, foi demonstrada a eficácia do clonazepam e do bromazepam no trata- mento do transtorno de ansiedade social, em doses em torno de 3 e de 30 mg/dia, respectivamente33,34(B). TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs) A única classe de medicamentos com eficácia comprovada em pesquisas clínicas no tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo é a dos Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs). A clomipramina foi o primeiro medicamento a ter sua eficácia demonstrada no tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo em estudos randomizados, duplo-cego, placebo- controlados35(B). Isso explica, em parte, a melhor diferenciação entre os resultados terapêuticos da clomipramina e os do placebo obtidos nesses estudos, realizados no final da década de 80 do século passado. Nos estudos posteriores sobre o tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo, a resposta ao placebo aumentou muito e diminuiu a diferenciação com os medicamentos ativos. Em vários estudos randomizados, duplo- cego, placebo-controlados, foi demonstrada a eficácia no tratamento do transtorno obsessivo- compulsivo dos IRSs: clomipramina, sertralina, fluvoxamina e fluoxetina. As doses desses medicamentos que se mostraram eficazes foram relativamente altas, 226, 200, 249, e 60 mg/ dia, respectivamente36(A)37(B). Em duas meta-análises foram avaliados os resultados obtidos até 1994 em estudos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados, no tratamento do transtorno obsessivo compulsivo36(A)37(B). Nessas duas meta- análises, a clomipramina foi associada com um efeito terapêutico em relação ao placebo maior do que os da sertralina, fluvoxamina ou fluoxetina. Nos estudos com comparações diretas Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 8 Transtornos de Ansiedade: Diagnóstico e Tratamento entre a clomipramina e os outros IRSs, contudo, não foram encontradas diferenças quanto à eficácia. A paroxetina, outro IRS, foi compara- velmente eficaz à clomipramina no tratamento do transtorno obsessivo compulsivo em um estudo randomizado, duplo-cego, placebo- controlado38(A). TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG) O transtorno de ansiedade generalizada passou a ser considerado um transtorno residual desde a publicação dos critérios diagnósticos da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-IV) e da Classificação Internacional de Doenças da O.M.S. (CID-10). Essa situação está mudando com a demonstração a partir de estudos epidemiológicos de que o transtorno existe sozinho, é frequente e muito incapacitante39(A). Por causa das dúvidas quanto à importância clínica do transtorno de ansiedade generalizada e do predomínio do emprego de outras categorias diagnósticas de ansiedade, poucos estudos controlados foram realizados sobre o tratamento dessa condição. O primeiro estudo randomizado, duplo- cego, placebo-controlado, sobre o tratamento do transtorno de ansiedade generalizada definido de acordo com o sistema DSM-IV, foi realizado com a venlafaxina XR. Três doses de venlafaxina XR, 75, 150 e 225 mg/dia foram superiores ao placebo quanto à eficácia em um período de tratamento de seis meses. Os três níveis de doses foram comparavelmente eficazes e todos superiores ao placebo40(A). Posteriormente, foi bem demonstrada a eficácia da sertralina no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada em dois estudos randomizados, duplo-cego, placebo- controlados41,42(A). Pacientes que seriam diagnosticados como sofrendo do transtorno de ansiedade generalizada dos sistemas DSM-IV ou CID-10 são tratados há três décadas, principalmente com os benzodiazepínicos. Em muitos ensaios clínicos randomizados, duplo-cego, placebo- controlados, foi demonstrada a eficácia dos vários benzodiazepínicos no tratamento de pacientes com o antigo diagnóstico de “neurose de ansiedade” que, certamente, incluía os casos atuais de Transtorno de ansiedade generalizada43(D). Tanto os resultados de estudos realizados com amostras heterogêneas de casos com transtornos de ansiedade quanto o emprego largamente disseminado dos benzodiazepínicos para o tratamento da ansiedade não são base para a orientação quanto ao melhor tratamento dos pacientes. A ESCOLHA DO MEDICAMENTO A escolha do medicamento deve recair sobre um composto com eficácia determinada em ensaios clínicos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados6,7,30,44,45(A)37(B). Outro elemento é o perfil de efeitos indesejáveis. Os Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs) são associados com vários efeitos indesejáveis (sonolência, insônia, ganho de peso, disfunção sexual, boca seca, constipação, piora dos sintomas no início do tratamento, efeitos 9Transtornos de Ansiedade: Diagnóstico e Tratamento Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina extrapiramidais, bruxismo, acatisia, movimentos involuntários, náusea, diarreia e sudorese). Os IRSs inibem enzimas do sistema P 450 do fígado e podem aumentar o nível plasmático de vários compostos, inclusive dos antidepressivos tricíclicos, induzindo interações medicamentosas perigosas46(D). Os antidepressivos tricíclicos são associados com acentuados efeitos anticolinérgicos (boca seca, constipação, efeitos anticolinérgicos centrais – dificuldade de concentração, perturbação da memória–– tonteira, taquicardia, palpitações, constipação, visão turva, retenção urinária), instabilidade motora, ganho de peso, disfunção sexual, efeitos cardiovasculares (hipotensão ortostática, prolongamento do intervalo QTc), efeitos extrapiramidais (acatisia, rigidez, tremores). Em superdoses, os tricíclicos induzem um quadro gravíssimo de intoxicação, frequentemente letal46(D). Os benzodiazepínicos (alprazolam, clonazepam) são associados com sedação, distúrbios cognitivos (dificuldade de concentração, amnésia), disfunção sexual, disfunção psicomotora, toxicidade comportamental (irritabilidade, agressividade, desinibição). O uso continuado de benzodiazepínicos induz dependência fisiológica e Algoritmo Transtornos 1ª linha mg/dia 2ª linha mg/dia 3ª linha mg/dia Pânico IRSs: Tricíclicos: BZDs: sertralina 50 imipramina 150–200 clonazepam 2 – 4 paroxetina 20 clomipramina 100–150 alprazolam 2 – 4 IRSNs: venlafaxina 75-150 Ansiedade lRS: BZD: RIMA Social paroxetina 40 – 60 clonazepam 3–– 6 Moclobemida 750 – 900 IRSNs: venlafaxina 75 -225 Obsessivo- IRSs: Combinações -Compulsivo sertralina 200 IRS + antipsicótico paroxetina 60 fluvoxamina 300 fluoxetina 60 clomipramina 300 Ansiedade IRSNs: IRSs: BZD: prazos curtos Generalizada venlafaxina 75 – 150 paroxetina 20 – 40 IRSs: sertralina 50 –200 Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 10 Transtornos de Ansiedade: Diagnóstico e Tratamento quando da suspensão, especialmente se abrupta, pode ocorrer uma síndrome de abstinência com sintomas como tremores, ansiedade acentuada, sudorese, câimbras, hipersensibilidade sensorial, inquietude, insônia, cefaleia e até convulsões46(D). Apesar de induzirem vários efeitos indesejáveis, os Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs) são, no presente, considerados uma opção melhor quantoà tolerabilidade do que os tricíclicos ou os benzodiazepínicos6,36(A)13,37(B)46,47(D). Outro fator que pode pesar na escolha de um medicamento é o custo. Os tricíclicos, especialmente a imipramina, e os benzodia- zepínicos são medicamentos mais antigos, acessíveis na forma de genéricos e de custo menor. Em função dos níveis (qualidade e quantidade) de evidências científicas (resultados de ensaios clínicos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados), descritos nessas Diretrizes, demonstrando a eficácia dos medicamentos para o tratamento dos transtornos de ansiedade e de problemas associados à tolerabilidade ou riscos, pode-se elaborar um algoritmo (Figura 1). Nesse algoritmo, os medicamentos são ordenados como de 1ª, 2ª ou 3ª linha, como opções para o tratamento de um determinado transtorno de ansiedade. Na avaliação de cada paciente, o médico deverá exercer o julgamento clínico e optar por um medicamento não necessariamente na ordem recomendada pelo algoritmo. Por exemplo, um paciente que sofre do transtorno de pânico e que é hipersensível à piora inicial induzida pelos IRSs pode ser inicialmente tratado com o clonazepam. Considerações de ordem prática influenciam também na escolha das opções do algoritmo. A imipramina é mais acessível às pessoas de menor renda, na forma de genérico ou distribuída por instituições públicas. Por quanto tempo deve ser mantido o tratamento? Há estudos que demonstram que os efeitos terapêuticos dos medicamentos se mantêm durante períodos de seis meses a um ano no tratamento do transtorno de pânico6(A). Em um estudo controlado, randomizado, duplo- cego, placebo-controlado com pacientes com o transtorno de pânico, o índice de recidiva no grupo que passou para o placebo após seis meses de tratamento bem sucedido com a imipramina foi de 50% em um ano de seguimento48(A). Quanto ao transtorno de ansiedade social, há um estudo aberto demonstrando que o índice de recidiva é muito grande, de mais de 50%, após quatro anos de tratamento medicamentoso bem sucedido49(B), e um estudo controlado mostrando recidiva de 40% no grupo com placebo em seis meses de continuação50(A). Estudos controlados mostram que os IRSs mantêm seus efeitos terapêuticos em pacientes com o transtorno obsessivo-compulsivo durante dois anos de tratamento51(A). Em estudos de seguimento naturalístico, a frequência de recidiva no transtorno obsessivo-compulsivo é muito alta, maior do que 50% após dois anos de seguimento8(C). Os estudos de seguimento em longo prazo de todos os transtornos de ansiedade foram, predominantemente, naturalísticos, abertos e não-controlados. 11Transtornos de Ansiedade: Diagnóstico e Tratamento Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina Mostram que a evolução desses transtornos não é uniforme e com subgrupos diferentes de pacientes. Os pacientes podem ser divididos em três subgrupos quanto à evolução: crônica, episódica ou quadro agudo seguido de remissão47(D). A conclusão prática para o médico quanto ao tratamento de manutenção dos transtornos de ansiedade seria a de que períodos de cerca de seis meses de tratamento farmacológico estariam indicados para a maioria dos casos. Em muitos casos, o tratamento farmacológico é mantido por períodos muito longos, de anos, por motivos como a resolução apenas parcial da sintomatologia ou pioras nítidas quando a dose do medicamento começa a ser diminuída. CONFLITO DE INTERESSE Versiani M: o autor recebeu reembolso por comparecimento a simpósio e congressos da Associação Brasileira de Psiquiatria; honorários por apresentação, conferência ou palestra das indústrias Janssen, Pfizer, Ser vier e AstraZeneca; honorários por atividades de ensino da UFRJ - Instituto de Psiquiatria; financiamento para pesquisa - CNPq das indústrias Janssen, Pfizer, Servier e Organon; recurso para membro de equipe - CNPq das indústrias Pfizer e Servier e honorários para consultoria das indústrias Pfizer e Janssen. 8 DEPRESSÃO http://1.bp.blogspot.com/_meBgGxAAF4Y/SbzL5hiQrvI/AAAAAAAAANU/r-GgV4e6scA/s400/depressao4.jpg Revisão das diretrizes da Associação Médica Brasileira para o tratamento da depressão (Versão integral) Revision of the guidelines of the Brazilian Medical Association for the treatment of depression (Complete version) Marcelo P. Fleck1,2, Marcelo T. Berlim3,4, Beny Lafer5,6, Everton Botelho Sougey7,8, José Alberto Del Porto9, Marco Antônio Brasil10,11, Mário Francisco Juruena12,13, Luis Alberto Hetem14 1 Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre (RS), Brasil 2 Programa de Transtornos de Humor (PROTHUM), Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Porto Alegre (RS), Brasil 3 Departamento de Psiquiatria, McGill University, Montreal, Quebec, Canada 4 Douglas Mental Health University Institute, Montreal, Quebec, Canada 5 Departamento de Psiquiatria, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brasil 6 Programa de Transtorno Bipolar (PROMAN), Instituto de Psiquiatria, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), São Paulo (SP), Brasil 7 Departamento de Neuropsiquiatria, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife (PE), Brasil 8 Núcleo de Assistência, Ensino e Pesquisa dos Transtornos Afetivos, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife (PE), Brasil 9 Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), São Paulo (SP), Brasil 10 Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro (RJ), Brasil 11 Ex-Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria 12 Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, Divisão de Psiquiatria, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto (SP), Brasil 13 Seção de Neurobiologia dos Transtornos do Humor, Instituto de Psiquiatria, King’s College London, London, UK 14 Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto (SP), Brasil Resumo Objetivo: A depressão é uma condição freqüente, em geral recorrente e de curso crônico, associada com níveis altos de incapacitação funcional. A Associação Médica Brasileira, por meio do projeto “Diretrizes”, buscou desenvolver guias para diagnóstico e tratamento das doenças mais comuns. O objetivo deste trabalho é o de atualizar as Diretrizes desenvolvidas em 2003, incorporando novas evidências e recomendações. Método: A metodologia utilizada foi a proposta pela Associação Médica Brasileira para o projeto Diretrizes. Assim, o trabalho foi baseado em diretrizes desenvolvidas em outros países aliadas a artigos de revisão sistemáticos, ensaios clínicos randomizados e, na ausência destes, estudos observacionais e recomendações de grupo de experts. A atualização foi realizada a partir de novas diretrizes internacionais publicadas a partir de 2003. Resultados: São apresentados dados referentes a prevalência, demografia, incapacitação, diagnóstico e subdiagnóstico de depressão. Em relação ao tratamento, são mostrados dados sobre a eficácia do tratamento medicamentoso e psicoterápico das depressões, além do perfil de custos e de efeitos colaterais das diferentes classes de medicamentos disponíveis no Brasil, além do planejamento das diferentes fases do tratamento. Conclusão: As diretrizes têm como objetivo servir de orientação para a tomada de decisões clínicas baseada nas evidências científicas da literatura disponível. Descritores: Depressão; Revisão; Diagnóstico; Resultado de tratamento; Sociologia médica Abstract Objective: Depression is a frequent, recurrent and chronic condition with high levels of functional disability. Brazilian Medical Association Guidelinesproject proposed guidelines for diagnosis and treatment of the most common medical disorders. The objective of this paper is to present a revision of the Guidelines Published in 2003 incorporating new evidences and recommendations. Method: This review was based on guidelines developed in other countries and systematic reviews, randomized clinical trials and when absent, observational studies and recommendations from experts. Brazilian Medical Association proposed this methodology for the whole project. The revision was developed from new international guidelines published since 2003. Results: The following aspects are presented: prevalence, demographics, disability, diagnostics and sub-diagnosis, efficacy of pharmacological and psychotherapeutic treatment, costs and side-effects of different classes of available drugs in Brazil. Strategies for different phases of treatment are also discussed. Conclusion: Guidelines are an important tool for clinical decisions and a reference for orientation based on levels of evidence in the literature. Descriptors: Depression; Review; Diagnosis; Treatment outcome; Sociology, medical Correspondência Marcelo P. Fleck Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rua Ramiro Barcelos, 2350 - 4º andar 90430-090 Porto Alegre, RS, Brasil Fone: (+55 51) 3316-8413 Fax: (+55 51) 3330-8965 E-mail:PÁHFN�YR\#WHUUD�FRP�Er Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(Supl I):S7-17 S7 Diretrizes para a depressão Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(Supl I):S7-17 S8 Introdução A depressão é uma condição relativamente comum1, de curso crônico2 e recorrente3-5. Está freqüentemente associada com in- capacitação funcional6 e comprometimento da saúde física7-9. Os pacientes deprimidos apresentam limitação da sua atividade e bem- estar10,11, além de uma maior utilização de serviços de saúde12. No entanto, a depressão segue sendo subdiagnosticada e subtra- tada. Entre 30 e 60% dos casos de depressão não são detectados pelo médico clínico em cuidados primários13,14. Muitas vezes, os pacientes deprimidos também não recebem tratamentos suficien- temente adequados e específicos15. A morbi-mortalidade associada à depressão pode ser, em boa parte, prevenida (em torno de 70%) com o tratamento correto16. No ano de 2001, a Associação Médica Brasileira (AMB) desenvol- veu o Projeto Diretrizes, cujo objetivo foi o de estabelecer condutas no reconhecimento e tratamento de uma variedade de condições médicas comuns, entre elas a depressão. Em 2003, a Revista Brasileira de Psi- quiatria (RBP) publicou uma versão mais detalhada dessas diretrizes17. Recentemente, por iniciativa da AMB, estas condutas foram revisadas e a RBP solicitou aos autores que publicassem novamente uma versão mais detalhada dessa revisão sobre depressão. Assim, o objetivo principal deste artigo foi o de revisar e atualizar a Diretriz para Depressão publicada em 2003, com ênfase no diagnóstico e tratamento da depressão unipolar. Os objetivos originais das diretrizes seguem os mesmo, quais sejam: 1) fornecer subsídios para incrementar a capacidade de diagnóstico de novos casos de depressão; 2) oferecer uma abordagem racional para o tratamento de depressão, definindo quais casos tratar, como tratar e quando encaminhar ao psiquiatra/ especialista; 3) conscientizar os profissionais da importância do seu papel na redução do impacto da morbi-mortalidade e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes com depressão. Método A diretriz original de 2003 foi baseada em quatro documentos desenvolvidos por instituições ou grupos de notório saber: Associação Inglesa de Psicofarmacologia18, Associação Americana de Psiquia- tria19, Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (Depression Guideline Panel)20,21 e o Comitê de Prevenção e Tratamento de Depressão da Associação Mundial de Psiquiatria22. O critério de seleção destes documentos foi o de terem utilizado priorita- riamente artigos de revisão sistemática, ensaios clínicos randomizados e, na ausência desses, estudos observacionais e recomendações de grupo de experts. A maioria dos dados utilizados nesses estudos foi de pacientes deprimidos que procuraram serviços psiquiátricos, devido ao pequeno número (embora crescente) de estudos a partir de pacientes em serviços de cuidados primários. Para esta revisão foi feita uma busca no Pubmed com a palavra- chave “unipolar depression”. A busca foi limitada pelo tipo de artigo (practice guidelines), língua (inglesa) e ano (a partir de 2002). Com esta busca, foram encontradas 23 publicações. Os resumos das 23 publicações foram examinados, sendo selecionadas cinco que preenchiam os critérios de diretrizes para diagnóstico e tratamento de depressão unipolar em adultos23-27. Os principais elementos complementares e inovadores desses documentos foram acrescentados à Diretriz publicada em 2003. Parte 1 - Depressão: prevalência e diagnóstico A depressão é um problema freqüente Estudos de prevalência em diferentes países ocidentais mostram que a depressão é um transtorno freqüente. A prevalência anual na população em geral varia de 3 a 11%28-30. Uma metanálise de 23 estudos de prevalência e incidência de depressão, utilizando o pool de amostras, encontrou a prevalência de 4,1% em um ano e 6,7% em toda a vida1. Estes dados contrastam com o principal estudo norte-americano sobre o tema, que encontrou respectivamente 6,6% (um ano) e 16,2% (toda a vida)3. Estudos desenvolvidos com amostras clínicas (de pacientes) mostram prevalência superior. Em pacientes de cuidados primários em saúde, Ustun e Sartorius31, em estudo internacional realizado em 14 países, mostraram a mediana de prevalência acima de 10%. Em populações específicas, como a de pacientes com infarto recente, é de 33%32, chegando a 47% nos pacientes com câncer33. Em pacientes internados por qualquer doença física a prevalência de depressão varia entre 22% e 33%22. A depressão é mais freqüente em mulheres A prevalência de depressão é duas a três vezes mais freqüente em mulheres do que em homens, mesmo considerando estudos realizados em diferentes países, comunidades ou pacientes que procuram serviços psiquiátricos34. A depressão é um transtorno crônico e recorrente Aproximadamente 80% dos indivíduos que receberam tratamento para um episódio depressivo terão um segundo episódio ao longo de suas vidas, sendo quatro a mediana de episódios ao longo da vida18. A duração média de um episódio é entre 16 e 20 semanas e 12% dos pacientes têm um curso crônico sem remissão de sintomas35,36. A depressão é um transtorno incapacitante A depressão foi estimada como a quarta causa específica nos anos 90 de incapacitação através de uma escala global para compa- ração de várias doenças. A previsão para o ano 2020 é a de que será a segunda causa em países desenvolvidos e a primeira em países em desenvolvimento37. Quando comparada com as principais condições médicas crônicas, a depressão só tem equivalência em incapacitação às doenças isquêmicas cardíacas graves6, causando mais prejuízo no status de saúde do que angina, artrite, asma e diabetes38. A depressão é pouco diagnosticada pelo médico não-psiquiatra Em serviços de cuidados primários e outros serviços mé- dicos gerais, 30 a 50% dos casos de depressão não são diagnosticados13,14,39. Os motivos para o subdiagnóstico advêm de fatores relacionados aos pacientes e aos médicos. Os pacientes podem ter preconceito em relação ao diagnóstico de depressão e descrença em relação ao tratamento. Os fatores relacionados aos médicos incluem falta de treinamento, falta de tempo, descrença em relação à efetividade do tratamento, reconheci- mento apenas dos sintomas físicos da depressão e identificação dos sintomas de depressão como uma reação “compreensível”40,41. Treinamento de médicos
Compartilhar