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Hallyson Willyan Poematizando

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2 
 
 
 
 
 
 
Poematizando... 
 
Hallyson Willyan 
 
≈ 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
“Não se limite a um céu azul, 
 se você pode explorar o 
universo inteiro.” 
Hallyson Willyan 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
Sobre o autor... 
Meu nome é Hallyson Willyan 
Gonçalo dos Santos, tenho dezoito 
anos e sou natural de Ibiara, na 
Paraíba. Um ano após nascer, vim 
morar numa pequena cidade chamada 
Pimenta Bueno, em Rondônia, onde 
estou até hoje. Pode até surgir a 
pergunta: “como teve a ideia de 
escrever?” ou coisa assim, e a 
resposta: era uma noite fria, fria 
mesmo. Estava eu na sala de aula, 
último ano do ensino médio, e, 
durante a aula de Língua Portuguesa, 
na qual estudávamos sobre o 
modernismo, criei meu primeiro 
poema. Não havia pensado 
verdadeiramente em criar nada, mas 
vieram frases em minha cabeça e 
resolvi pô-las no papel. 
 
 
5 
Daí surgiu “Pastos Verdejantes”, 
poema que não pretendo colocar neste 
livro, devido ser um poema inicial. O 
que me motivou ainda mais foi o fato 
de minha professora de Língua 
Portuguesa, Pâmela Fragoso, expor o 
poema para toda a escola em um 
mural, intitulado por ela “Cantinho 
Poético”. 
Desde a infância sempre gostei de ler. 
Quadrinhos, romances, contos, fábulas 
e muitos outros. Mas não tinha 
interesse algum por poesia. Estranho, 
não? 
Essa é uma obra que pretendo que dê 
certo. Não sei se meus poemas são 
bons aos olhos dos outros, mas espero 
que seja, e que gostem aqueles que as 
lerão. 
 
Obrigado. 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
Para todos aqueles que me incentivaram 
nessa caminhada. 
Por todos os motivos que me levaram a 
escrever. 
Para o vento, e para as palavras... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
Cidade vermelha 
 
Cidade vermelha 
Do sangue vivo 
De pessoas que um dia sonharam 
E que agora estão mortas. 
 
Seus sonhos se apagaram 
Quando fechou-lhes os olhos. 
Foram mortos, 
Não morreram. 
 
Deserto de sangue, 
Templo de cadáveres, 
Em ti não há mais vida 
Pois todos já morreram. 
 
 
9 
Morte que não cessa, 
Dor que não acaba! 
A cada dia 
Mais e mais morrem. 
 
Como queda d’água 
Incessante é teu sangue, 
Tuas mortes, 
Tuas guerras. 
 
Oh pobre gente! 
Os abutres festejam 
Os abutres festejam 
Sobre vós! 
 
 
 
 
10 
Corpos em decomposição, 
Almas que se tornaram 
Banquetes para urubus famintos. 
 
 
Sintam! 
Gente de fora, 
Do exterior, 
De outros lugares: 
 
O cheiro do sangue, 
O cheiro da morte, 
O cheiro daquela cidade 
Que agora se torna vermelha 
Do sangue de todos eles. 
 
 
 
11 
Tadeu 
 
Por campos floridos 
De margaridas ensanguentadas 
Correu Tadeu 
Por caminhos tortuosos. 
 
Esteve ali por bom tempo 
Até despedir-se 
De si mesmo. 
 
Correu em espinhos penetrantes 
E se afogou nas lágrimas 
Do horizonte. 
 
 
 
 
12 
Versos... 
 
Versos surgem sem parar 
Como uma máquina que não cessa. 
Automaticamente surgem, 
Surgem automaticamente. 
 
Aqui tudo são versos: 
Pessoas... Carros... A própria vida... 
Versos vivos, 
Versos mortos. 
 
Transformam-se tudo em versos 
Dum poema que não morre... 
Versos que vão ao vento. 
 
 
 
13 
Tudo o que vejo 
 
Tudo o que vejo, 
Tudo o que olho 
Se desfaz. 
 
São como espíritos invisíveis, 
Irreais. 
Tudo o que olho são pássaros, 
São árvores, 
Lixeiras vazias. 
 
O caminhar daquela tarde se desfez 
E recolhi-me em meu quarto sombrio. 
O relógio soava em meus ouvidos 
Como a ararinha que grita ao longe. 
 
 
14 
Tudo o que vejo, 
Tudo o que olho 
São meras poeiras que se vão, 
De passagem na visão de cada um. 
 
São como o lápis desapontado, 
Como redemoinhos de vento 
Empoeirando a vida dos outros. 
São como parques... 
Pessoas... 
 
Tudo o que vejo 
São sonhos conformados 
Na realidade repousante. 
 
 
 
 
15 
Não me pergunte 
De onde vêm tantas coisas, 
Tantas palavras. 
Apenas vêm... Sucessivamente. 
Também não peça que eu as interprete, 
Pois não as saberia. 
 
Tudo o que olho 
São meras palavras ao vento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
Sofrimento 
 
Comparado às tuas dores 
As minhas são tão normais, 
Consolam o mais possível 
Do brilho que satisfaz. 
 
São como fogo e chama 
Que arde no entardecer... 
O brilho do sol queimando... 
O prazer de se morrer. 
 
Ofuscam-se palavras 
Com versos que vão embora, 
Com árvores imaturas, 
Poemas a toda hora. 
 
 
17 
Sinto pena do amanhecer 
Cuja luz não se demora, 
Pela brisa da manhã 
E do ímpeto que te bate 
Mostra-te agora, 
Máscara do céu, 
O brilho de um novo dia, 
A morte a cada dia. 
 
As dores que agora sinto 
São dores tão normais, 
Me buscam no meu sono, 
Parecem tão iguais. 
 
 
 
 
 
18 
O brilho da juventude 
Que se apaga com o tempo 
Traz-me a culpa... 
O arrependimento... 
 
De viver de outra maneira 
Que podia ter vivido, 
Aproveite seu tempo ao máximo 
Meu amigo! 
 
Realize teus sonhos 
Para que a vida não se torne algo... 
Assim... 
Tão igual. 
 
 
 
 
19 
Pois culpa tenho eu 
daquilo que não fiz, 
Daquilo que não faço, 
Quero o que sempre quis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
Mãe Natureza 
 
Dos olhos teu nascem os rios. 
Dos teus cabelos as matas. 
 
Das tuas mãos brotam a vida. 
Dos teus pés a terra regada. 
 
Da tua boca nascem as línguas e as 
palavras 
Que ensinam aos homens 
A verdade escrita e falada. 
 
 
 
 
 
 
21 
Estrelas 
 
Estrelas ao vento 
Que dançam reluzentes, 
Mostram tua beleza no mar infinito. 
 
Contemplam a vós 
Todos que nada fazem 
Em meio ao mar, 
À deriva do esquecimento. 
 
Ò estrelas, 
Como são lindas! 
Como são lindas 
Quando as nuvens não as escondem. 
 
 
 
22 
Queria andar no céu 
Para tocar-lhes sua massa de brilho 
E adormecer sobre ela 
Enquanto viajo no universo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
Conformidade inconformada 
 
Sono inconsequente 
Descontrolado, inconsciente. 
O peso de dez mil fere-me, 
Estampa-me o semblante, 
Adormece-me o espírito. 
 
O que sucederá quando se forem? 
Quando separar-nos? 
Só me restará solidão. 
 
 
 
 
 
 
 
24 
Dos poucos que tenho, 
Não são como eu quero, 
Não são como eu queria. 
 O obscuro assombra-me 
Da culpa que me mata. 
 
Já estou desligado daquilo 
Que me rodeia. 
O prazer que antes tinha 
Em coisas que gostava, 
Agora tanto faz se dá prazer ou não. 
 
 
 
 
 
 
 
25 
Fechei os olhos há muito tempo 
E já não vejo o que está à minha 
frente. 
Tudo o que olho são meras palavras... 
Tudo o que olho são palavras gastas. 
 
Vontade minha é desistir, 
Esquecer, 
Abandonar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
Tudo 
 
Tudo nada mais é 
Do que teus horizontesque se 
manifestam. 
 
Tudo nada mais é 
Do que opostos que não se atraem. 
 
Tudo é nada, 
E ao mesmo tempo, 
Tudo. 
 
Tudo são como pássaros, 
Andorinhas voando ao vento. 
 
 
 
27 
Tudo é tudo, 
Sem discussão. 
É o que se vê 
E o que não se vê. 
 
Tudo são palmeiras. 
Molecada, futebol. 
É o entardecer, 
A polícia, 
É o crime, é a guerra, é a fome. 
 
Tudo é o que você pode imaginar e 
pensar. 
Quando se tem tudo, se tem nada. 
 
 
 
 
28 
Quando os olhos adormecem, 
Vós tudo produzis, 
Tudo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
Marcelo 
 
Vive entre dois mundos, 
Distintos, 
Distantes, 
Marcelo. 
 
És como ponte que liga os dois, 
E os envolvem. 
Mostra sua cara, 
Marcelo. 
 
 
 
 
 
 
 
30 
Se esconde, 
Suas mãos nada fazem, 
Ninguém as vê, 
Não olha, 
Quieto, 
Nada fala, 
Por quê? 
 
Não vê que isso o conduzirá à morte? 
Não pensa que teu silêncio te deixa na 
fila do desespero? 
 
Marcelo, 
Tuas mãos estão fechadas, 
Lágrimas tens tu, tantas! 
 
 
 
31 
Era o tempo de se arrepender, 
Agora não volta, 
Porque já está morto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
Orvalho... 
 
Manhã fria, 
Cidade quieta, 
Domingo parado. 
 
Orvalho da manhã 
Que paira 
Sobre as folhas verdes das árvores. 
 
Molha unicamente, 
Em gotículas únicas, 
Individuais, 
Todo rosto, 
Todo corpo 
Que por ela passa. 
 
 
33 
Desce vagaroso, 
Quieto, 
Oculto, 
Invisível. 
 
Naquele dia 
O céu chorava pela morte do universo 
E suas lágrimas caíam 
Em gotículas de orvalho. 
 
Lágrimas que logo passarão 
Quando o sol aparecer. 
 
 
 
 
 
 
34 
Suas lágrimas frias, 
Céu, 
Cessarão, 
Secarão. 
 
Parará de chorar 
Porque o sol o consolará 
E o orvalho da manhã 
Dará lugar ao calor da tarde. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
Cartas... 
 
Para ti, 
Para mim, 
Para ele, 
Tantas que escrevo 
Para ti, 
Para mim, 
Para ele. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
Nas pequenas ondas do rio, 
Nos córregos selvagens, 
Nas mangueiras, 
Nos coqueiros, 
Nas palmeiras, 
Escrevo, 
Para ti, 
Para mim, 
Para ele. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
Cartas escrevo, 
Na palma das mãos escrevo. 
Na terra, 
Na grama, 
Ma areia, 
No tronco, 
Nos carros, 
No vento, 
Na folha, 
Na enxada, 
Nos dedos, 
Nos olhos, 
Escrevo. 
 
 
 
 
 
38 
Cartas em branco, 
Escrevo. 
Com letras invisíveis, 
Escrevo. 
Com caneta imaginária, 
Escrevo. 
Palavras ocultas, 
Sim. 
 
 
Só quem sabe 
As poderá ler. 
Por que escreve? 
Não sei. 
 
 
 
 
39 
À beira do caminho... 
 
Não sei de onde veio, 
Passou por essa estrada 
E desapareceu no horizonte. 
 
De pés ligeiros, 
Minha vista não o acompanhou, 
Apenas deixou passos 
Que ficaram 
Marcados na poeira do caminho. 
 
Meus pés doem, 
Por isso não o sigo. 
 
 
 
 
40 
Um passarinho 
Pousou agora a pouco 
Sobre meus ombros marcados 
E contou-me para onde foi. 
 
Mas penas não posso segui-lo, 
O banco está confortável. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
Vi, ouvi, senti... 
 
Vi dos meus pés saírem palavras 
E dos meus braços frases complexas. 
 
Vi do chão brotar um cachorro 
E do céu gotas de orvalho. 
 
Vi em seus olhos paz e alegria 
E em teu abraço, amor eterno. 
 
Ouvi dos teus lábios a beleza do 
português 
E dos teus cabelos o calor. 
 
 
 
 
42 
Senti no vento o perfume de ti 
E a tua voz me fez acordar. 
 
Vi, ouvi, senti 
Que de ti nasce a língua. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
Comum 
 
Estava sentado 
Pra ver se saía alguma coisa 
Mas nada me veio à cabeça. 
 
Olhava pros lados, 
Pras pessoas, 
Mas nada me vinha, 
Ma nada me vinha. 
 
Cheguei à conclusão: 
Teoria demais tira a imaginação. 
 
 
 
 
 
44 
Mas pude escrever daquilo que pensei, 
E pensando, 
Pude escrever. 
 
Pus num papel, 
Mas foram palavras vazias, 
Não transmitiram o que eu queria. 
 
Foi apenas mais um, 
Sem imaginação, 
Sem nada. 
 
Levantei-me 
E o pus sobre a mesa, 
E ficou lá, 
Empoeirando. 
 
 
45 
Naquela noite 
 
Um homem parou ao meu lado 
E sentou-se comigo. 
 
Tinha nas mãos 
Um relógio, 
Que me levou ao passado, 
O passado de todas as eras. 
 
O homem me fez entender 
Que os versos são para tocar 
E colorir o cinza. 
 
 
 
 
 
46 
Nadei nas águas do vento 
E fechei os olhos, 
Veio em mim 
O primeiro dos versos 
E dei sequência no resto. 
 
Caiu a chuva, 
E fiquei lá, 
E o homem, 
Num banco. 
 
 
Abriu-se o céu 
E fomos embora... 
 
 
 
 
47 
Palavras de um profeta 
 
Já pude prever o futuro 
Uma vez, 
E previ. 
 
Previ que haveria mortes, 
E houve. 
 
Não usei de máquinas, 
Não usei de fórmulas, 
Apenas previ, 
Olhei para o céu... 
 
 
 
 
 
48 
Rotina 
 
Dormi um pouco, 
Abri os olhos, 
Duas horas. 
 
Levantei-me 
E diziam-se quatro e meia. 
Meu rosto jovial 
Se apagara 
Na escuridão do quarto. 
 
Vinha em mim 
O sono profundo, 
E o relógio tocou. 
 
 
 
49 
Minha mente 
Não pensava em mais nada, 
Não. 
 
Minha opinião 
Omiti-se ao tempo, 
Secaram-se meus lábios, 
Como areia no verão. 
 
O frio do quarto 
Entrou e me mostrou 
A rivalidade da solidão 
E da satisfação. 
 
 
 
 
 
50 
Posso me ver no futuro. 
O que vejo não são pedras, 
Não são coisas, 
São histórias 
Que me esfaqueiam 
E me tiram o sangue. 
 
E ao sair, 
Mais um dia chegou. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
51 
Passarinho na gaiola 
 
Um pássaro na gaiola piava, 
“onde estaria meu ninho?” 
Pensava. 
 
Estou sozinho 
E não posso voar, 
O que farei pra me libertar? 
 
Dos meus olhos saem lágrimas 
Ao ver meu povo lá fora, 
E eu aqui, 
Preso nessa gaiola. 
 
 
 
 
52 
A porta... 
 
Uma porta apareceu há muito tempo 
E ficou numa parede, 
Num teto, 
Num chão. 
 
Não era bonita, 
Não tinha cor, 
Era uma porta comum. 
 
 
 
 
 
 
 
 
53 
Ficava a porta em meio a tantas! 
Tantas outras portas... 
Mas poucas entravam por ela, 
Mesmo que a vissem, 
Mesmo que estivesse sempre aberta, 
Mesmo que a percebessem... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
54 
Tic Tac 
 
Tic Tac, 
Dizia o relógio 
Em suas horas contínuas. 
 
Tic Tac, 
Incomodava alguém. 
 
Tic Tac, 
Graças à pilha da física. 
 
Escondido o relógio atrás de um cofre 
E um vidro de perfume. 
 
 
 
 
55 
Ouvia seu som, 
Tão igual, 
Para durar um segundo. 
 
Sem importância eu olhar pra ele, 
Sem importância. 
 
Em seus mil, 
Ainda ouço 
Seu Tic Tac. 
 
 
 
 
 
 
 
 
56 
O índio... 
 
Deitei-me para tirar um sono 
E um índio me atravessou 
Com uma flecha. 
 
Andava numa égua branca 
De longas crinas 
De negras mechas. 
 
Pulei de onde estavaE meus olhos nele acompanhei. 
 
 
 
 
 
 
57 
Corria de um lado pra outro, 
Se me perguntar, 
Não sei. 
 
Fui atingido, 
Mas devia ser por engano. 
Tentei acompanhá-lo 
Mas não consegui, 
Ele sumiu cantando. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
58 
O vento 
 
O vento cortou as montanhas do norte, 
Soprou sobre pastos 
E retirou as cercas de seus propósitos. 
 
Das árvores infrutíferas 
Caíram-se as folhas, 
E suas bases se estremeceram. 
Os cães que ladravam cessaram 
E correram para baixo do banco. 
 
 
 
 
 
 
 
59 
O vento correu uivante 
E desordenou águas tranquilas. 
Os peixes se alvoroçaram 
E a terra tremeu. 
 
As pedras afundaram 
E as casas caíram. 
O que era vento, 
Tornou- se destruição. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
60 
A tarde não caiu 
 
Fiquei pensando 
E a tarde não caiu. 
Pensei em algo 
E a tarde não caiu. 
 
O relógio talvez se esquecera 
De que as horas haveriam de passar, 
E a tarde não caiu. 
 
Apenas contemplo, 
Até que se deite. 
 
 
 
 
 
61 
Não sei 
 
As horas passam 
E meu dia se joga fora 
Aos poucos. 
 
Cada minuto em nada 
É tempo perdido. 
 
Nesta solidão que me atinge 
Só me resta olhar pros lados 
E esperar que algo aconteça. 
 
 
 
 
 
 
62 
Soldo não tenho 
E isso me entristece, 
Me preocupa. 
 
Só ouço o relógio, 
Apenas. 
Procuro algo a fazer, 
Mas nada há. 
 
Solidão, 
Tu és um peso para mim, 
Me deixa entediado, 
Aflito, 
Calado. 
 
 
 
 
63 
Meus gritos não são ouvidos 
E me arrependo de algumas coisas. 
Até quando ficarei assim? 
 
O silêncio consumiu minhas células 
E fechei-me sombrio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
64 
Morte 
 
Pássaros azuis 
Molhados de tinta 
Pingavam no céu 
Almofadas de pano. 
 
A terra paria 
O velho homem 
E a chuva descia 
Matando as montanhas. 
 
Os bichos corriam 
Entre árvores cantantes 
E a trombeta tocava 
Na terra decepcionada. 
 
 
65 
O homem buscava 
Nos galhos remotos 
As frutas vivas 
Que não cortam alma. 
 
O fruto era verde 
E dizia que não 
Quando arrancava-lhe 
Sem consolação. 
 
A ponte foi feita 
Sem nenhum sinal 
E andavam por ela 
Todos os animais. 
 
 
 
 
66 
Vivas estavam 
As correntes de aço 
E não se partiam 
Por mais que cantassem 
Os homens, 
Chorando no frio. 
 
No calor 
Estavam as pedras 
Que gritavam misturadas 
Em águas claras 
Que reclamavam 
Pelo córrego afora. 
 
 
 
 
 
67 
A música cantava 
Sozinha na noite 
E esperava o dia 
Que chegaria. 
 
Morria talvez 
O homem 
Em suas mortes 
Mal resumidas, 
Mal resolvidas, 
Mal acabadas. 
 
 
 
 
 
 
 
68 
Os corvos pairavam 
Na terra 
E diziam dominar a morte. 
Suas penas gritavam 
E seus pescoços rangiam. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
69 
Parado no deserto 
 
Morte certa, 
Hora errada, 
Vieste agora, 
Som de cavalgada. 
 
Venho aqui 
Entregar cartas 
Para Maria 
Que já não me espera, 
Que agonia. 
 
 
 
 
 
 
70 
Contudo vejo 
Que já não me olhas, 
E já foi embora 
Em seu cavalo. 
E agora? 
 
Nos horizontes, 
Pescoços enterrados, 
Corpos mal feitos, 
Sangue pra todo lado. 
 
Carruagens de fogo 
Cercaram-me então. 
Na brisa aqui que passa, 
Sei não. 
 
 
 
71 
A borboleta 
 
A borboleta pousou sobre a folha 
E parou. 
Balançou as asas 
E parou. 
 
Estava ali, 
Perto da escada, 
Parada, repousada. 
 
Sua beleza 
Tomou-me por um tempo, 
E a revista que estava eu lendo, 
Caiu ao chão. 
 
 
 
72 
Correu o vento sobre o jardim, 
Balançou as flores, 
As folhas, 
Os caules, 
Mas ela permaneceu ali, 
Quieta, 
Fixa. 
 
Olhava ela para o céu, 
Porque eu vi, 
E pensava. 
 
Pensava algo, 
Algo que eu não entendia, 
Mas ela sim. 
 
 
 
73 
O quê? 
Até eu tentava entender. 
 
Tentava entender 
O que ela pensava, 
Mas parei, 
Quando vi que, 
Despreocupada, 
Retomou o seu voo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
74 
Dançando no ar 
Como uma bailarina, 
Vi-a entre um segundo e outro 
Dançando nos raios de sol, 
Acompanhando o vento, 
Como um maestro 
Que comanda a orquestra. 
 
Perdi-me nos teus voos 
 Dancei junto e ela. 
A terça-feira não me feriu. 
 
 
 
 
 
 
 
75 
Morte escrita 
 
Na morte escrita 
Escrevo embaraçado, 
Não entendo o que falo, 
Às vezes morto de ouvido. 
 
Durmo na estrada 
Da vida consequente, 
R penduro-me 
Nos galhos da solidão. 
 
A placa de “pare” 
Me fez parar. 
Mas estava andando 
E quieto fiquei. 
 
 
76 
Passou por mim 
O vento bom 
E cochilei em pé. 
 
Diante da escuridão 
Que está à minha frente 
Penso se ando ou se paro, 
Se vou ou se fico. 
 
Em mão tenho a vida 
E o amuleto da sorte 
Que está invisível 
E não o vejo. 
 
 
 
 
 
77 
Sentei num banco 
À beira da estrada 
E o vento passava, 
Estava escuro 
E vi as folhas 
Da árvore ao meu lado. 
 
Vi o trem que passava 
Num barulho infernal. 
E o escuro, 
Ao fundo. 
 
 
 
 
 
 
 
78 
Acabando 
 
Penso se escrevo, 
Se paro, 
Se penso. 
 
Olho ali, 
Ali 
E ali... 
 
O papel é branco 
Como gato alvo. 
A caneta está aqui, 
Mas não posso usar. 
 
 
 
 
79 
Setembro ainda não acabou, 
E estou esperando, 
Para finalizar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
80 
Demissão 
 
A incompetência de tua fala 
Te mostra o teu destino. 
 
A porta que atrás de ti está 
Te leva para fora. 
 
Teu nome aqui 
Não mais está. 
 
Vai pra lá. 
Já está acabado 
O seu tempo, 
Já muito ficara 
E venceu-lhe a hora. 
 
 
81 
Não se preocupe 
Se não encontrar 
Ninguém a te esperar 
Tudo ficará bem, 
Teu soldo já está lá. 
 
Muito já fez, 
Mas está apertado o quadro, 
Vários embora, 
E você também. 
 
Não se esqueças de deixar 
O papel na mesa 
Depois de sair. 
 
 
 
 
82 
Água de chuva 
 
Água de chuva, 
Da madrugada fria, 
Caem sobre mim, 
A pé, 
Só. 
 
Água de chuva 
Que acorda, 
Que espanta, 
Que lava, 
Que limpa, 
Que cai, 
Molha essa terra seca, 
Molha-nos. 
 
 
83 
Frase 
 
Estava sentado 
E vi uma frase na mesa. 
Na mocidade, 
Lembro-me bem. 
 
Escrita por dedos desconhecidos 
Que transcreviam amor na carteira. 
“amor ti amo vida”. 
 
Quão grande pode ser 
O amor a ponto de tal ocorrer. 
 
 
 
 
 
84 
Quem ficasse para ler 
Talvez se importasse, 
Talvez não, 
Eis a questão. 
 
Era indeciso, 
Incerto. 
Para quem? 
Um amor manifesto numa mesa. 
 
Amor jovial, 
Colorido, 
Passageiro. 
Que se apaga com o tempo, 
À deriva. 
 
 
 
85 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
86 
 
 
 
 
Obrigado...

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