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Doença de Chagas Tripanossomíase americana Ana Claudia Trocoli Torrecilhas Aula # 2 2014 Anos de vidas perdidos (milhôes) N Engl. J. med 2007 O impacto relativo das doenças na humanidade 0 20 40 60 80 100 Infecções do trato respiratório HIV Depressão Doenças - diarréia Doenças cardíacas Doenças Tropicais Negligenciadas Doenças cerebrovasculares Malaria Acidentes de automobilístico Tuberculose Principais doenças tropicais negligenciadas N Engl. J. med 2007 2.3 2.5 3 5 10 20 40 Lepra Dengue Chagas Oncocercose Equistosomose Leishmaniose Doença do Sono Filariose Tuberculose Malaria 100 1000 10000 50000 Anos de vida perdidos (milhares) R ec ur so s a ca da 2 a no s po r d oe nç a ( m ih õe s de $ U S ) Trends in Microbiology, 2002 Investimentos em pesquisa x anos de vida perdidos Doenças Globais Mercado Farmacêutico Doenças Negligenciadas N Engl. J. med 2007 As doenças negligenciados perdem importância relativas ao impacto no mercado Árvore filogenética universal Características principais dos Tripanossomos Flagelo Cinetoplasto (kDNA mitocondrial 20-25% DNA celular) Única mitocôndria Bolsa flagelar 20-50 cadeias fechadas (maxicírculos) rRNA e minicírculos (5-20mil) Filo: Sarcomastigophora Classe: Zoomastigophora Ordem: Kinetoplastida Família: Trypanosomatidae Gênero: Trypanosoma Outras espécies: T. brucei → Doença do Sono (África) T. rangeli → Não patogênico (Américas) Taxonomia Agente etiológico: Trypanosoma cruzi Distribuição da Doença de Chagas Locais com Doença de Chagas ! A Doença de Chagas é endêmica nos países da América Central e do Sul ! ~ 25 milhões de pessoas estão sob risco de contrair a infecção Situação atual da Doença de Chagas no Brasil Amazônia Legal: vigilância centrada na detecção de casos agudos e surtos Regiões originalmente de risco para a transmissão vetorial Área endêmica Área enzoótica Casos humanos isolados Amazonia » Em 2006 o Bras i l recebeu a Cer t i f i cação In te rnac iona l pe la “Interrupção” da Transmissão da DC pelo Triatoma infestans; Atualmente ~ 5 milhões de chagásicos Carlos Justiniano Ribeiro Chagas História da Doença de Chagas 1908 O primeiro caso da Doença de Chagas: Berenice. Matéria de "O Estado de São Paulo" - 07 de maio de 1979 Agente Etiológico Estágios evolutivos do parasita Epimastigota intracelular Trypanosoma cruzi Tripomastigota: (no hospedeiro vertebrado, em cultura de células e animais de laboratório) • Forma alongada com cinetoplasto posterior ao núcleo • O flagelo forma uma extensa membrana ondulante e torna-se livre na porção anterior da célula Amastigota (no hospedeiro vertebrado, em cultura de células e animais de laboratório) • Intracelular, arredondada ou oval, desprovida de flagelo livre • Parasita grande variedade de células, incluindo macrófagos, fibroblastos, células endoteliais e musculares • Multiplica-se por divisão binária Epimastigota (no inseto vetor e em cultura axênica) • Forma alongada com cinetoplasto anterior ao núcleo • Possui pequena membrana ondulante lateralmente disposta • Multiplica-se por divisão binária Vetor (~80%) Transfusão de sangue (~16%) Congênita (< 1%) Acidentes de laboratório (fezes de triatomíneos, culturas de T. cruzi, manejo de animais em experimentação) Oral (triatomíneos infectados macerados junto com alimentos (p. ex. açaí, caldo de cana). Coito Transplante Transmissão Transmissão Ocorre pela deposição na pele de formas tripomastigotas metacíclicos eliminados pelos triatomíneos através das fezes ou urina Triatomíneos: 123 espécies conhecidas, 15 gêneros Principal espécie vetora no Brasil: Triatoma infestans Ciclo biológico • Hospedeiros invertebrados: insetos da Família Reduviidae, sendo as espécies mais representativas Triatoma infestans, Panstrongylus megistus e Rhodnius prolixus Conhecidos popularmente no Brasil como “barbeiros” • Hospedeiros vertebrados: homem e outros mamíferos (gato, cão, porco doméstico, rato, macaco de cheiro, sagui, tatu, gambá, morcego) Ciclo de vida do Trypanosoma cruzi HomemVetor (Reduviidae) 1 2 5 6 7 8 9 Tripomastigota Metacíclico Amastigota 4 Epimastigota Tripomastigota 3 Epimastigota 10 6 Tripomastigota Célula de mamífero Tubo digestivo Patogenia Sintomática ou Assintomática - Incubação: 5 a 14 dias (transmissão via vetorial) a) Manifestações locais: Ø Sinal de Romaña (edema na região da pálpebra) Ø Chagoma de inoculação (resposta inflamatória no local da entrada do parasito) b) Manifestações gerais: Parasitemia patente Outros sintomas: Fase Aguda Ø Febre, mal febre, mal estar, cefaléia, anorexia, linfoadenomegalia, hepatoesplenomegalia, anemia, trombocitopenia e alterações eletrocardiográficas, morte em 10% dos casos por meningoencefalite ou miocardite aguda). duração 3-4 meses Forma indeterminada ou de latência Ø Ausência de manifestações clínicas, radiográficas e eletrocardiográficas Ø A maioria dos pacientes permanece na forma indeterminada, sem apresentar sintomatologia, por toda a vida. Ø Parasitemia – subpatente Fase Crônica duração 5 a 30 anos Cardiopatia Indeterminada 64,0% 28,0% Megas 8,0% Fase Crônica Cardiopatia chagásica crônica – CCC É a mais importante forma de limitação ao doente chagásico e principal causa de morte • Pode apresentar-se sem sintomatologia, mas com alterações eletrocardiográficas • Caracterizada por miocardite crônica progressiva, dilatação de cavidades e hipertrofia ventricular, distúrbios de condução elétrica, arritmias e insuficiência cardíaca Fase Crônica Cardiomegalia Aneurisma de ponta Aparecimento após 15-20 anos Frequência das manifestações anatomopatológicas da Doença de Chagas Megajejuno Megaureter Megabexiga Megavesícula biliar Megaduodeno Megaestômago Broquectasia Megaesôfago Megacólon Cardiopatia No pacientes crônicos (necropsiados) • Caracteriza-se por alterações ao longo do trato digestivo: denervação da musculatura lisa e dilatação das vísceras ocas, esôfago e cólon ↓ Megaesôfago e Megacólon Fase crônica: Forma digestiva 6 Miocardiopatia – indicações para realização do Transplante Cardíaco Aspectos da relação patógeno-hospedeiro Desenvolvimento da Doença de Chagas no homem Contaminação por T. cruzi Fase aguda Tratamento (cura) Fase crônica indeterminada Morte Evolução benigna Evolução maligna Formas crônicas: Cardíaca, digestiva ou mista Morte Patogênese da Cardiopatia Chagásica Crônica (CCC) Causa Persistência do parasita Autoimunidade Ambos T. cruzi Resposta imune do hospedeiro Humoral Protetora Anticorpos líticos Celular Inata MØs Células dendríticas Células NK Adaptativa LT, LB A resposta imune define a progressão da doença Th1 Th1 Th1 Resposta Imune Inata e Adaptiva Persistência do parasita Suscetibilidade genética do hospedeiro Resposta Imune Inflamatória Resposta Imuneregulatória Th2 Th2 Th2 Forma cardíaca Forma Indeterminada O balanço da resposta imune define o estabelecimento das formas cardíacas ou indeterminada da doença de Chagas Anticorpos e Linfócitos T CD4 Mantém a baixa parasitemia e infecção tissular Participam da patogênese da cardiopatia chagásica crônica (CCC) Teoria da autoimunidade DTH Patogênese da Cardiopatia Chagásica Crônica (CCC) FASE AGUDA FASE CRÔNICA Parasitemia Anticorpos Dias, semanas Anos Perfil da resposta de anticorpos IgG Pereira-Chioccola et al., J. Cell Sci. 113:1299, 2000. A Control No Ab B-F +Anti-α-Gal 20 µg/ml 15 min, 37oC 1 µm Anti-α-Gal Abs strongly agglugtinate and induce lysis in trypomastigotes independently of the Complement Tripomastigotas extracelulares Tripomastigotas intracelulares Amastigotes intracelulares Anticorpos Linfócitos CD4Th1 e CD8Tc1 Resposta imune adaptativa Linfócitos CD4Th1 e CD8Tc1 Mecanismos de invasão da célula hospedeira ! Invasão passiva: fagocitose (células fagocitárias) ! Invasão ativa: adesão do parasita a receptores de membrana (células musculares e nervosas) Moléculas envolvidas na infecção pelo T. cruzi 41 The Tc85 Protein Family Principais moléculas de superfície do parasita estão envolvidas na resposta imune (GIPL) Mucina Membrana plasmática Citoplasma trans-Sialidase/ gp85 T. cruzi Membrana plasmática Glycoconjugados (Glicoinositolfosfolipídeo) Tanto a trans-sialidase como as mucinas são ancorados via GPI à superfície do T. cruzi αGlcNAc βGal αGal αGlcNAc βGal βGal βGal βGal AnticorpoLítico anti-α-Gal (3% total IgG) Mucina de tripomastigota Almeida et al., 1994, 2001, 2004 Previato et al., 1994, 1995, 1998 Serrano et al., 1995 GPI Glicopeptídeo Esqueleto proteico Oigosacarídeos O-ligados Á. siálico - - + + - - + + Cytokine (IL-12,TNFα) & NO Induction Epi Meta Trypo Ama Membrane Live parasites (0.1-10 cells/macrophage) in vitro / in vivo GIPLs N O Mucins - - + + - - nd nd* *nd=not determined Mucins from trypomastigotes, but not those from epimastigotes or metacyclics. strongly induce proinflammatory response Buscaglia et al. 2006 Estas moléculas são expressas diferencialmente nos diferentes estágios do parasita Thaís Souto-Padrón, www.fiocruz.br/.../sys/start.htm?sid=35 Formas tripomastigotas de Trypanosoma cruzi liberam vesículas no meio de cultura As mucinas e GPIs induzem uma forte resposta proinflamatória nos macrófagos via o receptor TLR2 Camargo et al., 1997, 1997a Almeida et al., 2000 Campos et al., 2001 Ropert et al., 2001 Almeida and Gazzinelli, 2001 Ropert et al., 2002 Sinalização cascata MAP-kinases 3 ü NF-κB 4 ü Núcleo Ativação de genes da resposta imune Produção de citocinas e quimiocinas 5 ü T. cruzi tripomastigota Cytoplasm Macrófago Mucinas tGPI 1 2 ü MyD88 IRAK TLR2 ! Cepa: CL Brener ! ~55 MB ! 28 cromossomos ! 12.000 genes Genoma haplóide: El-Sayed et al (Science, 2005) Genomas Organismo P. falciparum L. major T. brucei T. cruzi Tamanho do Genoma 25 MB 34 MB 25 MB+ ~55 MB Centros de sequenciamento Sanger TIGR Stanford SBRI Sanger TIGR Sanger SBRI TIGR Karolinska Abordagem experimental Chromosome shotgun Large clone & Chromosome shotgun Large clone & Chromosome shotgun Whole genome shotgun # de genes "5342" ~8500 ~8500 ~12.000 Os dados dos genomas de parasitas vem permitindo aumentar o conhecimento e desvendar aspectos relevantes da patogênese, relação com hospedeiro Tratamento • Benzonidazol (Rochagan):7,5 até 5 mg/kg/dia, por 60 dias • Nifurtimox (Lampit): não disponível no Brasil - inibe a síntese de proteína e RNA Efeitos colaterais ao uso do Benzonidazol: Anorexia, cefaléia, dermatopatia, gastralgia, insônia, náuseas, perda de peso, polineuropatia, vômitos Controle: sorologia convencional Vias metabólicas como alvo quimioterâpico – grupos Urbina e Do Campo 1936 a 1960 - derivados de quinoleínas e vários outros antimaláricos, arsenobenzóis e outros arsemicais, fenantridinas, sais de ouro, bismuto, cobre e de zinco, iodeto de sódio, violeta de genciana, aminopterinas, ácido para- aminosalicílico, hidrazida do ácido nicotínico, sulfonamidas, anhistamínicos, cortisona, derivados da estilomicilina, anfotericina B e mais de 30 antibióticos. 1 9 6 0 a 1 9 7 0 - o n i f u r t i m o x u m n i t r o f u r a n o : 3 - m e t i l - 4 - ( 5 ´ - nitrofurfurilidenoamino)tetrahidro-4H-1, 4-tiazina-1,1-dióxido (Bayer 2502) comercializado como nome de Lampit e o benznidazol (N-benzyl-2-nitroimidazol acetamida (RO 7-1051) comercializado com o nome de Rochagan® no Brasil e Radanil® na Argentina. Nifurtimox desenvolvido por Bock e colaboradores e benznidazol desenvolvido por Richle se mostraram ativos in vitro e in vivo contra o T. cruzi. A produção do nifurtimox a partir da década de 1980, vem sendo descontinuada, inicialmente no Brasil e depois na Argentina, Chile e Uruguai e o benznidazol no Brasil está sendo passado pela Roche para o Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (Lafepe). O desinteresse da indústria farmacêutica na produção de medicamentos para a doença de Chagas, considerados como “medicamentos sociais”, está ligado à baixa demanda, restrito somente a alguns países na América Latina, para população de baixa renda e portanto com pequena margem de lucro. Portal da Doença e Chagas Tratamento A Iniciativa dos países do Cone Sul (1991-2001) (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai) ! Eliminação de T. infestans de casas e do ambiente peridomiciliar ! Redução e eliminação da infestação domiciliar por outros triatomíneos ! Interrupção da transmissão de T. cruzi por transfusão de sangue – triagem eficiente de doadores de sangue Controle Redução na incidência de infecção por Trypanosoma cruzi nos países da Iniciativa do Cone Sul entre 1983-1999 País Grupo (idade) Infecção em 1983 Infecção em 1999 Redução na incidência (Taxas x 100) (Taxas x 100) (%) Argentin a 18 4.5 1.2 85.0 Brasil 7-14 18.5 0.17 96.0 Chile 0-10 5.4 0.14 99.0 Paraguai 18 9.3 3.9 60.0 Uruguai 6-12 2.5 0.06 99.0 Previsão de interrupção da transmissão vetorial e por transfusão sanguínea (OMS): 2010 Redução na incidência de infecção por T. cruzi nos países da Iniciativa do Cone Sul (1982-1998) Dias, JC (Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 2007) Perspectivas para o controle da doença de Chagas Dias, JC et al. (Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 2008) Perspectivas de vacinas Tratamento ! Antígenos: Sialidases/trans-sialidases (TS, ASP-1 e ASP-2), cruzipaína ! Estratégias: proteínas recombinantes, vacinas de DNA, vetores virais recombinantes Em fase de testes em modelo experimental: Diagnóstico FASE AGUDA FASE CRÔNICA Parasitemia Anticorpos Dias, semanas Anos Perfil da resposta de anticorpos IgG – Diretos • Exame a fresco em lâmina (motilidade) • Gota espessa ou esfregaço corado com Giemsa ou Leishman (morfologia) • Centrifugação em tubos capilares (micro-hematócrito) baixa parasitemia – Indiretos • Xenodiagnóstico (alimentaçãode ninfas de triatomíneos nãoinfectados com o sangue de pacientes). • Hemocultura (Cultura do sangue em meio LIT (liver infusion tryptose) Leitura: 30, 60, 90 e 120 dias Diagnóstico Parasitológicos Dependem da presença dos parasitas circulantes • Diretos – Suspeita de fase aguda (independentemente do mecanismo de transmissão) – Professional bem treinado • Indiretos (Xenodiagnóstico e Hemocultura) – Padronizar diagnóstico • Control terapéutico de pacientes inmunodeprimidos • Preparo de painel de soros positivos – Limitações • Tempo prolongado para o resultado final • Volume de sangue / manutenção das ninfas Diagnóstico sorológico Hemaglutinação indireta (HAI) Imunofluorescência indireta (IFI) Ensaio imunoenzimático (ELISA) Antígenos de T. cruzi: Extratos totais Frações semi-purificadas (epimastigotas) Testes convencionais Diagnóstico laboratorial da doença de Chagas Exame Microscópico Hemocultura Xenodiagnóstico PCR Parasitológico Detecção de IgM Sorológico FASE AGUDA Hemocutura Xenodiagnóstico PCR Parasitológico Detecção de IgG Sorológico FASE CRÔNICA FASES DA INFECÇÃO • Hemaglutinação Indireta: simples, baixo custo especificidade: boa sensibilidade: baixa • Imunofluorescência Indireta baixo custo, leitura subjetiva especificidade: alta sensibilidade: alta • ELISA automatizada sensibilidade: alta especificidade: alta Vantagens e desvantagens dos métodos sorológicos convencionais • Antígenos purificados (baixo rendimento e custo alto) • Antígenos recombinantes • Péptidos sintéticos • Combinação de antígenos recombinantes e de péptideos sintéticos Outro métodos disponíveis Teste de aglutinação em partículas de gelatina - PaGIA: 3 peptídeos (Ag2, TcD e TcE) Sorologia (“western blot”) utilizando antígenos nativos: antígenos de excreção-secreção (tripomastigotas) Sorologia (ELISA) utilizando antígenos recombinantes: (i) H49/JL7, A13, B13, JL8, IF8; (ii) FRA e CRA PCR Sorologia (“western blot”) utilizando antígenos nativos: antígenos de excreção-secreção (tripomastigotas) Resultados Positivos Resultados Indeterminados Tripomastigota 205 kD 116 kD 97 66 SAPA + Umezawa ES et al, J Clin Microbiol 34: 2143-2147, 1996
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