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Entre as Cordas do Ringue - Construções de Masculinidades na Prática das Artes Marciais Combinadas - Cláudio Ricardo Freitas Nunes

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Anais do VII Seminário Fazendo Gênero 
28, 29 e 30 de 2006 
 1
Práticas Corporais e Esportivas – ST 21 
Cláudio Ricardo Freitas Nunes 
ESEF/UFRGS 
Palavras-chave: Masculinidades – corpo – práticas corporais 
 
 
Entre as Cordas do Ringue: 
construções de masculinidades na prática das artes marciais combinadas. 
 
 
 
Introdução 
 
Este texto foi elaborado a partir de uma pesquisa de cunho etnográfico realizada em três 
academias de lutas – a Sul Jiu-Jitsu, a Boxer Brazilian Jiu-Jitsu e a ProFight Sports, localizadas na 
cidade de Porto Alegre no período de dezembro/02 a julho/04 e que resultou na dissertação “Corpos 
na Arena – um olhar etnográfico sobre a prática das artes marciais combinadas”, apresentada no 
Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da ESEF/UFRGS em dezembro 
de 2004. Tal pesquisa posteriormente foi percebida a partir de subsídios teóricos desenvolvidos ao 
longo do segundo semestre de 2005 na disciplina “Masculinidades: questões teóricas e estratégias 
metodológicas”, ministrada pelo professor Fernando Seffner, do Programa de Pós-Graduação em 
Educação/UFRGS. A etnografia realizada no citado período registrou o envolvimento de sujeitos do 
sexo masculino, na faixa dos vinte aos trinta anos, praticantes de uma luta em que são combinados 
diversos golpes de distintas artes marciais e outras técnicas de luta, como o boxe e a luta greco-
romana, denominada Mixed Martial Artsi. A partir do referencial teórico que compreende o corpo 
como uma construção histórica e cultural e do trabalho empírico, foram percebidos os investimentos 
realizados nos corpos dos lutadores nesses ambientes masculinos que resultam numa masculinidade 
cultuada entre os praticantes. 
Uma das peculiaridades observadas em treinamentos e competições das artes marciais 
combinadas é que são perseguidos por esses sujeitos atributos de virilidade, como força física, 
resistência muscular e desprezo a dor física, conforme já estudado em trabalhos que pesquisaram 
outras modalidades de lutas, como Cecchetto (2004). A própria resistência à dor já foi detectada 
como elemento constituinte de uma identidade masculina, de acordo com Gastaldo (1995), que 
investigou atletas praticantes de esportes de combate. Nos mecanismos de superação da dor, esses 
sujeitos lançam mão de alguns paliativos para que o treinamento e a própria competição não sejam 
prejudicados por essa adversidade. É comum entre eles o consumo de analgésicos, comprados 
livremente em farmácias, mais fáceis e baratos de conseguir do que os anabolizantes, sendo usados 
para neutralizarem os sintomas de dorii. 
Anais do VII Seminário Fazendo Gênero 
28, 29 e 30 de 2006 
 2
No círculo dos praticantes de M.M.A. sujeitos da citada etnografia, “guerreiro” ou “casca-
grossa” são sinônimos e identificam o lutador que, mesmo em desvantagem física e técnica, suporta 
na própria carne golpes contundentes do adversário, mantendo sua “honra”, sua “moral”, 
afirmando-se frente ao grupo como “macho”, numa demonstração de estoicismo, postura 
extremamente valorizada e incentivada nesse círculo social. Desistir de um combate ou se render, 
reconhecendo as qualidades e superioridades do oponente não é atitude esperada dos praticantes. A 
masculinidade, perseguida e construída nesses espaços, modela comportamentos, atitudes e as 
emoções esperadas desses sujeitos. Os vencedores, “os machos”, não só têm atestadas suas 
qualidades viris (e são constantemente desafiados nas próximas competições pelos adversários) 
como servem de modelos para os neófitos. Não raro, os combates nos ringues possibilitam aos 
atletas extrapolarem o profissionalismo de suas condutas e medirem-se mutuamente: ver quem é o 
mais macho, resolvendo em arenas, com a presença de testemunhas (público pagante, atletas das 
academias, convidados, patrocinadores etc...) antigas desavenças pessoais ou profissionais. A 
masculinidade, como de resto outros valores sociais, encontra nesse grupo códigos e procedimentos 
particulares. As academias pesquisadas foram distinguidas como locais em que os lutadores criam, 
reforçam e difundem suas identidades, socializam-se e servem como locus de construção de uma 
masculinidade alicerçada em bíceps, tríceps e peitorais (entre outros músculos) cotidianamente 
trabalhados, aditivados, expostos e admirados entre esses praticantes. 
Os investimentos no corpo 
Através da observação participante e da elaboração de diários de campo, que relataram a 
incursão nas rotinas de treinos e competições, com a etnografia foi possível verificar que os locais 
em que ocorrem a preparação corporal e as disputas entre esses atletas configuram ambientes 
culturais em que o corpo lutador ocupa um lugar de destaque, elemento fundamental para perceber-
se a construção da masculinidade em grupo tão específico. Assim, foram investigados os processos 
de aprendizado de diversos estilos de luta (jiu-jitsu, boxe, boxe tailandês, luta greco-romana) 
difundidos nessas academias, em que as qualidades técnicas são comungadas ao ganho de força 
física na construção do corpo lutador, num extenso e laborioso trabalho cotidiano como condição 
para se lançar nos desafios dos ringues-arenas. Esses mesmos processos foram observados com 
enfoque nas preparações (físicas, emocionais e mentais) entre os “guerreiros” nesses ambientes 
masculinos, uma vez que, tradicionalmente, as lutas são associadas à força, à virilidade e a 
resistência muscular e concebidas como esportes eminentemente masculinos, pois é ainda ínfima a 
presença feminina treinando ou competindo nesta modalidade. Dessa forma, os cuidados corporais 
praticados pelos lutadores (preparação física, uso de analgésicos, de suplementos alimentares, de 
anabolizantes) e as questões estéticas desses atletas (depilação, tatuagens, marcas corporais como as 
orelhas deformadas, cicatrizes resultantes do empenho corporal na rotina da prática esportiva) 
Anais do VII Seminário Fazendo Gênero 
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foram percebidos como investimentos para a formatação de uma musculatura guerreira, que é 
destacada e valorizada nesses ambientes. A “blindagem muscular” é construída em treinamentos 
das técnicas, em sessões de preparação física (normalmente com a orientação e a presença de um 
personal trainer especializado em lutas) e aditivada com o recurso dos anabolizantes nas sombras e 
silêncios das rotinas espartanas dos treinamentos. A “blindagem” é conquistada e testada no 
coletivo e também distingue esses lutadores, pois como já observado por Cecchetto (2004b, p.1), o 
lutador “é seu corpo: músculos hipertrofiados, cabeça raspada, orelhas deformadas (...) se 
padronizou como seu uniforme, uma espécie de cartão de visitas de carne e osso. Não há dúvidas, 
eles são fortes. O lutador (...) é justamente essa disposição incorporada, postural, algo que se é”. 
O corpo para os lutadores é vislumbrado dentro dessa forma de cultura bastante peculiar; 
mais do que um substrato físico é parte central dos processos de construção cultural e social que 
ocorrem nesses lugares, sendo cultura aqui entendida como a rede de significados e relações onde 
esse mesmo corpo é produzido, contemplado e posto à prova. Para Sabino (2000), que dirigiu seu 
estudo para as academias de musculação, estas, bem como os espaços onde ocorrem os treinos e as 
competições de lutadores, são locais onde “o corpo é o critério básico de reconhecimento e 
classificação, o que possibilita o fundamento de uma reciprocidade calcada em uma concepção de 
mundo centrada no indivíduo” (p.64). De acordo com o mesmo autor, “o corpo é o centro do 
universo simbólico desse grupo. As relações sociais ficam dependentes da forma ostentada pelo 
corpo” (p.64). As relações dentro dos ambientes de lutas são construídasa partir da preparação e 
das atuações dos corpos dos lutadores. É através do corpo, das suas resistências, das suas 
performances vitoriosas (ou das derrotas “honradas” nas quais o sujeito não se entrega, mesma 
tomando um legítimo “pau-pereira”) que são criadas as hierarquias das masculinidades, em que o 
mestre (sempre o mais graduado na prática esportiva), que construiu o corpo calejado em tatames e 
ringues, um atestado carnal de seu empenho nos treinos e nas disputas, é o próprio emblema do 
grupo social, responsável pela preparação, treinamentos, contratos e gerenciamento das carreiras 
dos atletas. Esses praticantes precisam de seus corpos e dos corpos de seus companheiros para a 
aprendizagem e a evolução das técnicas, do aprimoramento dos golpes e movimentos que compõem 
o seu repertório de ações a serem requisitadas numa competição. 
As academias como locais privilegiados de construções de masculinidades 
As academias de lutas e as competições revelam possibilidades cotidianamente desafiadoras 
de ser homem, de construir masculinidades diretamente relacionadas aos esforços físicos exigidos 
nessa prática: resistência muscular, força física, superação da dor, virilidade, agressividade, 
elementos de uma conduta praticada, ensinada e perseguida nesses espaços. A construção de um 
currículo vitorioso, resultado de um corpo macho, guerreiro, aplicado e resistente é tarefa árdua 
nesses espaços sociais. O corpo treinado, resistente, viril, técnico e “macho” é o próprio capital do 
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lutador, de acordo com Bourdieu (1990). Concomitantemente, o lutador precisa do corpo de seu 
adversário para atestar na carne deste sua superioridade, para subjuga-lo, reafirmando assim sua 
supremacia (física ou técnica), para contemplar com vitória sua performance no ringue e poder 
dividir essa conquista com seu círculo social, os demais atletas de sua agremiação, pois a virilidade 
“tem que ser validada pelos outros homens, em sua verdade de violência real ou potencial, e 
atestada pelo reconhecimento de fazer parte de um grupo de verdadeiros homens”, conforme 
Bourdieu (1999, p.65). Desta forma, os treinamentos realizados no coletivo desses praticantes são 
determinantes nas carreiras dos lutadores, pois nessas atividades são trabalhadas as diversas 
valências físicas e mentais diretamente envolvidas na preparação corporal dos lutadores e o controle 
emocional que a disputa no ringue exige, pois a masculinidade é “uma noção essencialmente 
relacional, construída diante dos outros homens, para os outros homens...” (p.67). 
São nesses espaços de treinos, de convívios diários, de preparações mútuas para as disputas 
que a construção das masculinidades é percebida como um processo dinâmico de “definição, 
aquisição e manutenção”, já detectado por Almeida (1996), do praticante frente a seu grupo. Nas 
atividades de preparação para as disputas, além de ser o espaço privilegiado para a socialização 
desses sujeitos e do aprendizado das técnicas de luta a serem usadas no ringue, o corpo lutador 
define seu valor na hierarquia local pelo domínio das “técnicas corporais” (MAUSS, 1974, p. 231). 
Segundo esse mesmo autor: “a educação fundamental de todas essas técnicas consiste em 
fazer adaptar o corpo a seu emprego” (1974, p.232). Então, por isso, o corpo que se quer “lutador” 
ou “guerreiro” deve vivenciar as diversas técnicas que formam o seu acervo de golpes e as atitudes 
mentais a serem exploradas e demonstradas no confronto, num cotidiano de estoicismo, tão 
perseguido e valorizado nesses ambientes. Esses golpes têm de ser frutos de “técnicas tradicionais e 
eficazes” (MAUSS, 1974, p.217), principalmente porque essa eficácia é constantemente posta à 
prova nos treinamentos e nas competições. A vitória, ou a derrota, nas disputas de M.M.A. está 
intimamente relacionada à eficácia dos golpes apresentados pelo atleta, como parte do capital 
corporal do praticante ou do “conhecimento incorporado”, (HASTRUP, 1995). A adaptação do 
“corpo lutador” a essas técnicas é: “perseguida em uma série de atos montados, e montados no 
indivíduo não simplesmente por ele mesmo, mas por toda a sua educação, por toda a sociedade da 
qual ele faz parte, no lugar que ele nela ocupa” (MAUSS, 1974, p. 218), reforçando o caráter 
cultural e social dos ambientes de lutas. Um dos objetivos do treinamento é o refinamento da força 
bruta, eliminando esforços físicos desnecessários e o gasto energético correspondente, resultando 
em técnicas mais apuradas e eficazes, e também acostumar o ”instrumento de trabalho” a suportar 
golpes e investidas, por vezes bastante traumáticas, do opositor. Mas é parte importante da 
valorização do atleta frente ao seu grupo o enfrentamento e a passagem por essas situações bastante 
adversas, como forma de comprovar sua virilidade e masculinidade. É no círculo de atletas da 
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mesma academia que esses sujeitos realizam a aprendizagem e a evolução das técnicas, dos golpes, 
dos movimentos que compõem o seu repertório de ações a serem requisitadas numa competição, e 
por isso, constróem-se masculinos a cada etapa da preparação. A musculatura trabalhada no tatame, 
adquirida no coletivo, também distingue esses praticantes, porque como já observado por Cecchetto 
(2004a), pois segunda ela há “uma conexão entre músculo e masculinidade” (p.79). Os atributos 
virilidade, força física, resistência muscular são exercitados e avaliados constantemente durante os 
treinamentos e, principalmente, nos confrontos. Essa masculinidade dos tatames é criada nas 
interações sociais e culturais entre esses sujeitos e ali é difundida e constantemente cobrada: corpos 
fortes, ágeis, resistentes, buscando sempre um aprimoramento físico e técnico para as disputas em 
treinos e competições. O corpo trabalhado nesses espaços persegue um objetivo: ser vencedor, 
impor-se frente aos oponentes, construindo sua superioridade (técnica, física) cotidianamente. O elo 
entre os outros membros de sua equipe é sempre valorizado e incentivado, principalmente por que 
os atletas de M.M.A precisam dar e receber “porradas” como forma de se habilitarem a essas 
disputas. Diferente do que foi apontado por Noronha (1993), num estudo sobre grupos de 
halterofilistas em Porto Alegre, o vínculo social e afetivo entre os lutadores de M.M.A. é deveras 
importante. É comum encontrar grupos de lutadores ou turmas das academias em outros espaços 
sociais que não os de treinamentos e esses grupos mantêm-se juntos, estampando uma identidade 
corporal inconfundível, como já percebeu Cecchetto (2004b). 
Reconhecendo novas possibilidades para futuros estudos 
Os locais de treinos, carregados de significados e difusores da identidade social dos 
lutadores, propaga a “cultura” dos “casca-grossa”, inclusive o próprio estilo da masculinidade, 
apoiada na virilidade, no corpo musculoso, forte e também técnico, na obstinada superação dos seus 
adversários nos confrontos e no desprezo a dor física. Ou seja, nesses “ambientes de lutas” há todo 
o aparato cultural-social-funcional necessário para a formatação do lutador. É nos contínuos treinos 
das técnicas e golpes que vai se formatando o corpo e o espírito do “guerreiro”: o refinamento da 
força física é mesclado com o aprendizado das técnicas das diversas lutas, ao mesmo tempo em que 
se elabora a estratégia a ser aplicada nos confrontos. Também são nesses espaços de fabricação dos 
“guerreiros” que é produzida e difundida a cultura dos tatames: as gírias, a indumentária social 
padrão (camisetas regatas, bermudões coloridos, tênis de grifes) as formas de cumprimentar um ao 
outro e o comportamento esperado dos lutadores. A academia éprincipalmente um lugar de trocas 
pedagógicas, já que dentro do tatame, durante os treinos, novas posições e golpes são ensinados e 
praticados, na presença de todo o grupo de atletas, na interação dinâmica entre os neófitos e os 
lutadores experientes. Assim, como parte de uma cultura localizada, também a masculinidade é 
construída e socializada entre esses sujeitos. Mas nem só de treinos vive um lutador de M.M.A.. Em 
todos os espaços pesquisados, havia um bar que, com suas mesas espalhadas perto dos tatame e 
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ringues, funciona também como um local privilegiado da socialização entre os lutadores, 
reafirmando o intercâmbio de conhecimentos diversos (golpes, gírias, programas sociais). Os 
praticantes que não estão em atividade por lesões ou outros impedimentos ficam ali, dirigindo suas 
atenções para a área do treinamento, concentrados nas cenas que se desenrolam, gesticulando para 
os parceiros que estão executando posições ou movimentos, orientando golpes ou seqüências a 
serem executadas no treino, corrigindo os que estão na movimentação do tatame, ajudando, às vezes 
até por mímica, nesse aprendizado de golpes e técnicas. Também é no espaço do bar que se 
comentam os programas de lutas vistos na tv a caboiii, as aventuras amorosas e sexuais dos 
lutadores, as rodadas de futebol envolvendo a dupla Grenal e também as “fofocas” (brigas de rua, 
desventuras amorosas, confusões com a polícia) envolvendo lutadores da academia e das 
concorrentes, no que Wacquant (2002) chamou de hierarquização temática desses ambientes 
competitivos. Essas academias e esses sujeitos possibilitam novas abordagens sobre as construções 
das masculinidades, merecendo um aprofundamento e uma continuidade do que foi, até aqui, 
apresentado. 
 
Referências 
ALMEIDA, Miguel Vale de. Gênero, masculinidade e poder: revendo um caso no sul de Portugal. 
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996. 
BOURDIEU, Pierre. Coisas Ditas. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990. 
______. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. 
CECCHETTO, Fátima Regina. Violência e estilos de masculinidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 
2004a. 
______. Mamãe, tô forte? Exposição realizada na 24ª Reunião da A.B.A, Recife/PE, 12 a 15 de 
junho de 2004b. 
GASTALDO, Édison Luis. Kickboxer – Esportes de Combate e Identidade Masculina. Porto 
Alegre, 1995, 185 p. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social). Programa de Pós-Graduação 
em Antropologia Social/UFRGS. 
HAUSTRUP, Kirsten. Incorporated Knowledge. Claremont: Mime Journal, 1995. 
MAUSS, Marcel. Antropologia e Sociologia. Volume II. São Paulo: EPU/Edusp, 1974. 
NUNES, Cláudio Ricardo Freitas. Corpos na Arena – um olhar etnográfico sobre a prática das 
artes marciais combinadas. Porto Alegre, 2004, 251 p. Dissertação (Mestrado em Ciências do 
Movimento Humano). Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano/UFRGS. 
NORONHA, Marcio Pizarro. Máscara e Metamorfose – Representações Sociais Sobre o Corpo 
Masculino em Halterofilistas e Bailarinos. Florianópolis, 1993, 387p. Dissertação (Mestrado em 
Ciências do Movimento Humano). Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social/UFSC. 
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28, 29 e 30 de 2006 
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SABINO, Cesar. Musculação: Expansão e Manutenção. In: GOLDENBERG, Mirian (org). Os 
Novos Desejos. Rio de Janeiro: Record, p. 61-104, 2000. 
______. Anabolizantes: Drogas de Apolo. In: GOLDENBERG, Mirian (org.) Nu e Vestido. Rio de 
Janeiro: Record, p. 139-188, 2002. 
WACQUANT, LÖIC. Corpo e Alma – Notas etnográficas de um aprendiz de boxe. Rio de Janeiro: 
Relume Dumará, 2002. 
 
 
i Assim, fazem parte do repertório corporal dos praticantes os golpes praticados com os punhos no boxe, chutes, 
cotoveladas e joelhadas do boxe tailandês, as quedas existentes na luta greco-romana, a luta de chão, agarrada, 
desenvolvida na prática do jiu-jitsu entre outras possíveis técnicas de luta. A essa combinação de estilos distintos de 
diferentes lutas, dá-se o nome de artes marciais combinadas ou Mixed Martial Arts, denominação norte-americana para 
essa prática, cuja abreviatura difundida entre os praticantes e a mídia especializada é M.M.A, popularmente traduzido 
por Vale Tudo. 
ii Durante o período da citada pesquisa, principalmente os medicamentos Voltaren e Cataflan tinham grande circulação 
entre os atletas. 
iii Na tv a cabo, destacam-se dois programas destinados a lutadores: Passando a Guarda e SPORTV Combate, 
transmitidos na noite de sábado, com reprises nas madrugadas de segundas-feiras. Nesses programas, tanto o jiu-jitsu 
quanto o M.M.A são pautas garantidas, além de outras modalidades de artes marciais.

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