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Artigo formação humana

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CONTEXTO - v.3, n.3, jan-jul/2008, p. 111 - 124 111
Amoral e a ética no dimensionamento humano
Relação entre moral e ética
O interesse pela ética sempre esteve presente na história da hu-
manidade. Atualmente, isso parece mais evidenciado, uma vez que a ética
é tema corrente nas discussões que envolvem os diversos problemas e cam-
pos de conhecimento da realidade social. Neste sentido, ela está associada
Resumo - Este artigo busca compreender o significado dos valores
nas relações que os homens estabelecem com a sua cultura, o
mundo do trabalho e as várias instâncias da vida social. Diante da
importância que a ética ocupa como tema corrente na sociedade
atual e do seu papel como elemento norteador da ação e reflexão
do homem frente à realidade social em que está inserido, o foco do
presente artigo está canalizado para a dimensão ética do agir hu-
mano, sem, contudo, desconsiderar a existência de outros valores
que também servem como referência para as atitudes, preferên-
cias e decisões no âmbito da cultura e das relações sociais.
Palavras-chave: Ética. Moral. Valor. Sociedade.
Abstract - This article seeks to understand the meaning of the val-
ues found on the relation established by men with the culture, the
work reality and the several issues of social life. Through the im-
portance that ethics has as an important subject on nowadays so-
ciety and its role as an element that defines human actions and
thinking, the present article focus on the way ethics interferes on
human actions, knowing that there are other issues that also inter-
fere in the way men think and act.
Keywords: Ethic. Moral. Value. Society.
Os Valores Como Fundamento
Ético do Agir Humano1
Edinaldo Tibúrcio Gonçalo
Departamento de Filosofia / UERN
Contexto 16cm x 23 cm:Layout 1 5/25/2008 5:22 PM Page 111
Edinaldo Tibúrcio Gonçalo - Os Valores Como
Fundamento Ético do Agir Humano112
a questões cotidianas da política, do trabalho, das relações familiares, da es-
cola, do meio ambiente, dos direitos humanos etc, despertando, assim, o
interesse de um público, cada vez mais crescente.
Embora, muitas vezes, se possa ter a impressão de que a ética seja
voltada para problemas eminentemente práticos e concretos, esta caracte-
rística, na verdade, não é sua, mas da moral. A moral existe desde as for-
mas mais primitivas de organização social e os problemas que a envolvem
fazem referência direta a ações humanas reais, particulares, normativas, vi-
venciadas nas relações cotidianas do contexto histórico-social. As decisões
tomadas em cada situação concreta, apoiadas por normas consideradas vá-
lidas por todos os membros, as ações desenvolvidas, os julgamentos e ava-
liações realizados antes de uma tomada decisão, conferem, a tais problemas
e situações, características de um fazer prático-moral.
A ética, por outro lado, não estabelece normas de conduta como a
moral, nem tampouco se preocupa com o fazer prático e as recomendações
para a solução de problemas particulares. Ela se caracteriza por ser uma re-
flexão crítica que analisa, discute e interpreta os valores que fundamentam
a moral.
Apesar de muitas vezes serem considerados sinônimos, os termos
Moral e Ética apresentam significados distintos. Todavia, é importante en-
fatizar que existe uma estreita articulação entre as duas terminologias, uma
vez que a ética tem como objeto de estudo a própria moral.
Não sendo a ética a única área de conhecimento a estudar o com-
portamento humano na sociedade, ela também se relaciona com a Antro-
pologia, o Direito, a Sociologia, a Psicologia, que, ao realizarem seus
estudos sob outros ângulos, oferecem contribuições valiosas ao aprofun-
damento das reflexões sobre a moral.
Aspectos que condicionam amoral social e a dimensão ética do
agir humano
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CONTEXTO - v.3, n.3, jan-jul/2008, p. 111 - 124 113
Nas relações que estabelecem com o mundo e, mais particular-
mente, com a sua cultura, os sujeitos sociais desenvolvem ações e condu-
tas que remetem a determinados costumes, princípios e normas, herdados
da tradição e dos processos de aprendizagem vivenciados pelo grupo so-
cial a que pertencem. Tais princípios e normas que, em geral, incorporam
direitos e deveres, constituem-se referências pontuais para nortear o agir
humano individual e coletivo. Por isso, cada sociedade institui, em sua cul-
tura, os fundamentos e valores básicos de uma moral extensiva a todos os
seus indivíduos, que buscam a partir disso solucionar os problemas mo-
rais com os quais se deparam. A propósito, quando é que nos sentimos
diante de um problema moral? O que será que faz com que um problema
seja moral?
Independentemente da resposta dada a tais questionamentos, é im-
portante considerar que nas situações em que há necessidade de seguir nor-
mas e a decisão de dever agir, o sujeito do comportamento moral tem que
ser, antes de tudo, responsável pelos seus atos e livre para tomar decisões;
é nisso que reside a essência do ato moral. Contudo, o homem no seu com-
portamento prático-moral não fica limitado a agir e tomar decisões; ele tam-
bém reflete sobre as suas ações, decisões e julgamentos. Desta forma acaba
exercitando a dimensão ética do seu comportamento.
Amoral e a ética nas relações de trabalho
Ao longo da história da humanidade, o trabalho tem se constituído
um instrumento por meio do qual o homem promove transformações na
natureza, na busca de satisfação pessoal e de condições que propiciem a
sua sobrevivência. Talvez por isso, ele seja freqüentemente associado a pro-
messas de felicidade e a dimensões valorativas que remetem à dignidade e
à honra humana, conforme menciona o compositor Gonzaguinha, na mú-
sica Guerreiro menino: “o homem se humilha se castram seu sonho, o
sonho é sua vida e a vida é o trabalho. E sem o seu trabalho o homem não
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Edinaldo Tibúrcio Gonçalo - Os Valores Como
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tem honra e sem a sua honra, ele morre, ele mata. Não dá pra ser feliz”.
Não é preciso nenhuma análise mais minuciosa para perceber-se
que, efetivamente, nem todos os sujeitos sociais vêem o trabalho nesta pers-
pectiva. Para muitos, ele representa rotina, exploração, frustração, tensão,
opressão, angústia, uma espécie de fardo pesado a carregar. Outros, fogem
dele sob qualquer pretexto, não o assumem, responsavelmente, e necessi-
tam de estímulo e convencimento para exercê-lo. Há, ainda, aqueles que fi-
caram sem trabalho e aguardam outra oportunidade, os que estão na
expectativa do primeiro emprego e os que buscam guarida no trabalho in-
formal. Situações como estas, resultam da própria forma de organização da
sociedade e das contradições inerentes às relações sociais de trabalho que
ela produz.
Diante disso, o que fazer, então, para não ser acometido pela gama
de insatisfações que decorrem dessa falta de condições e oportunidades de
trabalho no mundo atual?
Antes de tudo, é preciso resgatar o sentido de trabalho como fonte
de dignidade, idéia que parece meio fora de “moda” nos últimos tempos,
principalmente entre grande parte dos jovens que prefere ver o trabalho na
perspectiva de status social ou de acesso ao consumo. Na garagem dos so-
nhos juvenis, quantas bicicletas já não cederam lugar a motos e carros?
É importante frisar que a valorização do trabalho como fonte de
dignidade é condição fundamental para o exercício da cidadania, uma vez
que possibilita não apenas o consumo de bens materiais, mas principal-
mente o atendimento de necessidades mais prementes, como acesso à edu-
cação, moradia, alimentação, saúde, cultura, lazer.
Em se tratando mais especificamente de jovens e adolescentes, o
trabalho pode proporcionar, ainda, outras situações: maior poder de deci-
são sobre a vida pessoal, aumento do número de amizades, maior possibi-lidade de realizar novos aprendizados e experiências, ampliação do
conhecimento sobre seus direitos.
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CONTEXTO - v.3, n.3, jan-jul/2008, p. 111 - 124 115
Como se percebe, apesar das particularidades, contradições e in-
satisfações que circundam o trabalho, ele pode constituir-se um instrumento
de satisfação para quem o realiza. Pode, também, satisfazer as necessida-
des de quem, direta ou indiretamente, depende dos seus resultados. Por isso,
torna-se necessário que nas relações com o trabalho, se estabeleça alguns
princípios e valores para nortear os posicionamentos éticos e as ações de
quem o execute, pois como envolve outros sujeitos, que dele se beneficiam,
é importante que quem preste esse serviço tenha uma responsabilidade so-
cial, além da individual.
Neste sentido, é imprescindível que a atuação seja realizada de
maneira eficiente, justa, verdadeira, solidária, transparente, respeitosa e
consciente, sem adesão a preconceitos, nem a apelos emocionais; sem pro-
tecionismo, bajulação, vaidade, e egoísmo.
A base desses valores e princípios, que devem delinear um posi-
cionamento ético no exercício do trabalho (seja ele voluntário, temporá-
rio, informal, estágio etc), na verdade, não surge com a inserção do
indivíduo no campo de trabalho; ela já existe antes, incorporada à sua forma
de vida, às atitudes e virtudes que embasam o seu comportamento moral.
Afinal de contas, antes de ser categorizado como servidor, trabalhador ou
profissional, o sujeito social é identificado como homem.
Os valores como fundamento ético do agir humano
Na tentativa de entender o mundo em que vive e conferir signifi-
cado às coisas que o cercam, o homem, ao longo de sua existência, além de
firmar-se como um ser que contempla e especula a realidade circundante,
revelou-se também capaz de apreciá-la e posicionar-se diante dela.
Frente a esse relacionamento com o mundo e as coisas que o en-
volvem, foram criados os valores como referência para as atitudes, esco-
lhas, preferências e decisões ocorridas no âmbito da cultura e das relações
sociais.
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Como se percebe, os valores não existem por si só, mas em fun-
ção das relações que os homens estabelecem com a realidade e consigo
mesmos, de onde decorrem os significados para os objetos, costumes, cren-
ças, necessidades, interesses, princípios, ações e regras que norteiam formas
de comportamento individuais e coletivas, delineando, assim, uma nítida
vinculação da esfera axiológica com os propósitos da moral e da ética.
O pensador grego Sócrates, referenciado por muitos como o Pai da
Moral, foi um dos primeiros filósofos a abordar, de modo consistente, essa
relação entre os valores e o agir humano, sobretudo no que tange aos valo-
res éticos, considerados por ele imprescindíveis à orientação das ações hu-
manas.
Definição e características dos valores
Do ponto de vista ético, os valores são os fundamentos que orien-
tam as ações, normas e regras do comportamento humano, possibilitando
a emissão de juízos sobre o que se apresenta, ao sujeito, como susceptível
de apreciação ou avaliação (objetos, pessoas, atitudes, opiniões etc).
Tal perspectiva de compreensão se adequa, em grande parte, às
ações, julgamentos, preferências e sentimentos dos sujeitos sociais, frente
às diversas situações da vida cotidiana. Neste sentido, por exemplo, que
valor tem um piercing na língua ou no umbigo de uma jovem, a ponto de
suscitar inveja entre os colegas e celeuma no ambiente familiar? Sob a ótica
jovial o piercing é fashion (moda) e traduz um conceito de beleza de grande
aceitação nas culturas jovens. Sob o foco da análise familiar o uso do aces-
sório estético pode ganhar outra conotação, sendo associado a desvio de
comportamento e à influência de outras culturas, como a hippie e a punk,
ensejando, mesmo que implicitamente, indícios de preconceito.
Outra situação remete a um programa televisivo, tipo Reality
Show, no qual o participante, em busca de status e projeção social, expõe
sua intimidade, simula romances, amizades e comportamentos de conve-
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niência. Em se tratando de uma circunstância na qual prevalece a lógica
do “vale tudo”, em detrimento da defesa de princípios, convém indagar-
se até que ponto a pretensão de fama ou prestígio constitui-se promessa de
felicidade humana e em que medida vale mais do que a dignidade, o res-
peito, a honra e a integridade pessoal.
Ambas as situações apresentam um aspecto importante da carac-
terização dos valores: a não-indiferença dos sujeitos diante daquilo que lhes
desperta desejo, necessidade, interesse e adquire condição de valor.
Outra característica dos valores reside no fato destes terem uma
parte objetiva (que está nas coisas e desperta interesse no sujeito) e outra
subjetiva (que é a apreciação feita pelo sujeito a partir das propriedades
que os objetos apresentam).
Sendo criados pelo homem num contexto histórico-social, “os va-
lores existem para um sujeito, entendido não no sentido de mero indivíduo,
mas de ser social; exigem também suporte material sensível, sem o qual
não têm sentido” (VAZQUEZ, 1984). Tomando-se como exemplo um
limão, percebe-se que as suas propriedades naturais (ser azedo, fonte de vi-
tamina C, etc) existem nele, independentemente da ação humana de con-
templá-lo e avaliá-lo; contudo, no tocante às suas propriedades valiosas
(prevenir contra doenças, retirar manchas, ser útil à alimentação humana e
à industria de cosméticos etc), estas necessitam da presença do homem, a
fim de que possam ser apreciadas.
Além dessas características, é importante que se atente para uma
outra particularidade axiológica: saber se os valores são mutáveis ou não.
No decorrer do tempo, os vários tipos de sociedade passaram por
mudanças significativas na sua forma de organizar-se e produzir as condi-
ções de existência. Essas mudanças, por sua vez, propiciaram também
transformações na própria concepção de homem, nas normas, interesses,
relações, costumes e conhecimentos que foram, gradativamente, sendo in-
ternalizadas pelos diferentes contextos sociais.
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Edinaldo Tibúrcio Gonçalo - Os Valores Como
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Ora, se os valores são frutos da criação humana e a sua existência
está condicionada à convivência social, infere-se que os mesmos não se
efetivam como algo acabado e invariável. Assim como a sociedade, eles
também são susceptíveis de mudança e apresentam divergências de uma
cultura para outra, podendo essas diferenças, inclusive, ser detectadas numa
mesma cultura.
Durante muito tempo, sob o pretexto de valorização da disciplina
no comportamento e na aprendizagem dos alunos, grande parte das esco-
las brasileiras adotou práticas autoritárias com castigos físicos e repreensões
verbais, considerados, na época, procedimentos pedagógicos.
Atualmente, embora esses mecanismos ainda existam no interior
de várias escolas brasileiras, não encontram, contudo, respaldo ético ou
moral para legitimarem-se enquanto tal. O estágio de desenvolvimento de-
mocrático alcançado pela sociedade brasileira, neste momento (mesmo não
sendo o ideal), sugere outro tipo de pedagogia para a educação dos seus ci-
dadãos, na qual a força e o autoritarismo vêm cedendo lugar ao diálogo e
ao respeito mútuo.
Este exemplo, envolvendo um bem social, como a educação, cor-
robora o entendimento de que “com a mudança das circunstâncias, que
fazem com que algumas coisas ou ações deixem de ser úteis, mudam tam-
bém as avaliações e com elas os valores’’ (BOCHENSKI, 1987).
Classificação e hierarquiados valores
Nas relações estabelecidas pela convivência social, nem sempre
existe a convergência de valores; em muitas ocasiões estes acabam
gerando situações conflitantes, haja vista a existência de necessidades
divergentes. Como os indivíduos sociais possuem diferentes necessidades,
tudo aquilo que favorecer a superação ou o atendimento satisfatório des-
sas necessidades pode ser categorizado como valor. Dessa forma, existe
uma gama de valores que sustenta vários sistemas de classificação para os
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mesmos.
Essas tentativas de classificação, em sua maioria, incorrem em ex-
cesso de subjetividade, refletindo as posições ideológicas e os interesses
de quem as formula, além de apresentar uma visão recortada do que merece
atribuição de valor. Por isso, este texto não se propõe a reproduzir nenhuma
das classificações existentes. Em vez disso, prefere elencar alguns valores
que, em geral, são apontados como necessários à vida social, tais como:
Valores éticos ou morais – funcionam como critérios básicos para o agir hu-
mano, fundamentando o comportamento moral e a convivência social. Exis-
tem somente em função do homem, uma vez que, do ponto de vista ético,
apenas o que apresenta significado humano reúne condições de ser ava-
liado moralmente. Exemplo: o bem;
Valores estéticos – dizem respeito à percepção da beleza nos produtos hu-
manos e nas coisas. Como dependem da emoção e da sensibilidade de quem
os aprecia, podem suscitar avaliações subjetivas. Por isso, em um concurso
de beleza feminina, por exemplo, dificilmente há consenso entre o júri e o
público na indicação das candidatas finalistas. O mesmo ocorre quando,
numa exposição, várias pessoas apreciam a mesma obra de arte; algumas
poderão apreciá-la do ponto de vista estritamente estético, outras poderão
vê-la em função do forte apelo religioso ou moral, traduzido por seu con-
teúdo, ou, ainda, tão somente sob o ângulo do valor econômico. Estas duas
situações expressam que do ponto de vista estético as avaliações adquirem
uma conotação bastante relativa e pessoal, possibilitando que um mesmo
objeto suscite diferentes atribuições de valor a quem o aprecie.
Valores hedônicos (do grego hedoné; prazer) – compreendem as diversas
sensações de prazer e satisfação alcançadas através de sentimentos, da rea-
ção a determinados estímulos e do atendimento de necessidades mais ime-
diatas. Desta forma, os valores hedônicos são apreciados de diferentes
maneiras, podendo o prazer ser motivado por situações que vão desde um
simples cafuné a uma relação sexual, ou da apreciação de uma pintura bar-
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Edinaldo Tibúrcio Gonçalo - Os Valores Como
Fundamento Ético do Agir Humano120
roca ao saborear de um vinho português.
Valores úteis – voltam – se para a busca de resultados práticos, com o ob-
jetivo de atender a necessidades mais imediatas.
Valores religiosos – são aqueles que, pautados em uma atitude de fé, pro-
curam atender às necessidades espirituais da pessoa humana, orientando-
a para o respeito e a obediência a uma força sobrenatural (Deus);
Valores vitais – abrangem tudo que é fundamental para ssegurar o desen-
volvimento e a preservação da vida humana, tal como a saúde, a paz, os
alimentos etc. Diante disso, qualquer investida contra a vida, segue uma
direção negativa, de contra- valor. É o caso, por exemplo, dos jovens que
assassinaram um índio na rua, da criança de treze anos que matou outra, da
mesma idade, para ficar com o chip de seu celular e do adolescente que foi
morto porque ouvia música com o som do carro alto. Todas essas situações
são demonstrações de que a vida vem sendo banalizada e sinalizam para o
fato de que não se pode assistir a tudo isso com indiferença. É importante
que a sociedade, através de suas instituições representativas e da participa-
ção dos seus cidadãos, organize-se e faça valerem os seus direitos, dentre
eles, o mais precioso (você concorda?), que é o direito à vida; do contrário,
será instalada a barbárie e o desencanto com a própria existência humana.
Havendo a necessidade de assumir um posicionamento ético,
frente ao contexto sócio-cultural em que se insere, a pessoa humana não
pode abdicar de alguns valores básicos como:
Responsabilidade (social, moral, profissional);
Igualdade (de direitos e oportunidades);
Justiça (legal e social);
Solidariedade (generosidade, respeito, compreensão);
Verdade (lealdade, sinceridade).
Independentemente de qual seja o campo da vida social em que o
indivíduo atue (família, trabalho, escola, política, cultura, etc), esses valo-
res servem como referência para fundamentar a sua formação ética; a eles
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também agregam-se outros fundamentos importantes como dignidade, so-
ciabilidade, liberdade, honestidade e auto-realização.
No dimensionamento ético da sociedade, nem todos os sujeitos
partilham dos mesmos valores, haja vista a existência de interesses e ne-
cessidades diferentes. Diante disso, que valores devem ser priorizados
como forma de viabilizar a convivência social? Aliás, eticamente falando,
é possível atribuir-se mais importância a um valor do que a outro?
No que pese a alegação de que todos os valores devem ser consi-
derados importantes para a formação moral e a interação sócio-cultural dos
indivíduos, tem predominado, na convivência social, o estabelecimento de
hierarquia para os valores. Dentre as várias escalas de classificação, exis-
tentes, a do filósofo alemão Max Scheller, é uma das mais conhecidas: “1º
lugar: valores religiosos; 2º lugar: valores éticos; 3º lugar: valores estéticos;
4º lugar: valores vitais; 5º lugar: valores úteis; 6º lugar: valores hedônicos”
(MONTEIRO, 2005).
Conforme se percebe, os valores religiosos assumem o topo de
importância na escala proposta pelo autor, em detrimento dos valores he-
dônicos, relegados, por ele, a último plano. Um adepto do humanismo ateu
jamais atribuiria esse grau de importância aos valores religiosos; ao invés
disso, certamente primaria por valores que contribuíssem para um melhor
entendimento do papel histórico da condição humana. Outros exemplos,
extraídos, inclusive, da informalidade de situações cotidianas, ilustram bem
essa preocupação de estabelecer prioridade para determinados valores.
Muitos jovens ao elegerem a beleza física como preocupação fun-
damental, internalizam imagens de atletas, artistas e modelos, cujo padrão
de beleza passa a ser usado como referência para a satisfação pessoal.
Pouco importa se não há adequação entre o padrão idealizado e o real. Os
produtos anunciados na TV, as dietas dos astros, os exercícios físicos e as
correções corporais alimentam o desejo e a “necessidade”. Sob este prisma,
é muito provável que alguns desses jovens reajam com mais ofensividade
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Edinaldo Tibúrcio Gonçalo - Os Valores Como
Fundamento Ético do Agir Humano122
a quem os chame de feios do que a quem os considere insensíveis, intole-
rantes ou sem senso de justiça.
Os jovens identificados com estas situações acima, certamente
priorizariam os valores estéticos, diante da oportunidade de esboçarem uma
escala de valores.
A crise dos valores e a ética na sociedade atual
Diariamente, quando lemos um jornal, ouvimos rádio e/ou assis-
timos televisão, nos deparamos com notícias de corrupção, escândalos fi-
nanceiros, trabalho escravo, abuso de poder político, violência contra a
mulher, assaltos, seqüestros, assassinatos, degradação do meio ambiente e
uma seqüência interminável de ocorrências que atestam o desrespeito aos
direitos humanos, a banalização da vida e uma inversão de costumes e prin-
cípios morais.
Estecenário, desfavorável à existência humana e à cidadania, leva
a acreditar que a sociedade brasileira está vivendo uma crise de valores, na
qual os valores éticos e morais, sobretudo, têm sido relegados a uma posi-
ção periférica, fortalecendo, com isso, posturas de individualismo e
egoísmo, em detrimento da solidariedade, da responsabilidade social, do
respeito mútuo, do senso de justiça e da honra.
Percebe-se uma mentalidade de ‘salve-se quem puder’, em
‘levar vantagem’, como sinônimo de ‘passar sobre os outros’
para conseguir seus objetivos. Zomba-se da lei, na medida
em que esta parece perder sua essência, quando é desprezada
ou interpretada de maneira equivocada, favorecendo interes-
ses escusos e colocada paradoxalmente a serviço dos privilé-
gios e da discriminação. (BRASIL, 1998)
Dessas considerações, infere-se que a sociedade brasileira passa
por um processo de negação de valores, que compromete não só a digni-
dade dos seus sujeitos, como também as várias instâncias da vida social,
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como a família, a escola, a justiça, a política, a cultura. Neste terreno ga-
nham projeção as atitudes de hostilidade, deslealdade, competição, opor-
tunismo, intolerância, desonestidade que, por sua vez, deterioram as
relações estabelecidas na convivência social e geram um clima de questio-
namento e incerteza em relação às conquistas sociais e aos direitos da ci-
dadania.
Tudo isto implica numa concepção extremamente negativa sobre
o homem e o estágio de desenvolvimento ético da sociedade atual.
Diante de todos os aspectos levantados, será que ainda é possível
uma retomada dos valores e uma revitalização da ética?
Segundo Strieder (1992) “a presença da ética se manifesta e esta-
belece na medida em que a sociedade fundamenta suas bases na racionali-
dade”. Como a ética consegue relacionar-se intrinsecamente com vários
aspectos que dão sustentação à sociedade, ela é um instrumento importante
para apoiar não só a retomada dos valores, como também os caminhos da
sua própria revitalização.
Para isso, é imprescindível que a sociedade tenha a vontade de
promover mudanças e disponha das condições básicas para a efetivação de
uma vida social com o mínimo de dignidade. A falta dessas condições ob-
jetivas tem sido um dos agravantes para a crise dos valores na sociedade
atual, pois a fome aliada à falta de educação e moradia, bem como ao de-
semprego, ao descompromisso dos governantes com os serviços públicos
e à falta de perspectiva para uma vida melhor, tende quase sempre a res-
ponder violentamente à violência do descaso e a ignorar os valores e nor-
mas socialmente estabelecidos.
Face a estas circunstâncias, como pode alguém ensinar o outro a
ser justo, bom, solidário, digno se não lhe ensinam tais virtudes e tampouco
as pratica?
A única saída para o crescimento de uma sociedade ética é o
incentivo à aproximação comunitária dos homens entre si.
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Edinaldo Tibúrcio Gonçalo - Os Valores Como
Fundamento Ético do Agir Humano124
Somente assim se estruturará uma verdadeira sociedade, em
que todos assumam compromissos com os seus companhei-
ros, sabendo que a dignidade de cada um depende da digni-
dade do outro. (STRIEDER, 1992)
!OTAS
1 Artigo adaptado a partir do texto Ética, produzido inicialmente como uma das unidades
do Caderno de Estudos do Projeto Juventude Cidadã.
REFERÊ!CIAS
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Contexto 16cm x 23 cm:Layout 1 5/25/2008 5:22 PM Page 124

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