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Mitos e verdades sobre a conservação do

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31
Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 31-38, jan./abr. 2012
Mitos e verdades sobre a conservação do 
solo no Rio Grande do Sul
* STRECK, Edemar Valdir 
1 INTRODUÇÃO
Desde que se iniciou a derrubada das matas 
e viradas dos campos nativos para os cultivos, 
preocupações começaram a surgir quanto às 
perdas por erosão e da fertilidade dos solos. 
Nos últimos 60 anos, a Emater/RS-Ascar, 
desde a sua fundação, sempre desenvolveu 
projetos e ações e participou dos programas 
de uso e manejo e conservação dos solos, de 
forma integrada com as entidades de pesqui-
sa, empresas públicas e privadas, tendo como 
objetivo transferir e difundir a tecnologia aos 
agricultores para manter nossos solos produ-
tivos. No primeiro planejamento do Programa 
Cooperativo da Extensão Rural (Ascar, 1956), 
consta que não seria concebível a existência 
de um plano de soerguimento da agricultura 
nacional, orientado na elevação do índice da 
produtividade agrícola, em que não constas-
se uma ação especial que colocasse em des-
taque a recuperação da fertilidade do solo, 
* Doutor em Ciência do Solo pela UFRGS, Assistente 
Técnico Estadual em Solos da Emater/RS-Ascar, 
E-mail: streck@emater.tche.br.
bastante empobrecida, já naquela época, por 
uma exploração predatória, completamente 
divorciada do interesse e do bem-estar cole-
tivo, permitindo que a erosão completasse a 
obra destruidora do homem e transformas-
se áreas férteis em desertos irrecuperáveis. 
Naquele período, o potencial produtivo dos 
campos (Latossolos), recobertos pela barba de 
bode, era totalmente desconhecido. Por isso, 
ocorria a exploração das áreas férteis cober-
tas por matas e havia a preocupação quanto 
à exploração irracional das riquezas naturais, 
permitindo que o machado campeasse livre-
mente, destruindo o pouco que ainda restava 
das matas e que não satisfazia às exigências 
mínimas da civilização, quando deveriam, ao 
contrário, ser conservadas. Naquela época já 
existia uma preocupação sobre as práticas de 
uso, manejo e conservação do solo mal con-
duzidas como, por exemplo, as arações, as 
aberturas de sulcos, os plantios e as capinas 
eram realizados acompanhando o declive. E a 
monocultura era executada com a queima dos 
restos culturais que favoreciam a erosão do 
terreno. Diante da realidade do ano de 1956, 
pergunta-se por que o produtor realizava o 
32
Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 31-38, jan./abr. 2012
cultivo no sentido do declive? Para facilitar as 
operações e o seu trabalho? Facilitar o escoa-
mento das águas? Mas, enfim, o que mudou 
atualmente de lá para cá? Pelo que vemos, 
mudou o sistema de semeadura, que saiu do 
plantio convencional para o plantio direto, 
graças ao desenvolvimento de máquinas que 
permitem realizar a semeadura na palha. 
Porém, no restante, continuamos semeando, 
plantando e abrindo sulcos, só que de menor 
tamanho, da mesma forma como em 1956. 
Pergunta-se, ainda, será que obtivemos um 
retrocesso na adoção das práticas conserva-
cionistas, principalmente em relação à seme-
adura no sentido transversal ao declive? 
De modo geral, todos os programas de con-
servação de solos desenvolvidos até o presen-
te momento trouxeram resultados positivos 
principalmente em relação ao aumento da 
produtividade e à redução das perdas de solo 
por erosão. A elevação da produtividade de-
ve-se a uma série de fatores como o uso de 
corretivos e fertilizantes e o melhoramento 
genético das culturas, mas também ocorreu 
em razão da melhoria do sistema de manejo 
do solo, através da semeadura direta, a qual 
permite manter o solo coberto pelos resídu-
os culturais, fator principal na dissipação da 
energia da chuva para reduzir as perdas por 
erosão. Porém, desenvolve-se uma agricultu-
ra contraditória aos princípios conservacio-
nistas em que predomina a monocultura, a 
ausência de rotação de culturas e as práticas 
mecânicas de controle de erosão e semeadura 
no sentido do declive, resultando em uma es-
trutura de solo de baixa qualidade e perdas 
de muita água e nutrientes. 
Verifica-se que, nos últimos anos, obteve-se 
uma evolução na conservação do solo graças 
aos programas e às ações desenvolvidas pelas 
entidades públicas e privadas e pelos agricul-
tores. Cada programa era desenvolvido em ra-
zão dos problemas existentes e tinha objetivos 
e metas a serem alcançados. E a adoção das 
práticas conservacionistas pelos agricultores 
ocorria de acordo com o tipo de equipamentos 
existentes nas propriedades e no mercado. Por 
isso, é importante trazer ao conhecimento, de 
forma resumida, os programas de uso, mane-
jo e conservação realizados do Rio Grande do 
Sul, bem como dos seus objetivos, benefícios e 
análise crítica da situação atual na qual se en-
contram atualmente nossos solos, sob o ponto 
de vista de manejo e conservação.
2 A CONTRIBUIÇÃO DOS PROGRAMAS 
DE USO, MANEJO E CONSERVAÇÃO 
DO SOLO
Na década de 1950 até o início dos anos 
1970, grande parte dos solos da região do Pla-
nalto era improdutiva, com solos ácidos e de 
baixa fertilidade. Para dar um crescimento 
vertical na agricultura e na pecuária do Rio 
Grande do Sul, foi desenvolvido, nesse perío-
do, um Plano Estadual de Melhoramento do 
Solo. O projeto teve a integração do Ministé-
rio da Agricultura, Secretaria da Agricultu-
ra, Faculdade de Agronomia e Veterinária da 
UFRGS, Ascar, Banco do Brasil e prefeituras 
municipais, que tinham como objetivo prin-
cipal realizar investimentos na correção e no 
melhoramento da fertilidade (Mielniczuck et 
al., 2003). Nesse período, houve expansão da 
monocultura trigo/soja, com preparo no sis-
tema convencional, com grande mobilização 
do solo, queima dos resíduos, resultando na 
degradação da estrutura, compactação abai-
xo da camada arável e grandes perdas de 
solo por erosão. Segundo Olinger (2007), as 
primeiras atividades em conservação do solo 
baseavam-se nos métodos clássicos dissemi-
nados pelas escolas de ciências agrárias em 
que a ênfase recaía sobre a construção de ter-
raços, cordões em contorno, canais escoadou-
ros e métodos vegetativos. Talvez tenha sido 
por isso que a semeadura e os tratos culturais 
passaram obrigatoriamente a ser realizados 
no sentido transversal ao declive. Nesse pe-
ríodo, também não existiam semeadoras que 
permitissem realizar a semeadura com palha, 
resultando na queima dos resíduos culturais, 
em um solo descoberto no momento do plantio 
e com um processo de erosão intenso quando 
ocorriam chuvas erosivas, resultando na for-
mação de sulcos e ravinas durante o preparo 
e/ou após a semeadura, necessitando, muitas 
33
Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 31-38, jan./abr. 2012
vezes, o replantio, vindo a causar preju-
ízo aos agricultores.
Devido à gravidade da ocorrência de 
erosão na região do Planalto, no final 
da década de 1970 e início da década 
de 1980, houve uma mobilização das 
instituições a nível estadual e nacional, 
no sentido de desenvolver ações para 
reduzir as perdas de solo por erosão, 
criando-se o Programa Integrado de 
Conservação do Solo (PIUCS), evolven-
do instituições públicas, universidades, 
assistência técnica e extensão rural, co-
operativas e agentes financeiros no sentido de 
que as ações de manejo e conservação do solo 
não ficassem somente restritas ao terracea-
mento (Mielniczuck et al., 2003). Subsolado-
res foram fabricados para a descompactação 
e redução do preparo do solo. Semeadoras fo-
ram melhoradas para permitir o plantio com 
resíduos culturais semi ou totalmente incor-
porados ao solo. Adaptações em semeadoras 
também foram realizadas para permitir a re-
alização do plantio direto. Grupos de produto-
res (clubes amigos da terra) importaram algu-
mas semeadoras para a realização do plantiodireto, sendo que não prosperaram por serem 
muito caras, não foram fabricadas para as 
nossas condições de solo e clima e exigiam tra-
tores de grande potência para a tração. A im-
plantação do sistema de plantio direto (SPD) 
também não evoluiu naquele período porque 
era de custo muito elevado e as empresas fa-
bricantes de semeadoras não tinham a tecno-
logia capaz de produzir equipamento eficiente 
e de pequeno porte para a realização do plan-
tio direto. Mesmo assim, o programa trouxe 
benefícios como a eliminação da queima da 
palha, redução no preparo e redução parcial 
da erosão. Por outro lado, os solos estavam 
desestruturados por cultivos anteriores e o 
processo de erosão continuava, porém, com 
menor intensidade do que em anos anteriores. 
Além disso, havia o problema da conservação 
das estradas, que eram utilizadas como canais 
para escoamento da água das lavouras, geran-
do problema na sua conservação para as pre-
feituras municipais. 
Em razão disso, a extensão rural no Rio 
Grande do Sul e em outros Estados, junta-
mente com o setor público estadual, desen-
volveu o Programa Integrado de Manejo e 
Conservação do Solo e da Água, em defesa do 
meio ambiente, com ênfase na conservação do 
solo e da água, utilizando a microbacia hidro-
gráfica como unidade de planejamento (Ema-
ter/RS, 1982; Emater/RS, 1987). 
O Programa Integrado de Manejo e Conser-
vação do Solo e da Água tinha claras definições 
de objetivos, estratégias de ação, metodologia, 
tecnologias e metas. O objetivo principal era 
desenvolver um conjunto de práticas conser-
vacionistas, abrangendo a correção do solo, 
o terraceamento em nível, o uso de plantas 
recuperadoras, o plantio direto, a contenção 
das enxurradas das lavouras e estradas, o re-
florestamento e o manejo dos dejetos, visando 
à redução da erosão hídrica e à melhoria da 
qualidade da água dos mananciais hídricos. 
Devido à importância do trabalho, na década 
de 1980, criou-se o Programa Nacional de Ba-
cias Hidrográficas. O Programa previa a ins-
talação de uma microbacia-piloto em cada Es-
tado da Federação (Wildner & Freitas, 1999). 
O programa proporcionava pequenos incenti-
vos financeiros para a implantação de algu-
mas práticas de conservação do solo e compra 
de equipamentos comunitários, mas fracas-
sou por falta de recursos. Devido às dificul-
dades na obtenção de recursos, foram criados 
Programas Estaduais de Bacias Hidrográ-
ficas em vários Estados, e, especificamente 
no Rio Grande do Sul, pode ser citado o Pró-
Ocorrência de erosão do solo no sistema de preparo convencional.
34
Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 31-38, jan./abr. 2012
-Guaíba (1994-2005), com recursos do banco 
mundial (Emater, 1994). As principais linhas 
de ação eram para aumentar a cobertura do 
solo, controlar o escoamento superficial, usar 
o solo de acordo com sua aptidão agrícola, re-
cuperar fontes de água, incentivar a agricul-
tura ecológica, proteger o meio ambiente e au-
mentar a produtividade agrícola. O programa 
teve incentivos com financiamentos para fe-
chamento de voçorocas, construção de cordões 
de pedra e cordões vegetados, melhorias das 
estradas, construção de terraços e murundus 
em nível para captação de água das estradas, 
aquisição de máquinas e equipamentos. As 
ações para o controle das enxurradas resul-
tavam em uma intensa mobilização do solo e 
custo elevado. E o espaçamento entre os ter-
raços sempre foi dimensionado para o siste-
ma de preparo convencional, pois, na época, 
era o sistema predominante. No caso da mi-
gração para o SPD, haveria a necessidade de 
aumentar o espaçamento, retirando-se um a 
cada dois ou três terraços. 
A difusão do sistema de plantio direto teve 
início com os Clubes Amigos da Terra, for-
mados por agricultores e empresas comer-
ciais que tinham como objetivo expandir o 
plantio direto, como sendo uma alternativa 
para o controle da erosão. Os Clubes Amigos 
da Terra foram fundados a partir de 1982, 
tendo crescimento a partir de 1992, espa-
lhando-se por todo o Estado com o apoio da 
Fundacep e ICI, patrocinando todas as ações 
iniciais, com objetivo de realizar trocas de 
experiência entre produtores e “conscien-
tizar sobre a importância ambiental” (Clu-
bes Amigos da Terra, 1994). A participação 
das empresas privadas, já naquela época, 
resumia-se em vendas de insumos agrícolas 
e, até o presente momento, não desenvolve-
ram métodos alternativos para substituição 
dos herbicidas para o controle de invasoras. 
Além das questões do controle das invaso-
ras, as semeadoras eram ineficientes para a 
realização da semeadura direta. Adaptações 
eram realizadas e a técnica de semeadura era 
muito desconhecida. Para tanto, encontros 
foram realizados no Estado do Rio Grande 
do Sul, iniciando-se pelo Estado do Paraná e 
posteriormente espalhando-se pelo território 
nacional, envolvendo técnicos da pesquisa, 
cooperativas e extensão. Segundo os idea-
lizadores dos Clubes Amigos da Terra, en-
tendia-se que os resultados das adaptações 
e “de pesquisa” poderiam ser demonstrados 
diretamente nas propriedades e difundidos 
nos encontros (Trecenti, 2003). E foi em um 
desses encontros que Martin (1985), por ob-
servações empíricas, disseminou a percepção 
de que o SPD constituía prática conserva-
cionista suficiente para controlar integral-
mente as enxurradas e a erosão hídrica. Em 
decorrência disso, o terraceamento passou a 
ser considerado desnecessário e indiscrimi-
nadamente desfeito, levando ao abandono 
da semeadura em contorno e à adoção da 
semeadura paralela ao maior comprimento 
da gleba, independentemente do sentido do 
declive (Denardin, et. Al., 2008). Esse princí-
pio conflitou com os objetivos propostos pelo 
Programa de Microbacias da década de 1990, 
principalmente com relação ao controle das 
enxurradas. O plantio direto inicialmente 
não expandiu por haver desconhecimento 
por parte dos produtores e técnicos de cam-
po sobre a tecnologia do sistema. Para tan-
to, nesse período foi criado o projeto Metas, 
pela Embrapa-CNPT, envolvendo técnicos 
da extensão e cooperativas, o qual teve como 
objetivo difundir o SPD no Planalto do Rio 
Grande do Sul e remover todos os entraves 
relacionados à mecanização e ao controle 
de ervas daninhas (Denardin, 1997). A par-
tir daí, teve-se uma evolução do SPD no Rio 
Grande do Sul, porém, disseminando-se um 
sistema de monocultura e contra os princí-
pios conservacionistas propostos pelos Pro-
gramas de Bacias Hidrográficas, com um 
crescimento acelerado da retirada parcial ou 
integral dos terraços das lavouras, supondo 
empiricamente que o problema da erosão 
estaria solucionado pelo plantio direto (Ca-
viglione et.al., 2010). Além disso, veio a re-
sultar em um crescimento desregrado no uso 
de dessecantes, aplicados superficialmente 
ao solo e sem contenção das enxurradas, per-
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Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 31-38, jan./abr. 2012
mitindo que eles sejam facilmente transpor-
tados pela água da chuva até os mananciais 
hídricos e poluindo o meio ambiente.
3 A SITUAÇÃO ATUAL DA 
CONSERVAÇÃO DO SOLO NO RIO 
GRANDE DO SUL
Todos os programas de uso, manejo e con-
servação do solo desenvolvidos no Estado do 
Rio Grande do Sul, assim como em outros Es-
tados, trouxeram benefícios para a conserva-
ção dos recursos naturais. Olinger (2006) tem 
comentado que os resultados que se tem colhi-
do não são aqueles esperados pelos programas 
de desenvolvimento e por toda a sociedade. 
A forte razão é que os agricultores tendem a 
adotar práticas que diminuam o esforço físico 
e o trabalho e que tornem a vida menos dura, 
embora, às vezes, tais práticas concorram 
para a produção de grandes danos à natureza, 
naturalmente indesejáveis pelos cientistas, 
pelos técnicos e por toda a sociedade. Exemplodisso é o abandono da manutenção e constru-
ção de terraços, construção de cordões de pe-
dra e vegetados, cultivo em contorno, uso de 
máquinas inapropriadas, uso desregrado de 
agrotóxicos e fertilizantes químicos, devasta-
ção florestal das nascentes e outras atividades 
ecologicamente erradas. 
O abandono da manutenção e da 
construção dos terraços talvez tenha 
sido muito mais pela facilidade do 
trabalho do que por outros motivos. 
Os agricultores, em um primeiro mo-
mento, antes da retirada dos terra-
ços, realizaram a semeadura direta 
sem manutenção durante dois ou três 
anos, deixando baixá-los naturalmen-
te, e outros os retiravam desde o iní-
cio da implantação do SPD. Empiri-
camente, observavam que a erosão no 
plantio direto era muito menor do que 
no sistema convencional, mesmo sem 
rotação de culturas e baixa cobertu-
ra do solo. Tal observação tem indu-
zido, erroneamente, os produtores a 
eliminarem, das áreas de cultivo, os 
terraços e as outras práticas conser-
vacionistas de suporte como a semeadura em 
contorno (Cogo et al., 2007; Denardin et al., 
2008; Silva et al. 2011). Além dos terraços, 
taipas de pedra foram desmanchadas e as pe-
dras expostas sobre a superfície do solo foram 
e continuam sendo enterradas para tornar as 
áreas mecanizáveis e implantar SPD. Essas 
áreas normalmente são compostas por solos 
rasos, com baixa capacidade de armazena-
mento de água, chegando a déficits hídricos 
em períodos curtos de estiagem, tendo baixa 
aptidão agrícola para culturas anuais. 
De um modo geral, o SPD reduz as perdas 
de solo e água em 84 e 58,7%, quando tiver 
um bom sistema de rotação de culturas e com 
boa produção de palha (Bertol et al., 2007). E 
ainda é mais eficiente se a semeadura for re-
alizada em contorno, pois o resultado de pes-
quisa mais recente mostra que a semeadura 
em contorno no SPD reduz em 74% e 26% as 
perdas de solo e água em relação à semeadu-
ra no sentido do declive (Cogo et al., 2007). 
Assim, Caviglione et al. (2010) explicam que 
há uma percepção equivocada dos produtores 
e da assistência técnica de que a remoção de 
terraços no SPD não compromete a erosão. Os 
pesquisadores demonstraram, nos seus estu-
dos de simulação de perdas de solo, em uma 
bacia hidrográfica do Estado do Paraná, que a 
Lavoura de soja cultivada no sentido do declive e com transporte de 
solo na linha e de resíduos culturais nas entrelinhas por erosão. 
36
Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 31-38, jan./abr. 2012
retirada de um para cada dois terraços ou na 
sua íntegra no SPD comprometeu o sistema, 
obtendo perdas de solo acima de 26 ton/ha 
ano, em eventos de chuvas de alta intensida-
de. A partir desse estudo, recomendam que os 
terraços devem ser mantidos no SPD. É nes-
se sentido que Denardin et al. (2008) alertam 
que o transporte das partículas de solo, dos 
corretivos, dos fertilizantes, dos agrotóxicos, 
do material orgânico e da água ocorre para 
fora da lavoura quando não tiver uma barrei-
ra física capaz de conter as enxurradas, po-
dendo ocasionar poluição dos mananciais de 
superfície, redução do volume de água no solo, 
redução do tempo de concentração de bacias 
hidrográficas e redução de recargas de aquífe-
ros subterrâneos. Além disso, a baixa produ-
ção de resíduos culturais, aliada à semeadura 
no sentido do declive, facilita o transporte do 
solo mobilizado pelas hastes sulcadoras das 
semeadoras, dos fertilizantes aplicados na 
linha de semeadura e dos resíduos culturais 
depositados entre as linhas, acentuando ain-
da mais as perdas. Como dito anteriormente, 
as perdas podem ser minimizadas quando a 
semeadura ocorre transversalmente ao decli-
ve. Nesse caso, as plantas ou a soqueira atu-
am como âncora aos resíduos, evitando que 
eles sejam transportados pela água da chuva.
Atualmente, grande parte dos solos cultiva-
dos sob plantio direto no Estado do Rio Gran-
de do Sul está adensada, principalmente pela 
baixa produção de resíduos culturais, degra-
dação da estrutura e tráfego de máquinas, di-
minuindo os rendimentos. Amado et al (2007) 
e Giardello (2010), avaliando a resistência de 
penetração do solo em relação ao rendimento 
das culturas, observaram baixos rendimen-
tos nas lavouras em que há uma degradação 
da estrutura do solo, causados pelos efeitos 
de um maior tráfego de máquinas, principal-
mente nas bordaduras das lavouras. Outros 
resultados de pesquisa mostram que a quali-
dade do solo e os rendimentos são sempre me-
nores em áreas de baixa produção de resíduos 
culturais, devido ao aumento da densidade, à 
redução da matéria orgânica, da fertilidade, e 
da estabilidade e ao tamanho dos agregados 
(Lovato et al. 2004; Vezzani & Mielniczuk, 
2011; Conte et al. 2011;). 
Em anos com déficit hídrico acentuado, 
como na safra 2011/2012, a produção dos resí-
duos culturais nas lavouras é baixa, podendo 
agravar ainda mais a qualidade da estrutura 
do solo nos próximos anos em todas as áreas 
de SPD, principalmente nas áreas mal mane-
jadas, reduzindo mais ainda a infiltração e o 
armazenamento de água e aumentando mais 
as perdas de água, solo e nutrientes.
A degradação da estrutura dos nossos 
solos sob SPD deve-se à predominância da 
monocultura, com sucessões de cultivos de 
soja/trigo, soja/aveia, soja/pousio (aveia ou 
azevém nativo) e pouca rotação de cultura, 
como, por exemplo, o milho no verão ou outra 
cultura de inverno, resultando em uma bai-
xa produção de resíduos culturais. É nesse 
sistema que predomina a aplicação superfi-
cial de corretivos e fertilizantes preconiza-
dos pela agricultura de precisão. Achamos 
que a agricultura de precisão é extrema-
mente importante para otimizar os recursos, 
37
Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 31-38, jan./abr. 2012
incrementar rendimentos e racionalizar o 
uso de insumos. Porém, sob ponto de vista 
ambiental, a aplicação dos insumos na su-
perfície não é tecnicamente recomendável, 
pois os corretivos sempre ficam expostos so-
bre a superfície do solo e estão prontamente 
disponíveis para o transporte pela água da 
chuva até os mananciais hídricos de superfí-
cie, causando a contaminação e o desenvolvi-
mento do processo de eutrofização da água.
É por essa razão que necessitamos reali-
zar práticas mecânicas e complementares 
para a contenção das enxurradas como, por 
exemplo, a construção de terraços em nível e 
o cultivo transversal ao declive e, além disso, 
desenvolver um sistema de cultivo que redu-
za o uso de agrotóxicos e aumente a produ-
ção de resíduos culturais, em que a rotação 
de culturas é extremamente importante e 
que vem sendo recomendada desde a déca-
da 1950. Nesse processo de rotação, é impor-
tante que se utilizem plantas recuperado-
ras de solo e realizem três cultivos no ano, 
como, por exemplo, cultivar nabo forrageiro 
ou aveia no inverno e, na primavera e no ve-
rão, o milho e a soja, respectivamente. Nesse 
caso, a cultura do milho é indispensável para 
a realização do sistema, principalmente para 
aumentar a produção de resíduos culturais. 
É assim que se deseja que os nossos solos se-
jam cultivados para garantir a conservação 
dos recursos naturais e a sustentabilidade 
para as futuras gerações. Porém, para isso, 
também é necessário que se estabeleça uma 
política agrícola que incentive os agriculto-
res a adotar as tecnologias conservacionistas 
como, por exemplo, a cobrança de taxas de 
seguro ou de juros mais baixos no custeio de 
lavouras para aqueles agricultores que ado-
tam as tecnologias de acordo com os princí-
pios conservacionistas e de preservação am-
biental, além de taxas mais elevadas para 
aqueles que não seguem esses princípios. 
Isso resultará em uma economia dos custos 
e investimentos em irrigação nas áreas bem 
manejadas e diminuirá a indenização dela-
vouras, como no caso do seguro agrícola (Pro-
agro), naquelas mal manejadas, pois os re-
Cultivo em nível com terraços, rotação de culturas e três 
cultivos no ano. (Foto EM de Dr. Maurício Cardoso)
38
Agroecologia e Desenv. Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 31-38, jan./abr. 2012
sultados da colheita no ano agrícola 2011/12 
vêm apontando que as perdas de produtivi-
dade podem ser reduzidas de 30 a 50% nas 
lavouras de alta tecnologia, em que o manejo 
AMADO, Telmo J. C. ; SANTE, Antonio L. Agricultura de 
precisão ao aprimoramento do manejo do solo. p. 99-
144. In: FIORIN, Jackson E. (Coord.). Manejo e fertili-
dade do solo no sistema plantio direto. Passo Fundo: 
Bertier, 2007. p. 99-144.
ASSOCIAÇÃO SULINA DE CRÉDITO E ASSISTÊNCIA 
RURAL. Programa de Atividades de Extensão Rural e 
Credito Rural Supervisionado. Porto Alegre, 1956. 36 f.
ASSOCIAÇÃO RIOGRANDENSE DE EMPREENDIMEN-
TOS DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RUAL. 
Plano estadual de assistência técnica e extensão ru-
ral: 1980/81-1984/85. Porto Alegre, 1980. 114 f.
BECKER, Leandro. À frente do tempo. Zero Hora, Porto 
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