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ANOTAÇÕES PARA UM LIVRO DE ECONOMIA E ETICA UFSM

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Prévia do material em texto

1 
 
 
 
DISCIPLINA: 
ECONOMIA E ÉTICA 
ANOTAÇÕES PARA 
UM LIVRO DE TEXTO 
RESUMO 
O presente material didático foi elaborado com o 
intuito de introduzir aos graduandos do curso de 
economia ao estudo dos fundamentos da ética 
aplicados ao comportamento dos seres humanos 
na atividade economia 
Prof. Dr. Lazaro Camilo Recompensa Joseph 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ECONOMIA E ÉTICA: 
ANOTAÇÕES PARA UM LIVRO 
DE TEXTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AUTOR: LAZARO CAMILO RECOMPENSA JOSEPH 
DOUTOR EM CIENCIAS ECONÔMICAS 
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
O presente material didático foi elaborado com o intuito de introduzir aos 
graduandos do curso de economia ao estudo dos fundamentos da ética aplicados ao 
comportamento dos indivíduos na atividade economia, motivo pelo qual é necessário e 
útil esclarecer o alcance teórico, metodológico e prático deste material para o 
entendimento: 
 
 (...)da inclusão da ética nas avaliações e nas decisões econômicas. Por 
exemplo Samuel Brittan(1995), jornalista do Financial Times, afirmou 
que “a idéia de uma economia tecnocrática e livre de valores já teve 
seus dias”; o prêmio Nobel Amartya Sen (2002), por sua vez, observou 
que “a natureza da economia moderna tem se empobrecido 
substancialmente devido ao crescimento do fosso entre economia e 
ética”. Outro prêmio Nobel, Joseph Stiglitz(2000) foi além, dizendo que 
“interesse pessoal e o paradigma de mercado não apenas falharam em 
gerar resultados mais eficientes, mas mesmo quando estes ocorrem, não 
concorrem com a justiça social” (...) Ver. Paulo Paiva1. Sobre Ética, 
Economia e Boa Governança. 2002 
 
 
Sendo assim, o material tem como objetivo desenvolver as habilidades teóricas e 
metodológicas dos alunos para a compreensão dos problemas éticos na atividade 
econômica, aprimorando instrumentais, tanto específicos quanto genéricos, necessários 
para a análise crítica e buscando alternativas para as relações dos indivíduos entre si, com 
a comunidade e com a sociedade. 
 
(...) Sabemos que um dos desafios a enfrentar é o de conseguir 
promover o desenvolvimento econômico e social; vale dizer, tratar da 
produção e da distribuição dos bens e serviços materiais para elevar a 
qualidade de vida de todos os cidadãos. Para garantir a todos acesso à 
uma atividade que lhes permita ser também cidadãos, na sua plenitude 
(...) Exercer a profissão de economista não é simplesmente um ato 
individual. Mais do que isto, é uma atitude solidária e coletiva. O 
exercício da profissão do economista requer, também, a busca do bem-
estar de todos” (...) Idem 
 
Deve-se alertar que qualquer cópia, uso indevido, publicação ou reprodução do 
mesmo está terminantemente proibida, por ser de uso exclusivamente didático do Curso 
de Economia da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Santa Maria. 
 
O autor. 
 
 
1 Vice-Presidente de Planejamento e Administração. Banco Interamericano de Desenvolvimento 
4 
 
 
INDICE 
 
CAPITULO I: Os fundamentos da ética geral e profissional 
 
1.1 Conceitos básicos: O significado da palavra ética. 
 
1.2 Ética e moral. 
1.3 A história da ética: Teorias éticas, breve comentário 
 
1.4 A mutabilidade da vivência ética. 
1.5 O princípio fundamental da ética. 
1.6 O objeto de estudo da própria ética. 
1.7 A ética profissional. 
 
CAPITULO II: Economia e Ética. 
 
2.1 Teoria econômica e ética 
2.2. Atividade econômica e ética 
2.3 Ética e moral no Brasil. A hibridez no caso do Brasil 
2.4 A Profissão do Economista e o Código de Ética do Economista. 
 
CAPITULO III. A ética empresarial numa economia globalizada. 
 
3.1 Ética Empresarial e Moral da Responsabilidade Social: Aspectos Históricos – 
Globais; 
3.2 Concessões de ética nos negócios internacionais; 
3.3 A cultura como um fator de negócios; 
3.4 A empresa multinacional; 
3.5 Um código de ética universal; 
3.6 Princípios de ética empresarial aprovados pela Mesa Redonda de Caux; 
3.7 Problemas éticos ao redor do globo. 
 
CAPITULO IV. Crime Econômico, Crime Organizado e sua eventual relação 
com os profissionais da área. 
 
4.1 Crime organizado e econômico: definições 
4.2 A lavagem de dinheiro. 
4.3 Princípios básicos da lavagem dinheiro 
4.4 Métodos de lavagem de dinheiro. 
4.5 Os efeitos e o combate à lavagem de dinheiro. 
 
CAPITULO V. Paraísos Fiscais e Judiciários no mundo: para que e para 
quem servem. 
 
5) Paraísos Fiscais e Judiciários: Breve introdução. 
5.1) Capitais múltiplos e de origem diversa. 
5.2) Os efeitos catastróficos de estes capitais (independentemente das origens) os 
resultados da sua presença nos paraísos fiscais são os mesmos. 
5.3) Definição e caraterísticas dos paraísos fiscais. 
5 
 
5.4) Pequena história dos PFJ 
5.5) Paraísos que nos levam para o inferno. 
5.6) A introdução dos paraísos fiscais no próprio sistema financeiro internacional. 
5.7) Que faz a comunidade internacional? 
5.8) Acabar com o escândalo é possível 
5.9) Sobre os Trusts ou fidúcias. Conceitos e tipos. 
5.10)Paraísos Fiscais pilares do capitalismo. 
6 
 
 
CAPITULO I: Os fundamentos da ética geral e profissional 
 
1.1. Conceitos básicos. 
 
Introdução. 
A ética é uma característica inerente a toda ação humana e, por esta razão, é um 
elemento vital na produção da realidade social. Todo homem possui um senso ético, uma 
espécie de "consciência moral", estando constantemente avaliando e julgando suas ações 
para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas. 
Existem sempre comportamentos humanos classificáveis sob a ótica do certo e 
errado, do bem e do mal. Embora relacionadas com o agir individual, essas classificações 
sempre têm relação com as matrizes culturais que prevalecem em determinadas 
sociedades e contextos históricos. 
A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os 
outros relações justas e aceitáveis. Via de regra está fundamentada nas idéias de bem e 
virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa 
existência plena e feliz. 
O estudo da ética talvez tenha se iniciado com filósofos gregos há 25 séculos atrás. 
Hoje em dia, seu campo de atuação ultrapassa os limites da filosofia e inúmeros outros 
pesquisadores do conhecimento dedicam-se ao seu estudo. Sociólogos, psicólogos, 
biólogos e muitos outros profissionais desenvolvem trabalhos no campo da ética. 
Ao iniciar um trabalho que envolve a ética como objeto de estudo, consideramos 
importante, como ponto de partida, estudar o conceito de ética, estabelecendo seu campo 
de aplicação e fazendo uma pequena abordagem das doutrinas éticas que consideramos 
mais importantes para o nosso trabalho. 
Problemas morais e problemas éticos 
A ética não é algo superposto à conduta humana, pois todas as nossas atividades 
envolvem uma carga moral. Idéias sobre o bem e o mal, o certo e o errado, o permitido e 
o proibido definem a nossa realidade. 
Em nossas relações cotidianas estamos sempre diante de problemas do tipo: 
 Devo sempre dizer a verdade ou existem ocasiões em que posso mentir? Será que 
é correto tomar tal atitude? Devo ajudar um amigo em perigo, mesmo correndo 
risco de vida? Existe alguma ocasião em que seria correto atravessar um sinal de 
trânsito vermelho? 
 Os soldados que matam numa guerra, podem ser moralmente condenados por seus 
crimes ou estão apenas cumprindo ordens? 
Essas perguntas nos colocam diante de problemas práticos, que aparecem nas 
relações reais, efetivas entre indivíduos. São problemas cujas soluções, via de regra, não 
envolvem apenas a pessoa que os propõe, mastambém a outra ou outras pessoas que 
7 
 
poderão sofrer as consequências das decisões e ações, consequências que poderão muitas 
vezes afetar uma comunidade inteira. 
O homem é um ser-no-mundo, que só realiza sua existência no encontro com 
outros homens, sendo que, todas as suas ações e decisões afetam as outras pessoas. Nesta 
convivência, nesta coexistência, naturalmente têm que existir regras que coordenem e 
harmonizem esta relação. Estas regras, dentro de um grupo qualquer, indicam os limites 
em relação aos quais podemos medir as nossas possibilidades e as limitações a que 
devemos nos submeter. São os códigos culturais que nos obrigam, mas ao mesmo tempo 
nos protegem. 
Diante dos dilemas da vida, temos a tendência de conduzir nossas ações de forma 
quase que instintiva, automática, fazendo uso de alguma "fórmula" ou "receita" presente 
em nosso meio social, de normas que julgamos mais adequadas de serem cumpridas, por 
terem sido aceitas intimamente e reconhecidas como válidas e obrigatórias. Fazemos uso 
de normas, praticamos determinados atos e, muitas vezes, nos servimos de determinados 
argumentos para tomar decisões, justificar nossas ações e nos sentirmos dentro da 
normalidade. 
As normas de que estamos falando têm relação como o que chamamos de valores 
morais. São os meios pelos quais os valores morais de um grupo social são manifestos e 
acabam adquirindo um caráter normativo e obrigatório. A palavra moral tem sua origem 
no latim "mos"/"mores", que significa "costumes", no sentido de conjunto de normas ou 
regras adquiridas por hábito. Notar que a expressão "bons costumes" é usada como sendo 
sinônimo de moral ou moralidade. A moral pode ser definida como: 
Moral - Conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo 
absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada (Aurélio 
Buarque); 
 
Moral - Parte da filosofia que trata dos costumes, deveres e modo de proceder 
dos homens para com os outros homens (Caldas Aulete); 
 
Moral - É um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são 
regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de 
tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas 
livre e conscientemente, por uma convicção íntima e não de uma maneira mecânica, 
externa ou impessoal (Adolfo Sánchez Vázquez). 
Em sínteses a moral pode então ser entendida como o conjunto das práticas 
cristalizadas pelos costumes e convenções histórico-sociais. Cada sociedade tem sido 
caracterizada por seus conjuntos de normas, valores e regras. São as prescrições e 
proibições do tipo "não matarás", "não roubarás", de cumprimento obrigatório. Muitas 
vezes essas práticas são até mesmo incompatíveis com os avanços e conhecimentos das 
ciências naturais e sociais. 
A moral tem um forte caráter social, estando apoiada na tríade cultura, história e 
natureza humana. É algo adquirido como herança e preservado pela comunidade. 
8 
 
Quando os valores e costumes estabelecidos numa determinada sociedade são bem 
aceitos, não há muita necessidade de reflexão sobre eles. Mas, quando surgem 
questionamentos sobre a validade de certos costumes ou valores consolidados pela 
prática, surge a necessidade de fundamentá-los teoricamente, ou, para os que discordam 
deles, criticá-los. Adolfo Sánchez VASQUEZ (1995, p. 15) coloca isso de forma muito 
clara: 
A este comportamento prático-moral, que já se encontra nas formas mais primitivas 
de comunidade, sucede posteriormente - muitos milênios depois - a reflexão sobre ele. 
Os homens não só agem moralmente (isto é enfrentam determinados problemas nas 
suas relações mútuas, tomam decisões e realizam certos atos para resolvê-los e, ao 
mesmo tempo, julgam ou avaliam de uma ou de outra maneira estas decisões e estes 
atos), mas também refletem sobre esse comportamento prático e o tomam como objeto 
da sua reflexão e de seu pensamento. Dá-se assim a passagem do plano da prática 
moral para o da teoria moral; ou, em outras palavras, da moral efetiva, vivida, para a 
moral reflexa. Quando se verifica esta passagem, que coincide com os inícios do 
pensamento filosófico, já estamos propriamente na esfera dos problemas teóricos-
morais ou éticos. 
Ou como bem nos coloca Otaviano PEREIRA (1991, p. 24): 
O velho se contrapondo ao novo é o que podemos esperar como conflito saudável para 
o avanço da moral. Ora, a vida das pessoas não deve ser como uma geladeira para 
conservas. O ideal é evitar o "congelamento" da moral em códigos impessoais, que 
vão perdendo sua razão de ser, dado o caráter dinâmico das próprias relações. 
Como podemos entender então o conceito de ética? A ética, tantas vezes 
interpretada como sinônimo de moral, aparece exatamente na hora em que estamos 
sentindo a necessidade de aprofundar a moral. Geralmente a ética apoia-se em outras 
áreas do conhecimento como a antropologia e a história para analisar o conteúdo da moral. 
Seria o tratamento teórico em torno da moral e da moralidade. 
Uma disciplina originária da filosofia, há muito discutida pelos filósofos de todas 
as épocas e que se estende a outros campos do saber como teologia, ciências e direito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
Definições de ética: 
 
Ética - Estudo do juízo de apreciação que se refere à conduta humana suscetível 
de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada 
sociedade, seja de modo absoluto (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira). 
 
Ética: Ramo da ciência da axiologia2 que pretende compreender a natureza da 
moralidade, distinguindo entre o certo e o errado, o bem e o mal, a virtude e a não virtude, 
o justo e o injusto (Gonçalves da Silva) 
 
Ética - A ciência da moral; moral (Caldas Aulete). 
 
Ética - É a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade 
(Adolfo Sánchez Vázquez). 
 
Ética: Ciência do que o homem deve ser em função daquilo que ele é 
(Sertillanges, 1916: 35). 
 
Ética: segundo Aristóteles, (a ética) não é alguma coisa para ficar no campo da 
intenção e do pensamento de cada indivíduo, mas é sim um produto coletivo e social para 
guiar a ação humana3. 
 
Outras palavras também poderiam ser lembradas, e como se pôde constatar entre 
as que foram acima escritas, algumas atitudes ou significado contrário à Ética, e, portanto 
tudo aquilo que vier a ser entendido como o oposto do ÉTICO acaba sendo classificado 
como ANTIÉTICO. 
 
A ética estabelece um dever, uma obrigação, um compromisso. Mas qual é o 
seu fundamento? É o próprio ser do homem: é, da sua natureza que surge a fonte de 
seu comportamento. 
 
Aliás, isto acontece com todas as coisas: o agir depende do ser; cada coisa se 
comporta de acordo com elementos que a compõem, formando sua unidade. O que 
esperamos de um giz? Que ele escreva, pois é de sua natureza escrever. O que esperamos 
do sol? Que ele brilhe, pois isto é de sua natureza. Assim, podemos dizer de tudo o que 
existe: em cada ser há um conjunto de energias para produzir determinadas ações, 
acarretando como consequência certos deveres: o dever do giz é ser e agir como giz; o 
dever do sol é ser e agir como sol; ao contrário, o único mal do giz é não ser e não agir 
como giz, o único mal do sol é não ser e não agir como sol. 
 
Igualmente vale para ser humano: a única obrigação do homem é ser e agir como 
homem; como, ao contrário, o único mal do homem é não ser e não agir como homem. 
Voltando então à definição de ética, podemos dizer que esta brota de dentro do ser 
humano, daqueles elementos que o caracterizam na sua essência como humano, 
diferenciando-o dos outros seres; ela exige antes a determinação de sua realidade 
ontológica para, a partir daí, estabelecer a forma de comportamento.2 Ramo do conhecimento que tem por objeto o estudo da noção de valor em geral. 
3 Aristóteles, que viveu entre os anos de 384 e 322 antes do nascimento de Cristo trata do sentido social da 
Ética em seu livro Ética a Nicômaco. 
 
10 
 
 
Partindo destas premissas, qualquer situação específica da pessoa deve embasar-
se na realização do fundamental; assim; o economista, antes de ser economista, ele é uma 
pessoa humana, e só vai realizar-se como economista na medida em que realizar-se como 
pessoa. 
 
O mesmo poderíamos afirmar de outras possibilidades: ser pai, mãe, enfermeiro, 
professor, advogado, político, etc., exige antes de tudo ser pessoa, ser gente, ser "homem". 
 
Deste modo, a construção da ética parte das exigências ou necessidades 
fundamentais da natureza humana; estas não são aleatórias, mas existem no ser humano, 
limitando-o e identificando-o para que ele possa descobrir-se a satisfazer o que lhe é 
solicitado para sua realização. Assim atesta Pessini (1997: 76): "Ética vem do vocábulo 
grego “ethos” que em primeiro lugar significa “morada". Daí Heidegger dar ao 
"ethos" o significado de "morada do ser".' 
 
Portanto é uma questão ética o desenvolvimento das potencialidades humanas, um 
deslanchamento de suas virtualidades. Antes de o homem perguntar: O que devo 
fazer? Como devo me comportar?, Deve perguntar: o que sou? Quais são minhas 
energias humanas que não podem ficar represadas, mas devem ser impulsionadas? 
 
Como descobrir isto? Da mesma maneira como descobre qualquer outra coisa: 
usando de sua racionalidade. Por esta o homem descobre a essência dos metais, a essência 
da eletricidade, a essência dos vegetais, etc., e a partir disto estabelece para que servem. 
Assim, usando sua racionalidade, deve descobrir sua essência, seus valores e princípios 
universais, suas faculdades ou capacidades, determinando também como vivê-las. 
 
Estas constatações mostram que o objetivo da ética é apontar rumos, descortinar 
horizontes para a realização do próprio ser humano; ela é a construção constante de um 
"sim" a favor do enriquecimento do ser pessoal; por isso que a ética deve ser pensada 
como eminentemente positiva e não proibitiva; por exemplo: o mais importante é 
"respeitar a vida" do que "não matar". 
 
Desta maneira, a ética não se torna uma imposição ou obrigação aleatória e até 
extrínseca ao ser humano: seus fundamentos objetivos têm que ser assimilados ou 
conscientizados pelo indivíduo humano concreto. Por isso a ética antecede códigos, 
normas ou lei se analisa a mesma validade destas para o ser humano. Por isso afirma Silva 
(1994: 6): "De um modo geral a ética é a ciência que tem por objeto a finalidade da vida 
humana e os meios para que isto seja alcançado”. Esta idéia é bem complementada por 
Martins (1990: 24): "Vejo a ética como caminho para a busca do aperfeiçoamento 
humano". 
 
Resumindo, o que está em jogo na ética é o ser humano, é a pessoa em todas as 
suas dimensões, perfazendo, porém uma, unidade no seu ser e no seu dever. 
 
Magistralmente Jolivet (1966: 22) sintetiza: ''As leis morais são necessariamente 
função da natureza humana, porque o fim e o bem do homem como tal não podem ser 
determinados senão em referência à natureza humana". 
 
11 
 
Assim a ética é o resultado da capacidade dos seres humanos escolherem e 
avaliarem racionalmente e com responsabilidade suas condutas e a dos outros, 
avaliando suas possíveis consequências e lhes atribuindo valor de certo ou errado, 
de justo e injusto, em decorrência do uso que fazemos da nossa razão4, tendo como 
base a investigação sobre nossa moral, isto é, nossos costumes e valores. Da 
capacidade de fazermos a escolha racional entre o certo e o errado decorre a 
necessidade de se instituir um código que oriente as condutas a serem seguidas por 
determinado grupo de pessoas, bem como as penalidades para quem comete erros 
e, eventualmente, incentivos para quem faz o que é certo. 
 
Em sintese a ética é o conjunto de princípios e valores que guiam e orientam as 
relações humanas. Esses princípios devem ter características universais, precisam ser 
válidos para todas as pessoas e para sempre. 
 
 
1.2. Ética e moral 
 
Uma vez definidas ética e moral conceituaremos termos relacionados ao tema, 
como: 
 
Deontologia - O estudo dos princípios, fundamentos e sistemas de moral. Tratado 
de deveres (Aurélio Buarque). 
 
Deontologia - Ciência dos deveres (Caldas Aulete). 
 
Deontologia - Teoria da obrigação moral quando não se faz depender a 
obrigatoriedade de uma ação exclusivamente das conseqüências da própria ação ou da 
norma com a qual se conforma (Adolfo Sánchez Vázquez). 
 
Tendo em vista tais definições, verificamos que, em linhas gerais, a Ética é a 
Norma, enquanto a Moral é a ação. Ou, em outras palavras, a Moral é o que acontece 
e a Ética é o que deveria ser. 
 
A Deontologia é o conjunto codificado das obrigações impostas aos profissionais 
de uma determinada área, no exercício de sua profissão. São normas estabelecidas pelos 
próprios profissionais, tendo em vista não exatamente a qualidade moral de suas ações, 
mas a “correção” das mesmas, tendo em vista a relação entre profissão e sociedade. O 
primeiro Código de Deontologia foi feito exatamente na área médica, nos Estados Unidos, 
em meados do século passado. 
 
 
4 Empregada em filosofia, a palavra razão comporta vários significados: a) A razão como característica 
da condição humana, quando se define o homem, por exemplo, como animal racional, ou se diz que alguém 
está no uso da razão ou a perdeu; b) Princípio ou fundamento, a razão pela qual as coisas são como são ou 
ocorrem os fatos desta ou daquela maneira, c) A razão não é uma instância transcendente, dada de uma vez 
por todas, mas um processo que se desdobra ou realiza ao longo do tempo. Dir-se-ia que, assim como o 
homem é a história do homem, a razão é a história da razão. 
 
12 
 
Já o termo BIOÉTICA surgiu em 1971, também naquele país, não objetivando 
repetir o que já existia na área médica, mas abrangendo todo o inter-relacionamento com 
as diferentes formas de vida que em última análise afeta profunda e decisivamente o Ser 
Humano. 
 
Etimologia da palavra Etica 
 
Há duas palavras gregas, parecidas, que explicam o sentido etimológico de Ética: 
ethos e éthos. 
 
Ethos significa costume. Refere-se a usos e costumes de um grupo. Nos grupos 
humanos primitivos os costumes são decisivos para a conduta dos indivíduos. Nesse 
estágio, a moral e o direito são os costumes. A Ética do grupo é também a Ética dos 
indivíduos, O modo de ser do grupo é o modo de ser de cada indivíduo. 
 
Costumes, plural, em latim é mores. De mores vem Moralis - Moral, palavra com 
que Cícero (De Fato, II, 1) traduziu a palavra grega éthikós. Ética é Moral. 
 
O grupo impõe os seus costumes ao indivíduo visando à exterioridade da Ética. A 
sociedade dita as normas de conduta intersubjetiva. Ao inculto, é preciso que se lhe diga 
o que deve fazer e o que não deve fazer para o bem estar social. A norma, originada dos 
costumes, visa a ação exterior; por exemplo: não mate, não roube, não estupre. 
 
Quando a consciência moral dos indivíduos for mais cultivada, quando os 
indivíduos possuírem critério interior próprio, a Ética interiorizar-se-á; por exemplo: 
"Ama o teu próximo como a ti mesmo", que para um santo (S. Agostinho) se reduz a uma 
palavra: - “Ama, et fac quod vis” - Ama e faz o que quiseres. 
 
Éthos significa domicílio, moradia. É a morada habitual de alguém, o país onde 
alguém habita. Passou a designar a maneira de ser habitual, o caráter, a disposição da 
alma. Caráter é marca, sigilo, timbre ou disposição interna da vontade que a inclina a agir 
habitualmente de determinada maneira. Hábito,para o bem ou para o mal, virtuoso ou 
vicioso, é quase segunda natureza, fonte de atos. (Hábito é efeito de atos, pois a repetição 
de atos causa o hábito; mas uma vez adquirido, o hábito toma-se causa de atos). 
 
Pois bem, etimologicamente, Ética, seja de ethos seja de éthos, as duas 
palavras são parentas, chega-se ao mesmo sentido - via costumes ou via morada 
habitual. Os dois caminhos levam à conduta humana. 
 
Há uma tendência de separar ou diferenciar o sentido destas palavras. Uma 
primeira forma é referir a moral a um estudo de como os costumes devem ser numa 
determinada época ou lugar; por exemplo: como o economista ao fazer uma análise de 
balanço deve resguardar os interesses da firma. A ética ao contrário, seria um julgamento 
da moral enquanto distingue o bem do mal. Assim usando mesmo exemplo acima, a ética 
julgaria se sonegar impostos é justo, num momento de crise da firma. Ora, esta distinção, 
além de não ser muito clara, contradiz o sentido constante da moral que é um dever, 
contendo em si já um julgamento do bem e do mal, que portanto se confunde com a ética. 
 
Uma segunda forma é querer sistematizar a moral como, parte teórica do estudo 
do comportamento, e a ética como parte prática ou concreta que detalha como deve ser o 
13 
 
comportamento; assim, a moral estudaria o que significa a honestidade, enquanto que a 
ética estudaria as situações reais em que pessoa demonstra que é honesta. Esta distinção 
também não subsiste, porque tanto a moral como a ética, através dos séculos, sempre 
trataram de questões tanto teóricas como práticas. 
 
Uma terceira posição pretende situar a moral como comportamentos que 
abrangem a todas as pessoas e a ética seria a moral de um grupo organizado; como 
exemplo, a moral prescreve que todo ser humano deve respeitar a verdade e a ética: 
aplicaria esta afirmação ao economista, ao enfermeiro, ao administrador, etc., relativa aos 
casos de segredo profissional. Também esta distinção é fraca, pois basta ver que hoje em 
dia se clama a ética como necessidade até mundial para todas as pessoas, enquanto que a 
moral se preocupa inclusive de situações bem específicas como o próprio segredo 
profissional acima referido. 
 
Uma última distinção é proposta aplicando à moral uns fundamentos teológicos, 
baseados numa revelação divina, por exemplo: a judaica, a cristã ou a muçulmana, e a 
ética uns fundamentos filosóficos, baseados exclusivamente na razão, por exemplo, de 
acordo com Aristóteles, Tomás de Aquino ou Kant. Isto, porém, de novo não se firma, 
pois são correntes afirmações como "moral filosófica" e "ética teológica". 
 
Concluindo, pode-se afirmar que as palavras "moral" e "ética" são 
sinônimas, podendo uma substituir integralmente a outra; assim, nada impede que 
em vez de "código de ética profissional" seja chamado de "código de moral 
profissional". 
 
Nas últimas décadas, talvez por exagero de prescrições descabidas da moral no 
chamado falso moralismo, criou-se a tendência de preferir a palavra "ética"; porém, mais 
do que se preocupar com palavras, o importante é aprofundar a razão de ser, o conteúdo, 
os valores que tanto a moral ou a ética nos apresentam. 
 
1.3) A história da ética: Teorias éticas, breves comentários 
 
A história da ética é um assunto complexo e que exige alguns cuidados em seu 
estudo. Ou seja, a existência de idéias morais e de atitudes morais não implica, porém, a 
presença de uma disciplina filosófica particular. Assim, por exemplo, podem estudar-se 
as atitudes e idéias morais de diversos povos primitivos, ou dos povos orientais, ou de 
judeus, ou dos egípcios, etc., sem que o material resultante deva forçosamente enquadrar-
se na história da ética. Em nossa opinião, por conseguinte, só há história da ética no 
âmbito da história da filosofia. Ainda assim, a história da ética adquire, por vezes, uma 
considerável amplitude, por quanto fica difícil, com freqüência, estabelecer uma 
separação rigorosa entre os sistemas morais - objeto próprio da ética - e o conjunto de 
normas e atitudes de caráter moral predominantes numa dada sociedade ou numa 
determinada fase histórica. 
As teorias éticas nascem e desenvolvem-se em diferentes sociedades como 
resposta aos problemas resultantes das relações entre os homens. Os contextos históricos 
são pois elementos muito importantes para se perceber as condições que estiveram na 
origem de certas problemáticas morais que ainda hoje permanecem atuais. 
14 
 
Para facilitar o estudo das doutrinas éticas, ou teorias acerca da moral, preferimos 
dividi-las nos seguintes segmentos, correlacionados historicamente: ética grega, ética 
cristã medieval, ética moderna e ética contemporânea. 
 Ética grega: 
As teorias éticas gregas, entre o século V e o século IV a.C. são marcadas por dois 
aspectos fundamentais: 
Polis. A organização política em que os cidadãos vivem - as cidades-estados -, 
favorecem a sua participação ativa na vida política da sociedade. As teorias éticas 
apontam para um dado ideal de cidadão e de Sociedade. 
Cosmos. Algumas destas teorias ético-políticas procuram igualmente 
fundamentarem-se em concepções cósmicas. 
Teorias Éticas Fundamentais 
 Sócrates (470-399 a.C). Defende o caráter eterno de certos valores como o Bem, 
Virtude, Justiça, Saber. O valor supremo da vida é atingir a perfeição e tudo deve 
ser feito em função deste ideal, o qual só pode ser obtido através do saber. Na vida 
privada ou na vida pública, todos tinham a obrigação de se aperfeiçoarem fazendo 
o Bem, sendo justos. O homem sábio só pode fazer o bem, sendo as injustiças 
próprias dos ignorantes (Intelectualismo Moral). 
Para ele ninguém pratica voluntariamente o mal. Somente o ignorante não é 
virtuoso, ou seja, só age mal, quem desconhece o bem, pois todo homem quando 
fica sabendo o que é bem, reconhece-o racionalmente como tal e necessariamente 
passa a praticá-lo. Ao praticar o bem, o homem sente-se dono de si e 
consequentemente é feliz. 
A virtude seria o conhecimento das causas e dos fins das ações fundadas em 
valores morais identificados pela inteligência e que impelem o homem a agir 
virtuosamente em direção ao bem. 
 Platão (427-347 a.C.). Defende o valor supremo do Bem. O ideal que todos os 
homens livres deveriam tentar atingir. Para isto acontecesse deveriam ser 
reunidas, pelo menos duas condições: 1. Os homens deviam seguir apenas a razão 
desprezando os instintos ou as paixões; 2. A sociedade devia de ser reorganizada, 
sendo o poder confiado aos sábios, de modo a evitar que as almas fossem 
corrompidas pela maioria, composta por homens ignorantes e dominados pelos 
instintos ou paixões. 
Para Platão “a alma” - princípio que anima ou move o homem - se divide em três 
partes: razão, vontade (ou ânimo) e apetite (ou desejos). As virtudes são função 
desta alma, as quais são determinadas pela natureza da alma e pela divisão de suas 
partes. Na verdade ele estava propondo uma ética das virtudes, que seriam função 
da alma. 
15 
 
Pela razão, faculdade superior e característica do homem, a alma se elevaria 
mediante a contemplação ao mundo das idéias. Seu fim último é purificar ou 
libertar-se da matéria para contemplar o que realmente é e, acima de tudo, a idéia 
do Bem. 
Para alcançar a purificação é necessário praticar as várias virtudes que cada 
parte da alma possui. Para Platão cada parte da alma possui um ideal ou uma 
virtude que devem ser desenvolvidos para seu funcionamento perfeito. A razão 
deve aspirar à sabedoria, a vontade deve aspirar à coragem e os desejos devem ser 
controlados para atingir a temperança. 
Cada uma das partes da alma, com suas respectivas virtudes, estava relacionada 
com uma parte do corpo. A razão se manifesta na cabeça, a vontade no peito e o 
desejo baixo-ventre. Somente quando as três partes do homem puderem agir 
como um todoé que temos o indivíduo harmônico. 
A harmonia entre essas virtudes constituía uma quarta virtude: a justiça. 
Platão de certa forma criou uma "pedagogia" para o desenvolvimento das virtudes. 
Na escola as crianças primeiramente têm de aprender a controlar seus desejos 
desenvolvendo a temperança, depois incrementar a coragem para, por fim, atingir 
a sabedoria. 
A ética de Platão está relacionada intimamente com sua filosofia política, porque 
para ele, a polis (cidade estado) é o terreno próprio para a vida moral. Assim ele 
buscou um estado ideal, um estado-modelo, utópico, que era constituído 
exatamente como o ser humano. Assim, como o corpo possui cabeça, peito e 
baixo-ventre, também o estado deveria possuir, respectivamente, governantes, 
sentinelas e trabalhadores. O bom estado é sempre dirigido pela razão. 
CORPO ALMA VIRTUDE ESTADO 
Cabeça Razão Sabedoria Governantes 
Peito Vontade Coragem Sentinelas 
Baixo-ventre Desejo Temperança Trabalhadores 
É curioso notar que, no Estado de Platão, os trabalhadores ocupam o lugar mais 
baixo em sua hierarquia. Talvez isto tenha ligação com a visão depreciativa que 
os gregos antigos tinham sobre esta atividade. 
A ética platônica exerceu grande influência no pensamento religioso e moral do 
ocidente, como teremos oportunidade de ver mais adiante. 
 Aristóteles (384-322 a.C.). não só organizou a ética como disciplina filosófica 
mas, além disso, formulou a maior parte dos problemas que mais tarde iriam se 
ocupar os filósofos morais: relação entre as normas e os bens, entre a ética 
individual e a social, relações entre a vida teórica e prática, classificação das 
virtudes, etc. Sua concepção ética privilegia as virtudes (justiça, caridade e 
generosidade), tidas como propensas tanto a provocar um sentimento de 
realização pessoal àquele que age quanto simultaneamente beneficiar a sociedade 
em que vive. A ética aristotélica busca valorizar a harmonia entre a moralidade e 
16 
 
a natureza humana, concebendo a humanidade como parte da ordem natural do 
mundo, sendo portanto uma ética conhecida como naturalista. 
Segundo Aristóteles, toda a atividade humana, em qualquer campo, tende a um 
fim que é, por sua vez um bem: o Bem Supremo ou Sumo Bem, que seria resultado 
do exercício perfeito da razão, função própria do homem. Assim sendo, o homem 
virtuoso é aquele capaz de deliberar e escolher o que é mais adequado para si e 
para os outros, movido por uma sabedoria prática em busca do equilíbrio entre o 
excesso e a deficiência: 
A Ética de Aristóteles - assim como a de Platão - está unida à sua filosofia política, 
já que para ele a comunidade social e política é o meio necessário para o exercício 
da moral. Somente nela pode realizar-se o ideal da vida teórica na qual se baseia 
a felicidade. O homem moral só pode viver na cidade e é portanto um animal 
político, ou seja social. Apenas deuses e animais selvagens não tem necessidade 
da comunidade política para viver. O homem deve necessariamente viver em 
sociedade e não pode levar uma vida moral como indivíduo isolado e sim no seio 
de uma comunidade. 
Ética cristã medieval (Mundo Helenístico e Romano): 
Com o domínio da Grécia por Alexandre Magno, e os Impérios que lhe seguiram, 
altera-se os contextos em que o homem vive sendo assim. 
a) As cidades-Estados são substituídas por vastos Impérios constituídos por uma 
multiplicidade de povos e de culturas. Os cidadãos sentem que vivem numa 
sociedade na qual as questões políticas são sentidas como algo muito distante das 
suas preocupações. As teorias éticas são nitidamente individualistas, limitando-se 
em geral a apresentar um conjunto de recomendações (máximas) sobre a forma 
mais agradável de viver a vida. 
b) A relação do homem com a cidade é substituída pela sua relação privilegiada com 
o cosmos. Viver em harmonia com ele é a suprema das sabedorias. 
Assim o estoicismo e o epicurismo surgem no processo de decadência e de ruína 
do antigo mundo greco-romano. 
Teorias Éticas Fundamentais 
 Para Epicuro (341-270 a.C) o prazer é um bem e como tal o objetivo de uma vida 
feliz. Estava lançada então a idéia de hedonismo5 que é uma concepção ética que 
assume o prazer como princípio e fundamento da vida moral. Mas, existem muitos 
prazeres, e nem todos são igualmente bons. É preciso escolher entre eles os mais 
duradouros e estáveis, para isso é necessário a posse de uma virtude sem a qual é 
impossível a escolha. Essa virtude é a prudência, através da qual podemos 
selecionar aqueles prazeres que não nos trazem a dor ou perturbações. Os 
melhores prazeres não são os corporais - fugazes e imediatos - mas os espirituais, 
porque contribuem para a paz da alma. 
 
5 No epicurismo, significa a busca de prazeres moderados, únicos que não terminam por conduzir a 
sofrimentos indesejados. 
17 
 
 Para os estóicos (por exemplo, Zenão, Sêneca e Marco Aurélio) o homem é feliz 
quando aceita seu destino com imperturbabilidade e resignação. O universo é um 
todo ordenado e harmonioso onde os sucessos resultam do cumprimento da lei 
natural racional e perfeita. O bem supremo é viver de acordo com a natureza, 
aceitar a ordem universal compreendida pela razão, sem se deixar levar por 
paixões, afetos interiores ou pelas coisas exteriores. O homem virtuoso é aquele 
que enfrenta seus desejos com moderação aceitando seu destino. O estóico é um 
cidadão do cosmo não mais da pólis. 
Idade media 
O Cristianismo se eleva sobre o que restou do mundo greco-romano e no século 
IV torna-se a religião oficial de Roma. Com o fim do "mundo antigo" o regime de 
servidão substitui o da escravidão e sobre estas bases se constrói a sociedade feudal, 
extremamente estratificada e hierarquizada. Nessa sociedade fragmentada econômica e 
politicamente, verdadeiro mosaico de feudos, a religião garantia uma certa unidade social. 
Por este motivo a política fica dependente dela e a Igreja Católica passa a exercer, 
além de poder espiritual, o poder temporal e a monopolizar também a vida intelectual. 
Evidentemente a ética fica sujeita a este conteúdo religioso. 
Assim o longo período que se estende entre o século IV e o século XV, é marcado 
pelo predomínio absoluto da moral cristã. Deus é identificado com o Bem, Justiça e 
Verdade. É o modelo que todos os homens deviam procurar seguir. Neste contexto 
dificilmente se concebe a existência de teorias éticas autônomas da doutrina da Igreja 
Cristã, dado que todas elas de uma forma ou outra teriam que estar de concordo com os 
seus princípios. 
A ética cristã é uma ética subordinada à religião num contexto em que a filosofia 
é "serva" da teologia. Temos então uma ética limitada por parâmetros religiosos e 
dogmáticos. 
É uma ética que tende a regular o comportamento dos homens com vistas a um 
outro mundo (o reino de Deus), colocando o seu fim ou valor supremo fora do homem, 
na divindade. 
É curioso notar que ao pretender elevar o homem de uma ordem natural para outra 
transcendental e sobrenatural, onde possa viver uma vida plena e feliz, livre das 
desigualdades e injustiças do mundo terreno, ela introduz uma idéia verdadeiramente 
inovadora, ou seja, todos seriam iguais diante de Deus e são chamados a alcançar a 
perfeição e a justiça num mundo sobrenatural, o reino dos Céus. 
Teorias Éticas Fundamentais 
Santo Agostinho (354-430). Fundamentou a moral cristão, com elementos filosóficos da 
filosofia clássica. O objetivo da moral é ajudar os seres humanos a serem felizes, mas a 
felicidade suprema consiste num encontro amoroso do homem com Deus. Só através pela 
graça de Deus podemos ser verdadeiramente felizes. Ou seja, a purificação da alma, em 
Platão, e sua ascensão libertadora até elevar-se ao mundo das idéias tem correspondência 
na elevação ascética até Deus exposta por Santo Agostinho.18 
 
 St. Tomás Aquino (1225-1274). No essencial concorda com Santo Agostinho, 
mas procura fundamentar a ética tendo em conta as questões colocadas na 
antiguidade clássica por Aristóteles, como aquela da busca através de 
contemplação e de conhecimento alcançar o fim último, que para ele era Deus. 
Ética moderna: 
Entre os séculos XVI e XVIII, a sociedade Européia é varrida por profundas 
mudanças que alteram completamente as concepções anteriores. A história da ética 
complica-se a partir do Renascimento Europeu e podemos chamar de ética moderna às 
diversas tendências que prevaleceram desde momento até o início do século XIX. 
 Renascimento. Em Itália a partir do século XIV desenvolve-se um movimento 
filosófico e artístico que retoma explicitamente idéias da Antiguidade Clássica. O 
homem ocupa nestas idéias o lugar central (antropocentrismo). Este movimento 
acaba por ser difundir por toda a Europa a partir do século XVI. 
 Descobertas Geográficas. A aventura iniciada em 1415 pelos espanhóis e 
portugueses, teve um profundo impacto na sociedade européia. Em conseqüência 
destas descobertas as concepções sobre a Terra e o Universo tiveram que ser 
alteradas. Copérnico foi o primeiro a retirar todas as ilações do que estava a 
acontecer. O universo deixa de ser concebido com um mundo fechado para ser 
encarado como espaço infinito. A terra, o Sol, mas também o Homem perderam 
neste processo a sua importância e significado. As descobertas revelaram 
igualmente a existência de outros povos, culturas, religiões até aí desconhecidas. 
A realidade tornou-se muitíssimo mais complexa e plural. 
 Divisões na Igreja. O século XVI é marcado por diversos movimentos de ruptura 
no cristianismo, que provocam o aparecimento de novas igrejas, cada uma 
reclamando para si a interpretação mais correta da palavra divina. Não admira que 
este período seja marcado por numerosos e sangrentos conflitos religiosos. O 
resultado global foi o aumento da descrença, o desenvolvimento do ateísmo. 
 Desenvolvimento da Ciência Moderna. O grande critério do conhecimento 
deixa de ser a tradição, a autoridade e passa a ser a experiência. Fato que coloca 
radicalmente em causa crenças milenares. 
Não é fácil sistematizar as diversas doutrinas éticas que surgiram neste período, 
tamanha sua diversidade, mas podemos encontrar, talvez como reação à ética cristã 
descêntrica e teológica uma tendência antropocêntrica. 
Evidentemente essa mudança de ponto de vista não aconteceu ao acaso. Fez-se 
necessário um entendimento sobre as mudanças que o mundo sofreu, nas esferas 
econômica, política e científica para entendermos todo o processo. 
A forma de organização social que sucedeu à feudal, traz em sua estrutura 
mudanças em todas as ordens. 
A economia, por exemplo, viu crescer de forma muito intensa o relacionamento 
de suas forças produtivas com o desenvolvimento científico que começara a fundamentar 
a ciência moderna - são dessa época os trabalhos de Galileu e Newton - e desse 
relacionamento se desenvolvem as relações capitalistas de produção. 
19 
 
Essa nova forma de produção fortalece uma nova classe social - a burguesia - que 
luta para se impor política e economicamente. É uma época de grandes revoluções 
políticas (Holanda, França e Inglaterra) e no plano estatal assistimos o desaparecimento 
da fragmentada sociedade feudal e o fortalecimento dos grandes Estados Modernos, 
únicos e centralizados. 
Nessa nova ordem vemos a razão se separando da fé (a filosofia separa-se da 
religião), as ciências naturais dos pressupostos teológicos, o Estado da Igreja e o homem 
de Deus. 
Essa ruptura fica muito evidente quando, entre a Idade Média e a Modernidade, o 
italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) provoca uma revolução na ética ao romper com 
a moral cristã, que impõe os valores espirituais como superiores aos políticos, quando 
defendeu a adoção de uma moral própria em relação ao Estado. O que importa são os 
resultados e não a ação política em si, sendo legítimos os usos da violência contra os 
que se opõe aos interesses estatais. 
(...) Examinando as outras qualidades atrás enumeradas, direi que todo o príncipe deve 
desejar ser tido como piedoso, e não como cruel; não obstante, deve cuidar de não usar 
mal a piedade. Cesar Borgia6 era tido como cruel; entretanto, essa sua crueldade havia 
posto ordem na Romanha, promovido a sua união e a sua pacificação e inspirando 
confiança, o que, bem considerado, mostra ter sido ele muito mais piedoso do que os 
florentinos, os quais, para esquivarem da reputação de cruéis deixaram que Pistóia fosse 
destruída. Deve um príncipe, portanto, não se importar com a reputação de cruel, a fim 
de poder manter os seus súditos em paz e confiantes, pois que, com pouquíssimas 
repressões, será mais piedoso do que aqueles que, por muito clementes, permitem as 
desordens das quais resultem assassínios e rapinagens. Estas atingem a comunidade 
inteira, enquanto que os castigos impostos pelo príncipe atingem poucos. 
(MAQUIAVEL, sd, p.107)(...) 
Na verdade o que estamos presenciando é uma extraordinária sugestão para a 
aplicação de novos valores. A obra de Maquiavel influenciará, como veremos mais tarde, 
outros pensadores modernos como o inglês Thomas Hobbes e Baruch de Epinosa, 
extremamente realistas no que se refere à ética. 
Teorias Éticas Fundamentais 
 Thomas Hobbes7 (1588-1679) consegue sistematizar esta ética do desejo, que 
existe em cada ser, de própria conservação como sendo o fundamento da moral e 
do direito. Para Hobbes, a vida do homem no estado de natureza - sem leis nem 
governo - era "solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta", uma vez que os 
 
6 César Bórgia, Duque de Valentinois, (Setembro de 1475 - 12 de Março de 1507), foi um príncipe italiano 
da Renascença européia. Filho de Rodrigo Bórgia, futuro Papa Alexandre VI, com Vanozza Cattanei. César 
Bórgia tornou-se modelo para o livro O Príncipe, de Maquiavel. Calculista e violento tentou, com o apoio 
do pai, constituir um principado na Romanha em 1501. No dia 31 de dezembro de 1502, para se livrar de 
seus inimigos (entre eles, Oliverotto de Fermo), convidou-os para seu palácio de Senigallia, depois 
aprisionou-os e assassinou-os. 
7 É impossível entender o sistema de Hobbes desconsiderando o momento histórico no qual viveu. Ele 
vivenciou a guerra civil inglesa do século XVII, com o fim dramático de uma monarquia e a emergência 
de uma tirania que veio a controlar a dissolução do Estado e da sociedade inglesa. Ademais dos conflitos 
religiosos que temperaram tal guerra levaram-no a refletir sobre quais seriam as consequências para a 
sobrevivência e a preservação dos homens de deixá-los à própria sorte. 
20 
 
homens são por índole agressivos, autocentrados, insociáveis e obcecados por um 
"desejo de ganho imediato". 
(...) O principal dos bens é a conservação de si mesmo. A natureza, com efeito, proveu 
para que todos desejem o próprio bem, mas afim de que possam ser capazes disso, é 
necessário que desejem a vida, a saúde e a maior segurança dessas coisas para o futuro. 
De todos os males porém, o primeiro é a morte, especialmente se acompanhada de 
sofrimento. Já que os males da vida podem ser tantos que senão se prever como próximo 
o seu fim, fazem contar a morte entre os bens. (De hom., XI , 6) 
Para Hobbes, indivíduos que decidem viver em sociedade não são melhores ou 
menos egoístas do que os selvagens: são apenas mais clarividentes, percebendo 
que, se cooperarem, podem ser mais ricos e mais felizes. Seu bom comportamento 
deriva do seu egoísmo. Em outras palavras, o que leva dois homens pré-históricos 
a se unirem numa caçada a um tigre dente-de-sabre, é o fato de que, juntos, têm 
mais chances de matá-lo sem se ferirem. 
A característica básica do estado de natureza em Hobbes é a anomia8,a 
inexistência de regras e de garantia das mesmas e o não respeito aos diretos em 
geral. Seria por tanto, uma lei da natureza, porque estaríamos falando da natureza 
humana, do conflito e da possibilidade de autodestruição: os homens, na busca 
insaciável de poder, da realização de seus interesses, criariam uma situação na 
qual a aniquilação do outro ou dos outros se tornaria inevitável. Daí deriva a 
famosa citação atribuída a Hobbes segundo a qual “o homem é lobo do homem” 
Portanto, o comportamento dos homens obedeceria a uma lei natural, a sua 
autopreservação na busca de objetivos individuais sem limites, ademais mesmo 
que procurando essa autopreservação o resultado desse jogo social é a guerra civil 
permanente. Em tal situação não há como diferençar o justo do injusto, o certo do 
errado, o virtuoso do não virtuoso. Assim sob tais circunstancias, seria desejável, 
para agentes racionais, abrir mão de parte de suas liberdades individuais e 
transferir a fiscalização sobre o cumprimento do contrato social e das leis para um 
terceiro agente o Estado. Nesse sentido só a moralidade sob a tutela do Estado do 
soberano. 
 Baruch de Espinosa (1632-1677) afirmava que os homens tendem naturalmente 
a pensar apenas em si mesmos, que em seus desejos e opiniões as pessoas são 
sempre conduzidas por suas paixões, as quais nunca levam em conta o futuro ou 
as outras pessoas. Essa tendência a conservação, à consecução de tudo que é útil 
é muitas vezes colocada na obra de Espinosa como sendo a própria ação 
necessitante da Substância Divina. 
(...) Uma vez que a Razão não pede nada que seja contra a Natureza, ela pede, por 
conseguinte, que cada um se ame a si mesmo, procure o que lhe é útil, mas o que lhe 
é útil de verdade; deseje tudo o que conduz, de fato, o homem a uma maior perfeição; 
e, de uma maneira geral, que cada um se esforce por conservar o seu ser, tanto quanto 
 
8 Ausência de lei ou regra; anarquia. Estado da sociedade no qual os padrões normativos de conduta e 
crença têm enfraquecido ou desaparecido. 
21 
 
lhe é possível. Isto é tão necessariamente verdadeiro como o todo ser maior que a sua 
parte.(...) (ESPINOSA, 1973, p.244). 
 Jonh Locke (1632-1704) atrela a tendência à conservação e satisfação à uma 
concepção de "felicidade pública". Dizia Locke: 
(...) Como Deus estabeleceu um liame indissolúvel entre a virtude e a felicidade 
pública, e tornou a prática da virtude necessária à conservação da sociedade humana 
e visivelmente vantajosa para todos os que precisam tratar com as pessoas de bem, 
ninguém se deve maravilhar se cada um não só aprovar essas regras, mas igualmente 
recomendá-las aos outros, estando persuadido de que, se as observarem, lhe advirão 
vantagens a ele próprio. (...) (Ensaio, I, 2, 6) 
 David Hume (1711-1776) seguindo essa linha nos coloca que o fundamento da 
moral é a utilidade, ou seja, é boa ação aquela que proporciona "felicidade e 
satisfação" à sociedade. A utilidade agrada porque responde a uma necessidade 
ou tendência natural que inclina o homem a promover a felicidade dos seus 
semelhantes. 
Ao invés de limitar os desejos humanos àqueles determinados apenas pelo 
interesse pessoal (comida, dinheiro, glória, etc), Hume percebeu que muitas das 
nossas paixões estão baseadas no que ele chamava de simpatia - a capacidade de 
sentir em si mesmo os sofrimentos e até mesmo as alegrias de outrem. 
Essa visão do ser humano como criatura simpática tornava impossível traçar, à 
maneira de Hobbes, uma nítida linha divisória entre o interesse pessoal e o 
interesse alheio, uma vez que agora é possível encarar o interesse alheio como se 
ele fosse um interesse pessoal. Hume estava propondo uma espécie de razão 
emocional para o comportamento altruísta. 
 Para Jean Jaques Rousseau (1712-1778) o homem é bom por natureza e seu 
espírito pode sofrer um aprimoramento quase ilimitado e atribui a causa de todos 
os males à sociedade e à moral que o corromperam. O Homem sábio é aquele que 
segue a natureza e despreza as convenções sociais. 
Ética contemporânea 
Se quisermos estabelecer um começo para a Idade Contemporânea, temos recuar 
até aos finais do século XVIII. O que então se iniciou na Europa veio a contribuir de 
forma decisiva para formar o mundo em que vivemos. 
 Revoluções. A Revolução Francesa (1789) marcou uma ruptura deliberada e 
radical com o passado. Depois dela muitas outras ocorreram até aos nossos dias 
com idênticos propósitos. Quase sempre foram iniciadas em nome da libertação 
do povo da opressão (ditaduras, regimes colonialistas, etc). Prometeram criar 
novas sociedades e homens, mas o que produziram foi frequentemente novas 
matanças. 
 Guerras Mundiais. A partilha do mundo, a conquista de recursos naturais, o 
saques de riquezas acumulados foram sempre uma constante ao longo da história 
da Humanidade. A grande novidade na Idade Contemporânea assentou-se num 
22 
 
aspecto essencial: a crescente eficiência da barbárie praticada por poderosas 
máquinas de guerra que passaram a operar numa escala cada vez mais global. A 
França napoleônica, no início do século XIX, mostrou o caminho que outros 
países ou alianças de países haviam de prosseguir na guerra e no saque de povos. 
A dimensão desta barbárie colocou os causa os fundamentos da racionalidade e 
moralidade do mundo ocidental. 
 Progresso científico e tecnológico. A ciência substituiu o lugar que antes era 
ocupado pela religião na condução dos homens. Os cientistas foram apontados 
como os novos sacerdotes. O balanço desta substituição continua a ser objeto de 
enormes polêmicas, mas três coisas são hoje evidentes: 
a) A ciência e a tecnologia mudaram o mundo possibilitando uma melhoria muito 
significativa da vida de uma parte significativa da humanidade. Apesar do imenso 
bem estar por proporcionado, a verdade é que as desigualdades a nível mundial 
não diminuíram antes se acentuaram. Uns não sabem o que fazer a tanto 
desperdício, outros lutam diariamente por obter restos que lhes permitam 
sobreviver; 
b) Não parecem existir limites para o desenvolvimento da ciência e da técnica. 
Aquilo que era antes impensável tornou-se hoje banal: manipulações genéticas, 
clonagem de seres, inseminação artificial, morte assistida, etc. Valores tidos por 
sagrados são agora quotidianamente aniquilados por experiências científicas. 
c) O progresso humano fez-se mais lentamente que o progresso científico e 
tecnológico, ou dito de outro modo, o progresso moral não acompanhou o 
científico. Ao longo de todo o século XX inúmeras foram as figuras do mundo da 
ciência e da técnica envolvidas em intermináveis de atos de pura barbárie, em nada 
se distinguindo dos antigos "selvagens". 
O século XIX e XX foi por tudo isto marcado pelo aparecimento de um enorme 
número de teorias éticas, mas também pela própria crítica dos fundamentos da moral. 
Esta pluralidade revela igualmente a enorme dificuldade que os homens têm sentido em 
estabelecer consensos sobre as normas em que devem de assentar as suas relações. 
Teorias Éticas Fundamentais. 
 Immannuel Kant (1724-1804). A preocupação maior da ética de Kant era 
estabelecer a regra da conduta na substância racional do homem. Ele fez do 
conceito de dever ponto central da moralidade. Hoje em dia chamamos a ética 
centrada no dever de deontologia. 
Kant dizia que a única coisa que se pode afirmar que seja boa em si mesma é a 
"boa vontade" ou boa intenção, aquilo que se põe livremente de acordo com o 
dever. O conhecimento do dever seria consequência da percepção, pelo homem, 
de que é um ser racional e como tal está obrigado a obedecer o que Kant chamava 
de "imperativo categórico", que é a necessidade de respeitar todos os seres 
racionais na qualidade de "fins em si mesmo". É o reconhecimento da existência 
de outros homens(seres racionais) e a exigência de comportar-se diante deles a 
partir desse reconhecimento. 
Deve-se então tratar a humanidade na própria pessoa como na do próximo sempre 
como um fim e nunca só como um meio. 
23 
 
A ética kantiana busca, sempre na razão, formas de procedimentos práticos que 
possam ser universalizáveis, isto é, um ato moralmente bom é aquele que pode ser 
universalizável, de tal modo que os princípios que eu sigo possam valer para 
todos. 
"Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela 
se torne lei universal." (KANT, 1984, p.129) 
Analisando a questão da tortura, por exemplo, me questiono se tal procedimento 
deveria ser universalizado ou não. Se não posso querer a universalização da 
tortura, também não posso aceitá-la nem aqui nem agora. 
 Friedrich Hegel (1770-1831) pode ser considerado como sendo o mais 
importante filósofo do idealismo alemão pós-kantiano. 
Para ele, a vida ética ou moral dos indivíduos, enquanto seres históricos e culturais 
é determinada pelas relações sociais que mediatizam as relações pessoais 
intersubjetivas. Hegel dessa forma transforma a ética em uma filosofia do direito. 
Ele a divide em ética subjetiva (ou pessoal) e em ética objetiva (ou social). A 
primeira é uma consciência de dever e a segunda é formada pelos costumes, pelas 
leis e normas de uma sociedade. O Estado, para Hegel, reúne esses dois aspectos 
numa "totalidade ética". 
Assim, a vontade individual subjetiva é também determinada por uma vontade 
objetiva, impessoal, coletiva, social e pública que cria as diversas instituições 
sociais. Além disso, essa vontade regula e normatiza as condutas individuais 
através de um conjunto de valores e costumes vigentes em uma determinada 
sociedade em uma determinada época. 
O ideal ético estava numa vida livre dentro de um Estado livre, um Estado de 
Direito que preservasse os direitos dos homens e lhes cobrasse seus deveres, onde 
a consciência moral e as leis do direito não estivessem nem separadas e nem em 
contradição. 
Dessa maneira, a vida ética consiste na interiorização dos valores, normas e leis 
de uma sociedade, condensadas na vontade objetiva cultural, por um sujeito moral 
que as aceita livre e espontaneamente através de sua vontade subjetiva individual. 
A vontade pessoal resulta da aceitação harmoniosa da vontade coletiva de uma 
cultura. 
 O alemão Karl Marx (1818-1883) também via a moral como uma espécie de 
"superestrutura ideológica", cumprindo uma função social que, via de regra, servia 
para sacramentar as relações e condições de existência de acordo com os 
interesses da classe dominante. Numa sociedade dividida por classes antagônicas 
a moral sempre terá um caráter de classe. 
Até hoje existem diferentes morais de classe e inclusive numa mesma sociedade 
podem coexistir várias morais, já que cada classe assume uma moral particular. 
Assim, enquanto não se verificarem as condições reais para uma moral universal, 
24 
 
válida para toda a sociedade, não pode existir um sistema moral válido para todos 
os tempos e todas as sociedades. 
Para Marx, sempre que se tentou construir semelhante sistema no passado estava-
se tentando imprimir um caráter universal a interesses particulares. 
Se entendermos a moral proletária como sendo a moral de uma classe que está 
destinada historicamente a abolir a si mesma como classe para ceder lugar a uma 
sociedade verdadeiramente humana, serve como passagem a uma moral 
universalmente humana. 
Os homens necessitam da moral como necessitam da produção e cada moral 
cumpre sua função social de acordo com a estrutura social vigente. 
Torna-se necessária então uma nova moral que não seja o reflexo de relações 
sociais alienadas, para regular as relações entre os indivíduos, tanto em vista das 
transformações da velha sociedade como para garantir a harmonia da emergente 
sociedade socialista. 
Tudo isso, a transformação da antiga moral e a construção da nova, exigem a 
participação consciente dos homens. A nova moral, com suas novas virtudes 
transforma-se numa necessidade. O homem portanto, deve interferir sempre na 
transformação da sociedade. 
 Para John Stuart Mill (1806-1873), representante da ética utilitarista9, a 
felicidade reside na busca do máximo prazer e do mínimo de dor. O Bem consiste 
na maior felicidade e a virtude é um meio de se atingir essa felicidade, fundamento 
de toda filosofia moral. 
(...) O credo que aceita a Utilidade ou Princípio da Maior Felicidade como fundamento 
da moral, sustenta que as ações são boas na proporção com que tendem a produzir a 
felicidade; e más, na medida em que tendem a produzir o contrário da felicidade. 
Entende-se por felicidade o prazer e a ausência de dor; por infelicidade, a dor e a 
ausência de prazer . [...] O prazer e a isenção de dor são as únicas coisas desejáveis [...] 
como fins; e [...] todas as coisas desejáveis [...] o são pelo prazer inerente a elas mesmas 
ou como meios para a promoção do prazer e a preservação da dor. (MILL, 1960, p. 29-
30) 
Da idéia de bem como sendo o que traz vantagens para muitos se deduziu até 
mesmo uma matemática ou cálculo moral. Estas tendências aparecem em muitas 
formulações éticas, principalmente numa corrente conhecida como 
pragmatismo. 
 
9 Uma outra corrente dentro da ética é o utilitarismo, segundo o qual o objetivo da moral é o de proporcionar 
o máximo de felicidade ao maior número de pessoas. 
 
25 
 
O pragmatismo, como doutrina ética, parece estar muito ligado ao pensamento 
anglo-saxão, tendo se desenvolvido muito nos países de fala inglesa, 
particularmente nos Estados Unidos, no último quarto do século passado. 
Seus principais expoentes são o filósofo e psicólogo William James (1842-1910) 
e o filósofo educador John Dewey. 
O pragmatismo deixa de lado as questões teóricas de fundo, afastando-se dos 
problemas abstratos da velha metafísica e dedicando-se às questões práticas vistas 
sob uma ótica utilitária. 
Procura identificar a verdade com o útil, como aquilo que melhor ajuda a viver e 
conviver. O Bom é algo que conduz a obtenção eficaz de uma finalidade, fim esse 
que nos conduz a um êxito. 
Dessa forma os valores, princípios e normas perdem seu conteúdo objetivo e 
o bem passa a ser aquilo que ajuda o homem em suas atividades práticas, 
variando conforme cada situação. 
O pragmatismo pode bem ser o reflexo do progresso científico e tecnológico 
alcançado pelos Estados Unidos no apogeu de sua fase capitalista onde o "espírito 
de empresa", o "american way of life", criaram solo fértil para a mercantilização 
das várias atividades humanas. 
Existe um grande perigo embutido no pragmatismo, que é a redução do 
comportamento moral a atos que conduzam apenas ao êxito pessoal 
transformando-o numa variante utilitarista marcada apenas pelo egoísmo, 
rejeitando a existência de valores ou normas objetivas. 
Uma distorção muito comum em nossa sociedade capitalista é a busca da 
vantagem particular, onde o bom é o que ajuda meu progresso e o meu sucesso 
particular. 
 Henri Bergson10 (1859-1941). Bergson distinguiu uma moral fechada e uma 
moral aberta. A fechada é o conjunto do que é permitido e do que é proibido para 
os indivíduos de uma sociedade, tendo em vista a autoconservação da mesma. Ela 
é imposta aos indivíduos e tem como finalidade tornar a vida em comum possível 
e útil a todos. "Ela corresponde no mundo humano ao que é instinto em certas 
sociedades animais, isto é, tende ao fim de conservar as próprias sociedades." 
Do outro lado encontramos a moral aberta, nascida de um impulso criador 
suprarracional. É a moral do amor, da liberdade e da humanidade universal, que 
resulta de uma emoção criadora. Enquanto tal, torna possível a criação de novos 
valores e de novas condutas em substituiçãoàquelas vigentes segundo a moral 
fechada. 
 
10 Filósofo francês. 
26 
 
É a moral dos profetas, dos inovadores, dos místicos, dos sábios e dos santos. 
Graças sempre a eles, foi, e é possível, a instauração de uma nova ética em face 
da moral vigente. 
Na filosofia contemporânea, os princípios do liberalismo influenciaram bastante 
o conceito de ética, que ganha fortes traços de moral utilitarista. Os indivíduos 
devem buscar a felicidade e, para isso, fazer as melhores escolhas entre as 
alternativas existentes. 
 Jurgem Habermas, filósofo alemão nascido em 1924, é professor da 
Universidade de Frankfurt. 
Sua obra pretende ser uma revisão e uma atualização do marxismo, capaz de dar 
conta das características do capitalismo avançado da sociedade industrial 
contemporânea. Faz uma crítica à racionalidade dessa sociedade, caracterizando-
a em termos de uma "razão instrumental", que visa apenas estabelecer os meios 
para se alcançar um fim determinado. Segundo sua análise, o desenvolvimento 
técnico e a ciência voltada apenas para a aplicação técnica acarretam na perda do 
próprio bem, que estaria submetido às regras de dominação técnica do mundo 
natural. 
É necessário então a recuperação da dimensão humana, de uma racionalidade não-
instrumental, baseada no "agir comunicativo" entre sujeitos livres, de caráter 
emancipador em relação à dominação técnica. 
Habermas percebeu a distorção dessa possibilidade de ação comunicativa, que 
produziu relações assimétricas e impediu uma interação plena entre as pessoas. 
A proposta de Habermas formula-se em termos de uma "teoria da ação 
comunicativa", recorrendo inclusive à filosofia analítica da linguagem para 
tematizar essas condições do uso da linguagem livre de distorção como fundando 
uma nova racionalidade. 
Habermas busca uma teoria geral da verdade, segundo a qual o critério da verdade 
é o consenso dos que argumentam e defende a idéia de que argumentar é uma 
tarefa eminentemente comunicativa. Por isso, o "discurso intersubjetivo" é o lugar 
próprio para a argumentação. 
Somente se poderia aceitar como critério de verdade aquele consenso que se 
estabelece sob condições ideais, que Habermas chama de "situação ideal de fala". 
Ou seja, a razão é definida pragmaticamente de tal modo que um consenso é 
racional quando é estabelecido numa condição ideal de fala. Para que isso seja 
possível, definiu uma série de regras básicas, cuja observação é condição para 
que se possa falar de um discurso verdadeiro. 
Essas regras são, em primeiro lugar, que todos os participantes tenham as mesmas 
chances de participar do diálogo, em segundo, que devem ter chances iguais para 
a crítica. São formas de, quando uma argumentação tem lugar entre várias pessoas, 
a eliminação dos fatores de poder que poderiam perturbar a argumentação. 
27 
 
Uma terceira condição seria que todos os falantes deveriam ter chances iguais para 
expressar suas atitudes, sentimentos e intenções. 
A quarta e decisiva condição afirma que serão apenas admitidos ao discurso 
falantes que tenham as mesmas chances enquanto agentes para dar ordens e se 
opor, permitir e proibir, etc. 
Um diálogo sobre questões morais entre senhores e escravos, patrões e 
empregados, pai e filho, violaria, portanto as condições da situação ideal da fala. 
Lembramos que o "discurso autêntico" é aquele que ocorre com pessoas em 
situação igual, sob condições igualitárias do ponto de vista de participação no 
discurso. 
Habermas ainda defende o projeto iniciado pelo Iluminismo como algo ainda a 
ser desenvolvido e significativo para nossa época, desde que a razão seja 
entendida criticamente, no sentido do agir comunicativo. 
 John Rawls, em sua "Teoria da Justiça" (1971) afirma que a justiça não é um 
resultado de interesses, por públicos que sejam. Ele fala de uma justiça distributiva 
partindo de um "estado inicial" por meio do qual se pode assegurar que os acordos 
básicos a que se chega num contrato social sejam justos e eqüitativos. 
A justiça é entendida como eqüidade por ser eqüitativa em relação a uma posição 
original que está baseada em dois princípios: a) cumpre assegurar para cada 
pessoa numa sociedade, direitos iguais numa liberdade compatível com a 
liberdade dos outros; b) deve haver uma distribuição de bens econômicos e sociais 
de modo que toda desigualdade resulte vantajosa para cada um, podendo além 
disso ter cada um acesso, sem obstáculos, a qualquer posição ou cargo. 
A concepção geral de sua teoria afirma que, todos os bens sociais primários - 
liberdade e oportunidade, rendimentos e riquezas, e as bases de respeito a si 
mesmo devem ser igualmente distribuídas, a menos que uma distribuição desigual 
desses bens seja vantajosa para os menos favorecidos. 
 
1.4. A mutabilidade da vivencia ética. 
 
a) Divergências de comportamento 
 
O ser humano na sua essência é imutável, pois se mudar sua essência, deixa de ser 
humano e torna-se um outro ser; é neste sentido que se indaga quando o homem começou 
a existir ou como o evolucionismo estuda quando ocorreu o processo de humanização; 
deve ter ocorrido um momento em que a natureza se definiu como "humano"; só para 
ficarmos com dados historicamente claros, lembramos os "homens" primitivos (5000 aC), 
os "homens" egípcios (3000 aC), os "homens" romanos (750aC), os "homens" índios 
americanos (1500 dC). 
 
Ora, se podemos chamá-los de "homens", a natureza, na sua essência, é a mesma, 
e, como conseqüência, seu comportamento deveria ser o mesmo. Todavia é mais do que 
notória a diversidade de atitudes tanto em termos de tempo como de espaço; porém, 
28 
 
mesmo no meio desta diversidade, o que o homem procura é a realização do seu ser, 
que é imutável. Podemos apontar: algumas razões das divergências do comportamento 
humano, sem entrar no mérito do julgamento da consciência individual. 
 
b) Razões das divergências 
 
Uma primeira razão encontra-se no próprio conhecimento, que o homem tem de 
si mesmo tanto individualmente como coletivamente. Assim, até a Baixa Idade Média, 
era desconhecida a existência de óvulo na mulher; inclusive os medievais afirmavam; que 
no ato sexual o homem já colocava um "homenzinho" pronto na mulher, cuja função era 
de fazer crescer este homenzinho; daí exigir-se da mulher uma atitude passiva ou 
receptiva. Outro exemplo, também na esfera sexual, é que na masturbação o homem 
jogava fora energias provindas de sua alimentação, que o tornaria mais fraco e até 
impotente. Ainda serve como exemplo o uso da mão; esquerda em detrimento da direita, 
o que revelaria problemas; mentais. Também o homossexualismo teria sua origem no 
próprio órgão genital, daí o costume ainda bastante recente de dar choque elétrico no 
mesmo como "terapia". Ora, na medida em que a humanidade vai se conhecendo melhor, 
ela tem a possibilidade de modificar seus comportamentos. 
 
Uma segunda razão provém do conhecimento que o homem tem de outras 
realidades no seu sentido para o próprio homem. Assim, para vários povos, incluindo os 
judeus no tempo de Cristo, a carne de porco era impura não só biologicamente, mas até 
espiritualmente para o homem. Outro exemplo refere-se ao dinheiro que até o fim da 
Idade Média era considerado como um simples meio de troca, daí dinheiro não podia 
gerar dinheiro, proibindo-se não a usura, mas até o juro. Ora, aqui vale a mesma reflexão 
feita anteriormente: é importante o homem cada vez mais descobrir o sentido das coisas 
para ele. 
 
Uma terceira razão engloba tradições e culturas com princípios, preconceitos e 
tabus que se cristalizam como uma segunda natureza; assim existem fatos que se perdem 
no passado, mas que tiveram uma razão de ser num determinado momento e continuam 
ainda como paradigmas de comportamento. Por exemplo, é conhecido o costume de 
mulheresafricanas que 1 usam argolas no pescoço para torná-lo mais comprido e elas 
serem mais elegantes; em Biafra é tradição os jovens ajudarem os velhos morrer, fazendo-
os subir num coqueiro, que é sacudido logo em seguida para os velhos cair. No Brasil há 
uma tribo de índios, que fazem os pais colocarem formigas no corpo pelado do filho aos 
quatro anos de idade para que este mostre que já é homem suportando as picadas. O 
machismo teve sua origem quando o homem teve que trabalhar a terra e criar animais, 
impondo-se pelo poder econômico à mulher. 
 
Uma quarta razão é fornecida pelo avanço das ciências e da tecnologia, que 
derruba mitos e conceitos do passado, mas cria novos. Um exemplo típico encontramos 
com relação à família: por muitos séculos o ideal foi uma prole numerosa; com a 
descoberta dos períodos férteis da mulher e dos anticoncepcionais, bem como das 
influências da macroeconomia na vida familiar, hoje criou-se o ideal de prole pequena, 
até com o mito de se ter só dois filhos. 
 
Estas razões mostram que a vida humana é muito mais dinâmica do que os 
enquadramentos que são feitos dela; mas ao mesmo tempo parece claro que o homem está 
sempre à procura de si, detectando razões para de fato sentir-se e viver como ser humano. 
29 
 
 
c) Mutabilidade na ética profissional 
 
Estas quatro razões de mutabilidade de vivência ética estão presentes também na 
existência profissional. Assim, Platão distingue três classes sociais a partir das três almas: 
os filósofos: onde domina a alma racional, os guerreiros, onde domina ai alma irascível 
os operários, onde domina a alma apetitiva; logicamente estes últimos eram subordinados 
aos anteriores; desta maneira se justificava também a escravidão. Também os hindus 
criaram as castas em ordem decrescente: sacerdotes, reis e guerreiros, artesãos, súditos e 
párias; dentro deste contexto é: que se orientavam as relações de trabalho. 
 
Entre os medievais muitos ensinavam que Deus já criara um grupo de ricos e a 
grande maioria de pobres para trabalhar para os primeiros. Aliás,o sistema capitalista na 
prática mantém a mesma idéia: os burgueses são para dirigir e dominar a economia, 
enquanto o operário é só para trabalhar e não para pensar. Existem alguns provérbios que 
escondem fundamentos éticos: por exemplo, "a quem cedo madruga, Deus ajuda", que 
serve para justificar a grande jornada dura do trabalhador, especialmente agrícola, que é 
dominado por intermediários, financiadores e outros que trabalham bem menos e ganham 
bem mais; outro provérbio: "O trabalho dignifica o homem", parte do pressuposto que 
qualquer atividade que a pessoa faça a torna mais valiosa, vindo, portanto a dignificação 
de fora do próprio homem, justificando a imposição de tarefas alheias tanto à vontade 
como à capacidade do sujeito à medida que interessa ao jogo de lucro fácil. 
 
Lembramos ainda que os europeus, especialmente portugueses e espanhóis, 
quando quiseram escravizar os índios e os negros, encaminharam um documento ao Papa 
solicitando que: fosse declarada a existência de uma alma inferior aos brancos nestes 
povos. Diante destas reflexões, percebemos que a ética no exercício profissional está 
dependendo de variações culturais, interesses imediatistas, manutenção de poder; 
no fundo o, que está em jogo de novo é: o que é o ser humano? Será que todos são 
fundamentalmente iguais ou temos que separá-los entre os intelectuais e os 
humildes, os patrões e os escravos, os superiores e os inferiores, etc.?. 
 
1.5. O princípio fundamental da ética. 
 
Mesmo diante da mutabilidade da existência ética deve-se reconhecer um 
princípio fundamental, que é evidente por si mesmo para todas as pessoas, assim 
enunciado: "É necessário fazer o bem e evitar o mal". Como foi descrito anteriormente, é 
pode ocorrer uma discrepância na compreensão concreta do que é o bem, mas toda pessoa 
sabe que deve procurar o bem. 
 
Mas o que é o bem? Bem é tudo aquilo que está de acordo com a natureza em 
geral e especialmente com a humana, perfazendo uma integridade ou harmonia no todo; 
assim, pensar em progredir na profissão pode ser um bem enquanto favorece o 
encadeamento das próprias energias para melhorar de vida; tomar um remédio contra 
reumatismo pode ser um bem porque reintegra uma parte do corpo consigo mesma e com 
o todo do ser humano; namorar pode ser um bem enquanto favorece o equilíbrio afetivo 
da pessoa. "Na medida em que uma coisa está de acordo com nossa natureza é 
necessariamente boa" (Spinoza, citado em Sá, 1996: 27). 
 
30 
 
Além disto, o bem é baseado numa relação especial e constituída por esta entre 
duas ou mais realidades; assim, trabalhar pode ser um bem enquanto a pessoa se vê 
relacionada à produção de um valor e ao mesmo tempo melhora as relações com seus 
familiares garantindo seu sustento; uma relação sexual e pode ser um bem enquanto um 
meio de manifestação de amor conjugal, fortificando a relação entre ambos. 
 
E o mal o que é? É uma negação, uma falta de um bem, uma desarmonia causada 
num todo pela ausência de algo. Assim, matar outra pessoa é um mal, porque priva 
alguém da vida que é um bem; ser desonesto no preço de uma mercadoria é um mal, 
porque tira algo de bom de outrem; ser adúltero é um mal, porque realiza um ato que por 
si pertence a outra pessoa; sonegar impostos é um mal, porque desvia um bem da posse 
de quem é de direito. 
 
Todas as questões éticas no fundo se resolvem a esta pergunta: o que favorece ou 
não favorece à natureza do ser humano? Assim, o bem e o mal, o certo e o errado, embora 
possam e, devam ser determinados em si, concretamente exigem uma reflexão constante, 
especialmente diante de novas situações; um simplismo muito rígido pode impedir de 
vislumbrar realisticamente o que de fato é bom para o ser humano. 
 
 Critérios auxiliares 
 
A fim de facilitar a concretização do princípio fundamental, existem três critérios 
auxiliares. Os primeiros princípios são aqueles mais genéricos de fácil compreensão e 
aceitação por qualquer pessoa; são "vazios", isto é, sem se referir ainda a determinada 
situação; são universais, isto é, independentes de culturas ou ideologias específicas; são 
valores, que antecedem leis feitas por autoridades, que regem as relações entre as pessoas; 
fazem parte do senso comum. Por exemplo: respeitar a vida humana, respeitar as coisas 
alheias, proferir a verdade, viver a honestidade e a sinceridade, ser fiel, na vida conjugal. 
 
Os segundos princípios são concretizações em situações mais específicas dos 
primeiros com mais dificuldades para aceitação unânime; normalmente dependem de 
culturas, ideologias, tradições, costumes e interesses; assim, nem sempre se apresentam 
como uma dedução lógica e racional dos primeiros princípios, havendo divergências entre 
os grupos humanos. Assumindo os mesmos exemplos anteriores, é só acrescentar um 
novo elemento a cada item: respeitar a vida humana de um feto, respeitar as coisas alheias 
de um rico, proferir a verdade a um doente, viver a honestidade e a sinceridade na 
declaração de impostos, ser fiel na vida conjugal no caso de ter sido traído. 
 
As conclusões remotas são aplicações dos segundos princípios em situações 
especialíssimas e bem definidas; a unanimidade é bem mais difícil ainda; aqui entram em 
jogo problemas ou -realidades pessoais, especialmente de ordem emocional. Para 
esclarecer é só especificar um novo dado aos exemplos anteriores: respeitar a vida 
humana de um feto descerebrado, respeitar as coisas alheias de um rico que ganhou na 
loteria, viver a honestidade 
e a sinceridade na declaração de impostos em épocas de crise financeira, ser fiel na vida 
conjugal no caso de ser traído pelo melhor amigo, proferir a verdade a um doente em fase 
terminal de vida. 
 
A partir destes três critérios auxiliares é que cada pessoa procura responder para 
si

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