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GEERTZ, C. Os usos da diversidade

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I
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4 Os usosda diversidade
A antropologia,minhaftõhlicheWissenschaft,temseenvolvidofatalmente,no
cursodetodasuahistória(umalongahistória,separtirmosdeHeródoto,ou
muitocurta,separtirmosdeTaylor),coma enormevariedadedemaneiras
comqueoshomensemulherestentamviversuasvidas.Emcertosmomentos,
elaprocuroulidarcomessavariedadecaptando-aemalgumaredeteóricauni-
versalizante:estágiosevolutivos,idéiasou práticaspan-humanas,ou formas
transcendentais(estruturas,arquétipos,gramáticassubterrâneas).Em outros,
insistiunaparticularidade,naidiossincrasia,naincomensurabilidade- repo-
lhosereis.Mas,recentemente,elaseviudiantedealgonovo:apossibilidade
dequeavariedadeestejarapidamentesesuavizandonumespectromaispálido
emaisestreito.Podemosver-nosconfrontadoscomummundonoqualsim-
plesmentejá nãoexistammaiscaçadoresdecabeças,estruturasmatrilineares
oupessoasquefazemaprevisãodotempopelasvíscerasdoporco.Asdiferen-
çassemdúvidacontinuarãoaexistir- osfrancesesjamaiscomerãomanteiga
comsal.Masosbonsevelhostemposdelançarviúvasnafogueiraedocaniba-
lismonãovoltammais.
Emsimesmo,comoquestãoprofissional,esseprocessodesuavizaçãodo
contrastecultural(supondo-sequesejareal)talveznãosejatãoperturbador.
Os antropólogossimplesmenteterãoqueaprenderacompreenderdiferenças
maissutis,eseustextostalvezsetornemmaissagazes,aindaquemenosespeta-
culares.Maselelevantaumaquestãomaisampla,aomesmotempodeordem
moral,estéticaecognitiva,queémuitomaisperturbadoraequeestánocentro
deváriasdiscussõesatuaissobrecomojustificarosvalores:o quechamarei,
llpenasparaterumnomequefiquegravadonamente,deo FuturodoEtno-
centrismo.
Retomareimaisadiantealgumasdessasdiscussõesmaisgerais,poisépara
. elasquesevoltao meuinteresseglobal;mas,comoformadeabordaroproble-
Os usosda divmidtuk 69
ma,querocomeçarapresentandoumatese,ameuverincomumeumbocado
desconcertante,queo antropólogofrancêsClaudeLévi-Straussdesenvolveno
iníciodasuarecentecoletâneadeensaios,provocadoramenteintitulada(pro-
vocadoramenteaomenosparaumantropólogo)O olhardistanciado.'
A tesedeLévi-Strausssurgiu,antesdemaisnada,emrespostaaumconviteda
UnescoparaqueproferisseaconferênciadeaberturadoAno Internacionalde
CombateaoRacismoeàDiscriminaçãoRacial,que,casovocêstenhamesque-
cido,foi 1971."Fui escolhido",disseele,
porquevinteanosantestinhaescrito[umpanfletointitulado]"Raçae história"
paraaUnesco,[noqual]afirmaraalgumasverdadesfundamentais [Em] 1971,
logopercebiqueaUnescoesperavaqueeu[simplesmente]asrepetisse.Mas,vin-
teanosantes,paraatenderàsinstitUiçõesinternacionais,queeujulgavaterque
apoiarmaisdoquecreiohoje,euhaviaexageradoumpoucominhasconclusões
em "Raça e história".Talvez por minha idade ecertamentegraçasa reflexõesins-
piradaspelasituaçãoatualdo mundo,nãogosteidessasolicitudeemeconvenci
deque,paraserútil à Unescoecumprircomhonestidadeo meucompromisso,
deveriafalarcomabsolutafranqueza.'
Comodehábito,issonãosereveloupropriamenteumaboaidéia,provo-
candoumaespéciedefarsa.AlgumasmembrosdadiretoriadaUnescoficaram
consternadospor"euhaverquestionadoumcatecismo[cujaaceiração]Ihesper-
mitiraascenderdeempregosmodestosnospaísesemdesenvolvimentoparares-
peiráveisposiçõesde executivosnumainstituiçãointernacional".3O então
diretor-geraldaUnesco,outrofrancêsdecidido,pediuinesperadamenteapala-
vraafimdereduziro tempodeLévi-Strausseassimforçá-Ioafazeroscortesde
"aperfeiçoamento"quelhehaviamsugerido.Lévi-Strauss,incorrigivel,leuaín-
tegradeseutexto,aparentementeemaltavelocidade,notempoquelherestava.
Aforaisso,queequivaliaaumdianormalnaONU,o problemadaconfe-
rênciadeLévi-Straussfoique,nela,alielese"rebeloucontraoabusodelingua-
gempeloqualaspessoastendemcadavezmaisaconfundiroracismo...com
atitudesnormaise atélegítimase,de qual uer modo, inevitáveis"- ou seja;
como etnocentrismo,emboraelenãoo cH asseporessenome:
O etnocentrismo,argumentouLévi-St ssem "Raçae cultura",e de
modoumpoucomaistécnicoem"O antropólogoeacondiçãohumana",es-
critocercadeumadécadadepois,nãoapenasnãoéruimemsi,comoéatéuma
coisaboa,pelomenosdesdequenãofujaaocontrole.A fidelidadeaumcerto
conjuntodevaloresfazcomque,inevitavelmente,aspessoasfiquem"parcial
outotalmenteinsensíveisaoutrosvalores"aosquaisoutraspessoas,igualmen-
Nova luz sobrea antropologia
provincianas,sãoigualmentefiéis.5"Não hánadadeofensivoemsecolocar
>róprioestilodevidaou o própriomododepensaracimadosoutrosou em
1tlrpoucaatraçãopor outrosvalores."Essa"incomunicabilidaderelativa"
o autorizaninguéma reprimirou destruiros valoresrejeitadosou aqueles
.eospossuem.À exceçãodisso,porém,"elanãotemnadaderepugnante":
Talvezsejaatéopreçoapagarparaqueossistemasdevaloresdecadafamíliaespi-
ritualou decadacomunidadesejampreservadose encontrememsi mesmosos
recursosnecessáriosparasuarenovação.Se...associedadeshumanasexibemum
grauótimodediversidadeparaalémdo qualnãopodemavançar,masabaixodo
qualnãopodemdescersemriscos,temosdereconhecerque,emlargamedida,es-
sadiversidaderesultado desejodecadaculturaderesistiràsculturasquea cer-
cam,de sç distinguirdelas- em suma,de ser ela mesma.As culturasnão
desconhecemumasàsoutrase,devezemquando,atétomamempréstimosentre
si; mas,paranãoperecerem.elasdevem.soboutrosaspectos.permanecerum
tantoimpermeáveis.6
Portanto,nãoapenaséumailusãoqueahumanidadepossaselivrarintei-
mentedoetnocéntrismo,"ou sequerinteressar-seemfazê-Io",comonãose-
abomseo fizesse.Tal "liberdade"conduziriaaum mundo"cujasculturas,
,dasapaixonadasumaspelasoutras,aspirariamapenasacelebrar-semutua-
lente,numatalconfusãoquecadaumaperderiaqualqueratrativoquepudes-
~terparaasdemaiseperderiasuaprópriarazãodeser.,,7
A distânciacria,senãoencanto,pelomenosindiferençae,assim,integri-.
lde.No passado,quandoaschamadasculturasprimitivasenvolviam-seape-
15muitomarginalmenteumascomasoutras- referindo-sea si mesmas
)mo"AsVerdadeiras","As Boas"ousimplesmente"Os Homens",edespre-
Lndoasquesesituavamdo outroladodorio oudaserracomo" macacos"ou
)vosdepiolho",istoé,nãohumanasounãoplenamentehumanas-, ainte-
~idadeculturaleraprontamentemantida.A "profundaindiferençaparacom
.ltras.culturasera...umagarantiadequeelaspodiamexistiràsuaprópriama-
~iraesegundoosseusprópriostermos.,,8Agora,quandoéclaroqueessasitu-
rãojá nãoprevalecequandotodos.cadavezmaisapertadosnumpequeno
laneta,estãoprofundamenteinteressadosemtodososdemaisenosassuntos
uelhesdizemrespeito,assomaapossibilidadedeperdadessaintegridadeem
mçãodaperdadessaindiferença.Talvezo etnocentrismonuncadesapareça
orcompleto,sendo"daessênciamesmadanossaespécie",maspodetornar-se
erigosamentefraco.deixando-nosàmercêdeumaespéciedeentropiamoral:
Semdúvidanosiludimoscomumsonhoaosuporquealgumdiaaigualdadeea
fraternidadereinarãoentreoshomenssemcomprometernossadiversidade.No
Os usosda diversidade 71
entanto,sea humanidadenãoestáresignadaa setornarum consumidorestéril
dosvaloresqueconseguiucriarnopassado capazapenasdedaràluzobrasbas-
tardaseinvençõesgrosseirasepueris,[então]teráqueaprendermaisumavezque
todacriaçãoverdadeiraimplicaumacenasurdezaoapelodeoutrosvalores.che-
gandoatéarejeitá-Ios,senãonegá-Iosporcompleto.Poisnãopodemosdesfrutar
plenamentedo outro,identificarmo-nos.comelee.aomesmotempo.continuar
diferentes.Quandosealcançaacomunicaçãointegralcomo outro.maiscedoou
maistardeelasignificaadestruiçãodacriatividadedeambos.As grandeserascri-
ativasforamaquelasemqueacomunicaçãosetornarasuficienteparaaestimula-
çãomútuadeparceirosdistantes.masnãoeratãofreqüentenemtãovelozque
pusesseemperigoosobstáculosindispensáveisentreos indivíduose osgrupos.
ouqueosreduzisseaopontoemquetrocasexcessivamentefáceispudessemigua-
lareanularsuadiversidade.9
O quequerquesepensedetudoissooupormaissurpresoquesefiqueao
ouvi-Iodabocadeumantropólogo.decertosetratadealgoquetemumtoque
contemporâneo.Os atrativosda"surdezaoapelodeoutrosvalores"edeuma
abordagemdo tipo "relaxeegoze"a respeitodo aprisionamentopessoalna
própriatradiçãoculturalsãocadavezmaiscelebradosnopensamentosocialre-
cente.Incapazesdeabraçaro relativismoou o absoJutismo-o primeiropor
inviabilizaro .ul ento,ose ndo orretirá-Iodahistória-, nossosfilóso-
[os,historiadoresecientistassociaisvoltam-separaa imperméabilitéQueLé-
Vi-Straussrecomenda.dotipo"nóssomosnós.elessãoeles".Querseencar~
issocomolegitimação,comoajustificaçãodopreconceitooucomoa.esplêndi-
dahonestid4dedafrasedeFIanneryO'Connor,"quandoemRoma,façam
comofizeramemMilledgeville",ditaemtomde"eis-meaqui",éclaroqueé
algoquecolocaaquestãodo Futuro do Etnocentrismo - edadiversidadecul-
tural-..,...sobumanovaluz.O recuo,o distanciamento,O OlharDistanciado
serãorealmenteamaneirad~escaaràdeseseradatolerânciadocosmoolitis-
mo nesco?eráo narcisismomoralaalternativaàentropiamoral?
Sãomúltiplasasforçasresponsáveispor umavisãomaisinteressantedoauto-
centramentoculturalnosúltimos25ou30anos.Existemasquestõesrelativas
à"situaçãodomundo"aqueLévi-Straussalude,maisespecialmenteo incapa-
cidadedeamaioriadospaísesdoTerceiroMundo deatender~àsróseasexpec-
tativasque eramcorrentespouco antese pouco depoisde suaslutasde
independência.Os extremistasAmin, Bokassa,Pol Pot eK.homeini,ou,com
menosextravagância,Marcos,Mobuto, Sukarnoe Indira Gandhiesfriaram
um poucoa idéiadequehámundosemoutroslugaresemrelaçãoaosquais
umacomparaçãonoséclaramentedesfavorável.Existeosucessivodesmascara-
72 Nova luz sobrea antropologia
mentodasutopiasmarxistas- aUniãoSoviética;aChina,Cuba,oVietnã.E
hátambémumareduçãodopessimismoexpressonaidéiadeDeclíniodoOci-
dente,induzidapela11GuerraMundial, peladepressãoglobalepeladerrotado
imperialismo.Mashátambém,ecreioquenãomenosimportante,oaumento
daconsciênciadequeo consensouniversal- transnacional,transculturale
atédetodasasclasses- sobreassuntosnormativosnãoestávisívelnumfuturo
próximo.Nemtodos- ossikhs,ossocialistas,ospositivistas,osirlandeses-
chegarãoaumaopiniãocomumsobreo queédecenteeo quenãoé,o queé
justoeo quenãoé,o queébeloeo quenãoé,o queérazoáveleo quenãoé,
pelomenosnãotãocedo,ou talveznunca.
Quandoabandonamos(e,éclaro,nemtodosabandonaram,talvezsequer
a maioria)a idéiadequeo mundocaminhaparaum acordoessencialsobre
questõesfundamentais,oumesmo,comoLévi-Strauss,dequedeveriafazê-Io,
naturalmentecresceo apelodoetnocentrismodotipo"relaxeegoze".Senos-
sosvaloresnãopodemserdesvinculadosdenossahistóriaenossasinstituições,
como não podemsê-Ioos valoresde ninguémem relaçãoa suasinstitui-
çõesesuahistória,parecenãohaveroutracoisaafazersenãoseguiro exemplo
deEmersone andarcomnossasprópriaspernas,falandocomnossaprópria
voz."Esperoindicar",escreveuRichardRortynumtextorecente(maravilho-
samenteintitulado"Liberalismoburguêspós-moderno"),"comonós[oslibe-
\ raisburguesespós-modernos]podemosconvencernossasociedadedequea
fidelidadeaelamesmaéosuficiente...,dequeelasóprecisaserresponsávelpor
suasprópriastradições.,,10Aquiloaquechegaoantropólogoembuscadas"leis
consistentesque subjazemà diversidadeobserváveldascrençase institui-
ções"lI,partindodo racionalismoedaaltaciência,éatingidoapartirdoprag-
matismoedaprudênciaéticapelofilósofopersuadidodeque"nãohá 'base'
para[nossas]lealdadeseconvicções,excetopelofatodequeascrenças,desejos
eemoçõesqueassustentamsuperpõem-seàsdeinúmerosoutrosmembrosdo
grupocomquenosidentificamosparafinsdedeliberaçãomoralepolítica".12
A semelhançaéaindamaior,apesardospontosmuitodiversosdequepar-
temessesdoissábios(okantismosemo sujeitotranscendental,o hegelianismo
semo espíritoabsoluto)edosfinsaindamaisdiversosparaosquaiselesten-
dem(ummundobemarrumadodeformastransponíveis,ummundodesarru-
madodediscursoscoincidentes),porquetambémRortyencaraasdistinções
odiosasentreos gruposnão apenascomo naturais,mascomoessenciaisao
pensamentomoral:
[O]análogohegelianoda"dignidadehumanaintrínseca'l.[kantiana]naturaliza-
do,éadignidadecomparativadogrupocomqueapessoaseidentifica.Asnações
ouigrejasoumovimentos,nostermosdessavisão,sãoexemploshistóricosbri-
Os usosda diversidade 73
Ihantes,nãoporquereflitamraiosprovenientesdeumafontesuperior,maspor
.causadosefeitosde contraste- dacomparaçãocomcomunidadespiores.As
pessoastêmdignidadenãocomoumaluminescênciainterna,masporcomparti-
lharemessesefeitosdecontraste.Um coroláriodessavisãoéqueajustificação
moraldasinstituiçõesepráticasdogrupoaquesepertence- porexemplo,a
burguesiacontemporânea- ésobretudoumaquestãodenarrativashistóricas
(queincluemhipótesessobreoquetendeaaconteceremalgumascontingências
futuras),enãodemetanarrativasfilosóficas.Orespaldoprincipaldahistoriogra-
fianãoéa filosofia,masa arte,queserveparadesenvolvere modificaraau-
to-imagemdo grupo- por exemplo,fàzendoa apoteosede seusheróis,
diabolizandoseusinimigos,montandodiálogosentreseusmembrosemudando
o focodesua.atenção.13
Ora, sendoeu mesmo integrantedessastradiçõesintelectuais- doestu-
do científicodadiversidadecultural,por profissão,e do liberalismoburguês
pós-moderno,por convicçãogeral-, minhavisãopessoal,paraabordá-Ias
nestemomento,é quea rendiçãofácilao comodismodesermosapenasnós
mesmos,cultivandoasurdezemaximizandoagratidãopor nãotermosnasci-
dovândalosouIk, seráfatalparaambas.Umaantropologiamuitotemerosade
destruiraintegridadeeacriatividadeculturais,nossasedetodososoutros,por
seaproximardeoutraspessoas,conversarcomelaseprocurarapreendê-Iasem
seucotidianoesuadiferença,estáfadadaa morrerdeumainaniçãoquenão
podesercompensadaporqualquermanipulaçãodeconjuntosdedadosobjeti-
vados.Qualquerfilosofiamoraltemerosadeseenredarnumrelativismodesa-
juizadoounumdogmatismotranscendental,apontodenãoconseguirpensar
emnadamelhoraserfeitocomasoutrasmaneirasdeviverdoquefazê-Iaspa-
recerempioresdoqueanossa,estádestinada(comodissealguémsobreostex-
tosdeV.S. N aipaul,talveznossoprincipaladeptodaconstruçãodesses"efeitos
decontraste")a fazercomqueo mundosetorneseguroparaacondescendên-
cia.Tentarsalvarduasdisciplinasdelasmesmas,aomesmotempo,talvezpare-
ça arrogância.Mas, quando se tem dupla cidadania,tem-seobrigações
dobradas.
A despeitodesuascondutasdiferentesedesuasdiferentespreocupações(eeu
meconfessomuitomaispróximodo populismodesleixadode Rortyquedo
elitismomelindrosodeLévi-Strauss- oquetalvezsejaapenasumpreconcei-
toculturalmeu),essasduasversõesdo"cadaumtemsuaprópriamoral"apói-
am-se,pelomenosemparte,numavisãocomumdadiversidadecultural,qual
seja,adequesuagrandeimportânciaresideemelanosfornecer,parausaruma
fórmuladeBernardWilliams,alternativasanós,emcontrastecomalternativas
74 Nova luz sobrea antropologia
paran6s.Outrascrenças,valoreseestilosdecondutasãovistoscomocrenças
queadotaríamos,valoresquedefenderíamoseestilosdec~ndutaqueseguiría-
mos,sehouvéssemosnascidonumlugarouépocadiferentesdaquelesemque
estamos.
E o faríamosmesmo.Mastalvisãopareceaomesmotemposuperestimare
subestimarbemmaisdoquedeveriaarealidadedadiversidadecultural.Supe-
restimá-Iapor sugerirqueterumavidadiferentedaqueseteméumaopção
práticasobreaqual,dealgummodo,osujeitotemquedecidir(seráqueeude-
veriater sido Bororo?Não éumasorteeunãoternascidohitita?);esubesti-
má-Iaporobscurecero poderquetemessadiversidade,quandopessoalmente
dirigidaan6s,detransformarnossaidéiadoqueé,paraumserhumano- Bo-
roro,hitita,estruturalistaou burguêsliberalp6s-moderno-, acreditar,valo-
rizarou conduzir-se:do queé,comoobservouArthur Danto,fazendoecoà
famosaperguntadeThomasNagelsobreo morcego,"acharqueo mundoé
plano,quefico irresistívelcommeuvestidodePoiret,queo reverendoJim Jo-
nesmeteriasalvoporseuamor,queosanimaisnãotêmsentimentosouqueas
floresos têm- ouqueo quenteéopunll'.14 O problemadoetnocentrismo
nãoestáemelenos~omprometercomnossoscompromissos.Temos,pordefi-
nição,essecompromisso,assimcomoestamoscomprometidoscomnossasdo-
resdecabeça.O problemadoetnocentrismoéqueelenosimpedededescobrir
emquetipodeângulo,comoo CavafydeForster,nossituamosemrelaçãoao
mundo;quetipo demorcegossomos,defato.
Essavisão- dequeosenigmassuscitadospelarealidadedadiversidade
culturaltêmmaisavercomnossacapacidadedesondaràsapalpadelasassensi-
bilidadesalheias,osmodosdepensamentoquenãotemosnemtendemosater
(rockpunkevestidosdePoiret),doquecompodermosounãofugirdepreferirnossaspreferências- temdiversasimplicações,que sãoum maupresságio
paraaabordagemdascoisasculturaisemtermosde"n6ssomosn6s"e"elessão
eles".A primeiradelas,e,possivelmente,amaisimportante,équeessesenig-
masnãosurgemmeramentenasfronteirasdenossasociedade,onde,segundo
essaabordagem,esperaríamosencontrá-Ios,massurgem,porassimdizer,nos
limitesden6smesmos.A estranhezanãocomeçanoslimitesdaágua,masnos
dapele.Aqueletipodeidéiaquetendeasercultivadapelosantrop6logosdesde
Malinowskiepelosfil6sofosdesdeWittgenstein- adequeosxiitas,digamos,
porseremoutros,constituemumproblema,masostorcedoresdefutebol,por
exemplo,por seremparteden6s,nãoo constituem,ou, pelomenos,nãosão
umproblemadomesmotipo- ésimplesmenteerrada.O mundosocialnão
sedivide,emsuasarticulaões,entreum n6s ers ícuo, como ual odemos
teremvatia.porm~i~<}',p~pj~rY1M~ifprpntesentrenós,eumel~senigmático,
com.o~ nãopoqemosserempáticos,pormais9uedefend~até amorte
Os usos dadiversidade 75
seudireitodeseremdiferentesdenós.A gentalhacome~-mu!!?a~~d?_Ç~~~
daMancha.
Tanto aantropologiarecente,do tipoDo PontodeVistadoNativo(que
pratico),quantoa filosofiarecente,do tipodasFormasdeVida (daqualsou
adepto),foramlevadasaconspirar,ouparecemconspirar,paraobscureceresse
fato,atravésdeumaaplicaçãocronicamenteerradadesuaidéiamaispoderosa
emaisimportante:a I Ia e~e o sentidoésoci menteconstru o.
A percepçãode queo sentido,sobaforma desinaisinterpretáveis- sons,
imagens,sentimentos,artefatos,gestos-, s6passaaexistirdentrodosjogos
de linguagem,dascomunidadesdiscursivas,dossistemasdereferênciainter-
subjetivosedasmaneirasdeconstruiro mundo;dequeelesurgenocontexto
deumainteraçãosocialconcreta,emqueumacoisaéumacoisaparaumvocêe
um eu,enãoemalgumagrutasecretanacabeça;edequeeleérigorosamente
hist6rico,moldadono fluxodosacontecimentos,essapercepçãoéinterpretada
comoimplicandoqueascomunidadeshumanassãooudevemsermônadasse-
mânticas,quasesemjanelas(o que,a meuver,nemMalinowskinemWitt-
genstein- e, a rigor, nem Kuhn nem Foucault - pretenderamque
implicasse).Somos,diz Lévi-Strauss,passageirosdessestrensquesãonossas
culturas,cadaqualmovendo-seemseustrilhospr6prios,comsuapr6priavelo-
cidadeeemsuapr6priadireção.Os trensquecorremladoalado,indoemdi-
reçõessimilaresecomvelocidadesnãomuitodiferentesdanossa,são-nosao
menosrazoavelmentevisíveis,quandoosolhamosdenossoscompartimentos.
Mas ostrensqueestãoemtrilhosoblíquosouparalelos,indoemdireçãoopos-
ta,nãoosão."[P]ercebemosapenasumaimagemvaga,fugazequasenãoiden-
tificável,emgeralapenasumamanchamomentâneaemnossocampovisual,
quenãotraznenhumainformaçãosobresimesmaemeramentenosirrita,por-
queinterrompenossaplácidacontemplaçãodapaisagemqueservedepanode
fundoparanossosdevaneios."'sRorcyémaiscautelosoemenospoético,esin-
to queseinteressamenospelostrensdasoutraspessoas,tãopreocupadoestá
emsaberparaondeestáindo o seu,masfaládeuma"superposição"maisou
menosacidentaldesistemasdecrença,entrecomunidades"americanasricase
burguesas"eoutras"comasquaisprecisamosfalar",comosendoo quepermi-
teque"algumaconversaentreasnaçõesaindasejapossível".16O fatodeosen-
timento,o pensamentoeojuízosealicerçaremnumaformadevida- queéo
únicolugar,aliás,tantoameuverquantonaopiniãodeRorty,emqueelespo-
demseapoiar- étidocomosignificandoqueoslimitesdemeumundosãoos
limitesdaminhalinguagem,o quenãoéexatamenteo queo homemdisse.
O queeledisse,éclaro,foiqueoslimitesdaminhalinguagemsãooslimi-
tesdo meumundo,o quenãoimplicaqueo alcancedenossamente,daquilo
quepod,emosdizer,pensar,apreciarejulgar,estejaaprisionadonasfronteiras
76 Nova luz sobrea antropologia
denossasociedade,nossopaís,nossaclasseou nossaépoca,masqueo alcance
denossamente,agamadesinaisquedealgummodoconseguimosinterpretar,
é aquiloquedefineo espaçointelectual,afetivoe moralem quevivemos.
Quantomaioreleé, maiorpodemostorná-Io,tentandocompreendero que
vêmaserosadeptosdaTerraplana,ouo reverendoJim Jones(ouosIk ouos
vândalos),o quesignificasercomoeles,e maisclarosnostornamostambém
paranósmesmos,tantoemtermosdoquevemosdeaparentementeremotoe
deaparentementefamiliarnosoutros,deatraenteederepulsivo,desensatoe
deinteiramentelouco;oposiçõesessasquenãosealinhamdemaneirásimplis-
ta,poisháalgumascoisasmuitoatraentesnosmorcegoseoutrasmuitorepug-
nantesnosetnógrafos.
ComodizDantonomesmoartigoqueciteihápouco,são"aslacunasen-
tremimeosquepensamdiferentementedemim- o queequivaleadizerto-
dososoutros,e nãoapenasos segregadospor diferençasde gerações,sexo,
nacionalidade,seitae atéraça- [que]definemasverdadeirasfronteirasdo
self'.17Como eletambémdiz,ou quase,sãoasassimetrias- entreaquiloem
quecremosou quesentimoseaquiloqueosoutrosfazem- quenospermi-
temsituarondeestamosagoranomundo,comoéestarnesselugareparaonde
gostaríamosou nãodeir. Obscureceressaslacllna~e:,,<oimPtri,,~,re:leg;mdo-as
~ campoda .-life:rl"nç"p"..pre!de Eerreprimida 0'1ignnrada,da meradesseme-
lhança, ueéo ueo etnocentrismofazeestádestinadoafazer o universalis-
modaUnescoasobscurece- Lévi-Strausstemtodarazãonisso-, n~
porcompletosuarealidade, equivaleanosisnbr.-11"<01"rnnhecil . ssa
pOSSllia e: apossibilidade,emtermosliteraiserigorosos,4c::..11)ud.armosde
.o, Tcléia. .
~!It"'..;.--~I~,
:~'"
~' A históriadequalquerpovoemseparadoe adetodosospovosemconjunto,
comotambém,arigor,a históriadecadapessoatomadaindividualmente,tem
sidoahistóriadessamudançadeidéias,emgeraldevagar,àsvezesmaisdepressa;
ou,casoo tomidealistadestaafirmaçãoperturbeo leitor(nãodeveria,porque
nãoéidealistanemnegaaspressõesnaturaisdarealidadeouoslimitesmáteriais
davontade),temsidoahistóriadamudançadossistemasdesinais,dasformas
simbólicase dastradiçõesculturais.Essasmudançasnãosederamnecessaria-
menteparamelhor,talvez.nemmesmoemcaráternormal.Tampoucolevarama
umaconvergênciadasopiniões,masaumamisturadelas.O querealmentefoi,
emalgummomento,algoaomenosparecidocomo mundodassn("il".-I"rlpcinte-
aisemcomunicaãodistantedeLévi-Strauss,láemseuabenoadoneolítico,
transformou-seemal obemmaisparecidocomo mundo ós-modern n-
sibilidãdesem choquenumcontatomescapve dequenos falaDanto.Tal
Os usos da diversidade 77
comoanostalgia,ladiversidadejá nãoécomoantigamen!~;]o traneafiamento
dasvidasemvagóesferroV1arlosseparados,paraproduzira renovaçãocultural,
ou seuespaçamentocomefeitosdecontraste,paraliberarenergiasmorais,são
sonhosromânticosquenãodeixamdeserperigosos.
A tendênciageraldeo espectroculturaltornar-semaisvagoe maiscontí-
nuo,semsetornarmenosdiscriminado(aliás,éprovávelqueestejaficandomais
discriminado,àmedidaqueasformassimbólicassedividemeproliferam),ten-
dênciaestaa que me referino início, alteranão só a relaçãodelecom a
argumentaçãomoral,mastambémo caráterdessaprópriaargumentação.Acos-
tumamo-nosà idéiadequeosconceitoscientíficosmodificam-secomasmu-
dançasdostiposdeinteresseparaosquaissevoltamoscientistas- a idéiade
quenãoseprecisadocálculoinfinitesimalparadeterminaravelocidadedeuma
charrete,nemdaenergiaquânticaparaexplicaraoscilaçãodeumpêndulo.Mas
temosbemmenosconsciênciadequeo mesmoseaplicaaosinstrumentosespe-
culativosdoraciocíniomoral.As idéiasquebastaramparaasmagníficasdiferen-
çasde Lévi-Straussnão sãosuficientesparaasperturbadorasassimetriasde
Danto;eécomestasúltimasquenosconfrontamoscadavez.mais.
Em termosmaisconcretos,asquestõesmoraisprovenil"ntl"~(1"rlivprcida-'
decultural( ue,éclaro,estãolon edesertodasas uestõesmorais .
tem,asquais,seéqueche vamasur ir;suriamsobretudoentresociedadesIt-
aqueletipO ecoisados"costllmescontr:írin~? r"7:inI"? mnr,,\".-Ie:quese
~imentouo imperialismo-, surgemagora,cadavezmais,dentrodelas.As
fronteirassociaiseculturaistêmumacnin,.i.-l~n("i"("".-I"Vl"7me:nor- hájapO:J
nesesno Brasil,turcosàsmargensdo Main enativosdasíndiasOcidentaise
Orientais encontrando-senas ruasde Birmingham -, num processode bara-
lhamentoquejávemacontecendoháumbomtempo,éclaro(naBélgica,no
Canadá,no Líbano,naÁfriqt doSul, enemaRomadosCésareseralámuito
homogênea),masque,emnossosdias,aproxima-sedeproporçõesextremase
quaseuniversais.Já vailongeo tempoemqueacidadenorte-americanaeraoprincipalmodelodefragmentaçãoculturale desordemétnica;a Parisdenos
ancêtreslesgautoisestáficandotãopoliglotaepolicromaquantoManhattan,e
épossívelqueaindavenhaa terumprefeitodaÁfricasetentrional(ou,pelo
tmenos,assimtemepl.muitosdosgautois)antesqueNovaYork tenhaumpre-
feitohispânico. .~Y'
No corpodeumasociedade,dentrodasfronteirasdeum"nós",essesurgi-
mentodequestõesmoraisangustiantes,centradasnadiversidadecultural,as-
.simcomoasimplicaçõesqueeletemparanossoproblemageraldo"futurodo
~;etnocentrismo",talvezseesclareçamde maneirabemmaisvívidaatravésde
um exemplo- não de um exemplo inventadode ficção científica,referenteil
r'águaemantimundos,ouapessoascujaslembrançasseintercambiamenquan;;
78 Nova luz sobrea antropologia Os usosda diversidade
to elasdormem(comoosexemplosquepassaramaagradardemaisaosfilóso- (nãoaosmédicos)porterobtidoumprolongamentodavidaemquecontinuar
fos ultimamente,em minha opinião),masde um exemploreal,ou, pelo abeber,esemnenhumarrependimento- elemorreu.
menos,apresentadoamimcomoreal eloantro ólogoqueo narrou:O Caso Poisbem,o objetivodestapequenafábulaemtemporealnãoémostrar
d ndioBê e o edaMá uinadeHemodiálise. comoosmédicospodemserinsensíveis(elesnãoeraminsensíveis,etinhamlá
O ~mples, pormaisintrigantequetenhasidoseudesfecho.Anos suasrazões)ouquãodesorientadostornaram-seosíndios(essenãoestavades-
atrás,aextremaescassezdemáquinasdehemodiálise,emvirtudedeseuenor- norteado,sabiaexatamenteondesesituar),nemtampoucosugerirqueosValO-
mecusto,levou,comoeranatural,à criaçãodeumprocessodeformaçãode resdos médicos(istoé, aproximadamenreos nossos),os do índio (istoé,
fila paraqueospacientesnecessitadosdediálisetivessemacessoa elas,num aproximadamenteosnãonossos),oualgumjulgamentoexternoàspartes,reti-
programamédicodegovernodosudoestedosEstadosUnidos,dirigido,tam- radodafilosofiaoudaantropologiaeproferidoporumdosjuízeshercúleosde
bémmuitonaturalmente,porjovensmédicosidealistas,provenientesdegran- RonaldDworkin,devesseterprevalecido.Eraumcasodifícil,queteveumfi-
desfaculdadesde medicina,em suamaioriasituadasno leste.Paraqueesse nalpenoso,masnãovejocomoum etnocentrismo,um relativismoou uma
tratamentosejaeficaz,aomenosporumperíodoprolongado,énecessáriauma neutralidademaiorespudessemtermelhoradoascoisas(emboraumpouco
disciplinarigorosaquantoà dietae outrasquestõespor partedospacientes. maisdeimaginaçãotalvezo fizesse).O objetivodafábula(nãotenhopropria-
Como iniciativagovernamentalregidaporcódigoscontráriosàdiscriminação mentecertezadequehajanelaumamoral)émostrar ueéese . 'e
e,dequalquermodo,moralmentemotivada,comoafirmei,a organizaçãoda ~ a rI o 's ane, o ra a so re si mesmanumadiferençacoerente-
filafoi feitanãoemtermosdacapacidadedepagamento,masdasimplesgravi- comoosAzandeouoslk, cu'ofascíniosobreos i" .
dadedoscasosedaordemdechegadadospedidos,políticaestaque,comas menorqueo as antasiasdeficçãocientífic~t:llvf'7pnrq"PIh~<~~~~<dvpI
distorçõeshabituaisdalógicaprática,levouaoproblemado índio bêbedo. transtormá-Iosemmarcianossublun:lrp<PpnYer~IQ~emconsonânciaCOnHS-
Esseíndio,depoisdeconseguiracessoaoequipamentoescasso,recu- so-, querepresenta,aindaquedem~neirameiomelodramátiC::I,:I formage-
sou-se,paragrandeconsternação.dosmédicos,a pararde beber,ou sequera ral assumidaho'eem dia elosconflitosde valoressur 'dosda ives' e
controlarsuaingestãodeálcool,queeraprodigiosa.Suapostura,seguindoum c tui" .
tipodeprincípiosemelhanteaodeFlanneryO'Connor,quemencioneianteri-! Os antagonistasdessahistória,seé quesepodevê-Iasdessemodo,não
ormente- o de o sujeitocontinuara serquemé, independentementedei eramrepresentantesdetotalidadessociaisensimesmadas,queseencontrassem
quemosoutrosquiseremqueseja-, eraaseguinte:soumesmoumíndiobê-i poracasonasfronteirasdesuascrenças.Osíndiosqueafastamodestinoatra-
bedo,já fazum bom tempoquesouassim,epretendocontinuara sê-Ioen-I vésdoconsumodeálcoolsãopartetãointegrantedaAméricacontemporânea
quantovocêsconseguiremmemantervivo,amarrando-meaessasuamalditai quantoosmédicosqueo corrigematravésdousodemáquinas.(Sevocêquiser
máquina.Os médicos,cujosvaloreserambemdiferentes,achavamqueo índio! sabercomo,pelomenosnoqueconcerneaosíndios- presumoqueconheça
estavaimpedindooacessoaoaparelhoporpartedeoutraspessoasdafilaemsi- osmédicos-, leiao inquietanteromancede]amesWelch, W7nterin the
tuaçãonãomenosdesesperada,asquais,navisãodeles,poderiamaproveitarBlood,ondeosefeitosdecontrasteressaltamdeummodobastantepeculiar.)
melhor seusbenefícios- o tipo jovem de classemédia, digamos, bem pareci- Se houve algumafalha nesseepisódio - e,a bemdajustiça,édifícildizer,à
do comeles,destinadoàuniversidadee,quemsabe,àfaculdadedemedicina.distância,exatamentequalfoi suadimensão-, tratou-sedaincapacidade,por
Comoo índiojáestavautilizandoamáquinadehemodiálisequandooproble- partedeambososlados,deapreendero quesignificavaestarnooutro,epor-
maseevidenciou,elesnãoconseguiramdecidir-se(nemcreioqueissoIhesti- tanto,o quesignificavaestarno seu.Pelo menosao queparece,ninguém
vessesidopermitido)aretirá-Iodelá;masficaramprofu?damenteaborrec~dosapr~ndeumuitacoisasobresimesmoousobrequalqueroutrapessoanesseepi-
- pelomenostantoquantoo índiosemostravadetermmado,sendosuficlen- sódlo,e absolutamentenadasobreo caráterdo encontroocorridoentreeles,
tementedisciplinadoparacomparecercompontualidadea rodasassuasses- excetopelasbanalidadesdarepugnânciaedaamargura.Nãoéaincapacidade
sões-, esemdúvidateriamconcebidournarazãoqualquer,aparentementedeaspessoasenvolvidasabandonaremsuasprópriasconvicçõeseadotaremas
médica,pararetirá-Iodesuaposiçãonafila,sehouvessempercebidoatempoo idéiasdeoutrosquefazessahistorietaparecertãoprofundamentedeprimenter 1.:
queestavaporvir. O índiocontinuouausaroaparelhoeelescontinuaramin- T ampoucoo ésuafaltadeumaregramoraldesencarnadaaquerecorrer-,.@.u . !
comodadosduranteváriosanos,atéque- orgulhoso,imagino,agradecidoBemMaior ou O PrincípiodaDiferença(osquais,aliás,pareceriamprod~~
79
80. Nova luz sobr. a antropologia
'resultadósdiferentesaqui).O querespondeporessesentimentodepressivoéa
impossibilidadedeaspessoassequerimaginarem,emmeioaomistériodadife-
rença,comoseriapossívelcontornarumaassimetriamoralDerfeitamenteau-
têntica.rl'udo aconteceuno escuro.
O quetendeaacontecernoescuro- asúnicascoisasquesediriaserempermi-
tidasporumaconcepçãodadignidadehumanapautadaem"umacertasurdez
aoapelodeoutrosvalores"ouuma"comparaçãocomcomunidadespiores"-
é o usoda força,paragarantira conformidadeaosvaloresdosdetentoresda
força,ou umatolerânciavazia,que,nãocomprometendonada,nãomodifica
nada,ou ainda,comonestecaso,no quala forçanãoestádisponíveleatole-
rânciaédesnecessária,umescoamentoparaumfimambíguo.
Semdúvida,sucedehaversituaçõesemquedefatoexistemasalternativas
práticas.Não parecehavermuitoquefazercomo reverendoJones,depoisque
eleestáemperseguiçãocerrada,senãodetê-Iofisicamente,antesqueeledistri-
buao venenosoKool-Aid. Quandoaspessoasachamqueo quenteé o rock
punk,bem,pelomenosdesdequenãoo toquem.nometrô,trata-sedosouvi-
dosedofuneraldelas.E édifícil mesmo(algunsmorcegossãomaisintrinseca-
mentemorcegosdoqueoutros)saberexatamentecomoprocedercomalguém
queafirmaqueasflorestêmsentimentoseosanimaisnão.O paternalismo,a
indiferençaeatéasoberbanemsem resãoatitudesinúte'saadotardiantede
di erençasdevalor,mesmodiferençasdemaiorpesodoqueessas.O problema
ésaberquandoelessãoúteisepodemosdeixaradiversidadeeI!.~regueemsegu-
rançaaseusespecialistas,equando,comopensoocorrercommaisfreqüência,
~umafreqüênciacadavezmaior,elesnãosãoúteiseelanão_p~dc:~,:rentregl!.e
I
dessamaneira,havendoneces
.
sidadedeal o mais:umaincursãoima!!:inativa
~ ~UIp,ament idadealheia(eumaaceita!;ãodela).
Em nossasociedade,o conhecedorporexcelênciadasmentalidadesalhei-
astemsidooetnógrafo(ohistoriadortambém,emcertamedida,eo romancis-
ta, de um modo diferente,masquerovoltara minha própriaseara),que
dramatizaaestranheza,enalteceadiversidadeetranspiralarguezadevisão.Se-
jamquaisforemasdiferençasdemétodoou teoriaquenosseparam,temos
sidosemelhantesnisto:profissionalmenteobcecadoscommundossituados
noutroslugaresecomo torná-Ioscompreensíveis,primeiroparanósmesmos
e,depois,atravésderecursosconceituaisnãomuitodiferentesdosusadospelos
historiadoresederecursosliteráriosnãomuitodiferentesdosusadospelosro-
mancistas,paranossosleitores.E, enquantoessesmundosestiveramrealmente
noutroslugares,láondeMalinowskiosencontroueondeLévi-Straussosre-
cordou,issofoi, apesardebastantedifícil comotarefaprática,relativamente
Os usos dadivmidaJ:k 81
nãoproblemáticocomo tarefaanalítica.podíamospensarnos "primitivos"
("selvagens","nativos" etc.)como pensávamosnos marcianos- como modos
possíveisdesentir,raciocinar,julgar,conduzir-seeviverqueeramdescontínu-
osdosnossos,alternativosanós.{\goraqueessesmundoseessasmentalidades
alheios,emsuamaioria,nãoestãorealmentenoutrolugar,massãoalternativas
aranos,situa as em erto, acunasInstantâneasentremimeos ue en-
sam i erentementedemim",parecehavernecessidadedE"11mc..rtoreajustede
nossoshábitosretóricosenossosentimentod..mi«iin
- Os usosdadiversidadecultural,deseuestudo,suadescrição,suaanálisee
suacompreensão,têmmenoso sentidodenossepararmosdosoutrosesepa-
rarmososoutrosdenós,afimdedefenderaintegridadegrupalemanteraleal-
dadedo grupo,do que o sentidode definir o campoque a razãoprecisa
atravessar,paraquesuasmodestasrecompensassejamalcançadaseseconcreti-
zem.O terrenoéirregular,cheiodefalhassúbitasepassagensperigosas,onde
os acidentespodemacontecere de fatoacontecem,e atravessá-Ioou tentar
atravessá-Iocontribuipoucoounadaparatransformá-Ionumaplanícienivela-
da,segurae homogênea,apenastornandovisíveissuasfendase contornos.
Paraquenossosmédicosperemptóriose nossoíndio intransigente(ou o(s)
"rico(s)americano(s)"e"[aquelescomquem]precisamosfalar",nalinguagem
deRorty)seconfrontemdemaneiramenosdestrutiva(eestamoslongedeter
certezadequepossamrealmentefazê-Io,poisasfend,,~~iinr..ais).elesprecisam
exploraro caráterdo espaçoQueossepara.
Em últimainstância,sãoelesmesmosquetêmdefazerisso;nessecaso,
nãohásubstitutoparao conhecimentolocal,nemtampoucoparaacoragem.
Masosmapasegráficosaindapodemserúteis,assimcomoastabelas,osrela-
tos,asfotografias,asdescriçõese atéasteorias,seatentaremparao real.Os
usosdaetnografiasãosobretudoauxiliares,mas,aindaassim,sãoreais;comoa
compilaçãodedicionáriosou o polimentodelentes,essaéou podeseruma
disciplinafacilitadora.E o queelafacilita,quandoo faz,éumcontatooperaci-
onalcomumasubjetividadevariante.Elacoloca"nós"particularesentre"eles"
particulares,ecoloca"eles"entre"nós"onde,comovenhodizendo,todosjá
nosencontramos,aindaquepoucoàvontade.Elaéagrandeinimigadoetno-
centrismo,doconfinamentodaspessoasemplanetasculturaisemqueasúni-
casidéiasqueelas-precisamevocarsão"asdaqui",nãoporpresumirquetodas
aspessoassãoiguais,masporsaberquãoprofundamentenãoo são,e,apesar
disso,quãoincapazessãodedeixardelevaremcontaumasàsoutras.O que
querquetenhasidopossívelumdia,esejaporqueforqueseanseieagora,aso-
beraniadoconhecidoempobreceatodos;namedidaemqueelatenhafuturo,
o nossoserátenebroso.Não setratadequedev~os amarunsaosoutrosou
morrer(seassimfor- negroseafricânderes,árabesejudeus,tâmeisecingale~
~~
Nova luz sobr~a antropologia
..
ses'-, creiO'queestaremoscondenados).Trata-sedequedevemosconhecer
unsaosoutrosevivercomesseconhecimento,outerminarisoladosnummun-
do beckettianodesolilóquiosemchoque.
O trabalhodaetnografia,oupelomenosumdeles,érealmenteproporcio-
nar,comoaarteeahistória,narrativaseenredospararedlreCl0narnossaaten-
Ção,masnãodotipoquenostorneaceitáveisanósmesmos,representandoos
outroscomoreunidosemmundosaquenãoqueremosnempodemoschegar,
masnarrativaseenredosquenostornemvisíveisparanósmesm9.~JEeprese~
tando-noseatodososoutroscomojogadosnomeiode1.!!.Rmundore.pkIode
estranhezasirremovíveis,quenãotemoscomoevitar.
Até épocabemrecente(agoraa situaçãoestámudando,emparte,pelo
menos,porcausado impactodaetnografia,massobretudoporqueo mundo
estámudando),aetnografiaestavabastantesozinhanisso,poisa história,na
verdade,passavaboapartedotempoaestimularnossaauto-estima,arespaldar
nossosentimentodequeestávamoschegandoaalgumlugar,aofazeraapoteo-
sedenossosheróisediabolizarnossosinimigos,ou alamentaragrandezaper-
dida;ocomentáriosocialdosromancistas,emsuamaiorparte,erainterno-
comaspartesdaconsciênciaocidentalsegurando,umasparaasoutras,umes-
pelhoplanocomoo deTrollopeoucurvocomoo deDostoiévski;eatéoses-
critosdeviagem,queao menosatentavamp~a superfíciesexóticas(selvas,
camelos,bazares,templos),empregavam-nassobretudoparademonstrara
grandecapacidadederecuperaçãodasvirtudesaprendidas,emmeioacircuns-
tânciaspenosas- o inglêsquesemantinhacalmo,o francês,racional,o nor-
te-americano,inocente.Agora que ela já não estátão sozinhae que.as
estranhezascomquetemdelidarvão-setornandomaisoblíquasematizadas,
menosfáceisdedescartarcomoanomaliasdesvairadas- homensquesejul-
gamdescendentesdeumtipodecanguruouestãoconvencidosdequepodem
serassassinadosporumolhardeesguelha-, suatarefadelocalizaressasestra-
nhezase descreversuasformaspodesermaisdifícil, sobcertosaspectos,mas
nãoémenosnecessária.Imaginaradiferença(oqut'nSo~igniflca.éclaro.in-
ventá-Ia,mastorná-Iaevidente)continuaaserumaciênciadaqualtodospreci-
samos.
Nãoémeuobjetivoaqui,entretanto,defenderasprerrogativasdeumaWissen-
schaftfeitaemcasa,cujapatentesobreoestudodadiversidadecultural,seéque
elaalgumdiaa teve,expirouhámuitotempo.Meu propósitoé sugerirque
chegamosaumponto,nahistóriamoraldo mundo umahistóriaque,emsi
--f71mesma,éc aro,étu o menosmoral).emquesomosohriEJIdosapensarnessa
diversidadedemodobemdiferentedoquecostumávamosfazer.Sedefatoestá
Us usosda divasztlade
ocorrendoque,emvezdesesepararememunidadesemolduradas,emespaços
sociaiscomlimitesdefinidos,asabordagensseriamentedistintasdavidaestão
semisturandoemespaçosmaldefinidos,espaçossociaiscujoslimitesnãotêm
fixidez,sãoirregularesedifíceisdelocalizar,aquestãodecomolidarcomos
enigmasdejulgamentoaquetaisdisparidadesdãomargemassumeumaspecto
bemdiferente.Fitarpaisagensenaturezas-mortaséumacoisa;observarpano-l~
ramasecolagenséoutramuitodiferente. \))1rJ..~
Que é comestasúltimasquenosdeparamoshojeemdia, quevivemos
cadavezmaisemmeioaumaenormecolagem,pareceevidenciar-sepor toda
parte.Não é apenasno noticiárionoturnoqueosassassinatosna índia, os
bombardeiosno Líbano,osgolpesdeEstadonaÁfricaeostiroteiosnaAméri-
caCentralseimiscuementredesastreslocaisquenãochegamasermaisinteli-
gíveis,seguidospor sisudasdiscussõessobreo estiloempresarialjaponês,as
formasdepaixãopersasou osestilosde negociaçãodosárabes.Há também
umaimensaexplosãodetraduções,boas,ruinseindiferentes,deeparalínguas
- tâmil,indonésio,hebraicoeurdu- antesconsideradasmarginaiseobscu-
ras;háumamigraçãodaculinária,dovestuário,dosacessóriosedadecoração
(cafetâsemSãoFrancisco,ColonelSandersemJogjacartaebanquetasdebar
emQuioto),etambémo surgimentodetemasdogamelãonojazzdevanguar-
da,demitosindígenasnosromanceslatinosedeimagensderevistasnapintura
africana.Acimadetudo,porém,trata-sedequeapessoaqueencontramosna
lojadehortaliçasefrutastemtantaouquasetantaprobabilidadedevir daCo-
réiaquantodo lowa,apessoadocorreio,tantadevirdaArgéliaquantodeAu-
vergne,e a do banco,tantadevir de Bombaimquantode Liverpool.Nem
mesmoosmeiosrurais,ondea similitudetendea sermaisarraigada,ficam
imunes:háfazendeirosmexicanosnosudoestedosEstadosUnidos,pescadores
vietnamitasnolitoraldogolfodoMéxicoemédicosiranianosnomeio-oeste.
Não precisocontinuaramultiplicarosexemplos.Todosvocêssãocapazes
depensarnosseus,extraídosdeseuspasseiospelasredondezas.Nemtodaessa
diversidadeéigualmenteimportante(aculináriadeJogjacartasobreviveráao
prazerdechuparosdedos),igualmenteimediata(vocênãoprecisacompreen-
derascrençasreligiosasdohomemquelhevendeselos),nemprovém,todaela,
deumcontrastecúlturalclaro.Maspareceflagrantementeclaroqueo mundo,
emcadaumdeseuspontoslocais,estácomeçandoaseparecermaiscomI.ltrl
bazardoKuwaitdoquecomumclubedecavalheirosin~leses(paraexempli~~
caro que,talvezporeununcaterestadoemnenhumdosdois,parecem-mes~ioscasosmaisdiametralmenteopostos).O etnocentrismodostiposovodepio.:3:.
lhoou"issosóexistegraçasàcultura"podeounãocoincidircomaespécie .'
mana,masagoraémuitodifícil,paraamaioriadenós,saberexatament~
~j
84 Nova ÚIZsob" a antropologia
. ce'Htrá-Io,na imensamontagemdasdiferençasjustapostas.Os milieuxestão
todosmixtes.Já nãosefazemmaisUmweltecomoantigamente.
Nossarespostaaessarealidadequemepareceimperiosaé,aoquetambém
meparece,umdosmaioresdesafiosmoraisqueenfrentamosatUalmente,como
umingredientedepraticamentetodososoutrosqueenfrentamos,desdeodesar-
mamentonuclearatéadistribuiçãoeqüitativadosrecursosmundiais;e,paraen-
frentá-Io,as recomendaçõesde tolerânciaindiscriminada,que de qualquer
modonãosãosinceras,e(oqueconstitUimeualvoaqui)osconselhosderendi-
çãoaosprazeresdacomparaçãoodiosa,sejaelaorgulhosa,animada,defensivaou
resignada,são-nosigualmenteinúteis,emboraestesúltimostalvezsejamosmais
perigosos,porseremosquemaistendemaserseguidos.A imagemdeummun-
dorepletodepessoastãoapaixonadamenteencantadascomaculturaumasdas
outras,queaspiremunicamenteacelebrarumasàsoutras,nãomeparececonsti-
tuirumperigoclaroeatual;aimagemdeummundorepletodepessoasqueglo-
rifiquemalegrementeseusheróisediabolizemseusinimigos,sim,infelizmente
parececonstituI-lo.Não éprecisoescolher- aliás,éprecisonãoescolher- en-
treumcosmopolitismosemconteúdoeumprovincianismosemlágrimas.Ne-
nhumdosdoistemserventiaparasevivernumacolagem.
Paravivernumacolagem,é preciso,emprimeirolugar,quea pessoase
tornecapazdediscernirseuselementos,determinandoquaissão(oqueimpli-
ca,emgeral,determinardeondevierame o queeramquandoestavamlá) e
comoserelacionamunscomosoutrosnaprática,aomesmotemposemem-
botaraidéiaqueelatemdesuapróprialocalizaçãoedesuaidentidadedentro
desta.Em termosmenosfi rados,"com reender",no sentidodacom re-
fi ensão,a erceçãoedodiscernimento recisaserdistin uidode"com reen-
~
~ er"no sentidodaconcordânciadeopiniões,dauniãodesentimentosou da
comunhãodecompromissos;há quedistinguiro je vousai comp.risqueDe
Gaulleproferiudo je vousai comprisqueospiedsnoirsouviram. Devemos
aprenderaapreendero quenãopodemosabraçar.
A dificuldadedissoéimensa,comosemprefoi.Compreenderaquiloque,
deumad~damaneiraouforma,noséestranhoetendeacontinuarasê-Io,sem
apararsuasarestascomvagosmurmúriossobrea humanidadecomum,sem
desarmá-Iocomo indiferentismodo"acadacabeçasuasentença",esemdes-
cartá-Iocomoencantador,adorávelaté,massemimportância,éumahabilida-
dequetemosdeaprenderduramentee,.depoisdehavê-Iaaprendido,sempre
demaneiramuitoimperfeita,temosdetrabalharcontinuamenteparamanter
."Eu os compreendo"; pi~dsnoin designa os argelinos. (N.T.)
Os usosda divmitituk 85
viva;nãosetratadeumacapacidadeinata,comoapercepçãodeprofundidade
ou o sensodeequilíbrio,emquepossamosconfiarplenamente.
É nissono fonalecimentodaca acidadedenossaimaginaçãoparaa re-
endero queestádiantedenós,queresidemosusos a iversi a ee o estudo
dadiversidade.Setemos(comoadmitoquetenho)maisdoqueumasimpatia
sentimentalporaqueleobstinadoíndionorre-americano,nãoéporcomparti-
lharmosasidéiasdele.O alcoolismoérealmentenocivo,ecolocaraparelhosde
hemodiáliseaserviçodesuasvítimaséfazerummauusodeles.Nossasimpatia
derivadesabermosaquepreçoeleconquistouo direitoasuasopiniõese,por-
tanto,osentimentodeamarguraqueexistenelas;derivadenossacompreensão
daestradaterrívelqueeletevedepercorrerparachegara elas,edaquilo - o et-
nocentrismo e os crimesque elelegitima - que a tornou tão terrível.Se qui-
sermossercapazesdejulgarcomlargueza,comoéóbvioquedevemosfazer,
precisamostornar-noscapazesde enxergarcomlargueza.E paraisso,o quejá
vimos- o interiordenossosvagõesferroviárioseosbrilhantesexemploshis-
tóricosdenossasnações,nossasigrejasenossosmovimentos,por-maisabsor-
ventequesejao primeiroepormaisdeslumbrantesquesejamosúltimos-
simplesmentenãobasta.

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