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art 2 a 39 codigo civil av1

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Charles 
Charles 1/4 
 
 
ARTIGO 02 
 
 
 
Art. 2o A personalidade civil(1) da pessoa começa do nascimento com vida;(2) mas a lei põe a 
salvo, desde a concepção,(3) os direitos do nascituro(4). 
 
 
1. Conceito e atributos. Personalidade civil é o conjunto de atributos que identificam e 
individualizam uma pessoa, tais como seu nome, estado e domicilio. Diferente dos 
atributos da personalidade são os direitos da personalidade (CC, arts. 11 a 21), os quais 
se referem ao conjunto de direitos que surgem para a pessoa como decorrência de sua 
simples existência, tais como honra, privacidade, imagem, liberdade etc. É a aptidão 
para ser sujeito de direitos. 
2. Início da personalidade. Maria Helena Diniz ensina que para que se possa constatar o 
nascimento com vida, emprega-se a técnica da docimasia respiratória, consistente em 
colocar o pulmão do recém-nascido em água à temperatura de 15 a 20 graus para ver 
se ele flutua, indicando a presença de ar e a consequente existência de respiração.[1] 
Em síntese, três são as principais teorias que discutem o momento exato em que 
começa a personalidade do ser humano. A Teoria Natalista que defende o início da 
personalidade com o nascimento com vida. Antes do nascimento, portanto, não há que 
se falar em personalidade, havendo apenas uma mera expectativa de personalidade. A 
Teoria Concepcionista, segundo a qual a personalidade se inicia desde a concepção do 
nascituro. E a Teoria da Personalidade Condicional, segundo a qual desde sua concepção 
o nascituro tem direitos próprios, os quais ficam sob condição suspensiva, e se 
consolidam em caso de nascimento com vida, ou se resolvem em caso de nascimento 
sem vida. Apesar da literalidade do art. 2º do Código Civil, indicar que o legislador 
adotou Teoria Natalista, diversos outros dispositivos legais partem do pressuposto de 
que o nascituro tem desde sua concepção capacidade para adquirir direitos, tais como o 
de receber doações (CC, art. 542), de ter sua paternidade reconhecida (CC, art. 1.609, 
parágrafo único) e de ter um curador (CC, art. 1.779). Tal circunstância tem sustentado 
diversas e atuais divergências doutrinárias acerca da possibilidade de reconhecimento da 
personalidade civil ao nascituro (STJ, RESP n° 1.120.676, rel. Min. Paulo de Tarso 
Sanseverino, j. 7.12.10; TJ-SP, Apel. n. 0201838-05.2011.8.26.0100, rel. Des. João 
Batista Vilhena, j. 6.11.12). 
3. Momento da concepção. Diante da expressa proteção jurídica conferida ao nascituro, 
surge o problema de precisar o momento a partir do qual se pode qualificar 
juridicamente um ser como sendo um nascituro. A questão ganha contornos ainda mais 
relevantes diante das modernas técnicas de fertilização in vitro e de congelamento de 
embriões. Por essa razão, parece prudente a posição da doutrina que considera como 
nascituro o embrião já fixado na parede do útero materno (nidação). Parece exagerada, 
Charles 
Charles 2/4 
 
 
portanto, a posição de parte da doutrina que defende a atribuição de direitos da 
personalidade ao embrião (projeto de lei n. 6.960/02), cuja natureza jurídica e questões 
éticas circundantes merecem regulação específica. Temos, pois, que nascituro é o ser já 
concebido, que ainda não nasceu encontrando-se no ventre materno. 
 
ARTIGO 04 
 
 
 
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:(1) 
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;(2) 
II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 
 
2015) (Vigência) 
 
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; 
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) 
IV – os pródigos.(5) 
 
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação 
dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) 
 
 
ARTIGO 05 
 
 
 
Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa ca habilitada à 
prática de todos os atos da vida civil.(1) (2) 
 
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
 
I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, 
independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o 
menor tiver dezesseis anos completos;(3) 
II – pelo casamento;(4) 
 
III – pelo exercício de emprego público efetivo;(5) 
 
IV – pela colação de grau em curso de ensino superior;(6) 
 
V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde 
que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.(7) (8) 
 
1. Maioridade e capacidade civil. Cessando a menoridade civil e não sobrevindo 
nenhuma das causas de incapacidade relativa ou absoluta (CC, art. 3 e 4) a pessoa 
adquire plena capacidade de fato. Em consequência, extingue-se o poder familiar 
Charles 
Charles 3/4 
 
 
(CC, art. 1.35, inc. III) ou a tutela (CC, art. 1.763, inc. I) que eventualmente exista 
sobre o menor. 
2. Alimentos. No caso dos pais, mesmo cessando o poder de família sobre o filho que 
atingiu a maioridade, não cessa o dever de prestar alimentos, que subsiste diante do 
dever recíproco de prestar alimentos entre pais e filhos que deles necessitem 
(CC, art. 1.696). Por não cessar o dever de alimento, alterando-se apenas seu 
fundamento, o STJ editou a súmula 358, que condiciona o cancelamento da pensão 
alimentícia do filho que atingiu a maioridade à decisão judicial sujeita a contraditório: “o 
cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à 
decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos” (STJ, súmula 
358). No mesmo sentido é o enunciado 344 da IV Jornada de Direito Civil: “a obrigação 
alimentar originada do poder familiar, especialmente para atender às necessidades 
educacionais, pode não cessar com a maioridade”. Por essa razão, deve o juiz manter a 
pensão alimentícia caso entenda que o filho, mesmo tendo atingido a maioridade, ainda 
não tem condições de prover o próprio sustento. 
3. Emancipação voluntária ou judicial. Antes de atingir a maioridade civil, poderá o 
maior de dezesseis tornar-se plenamente capaz por concessão dos pais (CC, art. 1.631 e 
1.690) ou por decisão judicial (CPC, art. 1.112, inc. I). Em ambos os casos, sendo a concessão 
da maioridade um ato judicial, estará ele sujeito à anulação por vício de vontade. É 
exatamente isso o que diz o enunciado 397 da V Jornada de Direito Civil: “A emancipação por 
concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita a desconstituição por vício de 
vontade”. No caso da emancipação por vontade dos pais, não é necessária homologação 
judicial, devendo apenas constar no registro civil das pessoas naturais (Lei n. 6.015/73, arts. 
29, inc. IV, 89 e 90), como condição necessária para que possa produzir seus regulares efeitos 
(Lei n. 6.015/73, art. 91 par. único). Os demais casos de emancipação, por não dependerem 
de nenhum ato judicial ou voluntário dos pais, decorrendo de meras situações objetivas 
previstas em lei são chamadas de emancipação tácita ou legal, sendo elas o casamento, o 
exercício de emprego público efetivo, a colação de grau em curso superior e o estabelecimento 
civil ou comercial que garanta ao menor economia própria 
 
ARTIGO 06 
 
 
 
Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte;(1) presume-se esta, quanto aos 
ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão de nitiva. (2) (3) 
 
 
 
 
 
1. Momento da morte. De acordo com lei n. Lei 9.434/97 regulamentada pela resoluçãon. 1.480/97 do Conselho Federal de Medicina, considera-se morto a pessoa que tenha 
uma “parada total e irreversível das funções encefálicas”. Essa mesma resolução 
n. 1.480/97 determina o procedimento médico-legal e os critérios que deverão ser 
observados para a caracterização da morte encefálica. 
Charles 
Charles 4/4 
 
 
2. Morte real ou presumida. Pode a morte ser real, ou física, quando constata na forma 
da res. 1.480/97, ou ainda presumida (CC, art. 7), nos casos de ausência por longo 
período(CC, art. 22 a 39 e CPC, arts. 1.161 a 1.168, ou ainda em casos específicos 
disciplinados e legislação especial (lei n. 9.140/95, que “reconhece como mortas pessoas 
desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades 
políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979”, com a redação 
dada pela lei n. 10.536/02). 
3. Direitos da personalidade pos mortem. Com a morte, real ou presumida, cessam 
para a pessoa seus direitos e deveres, extinguindo-se sua personalidade jurídica. 
Todavia, subsistem para o morto os direitos da personalidade, cuja tutela e proteção 
pode ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou 
colateral até o quarto grau (CC, art. 12, par. único). 
 
ARTIGO 07 
 
 
 
Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:(1) 
 
I – se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;(2) 
 
II – se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois 
anos após o término da guerra.(3) 
 
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser 
requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença xar a data 
provável do falecimento.(4) 
 
1. Declaração de morte presumida, sem prévia decretação de ausência. Como regra 
geral, a ausência funda-se no desconhecimento do paradeiro de uma pessoa que se 
presume viva. Todavia, transcorrido um longo período de tempo sem que o ausente 
retorne, é legítima a inversão dessa presunção, autorizando a conversa da ausência em 
declaração de morte presumida (CC, arts. 26 a 39). Todavia, casos há em que o 
desaparecimento de uma pessoa imponha, desde logo a presunção de que essa pessoa 
tenha morrido. Em tais casos, autoriza o legislador que se declare a morte presumida da 
pessoa independentemente da prévia decretação de ausência. É exatamente dessas 
hipóteses que cuida o art. 7º do Código Civil. 
2. Extrema probabilidade de morte. É o que ocorre nos casos em que a pessoa 
desapareceu em meio a catástrofes naturais como terremotos, enchentes, tsunamis, 
furacões, incêndios, ou ainda a acidentes, como naufrágios, queda de avião, 
desabamentos etc. Em consonância com esse dispositivo, a própria Lei de Registro 
Público autoriza os juízes a “admitir justificação para o assento de óbito de pessoas 
desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra 
Charles 
Charles 5/4 
 
 
catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for 
possível encontrar-se o cadáver para exame” (Lei n. 6.015/73, art. 88). 
3. Desaparecidos em guerra. Caso específico e bastante eloquente em que se justifica a 
presunção de que a pessoa sofria evidente perigo de vida é o da pessoa que desaparece 
em campanha militar. Em tais casos, admite o legislador que, passados dois anos do 
término da guerra sem que a pessoa seja encontrada, seja ela declarada morta. 
Segundo ensina Silvio Venosa “guerra é termo que deve ser entendido com elasticidade, 
pois deve compreender também revolução interna e movimentos semelhantes, como por 
exemplo, exercícios bélicos”.[1] No caso específico dos militares, deve-se observar o que 
dispõe o Estatuto dos Militares no que se refere à ausência, desaparecimento, extravio e 
morte (lei n. 6.880/80). 
 
ARTIGO 08 
 
 
Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se 
algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.(1) (2) 
 
 
 
 
 
1. Comoriência. Segundo ensina De Plácido e Silva, o vocábulo comoriência é “derivado 
do verbo latino commori (morrer com), é aplicado na técnica jurídica, para indicar a 
morte de duas ou mais pessoas ocorrida simultaneamente, sem que se possa, a rigor, 
determinar qual delas tenha falecido em primeiro lugar e, assim, qual a que morreu 
depois”.[1] Como é até mesmo intuitivo, mesmo ocorrendo num mesmo acidente, é 
extremamente improvável que duas pessoas tenham morrido no mesmíssimo momento. 
Por essa razão, o reconhecimento da comoriência é muito mais uma ficção jurídica do 
que verdadeira presunção, a qual se impõe sempre que for impossível saber com certeza 
a ordem em que duas ou mais pessoas, herdeiras umas das outras vierem a falecer. De 
fato, a hipótese mais comum em que se mostra necessário reconhecer a comoriência é a 
de acidentes – especialmente de automóveis – envolvendo pessoas da mesma família. 
Pode ocorrer, entretanto, que a comoriência se estabeleça entre duas pessoas que 
morreram em ocasiões diversas, bastando para tanto, que não seja possível estabelecer 
com exatidão a ordem dos óbitos. Diferentemente do que o conteúdo gramatical da 
palavra possa indicar, a comoriência exige apenas uma dúvida com relação à ordem dos 
óbitos, e não necessariamente que eles tenham ocorrido simultaneamente. 
2. Implicações da comoriência. Direito sucessório. A necessidade de estabelecer 
precisamente a ordem em que duas ou mais pessoas faleceram dá-se em razão da 
vocação sucessória. Isso porque, caso se reconheça que duas ou mais pessoas, 
herdeiras umas das outras, faleceram na mesma ocasião um não sucederá o outro. 
Charles 
Charles 6/4 
 
 
Todavia, sendo possível estabelecer a ordem cronológica dos óbitos, aquele que faleceu 
depois irá receber o quinhão por sucessão dos direitos e deveres daquele que morreu 
primeiro, transferindo esse quinhão aos seus sucessores. 
 
 
[1]– De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, 27ª, ed., Rio de Janeiro, Forense, 2007, p. 316. 
 
ARTIGO 09 
 
 
 
Art. 9o Serão registrados em registro público:(1) 
 
I – os nascimentos, casamentos e óbitos;(2)(3)(4) 
 
II – a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;(5) 
 
III – a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;(6) 
 
IV – a sentença declaratória de ausência e de morte presumida. 
 
 
ARTIGO 10 
 
 
 
Art. 10. Far-se-á averbação em registro público:(1) 
 
I – das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a 
separação judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal;(2) 
II – dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a liação;(3) 
 
III – (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)(4) 
 
 
 
ARTIGO 11 
 
 
 
1. CAPITULO II 
 
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 
 
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade(1) são 
intransmissíveis e irrenunciáveis,(2) não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. 
(3) (4) (5) 
 
 
1. Direitos da personalidade. Direitos da personalidade são os direitos subjetivos da 
pessoa de defender o que lhe confere a natureza humana, tais como a vida, a 
integridade física, a honra, a imagem, a privacidade. Há que se entender ainda que os 
direitos da personalidade não são passíveis de uma descrição exauriente, perfeita e 
Charles 
Charles 7/4 
 
 
acabada. Como bem pontua Venosa “não há que se entender que nossa lei, ou qualquer 
outra lei comparada, apresente um número fechado para descrever todos os direitos da 
personalidade. Teráessa natureza todo o direito subjetivo pessoal que apresentar as 
características semelhantes, ainda que não descritos perfeitamente na lei”.[1] É isso 
também o que diz o Enunciado 274 da IV Jornada de Direito Civil: “os direitos da 
personalidade, regulados de maneira não exaustiva pelo Código Civil, são expressões da 
cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição 
(princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como 
nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação”. Inspirada 
nas lições de Goffredo Telles Júnior, Maria Helena Diniz diz que “o direito da 
personalidade é o direito da pessoa de defender o que lhe é próprio, como a vida, a 
identidade, a liberdade, a imagem, a privacidade, a honra etc. é o direito subjetivo, 
convém repetir, de exigir um comportamento negativo de todos, protegendo um bem 
próprio, valendo-se uma ação judicial”.[2] É conhecida ainda a classificação dos direitos 
da personalidade atribuída à Limongi França. O autor classificou os direitos da 
personalidade em direitos à (a) integridade física, dentre os quais se situam o direito à 
vida, aos alimentos, ao próprio corpo, vivo ou morto, e às suas partes separadas, (b) 
integridade intelectual, aí estando compreendidos os direitos à liberdade de pensamento 
e de expressão, e os direitos morais do autor e do inventor e à (c) integridade moral 
entre eles à liberdade civil, política e religiosa, a imagem, honra privacidade, sigilo, 
identidade. 
2. Atributos dos direitos da personalidade. Apesar de a lei referir-se apenas aos 
atributos da intransmissibilidade e da irrenunciabilidade, doutrina e jurisprudência têm 
reconhecido de modo quase unânime que os direitos da personalidade reúnem ainda 
outros atributos. Além de intransmissíveis e irrenunciáveis, os direitos da personalidade 
são ainda absolutos, indisponíveis, imprescritíveis, inatos, ilimitados, impenhoráveis, 
inalienáveis e inexpropriáveis. 
 
3. Limitações legais ao direito da personalidade. Diante da garantia constitucional da 
dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º), não é toda e qualquer previsão legal que 
pode limitar os direitos da personalidade. É necessário que essa limitação encontre 
amparo em algum princípio e interesse igualmente preservado sob pena de flagrante 
inconstitucionalidade. Atendendo a tais premissas pode a lei trazer alguma limitação ou 
mesmo relativizar alguns direitos da personalidade. É o que ocorre com a lei 9.434/97 
que, igualmente amparada no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, 
autoriza a pessoa a dispor gratuitamente de órgãos e tecidos para fins de transplante e 
tratamento. O mesmo ocorre com a liberdade de expressão e de opinião, 
constantemente contrastada com outros direitos da personalidade de terceiros. Nesse 
sentido: “a liberdade de expressão, compreendendo a informação, opinião e crítica 
Charles 
Charles 8/4 
 
 
jornalística, por não ser absoluta, encontra algumas limitações ao seu exercício, 
compatíveis com o regime democrático, quais sejam: (I) o compromisso ético com a 
informação verossímil; (II) a preservação dos chamados direitos da personalidade, entre 
os quais incluem-se os direitos à honra, à imagem, à privacidade e à intimidade; e (III) 
a vedação de veiculação de crítica jornalística com intuito de difamar, injuriar ou caluniar 
a pessoa (animus injuriandi vel diffamandi)” (STJ, REsp n. 801.109-DF, rel. Min. Raul 
Araújo, j. 12.6.12). 
4. Limitações voluntárias ao direito da personalidade. Em alguns casos, apesar da 
literalidade do dispositivo em comento, mesmo a limitação voluntária dos direitos da 
personalidade tem sido admitida por parte da doutrina e jurisprudência. Diz o Enunciado 
4 da I Jornada de Direito Civil que “o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer 
limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral”. Por sua vez, o 
Enunciado 139 da III Jornada de Direito Civil diz que: “os direitos da personalidade 
podem sofrer limitação, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo 
ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos 
bons costumes”. 
 
5. Desdobramentos patrimoniais dos direitos da personalidade. Não se pode 
confundir limitação, renúncia ou mesmo transmissão dos direitos da personalidade com 
a fruição econômica perfeitamente compatível com alguns desses direitos. Apesar dos 
atributos dos direitos da personalidade negar-lhes qualquer natureza disponível e 
econômica, em momento algum o legislador proibiu a fruição econômica dos 
desdobramentos desses direitos. É o que ocorre, por exemplo, com o uso comercial da 
imagem de pessoas famosas, com a exploração artística e comercial do corpo e da 
intimidade das pessoas, dos direitos autorais e tantos outros. Em tais casos, ainda que 
tangenciando ou mesmo impactando os direitos da personalidade a situação é 
meramente econômica e patrimonial e assim deve ser encarada pelo direito. Seria 
inadmissível, por exemplo, que o respectivo pagamento pelo uso da imagem de uma 
pessoa famosa na propaganda de um produto pudesse ser cobrado indefinidamente, 
ficando imune aos efeitos da prescrição sob a justificativa de que a imagem da pessoa é 
um direito da personalidade. Além dessas situações contratuais, pode ocorrer ainda que 
a violação a um direito da personalidade tenha desdobramentos patrimoniais. Basta 
pensar no dano moral decorrente da violação à imagem, à boa fama ou à honra de uma 
pessoa. Em tais casos, a indenização pecuniária a que fará jus a vítima tem natureza 
patrimonial ficando igualmente sujeita à prescrição, pode ser objeto de transação, 
compensação, cessão, renúncia etc. O mesmo ocorre com o não pagamento tempestivo 
da verba alimentícia. A verba alimentícia apenas conserva essa natureza enquanto 
indispensável à satisfação das necessidades básicas da pessoa, circunstância que a torna 
irrenunciável e indisponível sob todos os aspectos. Todavia, entende-se 
Charles 
Charles 9/4 
 
 
majoritariamente que a verba alimentar acumulada por período superior a três meses, 
perde essa natureza alimentar, passando a ter natureza puramente creditícia (STJ, 
súmula 309). 
 
 
ARTIGO 12 
 
 
 
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade,(1) e 
reclamar perdas e danos,(2) sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.(3) 
 
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista 
neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o 
quarto grau.(4) 
 
 
1. Tutela dos direitos da personalidade. Sem prejuízo de obter a respectiva reparação, 
pecuniária ou específica, advinda de uma violação a um direito da personalidade, o 
legislador assegura ao ofendido a possibilidade de requerer toda e qualquer medida 
necessária a fazer cessar a ameaça ou a lesão a direito da personalidade. Elucidando a 
forma com que tal possibilidade deve ser exercida, o Enunciado 140 da III Jornada de 
Direito Civil afirma que “a primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se às técnicas 
de tutela específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 461 do Código de Processo 
Civil, devendo ser interpretada com resultado extensivo”. Na justificativa apresentada 
para a redação do enunciado, seu autor Erik Frederico Gramstrup afirma que “para que 
seu devido alcance seja estabelecido, a leitura deve ir além da mera literalidade e, onde 
se fala em ordem de cessação, deve-se compreender a possibilidade de o juiz ordenar 
todas as medidas exemplificadas no art. 461, CPC, e seus parágrafos, isto é, obrigações 
de fazer enão fazer, com ameaça de sanção pecuniária, bem como providências de 
alteração material das circunstâncias que envolvem as partes. Essa hermenêutica 
ampliativa tem apoio na releitura constitucional do Direito Privado, que deve servir de 
amparo à proteção da dignidade da pessoa humana. Assim, lesado ou ameaçado o 
direito da personalidade, pode o juiz não apenas ordenar ao agente que deixe de agir 
(ou que aja), sob pena de multa, como também determinar, diretamente, a modificação 
do estado de coisas exterior ao processo, para que a lesão não venha a se exaurir, e, 
tanto quanto possível, seja revertida in natura”. 
2. Reparação pecuniária e específica por violação aos direitos da personalidade. 
 
Além do natural e intuitivo direito que a vítima tem de pedir que o agressor cesse a 
ameaça ou a lesão a um direito da personalidade, caso o dano não tenha sido evitado, 
vindo a efetivamente ocorrer, terá o lesado direito à sua reparação. Essa reparação 
poderá ser pecuniária, traduzindo-se numa soma em dinheiro, cujo escopo é compensar 
Charles 
Charles 10/
4 
 
 
a vítima pelo dano sofrido e, sempre que possível, específica, visando a reconduzir 
vítima a condição em que se encontrava antes do dano. Um bom exemplo dessa 
reparação específica de um dano a direito da personalidade é o direito de resposta, 
entendido como o direito que uma pessoa tem de se defender de críticas e ofensas 
públicas no mesmo veículo de mídia em que elas foram publicadas (CF, art. 5, inc. V). 
3. Sanção por violação aos direitos da personalidade. Da mesma forma como ocorre 
com praticamente todos os direitos, a violação aos direitos da personalidade pode trazer 
consequências de âmbito civil, penal e administrativo, cuja incidência são relativamente 
independentes e autônomas. Por essa razão, a tutela dos direitos da personalidade não 
fica restrita à reparação de âmbito civil, podendo gerar consequências penais e 
administrativas. 
 
4. Legitimados. Tendo em vista que diversos direitos da personalidade não se extinguem 
com a morte da pessoa, é natural que se confira legitimação para que outras pessoas 
possam proteger tais direitos após o falecimento de seu titular. É exatamente isso o que 
fez o parágrafo único do art. 12 do Código Civil, conferindo ao cônjuge sobrevivente, ou 
qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau a legitimação para tutelar 
os direitos da personalidade da pessoa falecida. Apesar da omissão desse parágrafo, se 
aceita ainda que o companheiro também tenha essa legitimação. É isso o que diz o 
Enunciado 275 da IV Jornada de Direito Civil: “o rol dos legitimados de que tratam os 
arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do Código Civil também compreende o 
companheiro”. Nestas situações mesmo que tenha o dano recaído sobre o falecido, a 
legitimidade será ordinária, posto que o cônjuge, companheiro ou parente próximo 
defende direito próprio. Neste sentido dispõe o Enunciado 400 da V Jornada de Direito 
Civil que “os parágrafos únicos dos arts. 12 e 20 asseguram legitimidade, por direito 
próprio, aos parentes, cônjuge ou companheiro para a tutela contra lesão perpetrada 
post mortem”. Há pois, um dano próprio do marido que vê a honra da esposa violada, 
sendo ele o titular da respectiva indenização pecuniária por dano moral. 
 
 
ARTIGO 13 
 
 
 
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando 
importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.(1) 
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para ns de transplante, na forma 
estabelecida em lei especial.(2) 
 
 
 
 
 
Charles 
Charles 11/
4 
 
 
1. Disposição do corpo por exigência médica. Toda pessoa tem direito a dispor do 
próprio corpo, desde que essa disposição não resulte em diminuição permanente da 
integridade física ou contrarie os bons costumes. Amputações e extrações de órgãos ou 
tecidos, bem como qualquer deformação permanente do próprio corpo ficam vedadas 
por este dispositivo, sujeitando médicos ou terceiros que auxiliem a pessoa em tais atos 
à responsabilidade civil ou mesmo penal. Exceção a essa vedação reside na diminuição 
permanente da integridade física feita por exigência médica, como ocorrem em casos de 
amputações por gangrena de extremidades, ou para retirada de órgãos e tecidos 
cancerígenos. Por exigência médica, entende-se não só a busca do bem estar físico, mas 
também a busca do bem-estar psicológico. Tal ideia foi consolidada pelo Enunciado 6 da 
I Jornada de Direito Civil: “a expressão “exigência médica” contida no art. 13 refere-se 
tanto ao bem-estar físico quanto ao bem-estar psíquico do disponente”. Amparado em 
tal conceito, o Enunciado 276 da IV Jornada de Direito Civil explicitou que “o art. 13 do 
Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as 
cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos 
pelo Conselho Federal de Medicina, e a conseqüente alteração do prenome e do sexo no 
Registro Civil”. Atualmente, a questão não suscita mais controvérsia como ocorria no 
passado, sendo possível a realização do Processo Transexualizador pelo próprio Sistema 
Único de Saúde – SUS (Portaria 457, de 19 de agosto de 2008). Ressalta-se, todavia, 
que as cirurgias de transgenitalização apenas serão permitidas com amparo nessa 
exceção quando haja comprovada existência de transtorno psicológico que recomende a 
cirurgia. Fora dessa hipótese, a mudança imotivada de sexo tem sido entendida como 
alteração permanente da integridade física que ofende os bons costumes (TJ-MG, proc. 
n. 1.0672.04.150614-4/001, rel. Des. Almeida Melo, j. 15.05.05). 
 
 
2. Transplante de órgãos e tecidos. Atualmente, o transplante de órgãos e tecidos é 
regulamentado pela lei n. 9.434/97. 
 
 
ARTIGO 14 
 
 
 
Art. 14. É válida, com objetivo cientí co, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio 
corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.(1) (2) 
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.(3) 
 
 
1. Disposição do corpo para fins científicos ou altruísticos. Naturalmente a disposição 
total do corpo apenas pode se dar para depois da morte. Por outro lado, admite-se a 
disposição gratuita de parte do próprio corpo para fins altruísticos (transplantes) ou 
científicos. A disposição de parte do corpo em vida para fins científicos ou de transplante 
Charles 
Charles 12/
4 
 
 
é um negócio jurídico necessariamente gratuito que depende da uma manifestação de 
vontade livre e esclarecida do doador. Ou seja, é necessário que ao doador seja 
explicitada em linguagem simples, leiga e compreensível a natureza, o procedimento, 
bem como todas as consequências e riscos da intervenção a ser realizada. 
 
 
2. Pesquisa científica envolvendo seres humanos. o primeiro e talvez o historicamente 
mais importante documento que tratou da pesquisa em seres humanos foi o Código de 
Nuremberg, composto por dez enunciados que traçavam diretrizes gerais para a 
realização de pesquisas em serem humanos e que, ainda que não o fizesse 
expressamente, consagrou os atuais princípios básicos da bioética. Posteriormente, o 
Código de Nuremberg foi substituído pela Declaração de Helsink, promulgada em 1962 e 
já atualizada três vezes, em Tóquio (1975), Veneza (1983) e em Hong‑Kong (1989). No 
Brasil, dois são os artigos da Constituição Federal que tratam das pesquisas biomédicas. 
 
O primeiro deles é o artigo 199, § 4º da Constituição Federal, ao dizer que: “a lei disporá 
sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos tecidos e 
substânciashumanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a 
coleta processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo 
de comercialização”. O segundo é o artigo 225, § 1º, inc. II, o qual afirma que: 
“[incumbe ao Poder Público] preservar a diversidade e a integridade do patrimônio 
genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de 
material genético”. Tais artigos, como se vê partem do fundamental direito de liberdade 
da expressão científica, consagrado pela Constituição Federal (art. 5º, inc. IX). 
Atualmente, a resolução n. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde define pesquisa em 
seres humanos como “todo procedimento de qualquer natureza envolvendo o ser 
humano, cuja aceitação não esteja ainda consagrada na literatura científica (…) os 
procedimentos referidos incluem entre outros, os de natureza instrumental, ambiental, 
nutricional, educacional, sociológica, econômica, física, psíquica ou biológica, sejam eles 
farmacológicos, clínicos ou cirúrgicos e de finalidade preventiva, diagnóstica ou 
terapêutica” (Res. CNS, n. 196/96, Aspectos Éticos da Pesquisa Envolvendo Seres 
Humanos, inc. III, n. 2). Como se vê, ao afirmar que todo procedimento de qualquer 
natureza caracteriza pesquisa em seres humanos, o Conselho Nacional de Saúde 
propositalmente atribuiu um conceito extremamente amplo para a expressão pesquisa 
em seres humanos. Fica albergada no conceito de pesquisa científica em seres humanos, 
portanto, não só a experimentação científica em seu sentido clássico, mas também a 
intervenção médica curativa que emprega técnica, medicamento ou qualquer outro 
procedimento cuja eficácia ainda não tenha sido consagrada na literatura científica. 
Naturalmente, ao lado do respeito à vida e à dignidade da pessoa humana, os quatro 
grandes princípios da bioética (autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça), 
Charles 
Charles 13/
4 
 
 
formam as linhas mestras que devem nortear todo procedimento biomédico, em especial 
a potencialmente lesiva pesquisa em serem humanos. Tais princípios, além de auto- 
aplicáveis, servem ainda de suporte para diversas outras regras mais especificas no 
campo da pesquisa médica em seres humanos. Assim, por exemplo, ocorre com a regra 
que explicita a necessidade de obter o consentimento esclarecido do paciente que se 
sujeita a uma pesquisa médica (Código de Ética Médica, art. 123 e Res. CNS n. 196/96 
(III.3, letra g),[1]–[2] a qual tem apóio no princípio da autonomia. Ainda apoiada no 
princípio da autonomia, a Res. n 196/96 dispõe ainda que a pesquisa em ser humano 
deve “ser desenvolvida preferencialmente em indivíduos com autonomia plena. 
Indivíduos ou grupos vulneráveis não devem ser sujeitos de pesquisa quando a 
informação desejada possa ser obtida através de sujeitos com plena autonomia, a 
menos que a investigação possa trazer benefícios diretos aos vulneráveis. Nestes casos, 
o direito dos indivíduos ou grupos que queiram participar da pesquisa deve ser 
assegurado, desde que seja garantida a proteção à sua vulnerabilidade e incapacidade 
legalmente definida” (Res. CNS n. 196/96 (III.3, letra j), devendo, “assegurar aos 
sujeitos da pesquisa as condições de acompanhamento, tratamento ou de orientação, 
conforme o caso, nas pesquisas de rastreamento; demonstrar a preponderância de 
benefícios sobre riscos e custos” (Res. CNS n. 196/96, III.3, letra q). Além disso, a 
pesquisa médica deve previamente estar apoiada num juízo de ponderação entre os 
riscos e os benefícios (ou seja, em atenção aos princípios da beneficência e da não- 
maleficência) para o participante, a comunidade e o avanço técnico-científico. Exceção a 
essa regra de ponderação é a da pesquisa médica inserida numa atividade curativa, a 
qual exige que a pesquisa seja dirigida exclusivamente ao bem do paciente (CEM, art. 
129 e 130). Por fim, destrinchando e efetivando o princípio da justiça, toda pesquisa 
biomédica em ser humano deve proporcionar aos sujeitos que dela participem os 
proveitos que dela resultem, indenização por eventuais danos e garantia de máximo 
esforço e diligência para evitar que tais danos ocorram. Todas essas preocupações 
mostram-se evidentes nas demais normas dispostas na Res. CNS n. 196/96). Além de 
tais regras abstratas e aplicáveis a toda pesquisa realizada em ser humano, diversos 
outros limites podem ser encontrados em áreas específicas da pesquisa biomédica, como 
a pesquisa que envolva engenharia genética (lei. n. 11.105/05) e transplante de órgãos 
(lei n. 9.434/97, regulamentada pelo decreto n. 2.268/97), e disciplinam a utilização de 
medicamentos experimentais (lei n. 6.360/76). 
3. Possibilidade de revogação do ato de disposição. A perfeita compreensão da 
possibilidade de revogação do ato de disposição do próprio corpo naturalmente significa 
que tal revogação não poderá trazer qualquer responsabilização para o doador por 
eventuais custos já incorridos em função da expectativa desse ato de disposição. 
Entender o contrário, responsabilizando o doador arrependido caracterizaria uma 
indevida limitação a esse direito de arrependimento. Todavia, não podem os familiares 
Charles 
Charles 14/
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revogar o ato de disposição feito em vida pelo próprio doador. Havendo divergência 
entre a vontade do doador e de sua família para os fins desse artigo, deve prevalecer a 
vontade do doador. Neste sentido é o Enunciado 277 da IV Jornada de Direito Civil “o 
art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da disposição gratuita do próprio corpo, 
com objetivo científico ou altruístico, para depois da morte, determinou que a 
manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a vontade dos 
familiares, portanto, a aplicação do art. 4º da Lei n. 9.434/97 ficou restrita à hipótese de 
silêncio do potencial doador”. 
 
 
ARTIGO 15 
 
 
 
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento 
médico ou a intervenção cirúrgica.(1) (2) 
 
 
1. Regras e princípios que balizam a intervenção médica. Atualmente, costuma-se 
sistematizar as regras que balizam o tratamento médico e a intervenção cirúrgica em 
torno de alguns princípios básicos. O princípio da autonomia, que segundo o Relatório 
Belmont incorpora, ao menos, dois predicados éticos: “primeiro, que os indivíduos 
deveriam ser tratados como entes autônomos, e segundo, que as pessoas cuja 
autonomia está diminuída devem ser objeto de proteção”. Tal princípio consagra o 
domínio que o paciente tem sobre o próprio corpo e sobre a própria vida. Rompendo 
com o método hipocrático de intervenção médica, o princípio da autonomia consagra a 
inviolabilidade do corpo e da pessoa humana, fazendo com que nenhuma intervenção 
médica possa ser feita sem o consentimento do paciente. O princípio da beneficência 
requer que o atendimento ao paciente seja sempre voltado aos interesses e ao bem 
estar do próprio paciente. Tal princípio traz ainda como baliza para a pesquisa em seres 
humanos o imperativo de que os riscos corridos pelo paciente não devem exceder a 
importância humanitária da experiência. O princípio da não-maleficência que pode ser 
considerado um desdobramento do princípio da beneficência, costuma ser tratado com 
autonomia, visto que o dever de não causar um dano intencional ao paciente é, segundo 
o Relatório Belmont, “mais obrigatório e imperativo que o da beneficência”. Trata-se de 
uma das mais antigas obrigações médicas, traduzidas no princípio primum non nocere e, 
abarca, além do dever de não produzir dano atual, também o de prevenir eventuais 
danos futuros. O princípio da não-maleficência, reconhecidamente amplo e abstrato, é a 
base de diversos outros princípios,ou “regras menores de efetividade”, tais como o 
princípio do duplo efeito, da totalidade, do mal menor e dos meios ordinários e 
extraordinários. Segundo o princípio do duplo efeito, para aquelas circunstâncias em que 
Charles 
Charles 15/
4 
 
 
o ato médico tenha duas ou mais conseqüências (uma positiva e outra negativa), esse 
efeito danoso indireto que decorre do ato médico é legítimo, ou melhor, aceitável. Isso 
porque, o que o princípio da não-maleficência visa a afastar é o dano intencionalmente 
provocado e que não tenha relação com o processo curativo ministrado ao paciente. Em 
outras palavras, o dano é tolerado, mas não procurado. À luz desse princípio, por 
exemplo, será lícita a ablação do útero canceroso de uma grávida de um feto ainda não 
viável, pois o que se pretende é a vida da mãe, tolerando-se a morte do feto que resulta 
inevitavelmente da ablação do útero. O princípio de totalidade surge do confronto entre 
a parte e o todo e da maior plenitude de significado que o todo possui com relação à 
parte. Numa situação de conflito é necessário preferir o todo. Exemplo clássico de 
aplicação deste princípio são os tratamentos médicos que implicam em amputações de 
membros, em que a vida do paciente (todo), prevalece sobre o membro amputado 
(parte). O princípio do mal menor deverá nortear os casos de intervenção médica em 
que todos os efeitos da conduta inevitavelmente serão negativos. Tendo em vista que, 
mesmo em situações extremas o médico não pode deixar de agir, e que sabendo que ao 
agir causará um dano, o médico deve escolher a conduta que causará o menor mal ao 
paciente. O princípio da justiça impõe que o profissional da saúde haja com 
imparcialidade e sem discriminação ao distribuir os riscos, os benefícios e os encargos do 
tratamento médico e das demais formas de prestação de serviços médicos. 
2. Possibilidade de constranger o paciente a submeter-se a tratamento médico ou 
a intervenção cirúrgica. Em regra, não é necessário que o procedimento possa trazer 
risco de vida ao paciente para que ele possa se recusar a se submeter a ele. Como 
manifestação do princípio da autonomia sobre o próprio corpo, por qualquer razão que 
seja, pode o paciente se recusar a tratamento médico. Ilustra essa situação as crenças 
religiosas contrárias à transfusão de sangue ou a transplante de órgãos, sendo vedado 
ao médico impor tais tratamentos a quem seja religiosamente contrário a eles. É a essa 
conclusão que chegou a V Jornada de Direito Civil ao editar o Enunciado 403: “o Direito 
à inviolabilidade de consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI, da Constituição 
Federal, aplica-se também à pessoa que se nega a tratamento médico, inclusive 
transfusão de sangue, com ou sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta 
dele, desde que observados os seguintes critérios: a) capacidade civil plena, excluído o 
suprimento pelo representante ou assistente; b) manifestação de vontade livre, 
consciente e informada; e c) oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa 
do declarante”. Todavia, admite-se a internação compulsória por transtorno mental (lei 
n. 10.216/01), bem como a internação compulsória em casos de doenças contagiosas, 
diante da obrigação do Estado em afastar todos os riscos à Saúde Pública. 
 
 
 
ARTIGO 16 
Charles 
Charles 16/
4 
 
 
 
 
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.(1) 
(2) 
 
 
 
1. Nome da pessoa natural. Nome é o sinal distintivo dado à pessoa natural que a 
identifica e individualiza na família e na sociedade. É, por essa razão, ao mesmo tempo 
um direito e um atributo da personalidade. O nome da pessoa natural é composto por 
dois elementos o prenome, escolhido livremente desde que não exponha a pessoa ao 
ridículo e o sobrenome (ou patronímico), que indica a procedência da pessoa, sua 
filiação, a família a qual ela pertence. Consagrando o princípio de que a família é 
formada não só por laços biológicos, mas também por laços sócio afetivos, além do 
sobrenome do pai e da mãe biológicos, pode ainda o adotado adquirir o sobrenome da 
família adotiva (lei n. 8.069/90, art. 47, § 5º) e enteado, havendo motivo ponderável, 
adquirir o sobrenome da madrasta ou padrasto (lei. 6.015/73, art. 57, 8º). 
2. Modificação do nome. Como regra geral, o registro do nome e do prenome da pessoa 
natural é definitivo, podendo sofrer modificações posteriores apenas em casos 
excepcionais, por sentença judicial desde que ouvido o Ministério Público (lei 6.015/73, 
art. 57). Todavia, a jurisprudência tem reconhecido como situações excepcionais aptas a 
justificar a alteração do nome, a situação em que o nome exponha a pessoa ao ridículo 
(TJ-SP, Apel. n. 3004702-94.2008.8.26.0506, rel. Des. Viviani Nicolau , j. 27.11.12), a 
correção de erros de grafia com vistas à obtenção de cidadania estrangeira (TJ-SP, Apel. 
n. 9179380-15.2009.8.26.0000, rel. Des. Neves Amorim, j. 14.8.12) e modificações do 
gênero do nome de quem passa por cirurgia de transexualização (TJ-SP, Apel n. 
0627715-81.2008.8.26.0100, rel. Des. Salles Rossi, j. 23.5.12). 
 
 
 
 
ARTIGO 17 
 
 
 
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou 
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção 
difamatória.(1) 
 
 
 
 
 
1. Proteção da honra objetiva. O dispositivo trata do direito que tem a pessoa de 
proteger seu bom nome perante a sociedade. Sendo o nome um dos aspectos que 
identificam a pessoa na família e na sociedade, nada mais natural que a pessoa tenha o 
interesse e do direito de construir um bom nome, uma boa reputação no ambiente em 
que vive. Por essa razão, terceiros que por meio de publicações ou representação 
Charles 
Charles 17/
4 
 
 
atentem contra esse bom nome devem responder pelo dano causado ainda que não haja 
intenção difamatória. Em caso de violação, “são civilmente responsáveis pelo 
ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito 
quanto o proprietário do veículo de divulgação” (STJ, Súmula, 221). 
 
 
ARTIGO 18 
 
 
 
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.(1) 
 
 
 
 
 
1. Aspectos patrimoniais do nome e da imagem da pessoa. Atualmente o conteúdo do 
direito à imagem e ao nome é entendido sob um duplo aspecto, marcado pela união de 
um elemento objetivo, referente à sua utilização econômica (right of publicity) e de um 
elemento subjetivo, referente aos aspectos do nome e da imagem como direitos da 
personalidade de um indivíduo (right of privacy). Carlos Alberto Bittar esclarece que “a 
doutrina é tranqüila a respeito, tanto no exterior, como em nosso país, pois a proteção 
que se confere à imagem e ao nome preserva à pessoa, simultaneamente, a defesa de 
componentes essenciais de sua personalidade, e, de outro, o respectivo patrimônio, pelo 
valor econômico que representa” (ver nota 4 ao art. 11).[1] Explicando esse natural 
interesse comercial que recai sobre o nome de pessoas notórias, o autor explica que: 
“de fato, o relacionamento de pessoas a produtos e a empresas, na divulgação pelos 
diferentes veículos de comunicação, de sua existência e de sua atuação, conferiu 
destaque próprio aos direitos à imagem e ao nome, permitindo-se-lhes, em razão de sua 
disponibilizadade jurídica, a atribuição de valor econômico expressivo e progressivo, na 
exata medida da posição de evidência do retrato e do espectro da campanha publicitária. 
O fenômeno ganha vulto em nossos tempos, em que a vinculação publicitária de pessoas 
bem sucedidas em suas atividades representa estímulo ao consumo, mediantea atração 
que exercem junto ao público: assim acontece com os grandes estadistas, políticos, 
artistas, escritores, esportistas. Explora-se, nesse passo, a ânsia do espectador em 
identificar-se com os seus ídolos, com os seus hábitos, os seus gostos as suas 
preferências, levando-o, pois, ao consumo do produto anunciado, direta ou 
indiretamente, conforme o caso”.[2] Assim é que, sob o aspecto patrimonial, a proteção 
que o direito confere à imagem e ao nome de uma pessoa obedece às mesmas diretivas 
daquela que é conferida ordinariamente a um bem in comercio. Ou seja, seu valor 
patrimonial não pode ser explorado sem a autorização de seu titular e toda subtração 
ilegítima de seu valor de mercado deve ser reparada. Daí o artigo o artigo 18 do Código 
Civil explicitamente exigir a autorização da pessoa para que possa usar seu nome em 
propaganda comercial. 
Charles 
Charles 18/
4 
 
 
 
 
 
ARTIGO 19 
 
 
 
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.(1) 
 
 
 
 
 
1. Proteção ao pseudônimo. “Pseudônimo, de origem grega, pseudônimos, de pseudes 
(falso) e onoma (nome), entende-se a denominação ou o nome falso ou suposto, 
escolhido ou adotado por uma pessoa, para ocultar sua verdadeira identidade ou seu 
verdadeiro nome, no exercício de qualquer atividade”.[1] É normalmente utilizado no 
meio artístico e literário (lei n. 9.610/98), recebendo, dada sua importância no meio em 
que é utilizado, a mesma proteção que se confere ao nome, tanto em seus vertente 
patrimonial quanto sob a ótica dos direitos da personalidade. 
 
 
ARTIGO 20 
 
 
 
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção 
da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a 
exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu 
requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa 
fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a ns comerciais.(1) (2) (3) (4) (5) 
 
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer 
essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.(6) 
 
 
1. Imagem-retrato e imagem-atributo. De acordo com Maria Helena Diniz, “a imagem- 
retrato é a representação física da pessoa, como um todo, ou em parte separadas do 
corpo (nariz, olhos, sorriso etc.) desde que identificáveis, implicando o reconhecimento 
de seu titular, por meio de fotografia, escultura desenho, pintura, interpretação 
dramática, cinematografia, televisão, sites etc., que requer autorização do retratado (CF, 
art. 5º, X). A imagem atributo é o conjunto de caracteres ou qualidades cultivados pela 
pessoa, reconhecidos socialmente (CF, art. 5º, V), como habilidades, competência, 
lealdade, pontualidade etc. a imagem abrange também a reprodução, romanceada em 
livro, filme ou novela, da vida de pessoa de notoriedade”.[1] Sob essas diferentes 
vertentes é que deve ser analisada a proteção conferida pelo direito à imagem da 
pessoa. Tem a pessoa o inequívoco direito de defender a forma como ela é vista na 
sociedade (imagem-atributo), insurgindo-se contra toda e qualquer divulgação não 
Charles 
Charles 19/
4 
 
 
autorizada que prejudique ou atente contra essa sua boa-fama, proibindo sua divulgação 
e exigindo a respectiva reparação. Em tais situações, para que se configure a violação da 
imagem da pessoa da pessoa, nos termos do próprio artigo 20, é necessário que a 
divulgação não autorizada da imagem atinja “a honra, a boa fama ou a respeitabilidade” 
da pessoa. Além disso, tem a pessoa o direito de opor-se à mercantilização não 
autorizada de sua imagem, pelo simples fato de que a pessoa pode não querer ser 
associada a qualquer marca ou produto ou porque, sem ter autorizado o uso da imagem, 
foi ainda privada da respectiva remuneração caso esse uso tivesse sido autorizado. 
Nesse outro viés da proteção a imagem da pessoa, o Superior Tribunal de Justiça tem 
reconhecido que a simples exibição da imagem não autorizada dá ensejo à reparação, 
independentemente da existência de prova de prejuízo (STJ, Súmula 403). Atualmente, 
entretanto, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça parece delinear uma 
tendência de aproximar essas duas e diferentes situações, afirmando que “a ofensa ao 
direito à imagem materializa-se com a mera utilização da imagem sem autorização, 
ainda que não tenha caráter vexatório ou que não viole a honra ou a intimidade da 
pessoa, e desde que o conteúdo exibido seja capaz de individualizar o ofendido” (STJ, 
Resp. n. 794.586-RJ, rel. Min. Raul Araújo, j. 15.3.12). 
 
 
2. Pessoa retratada em situações públicas. Em tal hipótese, entende-se que não é 
necessária uma expressa e formal autorização para a utilização da imagem da pessoa. 
Acertadamente, entende-se que a pessoa que conscientemente se expõe, abrindo mão 
de sua privacidade não pode opor-se à utilização de sua imagem. Há, em tais, casos, 
uma legítima presunção de que a autorização foi tacitamente conferida pela pessoa. 
Nesse sentido: “não se pode cometer o delírio de, em nome do direito de privacidade, 
estabelecer-se uma redoma protetora em torno de uma pessoa para torná-la imune de 
qualquer veiculação atinente a sua imagem. Se a demandante expõe sua imagem em 
cenário público, não é ilícita ou indevida sua reprodução pela imprensa, uma vez que a 
proteção à privacidade encontra limite na própria exposição realizada” (STJ, REsp. n. 
595.600-SC, rel. Min. Cesar Asfor Rocha, j. 18.3.04); “danos morais – Direito de 
imagem- Participação em concurso de trajes sumários, evento aberto ao público em um 
clube, com convite aos órgãos de imprensa – Modelo que voluntariamente posa para os 
fotógrafos presentes de seios nus – Contexto das fotografias que demonstra desejo 
explícito de exibir-se às lentes dos fotógrafos – Consentimento tácito à publicação da 
fotografia em jornal popular, em matéria sobre o evento, dois dias após” (TJ-SP, Apel. n. 
9174602-75.2004.8.26.0000, Rel. Des. Francisco Loureiro, j. 12.4.07). 
 
3. Pessoa retratada num contexto genérico ou em meio a uma multidão. A 
razoabilidade de tal premissa serve para evitar que fotos e filmagens feitas em grandes 
eventos ou em espaços públicos, dependam da autorização das dezenas ou centenas de 
Charles 
Charles 20/
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pessoas que invariavelmente têm sua imagem captada em tais situações. Em tais casos, 
desde que a pessoa não seja o foco do cenário retratado, mas apenas parte dele, não é 
necessária a obtenção de autorização. Todavia, caso o contexto retratado seja 
desabonador, denegrindo a imagem de pessoa retratada em situação vexatória, caberá 
reparação pelo uso indevido da imagem. Nesse sentido: “tratando-se de imagem de 
multidão, de pessoa famosa ou ocupante de cargo público, deve ser ponderado se, 
dadas as circunstâncias, a exposição da imagem é ofensiva à privacidade ou à 
intimidade do retratado, o que poderia ensejar algum dano patrimonial ou 
extrapatrimonial. Há, nessas hipóteses, em regra, presunção de consentimento do uso 
da imagem, desde que preservada a vida privada” (STJ, Resp. n. 801.109-DF, rel. Min. 
Raul Araújo j. 16.6.12). 
 
 
4. Pessoa retratada em contexto jornalístico. Como todo direito, a proteção da 
imagem da pessoa não é absoluta, devendo sempre ser ponderada e relativizada diante 
de outros direitos e princípios. Tratando-se da proteção da imagem da pessoa, a 
situação mais corriqueira – e problemática – que se apresenta na jurisprudência é a de 
sua relativização frente à garantia constitucional da liberdade de imprensa. Tratando-se 
de dois princípios constitucionais,exige-se do o operador do direito uma boa dose de 
razoabilidade e proporcionalidade no confronto entre tais valores. É exatamente isso o 
que diz o Enunciado 279 da IV Jornada de Direito Civil que “a proteção à imagem deve 
ser ponderada com outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em 
face do direito de amplo acesso à informação e da liberdade de imprensa. Em caso de 
colisão, levar-se-á em conta a notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem 
como a veracidade destes e, ainda, as características de sua utilização (comercial, 
informativa, biográfica), privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de 
informações”. Em situações como essa, a jurisprudência tem reconhecido que a 
ilustração de reportagens e matérias jornalísticas, com imagens e retratos constitui 
exercício regular da atividade jornalística “a divulgação, ao público, sobre episódios 
relevantes ao cotidiano dos brasileiros é dever do Estado, na medida em que a 
informação é um direito do cidadão. Assim, embora no corpo do texto haja foto do autor 
preso, houve apenas animus narrandi, o qual não acarreta abalo à honra, porquanto 
consagra o direito de informação” (TJ-SP, Apel. n. 9169035-24.2008.8.26.0000, rel. 
Des. Coelho Mendes, j. 19.3.13). Todavia, essa ampla liberdade de imprensa não pode 
desviar-se da finalidade informativa e narrativa, sob pena de caracterização do abuso e 
do consequente dever de indenizar: “A liberdade da divulgação de notícias baseia-se no 
interesse público da obtenção da informação – Se não houver caráter informativo, 
interesse público atual e respeito ao decoro, reputação e à vida privada, a divulgação 
Charles 
Charles 21/
4 
 
 
indiscriminada, por qualquer de suas formas, ou de notícia falsa, ainda que não de forma 
intencional, resulta na obrigação de reparar o dano” (TJ-SP, Apel. n. 0020722- 
43.2011.8.26.0625, rel. Des. Alcides Leopoldo e Silva Júnior, j. 14.8.12). 
 
5. Captação da imagem necessárias à administração da justiça ou à manutenção 
da ordem pública. Ainda a dispensa de autorização. O exemplo mais didático para 
essa exceção legal à divulgação da imagem da pessoa por imposição da administração 
da justiça é o da imagem da pessoa retratada em cartaz de ‘procura-se’. Todavia, as 
situações concretas são muito mais complexas do que esse exemplo, exigindo um juízo 
de ponderação e razoabilidade sobre a necessidade de divulgação da imagem de uma 
pessoa. 
6. Legitimados. Se o ofendido vier a falecer ou encontrar-se ausente, terão legitimidade 
para reclamar a proteção e a reparação da imagem da pessoa o cônjuge, o companheiro 
(Enunciado 400 da V Jornada de Direito Civil) os ascendentes ou os descendentes. 
 
 
ARIGO 21 
 
 
 
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, 
adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma. 
(1) (2) (3) 
 
 
1. Vida privada e intimidade. Apesar de o artigo se referir apenas à vida privada da 
pessoa. É comum a distinção entre vida privada e intimidade feita pela doutrina. Por 
intimidade, costuma-se entender os aspectos da vida privada de uma pessoa que ela 
legitimamente mantém afastada do convívio público. É a parte de sua vida que o 
indivíduo leva quando se encontra longe da observação de estranhos. A proteção jurídica 
conferida a esses aspectos da vida íntima da pessoa se traduz no direito que todo 
indivíduo tem de afastar pessoas estranhas de fatos ou informações pessoais que não 
queira dividir. É esse o fundamento de onde se extraí a inviolabilidade de seu domicílio, 
do sigilo de sua correspondência, conversas telefônicas, dados bancários etc. Além disso, 
a proteção à vida privada da pessoa pode ainda ser entendida como o direito que tem 
ela de gerir sua vida sem a intromissão de terceiros. É o direito que tem a pessoa de 
manter o estilo de vida que quiser. 
2. É legítimo o interesse jornalístico sobre a vida de pessoa famosa. Da mesma 
forma como ocorre com o direito à imagem, a intimidade de certas pessoas acaba 
sofrendo certos temperamentos decorrentes de sua notórias. Adriano de Cupis explica 
esse legítimo interesse e essa curiosidade jornalística que recaem sobre a imagem e a 
biografia de pessoas notórias dizendo que: “as pessoas de certa notoriedade, como não 
Charles 
Charles 22/
4 
 
 
podem opor-se à difusão da própria imagem, igualmente não podem opor-se à 
divulgação de acontecimentos da sua vida. O interesse público sobreleva, nesses casos, 
o interesse privado; o povo, assim como tem interesse em conhecer a imagem dos 
homens célebres, também aspira a conhecer o curso e os passos da sua vida, as suas 
ações e as suas conquistas; e, de fato, só através de tal conhecimento pode formar-se 
um juízo sobre seu valor. Mesmo nesses casos, por outro lado, as exigências do público 
detêm-se perante a esfera íntima da vida privada, e, além disso, as mesmas exigências 
são satisfeitas pelo modo menos prejudicial ao interesse individual”.[1] Diversas foram 
as teorias desenvolvidas pela doutrina para justificar a dispensa da autorização para 
exibição de imagens de pessoas públicas. Na França surgiu a teoria do consentimento 
tácito, ou do consentimento presumido. Dizia-se que “pessoas notórias se encontrariam 
em um estado de représentation permanent, aplicável com relação aos fatos da vida, 
seja da vida pública, como privada. Quando a vontade de divulgar sua personalidade ao 
público pareça evidente, é extensiva ao direito à imagem” (Jacques Ravanas). Outros, 
por outro lado, refutavam a teoria do consentimento presumido, fundando a dispensa de 
consentimento “no legítimo interesse público que recai sobre tais pessoas” (Pierre 
Kayser).[2] 
 
ARTIGO 22 
 
 
 
CAPÍTULO III 
DA AUSÊNCIA 
Seção I 
Da Curadoria dos Bens do Ausente 
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver 
deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a 
requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e 
nomear-lhe-á curador. (1) (2) (3) (4) 
 
 
 
1. Ausência e incapacidade. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio, de tal modo 
que não seja possível saber qual é seu atual paradeiro, e sem que a pessoa tenha 
deixado qualquer representante ou procurador com poderes para administrar-lhe os 
bens, poderá qualquer interessado ou o próprio Ministério Público requerer a declaração 
de ausência e a nomeação de um curador. Note-se que nessa situação, a pessoa não é 
considerada incapaz, uma vez que a ausência física da pessoa não importa em nenhuma 
redução de sua capacidade civil. É por essa razão que a curadoria é dos bens do 
Charles 
Charles 23/
4 
 
 
ausente, e não de sua pessoa. Todavia, sendo evidente que a ausência física e 
prolongada da pessoa a impossibilita de administrar os próprios bens, torna-se 
necessário assegurar a preservação de seu patrimônio. O instituto da ausência, dessa 
forma, tem por escopo, num primeiro momento, resguardar o patrimônio do ausente e 
apenas num segundo momento tutelar os interesses de seus herdeiros. 
2. 2. Registro da ausência. A sentença que declara a ausência de uma pessoa deve ser 
registrada no Registro Civil das Pessoas Naturais (Lei n. 6.015/73, art. 29, inc. VI), no 
cartório do último domicilio do ausente e deverá necessariamente conter (i) a data do 
registro, (ii) o nome, idade, estado civil, profissão e domicílio anterior do ausente, a data 
e o cartório em que foram registrados o nascimento e o casamento, bem como o nome 
do cônjuge, se for casado, (iii) o tempo de ausência até a data da sentença, (iv)o nome 
do promotor do processo, (v) a data da sentença, o nome e vara do Juiz que a proferiu e 
(vi) o nome, estado, profissão, domicílio e residência do curador e os limites da curatela 
(Lei n. 6.015/73, art. 94). Havendo aparecimento do ausente, a cessação da ausência 
deve ser averbada no Registro Civil das Pessoas Naturais (Lei n. 6.015/73, art. 104). 
3. Arrecadação de bens procedimento e interesse de agir. O procedimento para 
declarar a ausência da pessoa é disciplinado pelos artigos 1.159 e ss. do Código de 
Processo Civil, que tem início com a arrecadação dos bens do ausente (CPC, art. 1.160). 
Uma vez arrecadados, mandará o juiz publicar editais de dois em dois meses, durante 
um ano, anunciando a arrecadação e chamando o ausente a entrar na posse de seus 
bens (CPC, art. 1.161). Passado (1) um ano da publicação do primeiro edital, sem que 
se saiba do ausente e não tendo comparecido seu procurador ou representante, poderão 
os interessados requerer que se abra provisoriamente a sucessão, momento em que 
cessa a curadoria (CPC, arts. 1.162, inc. III e 1.163) e tem início a sucessão provisória 
(CC, arts. 26 a 36). 
 
 
Além disso, pode o procedimento ter início pela conversão do depósito feito em ação de 
consignação em pagamento em arrecadação de bens do ausente. É isso o que diz o art. 898 do 
Código de Processo Civil: “Quando a consignação se fundar em dúvida sobre quem deva legitimamente 
receber, não comparecendo nenhum pretendente, converter-se-á o depósito em arrecadação de bens de 
ausentes” (CPC, art. 898). 
 
 
4. Existência de bens e interesse de agir. Apesar de a ausência ter como escopo 
declarado assegurar a preservação do patrimônio do ausente, cujo procedimento tem 
início exatamente com a arrecadação de seus bens, de modo acertado o Superior 
Tribunal de Justiça já decidiu que a efetiva existência de bens não é pressuposto para a 
propositura da ação de arrecadação de bens e declaração de ausência. Nesse sentido: 
“Direito civil e processual civil. Ausência. Curadoria dos bens do ausente. Comprovação 
de propriedade em nome do desaparecido. Desnecessidade. – A nova tônica emprestada 
Charles 
Charles 24/
4 
 
 
pela CF/88 ao CC/02, no sentido de dar ênfase à proteção da pessoa, na acepção 
humana do termo, conjugada ao interesse social prevalente, deve conciliar, no 
procedimento especial de jurisdição voluntária de declaração de ausência, os interesses 
do ausente, dos seus herdeiros e do alcance dos fins sociais pretendidos pelo 
jurisdicionado que busca a utilização do instituto. – Resguarda-se, em um primeiro 
momento, os interesses do ausente, que pode reaparecer e retomar sua vida, para, após 
as cautelas legalmente previstas, tutelar os direitos de seus herdeiros, porquanto menos 
remota a possibilidade de efetivamente ter ocorrido a morte do desaparecido. – A 
preservação dos bens do ausente constitui interesse social relevante, que busca 
salvaguardar direitos e obrigações tanto do ausente quanto dos herdeiros que 
permaneceram à deriva, durante longo período de incertezas e sofrimentos causados 
pelo abrupto afastamento de um ente querido. – Essa incerteza gerada pelo 
desaparecimento de uma pessoa, deve ser amparada pelo intérprete da lei como 
necessidade de adoção de medidas tendentes a proteger o ausente e sua família, quanto 
aos direitos e obrigações daí decorrentes. – Se o ausente deixa interessados em 
condições de sucedê-lo, em direitos e obrigações, ainda que os bens por ele deixados 
sejam, a princípio, não arrecadáveis, há viabilidade de se utilizar o procedimento que 
objetiva a declaração de ausência. – O entendimento salutar para a defesa dos 
interesses do ausente e de seus herdeiros deve perpassar pela afirmação de que a 
comprovação da propriedade não é condição sine qua non para a declaração de ausência 
nos moldes dos arts. 22 do CC/02 e 1.159 do CPC. – Acaso certificada a veracidade dos 
fatos alegados na inicial, por todos os meios de prova admitidos pela lei processual civil, 
considerada não apenas a propriedade como também a posse na comprovação do 
acervo de bens, deve o juiz proceder à arrecadação dos bens do ausente, que serão 
entregues à administração do curador nomeado, fixados seus poderes e obrigações, 
conforme as circunstâncias e peculiaridades do processo” (STJ, REsp. n. 1.1016.023-DF, 
rel. Min. Nancy Andrighi, j. 27.5.08). 
 
 
 
ARTIGO 23 
 
 
 
Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar 
mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus 
poderes forem insu cientes.(1) 
 
 
 
 
 
1. Ausente que deixa representante ou procurador. Mesmo que uma pessoa tenha se 
ausentado de seu domicílio, sem deixar qualquer notícia de seu paradeiro, não se 
declarará sua ausência, se a pessoa tiver deixado um representante (CC, art. 115) ou 
Charles 
Charles 25/
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mandatário com poderes para administrar seus bene e interesses. Todavia, caso o 
procurador se recuse a administrar seu patrimônio, não possa ou não queira exercer o 
mandato (CC, art. 682), ou ainda não tenha poderes suficientes para administrar todos 
os bens ou interesses da pessoa desaparecida, surgirá a necessidade de declaração de 
sua ausência com a consequente nomeação de um curador. 
 
 
ARTIGO 24 
 
 
 
Art. 24. O juiz, que nomear o curador, xar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as 
circunstâncias, observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e 
curadores.(1) 
 
 
 
 
 
1. Poderes e obrigações do curador. Ao nomear o curador, deve o juiz analisar as 
circunstâncias do desaparecimento da pessoa, seu patrimônio, o estado e os 
diferentes lugares em que se encontram os bens do desaparecido, se existe outras 
pessoas com poderes para gerir parte dos bens e interesses do desaparecido, e adotá- 
las como fundamentação necessária (CF., art. 93, inc. IX; CPC, arts. 131 e 458, inc. 
II) para fixar os limites dos poderes e obrigações do curador nomeado, determinando 
detalhadamente todas as providências necessárias, bem como as incumbências e 
responsabilidades que lhe caberão. Além disso, determina o art. 24 que deverão ser 
aplicadas, no que couberem, as regras relativas à tutela e curatela (CC, arts. 1.728 a 
1.783), sendo de particular utilidade as regras relativas aos deveres de prestação 
contas (CC, arts. 1.755 a 1.762). 
 
 
 
 
ARTIGO 25 
 
 
 
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por 
mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador. (1) (2) (3) 
§1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos 
descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo. 
§2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos. 
 
§3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador. 
 
 
1. A escolha do curador. A nomeação de curador deve preferencialmente ser feita na 
ordem disposta no caput e parágrafos do artigo 25 do Código Civil. Todavia, não se 
Charles 
Charles 26/
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encontra o juiz vinculado a essa ordem de preferência, devendo sempre analisar se a 
pessoa a ser nomeada goza de idoneidade e preparo suficiente para desempenhar esse 
numus (CC, art. 1.732, caput, 1.735, 1.743). Não preenchendo o pretenso curador tais 
requisitos, deve o juiz motivadamente deixar de nomeá-lo, ficando sua decisão sujeita à 
impugnação. 
2. Cônjuge nomeado curador. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado 
judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, 
qualquerque seja seu regime de bens, será o seu legítimo curador, observadas as 
regras do artigo 24 do Código Civil. Todavia, o cônjuge casado no regime de comunhão 
universal fica dispensado do dever de prestação de contas, salvo determinação judicial 
devidamente fundamentada em contrário (CC, art. 1.783). 
3. Companheiro nomeado curador. Dispõe o Enunciado n. 97 da I Jornada de Direito 
Civil que “no que tange à tutela especial da família, as regras do Código Civil que se 
referem apenas ao cônjuge devem ser estendidas à situação jurídica que envolve o 
companheiro, como, por exemplo, na hipótese de nomeação de curador dos bens do 
ausente (art. 25 do Código Civil)”. Com isso, a nomeação do companheiro do ausente 
como seu legítimo curador prefere aos pais ou descentes na ordem de nomeação 
prevista no art. 25 do Código Civil. 
 
 
 
 
 
 
ARTIGO 26 
 
 
 
Seção II 
 
Da Sucessão Provisória 
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou 
representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer 
que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão. (1) 
 
 
 
 
1. Sucessão provisória. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente ou três 
anos se ele deixou representante ou procurador, poderão os interessados requerer a 
abertura da sucessão provisória do ausente. O maior prazo (três anos) para que se 
requeira a sucessão provisória nos casos em que o ausente deixa representante ou 
procurador decorre da maior probabilidade de que o ausente retorne, em relação aos 
casos em que a pessoa se ausenta sem deixar qualquer representante ou procurador 
(um ano). Além disso, o artigo 26 do Código Civil de 2002 diminuiu os prazos fixados 
Charles 
Charles 27/
4 
 
 
pelo correspondente artigo 469 do Código Civil de 1916, frente à maior eficiência dos 
meios de comunicação modernos, que facilitam o conhecimento e consequente retorno 
do ausente para tomar posse de seus bens. Verifica-se, com isso, que a abertura da 
sucessão provisória nada mais é do que a consequência da arrecadação de bens da 
pessoa que se confirmou ausente. Tomadas todas as providências para a preservação do 
patrimônio do ausente, nada mais natural que essa situação de dúvida quanto ao 
paradeiro, ou mesmo morte do ausente não perdure indefinidamente. Por essa razão é 
que, decorridos os prazos estipulados neste artigo, têm os interessados o legítimo direito 
de requerer a abertura da sucessão provisória, e posteriormente, da sucessão definitiva 
(CC, arts. 37-39), pondo fim a essa situação de indefinição. 
 
 
 
 
ARTIGO 27 
 
Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados:(1) 
 
I – o cônjuge não separado judicialmente; 
 
II – os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; 
 
III – os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; 
IV – os credores de obrigações vencidas e não pagas. 
 
 
 
 
1. Legitimidade para requerer a abertura da sucessão provisória. Diferentemente do 
que ocorre com a ampla e irrestrita legitimidade para requerer a declaração de ausência, 
a legitimidade para requerer a abertura da sucessão provisória é bem mais restrita, 
limitando-se às pessoas elencadas no artigo 27 do Código Civil e, na ausência de 
interessados, ao Ministério Público (CC, art. 28). Podem, assim, requerer a abertura da 
sucessão provisória: (a) O Cônjuge não separado judicialmente (inc. I). Além do 
cônjuge, deve-se entender que o inciso I comtempla também a legitimidade do 
companheiro para requerer a abertura da sucessão provisória(Enunciado n. 97 da I 
Jornada de Direito Civil). (b) Herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários (inc. II). 
Apenas os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários terão interesse para 
requerer a abertura da sucessão provisória com base nesse inciso III. Ou seja, inserem- 
se nessa hipótese aquelas pessoas mencionadas nos artigos 1.799 e 1.829 do Código 
Civil: I – os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que 
vivas estas ao abrir-se a sucessão; II – as pessoas jurídicas; III – as pessoas jurídicas, 
cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação (CC, art. 
1.799) e I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se 
casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação 
Charles 
Charles 28/
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obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão 
parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II – aos ascendentes, 
em concorrência com o cônjuge; III – ao cônjuge sobrevivente; IV – aos colaterais (CC, 
art. 1.829). (c) Os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua 
morte (inc. III). É o que ocorre, por exemplo, nos casos em que o ausente tem direito 
de usufruto vitalício sobre imóvel de terceiro (CC, art. 1.410), os legatários (CC, art. 
1.912). Importante notar que não tem legitimidade para requerer a abertura da 
sucessão provisória com base nesse inciso aqueles que tenham interesse meramente 
econômico na sucessão provisória. (d) Os credores de obrigações vencidas e não pagas 
(inc. IV). Tem interesse na abertura da sucessão provisória os credores de obrigações 
vencidas e não pagas pelo ausente. 
 
 
ARTIGO 28 
 
 
 
Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito 
cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, 
proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, 
como se o ausente fosse falecido.(1) 
 
§1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão 
provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente.(2) 
§2o Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta dias 
depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória, proceder- 
se-á à arrecadação dos bens do ausente pela forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.(3) 
 
 
 
1. Efeitos da sentença que determina a abertura da sucessão provisória. Tão logo 
tenha a sentença que determina a abertura da sucessão provisória transitado em 
julgado, proceder-se-á à abertura do testamente, caso existente, e ao inventário e 
partilha dos bens. Por outro lado, os demais efeitos da sentença que determinar a 
abertura da sucessão provisória apenas se verificação após o decurso de prazo de cento 
e oitenta dias contatos de sua publicação na imprensa, notadamente (i) o ingresso dos 
herdeiros na posse dos bens, desde que prestadas as necessárias garantias (CC art. 30), 
(ii) a percepção dos frutos desses bens pelos herdeiros provisórios do ausente (CC, art. 
33) e (iii) extinção dos encargos do curador (CPC, art. 1.162, inc. III), a partir do 
momento em que a representação do ausente passar a cargo de seus herdeiros 
provisórios (CC, art. 32). 
2. Abertura da sucessão provisória pelo Ministério Público. Findo o prazo de 1 (um) 
ano (CC, art. 26), se nenhum interessado (CC, art. 27) requerer a abertura da sucessão 
Charles 
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provisória, competirá ao Ministério Público requerer a abertura da sucessão provisória. 
Além disso, caberá ao Ministério Público requerer a abertura da sucessão provisória no 
interesse de eventuais menores ou interditos que se encontrem entre os herdeiros 
provisórios do ausente. 
3. Herança jacente. Caso decorram trinta dias contados do transito em julgado da 
sentença que determinar a abertura da sucessão provisória sem que nenhum 
interessado requeira a abertura do inventário,

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