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COLUNA PARA O REPÓRTER 133 26 03 2011

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T E N D Ê N C I A S 
Prof. Dr. Argemiro Luís Brum 
(CEEMA/DECon/UNIJUI) 
26/03/2011 
 
 
O VALOR DA TERRA 
O mercado da terra no Brasil voltou a aquecer, com o preço do hectare subindo 
em média 60% nas regiões produtoras do Rio Grande do Sul, por exemplo. Os 
arrendamentos ficaram muito mais caros em algumas regiões, noutras nem 
tanto, como é o caso da região produtora de arroz. Na verdade, como a teoria 
econômica ensina e a prática já nos demonstrou várias vezes, os fatores de 
produção sobem de preço na medida em que os produtos que eles geram (ou 
ajudam a gerar) igualmente são valorizados. Como a terra é um fator de 
produção, não é por nada que os terrenos nas cidades, a partir do programa 
oficial “Minha Casa, Minha Vida”, subiram rapidamente no ano passado. Assim 
também se verificou no meio rural, a partir da valorização importante da soja e 
do milho. Desta forma, nas regiões produtoras destas duas culturas o hectare 
subiu rapidamente, tornando mais caro o custo de produção para quem 
arrenda terra e valorizando o patrimônio de quem é proprietário. Todavia, esse 
movimento de valorização dos fatores de produção não é constante. Assim que 
os preços dos produtos agrícolas baixarem, a tendência será o preço da terra 
recuar igualmente. Tanto é verdade que o movimento de valorização do 
hectare na região orizícola gaúcha não é sentido da mesma forma. Afinal, o 
arroz está com preços os mais baixos dos últimos tempos, penalizando quem o 
produz. Nas cidades, com a freada oficial no programa “Minha Casa, Minha 
Vida”, somado à bolha imobiliária que se constituiu no país através dele, logo 
mais os terrenos igualmente terão seus preços em recuo, sem falar nos 
imóveis para alugar. O tamanho deste recuo será medido pela capacidade da 
demanda em absorver a oferta dos bens produzidos. 
 
CLASSE MÉDIA CONFIRMA (I) 
Os dados divulgados nesta semana no Brasil confirmam que finalmente somos 
um país de classe média. E mais, chegamos à classe média sem nivelarmos a 
renda por baixo, na medida em que nos últimos seis anos o número de 
pessoas se reduziu nas classes D e E, em favor da C (média), A e B. Tanto é 
verdade que as estatísticas anunciadas (cf. Ipsos Public Affairs), dão conta de 
que temos 42,2 milhões de pessoas nas classes A/B (aumento de 59,8% em 
relação a 2005); 101,6 milhões na classe C (aumento de 62% em relação a 
2005) e 47,9 milhões de pessoas nas classes D/E (redução de 48,4% em 
relação a 2005). Isso mostra a importância da estabilização da economia, com 
baixa inflação, na vida de um país. Não podemos, sem dúvida, perder tal 
conquista. É por isso que preocupa a péssima gestão, em muitos casos, do 
Estado, pois a mesma colabora sensivelmente para destruir tal estabilidade. 
Dito isso, os números anunciados igualmente nos alertam para quatro outros 
fatos, que merecem muita atenção e exigem ainda muito trabalho de nossa 
parte, visando alcançar, um dia, um real desenvolvimento (afinal, estamos 
apenas em 73º lugar, dentre 169 países, em Índice de Desenvolvimento 
Humano, conforme relatório do PNUD de 2010). 
CLASSE MÉDIA CONFIRMA (II) 
Em primeiro lugar, o padrão de renda média para medir nossas diferentes 
classes sociais ainda é muito baixo. Para ser das classes A/B a renda média 
mensal é de R$ 2.983,00. Para a classe C, de R$ 1.338,00; e para as classes 
D/E de apenas R$ 809,00. De forma geral, a renda média mensal do brasileiro, 
em 2010, é de R$ 1.557,00. Dolarizando tal valor, a fim de compararmos com 
os demais países, chegamos a US$ 943,64 mensais (obviamente, com um real 
sobrevalorizado). Os EUA, por exemplo, chegaram a esse nível de renda 
média em 1978. Em segundo lugar, ainda é preciso melhorar a renda 
disponível (renda menos gastos fixos) em relação a renda média. Em 2010, tal 
relação foi de 23,6%, ou seja, menos de um quarto da renda média bruta 
sobrava para cada habitante. Mesmo assim, vale registrar que em 2005 tal 
relação era de apenas 14,1%. Em seis anos a renda disponível cresceu 2,7 
vezes, passando de R$ 137,00 em 2005, para R$ 368,00 em 2010. Em terceiro 
lugar, as disparidades regionais continuam muito fortes. Enquanto no Sul do 
país a renda média cresceu 30,1% e a renda disponível 84,5%, no período, no 
Nordeste o crescimento ficou em apenas 6,7% e 6,1% respectivamente. No 
Norte e Centro-Oeste 15,5% nos dois casos, e no Sudeste 25,3% e 73,9% 
respectivamente. Enfim, e o maior dos desafios, evitar que haja um recuo no 
processo de melhoria de renda, pois boa parte desta melhoria se deu por 
programas públicos pontuais, particularmente durante o forte da crise 
econômico-financeira eclodida em 2007/08. Para isso, o país precisa fazer 
ainda muito mais, a começar pelas reformas de sua estrutura em geral e do 
Estado em particular.

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