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Aula teoria geral do processo

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TEORIA GERAL DO PROCESSO
2ª AULA
 
 ASSUNTO:
Evolução Histórica do Direito Processual.
 
OBJETIVO:
Apresentar os momentos mais significativos da evolução do Direito Processual.
 
SUMÁRIO:
	Introdução
	Processo romano
	Processo romano-barbárico
	Processo na Península Ibérica
	Continuidade da legislação lusa no Brasil
	Regimento 737 e os Códigos de Processo
	Competência para legislar sobre Direito Processual
	Conclusão
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1. INTRODUÇÃO
 A história do direito processual, como a do direito em geral, naquilo que interessa ao direito pátrio, começa em Roma. Partindo daí, para chegar aos nossos dias, na longa caminhada, passou o direito processual por profundas transformações, sem perder, entretanto, estreito contato com as suas origens.
Conhecer a evolução histórica é de capital importância para o aluno de direito adquirir bases sólidas para a construção de um edifício forte e sólido na formação do futuro operador do direito.
 
2. PROCESSO ROMANO
 Processo romano atravessou três períodos: o da legis actiones, o per formulas e o da cognitio extraordinária
 
2.1. Período da legis actiones
Período que vai desde a fundação de Roma em 753 a.C.até o ano de 149 a.C. Período que significa ações da lei, porque se relaciona com a lei mais importante do mais antigo direito, qual seja, a Lei das XII Tábuas (450 a.C.).
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O procedimento, inspirado nas exigências de um povo primitivo, era nitidamente formalista, obedecendo solenidades rigorosíssimas, em que as fórmulas verbais, cada uma das palavras e os gestos deveriam ser escrupulosamente obedecidos.
Qualquer desvio ou quebra de solenidade, por mínimos que fossem, um gesto que fosse olvidado, uma palavra obtida ou substituída davam lugar à anulação do processo, com a vedação de propositura de outro sobre o mesmo objeto.
Procedimento era inteiramente oral, se dividia em duas fases: in iuri e in iudicio.
Fase in iuri – desenrolava-se perante o magistrado, presentes necessariamente o proponente da ação (autor) e aquele contra o qual era proposta (réu), acompanhados de parentes e amigos:
- o comparecimento do réu se dava a convite do autor, que, em caso de recusa ou resistência, podia conduzi-lo à força;
- o magistrado concedia ou não a ação, conforme fosse ou não o pedido fundado no direito civil, e, no caso positivo, designava o iudex, ou arbiter;
- concedida a ação, estabelecia-se a litiscontestatio, pela qual se fixava o objeto do litígio, que não mais podia modificar-se, e pela qual se obrigavam as partes a permanecer em juízo até final da sentença, a qual se obrigavam;
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- a tudo eram presentes os parentes e amigos dos interessados, para que guardassem na memória, pois o procedimento era exclusivamente oral, as solenidades, as declarações das partes e a deliberação do magistrado, para comprová-las, se necessário se fizesse.
Fase in iudicio – perante o iudex, ou arbiter, ou mesmo perante jurados, se produziam as provas, especialmente testemunhas, debatiam as partes o seu direito e se proferia a sentença, como principais características: 
- era inteiramente oral;
- as partes deveriam ser presentes, pessoalmente, em todo o decorrer do processo, não lhes sendo permitido representar-se por intermediários, ou advogados, que não havia;
- dividia-se em duas fases: in iuri, perante o magistrado que, concedendo a ação fixava o objeto do litígio (litiscontestatio); e a fase do in iudicio, perante o iudex, ou arbiter, que não era autoridade ou funcionário do Estado, mas um simples particular.
 
2.2. Período Formulário ou Per Formulas
Período que vai do ano 149 a. C. até o século III da Era Cristã, englobando o período da República até parte do período Imperial.
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Caracteriza o período de maior desenvolvimento do direito romano.
Período em que surgiram dois tipos de direito, quais sejam, o ius civile e o ius gentium.
Somente o cidadão romano podia se socorrer da autoridade dos magistrados, isto é, somente ele podia invocar a jurisdição dos seus magistrados, com base no ius civile. 
Surgimento dos pretores (pretor urbano e pretor peregrino).
O procedimento formular compreendia duas fases:
Fase in iure – desenrolava-se perante o pretor e era instaurada por meio da in ius vocatio, como no período anterior: o réu era convidado pelo autor a comparecer ante o magistrado; no caso de não atendimento ao convite, o autor poderia conduzi-lo com o emprego da força. As principais características:
- presentes as partes, o pretor ouvia a pretensão do autor e a defesa do réu, oralmente expostas, mas absolutamente livres das solenidades do antigo procedimento;
- ao expor sua pretensão, o autor indicava a fórmula correspondente prescrita no álbum do pretor;
- concedida a ação, o magistrado entregava ao autor a fórmula, escrita em pequena tábua de madeira, e que era, conforme as hipóteses, adaptada também à defesa apresentada pelo réu;
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- na fórmula ficava estabelecida a litiscontestatio: com a aceitação pelas partes, fixava-se o objeto do litígio e se obrigavam estas a permanecer em juízo até a sentença, a que se obrigavam dar cumprimento;
Fase in iudicio – fase sob a direção do iudex, ou abiter, ou colégio de juízes, que continuaram a ser particulares e não autoridades ou funcionários do Estado. Então, se produziam as provas dos fatos, debatiam as partes os seus direitos e o juiz proferia a sentença, aplicando o direito à espécie, condenando ou absolvendo o réu.
- a prova dos fatos, que se destinava à formação da convicção do juiz quanto à existência destes, fazia-se por meio de testemunhas, documentos, confissão e juramento;
- nos debates (altercaciones), que se seguiam à produção das provas, as partes podiam representar-se por cognitores ou procuratores;
- a sentença, como todo procedimento in iudicio, era oral, devendo o juiz ao proferi-la ater-se à forma. Porque o juiz não era a autoridade judiciária, mas um particular, escolhido pelas partes, a força obrigatória da sentença não provinha da autoridade de seu prolator;
- o autor e o réu se obrigavam a aceitar e cumprir o que fosse decidido;
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- ainda da circunstância de ser o juiz um particular, não subordinado a nenhuma autoridade hierarquicamente superior, resultava que a sua decisão era irrecorrível;
- o recurso, no sentido próprio do vocábulo, iria surgir no período seguinte, com quanto autores abalizados haja que considerem a intercessio, a revocatio in duplum e a restitutio in integrum como modalidades de recursos neste sistema.
 
2.3. Período do Cognitio Extraordinaria
Período também chamado de cognitio extra ordinem.
Começa no ano 294 da Era Cristã, que extingui definitivamente o sistema formulário, e vai até a codificação de Justiniano (528 a 534 d.C.).
O novo sistema resulta da atribuição pelo governo imperial das funções judiciárias a funcionários do Estado, aos quais incumbia, por solicitação dos interessados, presidir e dirigir o processo, desde a sua instauração, proferindo a sentença e dando-lhe execução.
Resulta da criação do juiz oficial, em substituição ao juiz privado do procedimento formulário.
O juiz passou a ser um magistrado, um funcionário do Estado, no exercício de uma função pública, qual seja, a de compor as lides, assegurando a paz social.
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A instituição do juiz oficial opõe-se à fórmula, por perder esta a sua razão de ser, e à divisão do procedimento em duas fases, como no processo formulário.
O juiz, que conhece da causa, dá-lhe o andamento processual, decide-a e a executa a sentença.
As principais características são:
- o autor dirigia-se diretamente ao juiz, a quem apresentava sua pretensão, reduzida a escrito, citando-se em seguida o réu para comparecer em juízo, a fim de defender-se, findo o prazo legal (litis denuntiatio);
- ao tempo de Justiniano, o autor propunha ação por escrito ao juiz, narrando a causa da obrigação e formulando o pedido (libellus conventionis);
- concedida a ação, isto é, deferida a sua petição, a
citação do réu se fazia por um funcionário, que lhe entregava o libelo, exigindo-lhe resposta escrita (libellus responsionis) e o comparecimento em juízo no prazo legal;
- findo o prazo para defesa, produzia-se a prova dos fatos, feita pelos meios admitidos em lei – documentos, confissão, juramento, testemunhas, presunções e mesmo arbitramentos;
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- produzida as provas, o juiz proferia a sua força obrigatória;
- e, porque proferida por um funcionário do Estado, contra a sentença se admitia a interposição de recurso para a autoridade hierarquicamente superior, visando à sua reforma;
- nasceu aí, por meio do recurso, o que se chamava a apellatio, que era o recurso normal.
 
3. PROCESSO ROMANO-BARBÁRICO
 Com a queda de Roma (476 d.C.) e ocupação de seus territórios pelos germânicos (chamados pelos romanos de bárbaros) invasores, deu-se o encontro do elevado sistema jurídico daquele povo com os costumes primitivos destes.
O processo germânico era manifestamente rudimentar. Titular da jurisdição era o povo, ou, melhor dizendo, as assembléias populares dos homens livres (Ding), reunidas sob a presidência do conde feudal, ou, ainda para causas de menores importância – procedimento inteiramente oral, comprometendo-se as partes respeitar a decisão.
O sistema probatório germânico mostrava-se ainda mais primitivo – meios de prova eram o juramento da parte, ou dela e dos seus conjuradores, os quais atestavam a veracidade do juramento daquela, ou, conforme a opinião mais assente, atestavam a credibilidade do juramento.
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Ainda no sistema probatório, utilizava-se as ordálias, ou juízos de Deus.
As sentenças, proferidas pela assembléia, obrigavam não apenas as partes, como no direito romano, mas a todos os que daquela participavam, e, porque acima da assembléia nenhum poder existia, eram irrecorríveis.
O processo germânico, aos poucos foi substituído pelo sistema romano imperial, pela sua contínua prática pelos vencedores, que, entretanto, resistia ao desaparecimento.
A cultura romana acabou por exercer manifesta influência, dando lugar à formação de um processo, misto de germânico e romano, em que as instituições germânicas se recompunham sob a influência dos princípios do direito romano. 
Esta recomposição é o processo conhecido por romano-barbárico.
 
4. PROCESSO NA PENÍNSULA IBÉRICA
 
A Península Ibérica, dominada pelos romanos, aproximadamente no ano 200 a.C., ficou submetida ao grande império romano durante seis séculos. Herdando a língua e os costumes.
Por ter adaptado aos costumes, isto fez com que absorvesse o direito romano nos seus procedimentos judiciários.
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Fato real foi quando o rei Alarico elaborou, para o uso dos vencidos, um extrato das leis romanas.
Mais adiante, no ano de 714 de nossa Era, os árabes invadiam a Península, aos quais as populações aí estabelecidas e já irmanadas ofereceram tenaz e incessante resistência, que só terminou com a expulsão daqueles, no século XV.
O predomínio árabe, todavia não obstante longo, e sob muitos aspectos de grande influência na cultura das populações conquistadas, em nada afetou o seu direito, inclusive o processo, que continuou a disciplinar-se pelos fundamentos romanos.
 
5. CONTINUIDADE DA LEGISLAÇÃO LUSA NO BRASIL
 
Como visto, anteriormente, a influência dos árabes (sarracenos) não se fez presente no direito luso, permanecendo fortemente a influência romana na área jurídica portuguesa, inclusive no tocante ao processo.
Com o passar dos anos Portugal já mais desenvolvido, inicia com a Escola de Sagres, o seu período das grandes navegações e conquistas territoriais fora do Continente europeu.
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O Brasil foi uma de suas conquistas territoriais, tornando-se colônia portuguesa, onde vigoravam as leis portuguesas chamadas Ordenações, as quais tinham forte influência romanista.
Mais adiante, o Brasil, já independente, sob a forma de império, ainda assim, o que tratava da parte processual encontrava-se nas Ordenações, que, no caso , eram as Ordenações Filipinas.
Em 1832, o processo civil imperial passa por sensível reforma, por força da “Disposição provisória acerca da administração da justiça civil”.
Entretanto, as causas cíveis continuaram a serem tratadas pelas Ordenações Filipinas, que eram tantas as suas regras processuais, as quais tiveram que ser reunidas em um único corpo, chamado Consolidação das Leis do Processo Civil (1876).
As leis processuais civis, ao longo do período imperial, passaram por várias transformações.
O rompimento do cordão umbilical ligando o Brasil a Portugal, em termos de legislação, só ocorre realmente no período republicano.
 
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6. O REGIMENTO 737 E OS CÓDIGOS DE PROCESSO
 Proclamada a República (1889), a situação referente as causas comerciais se regiam pelo Regulamento nº 737, de 1850,, e as cíveis pelas Ordenações e leis complementares consolidadas.
A primeira Constituição republicana de 1891, estabelecendo a forma federativa, instituiu, não só a dualidade de justiça – a da União e a dos Estados, como, também, a dualidade dos processos, ficando cada Estado autorizado a organizar a sua justiça e a legislação sobre processo.
Enquanto os Estados não tinham seus códigos processuais, valiam-se do Regulamento 737 como modelo, assim como utilizavam a Consolidação das Leis do Processo Civil.
Somente, a partir de 1915, é que começaram a surgir os códigos de processo estaduais (o primeiro foi o da Bahia).
Com a Constituição republicana de 1934 é que houve o restabelecimento do sistema da unidade processual para todo o país, tornando-se da competência da União, e supletivamente dos Estados, a elaboração das leis processuais civis e penais.
Com o restabelecimento da unidade processual, somente em 1939 é que o Brasil passou a ter o seu primeiro Código de Processo Civil, o qual entrou em vigor em 1940.
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O atual Código de Processo Civil em vigor é o de 1940 com algumas modificações, que ocorreram 1973 e agora mais recentemente, com base nos preceitos constitucionais da CF/88.
 
7. COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO PROCESSUAL
 Sendo a Constituição a base de toda a ordem jurídica, a Constituição de 1988 dispôs largamente sobre matéria processual, com o que diversos dispositivos da legislação anterior perderam eficácia, enquanto outros continuaram em vigor por estarem afinados com a Carta Magna.
Dispositivos como o da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal foram dispostos no artigo 5º da Constituição, entre outros, que são regras do direito processual.
O caráter publicista se evidencia ao considerar que o direito processual civil regula as atividades dos órgãos jurisdicionais, que são órgãos do Estado, com a finalidade de administrar justiça, isto é, de atuar a lei.
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Do mesmo modo que a função legislativa e administrativa se disciplinam por normas de direito público, assim sendo, legislar sobre direito processual é da competência do Estado, considerando que a regulamentação do exercício da função jurisdicional é função estatal.
 
8. CONCLUSÃO

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