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DIREITO NAS ORGANIZAÇÕES

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Responsabilidade penal no âmbito das empresas. 
1. Introdução 
O estudo de qualquer questão jurídica, para ser feito seriamente, pressupõe que se tenha a noção de 
Direito como sistema, que todos afirmam mas cujas conseqüências poucos na prática reconhecem. A 
propósito, já escrevemos: 
"Quase todos afirmam que o Direito é um sistema de normas. Muitos, porém, são os que não explicam 
o que querem dizer com a expressão sistema de normas, e ainda, nenhuma conseqüência prática 
retiram da concepção do Direito como sistema, deixando-a, assim, inteiramente inútil. 
Importante, pois, é demonstrarmos porque o Direito é um sistema e quais as principais conseqüências 
práticas dessa idéia. 
Muitos estudam o Direito a partir da norma jurídica, como se fosse possível explicar o fenômeno 
jurídico sem levar em conta, em primeiro lugar, que o conceito de norma não abrange todas as 
prescrições jurídicas, mas apenas uma espécie destas, e em segundo lugar, sem considerar as 
relações inevitáveis entre as prescrições que o integram. 
É certo que a norma jurídica tem especial relevo no contexto do sistema jurídico, e por isto mesmo é 
comum a referência a esta, quando a referência cabível seria à prescrição, que é o gênero. De todo 
modo, explicar o que se deve entender por Direito a partir da norma jurídica (Na verdade o Direito é um 
sistema de prescrições, embora se possa dizer que as normas são a espécie mais importante destas.) 
isolada, buscando determinar as características desta, é uma tarefa impossível, pois, como ensina 
Bobbio com inteira propriedade, "o Direito não é norma, mas um conjunto ordenado de normas, sendo 
evidente que uma norma jurídica não se encontra jamais só, mas está ligada a outras normas com as 
quais forma um sistema normativo." (Norberto Bobbio, Teoria do Ordenamento Jurídico, trad. de Maria 
Celeste Cordeiro Leite dos Santos, 4ª edição, EDUNB, Brasília, 1994, p. 21). 
Dizemos, portanto, que o Direito é um sistema de prescrições jurídicas, interligadas e harmônicas. É 
um sistema porque integrado de partes que se completam e que dependem umas das outras, como se 
pode constatar na experiência jurídica (Adotamos, assim, a idéia de sistema no sentido de conjunto de 
partes sem incompatibilidades entre elas. É o terceiro sentido de sistema, a que se reporta Bobbio 
[Teoria do Ordenamento Jurídico, cit., p. 80]). 
 
 
Resta demonstrar que a consideração do Direito como um sistema de normas tem várias 
conseqüências práticas, das quais vamos apontar a seguir as três mais importantes. Como todo 
sistema há de ser coerente, isento de incongruências, a primeira e talvez mais importante 
conseqüência prática da idéia de sistema consiste em que as incongruências ou antinomias devem ser 
eliminadas. A segunda conseqüência importante da idéia de sistema consiste na sua utilização como 
elemento indispensável na busca do significado das prescrições jurídicas. Finalmente, a terceira 
conseqüência importante da idéia de sistema consiste em que as lacunas cuja presença consubstancie 
 
uma incongruência devem ser de pronto eliminadas pelo intérprete" (Hugo de Brito Machado, Uma 
Introdução ao Estudo do Direito, Dialética, São Paulo, 2000, pág. 139/140). 
Assim, tendo presente a necessidade de superar eventuais incongruências, buscando o significado de 
cada prescrição jurídica no conjunto de normas e princípios que integram nosso ordenamento, e 
procurando superar as lacunas neste eventualmente existentes, estudaremos aqui a questão da 
responsabilidade penal no âmbito das empresas, na tentativa de esclarecer alguns equívocos e 
apontar o que nos parece ser o melhor caminho no sentido de se obter maior grau de eficácia das 
sanções, e em conseqüência maior eficácia do próprio ordenamento jurídico. 
Preferimos o termo empresa, em vez de pessoa jurídica, porque muitas pessoas jurídicas não são 
empresas, pelo menos no sentido em que estamos a empregar essa palavra, e muitas empresas 
eventualmente podem não ser pessoas jurídicas. Com a palavra empresa queremos aqui designar a 
unidade econômica ou profissional a que se refere o art. 123, do Código Tributário Nacional. 
Examinaremos a questão da responsabilidade apenas no que concerne aos aspectos que se fazem 
relevantes para o estudo da aplicação das sanções administrativas e das sanções penais, 
relativamente aos cometimentos ilícitos que geralmente ocorrem no âmbito das empresas, e cuja 
repressão suscita a questão de saber qual a espécie de sanção é mais adequada, vale dizer, mais 
eficaz, mais apta a reduzir tais práticas a limites toleráveis. 
Não rejeitamos as inovações, mas as vemos com cautela, sem nos deixar levar pela sedução do novo, 
e atentos sobretudo para a verificabilidade das novas teses, sempre lembrados da advertência de 
Pontes de Miranda, para quem: 
"Escusado é dizer-se que, à semelhança do que ocorre com os matemáticos, com os físicos, com os 
biologistas e com todos os investigadores de ciências naturais, o estar em dia exige o senso científico, 
o hábito e a capacidade de trabalho. Aquele senso, para que o jurista se não apegue, demasiado, às 
convicções que tem, nem se deixe levar facilmente pela sedução do novo: a Ciência é a livre 
disponibilidade do espírito, mas tem peneira fina, que é a verificabilidade." (Pontes de Miranda, 
Comentários à Constituição de 1967, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1967, pág. 29). 
Assim, nossa oposição relativamente às inovações, em matéria de responsabilidade penal, apontadas 
como o melhor caminho para coibir comportamentos ilícitos no âmbito das empresas, é de extrema 
cautela. No que concerne a atribuição de responsabilidade penal à pessoa jurídica, pensamos tratar-se 
de uma notável inutilidade, mesmo que as sanções penais correspondentes venham a ser efetivamente 
aplicadas. E quanto à responsabilidade sem culpabilidade, decorrente pura e simplesmente do fato de 
ser sócio acionista ou diretor de uma pessoa jurídica, tais inovações mais nos parecem verdadeiros 
retrocessos, absolutamente incompatíveis com o Estado Democrático de Direito que o Brasil é, ou 
pretende ser. 
As razões desse nosso ponto de vista serão a seguir colocadas, revisitando noções já consolidadas no 
Direito Penal, e fazendo a crítica do que vem sendo colocado pelos especialistas como inovações. 
 
 
2. Responsabilidade e Sanção 
2.1. O dever e a responsabilidade 
Embora muitos ainda não tenham percebido, na verdade o dever e a responsabilidade não se 
confundem. O dever jurídico decorre da incidência de uma norma, legal ou contratual, e está situado no 
momento da liberdade humana. Por isto se diz que o homem é livre para cumprir, ou para descumprir 
os seus deveres jurídicos. Já a responsabilidade surge em um segundo momento, e a seu respeito, 
portanto, somente se questiona em face do não cumprimento do dever, isto é, em face da não 
prestação jurídica. Por isto se diz que a responsabilidade é um pressuposto para a efetividade da 
sanção que resulta da não prestação. 
2.2. A não prestação e a sanção 
Da não prestação, isto é, do descumprimento do dever jurídico, decorre a sanção. Por isto muitos 
dizem que a sanção é a conseqüência da não prestação. 
Dada a não prestação, vale dizer, dada uma situação na qual alguém deixa de cumprir o seu dever 
jurídico, surge à questão de saber se esse alguém, que descumpriu o seu dever jurídico, é 
responsável. 
Ser responsável quer dizer estar juridicamente sujeito à sanção. 
Pode parecer, então, que a pessoa juridicamente irresponsável não se submete a nenhuma espécie de 
sanção. Não é bem assim, porém. A vida nos oferece situações as mais diversas, nas quais as 
relações entre as pessoas devem ser reguladas também de formas diversas, e a quase infinita 
multiplicidade de situaçõesexige que o direito disponha de múltiplas formas de regulação dos 
interesses nelas envolvidos. 
Por isto a responsabilidade é definida em razão da sanção que o direito prescreve para a não 
prestação, em cada situação. Sanção que pode ser simplesmente a execução forçada da obrigação 
vale dizer, a utilização de meios coercitivos para compelir o devedor a cumprir o seu dever jurídico, ou 
a imposição de multa, ou do dever de indenizar, ou a privação de certos direitos, entre os quais a 
liberdade corporal ou física, geralmente designada na linguagem jurídica como liberdade de ir e vir. 
Assim, alguém pode estar sujeito a determinada sanção, e não estar sujeito a outra. Pode ser 
responsável, tendo-se em vista determinada sanção, e ser irresponsável, tendo-se em vista outra 
espécie de sanção. 
2.3. Responsabilidade e natureza da sanção 
Alguém pode ser ao mesmo tempo responsável e irresponsável, dependendo do tipo de sanção da 
qual se esteja a cogitar. Em outras palavras, alguém pode estar ao mesmo tempo sujeito a sanção de 
determinada espécie, e não estar sujeito a sanção de outra espécie. Alguém pode ser responsável 
pelos atos de outrem, no que diz respeito a sanções cíveis, vale dizer, sanções impostas pelo Direito 
Civil. Entretanto, ninguém é responsável pelos atos de outrem no que diz respeito a sanções penais. 
 
A resposta à questão de saber se alguém é ou não é responsável exige, portanto, que se esclareça 
previamente de qual responsabilidade se está cogitando, e a perquirição sobre a responsabilidade, por 
seu turno, passa pela questão de saber qual o tipo de sanção prevista para o caso. 
2.4. As espécies de sanção 
São inúmeras as classificações possíveis, posto que são vários os critérios que podem ser adotados e 
a partir de cada critério se pode ter uma classificação diferente, com a indicação de diferentes espécies 
de sanções. Vamos cogitar aqui apenas das sanções ditas cíveis, ou administrativas, e das sanções 
penais. 
Por outro lado, a classificação das sanções, como as classificações de figuras jurídicas em geral, 
quando atinentes ao direito positivo, deve ser formulada em face de cada ordenamento jurídico. Assim, 
neste estudo fica esclarecido que estamos tomando em conta simplesmente o ordenamento jurídico 
brasileiro, e em face deste é que vamos distinguir as sanções cíveis ou administrativas, das sanções 
penais. 
A rigor, pode ser considerada sanção cível, ou administrativa, por excelência, a execução forçada, vale 
dizer, a adoção de meios coercitivos para compelir o devedor à prestação a que está juridicamente 
obrigado, que pode, em certos casos, já incluir, ou até mesmo consistir em outra sanção cível, como a 
multa. Já a sanção penal por excelência é a pena prisional, vale dizer, a privação da liberdade corporal, 
ou liberdade física. 
As sanções cíveis ou administrativas, porém, geralmente se apresentam com conteúdo patrimonial, por 
isto podemos dizer que são sanções patrimoniais. Já as sanções penais atingem mais diretamente a 
pessoa, por isto podemos dizer que são sanções pessoais. Seja como for, porém, o certo é que podem 
existir sanções cíveis sem conteúdo patrimonial, e existem sanções penais de conteúdo patrimonial. 
A distinção pode ser estabelecida em nosso sistema jurídico pelo critério da autoridade competente 
para a respectiva aplicação. As sanções penais, ou criminais, somente podem ser aplicadas pela 
autoridade judiciária, enquanto as sanções cíveis ou administrativas, em princípio, podem ser aplicadas 
pela autoridade administrativa. Esse critério, porém, não nos permite estabelecer distinção válida em 
todos os casos, pois a sanção cível por excelência vale dizer, a execução forçada da obrigação, só 
pode ser aplicada pela autoridade judiciária. E por isto mesmo, as penas pecuniárias, vale dizer, multas 
de natureza administrativa, embora possam ser aplicadas pela autoridade administrativa que constitui o 
crédito respectivo, só se tornam efetivas com a intervenção da autoridade judiciária, na execução fiscal 
correspondente. 
A final, a distinção entre as sanções cíveis ou administrativas e as sanções penais ou criminais é feita 
simplesmente pelo critério da indicação legislativa. É sanção cível ou administrativa aquela que o 
legislador como tal definir, e de natureza penal aquela que assim seja por ele definida. Seja como for, 
uma vez formulada a definição legislativa, tem-se definida a competência da autoridade e o 
procedimento a ser observado para a correspondente aplicação. 
 
A aplicação das sanções penais ou criminais compete à autoridade judiciária e o procedimento a ser 
observado é, salvo disposição legal especial em sentido diverso, o Código de Processo Penal. Já a 
aplicação das sanções cíveis ou administrativas tanto pode ser atribuição da autoridade judiciária, 
como da autoridade administrativa. Da atribuição privativa da autoridade judiciária é a aplicação da 
mais importante sanção cível (Com isto certamente não se pretende excluir a auto-executoriedade dos 
atos administrativos, que entretanto não autoriza, como todos sabem, a execução forçada dos créditos 
da Fazenda Pública, sejam decorrentes de tributos ou de penalidades de qualquer natureza). O 
procedimento a ser observado pela autoridade judiciária é o previsto na lei processual civil, para a 
aplicação da sanção consistente na execução forçada da obrigação, enquanto o procedimento a ser 
observado na aplicação das sanções cíveis ou administrativas em geral é o previsto na legislação 
pertinente ao processo administrativo. 
É certo, porém, que o legislador não é inteiramente livre para definir as sanções em uma ou em outra 
das categorias mencionadas, porque em nossa Constituição existem dispositivos que tornam privativa 
da autoridade judiciária a competência para aplicar as sanções que consubstanciem restrições ou a 
privação da liberdade física (Constituição Federal de 1988, art. 5°, incisos LXI, LXII e LXV, entre 
outros), e assim, tais sanções não podem ser utilmente definidas como cíveis ou administrativas. Em 
outras palavras, as sanções que consubstanciam privação, ou restrição da liberdade física não podem 
ser definidas como cívis ou administrativos, porque isto implicaria retirá-las do regime jurídico próprio 
dessa categoria de sanções. 
As sanções de natureza patrimonial, como as multas, bem como a interdição de certos direitos, podem 
ser aplicadas pela autoridade administrativa. Assim, o legislador é livre para cominar tais sanções tanto 
aos ilícitos cíveis ou administrativos, como aos ilícitos penais. 
Ressalte-se, finalmente, que as sanções cíveis ou administrativas distinguem-se das sanções penais 
pelo rigor com que nestas se exige a instauração de um processo judicial. Relativamente às sanções 
cíveis, ou administrativas, o devedor pode submeter-se, e isto dispensa o processo judicial, que 
somente se faz necessário, em certos casos, em face da resistência do devedor, quando se impõe a 
execução forçada. Já nas sanções penais o processo judicial é indispensável. Em nenhuma hipótese, 
ainda que o acusado concorde, pode haver imposição de pena criminal sem processo. 
2.5. Utilidade da sanção 
A sanção é o meio de que se vale o Direito para desestimular a conduta, ou a omissão, consistente na 
não prestação. Em outras palavras, a finalidade da sanção é dar maior eficácia à norma que institui o 
dever jurídico. 
Assim, a sanção é útil na medida em que é eficaz. E a eficácia da sanção depende, em primeiro lugar e 
acima de tudo de sua viabilidade, que incrementa para o seu destinatário a certeza de que ela 
ocorrerá. Por isto mesmo se diz que o efeito intimidativo da sanção depende mais da certeza de sua 
aplicação do que de sua gravidade. 
Será, portanto, mais eficaz uma sançãopatrimonial cuja aplicação é mais viável, porque definida como 
sanção cível, ou administrativa, do que uma sanção penal, mais grave, e cuja aplicação é menos 
 
provável, em face dos obstáculos decorrentes do formalismo processual que a tornam praticamente 
inviável. 
 
3. A Ilusão da Criminalização 
3.1. Natureza infamante e efeito intimidativo 
Na tentativa de coibir práticas consideradas nocivas aos interesses da sociedade o legislador tem 
utilizado a criminalização dessas práticas, e o aumento das penas para aquelas já definidas como 
crime. É a crença na eficácia da pena criminal. 
É certo que as penas criminais se mostram mais eficazes na medida em que predomina o preconceito, 
especialmente nas classes mais dotadas de riqueza. As penas criminais conservam sua natureza 
infamante, e por isto o efeito intimidativo destas se faz mais forte. 
3.2. O formalismo processual 
Ocorre que os obstáculos criados pelo formalismo processual praticamente inviabilizam a aplicação 
das sanções penais na maioria dos casos, especialmente em se tratando de penas patrimoniais, vale 
dizer, de multas, ou de penas prisionais de menor duração. Exatamente porque o processo penal é 
destinado a aplicação das penas mais severas, especialmente as penas prisionais, inclusive as de 
longa duração, que constituem violenta restrição ao mais importante dos direitos do homem, que é o 
direito à liberdade física, o processo penal oferece o máximo possível de garantias ao réu, no sentido 
de afastar a possibilidade de condenação injusta. 
Esses formalismos processuais são de tal ordem que nos casos de penas patrimoniais, ou de penas 
prisionais de curta duração, um advogado hábil não tem dificuldades para conseguir protelar o 
andamento do processo pelo tempo suficiente a consumação da prescrição. A menos, é claro, que o 
processo seja presidido por juiz também muito hábil, e sobretudo muito arbitrário. 
Seja como for, tais formalismos são necessários à garantia do direito fundamental de liberdade. E não 
podem ser desprezados em um Estado Democrático de Direito. 
3.3. Suavização do preconceito 
Na medida em que se vai tornando mais suave o preconceito contra a pena criminal, na medida em 
que o "homem de bem" já não se sente tão atingido em sua dignidade subjetiva pelo fato de ser réu em 
uma ação penal, o efeito intimidativo se vai enfraquecendo e a eficácia da pena criminal, em 
conseqüência, se vai tornando menor. 
Por tudo isto nos parece que a criminalização das condutas geralmente praticadas no âmbito das 
pessoas jurídicas, condutas pelas quais geralmente são responsáveis indivíduos com melhor posição 
social e econômica, constitui pura ilusão que se vai aos poucos esmaecer. 
 
3.4. A crise dos presídios 
Por outro lado, se a criminalização produzir resultados práticos, e se é verdadeira a afirmação 
freqüentemente feita por autoridades da administração tributária, segundo a qual para cada real pago 
em impostos vários reais são sonegados, teremos extremamente agravada a conhecida crise dos 
presídios, que ficarão ainda mais superlotados. A menos, é claro, que o efeito intimidativo da pena 
produza o milagre de acabar com a sonegação, milagre no qual francamente não acreditamos. 
Na verdade, se fosse eficaz a norma penal, e se os presídios não estivessem mergulhados na crise em 
que se encontram, não estaríamos assistindo o crescimento assustador de crimes os mais diversos, 
praticados quase sempre com violência, para os quais há muito tempo existe a cominação de sanção 
penal. Não obstante a lei penal assistimos "o aumento significativo da prática dos crimes de extorsão, e 
do crime de extorsão mediante seqüestro, tornando-os delitos corriqueiros em nosso país, gerando 
insegurança em toda a sociedade brasileira." (Umberto Luiz Borges D´Durso, Crime de Extorsão e de 
Extorsão mediante Seqüestro, em Panorama da Justiça, Ano 4, nº 24, junho/julho de 2000, pág. 50). 
3.5. Incremento da corrupção e discriminação injusta 
Na perspectiva que se nos afigura mais realista, a criminalização de muitos ilícitos que geralmente 
ocorrem no âmbito das pessoas jurídicas de direito privado, especialmente das empresas, tem 
produzido dois resultados igualmente lamentáveis, a saber: (a) o incremento da corrupção e a 
discriminação injusta. 
O incremento da corrução existe porque o agente do poder público que, com o objetivo de tornar 
efetivo o cumprimento das normas pertinentes à tributação, ou à preservação do meio ambiente, ou a 
qualquer outra ação estatal, fiscalizam as empresas, ficam investidos de poder para instaurar 
processos que poderão resultar, além das sanções administrativas de natureza patrimonial, a ação 
penal contra as pessoas que atuam no âmbito destas. Poder que facilmente descamba para o arbítrio à 
míngua de controle, pois tais agentes atuam como o guarda da esquina, que pode ver, e pode não ver 
o cometimento ilícito. 
A discriminação injusta decorre do fato de que o agente do poder público tenderá a ser mais rigoroso 
exatamente com os menos abastados, em relação aos quais o não ver o ilícito geralmente é menos 
vantajoso. E mais ainda, em relação àqueles que realmente não disponham de meios para fazer com 
que os ilícitos praticados não sejam vistos, ou não queiram, por questão de princípio, utilizar tais meios. 
3.6. A criminalização e a responsabilidade 
Outro grave inconveniente da criminalização de certas condutas está na questão atinente à 
responsabilidade. Enquanto a responsabilidade civil e administrativa, inclusive tributária, em princípio 
independe de elementos subjetivos e por isto pode ser atribuída tanto às pessoas físicas, ou naturais, 
como às pessoas jurídicas, a responsabilidade penal depende, sempre, do elemento subjetivo e por 
isto mesmo só pode ser atribuída às pessoas naturais. 
 
Assim, a criminalização de certos ilícitos que geralmente ocorrem no âmbito das empresas tem 
provocado situações nas quais princípios e normas do direito penal, atinentes a responsabilidade, são 
violados a pretexto de que se precisa viabilizar a sanção penal. Não se pode, porém, admitir tais 
violações em um Estado Democrático de Direito. A necessidade de emprestar eficácia a certas normas 
jurídicas não pode justificar a violação de outras. A sanção, como instrumento capaz de incrementar a 
eficácia da norma, deve ser aplicada sem desobediência aos princípios e normas que regem essa 
aplicação. 
Resulta, assim, de magna importância o estudo da responsabilidade penal no âmbito das pessoas 
jurídicas. Não se pode admitir seja a sanção penal aplicada com fundamento em responsabilidade 
objetiva, porque isto seria violar o princípio fundamental do Direito Penal em um Estado Democrática 
de Direito, segundo o qual não pode haver pena sem culpabilidade. Nem se pode admitir a atribuição 
de responsabilidade penal à pessoa jurídica porque isto faz inútil a criminalização. É o que vamos a 
seguir examinar. 
4. Responsabilidade Penal no Âmbito das Empresas 
4.1. Pessoa jurídica e empresa 
Os conceitos de pessoa jurídica e de empresa, embora às vezes utilizados um pelo outro, 
indistintamente, na verdade não se confundem. Neste estudo, quando cogitamos da responsabilidade 
penal no âmbito da empresa, colhemos a palavra empresa no sentido de pessoa jurídica de direito 
privado, dedicada a atividade econômica. 
No âmbito das pessoas jurídicas de direito público ocorrem inúmeros ilícitos penais, entretanto 
ninguém até agora cogitou da responsabilidade penal dessas pessoas. A responsabilidade penal pelos 
ilícitos ocorridos no âmbito das pessoas jurídicas de direito público tem sido atribuída, com indiscutível 
acerto, às pessoas físicas às quais se pode imputar os cometimentos ilícitos. 
Também não se tem cogitado de atribuira uma pessoa natural, pelo fato de exercer determinado cargo 
público, a responsabilidade penal objetiva, ou a responsabilidade penal por conduta alheia. Salvo, é 
claro, nos casos em que haja participação do imputado, ainda que simplesmente por omissão, e tudo 
nos termos da lei penal tipificadora de cada delito. 
4.2. Os ilícitos e a atividade empresarial 
4.2.1. A legislação sobre crimes ambientais e contra a ordem tributária 
No exercício da atividade empresarial, como de resto em qualquer atividade humana, existe sempre a 
possibilidade de condutas ilícitas. Na atividade empresarial essa possibilidade é aumentada pelo 
próprio objetivo essencial da atividade, que é o lucro. Na tentativa de coibir as práticas ilícitas que 
ocorrem no âmbito das empresas, o legislador brasileiro, na esteira do legislador de outros países, 
optou pela criminalização de certos atos, e até chegou já a atribuir a prática de ilícitos penais à própria 
pessoa jurídica. 
 
Entre as condutas geralmente ocorridas no âmbito das empresas, cuja criminalização tem suscitado 
questões atinentes à responsabilidade penal, destacam-se as relativas à degradação do meio ambiente 
e à sonegação de tributos. 
A Constituição Federal de 1988 previu que "as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio 
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, 
independentemente da obrigação de reparar os danos causados." (Constituição Federal de 1988, art. 
225, § 3º). E em face dessa disposição passaram alguns doutrinadores a afirmar a existência, em 
nosso direito positivo, da responsabilidade penal das pessoas jurídicas (Cfr., entre outros, Vladimir 
Passos de Freitas e Gilberto Passos de Freitas, Crimes contra a natureza, 4ª edição, Editora Revista 
dos Tribunais, São Paulo, 1995, pág. 18). 
Por outro lado, o legislador ordinário estabeleceu que as pessoas jurídicas serão responsabilizadas 
administrativa, civil e penalmente, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu 
representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da entidade 
(Lei nº 9.605, de 12.02.98, art. 3º). Definiu, outrossim, as penas aplicáveis isolada, cumulativa ou 
alternativamente às pessoas jurídicas, especificando multa, penas privativas de direitos e prestação de 
serviços à comunidade. 
No que concerne aos crimes contra a ordem tributária o legislador não chegou a atribuir 
responsabilidade às pessoas jurídicas. Pelo contrário, estabeleceu a responsabilidade de quem, de 
qualquer modo, inclusive por meio de pessoa jurídica, concorre para os crimes de que se cuida, que de 
ser atribuída a cada um na medida de sua culpabilidade. 
4.2.2. Responsabilidade de sócios e administradores 
Não raras são as manifestações doutrinárias e jurisprudenciais, no sentido de ampliar, ainda que de 
forma oblíqua, a responsabilidade de sócios e diretores de pessoas jurídicas por cometimentos ilícitos 
no âmbito das empresas. 
Em matéria de crimes contra o meio ambiente a lei responsabiliza quem, de qualquer forma, concorre 
para a prática daqueles crimes, na medida de sua culpabilidade, e também "o diretor, o administrador, 
o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa 
jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia 
agir para evitá-la." (Lei nº 9.605, de 12.02.98, art. 1º). Atribui, como se vê, às pessoas que menciona, o 
dever de impedir cometimentos criminosos, sob pena de por eles assumir a responsabilidade penal. 
Não é fácil, porém, saber-se até onde esse dispositivo legal produz efeitos práticos, pois não é fácil 
saber-se em que casos o diretor, o administrador, o membro de conselho, etc., pode agir para evitar a 
conduta que vem depois a ser tida como crime contra o meio ambiente. Um diretor acionista 
minoritário, ou mesmo não acionista, cuja permanência no cargo depende da vontade de quem 
deliberou adotar a conduta, ou uma outra das pessoas indicadas, em situação idêntica, teria o dever de 
impedir aquela conduta que suspeitasse ser criminosa ? 
 
Penso que na verdade o dispositivo legal em tela nada acrescentou, posto que o acréscimo que se 
pode nele vislumbrar seria contrário ao preceito constitucional que consagra em nosso ordenamento 
jurídico o princípio da culpabilidade como fundamento da responsabilidade penal. 
Não são raras, porém, as manifestações na doutrina e na jurisprudência que, por via oblíqua, em se 
tratando de crimes ocorridos no âmbito de empresas adotam a responsabilidade penal objetiva, ou 
ainda, o que é mais grave, adotam a responsabilidade penal por fato de outrem. Assim podem ser 
consideradas as manifestações que admitem a instauração de ação penal sem que a denúncia 
descreva de forma individualizada a conduta típica imputada a diretores e administradores de 
empresas, consagrando o que temos denominado denúncia genérica, que na verdade constitui uma 
violação de dispositivo expresso da lei, e um atentado evidente às garantias constitucionais. 
Vejamos. 
4.2.2.1. A denúncia genérica 
Nos termos do art. 41, do Código de Processo Penal, a denúncia ou queixa conterá a exposição do fato 
criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos 
quais se possa identificá-lo. É evidente que se mais de uma pessoa participa da prática ilícita, a 
participação de cada um é circunstância do fato criminoso e como tal deve constar da denúncia (Cf. 
Hugo de Brito Machado, A denúncia genérica nos crimes contra a ordem tributária, Revista Dialética de 
Direito Tributário, Dialética, São Paulo, 1996, nº 12, pág. 28). Assim, em se tratando de fato ocorrido no 
âmbito de uma empresa, entendemos ser necessária a indicação específica da conduta individual de 
quem tenha participado da prática delituosa. 
Há, entretanto, séria divergência nos tribunais, inclusive no Superior Tribunal de Justiça, a respeito da 
questão de saber se é válida a denúncia que não descreve a conduta individual de cada um dos 
acusados por crime contra a ordem tributária, que é exemplo típico de crime geralmente ocorrido no 
âmbito de empresas. 
Os que defendem a validade da denúncia genérica invocam manifestações jurisprudenciais referentes 
aos crimes de ação coletiva, como os assaltos, nos quais se dispensa a descrição individualizada das 
condutas (Cf. Andreas Eisele, Crimes Contra a Ordem Tributária, Dialética, São Paulo, 1998, pág. 
202/204). E os que consideram necessário mitigar esse evidente exagero, sustentam que a 
determinação da participação de cada um no cometimento ilícito pode ser feita durante a instrução. Na 
verdade, porém, esses dois argumentos são falaciosos, como se passa a demonstrar. 
Em primeiro lugar, é evidente o equívoco albergado na comparação entre os crimes de autoria coletiva, 
ou crimes societários, e os crimes cometidos no âmbito de uma empresa dedicada a atividade lícita. 
Crime societário é aquele em que a sociedade é celebrada com o objetivo de praticar a conduta ilícita. 
Nestes, portanto, é razoável admitir-se a desnecessidade da descrição da conduta individual, porque o 
objetivo de cometer o ilícito é comum e constitui o objeto mesmo da sociedade. Há uma sociedade 
criminosa. Já nos crimes praticados no âmbito de uma empresa dedicada a atividade lícita a situação é 
bem diversa. Não há sociedade criminosa. A sociedade é constituída para fins lícitos, e o ilícito 
 
eventualmente ocorrido é fato anômalo que há de ser imputada a quem o tenha praticado, 
independentemente da empresa. 
Admitir-se a denúncia na qual alguém é acusado pelo simples fato de ser gerente, ou diretor, ou até 
simplesmente sócio ou acionista de uma sociedade,como se tem visto, é admitir não apenas a 
responsabilidade objetiva, mas a responsabilidade por fato de outrem, o que indiscutivelmente contraria 
os princípios do Direito Penal de todo o mundo civilizado. 
Por outro lado, só quem não tem vivência do mundo empresarial pode supor que no âmbito de uma 
empresa todos os sócios, ou acionistas, ou mesmo diretores, sabem de tudo o que ali acontece. Muita 
vez pode ocorrer inclusive que um ilícito tributário seja cometido até em detrimento da sociedade, em 
proveito próprio do autor da conduta ilícita, seja ele simples empregado, ou gerente, ou diretor, ou 
acionista, mesmo o controlador. 
Também não vale o argumento segundo o qual a participação de cada qual, exigida expressamente 
pelo art. 11 da Lei nº 8.137, será apurada durante a instrução. A imputação, sabemos todos, dever ser 
prévia. Durante a instrução o que se há de fazer é simplesmente a prova dos fatos imputados aos 
acusados. Não a própria identificação desses fatos. 
Incensurável, portanto, é a orientação jurisprudencial que se vem tornando dominante, e está 
consubstanciada na decisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, cujo único defeito está na 
imprecisão, comum, aliás, na jurisprudência, com que se reporta a crimes societários. A referida 
decisão está assim ementada : 
"A denúncia apenas narra que a diligência fiscal empreendida na empresa T.M.E. apurou omissão no 
recolhimento de quantias descontadas das remunerações pagas a seus empregados devidas à 
Previdência Social, aduzindo que aos denunciados cabia a gestão dos negócios da referida sociedade, 
de acordo com o contrato social. 
A jurisprudência de nossos Tribunais Regionais Federais e do STJ, tradicionalmente, direcionou-se no 
sentido de atenuar a regra hospedada no art. 41 do CPP, afirmando que, nos crimes societários, como 
é a hipótese, não é necessária a descrição individualizada da conduta. Precedentes citados. Remetia-
se para após a instrução criminal a decantação de cada ação criminosa. Presumia-se que a 
responsabilidade decorrente dos atos da empresa era do sócio gerente e que o ônus da elisão desta 
presunção seria somente do acusado. 
Jurisprudência mais moderna, no entanto, tem resguardado ao acusado os princípios constitucionais 
imbricados com o denominado devido processo penal de direito (mais do que legal ). Precedentes do 
STJ, do Tribunal Federal da 3ª Região e desta. Lições doutrinárias citadas. 
Não basta indicar que o gerente não era somente de direito, mas também de fato. Necessário se faz 
que haja minimamente demonstrado o vínculo entre a conduta descrita e a efetivamente praticada ou a 
forma de atuação de cada diretor. 
 
Não se pode transformar o processo numa pena para aquele que tem de se desincumbir de um ônus 
que é da acusação. 
Proscrita nesta hipótese a responsabilidade penal da pessoa jurídica. 
Recurso do MPF improvido para manter a rejeição da denúncia (TRF 2ª Região, Ap. nº 99.02.30671-
3/ão, Ap. nº 99.02.30671-3/J, 5ª Turma, rel. des. era Lúcia Lima, julgado em 25.04.00, v.u., DJU 
13.07.00, p. 274). 
4.2.2.2. Conduta efetiva como condição da responsabilidade 
A questão da responsabilidade penal de sócios e de administradores de empresas suscita, ainda, a 
questão de saber se tal responsabilidade decorre simplesmente da condição de sócio, ou de 
administrador, ou se depende da conduta pessoal efetiva de cada um no cometimento criminoso. 
Na prática, muitos têm sido os casos em que diretores são denunciados simplesmente porque são 
diretores. E em tais casos a questão colocada tem sido a de saber se tais diretores o são apenas de 
direito, ou se efetivamente desempenham atos de administração da empresa, e tem sido admitido que 
se o diretor comprova que, embora sendo diretor, efetivamente não vem exercendo atos de 
administração, sua responsabilidade penal seja excluída. Entretanto, se fica comprovado que o 
acusado exerce de fato a administração, tem-se entendido que esse exercício efetivo da administração 
induz sua responsabilidade penal. 
Penso que ainda não se chegou ao ponto essencial da questão. A responsabilidade penal não pode 
decorrer do fato do exercício da administração da empresa. É claro que se o acusa não é de fato, 
embora o seja de direito, diretor da empresa, não terá ele responsabilidade penal como resultado 
simplesmente de sua condição jurídica. Não basta, porém, que o acusado seja de fato diretor. É 
preciso que tenha praticado a conduta que o coloca na condição de autor, ou de partícipe, no crime. 
Em outras palavras, a responsabilidade penal depende sempre da conduta pessoal, que há de 
configurar autoria, ou participação. 
Assim, se um empregado da empresa, que não tem poder de decisão como administrador, pratica uma 
conduta que em tese configura um crime contra a ordem tributária, por exemplo, sem que nenhum dos 
dirigentes da pessoa jurídica tenha conhecimento do fato, nenhum dos dirigentes pode ser 
responsabilizado penalmente pelo crime (Cfr. Antonio González-Cuéllar García, Defraudaciones a la 
Hacienda Pública en el ámbito empresarial, em Empresa y Derecho Penal ( I ), Cuaderenos de 
Derecho Judicial, Consejo General del Poeder Judicial, Madrid, 1999, pág. 28). 
Não pode prevalecer o argumento de que o empregado age sempre por determinação do dirigente. Em 
certas circunstâncias é razoável presumir-se que assim agiu, mas a regra é a necessidade de 
demonstração de que a conduta do empregado atendeu a orientação de seus superiores, até porque 
em muitos casos essa conduta atende a interesse do próprio empregado, em detrimento do interesse 
da empresa (Trabalhando ainda como contabilista, fui contratado para realizar uma auditoria na filial de 
uma empresa cujos diretores haviam sido informados da prática de subfaturamento, que até então 
ignoravam completamente. Sem maiores dificuldade obtive a confissão do gerente daquela filial, que, 
 
entretanto, ameaçou denunciar o fato às autoridades fiscais dizendo que o praticava a mando dos 
diretores). 
. A Culpabilidade e a Responsabilidade Penal 
5.1. Responsabilidade, imputabilidade e culpabilidade 
As noções de responsabilidade, imputabilidade e culpabilidade estão estreitamente ligadas, e 
certamente por isto nem sempre a doutrina as distingue com clareza. 
Responsabilidade é a aptidão para responder. Em direito penal pode-se dizer que a responsabilidade é 
a aptidão para receber a sanção. É resultante de um conjunto de condições psicológicas 
(responsabilidade subjetiva) ou do simples nexo de causalidade material (responsabilidade objetiva). 
A imputabilidade é o conjunto de condições psicológicas capaz de tornar alguém apto a assumir as 
conseqüências jurídico-penais de seus atos. É um dos pressupostos da responsabilidade subjetiva. 
Está ligada à capacidade de conhecer, de discernir. É, portanto, uma qualidade da pessoa humana. 
Não se confunde com a capacidade porque, como assevera Cernichiaro com propriedade, a 
capacidade é a aptidão, em tese, para responder pelas conseqüências penais da conduta, enquanto a 
imputabilidade é essa aptidão em concreto, verificada no caso específico. Assim, quem tem mais de 18 
anos, tem capacidade penal, porque está, em tese, apto a responder penalmente por seus atos. Se 
padece de doença mental, entretanto, não será imputável (LUIZ VICENTE CERNICHIARO, Direito 
Penal na Constituição, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1990, p. 156/157). 
A culpabilidade é, ao lado da imputabilidade, um pressuposto da punibilidade (DAMÁSIO E. DE JESUS 
afirma que a culpabilidade é pressuposto da pena e não requisito ou elemento do crime. [Direito Penal, 
17ª edição, Saraiva, São Paulo, 1993, vol. 1, p.398]). Há, todavia, quem sustente que a culpabilidade é 
elemento do crime, integra o conceito decrime. No dizer de Cernichiaro, "A culpabilidade, após a teoria 
finalista da ação, elaborada por Welzel e que, no Brasil, a partir dos anos 50, granjeou adeptos, 
entendeu o elemento subjetivo integrante do tipo. À culpabilidade, separada dos elementos anímicos, 
restou conceito axiológico negativo, significando a reprovabilidade ou censurabilidade ao autor do 
delito." (LUIZ VICENTE CERNICHIARO, Direito Penal na Constituição, Editora Revista dos Tribunais, 
São Paulo, 1990, p. 81). 
Seja como for, inquestionável é que, no Direito brasileiro, a culpabilidade é inafastável condição da 
sanção penal. Inexiste entre nós a responsabilidade penal objetiva, fundada simplesmente numa 
relação de causalidade. 
5.2. Culpabilidade ou culpa em sentido amplo 
A palavra culpabilidade tem o mesmo significado que tem a palavra culpa, em sentido amplo. Quer 
dizer o conjunto de circunstâncias que cercam o fato, e o seu autor, das quais se pode inferir quer o 
mesmo quis o resultado de sua conduta, assumiu o risco de produzi-lo, ou embora sem ter a sua 
 
vontade dirigida para o resultado agiu com negligência, imperícia ou imprudência, e por isto se deu o 
fato que a lei define como crime. 
Não bastam para a culpabilidade os elementos objetivos do fato e as circunstâncias objetivas que o 
envolvem. Integram-na também as circunstâncias subjetivas, ligadas ao agente. 
A culpabilidade divide-se em dolo e culpa em sentido estrito 
5.3. O dolo e suas espécies 
Dolo é a vontade dirigida para o resultado da conduta. É a intenção de produzir o resultado. É, assim, o 
que em linguagem leiga entende-se geralmente como culpa. 
Em se tratando dos denominados crimes formais, ou de mera conduta, o dolo se confunde com a 
simples consciência da ilicitude desta, posto que a configuração do crime não exige um resultado 
autonomamente verificável. É a lição de Noronha: "Nos delitos de simples atividade ou mera conduta, 
em que não existe resultado, o dolo é representação, vontade e consciência da ilicitude da ação." (E. 
MAGALHÃES NORONHA, Direito Penal, 29ª edição, Saraiva, São Paulo, 1991, vol. 1, p. 135). 
É importante, todavia, observar que o dolo de que estamos falando é o genérico, e que nos crimes 
formais ou de mera conduta pode a lei exigir, na definição do tipo, o dolo específico. Em tais casos 
evidentemente não bastará, para a configuração do tipo, a consciência da ilicitude, ou dolo genérico. 
O dolo, segundo a doutrina, pode ser: (a) genérico e específico, e (b) direto e indireto ou eventual. 
5.4. Dolo eventual e culpa consciente 
O dolo eventual, ou indireto, aproxima-se muito da culpa consciente, mas com esta não se confunde. 
Em ambos o agente tem a previsão do resultado, mas a atitude interior quanto a este é, no dolo 
eventual, bem diversa daquela que o agente adota na culpa consciente. Há dolo eventual quando o 
agente, prevendo o resultado antijurídico, embora não o deseje assume o risco de produzí-lo. Há culpa 
consciente quando o agente, prevendo o resultado antijurídico, espera sinceramente que o mesmo não 
aconteça. 
A distinção, assim, é nítida. "Carateriza-se a culpa consciente porque, ao lado de uma previsão 
genérica positiva, se coloca uma previsão concreta negativa: o evento não se verificará. No dolo 
eventual, ao contrário, à previsão genérica positiva segue-se outra, de caráter parcialmente positivo: é 
possível que o evento se verifique. Inobstante tal previsão, o agente não se detém. Continua a agir, 
custe o que custar." (PAULO JOSÉ DA COSTA JR., Curso de Direito Penal, Saraiva, São Paulo, vol. 1, 
p. 88). 
Duas são as explicações doutrinárias do dolo eventual: a teoria da probabilidade, e a teoria da vontade. 
Pela primeira, há dolo eventual quando a agente prevê o resultado como provável, e não apenas como 
possível. Pela segunda, existe dolo eventual quando o agente admite o resultado. Depois de examinar 
essas duas teorias, conclui Aníbal Bruno: "O que é essencial é que o dolo eventual se integra por estes 
dois componentes - representação da possibilidade do resultado e anuência a que ele ocorra, 
 
assumindo o agente o risco de produzi-lo." (ANÍBAL BRUNO, Direito Penal, Forense, Rio de Janeiro, 
1959, vol.I, tomo 2º, p. 75). 
Embora seja, na prática, difícil a constatação do elemento necessário à distinção, a relevância desta se 
impõe e impõe que procure aquele valioso elemento por todos os meios disponíveis. Na dúvida, ter-se-
á de concluir pela ocorrência de culpa, e não de dolo, em face do princípio universal de que na dúvida 
se há de decidir a favor do réu. 
5.5. Responsabilidade objetiva 
Considera-se responsabilidade penal objetiva o estado de sujeição a uma sanção criminal 
independentemente de restar demonstrado o dolo ou a culpa, bastando o nexo de causalidade 
material. É a responsabilidade por um acontecimento, atribuída a alguém em virtude apenas de um 
nexo de causalidade material, entre a conduta e o resultado, com exclusão de qualquer contributo do 
elemento subjetivo, seja de conhecimento ou de vontade. No dizer de Vicenzo Cavallo, invocado por 
Magalhães Noronha, é a "responsabilidade do homem esbulhado de tudo quanto nele existe de 
verdadeiramente humano, isto é, da luz espiritual que vivifica todas as ações que executa, bem como 
seus possíveis eventos, equiparando-o em seus atos, qual simples ser físico, aos animais e às forças 
brutas da natureza." (E. MAGALHÃES NORONHA, Direito Penal, 29ª edição, Saraiva, São Paulo, 
1991, vol. 1, p. 144). 
Como assevera Magalhães Noronha, "no estado presente do direito penal, é ela incompreensível. 
Representa um retrocesso a tempos primitivos, em que o homem pagava pelo que fizera, sem 
quaisquer preocupações com o elemento subjetivo. Era o resultado, o dano causado, a clamar sempre 
por uma pena, que nada mais era que vingança. A responsabilidade só pode ter por fundamento a 
vontade humana." (E. MAGALHÃES NORONHA, Direito Penal, 29ª edição, Saraiva, São Paulo, 1991, 
vol. 1, p. 144). 
Ocorre que o pensamento filosófico, em relação à liberdade do homem, tem evoluído ao longo dos 
tempos, e nem sempre prevaleceu a concepção do ser humano dotado de livre arbítrio. Balestra 
registra que a responsabilidade não tem sido fundada sempre na culpabilidade, não coincidindo com 
esta em essência e extensão, e anota, com inteira propriedade: 
"El tema se vincula directamente com los criterios filosóficos que sostienen la libertad o el determinismo 
del hacer humano. (Carlos Fontán Balestra, Tratado de Derecho Penal, Ab eledo-Perrot, Buenos Aires, 
1995, tomo II, pág. 205). 
Assim é que os que se dedicam à história da responsabilidade penal registram, em relação às 
sociedades primitivas: 
"No podemos negar la existencia de una responsabilidad penal en estos pueblos primitivos. Pero ella 
está en función de la organización social en que viven. Ante los principios de la predeterminación y de 
la solidariedadd, la responsabilidad tendrá matices muy rudimentarios, si la compararmos com nuestra 
concepción. El elemento intencional está descartado por el principio de la predeterminación." 
 
(Fernando Perez – Llantada y Gutierrez, S.J., Vision Historica de la Responsabilidad Penal, UCV 
Facultad de Derecho, Caracas, 1972, pág. 13). 
No Direito Penal brasileiro não é razoável cogitar-se de responsabilidade penal objetiva, embora na 
prática não sejam raras as manifestações que, por via oblíqua, dela se aproximam, como é o caso das 
manifestações que admitem a denúncia genérica, já referida neste estudo. Tanto não se pode admitir a 
responsabilidade penal objetiva, no plano pré jurídico, porque estamos já muito distantes da concepção 
filosófica do predeterminismo, como não podemos no plano da lei ordinária, e menos ainda na 
interpretação jurídica, admitir soluçõesque impliquem aceitação da responsabilidade objetiva, em face 
do obstáculo constitucional. 
Com efeito, a Constituição Federal estabelece expressamente que "ninguém será considerado culpado 
até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória" (Constituição Federal de 1988, art. 5º, inciso 
LVII). Por isto mesmo, é inconstitucional qualquer dispositivo legal que adote o princípio da 
responsabilidade objetiva. 
5.6. Culpa presumida 
Há quem admita a aplicação de penas privativas de liberdade aos responsáveis legais ou estatutários 
das pessoas jurídicas (LUIZ MÉLEGA, O sujeito ativo do crime e as pessoas jurídica. A 
responsabilidade criminal e civil dos administradores, em Direito Tributário Atual, Resenha Tributária, 
São Paulo, 1995, vol. 14, 158). Tal assertiva, porém, há de ser entendida em termos. Somente em se 
tratando de crimes na modalidade culposa será possível a aplicação a eles de sanção penal, seja de 
que natureza for. Ocorre que os crimes contra a ordem tributária são, todos eles, dolosos. Assim, não 
se pode admitir a responsabilidade penal dos dirigentes de pessoas jurídicas fundada em culpa 
presumida. 
5.7. Presunção de dolo 
Questão das mais difíceis no processo penal é que diz respeito à demonstração da presença do dolo. 
Como se trata de um elemento puramente subjetivo, de foro íntimo, a prova direta de sua ocorrência só 
é possível pela confissão. 
Admite-se portanto, em princípio, seja a presença do dolo demonstrada mediante provas indiretas, vale 
dizer, mediante presunções. A prova de fatos tidos como exteriorização da vontade dirigida para o 
evento criminoso tem sido considerada suficiente. 
Impõe-se, porém, muita cautela no trato das presunções. O fato de ser o dirigente de uma empresa 
pode ser, em regra, interessado na lucratividade desta não autoriza, por si só, a presunção de haver 
este praticado um ilícito penal porque tal prática ilícita é lucrativa. 
5.8. Responsabilidade da pessoa jurídica. 
A responsabilidade penal das pessoas jurídicas tem sido preconizada como forma de controle de 
certas práticas ilícitas. Há quem sustente, de forma eloqüente aliás, tanto na doutrina estrangeira como 
 
na doutrina brasileira, que do ponto de vista dogmático nada impede a atribuição de responsabilidade 
penal à pessoa jurídica, e do ponto de vista de política criminal isto é mais do que conveniente, 
chegando a ser uma indiscutível necessidade (Cfr. José de Faria Costa, A responsabilidade jurídico-
penal da empresa e dos seus órgãos (ou uma reflexão sobre a alteridade nas pessoas colectivas, à luz 
do Direito Penal), em Temas de Direito Penal Econômico, org. Roberto Podval, Editora Revista dos 
Tribunais, São Paulo, 2000, págs. 159/180). Sustenta-se que já é tempo de abandonarmos o velho 
brocardo segundo o qual a pessoa jurídica não pode delinqüir, pois os entes coletivos são realidades 
evidentes no mundo de hoje, com um vasto potencial danoso em relação à economia e ao ambiente 
natural, reclamando tutela jurídica para a qual o Direito Penal pode bem mostrar-se adequado (Cfr. 
Walter Claudius Rothenburg, A Pessoa Jurídica Criminosa, em Revista dos Tribunais, Editora Revista 
dos Tribunais, São Paulo, julho de 1995, págs. 359/367). 
Há, todavia, respeitável corrente doutrinária em sentido contrário. Entre as manifestações mais bem 
fundamentadas, contrárias à idéia da responsabilidade penal das pessoas jurídicas, destacam as de 
José Henrique Pierangelli (José Henrique Pierangelli, A Responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas 
e a Constituição, em Revista dos Tribunais, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, nº 684, outubro 
de 1992, págs. 278/285), Promotor de Justiça aposentado e Professor de Direito Penal na USP, e 
René Ariel Dotti (René Ariel Dotti, Meio Ambiente e Proteção Penal, em Revista dos Tribunais, Editora 
Revista dos Tribunais, São Paulo, nº 655, maio de 1990, págs. 245/257), Professor Titular de Direito 
Penal na Universidade Federal do Paraná. 
Pierangelli inclusive sustenta que os dispositivos de nossa Constituição, invocados pelos que 
defendem a responsabilidade penal das pessoas jurídicas, não autorizam a conclusão daqueles. E 
assevera que uma interpretação sistemática de nossa Constituição nos leva exatamente a concluir pela 
impossibilidade de responsabilização penal das pessoas jurídicas (José Henrique Pierangelli, A 
Responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas e a Constituição, em Revista dos Tribunais, Editora 
Revista dos Tribunais, São Paulo, nº 684, outubro de 1992, págs. 284/285), tese com a qual 
concordamos inteiramente, não apenas em face dos elementos da hermenêutica, como e 
especialmente em face da finalidade essencial das penas criminais. Tais penas, como ressalta, com 
absoluta propriedade, Ariel Dotti, são inegavelmente aflitivas, tanto que o juiz está legalmente 
autorizado a não aplicá-las "se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão 
grave se torne desnecessária." (René Ariel Dotti, Meio Ambiente e Proteção Penal, em Revista dos 
Tribunais, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, nº 655, maio de 1990, pág. 253). Na verdade a 
pena criminal é sofrimento, é dor, atinge o sentimento, e constitui verdadeira heresia pretender-se que 
uma pessoa jurídica possa sentir os seus efeitos. 
Damásio resume muito bem a questão, embora a final admita que a Constituição Federal de 1988, em 
seus arts. 173, § 5º, e 225, § 3º, determina que a legislação ordinária estabeleça punição da pessoa 
jurídica nos delitos contra a economia popular, a ordem econômica e financeira e o meio ambiente, 
resume muito bem a questão, ensinando: 
A discussão tem origem na própria conceituação dessa entidade. Várias teorias se propuseram à 
solução da questão. Dentre elas, são apontadas a teoria da ficção e a teoria da realidade. 
 
De acordo com a primeira, a personalidade natural é uma criação do direito, sendo que este a recebe 
das mãos da natureza, já formada, e limita-se a reconhecê-la. A personalidade jurídica, ao contrário, 
somente existe por determinação da lei e dentro dos limites por esta fixados. Faltam-lhe os requisitos 
psíquicos da imputabilidade. Não tem consciência e vontade próprias. É uma ficção legal. Assim, não 
tem capacidade penal e, por conseguinte, não pode cometer crimes. Quem por ela atua são seus 
membros diretores, seus representantes. Estes sim são penalmente responsáveis pelos crimes em 
nome dela. 
A esse pensamento se contrapõe a teoria da realidade, também chamada teoria organicista. Vê na 
pessoa jurídica um ser real, um verdadeiro organismo, tendo vontade que não é, simplesmente, a 
soma das vontades dos associados, nem o querer dos administradores. Assim, pode a pessoa jurídica 
delinqüir. Além disso, apresenta tendência criminológica especial, pelos poderosos meios e recursos 
que pode mobilizar. 
Aceita-se a teoria da ficção, afastando-se a responsabilidade penal das pessoas jurídicas: societas 
dellinquere non potest. 
Fora do homem, não se concebe crime. Só ele possui a faculdade de querer. E, como as pessoas 
jurídicas só podem praticar atos através de seus representantes, para sustentar sua capacidade penal, 
dever-se-ia reconhecer consciência e vontade com referência ao ente representado. E isso é absurdo. 
Como dizer que a pessoa jurídica agiu dolosamente? 
E o instituto da pena? Como aplicar-se a pena privativa de liberdade à pessoa jurídica? É concebível 
aplicar-se a um estabelecimento comercial a pena de, p. ex., três meses de detenção? 
Quanto mais se desenvolve o Direito Penal da culpa, mais se monstra insustentável a tese da 
capacidade penal das pessoas jurídicas, que não podem praticar ações, nem sofrer atribuições de 
culpa ou imposição de penas. Esse princípio foi reafirmado por unanimidade noXIII Congresso 
Internacional de Direito Penal, realizado no Cairo, Egito, no período de 1º a 7 de outubro de 1984 
(Damásio E. de Jesus, Direito Penal, 17ª edição, Saraiva, São Paulo, 1993, p. 150). 
Há quem sustente que a Lei n° 9.605/98 realiza o objetivo constitucional da prevenção pela tônica do 
direito criminal, (a) prevendo uma responsabilidade criminal quer para a pessoa jurídica, quer para os 
diretores da empresa, e (b) afastando os problemas de aplicabilidade que existiam face a dificuldades 
da comprovação da responsabilidade dos mandantes do ilícito (Cf. Ney de Barros Bello Filho, 
Responsabilidade Penal Ambiental no Brasil, em Revista da AJUFE, 16° Encontro Nacional de Juízes 
Federais, Fortaleza, 1999, pág 288). 
Sustenta-se, que constitui obstáculo à proteção do meio ambiente sadio e equilibrado "o excessivo 
apego a concepções clássicas do direito penal, como certos dogmas da teoria da culpa ou do nexo de 
causalidade, ou ainda princípios da teoria geral das provas." (Cf. Ney de Barros Bello Filho, 
Responsabilidade Penal Ambiental no Brasil, em Revista da AJUFE, 16° Encontro Nacional de Juízes 
Federais, Fortaleza, 1999, pág 290). Invoca-se doutrina estrangeira para sustentar a conveniência dos 
tipos penais indeterminados e o socorro às normas penais em branco, mitigando-se o princípio da 
 
legalidade. "A flexibilização das normas do direito penal, abandonando-se concepções absolutamente 
clássicas no que pertine a condutas integrantes do tipo e dimensão da responsabilidade," seriam, 
segundo os que assim pensam, exigências da própria evolução da sociedade (Cf. Ney de Barros Bello 
Filho, Responsabilidade Penal Ambiental no Brasil, em Revista da AJUFE, 16° Encontro Nacional de 
Juízes Federais, Fortaleza, 1999, pág 290). Mesmo assim, porém, proclama-se que 
A flexibilização do direito criminal, admitindo-se a existência de um direito penal difuso, não pode ser 
vetor da mitigação do princípio da segurança jurídica. (Cf. Ney de Barros Bello Filho, Responsabilidade 
Penal Ambiental no Brasil, em Revista da AJUFE, 16° Encontro Nacional de Juízes Federais, 
Fortaleza, 1999, pág 291). 
As penas criminais cominadas às pessoas jurídicas a rigor atingem simplesmente o patrimônio destas. 
Mesmo a pena de prestação de serviços à comunidade, que em relação à pessoa natural tem evidente 
sentido educativo, em relação à pessoa jurídica reduz-se a simples ônus patrimonial em virtude da 
impessoalidade da prestação, que pode ser cumprida por qualquer pessoa natural, assumindo a 
pessoa jurídica simplesmente o seu custeio. 
Assim, se as penas criminais cominadas às pessoas jurídicas só atingem o seu patrimônio, e não se 
pode cogitar dos seus efeitos aflitivo e educativo, não se pode vislumbrar nenhuma vantagem na 
atribuição de responsabilidade penal a tais entidades. 
No Direito brasileiro, a imposição de penas criminais é privativa da autoridade Judiciária. As multas de 
natureza administrativa, porém, podem ser aplicadas pela autoridade administrativa, de sorte que 
tornar a aplicação da pena às pessoas jurídicas, nos crimes ocorridos no âmbito das empresas, é 
inteiramente inútil. Assim, mesmo admitindo-se possível, no plano da dogmática jurídica, a 
responsabilidade penal das pessoas jurídicas, tem-se que tal responsabilidade é inconveniente do 
ponto de vista da política criminal, sendo ainda rigorosamente inútil. 
Além de ser inútil, tem o inconveniente de contribuir para o afrouxamento dos controles necessários à 
efetividade das garantias constitucionais do cidadão contra o arbítrio do Estado na aplicação de penas 
criminais. Oportunda, neste contexto, a advertência de Gonzalez: 
"Conviene tener presente que, si bien el modelo que arranca del siglo XVIII no parece sostenible en la 
actualidad, ello no há de suponer un giro copernicano de desastrosas consecuencias: una especie de 
regressión al pasado, malversando el producto, valiosísimo aunque perfectible, que la tradición 
racionalista nos há legado, ni una interpretación ilimitada de la ley, ni menos aun un govierno de los 
jueces, a todas lucres inadmisible." 
"El principio de legalidad, al tracucir implícitamente los elementos más sobresalientes del ideario 
polítido criminal de la Ilustración, representó la inevitabel reacción contra el Derecho penal del Antiguo 
Régimen, el el que era práctica común la reconstgrucción extralegal de la responsabilidad por los 
jueces. A esta libérrima forma de proceder, cuyas secuelas más funestas fueron la incertidumbre y la 
arbitrariedad, se opone el principio nullum crimen sine praevia lege poenali. Esta garantía se instala en 
el elenco jurídico del status libertatis, a modo de derecho fundamental esgrimible frente al Estado, de 
 
modo que la libertad de acción sólo mediante ley puede ser restringida." (Joaquín González, 
Corrupción y Justicia Democrática, Clamores, Madrid, 2000, pág. 257). 
 
6. Síntese conclusiva 
Em face de tudo o que foi aqui exposto, podemos concluir que a responsabilidade penal no âmbito da 
empresa deve ser atribuída apenas às pessoas naturais, e deve ter fundamento na culpabilidade. 
Admitir-se a responsabilidade objetiva é retroceder aos tempos primitivos, quando predominava a idéia 
do predeterminismo, não se reconhecendo ter o ser humano nem a capacidade de discernir entre o 
bem e o mal, nem a vontade livre para se auto determinar. A responsabilidade criminal da pessoa 
jurídica, outrossim, ainda que se pudesse admitir possível do ponto de vista da dogmática jurídica, é 
absolutamente inútil, na medida em que se pode dispor das penas administrativas. Como as penas 
criminais aplicáveis às pessoas jurídicas na verdade apenas afetam o patrimônio, não faz sentido 
utilizá-las, arrostando as dificuldades processuais respectivas, quando muito mais facilmente podem 
ser aplicadas sanções cíveis, ou administrativas, de idênticos resultados. 
Autor do texto 
Hugo de Brito Machado 
Professor titular de Direito Tributário da UFC, presidente do Instituto Cearense de Estudos Tributários 
(ICET), juiz aposentado do Tribunal Regional Federal da 5ª Região. 
 
 
(NBR 6023:2002 ABNT): 
MACHADO, Hugo de Brito. Responsabilidade penal no âmbito das empresas. Jus Navigandi, 
Teresina, ano 7, n. 58, 1ago. 2002. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/3009>. Acesso em: 
23 set. 2012.

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