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Curso de Farmacotécnica em Manipulação MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 98 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores MÓDULO IV 4 BIOFARMACOTÉCNICA Estudo dos processos que ocorrem no organismo a partir da administração da forma farmacêutica, considerando as fases de liberação e dissolução do fármaco que precedem sua absorção. 4.1 FATORES ENVOLVIDOS NA ABSORÇÃO DE FÁRMACOS Os fatores envolvidos na biodisponibilidade ou absorção de um fármaco incluem: I) Fatores físico-químicos A – Natureza química do fármaco: polimorfismo, tamanho da partícula, solubilidade e estabilidade. B – Tipos e quantidade de excipientes: interações com fármaco e influência na sua liberação e dissolução. C – Concentração do fármaco e coeficiente de difusão. II) Fatores fisiológicos: sexo, idade e peso corporal. III) Fatores patológicos 4.1.1 Fases da Ação de um Fármaco Após a administração de um medicamento, o fármaco passa pelas seguintes fases: • Fase biofarmacotécnica: liberação do princípio ativo a partir do medicamento. • Fase farmacocinética: absorção, distribuição, metabolismo e excreção. • Fase farmacodinâmica: interação com a biofase e ação terapêutica. 4.1.2 Classificação Biofarmacotécnica dos Fármacos Quanto à biodisponibilidade intrínseca, os fármacos são classificados em quatro classes: ? CLASSE I: Alta Solubilidade / Alta Permeabilidade ? CLASSE II: Baixa Solubilidade / Alta Permeabilidade 99 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores ? CLASSE III: Alta Solubilidade / Baixa Permeabilidade ? CLASSE IV: Baixa Solubilidade / Baixa Permeabilidade 4.2 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO Como foi visto no módulo anterior, as formas mais populares de classificação dos medicamentos dizem respeito à via de administração ou forma física. Assim, pode-se encontrar em drogarias e farmácias as mais diversas formas físicas de medicamentos, incluindo: Formas líquidas - soluções, suspensões ou emulsões de uso tópico (ex.: duchas, enemas, colutórios, gargarejos, errinos, colírios), oral (ex.: xaropes, gotas) ou injetável. Formas semi-sólidas – pomadas, pastas, cremes e géis de ação superficial (epidérmica), média (endodérmica) ou sistêmica (diadérmica), para aplicação na pele ou mucosas. Formas plásticas – incluem, além das formas semi-sólidas de uso tópico, os supositórios, óvulos e velas, respectivamente para aplicação retal, vaginal e uretral. Formas sólidas – incluem pós, granulados, cápsulas, comprimidos, pellets, pílulas, pastilhas, drágeas, bolos e geléias - as quais, embora predominantemente destinem-se à absorção via trato gastrintestinal (TGI), podem ser apresentadas em comprimidos vaginais ou sublinguais, bem como nos pellets subcutâneos (vias alternativas de absorção). Formas gasosas – incluem aerossóis e sprays para aplicação tópica, nasal ou bucal, bem como formas de uso veterinário, hospitalar ou mesmo caseiro, como as fumigações, vaporizações, inalações etc. Algumas destas formas farmacêuticas merecem destaque no que diz respeito à via de administração, seja pelas características anátomo-fisiológicas, seja pela importância terapêutica. Enfim, cada forma farmacêutica se adequa melhor a uma determinada via de administração. Por sua, vez a melhor via de administração é definida por vários fatores, os quais incluem: Fatores farmacológicos - biodisponibilidade do fármaco (tempo de absorção, meia-vida e velocidade de resposta), alvo molecular de ação... 100 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Fatores patológicos – gravidade da doença, órgãos potencialmente atingidos, estado do paciente... Fatores físico-químicos - estabilidade do fármaco, solubilidade, coeficiente de partição... Fatores diversos – biocompatibilidade, incompatibilidades, características anátomo-fisiológicas ... 4.3 VIA TÓPICA Termos como USO TÓPICO ou VIA TÓPICA são trocados por USO EXTERNO ou VIA CUTÂNEA de modo tão deliberado, que freqüentemente geram dúvidas quanto ao verdadeiro significado do termo tópico. No que diz respeito ao espectro de ação, os medicamentos podem ser tópicos (ação local) ou sistêmicos. Assim, pode-se entender por produto de uso tópico todo aquele que, aplicado a um determinado local, não atinja o sistema circulatório. Dependendo das características do produto a via tópica se estende não somente à pele e anexos, como também mucosas oftálmicas, vaginais, retais e bucais, bem como a outras cavidades internas, tais como nariz e ouvido. A pele merece destaque por ser o segundo maior órgão do corpo humano, perdendo apenas para esqueleto ósseo. A importância da pele se justifica ainda por suas funções que incluem: ? Função sensorial. ? Função nutricional (biossíntese de vitamina D). ? Excreção e balanço eletrolítico (suor). ? Termoregulação (transpiração). ? Fotoproteção (melanina). ? Proteção (mecânica, química e imunológica). A proteção química a xenobióticos se dá pela impermeabilidade da pele à maioria das substâncias não-gasosas. Entretanto, como já foi visto em formas semi-sólidas, a absorção percutânea, dependendo de fatores físico-químicos diversos (pH, pKa, log P, concentração, coeficiente de difusão, etc.) ou anatomofisiológicos, não é desprezível. As principais vias de absorção cutânea são a região folicular, os ductos sudoríparos e o extrato córneo descontínuo. Os mecanismos de permeação cutânea podem ser: intracelular, intercelular e transanexial (folículos). Para entender a absorção percutânea é necessário conhecer as características anátomo-fisiológicas da pele e anexos. 4.3.1 Anátomo-fisiologia da pele A pele é constituída basicamente por três camadas (Fig. 7): epiderme, derme (endoderme) e hipoderme (diaderme). 101 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Glândulas Hipopiderme Epiderme Poro Pelo Mesoderme Fig. 7 Estrutura da pele A epiderme é um epitélio estratificado pavimentoso avascular e pouco hidratado, composto por queratinócitos (80%), melanócitos (13%), células de Langerhans (4%) e células de Merkel. Este epitélio é disposto em três camadas: o extrato córneo, a camada granulosa e a camada basal. No caso da planta dos pés e palma das mãos temos ainda o espesso extrato lúcido. O extrato córneo é uma barreira impermeável formada por células queratinizadas. Na parte mais externa, camada descamativa (camada descamante de Ranvier), é composto por células mortas e revestido por uma emulsão epitelial formada predominantemente por sebo. A camada granulosa, glicoprotéica, caracteriza-se pelo armazenamento de queratina, sendo que a produção desta proteína é feita por células especializadas 102 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditosdeste conteúdo são dados a seus respectivos autores denominadas queratinócitos. Outra proteína de destaque presente na epiderme é a melanina, produzida pelos melanócitos e responsável direta pela fotoproteção. Na interface entre derme e epiderme encontram-se as células basais (corpúsculo de Malpighi), responsáveis pela multiplicação celular, importantes para o processo descamativo do epitélio, o qual garante renovação e proteção. A espessura da epiderme média varia de 0,06 a 1 mm, podendo chegar a 1,5 mm na região das palmas das mãos e planta dos pés, ou 0,04 para pálpebras. A derme é formada por tecido conjuntivo composto por proteínas fibrosas (colágeno 74% , elastina 4%, e reticulina 4%). É enervada, vascularizada (sistema linfático e sangüíneo) e apresenta alto grau de hidratação, conferido pela presença de vários componentes que integram o NMF - fator natural de hidratação (ex.:mucopolissacarídeos, lactatos, aminoácidos, eletrólitos etc.), bem como pela característica oclusiva da emulsão epitelial. Entre as células da derme destacam-se os fibroblastos, responsáveis pela biossíntese do material conjuntivo, os mastócitos e histócitos, que além de apresentarem natureza conjuntiva conferem proteção biológica, e os linfócitos, relacionados a funções sensoriais, vasculares e imunológicas. Na derme se fixa-se a base de vários anexos da pele, como o aparato pilosebáceo (pelos e glândulas sebáceas) e as glândulas sudoríparas. A hipoderme, camada mais profunda, espessa e irrigada da pele, é formada predominantemente por adipócitos e fibroblastos. No tecido adiposo, os adipócitos são organizados em blocos por tecido fibroso, garantindo ótima proteção mecânica. A função armazenadora de gordura dos adipócitos confere ainda à hipoderme funções de reservatório energético e de isolamento térmico. A vascularização, que é maior tanto pelo sistema linfático, quanto sangüíneo, confere à hipoderme proteção imunológica e absorção sistêmica. Os principais anexos cutâneos incluem: glândulas sudoríparas apócrinas e écrinas, aparelho pilossebáceo e unhas. O pH cutâneo é regulado pelas secreções glandulares e situa-se em torno de 4,5, contribuindo de modo importante para defesa da pele. Outrossim, o valor de pH varia de uma região para outra, podendo atingir 7,2 nos espaços interdigitais ou 8 em doenças da pele. A psoríase, por outro lado, tende a aumentar a acidez da pele. 103 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 4.3.2 Preparações Tópicas As preparações tópicas incluem todas as formas líquidas, semi-sólidas e sólidas destinadas, predominantemente, a uma ação local ou superficial. De modo geral, as preparações destinadas à pele, exceto em casos extremos, não necessitam de ajuste de pH. As preparações de uso tópico cutâneo toleraram pH´s e diferenças de tonicidade relativamente agressivas. Enquanto as formas semi-sólidas, como pomadas, cremes e géis, são basicamente destinadas ao uso tópico cutâneo, as formas sólidas e líquidas são, na maioria, destinadas à ação sistêmica. Por outro lado, existem várias preparações líquidas de uso tópico, cujo conceito está atrelado a vias de administração tópicas bastante específicas. CCoolluuttóórriiooss: forma farmacêutica líquida viscosa que se destina à aplicação tópica sobre as gengivas e partes internas da boca. Geralmente é veiculado na forma de spray e deve apresentar, além de estabilidade adequada, sabor agradável. São exemplos de colutórios o Colubiazol®, Flogoral®, hexamedine® e preparações com própolis e mel. Os componentes usuais incluem: fármacos (anti-sépticos: clorexidina; antibióticos: tirotricina; anestésicos: xilocaína), veículos (glicerina, propilenoglicol, xarope, mel), flavorizantes (menta, essência de hortelã, essência de tutti-fruti), corantes (amarelo de tartrazina), conservantes (parabenos, sais de amônio quaternário). GGaarrggaarreejjooss: forma farmacêutica líquida, em geral aquosa, destinada à profilaxia e assepsia da boca e garganta. Não devem ser deglutidos. Muitas vezes é uma solução concentrada que no momento do uso é diluída. Além de estabilidade devem apresentar baixa viscosidade e sabor adocicado. Têm propriedades anti-séptica, refrescante e desodorizante, podendo ainda conter: Flúor, quando destinada à higiene bucal após escovação. Adstringentes, para auxiliar a cicatrização e/ou tratamento de gengivites e inflamações bucais. 104 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Exemplos de preparações comerciais para gargarejos são Cepacol®, Periogard® e Listerine®. Os componentes usuais incluem: fármacos (clorexidina, cloreto de cetilpiridpínio ou outros anti-sépticos), antioxidantes (metabissulfito de sódio), corantes (amarelo de tartrazina), flavorizantes (mentol), conservantes (cloreto de benzalcônio, parabenos), veículos (glicerina, água, propilenoglicol). EEnneemmaass: forma farmacêutica líquida destinada à aplicação retal com fim laxativo ou para produzir efeito local ou sistêmico. Os requisitos básicos destas preparações são estabilidade e viscosidade adequada. Os componentes usuais são fármacos (aminofilina, hidrocortisona, fosfatos de sódio, docusato de potássio, glicerina, óleo mineral leve), veículo (glicerina: água, óleo mineral, óleos vegetais). Como exemplos de enemas temos as soluções laxantes, soluções concentradas de mono e di-fosfato de sódio. DDuucchhaass: forma farmacêutica líquida destinada a ser introduzida em cavidades do corpo para limpeza ou ação local anti-séptica - faríngea, vaginal, ocular, nasal. Em alguns casos devem ser estéreis. SSoolluuççõõeess oottoollóóggiiccaass (soluções auriculares ou áureas): são formas farmacêuticas empregadas para tratar afecções do ouvido em geral, para combater dor e infecção ou remover o excesso de cerúmen. O acúmulo de cerúmen pode levar à surdez e à predisposição a infecções. A maioria das otites é causada por bactérias (pseudomonas aeruginosa, Proteus vulgaris, estreptococos e estafilococus). Os requisitos para preparações otológicas incluem, além de estabilidade, viscosidade adequada para maior contato com a mucosa e pH entre 5,0 e 7,0 (o ideal é 5,0, já que nas otites o pH geralmente se eleva para alcalino). Os componentes usuais incluem: fármacos (antibióticos: cloranfenicol, sulfato de neomicina, gentamicina, sulfato de polimixina B, nistatina, borato de 8-hidroquinolina; corticóides: dexametasona, hidrocortisona, valerato de betametasona, acetonido de fluocinolona; anestésicos: lidocaína, tetracaína, benzocaína; para remoção de cerúmen: H2O2 10v, trietanolamina, bicarbonato de sódio), veículos (glicerina, Propileno:PEG´s), 105 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores conservantes (cloreto de benzalcônio, clorobutanol, parabenos), antioxidantes (sulfito de sódio, metabissulfito de sódio) e tampões (ácido bórico/borato; fosfato mono e dissódico). 4.4 VIA NASAL A via nasal merece destaque pela característica do epitélio nasal, que é altamente vascularizado, podendo-se obter tanto ação tópica quanto sistêmica, bem como pela importância fisiológica do nariz. Por outro lado, o nariz é um reservatório importante para agentes infecciosos, especialmente vírus e microorganismos causadores de doenças. Doenças alérgicas afetam as condições normais da mucosa nasal. Uma resposta excessiva do sistema secretorà irritação pode eliminar a solução do fármaco colocada na cavidade nasal antes que seja absorvido pela membrana nasal. São reações comuns a estímulos irritantes: vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar, exsudação, hipersecreção mucosa, obstrução das vias respiratórias, movimento ciliar aumentado, aumento da temperatura local e espirros. 4.4.1 Anátomo-Fisiologia do Nariz O epitélio nasal é muito vascularizado, rico em elementos mucosos, tem alta capacidade de absorção, permitindo taxa e extensão de absorção comparáveis à via intravenosa; é coberto por uma camada de muco que é escorrido posteriormente pelos cílios. Em contrapartida, o muco renova-se a cada 10 minutos (produção diária de cerca de 1,5 a 2L), fato que pode constituir-se, eventualmente, numa barreira à absorção. Além do muco outras secreções das glândulas nasais, lacrimais e transudatos plasmáticos são também produzidas. A composição destas secreções é complexa, podendo ser detectada a presença de mucoproteínas, glicoproteínas, enzimas, lisozima, IgA, IgE, IgG, albuminas, prostaglandinas, histamina. 4.4.1.1 Preparações nasais (errinos) Os errinos são formas líquidas destinadas à administração nasal de fármacos para ação local (limpeza, ação descongestionante, antiinflamatória e anti-histamínica) ou sistêmica (hormônios). Devem ser estéreis, isotônicos e respeitar a faixa de pH de 6,4 a 106 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 9,0. Entretanto, errinos devem ter, preferencialmente, pH entre 5 e 7, sendo que zonas básicas não são fisiológicas e favorecem o crescimento bacteriano. Na preparação de errinos não devem ser utilizados solventes que alterem a viscosidade do muco e diminuam o movimento ciliar (ex.: óleos vegetais ou minerais, glicerina acima de 10%, álcool acima de 10%, polietilenoglicóis acima de 1%), bem como substâncias que causem paralisia do movimento ciliar (ex.: ácido bórico). Componentes usuais: fármacos (antibióticos: estreptomicina, neomicina, tirotricina; anti-histamínicos: cromoglicato de sódio; antiinflamatórios: dexametasona; hormônios: ocitocina; descongestionantes: efedrina, naftilimidazolinas), conservantes (parabenos e clorobutanol), tampões (fosfato/difosfato de sódio ou potássio), isotonizantes (NaCl, dextrose, K2SO4, Na2SO4,), veículo (aquoso de baixa viscosidade). 4.5 VIA OFTÁLMICA A absorção via oftálmica se processa pela conjuntiva e depende da solubilidade do fármaco, permeabilidade do fármaco pelas membranas, pH e sistema tampão, concentração do fármaco no colírio, presença de estímulos irritantes (ex.: falta de isotonia). As formas líquidas instiladas são rapidamente eliminadas pelas lágrimas, apresentando ação de no máximo 5 minutos, o que exige repetidas aplicações. A instilação é feita no saco conjuntival; quando são recomendadas aplicações repetidas, estas devem ser feitas em intervalos de 5 minutos. 4.5.1 Anátomo-Fisiologia do Olho No que diz respeito à absorção oftálmica, destacam-se os papéis da córnea, conjuntiva e lágrima. A córnea é uma membrana que reveste o globo ocular, pouco irrigada, mas muito enervada e, portanto, muito sensível a estímulos dolorosos. A conjuntiva é uma membrana que reveste externamente a córnea e internamente as pálpebras. É bastante vascularizada, permitindo a absorção e eliminação de fármacos, e também rica em elementos mucosos. É responsável pela formação de um filme aquoso composto de mucopolissacarídeos, que se renova constantemente, e pela manutenção da umidade do globo ocular. 107 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores A lágrima é um líquido viscoso (coloidal), composto por proteínas (incluindo a lisozima) e eletrólitos, que banha o epitélio de revestimento com fim de proteção e lubrificação. O contato com materiais estranhos no epitélio estimula o aumento da produção de lágrima para remoção do agente irritante para as fossas nasais. Fato este que, aliado a interações com proteínas e mucopolissacarídeos, pode se opor à absorção. Outrossim, considerando-se que o volume de uma gota varia de 25 a 50 μL e que o volume médio dos fluidos oculares é de apenas 7 μL, boa parte da dose administrada é perdida. 4.5..1.1 Preparações oftálmicas (colírios) Colírios são formas farmacêuticas líquidas estéreis destinadas ao tratamento de afecções do globo ocular, incluindo pálpebras, conjuntiva e córnea, ao preparo pré- operatório, para fins diagnósticos ou limpeza do globo ocular. No que diz respeito à isotonia, ressalta-se que a lágrima, como os demais fluidos biológios, equivale à solução NaCl 0,9%. A osmolaridade ideal é de 300 mOsm/L, sendo aceitável valores de tonicidade entre 200 e 600 mOsm/L. Quanto ao pH, dada a renovação da lágrima e fluidos da conjuntiva, aceita-se uma ampla faixa, que vai de 5,8 a 11,4. Entretanto, a faixa ideal que não produz dor deve ser de 7,2 a 9,5. Quanto ao grau de dispersão, preferencialmente os colírios devem ser soluções. Entretanto, suspensões oftálmicas de partículas micronizadas (∅ ≤10μm) são permitidas e podem apresentar como vantagem tempo prolongado de ação. Outras preparações de interesse oftálmico que devem apresentar os mesmos requisitos exigidos para colírios incluem: pomadas para uso oftálmico e soluções de limpeza e manutenção de lentes de contato. Todas as formas oftálmicas são preparadas em condições de assepsia com matérias-primas estéreis. O acondicionamento é idealmente feito em vidros tipo I ou plástico. O processo de esterilização normalmente empregado é o calor úmido (autoclave). Para soluções oftálmicas pode-se empregar ainda a filtração esterilizante. 108 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Nas pomadas, o fármaco é adicionado na forma de solução ou finamente dividido (micronizado) em bases adequadas, como vaselina branca ou lanolina. Componentes usuais: fármacos (antibióticos: cloranfenicol, ciproloxacino; anti- sépticos: cloreto de benzalcônio; colinérgicos: pilocarpina, atropina; agentes de diagnóstico: corantes; anestésicos: benzocaína, xilocaina), antioxidantes (ácido ascórbico, sulfito e metabissulfito de sódio, tioúreia), quelantes (EDTA e ácido cítrico), tampões (solução de Palizsch: ácido bórico/borato de sódio; solução de Sorensen: fosfato de sódio/difosfato de sódio; solução de Atkin: ácido bórico/carbonato de sódio), conservantes (cloreto de benzalcônio, cloreto de benzetônio, clorobutanol, parabenos), viscosificantes (hidroxietilcelulose, hidroxipropilcelulose, metilcelulose, álcool polivínilico, polivinilpirrolidona), isotonizantes (NaCl, dextrose e ácido bórico), veículos (água estéril). 4.6 VIA INJETÁVEL Entende-se por via de administração parenteral qualquer via interna que não pertença ao trato gastrintestinal (TGI). A via injetável, ou parenteral, apresenta como principal vantagem a rapidez e proporção com que se pode disponibilizar o fármaco em nível sistêmico, já que por esta via os problemas com absorção e metabolismo são nulos ou bastante reduzidos. Outras vantagens incluem: possibilidade de administração em pacientes debilitados, ausência de problemas de aceitabilidade relacionados a aspectos organolépticos, possibilidade de absorção completa (via endovenosa) ou ação localizada (via intramuscular e subcutânea). Apresenta como desvantagens o risco devido à dificuldade de se reverter oprocesso de absorção e necessidade de pessoal especializado para administração. Considerando-se a vulnerabilidade da via parenteral, todos os produtos injetáveis devem ser estéreis e apirogênicos. E, exceto para produtos IV de baixo volume, estes devem ser necessariamente isotônicos e isoídricos. Componentes usuais: fármacos (antibióticos, vacinas, quimioterápicos, antiinflamatórios, antieméticos), conservantes (parabenos), antioxidantes (ácido ascórbico, BHT, tocoferol), quelantes (EDTA), tampões (fosfato, acetato, citrato), agentes solubilizantes (tensoativos não-iônicos: lecitina, Tween®, span®), espessantes como sorbitol, gelatina, metilcelulose, CMC), veículos (água, óleos, álcoois, glicerina, 109 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores propilenoglicol, dioxanos, lanolina), coadjuvantes terapêuticos (anestésicos locais: procaína 1%, álcool benzílico < 5%). As principais vias parenterais são: intravenosa, intramuscular, intradérmica, subcutânea e intra-raquidiana. 4.6.1 Intravenosa (IV) A administração IV é feita nas veias do braço, preferencialmente soluções, excepcionalmente suspensões com partículas micronizadas (∅ de 1 a 2 μm) e raramente emulsões. Os volumes injetados variam de 0,5 a >1000 ml, sendo que os desvios aceitáveis de pH e tonicidade são maiores para pequenos volumes. Em geral aceitam-se desvios de 0,4% de NaCl e pH entre 6,0 e 7,5. Por outro lado, a injeção IV de grandes volumes com desvio significativo de pH pode causar tromboflebites. A velocidade de administração IV pode ser rápida (< 1 minuto) para volumes pequenos, lenta (1 a 10 minutos), perfusão intermitente para volumes entre 50 e 100 mL e perfusão contínua para volumes superiores a 500 mL. A ação é imediata e a biodisponibilidade é total; não há etapa de absorção. Deste modo, a via IV é a de maior risco de reações secundárias (choque anafilático) e infecções. 4.6.2 Intramuscular (IM) A administração IM é feita, em geral, nos glúteos, músculos da coxa ou do braço. Os músculos estriados apresentam boa vascularização e pequena inervação sensitiva. Formas líquidas (soluções, suspensões e emulsões), bem como sólidas (pellets) são possíveis. O volume injetado não deve ultrapassar 10 ml, sendo o ideal máximo de 2 mL para deltóide e 5 ml para glúteo. As soluções são obrigatoriamente isotônicas, sendo permitida ligeira hipertonicidade para aumentar a absorção. Soluções oleosas são permitidas, mas devem apresentar viscosidade adequada para viabilizar a absorção e a biocompatibilidade. O pH deve ser ajustado para valores entre 4,5 e 8,5. Valores diferentes de pH, bem como soluções hiper ou hipotônicas podem causar dor, inflamação, precipitação de proteínas e necrose do tecido. Apresenta como desvantagens o risco 110 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores devido à dificuldade de se reverter o processo de absorção e necessidade de pessoal especializado para administração. 4.6.3 Intradérmica (ID) A injeção ID é feita geralmente na derme da face anterior do braço. Os volumes variam de 0,06 a 0,18 mL e, dada a baixa vascularização desta via, é indicada apenas para diagnóstico. 4.6.4 Subcutânea (SC) Também denominada via hipodérmica, a via SC aceita volumes de, no máximo, 2 ml. Permite a administração de formas líquidas (soluções, suspensões e emulsões) ou sólidas (pellets). Embora seja a camada mais vascularizada da pele, a absorção é lenta, sendo eventualmente indicada a adição de hialuronidase. 4.6.5 Intra-raquidiana (IR) A via IR, também denominada intratecal ou intraespinhal, é utilizada quando o fármaco não atravessa a barreira hematoencefálica. A formulação não deve conter conservante, devendo ser aquosa, isotônica, isoídrica e rigorosamente estéril e apirogênica. 4.7 VIA ORAL Quando de deseja ação sistêmica, a via oral é a mais conveniente e, portanto, a mais utilizada. Entre as formas farmacêuticas de uso oral e interno destacam-se os produtos sólidos (comprimidos, cápsulas e drágeas) e líquidos (gotas, xaropes, elixires), bem como geléias. O grande diferencial desta via está no fato de que o TGI é um órgão especializado na digestão e absorção, funções responsáveis tanto pelo aspecto negativo da instabilidade, quanto positivo da boa biodisponibilidade. No caso das soluções orais não há necessidade fisiológica de se corrigir o pH ou a tonicidade, desde que estes não sejam muito agressivos. 111 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 4.8 VIA RETAL A via retal é uma alternativa à via injetável e oral, que em virtude da alta vascularização pode apresentar também ótima absorção sistêmica. Em relação à via injetável apresenta a vantagem de não requerer pessoa qualificada para administração, porém os níveis de absorção são em geral menores. Já em relação à via oral apresenta como principal vantagem o fato de se evitar por esta via a ação do suco gástrico e entérico, porém perde, obviamente, no quesito conveniência. Em resumo, os aspectos mais relevantes da administração retal são: • Absorção relativamente rápida, porém pode ser incompleta e irregular; • Empregada para fármacos de ação local (ex.: laxativos e anti-hemorroidários) ou sistêmica (ex.: analgésicos, antitérmicos e antiinflamatórios); • Evita ação secreções do TGI; • Estima-se que apenas 50% da dose sofra metabolismo de primeira passagem (passe pelo fígado); • Útil quando não é possível utilizar a via oral, como por exemplo, em casos de inconsciência ou de fármacos irritantes à mucosa gástrica, fármacos nauseantes etc.; • Útil para uso pediátrico. 4.9 VIA VAGINAL E URETRAL A mucosa vaginal e da uretra são bem vascularizadas e podem propiciar ação sistêmica. Entretanto, de modo geral tais vias visam ação localizada e são destinadas a medicamentos quimioterápicos utilizados no tratamento de infecções. O pH vaginal varia de 4,6 a 7,0, dependendo da idade e composição da flora bacteriana, sendo, em geral, mais alcalino após a menopausa. ------ FIM DO MÓDULO IV ------ 112 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 1. ANSEL, H. C.; POPOVICH, N.G.; ALLEN, L.V. Farmacotécnica: formas farmacêuticas e sistema de liberação de fármacos. São Paulo: Premier, 1999. 2. ANSEL, H.C., PRINCE, S.J., Manual de Cálculos Farmacêuticos, Tradução: Elenara Lemos Senna, Porto Alegre: Artemed, 2005. 3. BANKER, G.S.; RHODES, C.T. Modern pharmaceutics. 3 ed. New York: Marcel Dekker, 1996. 4. BRITHISH PHARMACOPOEIA 2002, London: British Pharmacopoeia Commission, The Stationary Office, 2002. 5. COLLET, D.M.; AULTON, M.E. Pharmaceutical practice. 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Para entender a absorção percutânea é necessário conhecer as características anátomo-fisiológicas da pele e anexos. 4.3.2 Preparações Tópicas 4.4.1 Anátomo-Fisiologia do Nariz 4.5.1 Anátomo-Fisiologia do Olho
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