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Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 1 Macroeconomia em Economia Aberta O mercado de bens em uma economia aberta Prof. Carlos Henrique Horn Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Ciências Econômicas Departamento de Economia e Relações Internacionais ECO-02/236 – Teoria Macroeconômica I Estrutura da exposição Referência: Blanchard (2011): cap. 19 Examina o mercado de bens em uma economia aberta. 1. Equilíbrio no mercado de bens em uma economia aberta (relação IS na economia aberta). 2. Consequências de aumentos na demanda doméstica e na demanda estrangeira. 3. Efeitos da depreciação real sobre a balança comercial e o produto. 4. Relações entre poupança, investimento e balança comercial. 2 Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 2 Mercado de bens na economia aberta (relação IS) Conteúdo da seção 3 1. Distinção entre demanda por bens domésticos e demanda doméstica por bens. 2. Determinantes de C, I e G. 3. Determinantes das importações. 4. Determinantes das exportações. 5. Relações entre demanda doméstica, demanda por bens domésticos e exportações líquidas. Mercado de bens na economia aberta Demanda por bens domésticos e Demanda doméstica por bens 4 • Demanda por bens domésticos: é a demanda de origem interna (doméstica) ou externa que se dirige a adquirir bens produzidos na economia doméstica. Z = C + I + G + (X – IM/ε) IM/ε = valor das importações em termos de bens domésticos (valor denominado na moeda doméstica) • Demanda doméstica por bens (absorção interna): é a demanda originada nos setores residentes na economia nacional e que se dirige tanto à produção doméstica quanto à produção estrangeira. Demanda doméstica = C + I + G Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 3 Mercado de bens na economia aberta Determinantes de C, I e G 5 • A abertura comercial (exportações e importações): – Não afeta o nível do gasto. – Afeta a composição do gasto (entre bens domésticos e bens estrangeiros). • Determinantes de consumo privado, investimento e gastos do governo. O modelo básico da demanda (doméstica) é o seguinte: Y = C(Y – T) + I(Y , r) + G ( + ) (+ , –) Mercado de bens na economia aberta Determinantes das importações 6 • As importações IM representam a parcela da demanda doméstica que se dirige a bens estrangeiros. • As importações dependem de: – Renda (ou produto) doméstica Y. Um aumento em Y implica maior nível de IM. – Taxa real de câmbio ε. Lembrando: ε = E(P/P*). A taxa real de câmbio ε informa o preço dos bens domésticos em termos de bens estrangeiros (preço relativo). Um aumento em ε significa que o preço relativo dos bens domésticos aumentou (economia nacional “mais cara”) e vice-versa. • Função de importações: IM = IM(Y , ε) (+ , +) Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 4 Mercado de bens na economia aberta Determinantes das exportações 7 • As exportações X representam a parcela da demanda estrangeira que se dirige a bens domésticos. • As exportações dependem de: – Renda (ou produto) estrangeira Y*. Um aumento em Y* implica maior nível de X. – Taxa real de câmbio ε. Um aumento em ε significa que o preço relativo dos bens domésticos aumentou (economia nacional “mais cara”) e vice- versa. • Função de exportações: X = X(Y* , ε) (+ , –) Mercado de bens na economia aberta Exportações líquidas e condição de equilíbrio 8 • Definimos: Demanda doméstica: D = C + I + G Demanda por bens domésticos: Z = C + I + G + (X – IM/ε) Exportações líquidas: (X – IM/ε) • Logo: Se D = Z, (X – IM/ε) = 0 Se D > Z, (X – IM/ε) < 0 (déficit comercial) Se D < Z, (X – IM/ε) > 0 (superávit comercial) • A condição de equilíbrio no mercado de bens (produto = demanda) é dada por: Y = C(Y – T) + I(Y,r) + G + [ X(Y*,ε) – IM(Y,ε)/ε ] Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 5 Mercado de bens na economia aberta Exportações líquidas: ilustração gráfica 9 • A Figura 19.1 ilustra a relação entre demanda doméstica, demanda por bens domésticos e exportações líquidas. • O que ocorre quando Y aumenta? – Aumenta a demanda doméstica (mercado interno): curva DD. – Aumentam as importações (IM/ε). Curva AA (DD – IM/ε) é a demanda doméstica por bens domésticos. – Aumenta a demanda por bens domésticos: curva ZZ. Curva ZZ (AA + X) supõe X = cte. (ε = cte.). • No ponto YTB, temos (X – IM/ε) igual a zero (D = Z). – Um aumento da renda a partir do ponto YTB leva a déficits comerciais: IM aumenta, mas X fica constante. – Níveis de renda menores do que YTB associam-se a superávits comerciais: menor IM para um dado de X. Mercado de bens na economia aberta Exportações líquidas: ilustração gráfica 10 Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 6 Mercado de bens na economia aberta Equilíbrio no mercado de bens: ilustração gráfica 11 • A Figura 19.2 mostra a condição de equilíbrio no mercado de bens associada ao resultado das exportações líquidas. • O ponto de equilíbrio A corresponde ao ponto de intersecção da curva de demanda por bens domésticos (ZZ) com a reta de 45° (produto = demanda). Na Figura, o ponto A está associado a uma posição de déficit comercial na curva NX. Não há, todavia, razão teórica para que o equilíbrio no mercado de bens corresponda necessariamente a um déficit comercial. • Aumentos no produto Y levam a déficits comerciais. Cláusula ceteris paribus: ε = cte.; Y* = cte.; logo: X = cte. Mercado de bens na economia aberta Equilíbrio no mercado de bens: ilustração gráfica 12 Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 7 Aumentos na demanda doméstica e estrangeira Aumento na demanda doméstica 13 • Quais as consequências de um aumento na demanda doméstica? [Demanda doméstica: D = C + I + G] • Considere um aumento nos gastos do governo (G): – Há um aumento no produto, pois uma parte do aumento na demanda doméstica (ΔG e efeito multiplicador) dirige-se aos bens produzidos internamente. – Há um aumento nas importações (IM), pois uma parte do aumento na demanda doméstica dirige-se aos bens produzidos no exterior (magnitude depende do coeficiente de importações). – Mantidas as exportações constantes, o aumento nas importações reduz superávit/aumenta déficit comercial. Aumentos na demanda doméstica e estrangeira Aumento na demanda doméstica: ilustração gráfica 14 Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 8 Aumentos na demanda doméstica e estrangeira Aumento na demanda estrangeira 15 • Quais as consequências de um aumento na demanda estrangeira causado por um aumento na renda externa (Y*)? – Aumento nas exportações do país (X), que dependem da renda externa (Y*). – Aumento no produto causado pelo aumento nas exportações (X) e efeito multiplicador. – Aumento nas importações (IM), causado pelo aumento na renda interna (Y). • O que acontece com as exportações líquidas (NX)? – Aumenta superávit ou reduz déficit, sob condição ΔX > ΔIM. Aumentos na demanda doméstica e estrangeira Aumento na demanda estrangeira: ilustração gráfica 16 Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 9 Aumentos na demanda doméstica e estrangeira Implicações para a política econômica 17 • Choques de demanda em um país afetam todos osdemais países. Magnitude depende da intensidade dos laços comerciais. • Interações comerciais tornam mais complexa a política econômica. – Colocam um freio a políticas expansionistas (mesmo em conjuntura recessiva), pois aumento em Y leva a piora em NX. Se NX < 0, isto leva a aumento no endividamento do país e obrigações para com a renda futura. – Coordenação entre países, com compromisso por aumento conjunto da demanda doméstica, poderia mitigar problema a fim de superar quadros recessivos. Mas há limitantes: (a) Alguns países podem ter de fazer mais dos que os outros e podem não querer fazer o necessário, sobretudo se a recessão não é generalizada. (b) Países têm incentivos para prometer e não cumprir. Depreciação, balança comercial e produto Depreciação real da moeda doméstica 18 • Uma depreciação real da moeda doméstica (redução de ε) torna os bens domésticos mais baratos vis-à-vis os bens estrangeiros. • Suponha uma depreciação nominal (redução de E) e preços relativos constantes (P/P* = cte.) que levam a uma depreciação real da moeda doméstica (redução de ε): ε = EP/P* Como a depreciação real afeta a balança comercial e o produto interno? Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 10 Depreciação, balança comercial e produto Condição de Marshall-Lerner 19 • Uma redução em ε determina: – Aumento em X: bens internos ficam mais baratos no exterior. – Redução em IM: bens estrangeiros ficam mais caros no país. – Aumento no preço relativo dos bens estrangeiros em termos de bens domésticos (1/ε), afetando a conta de importações: um mesmo volume de importações implica maior dispêndio. • Qual o efeito da redução em ε nas exportações líquidas NX? NX = X(Y*,ε) – IM(Y,ε)/ε Condição de Marshall-Lerner: aumento em X e redução em IM devem superar aumento na conta de importações para que melhore balança comercial (ΔNX > 0). Depreciação, balança comercial e produto Efeito de uma depreciação real sobre o produto 20 • A depreciação real acarreta efeitos semelhantes aos de um aumento no produto externo (Y*) (ver Fig. 19.4): – Aumentam exportações . – Aumenta produto interno (por ΔX e efeito multiplicador). – Aumentam importações (por ΔY). – Melhora balança comercial (desde que satisfeita a condição de Marshall-Lerner). • Há uma diferença importante: No caso da depreciação, há perda de renda real de pessoas que precisam pagar mais para adquirir os mesmos bens estrangeiros. Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 11 Depreciação, balança comercial e produto Uma combinação de políticas fiscal e cambial 21 • Suponha que o país experimente déficit comercial e produto no nível natural. Como reduzir o déficit? – Depreciação real não funciona: reduz déficit e aumenta Y. – Contração fiscal não funciona: reduz déficit e diminui Y. • Combinação de política cambial (depreciação) e política fiscal (contracionista) pode funcionar (ver Fig. 19.5): – Depreciação aumenta NX (e aumenta demanda por bens domésticos). – Redução em G diminui demanda por bens domésticos. – Resultado líquido pode ser: NX > 0 e Y = Y. Muda a composição da demanda por bens domésticos, com redução na demanda doméstica (ΔG < 0). Depreciação, balança comercial e produto Uma combinação de políticas fiscal e cambial: ilustração gráfica 22 Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 12 Depreciação, balança comercial e produto Outras combinações de políticas fiscal e cambial 23 Depreciação, balança comercial e produto Dinâmicas de exportação e importação 24 • Uma depreciação não melhora automaticamente a balança comercial: – Consumidores levam algum tempo para entender que os preços relativos mudaram e mantêm hábitos de compra. – Empresas levam algum tempo para encontrar fornecedores mais baratos. Pode haver piora inicial na balança comercial (curva J). • Ajuste da balança comercial ocorre com defasagem (Fig. 19.7). • Piora inicial em NX pode vir acompanhada por efeito contracionista inicial sobre o produto: deslocamento da renda de bens domésticos para pagar por bens estrangeiros. Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 13 Depreciação, balança comercial e produto Dinâmicas de exportação e importação: ilustração gráfica 25 Depreciação, balança comercial e produto Dinâmicas de exportação e importação 26 Mercado de bens em economia aberta ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 14 Poupança, investimento e balança comercial 27 • Voltemos à condição de equilíbrio no mercado de bens: Y = C + I + G + (X – IM/ε) • Deduzindo C + T de ambos os lados e reescrevendo: S = I + (G – T) + (X – IM/ε) • Como NX = X – IM/ε, temos: NX = [S + (T – G)] – I • Ou seja: – Um superávit comercial corresponde a um excesso de poupança interna sobre investimento. – Um déficit comercial corresponde a um excesso de investimento sobre poupança interna. Note: poupança definida como a diferença entre renda interna e investimento. Poupança, investimento e balança comercial 28 • Dado: NX = [S + (T – G)] – I • Em equilíbrio no mercado de bens, temos que: – Um aumento do investimento (I) deve se refletir em: aumento em S; ou aumento em (T – G); ou redução em NX. – Um aumento do déficit público (menor T – G) deve se refletir em: aumento em S; ou redução em I; ou redução em NX. – Um país com alta taxa de poupança total deve ter uma alta taxa de investimento ou um grande superávit comercial.
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