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2 3 Silva, Ricardo José Carvalho Concreto Armado 3a Edição (Março/2017) Sobral: Universidade Estadual vale do Acaraú, Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Engenharia Civil, 2017. 1. Ações 2. Dimensionamento 3. Detalhamento 4. Verificações 5. Estruturas de concreto armado Capa: A foto da capa mostra o edifício SHAMS ABU DHABI de 75 andares em Abu Dhabi (próximo a Dubai) que foi calculado em 2008 pelo Prof. Ricardo Carvalho, prestando serviço através do escritório Hepta Engenharia Estrutural (Fortaleza-CE) ao escritório Adapt (Nova Iorque-EUA) do Eng. Bijan Alami. CONCRETO ARMADO (3a Edição – Março/2017) Ricardo José Carvalho Silva Professor Efetivo da Universidade Estadual Vale do Acaraú Engenheiro Civil (Unifor) Mestre em Estruturas (UnB) Doutor em Estruturas (UnB / Imperial College – London) 4 APRESENTAÇÃO Elaborei esta apostila com o objetivo de servir de notas de aula para as disciplinas de Concreto Armado I e Concreto Armado II, do curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual Vale do Acaraú, em Sobral-CE. Este material é necessário para que os alunos acompanhem as aulas e anotem informações complementares discutidas em sala de aula. O concreto armado é o material estrutural mais utilizado no mundo. Desde pequenas obras, como pequenas casas residenciais, até grandes obras, como edifícios altos, estádios de futebol, entre outros, geralmente são projetados com peças estruturais de concreto armado e (ou) protendido. Essa apostila visa auxiliar os que se iniciam na arte de projetar estruturas de concreto, introduzindo os fundamentos do projeto de estruturas de concreto armado de acordo com as recomendações normativas. A análise, o dimensionamento e o detalhamento das armaduras dos elementos estruturais como vigas, lajes, pilares, escadas e caixa d’água são discutidos nos capítulos dessa apostila. Para que o aluno tenha um aprendizado bem fundamentado, sugiro que não se limite a estudar somente por esta apostila. Quanto mais livros de diferentes autores o aluno conseguir estudar, melhor será para compreensão do assunto. Quaisquer críticas ou sugestões, com o intuito de melhorar as notas de aula, serão bem-vindas. Ricardo José Carvalho Silva 5 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO AO CONCRETO ARMADO ........................................................... 7 2. CONCEPÇÃO ESTRUTURAL ................................................................................ 9 3. MATERIAIS ........................................................................................................... 29 4. AÇÕES E COMBINAÇÕES .................................................................................. 37 5. ESTADO LIMITE ÚLTIMO .................................................................................... 43 6. VIGAS DE CONCRETO ARMADO ....................................................................... 51 7. LAJES DE CONCRETO ARMADO ...................................................................... 93 8. PILARES ............................................................................................................. 137 9. ESCADAS ........................................................................................................... 189 10. CAIXAS D`ÁGUA, CISTERNAS E PISCINAS ................................................. 195 11. FUNDAÇÕES .................................................................................................... 203 12. ANCORAGEM, TRANSPASSE E RAIO DE CURVATURA DAS BARRAS .... 229 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 237 ANEXO 1 – Lista de cargas para cálculo de estruturas de edificações segundo a NBR6120 (1980) .................................................................................................. 239 ANEXO 2 – Tabelas para cálculo dos esforços de lajes pelo Método de Marcus ................................................................................................................................. 243 ANEXO 3 – Tabelas para cálculo dos esforços de lajes pelo Método das Grelhas ................................................................................................................... 249 ANEXO 4 – Tabelas para cálculo dos esforços de lajes pela Teoria das Placas via Kalmanok ......................................................................................................... 255 ANEXO 5 – Tabelas para dimensionamento de pilar à flexão composta normal ................................................................................................................................. 257 ANEXO 6 – Tabelas para dimensionamento de pilar à flexão composta oblíqua ................................................................................................................................. 289 ANEXO 7 – Tabelas de aços da Gerdau .............................................................. 313 ANEXO 8 – Fôrmas de plástico para lajes nervuradas da Impacto .................. 323 6 7 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO AO CONCRETO ARMADO Concreto Armado é o material estrutural composto pela associação do concreto com barras de aço, de modo que constituam um sólido único, do ponto de vista mecânico, quando submetido às ações externas. Dessa forma, o concreto armado, acaba sendo uma união quase que perfeita, adquirindo as melhores características do concreto e do aço: (1) o concreto tem boa resistência à compressão;; (2) o aço tem elevada resistência à tração e à compressão;; (3) boa aderência entre o aço e o concreto;; (4) o concreto protege o aço contra a corrosão;; (5) o aço e o concreto têm coeficientes de dilatação térmica muito parecidos. As principais vantagens do Concreto Armado são: (1) maior liberdade de formas;; (2) baixo custo quando comparado com outros sistemas estruturais;; (3) boa resistência a choques, vibrações e altas temperaturas;; (4) resistência à compressão do concreto aumenta com a idade. E as principais desvantagens do Concreto Armado são: (1) peso próprio elevado (25 kN/m3);; (2) peça sujeita à fissuração;; (3) necessidade de fôrmas e escoramentos;; (4) dificuldade em adaptações posteriores. Os primeiros registros de concreto armado datam de 1855, quando Lambot construiu um barco com argamassa de cimento reforçada com ferro. Em 1861, Monier construiu um vaso de flores de concretocom armadura de arame (concreto Monier), em 1861, Coignet publicou os princípios básicos para as construções em concreto armado, e apresentou na Exposição Internacional de Paris, em 1867, vigas e tubos de concreto armado. 8 9 CAPÍTULO 2 CONCEPÇÃO ESTRUTURAL Como o próprio nome diz, a concepção estrutural se refere a criação da estrutura da edificação. A definição de uma estrutura adequada para uma determinada arquitetura é de fundamental importância para reduzir custos e facilitar a execução da edificação. O primeiro passo para a concepção estrutural está na definição do arranjo estrutural da edificação. O arranjo estrutural é composto de elementos estruturais, tais como lajes, vigas, pilares e fundações, escolhidos para um determinado sistema estrutural que melhor se adeque àquela arquitetura. A concepção estrutural é subjetiva e independe de qualquer regra matemática. O bom senso é o principal orientador de uma boa criação. Geralmente, estruturas mais simples são as melhores opções. A escolha do arranjo estrutural é também denominado de lançamento estrutural, onde o engenheiro define para uma determinada arquitetura os locais das vigas e pilares. Um bom lançamento estrutural propicia facilidade de execução e economia na construção. Estruturas mal lançadas costumam ser caras e trabalhosas. Evidentemente, deve-se definir prioridades para o tipo de edificação. Por exemplo, um edifício residencial com muitos pavimentos tipos iguais, recomenda-se iniciar o lançamento com a colocação das vigas acompanhando algumas alvenarias e a partir disso, locam-se os pilares e definem-se as lajes. Já para um edifício garagem, a prioridade são as vagas de estacionamento, então, dessa maneira, inicia-se com a colocação dos pilares e a partir disso, locam-se as vigas e definem- se as lajes. Depois de lançada a estrutura, deve-se haver uma compatibilização com os projetos instalações para que não haja improvisações por alguma incompatibilidades entre os projetos. 2.1. ELEMENTOS ESTRUTURAIS As estruturas das edificações são basicamente compostas por lajes que se apoiam em vigas que se apoiam em pilares que se apoiam nas fundações que se apoiam no solo (Figura 2.1). As lajes, as vigas e os pilares são classificados como superestruturas. As fundações e o solo são classificados como infraestruturas. 10 Figura 2.1 – Elementos estruturais de uma edificação As lajes fazem a função de piso e de teto. Elas podem ser maciça, nervurada ou pré-moldada (Figura 2.2). As lajes maciças são mais tradicionais e fornecem à edificação maior rigidez às cargas de vento, porém são lajes mais caras porque exigem maior quantidade de fôrmas. Com a repetição da mesma fôrma em vários andares, o custo da edificação reduz. As lajes nervuradas são uma ótima opção para edificações com maiores vãos. Redução de concreto e fôrma é uma característica desse tipo de laje, porém geralmente há um aumento na taxa de aço onerando os custos. As lajes pré-moldadas, volterrana ou treliçada, são ótimas soluções para pequenas edificações. Sem a necessidade de fôrmas e com a utilização de baixa taxa de aço tornam esse tipo de laje simples de executar e de baixo custo. Porém esse tipo de laje tem algumas limitações. Para edifícios altos, esse tipo de laje não fornece uma boa rigidez lateral. Para grandes vãos esse tipo de laje apresenta grande flecha e vibra muito. O tipo de laje a ser escolhida é opção do projetista e deve ser observada o tipo de edificação e comparada as características de cada sistema para escolher a melhor opção para aquela edificação específica. Cada construção tem suas peculiaridades e por isso nem sempre o melhor tipo de laje é o mesmo. 11 Figura 2.2 - Lajes As vigas podem ser classificadas em vigas ou vigas-paredes (Figura 2.3). As vigas possuem relação L/h ≥ 2 para vigas bi-apoiadas e L/h ≥ 3 para vigas contínuas. Esse tipo de viga obedece a teoria de Bernoulli-Navier, onde as seções transversais planas permanecem planas após deformadas. Essa teoria é base para as fórmulas de dimensionamento de vigas. Já as vigas-parede são vigas altas, com a relação L/h < 2 para vigas bi-apoiadas e L/h < 3 para vigas contínuas. As vigas- paredes não obedecem a teoria de Bernoulli-Navier. Suas seções transversais depois de deformadas se arqueiam. Por esse motivo, as vigas-paredes são mais adequadamente dimensionadas através da teoria do modelo de bielas e tirantes. Figura 2.3 - Vigas Os pilares podem ser classificados em pilares e pilares-parede (Figura 2.4). Os pilares possuem a relação b ≥ h/5 e são dimensionados a flexão composta normal ou flexão composta oblíqua, enquanto os pilares-parede, com a relação b < h/5, são dimensionados por trecho de seção a compressão simples. Normalmente se usam os pilares-paredes em regiões onde de precisa enrijecer a edificação para 12 cargas de vento. Geralmente são os pilares na caixa de escada e elevador que apoiam a caixa d`água. Figura 2.4 – Pilares As fundações podem ser rasas (diretas) ou profundas (indiretas). As rasas mais comuns são blocos, sapatas, sapatas excêntricas com vigas de equilíbrio, sapatas corrida com viga de rigidez e radier (Figura 2.5). As profundas mais comuns são as estacas (Figura 2.6). Sejam pré-moldadas, tipo franki, tipo raiz e tipo hélice contínua. Nas fundações rasas, o uso dos blocos se limitam a pilares com pouca carga, geralmente menos de 500 kN, a satapa para pilares com mais cargas, a sapata com viga de equilíbrio seria uma solução para evitar a sapata excêntrica onde se transferiria momento fletor para o pilar e a sapata associada é quando se tem uma fileira de pilares próximos para se fazer somente uma sapata. Em algumas situações onde pudesse haver sobreposição de sapatas recomenda-se o uso do radier. 13 Figura 2.5 – Fundações rasas Nas fundações profundas, o uso de estacas com o bloco de coroamento é muito comum quando há grandes cargas e o solo não encontra resistência a pequenas profundidades. Nesse caso, as estacas são cravadas até uma “nega”, onde a tensão normal em baixo da estaca e o atrito nas laterais da estaca fornecem resistência para absorver grandes cargas. Figura 2.6 – Fundações profundas 2.2. SISTEMAS ESTRUTURAIS O sistemaestrutural de uma edificação é definido como o conjunto de elementos estruturais usados para criar o “esqueleto” da própria edificação. Cada sistema possui vantagens e desvantagens, dessa maneira, o mais conveniente é 14 conhecer as características de cada sistema e escolher um que melhor se encaixe com a arquitetura a ser construída. A seguir são apresentados características de 7 diferentes sistemas estruturais. (1) Sistema com Laje Volterrana apoiada em vigas ou cintas: O tipo de laje em combinação com o tipo de apoio, seja na viga, seja no pilar, faz o sistema estrutural da edificação. Dependendo do tipo da edificação, um sistema estrutural ou outro se adéqua melhor ao edifício. O sistema com lajes volterrana apoiadas em vigas ou cintas (Figura 2.7) é um tipo de sistema simples, de fácil execução. Tão simples que o projetista deve cuidadosamente detalhar os trilhos da laje ancorando dentro da viga em aproximadamente 8 cm para que não haja erro. Normalmente esse sistema é usado para pequenas edificações porque a ligação entre a laje volterrana com a viga não dá uma boa solidariedade que enrijeça a edificação sob efeito de vento. Além disso, a laje volterrana de não vence grandes vãos, limitando-se em média 4 m para concreto armado e 7 m para concreto protendido. Os trilhos de volterrana protendido devem ter bom controle tecnológico para que não haja empenamento. Figura 2.7 – Laje Volterrana (Laje Pré-moldada) (2) Sistema com laje treliçada apoiada em vigas ou cintas: O sistema de laje treliçada apoiada em vigas ou cintas (Figura 2.8) é muito parecido com o de laje volterrana. Simples e prático. O projetista também deve 15 detalhar a ancoragem dos trilhos ancorados nas vigas. O sistema é um pouco mais rígido a cargas de ventos que o da laje volterrana, mas ainda tem pouca rigidez quando se compara com os sistemas mais convencionais de lajes maciças e nervuradas. Normalmente utiliza-se vãos de até 10 m de comprimento, seja a treliça de concreto armado ou concreto protendido. O trilho de 10 m é muito flexível e muitas vezes quebra durante o transporte ou na montagem. Nesse caso o trilho protendido passa a ser mais vantajoso por ser mais rígido. Figura 2.8 – Laje Treliçada (Laje Pré-moldada) (3) Sistema com lajes maciças apoiadas em vigas: O sistema de laje maciça apoiada em vigas (Figura 2.9) é o sistema mais tradicional. Consomem altas taxas de fôrmas. É muito boa quando o cliente não quer usar forro falso de gesso. Possuem boa rigidez quanto a cargas pontuais. Também são mais solidária que a laje volterrana e a treliçada. Geralmente esse tipo de laje limita-se a vãos de 5 m x 5 m para lajes de concreto armado e 6 m x 6 m para lajes de concreto protendido. 16 Figura 2.9 – Laje Maciça apoiada em vigas (4) Sistema com laje nervurada apoiada em vigas: O sistema de laje nervurada apoiada em vigas (Figura 2.10) caracterizam-se pelo baixo consumo de concreto. Maior rigidez por apresentar maior altura útil (d). Também são mais solidária que a laje volterrana e a treliçada. E, além disso, é um sistema muito bom quando o cliente não se importa em usar forro falso de gesso. Como nesse sistema é necessário o uso do forro falso de gesso e a laje é mais espessa que a laje maciça, há uma perda de altura livre por pavimento se o pé direito for mantido. Normalmente os vãos limitam-se em 8 m x 8 m para lajes de concreto armado e 9 m x 9 m para lajes de concreto protendido. 17 Figura 2.10 – Laje Nervurada apoiada em vigas (5) Sistema com laje lisa ou laje cogumelo apoiada em pilares: O sistema de laje lisa apoiada em pilares (Figura 2.11) e o sistema de laje cogumelo apoiada em pilares (Figura 2.12) difere-se somente por que a laje cogumelo possui um engrossamento da laje na região do encontro com o pilar, denominado de capitel. Ambos os sistemas são de fácil execução por terem fôrmas simples sem os recortes de vigas que normalmente dão mais trabalho. É muito boa quando o cliente não quer usar forro falso de gesso. Nesse sistema ao contrário do que muitos pensam, há um aumento do peso do edifício. E, além disso, há a possibilidade da ruptura por punção. O projetista deve verificar isso nos cálculos. Essas lajes apresentam um bom efeito de travamento lateral quanto a cargas de vento, mas apresentam maiores flechas e por esse motivo, o mais indicado é usar a laje protendida. Há uma maior liberdade do layout da arquitetura por se tratar de uma laje única por pavimento. Ou seja, as alvenarias podem ser alteradas de posição sem prejudicar a laje. Os vãos geralmente limitam-se em 7 m para lajes de concreto armado e 8 m para lajes de concreto protendido. 18 Figura 2.11 – Laje Lisa (Laje Plana) Figura 2.12 – Laje Cogumelo (Laje Plana) (6) Sistema com laje nervurada apoiada em pilares: O sistema de laje nervurada apoiada em pilares (Figura 2.13) é uma mistura do sistema de lajes nervuradas com o sistema de laje cogumelo. Há uma maior 19 liberdade do layout da arquitetura por se tratar de uma laje única por pavimento. Há altas taxas de armadura. Há maior rigidez que a laje lisa ou cogumelo por que há uma maior altura útil (d). Além de existir um bom travamento lateral para cargas de ventos. Além disso, esse tipo de laje também pode romper por punção e deve ser verificada pelo projetista durante o cálculo. Normalmente limita-se o vão dessa laje em 8 m para concreto armado e 9 m para concreto protendido. Figura 2.13 – Laje Nervurada apoiada em Pilares (Laje Plana) (7) Sistema com laje nervurada apoiada em vigas-faixa protendidas: O sistema de laje nervurada apoiada em vigas-faixa protendidas (Figura 2.14) é o mesmo sistema de laje nervurada apoiada em vigas, porém nesse caso, a viga protendida é embutida na laje nervurada com grande vão. Esse sistema vem se popularizando bastante no Brasil. Como é laje nervurada, há um baixo consumo de concreto e por ser uma solução parecida com as anteriores, há um bom travamento lateral quanto a carga de vento. Normalmente, o vão da viga protendida limita-se por volta de 10 m. Apesar desse valor do vão poder aumentar quando se aumenta a altura da viga. 20 Figura 2.14 – Laje Nervurada apoiada em Vigas-Faixa Protendidas (Laje Plana)2.3. DIRETRIZES PARA A CONCEPÇÃO ESTRUTURAL A concepção estrutural é algo pessoal e intuitivo. Não existem regras. Alguns projetistas preferem um lançamento com mais vigas, dando mais rigidez ao pavimento, outros preferem um lançamento mais limpo, com menos vigas e lajes maiores, dando maior simplicidade à execução da obra. Caso um determinado projeto de arquitetura seja distribuído para dezenas de calculistas, é possível que apareçam dezenas de diferentes lançamentos estruturais para a mesma arquitetura. Em resumo, deve-se lançar a estrutura de maneira simples que as cargas venham das lajes para as vigas e das vigas para os pilares, como se faz na fabricação de uma mesa rígida. De preferência que as vigas amarrem os pilares nos dois sentidos. Mesmo não existindo regras para o lançamento estrutural, podem-se citar algumas diretrizes que tornam o projeto eficiente, tais como: (1) Vazios ou extremidades enrijecidos por vigas;; (2) Lajes em formato retangular ou quadrado com vãos razoáveis;; (3) Vigas apoiadas em pilares com vãos razoáveis;; (4) Pilares alinhados e amarrados por vigas nos dois sentidos. Evidentemente nem todos esses itens acima vão constar em um projeto estrutural por conta das peculiaridades da arquitetura, mas quanto mais itens desses constarem no lançamento estrutural, melhor ficará o lançamento. Uma outra preocupação é o lançamento dos pilares que estejam alinhados, amarrados, bem distribuídos e que possam ir desde a fundação até o último pavimento, evitando assim a viga de transição (Figura 2.15). 21 Figura 2.15 – Viga de transição recebendo pilar Esse tipo de viga só deve ser utilizada quando não houver outra solução. Primeiro por que é uma viga que vai receber um carregamento muito grande. Segundo por que é uma viga que deve ter o mínimo possível de flecha, pois uma deflexão nessa viga puxa o pilar para baixo e interfere em todo o equilíbrio da edificação. 2.4. LANÇAMENTO E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL Para a planta baixa apresentada na Figura 2.16, decidiu-se optar por priorizar o lançamento das vigas e depois colocar os pilares, por se tratar de uma edificação residencial. Nesse caso, inicialmente fez-se um primeiro esboço das vigas seguindo as alvenarias principais, conforme Figura 2.17. Em seguida, resolveu-se aprimorar o primeiro esboço retirando algumas vigas e aumentando vãos. Assim, algumas alvenarias ficaram sobre as lajes. Dessa maneira apareceu o segundo esboço já com os pilares locados (Figura 2.18). Limpando o desenho, aparece na Figura 2.19 o esboço definitivo com uma contagem de pilares, vigas e lajes ainda não revisada. E por fim, transforma-se esse esboço numa planta de fôrma (Figura 2.20) do pavimento tipo da edificação com as numerações de pilares, vigas e lajes já definidas iniciando-se da esquerda para a direita, de cima para baixo. No caso de vigas, primeiro as vigas horizontais, depois as verticais. Também pode ser vista na figura dois cortes horizontais e dois cortes verticais rebatido em cima do próprio desenho da fôrma. Observe que o projeto é simétrico, ou seja, a contagem de pilares, vigas e lajes continua para a outra parte do pavimento que não aparece na figura. 22 Figura 2.16 – Projeto de arquitetura – Planta baixa Figura 2.17 – Primeiro esboço das vigas e lajes 23 Figura 2.18 – Segundo esboço de pilares, vigas e lajes Figura 2.19 – Esboço definitivo da fôrma do pavimento 24 Figura 2.20 – Projeto de estruturas - Fôrma do pavimento O chamado “pré-dimensionamento” é uma estimativa de que medidas serão necessárias para as peças estruturais. Logicamente que são estimativas bem simplificadas, baseadas principalmente nos vãos. Quando o engenheiro calculista for fazer o dimensionamento utilizando os carregamentos e as deflexões reais, obviamente, essas dimensões podem ser alteradas. Por esse motivo, esse pré- dimensionamento é mais usado por arquitetos que não se aprofundam na teoria das estruturas. A tabela 2.1 traz as equações simplificadas para que se possa fazer o pré-dimensionamento. Seria o “chute inicial”. 25 Tabela 2.1 – Pré-dimensionamentos (Simplificação mais usual para arquitetos) Lajes ü Laje maciça de Concreto Armado em 1 direção è h = 2% . Vão Menor ü Laje nervurada de Concreto Armado em 1 direção è h = 3% . Vão Menor ü Laje maciça de Concreto Armado em cruz è h = 2% . Vão Médio ü Laje nervurada de Concreto Armado em cruz è h = 3% . Vão Médio ü Laje lisa de Concreto Protendido è h = 2,5% . Vão Maior entre 2 pilares OBS: No caso de balanço, utiliza-se o dobro das percentagens. Vigas ü Viga de Concreto Armado bi-apoiada è h = 10% . Vão ü Viga de Concreto Armado contínua è h = 8% . Vão OBS: No caso de balanço, utiliza-se o dobro das percentagens. Pilares ü Área da Seção (m2) = P (kN) / (10000 kN/m2) ü P (kN) = Ainfluência (m2) . 10 kN/m2 . (no de repetições) OBS: As repetições são “os pavimentos” e “a coberta”. Utilizando-se as relações da Tabela 2.1 com as medidas apresentadas na Figura 2.21, estimam-se as medidas das vigas e lajes conforme mostrado a seguir. Figura 2.21 – medidas para pré-dimensionamento de lajes e vigas V2 è maior vão = 590 cm è h = 8% . 590 = 47,2 cm V4 è maior vão = 465 cm è h = 8% . 465 = 37,2 cm V5 è maior vão = 170 cm è h = 10% . 170 = 17 cm 26 V7 è maior vão = 597,5 cm è h = 8% . 597,5 = 47,8 cm V8 è maior vão = 545 cm è h = 10% . 545 = 54,5 cm V9 = V10 è maior vão = 685 cm è h = 10% . 685 = 68,5 cm Padronizando-se as vigas em três tipos de seção: 15x50, 15x60 e 15x70, adota-se 15x50 para V2, V4, V5 e V7, 15x60 para V8 e 15x70 para V9 e V10. Laje em 1 direção (vão maior/vão menor ≥ 2): L1 è menor vão = 170 cm è h = 2% . 170 = 3,4 cm L2 è menor vão = 420 cm è h = 2% . 420 = 8,4 cm Laje em cruz (vão maior/vão menor < 2): L3 è vão médio = 402,5 cm è h = 2% . 402,5 = 8,05 cm L7 è vão médio = 471,25 cm è h = 2% . 471,25 = 9,43 cm Padronizando-se as lajes em duas espessuras: 8cm e 10cm, adota-se h = 8cm para L1 e h = 10cm para L2, L3 e L7. Novamente utilizando-se as relações da Tabela 2.1, agora com as medidas da área de influência do pilar com maior carregamento, apresentadas na Figura 2.22, estimam-se as medidas dos pilaresconforme mostrado a seguir. Figura 2.22 – medidas para pré-dimensionamento dos pilares Pilar com mais carga è área de influência = 18,07 m2 Carga por pavimento = 10 kN/m2 . 18,07 m2 . 3 repetições = 542,10 kN Área Seção do Pilar = 542,10 kN/10000 kPa = 0,0542 m2 = 542,1 cm2 (Adota-se 20 cm x 40 cm) 27 Dessa maneira a planta de fôrma definitiva ficou como apresentada na figura 2.23. Figura 2.23 – Planta de fôrma com lajes, vigas e pilares pré-dimensionadas 28 29 CAPÍTULO 3 MATERIAIS 3.1. MATERIAL CONCRETO 3.1.1. CLASSES A norma NBR6118:2014 se aplica aos concretos compreendidos nas classes de resistência até C90. A classe C20, ou superior, se aplica ao CONCRETO ARMADO. A classe C25, ou superior, ao CONCRETO PROTENDIDO. E a classe C15 pode ser usada somente em obras provisórias ou em concretos sem fins estruturais. 3.1.2. MASSA ESPECÍFICA Quando a massa específica do concreto não for conhecida, para efeito de cálculo, pode-se adotar 24 kN/m3 para concreto simples e 25 kN/m3 para concreto armado. 3.1.3. COEFICIENTE DE DILATAÇÃO TÉRMICA O coeficiente de dilatação térmica do concreto pode ser adotado igual a 10-5 / oC. 3.1.4. MÓDULO DE ELASTICIDADE O Módulo de Elasticidade Eci (Módulo de Deformação Tangente Inicial), quando não houver ensaio, pode ser estimado pela fórmula: f5600E ckEci a= para 20 MPa ≤ fck ≤ 50 MPa ÷ ø ö ç è æ +a= 25,1 10 f 10.5,21E ck 3/1 3 Eci para 55 MPa ≤ fck ≤ 90 MPa Sendo: αE = 1,2 para basalto e diabásio;; αE = 1,0 para granito e gnaisse;; αE = 0,9 para calcário;; αE = 0,7 para arenito. O Módulo de Elasticidade Ecs (Módulo de Deformação Secante), quando não houver ensaio, pode ser estimado pela fórmula: EE ciics a= Sendo: 0,1 80 f2,08,0 cki £+=a 30 Tabela 3.1 – Valores estimados de módulo de elasticidade em função da resistência característica à compressão do concreto (considerando o uso de granito como agregado graúdo) (NBR6118:2014) Classe de Resistência C20 C25 C30 C35 C40 C45 C50 C60 C70 C80 C90 Eci (GPa) 25 28 31 33 35 38 40 42 43 45 47 Ecs (GPa) 21 24 27 29 32 34 37 40 42 45 47 αi 0,85 0,86 0,88 0,89 0,90 0,91 0,93 0,95 0,98 1,00 1,00 A deformação elástica do concreto depende da composição do traço do concreto, especialmente da natureza dos agregados. Na avaliação do comportamento de um elemento estrutural ou seção transversal, pode ser adotado módulo de elasticidade único, à tração e à compressão, igual ao módulo de deformação secante (Ecs). 3.1.5. COEFICIENTE DE POISSON E MÓDULO DE ELASTICIDADE TRANSVERSAL Para tensões de compressão menores que 0,5fc e tensões de tração menores que fct, o coeficiente de Poisson ν pode ser tomado como igual a 0,2 e o módulo de elasticidade transversal Gc igual a Ecs/2,4. 3.1.6. COMPRESSÃO – DIAGRAMA TENSÃO X DEFORMAÇÃO Para tensões de compressão menores que 0,5 fc, admite-se uma relação linear entre as tensões e as deformações, utilizando-se o módulo de deformação secante. Para análises no estado limite último emprega-se o diagrama tensão x deformação idealizado (Figura 3.1). Figura 3.1 – Diagrama tensão x deformação idealizado de compressão (NBR6118:2014) 31 Os valores dos parâmetros ec2 (deformação específica de encurtamento do concreto no início do patamar plástico) e ecu (deformação específica de encurtamento do concreto na ruptura) devem ser definidos assim: * Para concretos de classes até C50: ** Para concretos de classes C55 até C90: o%0,22c =e o%5,3cu =e )50f(o%085,0o%0,2 ck 53,0 2c -+=e ]100/)f90[(o%35o%6,2 ck 4 cu -+=e Apesar da NBR6118:2014 trazer o diagrama da Figura 3.1 como exemplo, essa figura 3.1.7. TRAÇÃO – DIAGRAMA TENSÃO X DEFORMAÇÃO Para o concreto sob tração não fissurado, pode-se adotar o diagrama tensão- deformação bilinear da Figura 3.2. Figura 3.2 – Diagrama tensão x deformação bilinear de tração (NBR6118:2014) Sendo: 𝑓"#$,&'( = 0,7 𝑓"#,- 𝑓"#$,./0 = 1,3 𝑓"#,- * Para concretos de classes até C50: ** Para concretos de classes C55 até C90: 𝑓"#,- = 0,3 𝑓"$3/5 𝑓"#,- = 2,12 ln (1 + 0,11 𝑓"$) 3.2. MATERIAL AÇO PASSIVO 3.2.1. CATEGORIAS Aço Categoria CA-25 è Aço com o valor da resistência característica da tensão de escoamento (fyk) igual a 25 kgf/mm2 (250 MPa). Aço Categoria CA-50 è Aço com o valor da resistência característica da tensão de escoamento (fyk) igual a 50 kgf/mm2 (500 MPa). 32 Aço Categoria CA-60 è Aço com o valor da resistência característica da tensão de escoamento (fyk) igual a 60 kgf/mm2 (600 MPa). As bitolas comerciais mais usadas nas estruturas de edificações são apresentadas na Tabela 3.2. Tabela 3.2 – Aços mais utilizados na construção civil AÇOS MAIS USADOS : Categoria CA-60 Categoria CA-50 Φ 5 mm Φ 6,3 mm (1/4”) Φ 8 mm (5/16”) Φ 10 mm (3/8”) Φ 12,5 mm (1/2”) Φ 16 mm (5/8”) Φ 20 mm (3/4”) Φ 25 mm (1”) Φ 32 mm (1 1/4") Φ 40 mm (1 9/16”) 3.2.2. TIPO DE SUPERFÍCIE ADERENTE A capacidade aderente entre o aço e o concreto está relacionada ao tipo de superfície da armadura. Quanto melhor a aderência, maior o coeficiente de aderência (η1) apresentado na Tabela 3.3. Tabela 3.3 – Valor do coeficiente de aderência η1 (NBR6118:2014) Tipo de Superfície η1 Lisa 1,0 Entalhada 1,4 Nervurada 2,25 3.2.3. MASSA ESPECÍFICA A massa específica do aço de armadura passiva pode ser adotado 78,50 kN/m3. 3.2.4. COEFICIENTE DE DILATAÇÃO TÉRMICA O coeficiente de dilatação térmica do aço pode ser adotado igual ao do concreto, 10-5/oC. 3.2.5. MÓDULO DE ELASTICIDADE Na ausência de ensaios ou valores informados pelo fabricante, o módulo de elasticidade do aço pode ser considerado 210 GPa. 3.2.6. TRAÇÃO – DIAGRAMA TENSÃO X DEFORMAÇÃO O aço é uma liga metálica de ferro e carbono, com um percentual de 0,03% a 2,00% de carbono para fornecer maior ductilidade. Existem dois tipos de fabricação de aço. Tipo A e Tipo B (Figuras 3.3 e 3.4). Aços Tipo A (CA-25 e CA-50) - Fabricados pelo processo de laminação a quente. - O gráfico de tensão x deformação apresenta um patamar de escoamento bem definido. 33- São denominados BARRAS de aço. Aços Tipo B (CA-60) - Fabricados pelo processo de laminação a quente com posterior deformação a frio. - O gráfico de tensão x deformação não apresenta um patamar de escoamento bem definido. - São denominados FIOS de aço. AÇOS COM PATAMAR DE ESCOAMENTO DEFINIDO (TIPO A) (CA-50) Figura 3.3 – Diagrama tensão x deformação dos aços CA-50 AÇOS SEM PATAMAR DE ESCOAMENTO DEFINIDO (TIPO B) (CA-60) Figura 3.4 – Diagrama tensão x deformação do aço CA-60 34 A NBR6118:2014 traz um diagrama simplificado que pode ser usado para aços com ou sem patamar de escoamento. Ou seja, para tipo A ou tipo B (Figura 2.5). Para o aço tipo B, o diagrama é adaptado do diagrama real da Figura 2.4. Utiliza-se a tensão de escoamento (fyk) e a respectiva deformação específica (εyk) através de uma paralela a 2% como feito na Figura 3.4. Figura 3.4 – Diagrama tensão x deformação para aços de armaduras passivas (NBR6118:2014) 3.3. MATERIAL CONCRETO ARMADO E PROTENDIDO A união do concreto com o aço origina um material composto denominado de concreto armado. Quando se adiciona uma força de protensão ao concreto armado, origina-se um novo material composto denominado concreto protendido. A NBR6118:2014 traz recomendações como cobrimentos mínimos, fator a/c máximo, classe de concreto mínimo, etc... com o objetivo de melhorar a durabilidade da peça estrutural. 35 3.4.1. CLASSE DE AGRESSIVIDADE AMBIENTAL Tabela 3.4 – Classe de agressividade ambiental (NBR6118:2014) Classe de agressividade ambiental Agressividade Classe geral do tipo de ambiente para efeito de projeto Risco de deterioração da estrutura I Fraca Rural Insignificante Submersa II Moderada Urbana a, b Pequeno III Forte Marinha a Grande Industrial a, b IV Muito Forte Industrial a, c Elevado Respingos de maré a Pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda (uma classe acima) para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de serviço de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura). b Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (uma classe acima) em obras em regiões de clima seco, com umidade média relativa do ar menor ou igual a 65 %, partes da estrutura protegidas de chuva em ambientes predominantemente secos ou regiões onde raramente chove. c Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias químicas. 3.4.2. COBRIMENTOS MÍNIMOS Tabela 3.5 – Cobrimentos mínimos (NBR6118:2014) Tipo de estrutura Componente ou elemento Classe de agressividade ambiental I II III IV Cobrimento nominal (mm) Concreto Armado Laje 20 25 35 45 Viga / Pilar 25 30 40 50 Elemento estruturais em contato com o solo 30 40 50 Concreto Protendido Laje 25 30 40 50 Viga / Pilar 30 35 45 55 3.4.3. FATOR ÁGUA/CIMENTO MÁXIMO Tabela 3.6 – Fator água/cimento máximo (NBR6118:2014) Concreto Tipo Classe de agressividade I II III IV Relação água/cimento em massa Concr Armado £ 0,65 £ 0,60 £ 0,55 £ 0,45 Concr Protendido £ 0,60 £ 0,55 £ 0,50 £ 0,45 36 3.4.4. CLASSE DE CONCRETO MÍNIMO Tabela 3.7 – Classe de concreto mínimo (NBR6118:2014) Concreto Tipo Classe de agressividade I II III IV Classe de concreto Concr Armado ³ C20 ³ C25 ³ C30 ³ C40 Concr Protendido ³ C25 ³ C30 ³ C35 ³ C40 3.4.4. DIMENSÕES MÍNIMAS Lajes ü 7cm para lajes de cobertura não em balanço;; ü 8cm para lajes de piso não em balanço;; ü 10 cm para lajes em balanço;; ü 10cm para lajes que suportem veículos até 30 kN;; ü 12cm para lajes que suportem veículos com peso maior que 30 kN;; ü 15cm para lajes com protensão apoiadas em vigas, com mínimo de L/42 para lajes de pisos biapoiadas e L/50 para lajes de piso contínuas;; ü 16cm para lajes lisas e 14cm para lajes cogumelo, fora do capitel. Vigas ü Largura mínima para vigas é de 12 cm. ü Largura mínima para vigas parede é de 15 cm. Esses limites podem ser reduzidos para 10 cm em casos excepcionais, desde que se respeite: os cobrimentos mínimos e as condições de concretagem de acordo com a NBR14931. Pilares ü Dimensão mínima para seção qualquer forma é 19 cm. ü Em casos especiais, permite-se dimensões entre 14 e 19 cm, desde que se multiplique a carga por um coeficiente adicional gn. 1,0 ≤ gn = 1,95 – 0,05 . (menor dimensão da seção) ≤1,25 Em qualquer caso não se permite área de seção transversal inferior a 360 cm2. 37 CAPÍTULO 4 AÇÕES E COMBINAÇÕES As ações nas edificações, segundo a NBR 6118 e a NBR 8681, são classificadas em Permanentes, Variáveis e Excepcionais. As permanentes são as que vão sempre existir na estruturas de forma invariável, as variáveis são cargas que dependem da ocupação e de outros fatores que oscilam para mais ou para menos e as excepcionais são de difícil previsão, geralmente relacionadas a acidentes, terrorismos, etc. As combinações de ações são estimativas de como estarão os carregamentos agindo na estrutura no Estado Limite Último (ELU) ou nos Estados Limites de Serviço (ELS). 4.1. AÇÕES As ações podem ser melhor entendidas como expostas nas classificações abaixo. 38 4.2. COMBINAÇÕES ÚLTIMAS (ELU) Para concreto armado, calcula-se as ações para combinações últimas normais conforme a seguinte equação: 𝐹= = 𝛾? 𝐹?$ + 𝛾@? 𝐹@?$ + 𝛾A 𝐹AB$ + ΨDE 𝐹AE$ + 𝛾@A ΨD@ 𝐹@A$ Sendo: 𝐹= = ações para combinações últimas;; 𝐹?$ = ações permanentes diretas;; 𝐹@?$= ações permanentes indiretas vinda da retração;; 𝐹AB$ = ação variável direta principal 𝐹AE$ = demais ações variáveis diretas 𝐹@A$ = ações variáveis indiretas vindo das variações da temperatura;; 𝛾? = coeficiente de ponderação para ações permanentes (separadamente ou conjuntamente);; 𝛾@? = coeficiente de ponderação para ações permanentes indiretas vinda da retração;; 𝛾A = coeficiente de ponderação para ações variáveis (separadamente ou conjuntamente);; 𝛾@A = coeficiente de ponderação para ações variáveis indiretas vinda das variaçõesda temperatura;; ΨDE = fator de redução de combinação para as ações variáveis diretas;; ΨD@ = fator de redução de combinação para as ações variáveis indiretas. Considerando que a maioria das edificações não têm ações variáveis secundárias e que a retração e efeito de temperatura pouco influenciam uma estrutura isostática, como as do exemplo do curso de concreto armado e protendido, pode-se simplificar a equação conforme apresentado a seguir. 𝐹= = 𝛾? 𝐹?$ + 𝛾A 𝐹AB$ 𝐹= = 𝛾? 𝑔 + 𝛾A 𝑞 Sendo: 𝑔 = valor característico das ações permanentes diretas;; 𝑞 = valor característico da única ação variável direta. Para concreto protendido, deve-se acrescentar como carregamento externo as cargas equilibrantes, decorrente da carga de protensão e da curvatura dos cabos. Os coeficientes de ponderação de ações permanentes diretas podem ser encontrados na Tabela 4.1, se o calculista optar em considerar um coeficiente para cada ação, ou na Tabela 4.2, se o calculista optar em considerar somente um coeficiente para todas as ações permanentes diretas consideradas conjuntamente. 39 Tabela 4.1 - Ações permanentes diretas consideradas separadamente Combinação Tipo de ação Efeito Desfavorável Favorável Normal Peso próprio de estruturas metálicas Peso próprio de estruturas pré-moldadas Peso próprio de estruturas moldadas no local Elementos construtivos industrializados(1) Elementos construtivos industrializados com adições in loco Elementos construtivos em geral e equipamentos(2) 1,25 1,30 1,35 1,35 1,40 1,50 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 Especial ou de construção Peso próprio de estruturas metálicas Peso próprio de estruturas pré-moldadas Peso próprio de estruturas moldadas no local Elementos construtivos industrializados(1) Elementos construtivos industrializados com adições in loco Elementos construtivos em geral e equipamentos(2) 1,15 1,20 1,25 1,25 1,30 1,40 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 Excepcional Peso próprio de estruturas metálicas Peso próprio de estruturas pré-moldadas Peso próprio de estruturas moldadas no local Elementos construtivos industrializados(1) Elementos construtivos industrializados com adições in loco Elementos construtivos em geral e equipamentos(2) 1,10 1,15 1,15 1,15 1,20 1,30 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 (1) Por exemplo: paredes e fachadas pré-moldadas, gesso acartonado. (2) Por exemplo: paredes de alvenaria e seus revestimentos, contrapisos. Tabela 4.2 - Ações permanentes diretas consideradas conjuntamente Combinação Tipo de ação Efeito Desfavorável Favorável Normal Grandes pontes(1) Edificações tipo 1 e pontes em geral(2) Edificação tipo 2(3) 1,30 1,35 1,40 1,0 1,0 1,0 Especial ou de construção Grandes pontes(1) Edificações tipo 1 e pontes em geral(2) Edificação tipo 2(3) 1,20 1,25 1,30 1,0 1,0 1,0 Excepcional Grandes pontes(1) Edificações tipo 1 e pontes em geral(2) Edificação tipo 2(3) 1,10 1,15 1,20 1,0 1,0 1,0 (1) Grandes pontes são aquelas em que o peso próprio da estrutura supera 75% da totalidade das ações permanentes. (2) Edificações tipo 1 são aquelas onde as cargas acidentais superam 5 kN/m2. (3) Edificações tipo 2 são aquelas onde as cargas acidentais não superam 5 kN/m2. Os coeficientes de ponderação de ações variáveis diretas podem ser encontrados na Tabela 4.3, se o calculista optar em considerar um coeficiente para cada ação, ou na Tabela 4.4, se o calculista optar em considerar somente um coeficiente para todas as ações permanentes diretas consideradas conjuntamente. 40 Tabela 4.3 - Ações variáveis diretas consideradas separadamente Combinação Tipo de ação Coeficiente de Ponderação Normal Ações truncadas(1) Efeito de temperatura Ação do vento Ações variáveis em geral 1,2 1,2 1,4 1,5 Especial ou de construção Ações truncadas(1) Efeito de temperatura Ação do vento Ações variáveis em geral 1,1 1,0 1,2 1,3 Excepcional Ações variáveis em geral 1,0 (1) Ações truncadas são consideradas ações variáveis cuja distribuição de máximos é truncada por um dispositivo físico de modo que o valor dessa ação não pode superar o limite correspondente. O coeficiente de ponderação mostrado na nessa tabela se aplica a esse valor limite. Tabela 4.4 - Ações variáveis diretas consideradas conjuntamente(1) Combinação Tipo de estrutura Coeficiente de Ponderação Normal Pontes e edificações tipo 1 Edificações tipo 2 1,5 1,4 Especial ou de construção Pontes e edificações tipo 1 Edificações tipo 2 1,3 1,2 Excepcional Estruturas em geral 1,0 (1) Quando a ações variáveis forem consideradas conjuntamente, o coeficiente de ponderação mostrado na nessa tabela se aplica a todas as ações, devendo-se considerar também conjuntamente as ações permanentes diretas. Nesse caso permite-se considerar separadamente as ações indiretas como recalque de apoio e retração dos materiais e o efeito de temperatura conforme define a NBR8681. Como a maioria das edificações possuem cargas acidentais que não superam 5 kN/m2 (Edificações tipo 2), quando consideradas as ações conjuntamente, pode-se simplificar a equação da combinação das ações para o ELU mais ainda, como mostrado a seguir. 𝐹= = 𝛾? 𝑔 + 𝛾A 𝑞 = 1,4 𝑔 + 1,4𝑞 𝐹= = 1,4(𝑔 + 𝑞) Para cálculo das paredes e fundo da caixa d`água de médio ou grande porte como lajes engastadas, deve-se lembrar que o carregamento da água (variáveis diretas) geralmente ultrapassam 5 kN/m2. Nesse caso, não se pode calcular como edificação tipo 2. Se considerado com ações conjuntas como edificações tipo 1, a combinação ficaria: 𝐹= = 𝛾? 𝑔 + 𝛾A 𝑞 = 1,35 𝑔 + 1,5 𝑞 Caso a opção seja a consideração de ações separadamente, o coeficiente de ponderação da água será 1,2 (ações truncadas). 41 4.3. COMBINAÇÕES DE SERVIÇO (ELS) (a) Combinações Quase Permanentes de Serviço (CQP): Todas as ações variáveis são consideradas com seus valores quase permanentes Ψ3 𝐹A$. 𝐹=,.JK = 𝐹?&$ + Ψ3E 𝐹AE$ Ou seja: 𝐹=,.JK = 𝑔 + Ψ3 𝑞 (b) Combinações Frequentes de Serviço (CF): A ação variável principal 𝐹AB é tomada com seu valor frequente ΨB 𝐹AB$ e todas as demais ações variáveis são tomadas com seus valores quase permanentes Ψ3 𝐹A$. 𝐹=,.JK = 𝐹?&$ + ΨB 𝐹AB$ + Ψ3E 𝐹AE$ Levando-se em conta que na maioria das edificações só existe uma carga acidental,que é a carga variável principal: 𝐹=,.JK = 𝑔 + ΨB 𝑞 (c) Combinações Raras de Serviço (CF): A ação variável principal 𝐹AB é tomada com seu valor característico 𝐹AB$ e todas as demais ações variáveis são tomadas com seus valores frequentes ΨB 𝐹A$. 𝐹=,.JK = 𝐹?&$ + 𝐹AB$ + ΨBE 𝐹AE$ Novamente levando-se em conta que na maioria das edificações só existe uma carga acidental, que é a carga variável principal: 𝐹=,.JK = 𝑔 + 𝑞 Sendo: 𝐹=,.JK = valor de cálculo das ações para combinações de serviço;; 𝐹?&$ = valor característico das ações permanentes diretas;; 𝐹AB$ = valor característico das ações variável direta principal;; 𝐹AE$ = valor característico das demais ações variáveis diretas;; 𝑔 = valor característico das ações permanentes diretas;; 𝑞 = valor característico da única ação variável direta;; ΨB = fator de redução de combinação frequente para ELS;; Ψ3 = fator de redução de combinação quase permanente para ELS. 42 Os fatores de combinação ψ0, salvo indicação em contrário, expressa em norma relativa ao tipo de construção e de material considerados, estão indicados na Tabela 4.5, juntamente com os fatores de redução ψ1 e ψ2 referentes às combinações de serviço. Tabela 4.5 - Valores dos fatores de combinação (ψ0) e de redução (ψ1 e ψ2) para as ações variáveis Ações Y0 Y1 Y2 3), 4) Cargas acidentais de edifícios: Locais em que não há predominância de pesos e de equipamentos que permanecem fixos por longos períodos de tempo, nem de elevadas concentrações de pessoas(1) Locais em que há predominância de pesos de equipamentos que permanecem fixos por longos períodos de tempo, ou de elevadas concentrações de pessoas(2) Bibliotecas, arquivos, depósitos, oficinas e garagens 0,5 0,7 0,8 0,4 0,6 0,7 0,3 0,4 0,6 Vento: Pressão dinâmica do vento nas estruturas em geral 0,6 0,3 0 Temperatura: Variações uniformes de temperatura em relação à média anual local 0,6 0,5 0,3 Cargas móveis e seus efeitos dinâmicos: Passarelas de pedestres Pontes rodoviárias Pontes ferroviárias não especializadas Pontes ferroviárias especializadas Vigas de rolamentos de pontes rolantes 0,6 0,7 0,8 1,0 1,0 0,4 0,5 0,7 1,0 0,8 0,3 0,3 0,5 0,6 0,5 (1) Edificações residenciais, de acesso restrito. (2) Edificações comerciais, de escritórios e de acesso público. (3) Para combinações excepcionais onde a ação principal for sismo, admite-se adotar para ψ2 o valor zero. (4) Para combinações excepcionais onde a ação principal for o fogo, o fator de redução ψ2 pode ser reduzido, multiplicando-o por 0,7. 43 CAPÍTULO 5 ESTADO LIMITE ÚLTIMO 5.1. INTRODUÇÃO O estado limite último (ELU) se refere ao colapso, ou a qualquer outra forma de ruína estrutural, que determine a paralisação do uso da estrutura. As peças de concreto armado e concreto protendido são dimensionadas no estado limite último (ELU), ou seja, são dimensionadas prevendo uma possível ruptura. A vantagem de se dimensionar a peça na ruptura é que pode-se escolher as deformações que essa peça vai ter no caso de uma ruína. Quanto mais deformada ficar a peça, melhor. Diz-se que a peça “avisou” que ia romper, ou seja, a peça teve ductilidade. No caso de peças com visíveis crescimentos de deformações e fissuras, sabe-se que a estrutura está “avisando” que vai romper. Nesse caso, há tempo para fazer uma recuperação estrutural antes que essa ruína aconteça. Essa é uma grande vantagem de se dimensionar no estado limite último (ELU). Antes de se discutir os estádios de carregamentos e os domínios de deformação, é necessário apresentar um fundamento importante que é a hipótese de Bernoulli. A Teoria da Flexão ou Hipótese de Bernoulli ou Teoria de Bernoulli-Navier, utilizadas para vigas não-paredes (L/h ≥ 3), considera que as seções das vigas indeformadas permanecem planas após deformadas (Figura 5.1). Figura 5.1 – Hipótese de Bernoulli (Seções Planas) 5.2. ESTÁDIOS DE CARREGAMENTO Os estádios de carregamentos são as etapas que uma peça sob flexão passa desde as primeiras cargas, quando a peça nem fissurada está, até as cargas últimas, quando a viga estaria no estado limite último (ELU). A Figura 5.2 apresenta os diagramas dos esforços na seção transversal de uma viga sob flexão. Para o Estádio Ia, as zonas comprimidas e tracionadas ainda estão no regime linear elástico. Para o Estádio Ib, a zona tracionada torna-se não- linear, na iminência de fissurar. Para o Estádio II, já há fissura e o aço se responsabiliza pelos esforços de tração. No Estádio III, também denominado de estado limite último (ELU), a seção está na ruína. A zona comprimida se apresenta não-linear, na iminência do esmagamento, e a zona tracionada é resistida pelo aço escoando. 44 Figura 5.2 – Estádios de carregamento A Figura 5.3 mostra a relação do aumento das ações com a mudança dos estádios. Observe que a viga sujeita a pouca carga ainda está não fissurada (Estádio I). Posteriormente aumenta-se o carregamento, aqui denominado de carga maior, e na região de maior momento fletor aparecem fissuras, indicando a passagem para o Estádio II naquela região. E por fim, aumenta-se mais ainda o carregamento até a carga de ruptura. Nesse instante, na região de maior momento fletor ocorre a ruína (Estádio III ou ELU). A NBR6118:2014 recomenda que se dimensione as peças estruturais para uma situação hipotética de ruína (Estádio III ou ELU) com ductilidade. Essas peças trabalham em serviço (Estádios I e II) e devem respeitar os Estados Limites de Serviço que será discutido no capítulo 9. Figura 5.3 – Relação do aumento das cargas com os Estádios 45 5.3. ANÁLISE NA RUÍNA (ELU) – PEÇAS DE CONCRETO ARMADO Peças sob flexão na ruína apresentam uma tensão de compressão no formato de parábola-retângulo e, de acordo com a NBR6118:2014, podem ser simplificadamente retangularizada conforme mostrada na Figura 5.4. A força de tração é representada pela carga Rst agindo no aço. Figura 5.4 – Diagrama de esforços no ELU O processo de retangularização é muito simples de se entender. A área da parábola-retângulo é exatamente a mesma da área do retângulo com o valor de x adaptada para lx (Figura 5.5). Com essa adaptação, fica mais fácil desenvolver as equações de equilíbrio no ELU. Figura 5.5 – Relação entre asdistribuições de tensão parábola-retângulo e a distribuição de tensões retangularizado Pelo equilíbrio das forças horizontais, Rcc é igual ao Rst. E os valores para o cálculo do Rcc podem ser usados conforme as recomendações da NBR6118:2014 quando se retangulariza o diagrama de tensões normais, descritas na Figura 5.6. 46 Figura 5.6 – Diagrama tensão-deformação para as tensões normais retangularizadas Sendo para classes de concreto até C50: 𝑛 = 2 𝜆 = 0,8 Sendo para classes de C55 até C90: 𝑛 = 1,4 + 23,4 90 − 𝑓"$100 Q 𝜆 = 0,8 − 𝑓"$ − 50400 O coeficiente de redução 0,85, também denominado Efeito de Rüch, visa estabelecer a tensão máxima de compressão do concreto para ações de longa duração. O Efeito de Rüch vem da multiplicação de três fatores: Efeito de Rüch = F1 . F2 . F3 = 0,75 . 1,20 . 0,95 = 0,85 (a) Fator de correção para cargas de longa duração è F1 = 0,75 Ensaios com cargas aplicadas de forma lenta apresentam resistência 25% menores que ensaios usuais com cargas de curta duração. (b) Fator de correção para concretos após 28 dias è F2 = 1,20 O aumento médio de resistência do concreto após 28 dias pode chegar até a 20% em um ano. (c) Fator de correção em relação aos corpos de provas è F3 = 0,95 47 Ensaios mostram que corpos de provas mais esbeltos que os cilindros usuais (15 cm x 30 cm) apresentam uma redução média de 5% nas resistências à compressão. 5.4. DOMÍNIOS DE DEFORMAÇÃO NO ESTADO LIMITE ÚLTIMO Os domínios de deformação são as possíveis configurações de deformação no ELU da seção transversal de uma peça estrutural analisada sob solicitações normais. A Figura 5.7 apresenta os domínios de deformação definidos pela NBR6118:2014. Figura 5.7 – Domínios de deformação de ELU de uma seção transversal (NBR6118:2014) Considera-se que a peça chegou a ruína quando o concreto é esmagado com a deformação (ecu) ou quando a armadura atingiu uma deformação plástica excessiva (esd = 10%o). Nesse caso, a armadura não rompeu, mas considera-se que a deformação foi tão grande que a estrutura de concreto já estaria em uma condição inutilizável (ruína). No domínio 1, a peça rompe totalmente tracionada, com as armaduras de um dos lados chegando a deformação de 10%o. Esse seria o caso de um tirante de concreto armado. No domínio 2, a peça chega a ruína com deformação plástica excessiva na armadura (esd = 10%o) e na outra extremidade o concreto sofre compressão. No domínio 3, a peça rompe por esmagamento do concreto e na outra extremidade, as armaduras já estão escoando (esd > eyd). No domínio 4, a peça chega a ruptura por esmagamento do concreto, mas na outra extremidade as armaduras não chegam nem a escoar. Para o ELU essa situação chega a ser perigosa porque como as armaduras possuem pouca 48 deformação, a peça de concreto praticamente não fissura e, assim, não há ductilidade (aviso de ruptura). Essa situação para vigas deve ser evitada. No domínio 4a e domínio 5, a seção praticamente toda está sob compressão. No domínio 4a há ruptura por esmagamento em uma das extremidades com deformação (ecd = ecu), enquanto que no domínio 5 há ruptura por esmagamento com deformações menores que essa. No domínio 5, a uma distância da extremidade mais comprimida de [(ecu-ec2)h /ecu], acontece a ruptura quando a deformação chega a ec2. Os domínios 4a e 5 são comuns em pilares. 5.5. ANÁLISE NOS LIMITES DOS DOMÍNIOS Analisando as deformações apresentadas na Figura 5.8, referentes aos limites dos domínios de deformação, pode-se observar que a peça no limite 1-2 está toda tracionada, como um tirante. A peça nos limites 2-3 e 3-4 possuem zona tracionada e zona comprimida como uma viga ou uma faixa de uma laje. Nos limites 4-4a e 4a-5 possuem praticamente só compressão como um pilar. Figura 5.8 – Relação x/d para os limites dos domínios Com a relação x/d (ou kx = x/d) de uma determinada peça estrutural no ELU, pode-se identificar o domínio de deformação dessa peça. Basta correlacionar com as relações dos limites de deformação (Figura 5.9). 49 Figura 5.9 – Valores de kx para encontrar os domínios Transformando os valores dos kx da Figura 5.4 em valores numérico, tem-se a Tabela 5.1. Tabela 5.1 – Valores de kx para os limites dos domínios Kx = x/d fck (MPa) 20 - 50 55 60 65 70 75 80 85 90 ec2 (%o) 2,00 2,20 2,29 2,36 2,42 2,47 2,52 2,56 2,60 ecu (%o) 3,50 3,13 2,88 2,74 2,66 2,62 2,60 2,60 2,60 Domínio 1 Lim 1-2 0,000 Domínio 2 Lim 2-3 0,259 0,238 0,224 0,215 0,210 0,207 0,207 0,206 0,206 Domínio 3 Lim 3-4 CA-50 (1) 0,628 0,602 0,582 0,569 0,562 0,558 0,557 0,557 0,557 CA-60 (2) 0,585 0,558 0,538 0,525 0,517 0,514 0,512 0,512 0,512 CP1900RB (3) 0,324 0,300 0,283 0,273 0,267 0,264 0,263 0,263 0,263 Domínio 4 Lim 4-4a 1,000 Domínio 4a e Domínio 5 ����eyd = 2,07%o �2��eyd = 2,48%o �3��eyd = 7,30%o 50 5.6. DUCTILIDADE A capacidade de rotação das seções transversais dos elementos estruturais é função da posição da linha neutra no ELU. Quanto menor for x/d, maior será essa capacidade de rotação. Em outras palavras, quando menor for x/d, maior será a ductilidade desse elemento. Para proporcionar o adequado comportamento dúctil em vigas e lajes, a NBR6118:2014 estabeleceu que a posição da linha neutra no ELU deve respeitar os seguintes limites (Figura 5.10). Esses limites são válidos tanto para concreto armado quanto para concreto protendido. Figura 5.10 – Relação x/d limite para comportamento dúctil em vigas Comparando as relações x/d limites estabelecidas pela NBR6118:2014 (Figura 5.9) com as relações x/d da Tabela 5.1, observa-se que pode-se dimensionar vigas de concreto armado somente para o domínio 2 e parte do domínio 3, enquanto que para vigas de concreto protendido, pode-se dimensionar para o domínio 2, o domínio 3 e parte do domínio 4. Porque existe uma faixa do domínio 4 de vigas de concreto protendido que têm ductilidade. 51 CAPÍTULO 6 VIGAS DE CONCRETO ARMADO 6.1. INTRODUÇÃO A NBR6118:2014 define viga como um elemento linear em que a flexão é preponderante. As vigas podem estar em balanço, bi-apoiadas ou contínuas como as teorias daisostática e da hiperestática costumam discutir. As vigas também podem ser classificadas quanto ao tipo, como apresentado na Figura 6.1. A viga retangular com armadura simples normalmente é a solução mais econômica, onde o aço resiste os esforços de tração e o concreto resiste os esforços de compressão. A viga retangular com armadura dupla é uma solução alternativa onde a região comprimida é também resistida por armaduras de compressão. A viga “T” com armaduras simples é uma outra alternativa que se reforça a zona comprimida, sendo que nesse caso, com área de concreto. As vigas com armadura duplas e vigas “T” são geralmente utilizadas quando a viga com armadura simples cai em um domínio 3 sem ductilidade ou em um domínio 4. Nesse caso, reforçando-se a zona comprimida, as vigas com armadura dupla ou “T” são dimensionadas respeitando os limites de ductilidades com uma altura inferior a viga com armadura simples. Figura 6.1 – Tipos de viga 6.2. CARREGAMENTO DAS VIGAS A NBR6120:1980 fornece vários valores de cargas para que o calculista possa considerar em suas análises estruturais. Os carregamentos mais comumente utilizados nas edificações estão listados abaixo. ü Cargas Permanentes (g) Por Volume Concreto armado 25 kN/m3 Tijolo furado 13 kN/m3 Tijolo maciço 18 kN/m3 Por Área Pavimentação 1,0 kN/m2 52 Revestimento 1,0 kN/m2 ü Cargas Acidentais (q) Por Área Residência (dormitório, sala, copa, cozinha, banheiro) 1,5 kN/m2 Residência (despensa, área de serviço, lavanderia) 2,0 kN/m2 Escritórios comerciais (salas, banheiros) 2,0 kN/m2 Biblioteca (sala de leitura) 2,5 kN/m2 Biblioteca (sala para depósito de livros) 4,0 kN/m2 Biblioteca (sala com estante de livros) 6,0 kN/m2 Escadas (com acesso ao público) 3,0 kN/m2 Escadas (sem acesso ao público) 2,5 kN/m2 A Transferência de cargas das lajes para as vigas dependem das condições dos apoios dessas lajes. O tradicional Método das Linhas de Ruptura é um método simples e eficiente para transferir as cargas das lajes para as vigas. Esse método é baseado nas rótulas plásticas que surgem de baixo da laje quando essa laje rompe. Considera-se que cada área limitada pelas rótulas plásticas transfere cargas para as vigas mais próximas (Figura 6.2). Figura 6.2- Área de transferência de carga para as vigas Com as ações conhecidas, traça-se o diagrama dos momentos fletores da viga analisada (Figura 6.3). A NBR6118:2014 recomenda que nenhum momento fletor positivo deve ser menor que o momento fletor positivo de um vão bi-engastado para dimensionamento no ELU. 53 Figura 6.3 – Momentos fletores para dimensionamento da viga A NBR6118:2014 permite a opção do calculista reduzir os momentos fletores negativos através de arredondamento do diagrama sobre os apoios. Esse arredondamento pode ser feito de maneira aproximada, conforme apresentado na Figura 6.4. 54 Figura 6.4 – Arredondamento do diagrama do momento fletor negativo EXEMPLO RESOLVIDO: Considerando a planta de fôrma da Figura 6.5, encontra-se os carregamentos das vigas V1 e V3 da seguinte forma: 55 Figura 6.5 – Planta de fôrma (a) Carregamento das lajes L1 e L3: Carga Permanente (g): Peso Próprio = 25 kN/m3 . 0,10 m = 2,50 kN/m2 Pavimentação = 1,00 kN/m2 Revestimento = 1,00 kN/m2 Alvenaria = 0,00 kN/m2 Carga Variável (q): Sobre-carga de varanda residencial = 1,50 kN/m2 Total = 6,00 kN/m2 Obs: Não existe alvenaria sobre as lajes L1 e L3. (b) Carregamento da laje L2: Carga Permanente (g): Peso Próprio = 25 kN/m3 . 0,10 m = 2,50 kN/m2 Pavimentação = 1,00 kN/m2 Revestimento = 1,00 kN/m2 Alvenaria = 13 kN/m3 . (0,15 . 2,90 . 4) m3 / (4 . 6) m2 = 0,94 kN/m2 Carga Variável (q): Sobre-carga de sala residencial = 1,50 kN/m2 Total = 6,94 kN/m2 Obs: Existe 4m de alvenaria de tijolo cerâmico sobre a laje L2. (c) Carregamento e diagrama do momento fletor da viga V3 (Figuras 6.6 e 6.7): 56 Figura 6.6 – Ações e diagrama do momento fletor na viga V3 Figura 6.7 – Área de influência da reação da laje L1 na viga V3 (d) Carregamento e diagrama do momento fletor da viga V1 (Figuras 6.8, 6.9 e 6.10): 57 Figura 6.8 – Ações na viga V1 Figura 6.9 – Ações e diagrama do momento fletor na viga V1 58 Figura 6.10 – Áreas de influência da reações das lajes L1 e L2 na viga V1 6.3. DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO DE VIGA RETANGULAR COM ARMADURA SIMPLES NO ESTADO LIMITE ÚLTIMO Uma seção de uma viga de concreto armado no ELU apresenta os esforços mostrados na Figura 6.11. Figura 6.11 – Seção de viga no ELU Rcc = σc . b . λx Rst = As . σsd = As . fyd z = d – 0,5 . y = d – 0,5 . λ . x Equilíbrio: Md = Rcc z = (σcd . b . λ . x) . (d – 0,5 . λ . x) = σcd . b . λ . (x/d) . (1 – 0,5 λ . (x/d)) . d2 Md = λ. kx . (1 – 0,5 λ . kx) . b . d2 . σcd Sendo: kmd = λ . kx . (1 – 0,5 λ . kx) Md = kmd . b . d2 . σcd kmd = Md / (b . d2 . σcd) 59 * Na fórmula do kmd, considerou-se esmagamento do concreto (σc = σcd e εc = εcu è domínio 3) no ELU. kmd = λ . kx . (1 – 0,5 λ . kx) kmd = λ . kx – 0,5 λ 2 . kx2 (0,5 λ2) . kx2 + (-λ) . kx + (kmd) = 0 (A) . kx2 + (B) . kx + C = 0 kx = [-B ± (B2 – 4AC)1/2]/(2 A) kx = {- (-λ) ± [(-λ)2 – 4.(0,5 λ2). (kmd)]1/2}/[2 (0,5 λ2)] kx = {λ ± [ λ2 – 2 . λ2. kmd]1/2}/( λ2) kx = {λ ± [λ2 (1 – 2 . kmd)]1/2}/( λ2) kx = {λ ± λ [1 – 2 . kmd]1/2}/( λ2) kx = (1/ λ) . [1 ± (1 – 2 . kmd)1/2] kx = (1/ λ) . [1 - (1 – 2 . kmd)1/2] kx = [1 - (1 – 2 . kmd)1/2]/ λ z = d – 0,5 . y z = d – 0,5 . λ . x (z/d) = 1 – 0,5 . λ . (x/d) kz = 1 – 0,5 . λ . kx Md = Rst z = As . fyd . z Md/d = As . fyd . (z/d) Md/d = As . fyd . kz As = Md /( kz . d . fyd) * Na fórmula do As, considerou-se escoamento das armaduras longitudinais (σsd = fyd è domínios 2 ou 3) no ELU. O roteiro do cálculo da NBR6118:2014 do dimensionamento de uma viga de concreto armado no ELU foi organizado na Figura 6.12. 60 Figura 6.12 – Roteiro de dimensionamento de uma viga de concreto armado no ELU Observe que para a condição As ≥ As, mín ser atendida, basta respeitar essa outra condição Md ≥ Md, mín no dimensionamento no ELU. O valor da área das barras de aço adotadas (As, adotada),
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