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Como o dinheiro se transforma em capital

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Cap IV - Como o Dinheiro se Transf em Capital / Item 1 (p. 165 a 175)
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A circulação de mercadorias é o ponto de partida do capital. Na forma simples M - D - M (Mercadoria-Dinheiro-Mercadoria), 'dinheiro é dinheiro',  buscam-se valores-de-uso, a mercadoria qualitativamente diferente é a finalidade. Na forma de circulação D - M - D, 'dinheiro é capital', busca-se a mesma mercadoria do início da circulação, o dinheiro. Esta última dinâmica só faz sentido porque a quantidade almejada é diferente da aplicada, sendo maior devido a um acréscimo que é obtido através do processo de circulação, a mais-valia. Logo, a forma completa dessa circulação do capital é D – M – D’, onde D' é dinheiro acrescido de mais-valia, a fórmula geral do capital.
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1. A FÓRMULA GERAL DO CAPITAL
Sabe-se que a circulação de mercadorias é o ponto de partida do capital. Considerando apenas as formas econômicas geradas por esse processo, encontraremos como produto final o dinheiro, que é a primeira forma de aparição do capital.
Todo capital novo, para começar, entra em cena, no mercado de mercadorias em forma de dinheiro.  
'Dinheiro como dinheiro' e 'dinheiro como capital' distinguem-se primeiro por sua forma diferente de circulação. 
A forma simples de circulação de mercadorias é M - D - M, que representa a seguinte dinâmica:conversão de mercadoria em dinheiro e reconversão de dinheiro em mercadoria, vender para comprar.
Ao lado dessa forma, há uma segunda, especificamente diferenciada: D - M - D, que representa a seguinte dinâmica: conversão de dinheiro em mercadoria e reconversão de mercadoria em dinheiro, comprar para vender.
As formas M – D – M e D – M – D decompõem-se em duas mesmas fases opostas: M — D (venda) e D — M (compra). O que distingue os ciclos é a sucessão inversa das mesmas fases opostas de circulação. Como se vê, a circulação simples de mercadorias começa com a venda e termina com a compra, a circulação do dinheiro como capital começa com a compra e termina com a venda.
Na circulação M — D — M, o dinheiro é transformado em mercadoria que seria de valor de uso e está, pois, definitivamente gasto. Na forma inversa, D — M — D, o comprador gasta dinheiro para, como vendedor, receber dinheiro. Ele solta o dinheiro só com a segunda intenção de apoderar-se dele novamente. 
O dinheiro é, portanto, apenas adiantado. A dupla mudança de lugar da mesma mercadoria acarreta a volta do dinheiro a seu ponto de partida. Essa circunstância influi apenas na grandeza da soma de dinheiro que volta. Com isso, transparece-se a diferença entre a circulação do dinheiro como capital e sua circulação como dinheiro apenas.
O ciclo M — D — M é percorrido por completo assim que o dinheiro obtido com a venda de uma mercadoria for absorvido pela compra de outra mercadoria. O dinheiro só retorna ao seu ponto de partida por meio da renovação ou repetição de todo desse processo. A volta do dinheiro é determinada pelo modo de seu gasto, que busca o próprio valor de troca.
Enquanto que na dinâmica M – D – M as mercadorias são valores-de-uso qualitativamente diversos, no processo D – M – D, ambos os extremos são dinheiro, o que parece tautológico, vazio de conteúdo. A questão é que a diferença aqui não é qualitativa, mas quantitativa. Leva-se em conta a variação da quantidade de dinheiro. Busca-se mais dinheiro com sua aplicação.
No final, mais dinheiro é retirado da circulação do que foi lançado nela inicialmente.  Logo, a FORMA COMPLETA desse processo é D — M —D’, onde D’ = D + ∆D, ou seja, igual à soma de dinheiro originalmente adiantada mais um acréscimo ou excedente sobre o valor original. Esse incremento é a chamada MAIS-VALIA (valor excedente). O valor original se mantém na circulação e altera nela a sua grandeza de valor, acrescenta uma mais-valia, se valoriza, movimento que o transforma em capital, um processo sem fim.
Se uma quantidade de dinheiro obtido através da circulação fosse gasto como dinheiro, deixariam de desempenhar o seu papel de ser capital. Se for retirada de circulação, se fixaria como tesouro e nada mais seria acrescentado.
A diferença na quantidade de dinheiro obtida no final da circulação logo se esvai. No término do processo, o que surge não são o valor original nem a mais-valia, mas um valor que se encontra na mesma forma adequada para começar o processo de expansão do valor.
Portanto, o dinheiro encerra o movimento para dar início a um novo ciclo. A circulação do dinheiro como capital precisa sempre ser renovada para incrementar a grandeza do valor. Por isso o movimento do capital é insaciável.
Como representante consciente desse movimento, o possuidor do dinheiro torna-se capitalista. O conteúdo objetivo da circulação — a expansão do valor — é sua meta subjetiva. O valor de uso nunca deve ser tratado como meta imediata do capitalismo. A apropriação crescente da riqueza abstrata – obter lucros sempre – é a finalidade do capitalista.
O capitalista é o entesourador racional, pois ele multiplica incessantemente o valor.
O valor assume duas formas; a forma autônoma - forma dinheiro - é uma delas. Ele tem de assumir a forma de mercadoria para ser capital, pois todas as mercadorias são dinheiro, meios de fazer mais dinheiro com dinheiro.
Em vez de representar relações mercantis, o dinheiro entra numa relação consigo mesmo. Enquanto valor original, ele se distingue de si mesmo como mais-valia. O valor torna-se, portanto, valor em processo, dinheiro em processo e, como tal, capital: D — D’, dinheiro que gera dinheiro. No capital a juros, a circulação D— M — D’ apresenta-se abreviada, sem a mediação: dinheiro que é igual a mais dinheiro, D - D’objetivamente.
Com base no apresentado, chega-se à conclusão de que D – M – D’ é a fórmula geral do capital, como ele aparece na circulação.

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