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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ NAIRA KARINA OLIVEIRA MACHADO MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO TRAZIDAS PELA LEI Nº 12.403/2011 CURITIBA 2015 NAIRA KARINA OLIVEIRA MACHADO MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO TRAZIDAS PELA LEI Nº 12.403/2011 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Luiz Renato Skroch Andretta CURITIBA 2015 TERMO DE APROVAÇÃO NAIRA KARINA OLIVEIRA MACHADO MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO TRAZIDAS PELA LEI Nº 12.403/2011 Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel em Direito no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, de de 2015. _____________________________________ Professor Doutor Eduardo de Oliveira Leite Coordenador do Núcleo de Monografias do Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná Orientador: _____________________________________ Prof. Luiz Renato Skroch Andretta Universidade Tuiuti do Paraná _____________________________________ Prof. Universidade Tuiuti do Paraná _____________________________________ Prof. Universidade Tuiuti do Paraná AGRADECIMENTOS Aos meus pais, irmãos e amigos por todo carinho, compreensão e paciência a mim dedicados, não apenas durante a elaboração deste trabalho, mas em toda a graduação. “O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação." Oscar Wilde RESUMO O presente estudo tem por objetivo explorar as medidas cautelares alternativas à prisão, introduzidas no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei 12.403/2011. Faremos um breve resumo histórico da aplicação das medidas cautelares no Brasil, passando pelas novidades trazidas pela nova lei, chegando finalmente nas medidas cautelares em espécie, com foco no instituto da fiança e da monitoração eletrônica. Palavras-chave: Processo Penal; Medidas cautelares alternativas à Prisão; Fiança; Monitoração eletrônica. ABSTRACT This study aims to explore the alternatives to prison precautionary measures introduced in the Brazilian legal system by the Law 12.403/2011. We will make a brief historical summary of the application of the precautionary measures in Brazil, passing through the novelty of the new law, finally reaching the precautionary measures in kind, focusing on the Institute of bail and electronic monitoring. Key words: Penal process; Alternative precautionary measures; Bail; Electronic monitoring. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 08 2 BREVE HISTÓRICO DAS MEDIDAS CAUTELARES NO BRASIL ............ 10 3 AS INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI 12.403/2011 ................................. 13 4 REQUISITOS PARA A APLICAÇÃO DA MEDIDAS CAUTELARES .......... 16 5 MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO .................................... 19 5.1 COMPARECIMENTO EM JUÍZO .................................................................. 19 5.2 PROIBIÇÃO DE ACESSO A DETERMINADOS LUGARES.......................... 20 5.3 PROIBIÇÃO DE CONTATO .......................................................................... 21 5.4 PROIBIÇÃO DE AUSENTAR-SE DA COMARCA......................................... 21 5.5 RECOLHIMENTO DOMICILIAR.................................................................... 22 5.6 SUSPENSÃO DA FUNÇÃO OU ATIVIDADE ............................................... 22 5.7 INTERNAÇÃO PROVISÓRIA ....................................................................... 23 5.8 FIANÇA ......................................................................................................... 24 5.9 MONITORAÇÃO ELETRÔNICA ................................................................... 27 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 28 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 29 ANEXOS ............................................................................................................. 31 8 1 INTRODUÇÃO Segundo Gomes (2011, p. 33) as medidas cautelares possuem natureza instrumental, não podendo constituir um fim em si mesmas, prestando apenas como garantia da aplicação da lei penal, eficácia do processo ou da investigação ou ainda para evitar novas infrações penais. Nesse sentido, Lima (2011, p.14) nos ensina que: “O processo penal serve para a tutela da liberdade assim como para efetivação do direito de punir do Estado. O Antigo conflito entre liberdade e castigo também está presente nas medidas cautelares. As medidas constituem um meio para que a jurisdição alcance suas finalidades”. O surgimento das novas medidas cautelares deu-se em razão da necessidade de adequação do processo penal brasileiro à Constituição Federal de 1988, tendo em vista que o Código de Processo Penal vigente foi instituído em 1941, quase 50 anos antes da entrada em vigor da Carta Magna, sendo materialmente incompatível com a mesma em diversos pontos. Em função da instrumentalidade das medidas cautelares, a Lei 12.403/2011 introduziu no sistema processual penal brasileiro outras nove medidas cautelares de natureza pessoal diversas da prisão, são elas: comparecimento em juízo, proibição de acesso a determinados lugares, proibição de contato, proibição de ausentar-se da comarca, recolhimento domiciliar, suspensão da função ou atividade, internação provisória, fiança e a monitoração eletrônica (BRASIL, 2011). Quando entrou em vigor em julho de 2011 a Lei 12.403 tornou imperativa a revisão prisional de boa parte da população carcerária, possibilitando assim, a liberdade de muitos dos detentos submetidos a algum tipo de prisão cautelar, eventualmente substituída por medidas alternativas. Na época o setor carcerário padecia de grave crise, com rebeliões acontecendo por todo o Brasil, principalmente em razão da superlotação e de precárias ou nulas condições para a dignidade da pessoa humana. O Conselho Nacional de Justiça, depois da realização de Mutirões Carcerários, constatou que diversas prisões eram irregulares ou ilegais, demonstrando que a maior parcela dos presos não estava cumprindo sanção estatal definitiva, mas ainda respondendo a ação penal, falta gravíssima contra o princípio da presunção da inocência e o estado democrático de direito. 9 Depois da reforma processual de 2011 passam a ser admitidas apenas 02 (duas) formas de prisão cautelar judicial, a preventiva e a prisão temporária. A prisão em flagrante não tem mais força para manter o agentesegregado provisoriamente. É sabido que existem outras medidas cautelares previstas no ordenamento jurídico brasileiro, como é o caso daquelas trazidas pela Lei Maria da Penha, mas para fins acadêmicos abordaremos apenas as medidas cautelares alternativas à prisão trazidas pela Lei 12.403/2011. Desta forma, o presente estudo firma-se em discorrer acerca da aplicação das medidas cautelares pessoais alternativas diversas da prisão, fazendo uma exposição geral acerca de todas as medidas, mostrando em quais oportunidades cada uma delas pode/deve ser aplicada, dando atenção especial ao instituto da fiança e da monitoração eletrônica. 10 2 BREVE HISTÓRICO DAS MEDIDAS CAUTELARES NO BRASIL O Brasil em seu período colonial contava com vários instrumentos para a obtenção da liberdade provisória. As Ordenações Afonsinas traziam as Cartas de Seguro, da homenagem, da palavra de fiéis carcereiros e da fiança (COSTA E OLIVEIRA, 2013, p. 7). Sobre as Cartas de Seguro, Pacelli de Oliveira (2013 apud ALMEIDA JÚNIOR, 1959) nos diz que tal medida era: ‘... um remédio com que então quis se obstar a vindita particular permitida naqueles tempos (Ord. L. II, tít. 26, § 2). Com o andar do tempo foram tendo as ditas Cartas o restrito fim de eximirem os réus da prisão para se livrarem soltos dentro do tempo por elas concedido’. Uma figura interessante existente no período colonial era a dos fiéis carcereiros, pessoas de confiança do Estado que se responsabilizavam pela guarda e apresentação do réu quando se tratasse de crimes de menor potencial ofensivo, ou ainda quando o réu encontrasse enfermo ou em local remoto (COSTA E OLIVEIRA, 2013, p. 8). Com a outorga da Constituição do Império em 1824, no chamado período imperial brasileiro, a única medida que garantia a liberdade provisória do acusado era a fiança, prevista no art. 179, IX, da Carta Magna, sendo abolidas as demais formas de concessão da liberdade provisória (Art. 113, Constituição do Império) (COSTA E OLIVEIRA, 2013, p. 8 e 9). O Código de Processo Penal de 1941, claramente inspirado no Código de Processo Penal Italiano de 1930 reflete o regime fascista da época: a prisão em flagrante era indicativo de culpabilidade do indivíduo sendo o flagrante suficiente para a manutenção da prisão (GOMES, 2011, p. 23). Até a edição da lei 12.403/2011 o sistema processual penal brasileiro era binário/bipolar, ou seja, o réu responderia ao inquérito ou ação penal em liberdade ou encarcerado (GOMES, 2011, p. 27). A prisão era a regra e a liberdade à exceção, é o que se extrai da antiga redação do art. 311 do Código de Processo Penal: Art. 311. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, ou do querelante, ou mediante representação da autoridade policial, quando houver prova da existência do crime e indícios suficientes da autoria. 11 A severidade do procedimento cautelar penal brasileiro cumulou na superlotação dos estabelecimentos prisionais. Segundo análise do Conselho Nacional de Justiça, em 2010 o Brasil contava com mais de 200 mil presos em situação provisória constituindo cerca de 44% da população carcerária, ou seja, quase metade da população carcerária brasileira não possuía sentença penal condenatória em seu desfavor (GOMES, 2011, p. 28). Bittencourt (2001, p. 156-157), faz um breve relato sobre as reais condições enfrentadas pelos detentos brasileiros: a) maus tratos verbais ou de fato (castigos sádicos, crueldade injustificadas, etc.); b) superlotação carcerária (a população excessiva reduz a privacidade do recluso, facilita os abusos sexuais e de condutas erradas); c) falta de higiene (grande quantidade de insetos e parasitas, sujeiras nas celas, corredores); d) condições deficientes de trabalho (que pode significar uma inaceitável exploração do recluso); e) deficiência dos serviços médicos ou completa inexistência; f) assistência psiquiátrica deficiente ou abusiva (dependendo do delinqüente consegue comprar esse tipo de serviço para utilizar em favor da sua pena); g) regime falimentar deficiente; g) elevado índice de consumo de drogas (muitas vezes originado pela venalidade e corrupção de alguns funcionários penitenciários ou policiais, que permitem o trafico ilegal de drogas); i) abusos sexuais (agravando o problema do homossexualismo e onanismo, traumatizando os jovens reclusos recém ingressos); j) ambiente propicio a violência (que impera a lei do mais forte ou com mais poder, constrangendo os demais reclusos) Tais fatores culminaram no final da última década em motins e rebeliões por todo o pais. Diante desse quadro o Poder Legislativo, em comunhão de esforços com o Poder Executivo, pressionados pela mídia, tinham 02 (duas) opções: punir mais severamente os presos que promoviam as rebeliões e, neste caso, ameaçar iniciar uma guerra civil contra o Crime Organizado ou abrandar a situação, promovendo benesses na legislação que apaziguariam os ânimos mais exaltados. Sobre o tema, fazemos menção à lição de Mirabete (2004, p.496): Sabido que é um mal a prisão do acusado antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, o direito objetivo tem procurado estabelecer institutos e medidas que assegurem o desenvolvimento regular do processo com a presença do imputado sem o sacrifício da custódia, que só deve ocorrer em casos de absoluta necessidade. Tenta-se assim conciliar os interesses sociais, que exigem a aplicação e a execução da pena ao autor do crime, e os do acusado de não ser preso senão quando considerado culpado por sentença condenatória transitada em julgado. 12 Assim sendo, nos idos do ano de 2011 o Congresso Nacional a aprovou, ainda que tardiamente o projeto de lei 4.208/2001 que promoveu a mais recente grande reforma do processo penal brasileiro, em especial nas medidas cautelares penais, na tentativa de abrandar o ânimo dos reclusos e promover a ordem nos departamentos prisionais, mas tendo como escopo a tão esperada modernização e adequação do processo penal brasileiro ao sistema constitucional pátrio. 13 3 AS INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI 12.403/2011 A promulgação da Constituição Federal de 1988 incompatibilizou o Código de Processo Penal de 1941, já ultrapassado nos idos de 1980, com a nova ordem jurídica vigente, visivelmente garantista. É nítida tamanha discrepância quando comparamos o sistema processual penal baseado na presunção da culpabilidade, vigente até então com os princípios da presunção da inocência e do devido processo legal, garantias fundamentais, trazidos no art. 5º, incisos LIV e LVII da Constituição Federal de 1988: LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; [...] LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; Nesse sentido Pacelli (2009, p. 12) elucida que: A incompatibilidade entre os modelos normativos do citado Decreto-lei nº 3.689, de 1941 e da Constituição de 1988 é manifesta e inquestionável. A configuração política do Brasil de 1940 apontava em direção totalmente oposta ao cenário das liberdades públicas abrigadas no atual texto constitucional. E isso, em processo penal, não só não é pouco, como também pode ser tudo. A alteração legislativa ocorrida em 2011 deriva do projeto de lei 4.208 de 2001 de iniciativa doPoder Executivo. Percebe-se que os operadores do direito tiveram de conviver por um longo tempo com o código de processo penal de 1941 em sua redação antiga orientada pelo sistema binário cautelar, tendo de fazer malabarismos para promover uma interpretação à luz da constituição a tal dispositivo. A reforma proporcionada pela Lei 12.403/2011 no Código de Processo Penal reduziu a duas as hipóteses de prisão cautelar: a temporária e a preventiva, tendo em vista que a prisão em flagrante será revogada ou convertida em preventiva quando presentes os requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal, tornando a prisão cautelar de fato a ultima ratio no processo penal brasileiro (GOMES, 2011, p. 25). Com a entrada em vigor da lei 12.403/2011 o sistema processual penal brasileiro passou a contar com outras nove medidas cautelares de natureza pessoal 14 diversas da prisão, são elas: comparecimento em juízo, proibição de acesso a determinados lugares, proibição de contato, proibição de ausentar-se da comarca, recolhimento domiciliar, suspensão da função ou atividade, internação provisória, fiança e a monitoração eletrônica (BRASIL, 2011). As novas medidas podem ser aplicadas individualmente ou em conjunto (GOMES, 2011, p. 27), devendo o magistrado observar os critérios legais previstos e a situação fática para a sua aplicação. Tal entendimento é compartilhado e aplicado por magistrados brasileiros, conforme se extraí do recorte jurisprudencial que segue: "HABEAS CORPUS". TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA. PEDIDO DE REVOGAÇÃO. LEI 12.403/2011. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO E DA NECESSIDADE. OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES SUFICIENTES NA ESPÉCIE. COMPARECIMENTO PERIÓDICO EM JUÍZO E PROIBIÇÃO DE AUSENTAR-SE DA COMARCA. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA PARA REVOGAR A PRISÃO PREVENTIVA DO PACIENTE CUMULADA COM DUAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO. OFICIAR. 1. [...]2. Sendo o paciente primário, portador de bons antecedentes, não sendo dedicado a atividades delituosas, nem integrante de organização criminosa, evidencia- se a possibilidade de aplicação de eventuais benefícios penais, em sede de eventual condenação, em especial, quando a quantidade de droga apreendida não é elevada, razão pela qual a prisão cautelar configuraria medida mais gravosa que eventual reprimenda a ser aplicada. 3. A Lei 12.403/2011, que alterou substancialmente o sistema das prisões no Código de Processo Penal, prevê de forma expressa o princípio da proporcionalidade, composto por dois outros, quais sejam: adequação e necessidade. 4. A prisão preventiva, espécie de medida cautelar, passou a ser exceção na sistemática processual, dando, o quanto possível, promoção efetiva ao princípio constitucional da não- culpabilidade. 5. Possível a aplicação de outras medidas cautelares, a prisão deve ser evitada. 6. Ordem parcialmente concedida para revogar a prisão preventiva do paciente, aplicando duas medidas cautelares diversas da prisão. Oficiar. (TJ-MG - HC: 10000140636705000 MG , Relator: Marcílio Eustáquio Santos, Data de Julgamento: 11/09/2014, Câmaras Criminais / 7ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 18/09/2014). [sem grifo no original] Quando verificamos casos concretos percebe-se que, de fato os magistrados estão buscando a real efetividade das medidas cautelares alternativas, mesmo que para tanto precisem acumular sua aplicação. O Tribunal de Justiça do Paraná, em determinado caso aplicou quatro medidas cautelares alternativas a um único acusado: HABEAS CORPUS. LIBERDADE PROVISÓRIO CONCEDIDA CUMULADA COM AS MEDIDAS CAUTELARES DE COMPARECIMENTO PERIÓDICO TRIMESTRAL, PROIBIÇÃO DE ACESSO OU FREQUÊNCIA AO LOCAL ONDE OCORRERAM OS FATOS, PROIBIÇÃO DE MANTER CONTATO 15 DIRETAMENTE OU POR INTERPOSTA PESSOA COM AS VÍTIMAS OU TESTEMUNHAS E O RECOLHIMENTO DOMICILIAR NO PERÍODO NOTURNO E NOS DIAS DE FOLGA. REVOGAÇÃO DAS MEDIDAS.IMPOSSIBILIDADE. PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES. INTELIGÊNCIA DO ART. 282 DO CPP. ORDEM DENEGADA.PRESENTES OS REQUISITOS AUTORIZADORES DO ARTIGO 282 DO CPP, NÃO HÁ QUE SE FALAR EM REVOGAÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES IMPOSTAS. I - (TJPR - 2ª C.Criminal - HCC - 1236898-8 - Foro Regional de São José dos Pinhais da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Roberto Antônio Massaro - Unânime - - J. 15.12.2014). [sem grifo no original] Ao final deste trabalho faremos uma avaliação acerca do impacto produzida pela inserção das novas medidas no ordenamento jurídico brasileiro. De antemão pode-se perceber que não se tratou de mera alteração formal na legislação, mas que de fato, as medidas passaram a ser adotadas tão logo foram implantadas. 16 4 REQUISITOS PARA A APLICAÇÃO DA MEDIDAS CAUTELARES A aplicação das medidas cautelares deve se sujeitar ao princípio ou critério da proporcionalidade, expresso pelo binômio da necessidade x adequação, previsto no art. 282 do Código de Processo Penal: Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. Para o presente estudo basta termos em mente que proporcionalidade ou proibição do excesso mencionada anteriormente é voltada para a efetiva proteção dos direitos fundamentais, sem entrar no mérito da classificação da proporcionalidade como princípio, critério ou nenhum dos dois. (COSTA E OLIVEIRA, 2013, p. 31). A proporcionalidade subdivide-se em três subprincípios ou critérios: a adequação, a necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito. A medida cautelar a ser aplicada deve ser a mais adequada/apropriada para atingir os fins buscados com a persecução penal; alguns doutrinadores afirmam que a medida adotada deve promover a realização de determinada finalidade. Nesse sentido Mendes e Branco (2011, p. 257): “O subprincípio da adequação (geeinetheit) exige que as medidas interventivas adotadas se mostrem aptas a atingir os objetivos pretendidos”. Tratando-se da necessidade, cabe ao magistrado analisar dentre as medidas possíveis e aplicar aquela que se mostrar menos agravante aos direitos fundamentais do acusado sem deixar de atingir os fins a que se presta. Quando se fala em proporcionalidade em sentido estrito tem se em mente o critério imposto ao magistrado que o obriga a ponderar sobre a relevância dos valores em conflito no momento da prisão em flagrante, por exemplo a liberdade do acusado versus a garantia da ordem econômica. Conforme assevera Pacelli de Oliveira (2013, p.33): A adequação expressa no inciso II do art. 282 do CPP remete à relação meio-fim, que deve nortear a escolha do juiz pela medida mais apropriada e, 17 portanto, que se apresente mais eficaz em preservar o processo – quiçá, a ordem pública, ante a probabilidade de reiteração criminosa – contra os riscos que se evidenciam pela análise das circunstâncias apuradas no plano concreto. A adoção de mediadas cautelares pessoais diversas da prisão não afastou do ordenamento jurídico a possibilidade de decretação de prisão preventiva. O que se busca com a adoção das novas medidas é evitar o encarceramento desnecessário, principalmente quando se tem consciência das chamadas “escolas do crime” que se tornaram nossos estabelecimentos prisionais. Em alguns casos, feita a análise das circunstâncias fáticas, a gravidade docrime e as condições pessoais do acusado/indiciado, resta claro que a melhor opção pode ser a prisão preventiva (COSTA E OLIVEIRA, 2013, p. 35). Existem também os casos onde a aplicação de medidas alternativas não surtiu o efeito esperado, podendo o acusado até mesmo ter voltado a delinquir. Assim sendo, não restam dúvidas que a prisão preventiva pode ser a melhor opção para tais casos frente as suas peculiaridades, sem deixar de ser à prisão a ultima ratio. Tal procedimento vem sendo adotado por magistrados em todo pais, conforme se verifica do recorte jurisprudencial transcrito a seguir: HABEAS CORPUS – ROUBO QUALIFICADO (QUADRILHA OU BANDO) – PRISÃO PREVENTIVA – PLURALIDADE DE RÉUS - FEITO COMPLEXO - APLICAÇAO DO PRINCIPIO DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE- NECESSIDADE DA SEGREGAÇAO CAUTELAR PARA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇAO CRIMINAL - EXTENSAO DE BENEFICIO AO PACIENTE - INVIABILIDADE- CONSTRANGIMENTO ILEGAL POR EXCESSO DE PRAZO- NAO DEMOSTRADA -ORDEM DENEGADA. 1. [...]. 2. A custódia cautelar do Paciente se faz necessária para a garantia da ordem pública e por conveniência da instrução criminal, consubstanciada em fundamentos válidos e concretos suficientemente demostrados nos autos. 3. Não resta caracterizado o alegado constrangimento ilegal por excesso de prazo face à regular tramitação do feito, sendo iminente o encerramento da instrução. 4. Ordem denegada. [sem grifo no original] Cabe ressaltar que o rol das medidas cautelares presentes no art. 319 do Código de Processo Penal é taxativo, ou seja, o magistrado deve-se ater as medidas providas pelo legislador (GOMES apud GOMES FILHO, 1991, p. 57). Nesse sentido se alinha a jurisprudência do Superior Tribunal Federal: PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA E CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PRISÃO 18 PREVENTIVA REVOGADA COM DETERMINAÇÃO DE AFASTAMENTO DO CARGO. ART. 20, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 8.429/92. APLICAÇÃO NO PROCESSO PENAL. INVIABILIDADE. PODER GERAL DE CAUTELA NO PROCESSO PENAL PARA FINS RESTRITIVOS. INEXISTÊNCIA. 1. É inviável, no seio do processo penal, determinar-se, quando da revogação da prisão preventiva, o afastamento do cargo disciplinando no art. 20, parágrafo único, da Lei 8.429/92, previsto para casos de improbidade administrativa. 2. Não há falar, para fins restritivos, de poder geral de cautela no processo penal. Tal concepção esbarra nos princípios da legalidade e da presunção de inocência. 3. Ordem concedida para revogar a providência do art. 20, parágrafo único, da Lei n. 8.429/92, determinada pelo Tribunal a quo, no seio da ação penal n. 2007.70.09.001531-6, da 1.ª Vara Federal de de [sic] Ponta Grossa/PR. (STJ - HC: 128599 PR 2009/0027065-3, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 07/12/2010, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 17/12/2010). [sem grifo no original] Não existe em processo penal o chamado poder geral de cautela, comum em processo civil, não cabe ao magistrado criar novas medidas além daquelas previstas no ordenamento jurídico pátrio tendo em vista o imperativo princípio da legalidade, essencial em um estado democrático de direito. 19 5 MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO Feitos os esclarecimentos necessários, passamos a expor as medidas cautelares de natureza pessoal diversas da prisão propriamente ditas, conforme previstas no art. 319 do Código de Processo Penal. 5.1 COMPARECIMENTO EM JUÍZO O comparecimento em juízo foi uma das formas encontradas pelo legislador para exercer certa vigilância sobre o acusado/indiciado, saber quais são suas atividades, tal como onde reside e se está empregado ou não É também uma forma de fazer com que o acusado acompanhe os atos do processo, ainda que constitua um direito seu. O comparecimento periódico em juízo está previsto no inciso I do art. 319 do Código de Processo Penal: Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; Vejamos o parecer de Nucci (2012, p. 619 e 620) sobre a medida: A condição é conhecida de outros institutos penais, como a suspensão condicional da pena, do regime aberto, do livramento condicional, entre outros. Parece-nos uma das mais adequadas medidas para se decretar durante a instrução assegurando, em tese, um controle sobre o comportamento do acusado. O prazo e as condições, estabelecidos pelo juiz, devem circunscrever-se dentro do razoável [...]. Conforme menciona o doutrinador a lei não fixou a duração do intervalo para o comparecimento em juízo, desse modo fica a cargo do magistrado estabelecer um período de tempo razoável, não sendo um intervalo muito curto de modo a inviabilizar a condição econômica do acusado nem um espaço de tempo muito longo, que deixe o acusado sem supervisão. Em função da novidade das medidas cautelares pessoais alternativas e do silencio do legislador, percebe-se na prática forense certa dissonância entre os magistrados quanto à determinação de tal intervalo. É o que extraímos dos julgados que seguem: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. A PRISÃO PREVENTIVA É MEDIDA DE ULTIMA RATIO, DEVENDO SER APLICADA APENAS QUANDO NÃO 20 FOR O CASO DE CAUTELAR DIVERSA. [...]. POSSÍVEL A CONCESSÃO DE PRISÃO DOMICILIAR NOS TERMOS DO ART. 318, III, DO CPP, CUMULADA COM O COMPARECIMENTO QUINZENAL EM JUÍZO. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso em Sentido Estrito Nº 70054296876, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nereu José Giacomolli, Julgado em 04/07/2013). [sem grifo no original] HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. PRISÃO EM FLAGRANTE PELA PRÁTICA DE ROUBO MAJORADO. HIPÓTESE QUE ADMITE A CONVERSÃO EM PRISÃO PREVENTIVA, BEM COMO A SUBSTITUIÇÃO DESTA POR OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES. FATO SUPERVENIENTE: SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA POR DUAS MEDIDAS CAUTELARES (PROIBIÇÃO DE MANTER CONTATO OU SE APROXIMAR DA VÍTIMA E SEUS FAMILIARES E DETERMINAÇÃO DE COMPARECIMENTO MENSAL EM JUÍZO PARA JUSTIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES). PEDIDO DE LIBERDADE PREJUDICADO. Habeas corpus prejudicado. (Habeas Corpus Nº 70045552510, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: João Batista Marques Tovo, Data de Julgamento: 24/11/2011, Sexta Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 02/12/2011). [sem grifo no original] 5.2 PROIBIÇÃO DE ACESSO A DETERMINADOS LUGARES Já utilizada no sistema processual penal brasileiro como condição para a concessão de benefícios como o livramento condicional (art. 132, § 2.º, LEP), a proibição de acesso a determinados lugares visa, em suma, evitar a reincidência, visto que proíbe o acusado de frequentar lugares que de alguma forma se relacionam ao fato criminoso: II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; Tal medida cautelar se mostra interessante nos casos de pessoas que, por exemplo, tendem a se exaltar facilmente quando ingerem bebidas alcoólicas ou entorpecentes, substâncias de fácil acesso em bares, casas de shows e boates, podendo provocar desordem, brigas ou agredir outros de forma gratuita. A aplicação dessa medida cautelar possibilitaria a proibição deste agente ter acesso, permanecer ou frequentar locais destes gêneros, como uma forma de coibi- lo a praticar novamente atos criminosos, assim como servindo diretamente de exemplo para que outros também nãoo façam. 21 5.3 PROIBIÇÃO DE CONTATO Introduzida no processo penal brasileiro pela chamada Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), com o intuito de proibir em casos de violência doméstica que o agressor tenha contato com a vítima, por questões óbvias, como ameaças e futuras agressões. Está presente no inciso III do art. 319 do Código de Processo Penal: III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; Implicitamente extrai-se do dispositivo legal que a proibição de contato não se restringe a meios físicos, mas também aos meios eletrônicos e virtuais, tão importantes nos dias de hoje e muitas vezes de muito mais fácil acesso que o contato físico em si. Percebesse que a intenção do legislador ao incluir tal medida é a proteção as vitimas de crimes violentos em geral, excetuados aqueles abarcados pela legislação especial, como os casos de violência doméstica. Também estão inclusas aqui as hipóteses em que o acusado possa de alguma forma interferir no curso da investigação, como coagir testemunhas ou ainda para prevenir a chamada queima de arquivo, comum em casos envolvendo o tráfico de entorpecentes. O legislador silenciou quanto à que distância o acusado deve se manter da vítima ou de determinada pessoa, entende-se nesse caso o silêncio proposital, tendo em vista as particularidades de cada caso. 5.4 PROIBIÇÃO DE AUSENTAR-SE DA COMARCA O objetivo principal desta medida cautelar é fazer com que o acusado permaneça no local onde reside de modo a evitar a fuga do distrito da culpa ou ainda quando sua presença é necessária para o prosseguimento da ação ou investigação: IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; 22 Tal medida deve ser utilizada apenas em casos em que haja suspeita fundamentada de fuga do agente, de modo a impedi-lo de utilizar rodoviárias, portos e aeroportos, ou mesmo em qualquer fiscalização nas rodovias. O que torna pouco atraente esta medida é a não integração entre os estados da Federação em um sistema de prisão, de modo que não se sabe se o agente parado em uma blitz da Polícia Rodoviária, por exemplo, está cumprindo medidas cautelares no estado vizinho. 5.5 RECOLHIMENTO DOMICILIAR Tal medida é similar ao instituto da prisão domiciliar e a prisão em regime aberto, conforme verifica-se da transcrição do inciso V do art. 319 do Código de Processo Penal que segue: V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; Entende-se que manter o acusado em sua residência quando não está a exercer atividade profissional seria capaz evitar a reincidência ou o cometimento de novos crimes. Sacrifica-se a liberdade do acusado como forma de proteção geral. 5.6 SUSPENSÃO DA FUNÇÃO OU ATIVIDADE A suspensão da função ou atividade, prevista no inciso VI do art. 319 do Código de Processo Penal abarca tanto funcionários/agentes públicos como trabalhadores do setor privado: VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; Tal medida se mostra ideal para a aplicação nos casos de cometimento de crimes contra administração pública e/ou contra a economia popular. O poder do cargo ou função pode ser usado para a continuação na prática delituosa ou ainda na tentativa de destruir provas ou dependendo da posição ocupada pelo acusado até mesmo na incursão de fraude processual. 23 A medida deve ser aplicada onde a manutenção do acusado no cargo ou função provoque receio/suspeita devidamente fundamentado e o cargo ou função tenha servido como meio ou justificativa para a suposta prática delituosa. É o caso do julgado que passo a transcrever: PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. OPERAÇÃO INSISTÊNCIA. CORRUPÇÃO PASSIVA MAJORADA. QUADRILHA ARMADA. MEDIDAS CAUTELARES PESSOAIS. AFASTAMENTO DO CARGO. PROIBIÇÃO DE ACESSO A LUGAR. MOTIVAÇÃO. EXISTÊNCIA. RECURSO IMPROVIDO. 1. As medidas cautelares pessoais diversas da prisão demandam o preenchimento de pressupostos e requisitos, a cristalizar a sua imprescindibilidade. Na espécie, o recorrente é acusado de chefiar, na qualidade, de Delegado da Polícia Federal, esquema de cobrança de propina de comerciantes, sediados diversos importantes centros comerciais na Capital paulista. Tendo-se amealhado elementos de convicção acerca de autoria e materialidade, e, havendo receio de renitência delitiva (já foram oferecidas duas denúncias em desfavor do recorrente), tendo havido o emprego da função pública para a obtenção de vantagem indevida, tem-se por justificado o afastamento do cargo público, bem como a proibição de frequentar o departamento da Polícia Federal, a bem da escorreita colheita da prova e da profilaxia da prática de novas infrações penais. 2. Recurso improvido. (STJ - RHC: 43838 SP 2013/0415799-2, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 14/10/2014, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 29/10/2014). [sem grifo no original] Em função do princípio da presunção da inocência, entende-se que o afastamento do cargo não deve cumular com a suspensão dos vencimentos, fórmula já adotada em procedimentos administrativos e procedimentos judiciais especiais. 5.7 INTERNAÇÃO PROVISÓRIA A internação provisória trazida pela lei 12.403/2011, prevista no inciso VII do art. 319 do Código de Processo Penal: VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; [sem grifo no original] A legislação exige não apenas o laudo pericial que demonstre a inimputabilidade ou semi-imputablilidade do agente, mas que este exprima risco real de reiteração criminosa. A intenção do legislador ao inserir tal medida cautelar é de proteger o acusado retirando-o do cárcere comum e proporcionando tratamento ao mesmo 24 quando necessário, e a sociedade como um todo quando se preocupa com a reiteração criminosa. Trago um recorte jurisprudencial que demonstra a medida sendo aplicada: HABEAS CORPUS. ROUBO. SIMULAÇÃO DE EMPREGO DE ARMA. SUBTRAÇÃO DE APARELHOS DE TELEFONIA CELULAR. CONVERSÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE EM PRISÃO PREVENTIVA E INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE REVOGAÇÃO DA PRISÃO. FORTES INDÍCIOS DE QUE O PACIENTE SOFRE DE DOENÇA MENTAL. CUMPRIMENTO DE MEDIDA DE SEGURANÇA ANTERIOR. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA PELA MEDIDA CAUTELAR DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA (ART. 319, INCISO VII, DO CPP). NECESSIDADE DE INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL DO PACIENTE. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. EXISTINDO FORTES INDÍCIOS DE QUE O PACIENTE SOFRE DE DOENÇA MENTAL, OSTENTANDO A CONDIÇÃO DE IMPUTÁVEL OU SEMI-IMPUTÁVEL, UMA VEZ QUE JÁ CUMPRIU MEDIDA DE SEGURANÇA POR QUASE 09 (NOVE) ANOS, CARACTERIZA CONSTRANGIMENTO ILEGAL A MANUTENÇÃO DO PACIENTE EM PRESÍDIO COMUM. 2. TODAVIA, CONSIDERANDO QUE O DELITO IMPUTADO AO PACIENTE FOI COMETIDO COM GRAVE AMEAÇA, A DÚVIDA QUANTO À HIGIDEZ MENTAL IMPÕE A CONVERSÃO DA PRISÃO PREVENTIVA EM INTERNAÇÃO PROVISÓRIA, CONFORME PREVISÃO DO ARTIGO 319, INCISO VII, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, ATÉ QUE SEJA CONCLUÍDO O INCIDENTE DE SANIDADE MENTAL, ATÉ PORQUE, DIANTE DAS ANOTAÇÕES PENAIS DO PACIENTE, ESTÁPRESENTE O RISCO DA REITERAÇÃO. 3.[...].(TJ-DF - HBC: 20140020043139 DF 0004339-45.2014.8.07.0000, Relator: ROBERVAL CASEMIRO BELINATI, Data de Julgamento: 03/04/2014, 2ª Turma Criminal, Data de Publicação: Publicado no DJE : 09/04/2014 . Pág.: 379) [sem grifo no original] 5.8 FIANÇA A Lei 12.403/2011 foi responsável por revitalizar o instituto da fiança no processo penal brasileiro. A antiga redação do art. 310 do Código de Processo Penal, dada pela Lei 6.416/1977 não permitia aplicação da fiança caso estivessem presentes os requisitos para a prisão preventiva (GOMES, 2011, p. 194), o que tornava sua aplicação muito restrita, limitada exclusivamente as hipóteses de crimes contra a economia popular e em casos de sonegação fiscal. A fiança é uma forma de caução real em que o acusado/indiciado garante o juízo em troca de sua liberdade provisória. O art. 319 sobre a fiança nos diz que a fiança será concedida em três hipóteses: a)para assegurar o comparecimento a todos os atos do processo; b) evitar a obstrução ou andamento do processo (aqui 25 implicitamente entende-se que também aplica-se a fase de inquérito); c) em caso de resistência injustificada a ordem judicial: VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; A fiança deve ser concedida pelo juiz e excepcionalmente pelo delegado de polícia. É reconhecidamente a única medida cautelar que pode ser aplicada pela autoridade da Polícia Judiciária. O Código de Processo Penal trás um rol taxativo das hipóteses em que a concessão da fiança pode se dar pelo delegado que formalizou a prisão em flagrante: Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. Os artigos 323 e 324 do Código de Processo Penal estabelecem as hipóteses em que não se permite a concessão de fiança: Art. 323. Não será concedida fiança: I - nos crimes de racismo; II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; [...] Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código; II - em caso de prisão civil ou militar; III – revogado. IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312). Percebe-se que as proibições à concessão da fiança concentram-se nos casos onde há a suposta prática de crimes graves ou gravíssimos, casos em que o agente, se condenado, receberia pena restritiva de liberdade. Outro ponto a favor da fiança trazido pela lei 12.403/2011 foi a possibilidade de serem fixados valores em patamares mais elevados a título de fiança. A fiança 26 deve ser capaz de coagir o indivíduo a comparecer a todos os atos do processo e afastar o desejo de fuga do acusado. Claro que para a fixação da fiança o juiz ou delegado deve ater-se as circunstâncias do caso concreto quanto às possibilidades do agente, mas fato é que em casos de crimes contra a ordem econômica, por exemplo, lida-se muitas vezes com acusados/indiciados de elevado poder aquisitivo e somente um valor proporcional surtiria os efeitos desejados com a medida. A fiança é um instituto democrático quando utilizada corretamente, o mesmo legislador que prevê a fixação de valores altíssimos a título de fiança também previu a dispensa do valor da fiança aos presos comprovadamente pobre conforme estipulado no art. 350 do Código de Processo Penal: Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade provisória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso. Tal hipótese é classificada na doutrina como liberdade provisória sem fiança e vinculada. Entendimento compartilhado pela jurisprudencial atual: Habeas Corpus. Estelionato. Arbitramento de fiança em dois salários mínimos. Não recolhimento. Pobreza. Manutenção da prisão. Constrangimento ilegal configurado. Aplicação do art. 350 do CPP. Evidenciada a precariedade financeira do favorecido com o arbitramento de fiança criminal, tamanha a ponto de impedi-lo de alcançar a liberdade, esta a consequência natural esperada do instituto em questão, necessária é a alteração da medida, escolhendo-se outra em meio ao leque de cautelares aberto pelo Código de Processo Penal. Liberdade provisória independente do pagamento de caução. Imposição de medidas cautelares alternativas. Ordem concedida. (TJ-SP - Estelionato: 21092868820148260000 SP 2109286-88.2014.8.26.0000, Relator: Otávio de Almeida Toledo, Data de Julgamento: 12/08/2014, 16ª Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação: 14/08/2014). [sem grifo no original]. Uma crítica feita à medida é que a lei previu a dispensa da fiança nos casos de acusados com comprovada hipossuficiência econômica apenas por autoridade judicial não legitimando o delegado a fazê-lo, obrigando a autoridade policial a recolher ao cárcere o preso que não tiver condições financeiras de prestar fiança no momento da prisão ignorando a hipótese de aplicação das medidas alternativas de pronto pela autoridade policial (GOMES, 2011, p. 208). 27 5.9 MONITORAÇÃO ELETRÔNICA A monitoração eletrônica já havia sido inserida no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei 12.258/2010, que alterou a Lei de Execuções Penais introduzindo a possibilidade da monitoração eletrônica na fase de execução penal com o objetivo de auxiliar a fiscalização do cumprimento das decisões judiciais e controle dos apenados nos regimes aberto e semiaberto. Foi adotada nos EUA inicialmente no estado do Novo México já no ano de 1984. Na Inglaterra e no País de Gales é usada desde 1999, onde o monitoramento e controle são feitos por empresas privadas (GOMES apud KARAM, 2007). A lei 12.403/2011 permitiu a aplicação da monitoração eletrônica em fase processual ou até mesmo durante o inquérito policial, como medida cautelar: Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: [...] IX - monitoração eletrônica. Os juristas e doutrinadores brasileiros preocuparam-se e preocupam-se com a violação dos direitos fundamentais do acusado quanto ao uso da monitoração eletrônica. Nos sistemas processuais penais, onde a monitoração eletrônica já é usada há algum tempo essa questão já se encontra superada ou ao menos resolvida em partes, vez que a monitoração eletrônica só acontece com a autorização do acusado/indiciado, que tem a opção de ponderar quais direitos lhe são mais caros, como, por exemplo abrir mão do direito a intimidade, tendo consciência de que será monitorado constantemente pelo direito à liberdade de locomoção/ir e vir livremente. Os objetos para o controle e monitoração eletrônica foram beneficiados com o avanço tecnológico e atualmente se resumem em braceletes ou tornozeleiras de pequeno porte e fácil camuflagem, o que afasta o estigma daqueles que possuem pendencias com a justiça criminal. A monitoração eletrônica em oposição à prisão tradicional é extremamente benéfica, sejapelo baixo custo de manutenção quando o sistema já está implantado ou pelo custo humano quando levamos em consideração a realidade do cárcere no Brasil. 28 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A eficácia das novas medidas cautelares já é perceptível no sistema prisional brasileiro, pelo menos no que diz respeito à diminuição da população carcerária. Segundo relatório divulgado em 2014 pelo Conselho Nacional de Justiça, os detentos em situação provisória constituem cerca de 32% da população carcerária atualmente, sendo que em relatório anterior somavam aproximadamente 41%. Algumas das medidas têm sua eficácia comprometida, seja porque a lei deixou de especificar diretrizes para sua implantação ou ainda aquelas medidas feitas para serem usadas em conjunto com as demais, inócuas se aplicadas individualmente. É o caso da proibição de acesso a determinados lugares. A Lei não determinou alguma espécie de verificação do cumprimento da medida e, mesmo que assim fosse o poder judiciário não dispõe de meios para tanto (financeiros e de pessoal). A Lei foi omissa quando deixou de fixar prazos para a aplicação das medidas cautelares, o que nos leva a supor que sua aplicação será necessária enquanto estiverem presentes os requisitos para a sua aplicação (fumus comissi delicti e periclum libertatis). Durante a realização desse trabalho foram encontrados diversos obstáculos para a total implementação das medidas cautelares alternativas à prisão no sistema jurídico-penal brasileiro, a saber, a falta de previsão legal para a fiscalização das medidas mencionada anteriormente; incompletude ou omissão da lei processual, por exemplo, quanto a fixação de distancia mínima que deve acusado/indiciado manter- se afastado da vítima; a falta de integração ou a criação de um sistema nacional de prisão, para o acompanhamento e controle dos acusados/indiciados durante o cumprimento das medidas; a ausência de um sistema único para a monitoração eletrônica, dentre outras dificuldades. Entretanto, precisamos ter a consciência de que as novas medidas cautelares ainda estão em fase de adaptação, de sair do papel e se estabelecer de fato em nosso ordenamento jurídico. A existência de medidas cautelares alternativas à prisão e o desfazimento do sistema binário-cautelar por si só já configura um grande avanço na busca por um real estado democrático de direito. 29 REFERÊNCIAS BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, 2. ed. São Paulo: Saraiva. 2001. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 2012. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 31 jan. 2015. _____. Código de Processo Penal. Código de Processo Penal. Brasília, DF, Senado, 2011. <www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm>. Acesso em: 31 jan. 2015. _____. Superior Tribunal de Justiça. Habeas-corpus: nº 43838. Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA. Data de Julgamento: 14/10/2014, T6 - SEXTA TURMA. Disponível em: <www.jusbrasil.com.br/jurisprudência>. Acesso em: 31 jan. 2015. _____. Superior Tribunal de Justiça. Habeas-corpus: 128599 PR 2009/0027065-3, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 07/12/2010, T6 - SEXTA TURMA. Disponível em: <www.jusbrasil.com.br/jurisprudência>. Acesso em: 31 jan. 2015. _____. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Habeas Corpus nº 20140020043139 DF 0004339-45.2014.8.07.0000. Relator: ROBERVAL CASEMIRO BELINATI. Data de Julgamento: 03/04/2014, 2ª Turma Criminal. Disponível em: <www.jusbrasil.com.br/jurisprudência>. acesso em: 31 jan. 2015. _____. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Habeas-corpus nº 10000140636705000 MG. Relator: Marcílio Eustáquio Santos. Data de Julgamento: 11/09/2014, Câmaras Criminais / 7ª CÂMARA CRIMINAL. Disponível em: <www.jusbrasil.com.br/jurisprudência>. acesso em: 31 jan. 2015. _____. Tribunal de Justiça do Paraná. Habeas-corpus nº 1236898-8. Relator: Roberto Antônio Massaro. Foro Regional de São José dos Pinhais da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba. . Disponível em: <www.jusbrasil.com.br/jurisprudência>. acesso em: 02 fev.. 2015. _____. Tribunal de Justiça do Piauí. Habeas-corpus nº 201200010004226 PI, Relator: Des. Pedro de Alcântara Macêdo. Data de Julgamento: 27/03/2012, 1a. Câmara Especializada Criminal. Disponível em: <www.jusbrasil.com.br/jurisprudência>. acesso em: 31 jan. 2015. _____. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Recurso em Sentido Estrito nº 70054296876, Terceira Câmara Criminal. Relator: Nereu José Giacomolli. Julgado em 04/07/2013. Disponível em: <www.jusbrasil.com.br/jurisprudência>. acesso em: 31 jan. 2015. 30 _____. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Habeas- corpus nº 70045552510, Sexta Câmara Criminal. Relator: João Batista Marques Tovo. Data de Julgamento: 24/11/2011. Disponível em: <www.jusbrasil.com.br/jurisprudência>. acesso em: 02 fev. 2015. _____. Tribunal de Justiça de São Paulo. Habeas-corpus nº 21092868820148260000 SP 2109286-88.2014.8.26.0000. Relator: Otávio de Almeida Toledo. 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Acesso em: 31 jan. 2015. 31 ANEXO A – REBELIÃO DE PRESOS NO MARANHÃO TERMINA COM 18 MORTES Edição do dia 09/11/2010 09/11/2010 21h15 - Atualizado em 09/11/2010 22h09 Rebelião de presos no Maranhão termina com 18 mortes Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária, a rebelião começou por descuido de um agente. Vinte e dois presos serão levados para presídios federais. Terminou, nesta terça, depois da morte de 18 presos, a rebelião no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão. Os cinco funcionáriosdo sistema penitenciário passaram quase 30 horas em poder dos detentos. Pela manhã, quando as negociações pareciam dar resultado, uma nova confusão. Desta vez num pavilhão ao lado. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária, a rebelião começou por descuido de um agente. "Eles estavam retirando o pessoal da cela e na hora o agente virou, não prestou atenção, ele avançou no agente e tomou a arma", disse João Bispo Serejo, secretário adjunto de Administração Penitenciária. No começo da tarde, os rebelados pediram as presenças de uma juíza e de um religioso. Em seguida, os presos entregaram as armas. Dezoito detentos foram assassinados. "Não havia razão para esta barbárie. Foi uma rebelião sem motivo. Nós vamos investigar a fundo o que levou a essa barbárie que ocorreu aqui em São Luís”, declarou Aluísio Mendes, secretário de Segurança Pública. A Secretaria de Segurança Pública vai transferir até sexta-feira 22 presos que comandaram a rebelião. Eles serão levados para presídios federais. A polícia abriu dois inquéritos: um pra apurar quem ordenou as mortes e outro pra descobrir o que motivou a rebelião. 32 ANEXO B – CNJ DIVULGA DADOS SOBRE NOVA POPULAÇÃO CARCERÁRIA CNJ divulga dados sobre nova população carcerária brasileira 05/06/2014 - 08h03 Luiz Silveira/Agência CNJ A nova população carcerária brasileira é de 711.463 presos. Os números apresentados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a representantes dos tribunais de Justiça brasileiros, nesta quarta-feira (4/6), levam em conta as 147.937 pessoas em prisão domiciliar. Para realizar o levantamento inédito, o CNJ consultou os juízes responsáveis pelo monitoramento do sistema carcerário dos 26 estados e do Distrito Federal. De acordo com os dados anteriores do CNJ, que não contabilizavam prisões domiciliares, em maio deste ano a população carcerária era de 563.526. “Até hoje, a questão carcerária era discutida em referenciais estatísticos que precisavam ser revistos. Temos de considerar o número de pessoas em prisão domiciliar no cálculo da população carcerária”, afirmou o supervisor do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas (DMF/CNJ), conselheiro Guilherme Calmon. A prisão domiciliar pode ser concedida pela Justiça a presos de qualquer um dos regimes de prisão – fechado, semiaberto e aberto. Para requerer o direito, a pessoa pode estar cumprindo sentença ou aguardando julgamento, em prisão provisória. Em geral, a prisão domiciliar é concedida a presos com problemas de saúde que não podem ser tratados na prisão ou quando não há unidade prisional própria para o cumprimento de determinado regime, como o semiaberto, por exemplo. Provisórios – Além de alterar a população prisional total, a inclusão das prisões domiciliares no total da população carcerária também derruba o percentual de presos provisórios (aguardando julgamento) no País, que passa de 41% para 32%. Em Santa Catarina, a porcentagem cai de 30% para 16%, enquanto em Sergipe, passa de 76% para 43%. “A porcentagem de presos provisórios em alguns estados causava uma visão distorcida sobre o trabalho dos juízos criminais e de execução penal. Quando magistrados de postura garantista concediam prisões domiciliares no intuito de preservar direitos humanos, o percentual de presos provisórios aumentava no estado”, disse o coordenador do DMF/CNJ, juiz Douglas Martins. Ranking – Com as novas estatísticas, o Brasil passa a ter a terceira maior população carcerária do mundo, segundo dados do ICPS, sigla em inglês para Centro Internacional de Estudos Prisionais, do King’s College, de Londres. As prisões domiciliares fizeram o Brasil ultrapassar a Rússia, que tem 676.400 presos. 33 Déficit – O novo número também muda o déficit atual de vagas no sistema, que é de 206 mil, segundo os dados mais recentes do CNJ. “Considerando as prisões domiciliares, o déficit passa para 354 mil vagas. Se contarmos o número de mandados de prisão em aberto, de acordo com o Banco Nacional de Mandados de Prisão – 373.991 –, a nossa população prisional saltaria para 1,089 milhão de pessoas”, afirmou o conselheiro Guilherme Calmon. 34 ANEXO C – LEI DAS CAUTELARES FAZ CAIR PRISÕES EM FLAGRANTE Lei das Cautelares faz cair prisões em flagrante Agência Estado Publicação: 01/11/2014 14:21 Atualização: O número de detidos em flagrante mantidos em prisão provisória teve uma queda de 26,6 pontos porcentuais na cidade de São Paulo segundo relatório do Instituto Sou da Paz e da Open Society Foundation, desde a entrada em vigor da Lei das Cautelares, há três anos. No primeiro ano da nova legislação, criada para desafogar o sistema prisional brasileiro, a taxa de presos provisórios flagrados em delito caiu de 87,9% para 61,3% só na capital. A pesquisa, obtida com exclusividade pelo Estadão, analisa os efeitos da Lei 12.403/11 e compara as prisões provisórias (sem julgamento nem sentença) efetuadas em 2012 com as do ano anterior. Para o coordenador do estudo na capital, Marcello Fragano Baird, do Sou da Paz, os dados indicam impacto positivo no porcentual de presos em flagrante, mas o encarceramento em massa ainda persiste. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), são 71 mil presos provisórios, o que representa 24% do total de detentos do sistema paulista. "Ainda há um longo caminho para garantir o direito (de defesa) dos presos e para desafogar o sistema carcerário", diz Baird. Antes da Lei das Cautelares, só existiam duas opções: aguardar o julgamento em liberdade provisória ou na prisão. Agora, nove medidas podem ser adotadas pelos juízes em substituição à prisão preventiva. O objetivo da legislação é, além de reduzir a superlotação carcerária, diminuir custos e evitar que réus com menor potencial criminoso tenham contato com presos mais perigosos. "Sempre houve uma certa resistência por parte dos magistrados em conceder medidas cautelares, mas a lei tem invertido essa lógica", afirma o juiz Alex Zilenovski, ex-corregedor do Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária (Dipo). "Ainda assim, se percebe que elas são subestimadas. Muitos continuam acreditando que só a prisão vai resolver os problemas", diz. Marilda Pansonato, presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP), avalia também que o não encarceramento pode ter implicações negativas. "Um dos problemas é que o não cumprimento da pena cria uma sensação de impunidade." A lei permite, porém, que delegados de polícia fixem fiança aos acusados de crimes, contanto que a pena máxima prevista não exceda quatro anos. Medida mais usada em São Paulo por delegados e juízes, a fiança, aplicada em mais da metade dos crimes contra o patrimônio sem violência, representa 69% das cautelares, seguida de proibição de se ausentar da comarca e recolhimento noturno. Na avaliação do Instituto Sou da Paz, a lei seria mais eficiente se as medidas fossem diversificadas. O relatório aponta que o impacto da lei foi maior em São Paulo do que no Rio, onde o número de presos em flagrante mantidos em prisão caiu de 83,8% para 72,3%. Os resultados das duas cidades foram compilados no mesmo relatório, financiado pela instituição de Nova York. No Rio, o parceiro foi a Associação pela Reforma Prisional (ARP).
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