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GRUZINSKI FICHAMENTO AMÉRICA 1 - O PENSAMENTO MESTIÇO

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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ
Instituto Multidisciplinar – Campus Nova Iguaçu
Curso de Licenciatura em História
Alunas:
Débora Araújo de Souza
Isabela Cristina da Silva Araújo
Fichamento:
O pensamento mestiço
Serge Gruzinski
Nova Iguaçu, 2017
GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
O texto inicia-se apresentando dois termos que o autor interpreta as mestiçagens, que são: “o choque da conquista” e a “ocidentalização” e não restringe as mestiçagens como apenas um fenômeno cultural, pois ocorreram numa fase expansão da Europa em um contexto de colonização, restando apenas esclarecer esses fatos.
“Se nem todas as mestiçagens nascem necessariamente de uma conquista, as desencadeadas pela expansão colonial na América iniciam-se invariavelmente sobre os escombros de uma derrota.” (P.64)
Motolínia, um padre franciscano resume em sua crônica acerca da Conquista e relaciona as dez pragas para descrever a queda da Cidade do México e estas consistem em: “fome, guerra, epidemia, os três cavaleiros do Apocalipse dedicam-se a riscar os índios da terra onde eles viviam.” (P.65)
A reconstrução da cidade é uma tarefa árdua, pois a Cidade do México vive momentos de tensão e instabilidade. Para reconstruir a cidade muitos índios foram reduzidos à escravidão, sendo forçados a trabalhar nas minas, enquanto isso as aldeias foram se despovoando e outros índios indo para as montanhas se refugiar. E ainda há conflitos internos entre vencedores x vencedores, que deixaram o país a beira de uma guerra civil.
“Por isso é que as pragas do México foram piores que as do Egito: duraram mais tempo, causaram mais mortes, resultaram mais da crueldade e da cobiça dos homens do que da manifestação da ira divina.” (P.67)
O padre possui explicações providencialistas e metafísicas, retirando suas interpretações do Êxodo e do Apocalipse, esse método de comparar acontecimentos no mundo com passagens bíblicas acontece com bastante frequência desde a idade Média e servem para retratar e imaginar a desordem e as consequências devastadoras. Porém o monge não atem sua interpretação apenas ao caráter providencialistas, ele também atribui aos homens grande responsabilidade dentro desse processo de instabilidade, tanto os espanhóis como os índios.
“[...] Ele compara os conquistadores espanhóis aos “opressores do Egito que afligiam o povo de Israel”, a carrascos que tratam os índios como animais, a adoradores do Velocino de Ouro que caíram nas redes do demônio”. Agora só se trata de “atribulações de provações que se abateram sobre os índios”. (P.69)
A desordem das coisas
Pós-guerra e depois com as obras para construir uma cidade com o visual espanhol há uma quebra com os traços da cidade pré-hispânica, o urbano se concilia com restos abandonados, destruídos e/ou recuperados dos indígenas. Há uma mistura indígena, espanhola, europeia e renascentista no modelo de arquitetura da nova cidade e o social também começa a se englobar e misturar, pois há nobres indígenas, escravos indígenas, negros advindos da África e conquistadores da Espanha morando lado a lado, misturando línguas, vozes, corpos e etc.
“À confusão dos espaços soma-se o desregulamento das referências temporais resultante das diversas temporalidades que se enfrentam [...] A sociedade pré-hispânica dava a maior importância à ‘conta dos tempos’, que ocupava um lugar fundamental na cosmologia. Calendários elaborados mediam o passar do tempo para indicar a sucessão ininterrupta das festas que ritmavam o ano indígena”. (P.71)
Quando os espanhóis chegam à América, eles proíbem as grandes festas, os rituais, os sacrifícios humanos dos índios, e isso causa um vazio crescente, pois seus costumes estão sendo retirados e sua representação acerca do Tempo sendo substituída pelo tempo cristão, apesar de demorarem a aderi-lo. Em resumo, a confusão acerca do tempo, o caos urbano aumentaram a desordem social e política no México.
“Zonas estranhas”: conquista e instabilidade crônica
Como já relatado anteriormente, a chegada dos espanhóis acarretou um choque e caos, gerando zonas turbulentas não só no México, mas também nos Andes, no Caribe e até no Brasil com a chegada dos portugueses. O cronista Fernández de Oviedo relata “alterações e discórdias” nessas áreas que sofreram com revoltas e/ou guerras civis, impulsionadas por conflitos dos aparelhos políticos e das hierarquias ancestrais. Essas zonas são o palco de uma mudança crescente no campo social, enfrentando muitas adversidades, que muitas vezes fogem do controle e da influência humana; um exemplo disso são as mortes causadas por epidemias trazidas pelos europeus que acabaram matando diversos indígenas, pois esses não tinham carga imunológica contra tais doenças.
“No rastro da Conquista, surgiram “zonas estranhas” nas ilhas antilhanas, no México, e depois no Peru e no Brasil. A expressão “sociedade colonial” é imprópria para qualifica-las, pois supõe certo grau de realização e uma estabilidade relativa que só serão atingidos após um ou vários decênios, sem falar da morte de milhões de criaturas”. (P.74)
Outro ponto que o autor aborda é a relação entre vencedores, vencidos e colaboradores, pois era uma mistura sem precedentes, apesar de ter ocorrido uma hibridação na Ibéria Medieval, a mestiçagem que se instalava na “conquista” é diferente, pois se na Ibéria era um encontro de três mundos diferentes com um fundo comum, na América o choque é mais intenso, pois há uma complexidade, espanhóis e índios não se conhecem, o ambiente é diferente e os invasores se enxergavam socialmente como um “aglomerado de diferentes espécies de gente”, porque vieram homens de sangue nobre, mas chegaram o dobro que pessoas de baixo escalão, de linhagem baixa, delinquentes e marginalizado - este acontecimento se repete também no Brasil -, há também as diferenças regionais, bascos, castelhanos e extremadurenhos entravam em atritos e acabavam tendo dificuldades para se estabelecer acordos.
“A diversidade dos protagonistas indígenas e europeus –religiosa, linguística, física, social etc.- e as tensões que os opõem introduzem uma heterogeneidade ainda mais acentuada pelo choque da derrota e pelas deficiências do quadro político. [...] É que a conquista minou toda e qualquer autoridade. É limitada, para não dizer inexistente, a influência do novo poder soberano, encarnado no imperador Carlos V, que reina ora na Espanha, ora nos Países Baixos. As distâncias oceânicas e continentais atrasam a transmissão das ordens e informações”. (P.76)
Segundo Motolínia essa distância torna o México ingovernável, fora os casos de corrupções que são generalizados, a Inquisição não possui tanta influência, os mais influentes só tomam atitudes segundo seus interesses e há a possibilidade de uma guerra civil por conta da divisão dos conquistadores que possuem seus clãs, partidos, facções, entre outros, que são movidos por seus interesses e ganâncias. 
Mestiçagens
“As relações entre vencedores e vencidos também assumiram a forma de mestiçagens, alterando os limites que as novas autoridades procuravam manter entre as duas populações”. (P.77)
Em grande maioria, os primeiros emigrantes europeus, eram homens que se apoderaram do título de vencedor, conquistador e agiam da forma que desejavam, pois estavam em terras pagãs, aonde a Igreja não tinha controle e então agiam com liberdade e libertinagem, abusando das índias, que eram vistas como presas fáceis. Por conta desses estupros, concubinagens e, raramente, casamentos, surgiu um novo tipo de população definida como “mestiços”, e há a dúvida se esses são integrados a sociedade espanhola ou indígena; não possuíam espaço na sociedade, pois essa estava dividida entre “república dos índios” e “república dos espanhóis”.
“Por todas essas razões, índios, negros e espanhóis tiveram de inventar, dia após dia, modos de convívio ou, especialmente os primeiros, soluções de sobrevivência. Em todos os campos, a improvisação venceu a normae o costume. Foi nesse quadro conturbado que se iniciou o processo de ocidentalização”. (P.78)
O autor cita Las Casas que denuncia os impulsos assassinos em seu livro, e o autor dominicano Betanzos, o qual não tem palavras suficientes para relatar a violência e o sofrimento os índios foram subjugados e que por pouco não foram extintos; os invasores interessados pelo ouro acabaram explorando e colocando os índios em condições precárias, que esses não estavam acostumados, os invasores não se preocupavam nem em alimentá-los, por conta da exploração da mão-de-obra indígena há muitas mortes e acaba por intensificar a importação de mão-de-obra africana.
Gruzinski aborda a dificuldade de explicar e compreender o encontro dessas duas culturas e suas perturbações, pois estão tão entrelaçados que se torna difícil estabelecer um limite entre eles e saber aonde se inicia o mundo indígena, e onde termina o dos conquistadores; a complexidade para descrever tal vínculo não deve apenas se ater em aculturação e deculturação.
Do Peru das revoltas ao Brasil dos mamelucos
“No Peru, a desordem foi mais profunda, espetacular e duradoura. Como em outras partes, a irrupção dos conquistadores nos Andes provocou um choque social, político e religioso. Mas dois assassinatos acentuaram a instabilidade política e a incerteza sobre o futuro do país [...]”. (P.80)
O texto apresenta que o Peru sofreu o que era temido no México: crise na nobreza, mortalidade da população indígena, autodestruição dos invasores etc. A Coroa só conseguiu impor definitivamente sua regra a todos depois de muito tempo, nos meados do século XVI. O cronista Guaman Poma de Ayala retrata a confusão e a mistura entre grupos distintos, citando índios que circulavam livremente, se tornando artesões, vestindo-se como espanhóis para fugir dos tributos e não serem enviados as minas. Por esses aspectos e outros a mestiçagem do Peru é diferenciada do México. 
A perda das referências
“A era perturbada que a Conquista inaugurou influenciaria de forma duradoura o modo de vida das sociedades da América ibérica. [...] O desmoronamento ou o enfraquecimento das dinastias indígenas, os estragos das epidemias, a interrupção dos sistemas de ensino tradicionais, a proibição das formas públicas de idolatria e a exploração desenfreada de que são as vítimas deixam as populações indígenas desorientadas ou prostradas. Também são evidentes os tormentos dos escravos arrancados de sua terra africana e exportados à força para o México, o Peru e o Brasil, terras ainda mais desnorteantes que as metrópoles ibéricas.” (P.82)
“[...] As estações do ano, os alimentos americanos, o convívio diário com índios e índias abalam os costumes e impõem esforços constantes da adaptação e interpretação. [...] A evolução dos quadros de vida e das tradições, que na Europa era lenta e passava quase despercebida, sofre de súbito uma aceleração com aprendizados e experiências novas. Negros e europeus estão sem luta contra contextos que transformam irremediavelmente o sentido das coisas e das relações entre os homens.” (P.83)
Tanto índios, como europeus e negros tiveram que se adaptar à uma nova sociedade, com novos costumes e integrados com etnias diferentes com hábitos diferentes, muitos elementos europeus perderam seu sentido e significado sendo necessário criar novos valores, costumes, hábitos, e os índios também enfrentaram dificuldades em assemelhar suas crenças e deuses a imagens europeias, tal descontextualização não só poupou a perda de legitimidade, de sentido, interpretação como também as práticas e crenças locais.
“A adoção forçada do cristianismo questionava inúmeros comportamentos e crenças, mas as mudanças se estendiam a muitos outros campos. Uma inovação técnica como a substituição dos códices antigos pela escrita alfabética, o manuscrito, o livro introduziu uma nova relação com a informação, ou com aquilo que, para os índios, fazia vezes de informação. [...] O uso da escrita alfabética também modificou a seleção e a montagem das informações, impondo o ritmo de uma narração linear. [...] a conquista espanhola “secularizou” a informação”. (P.84)
“Os estragos das grandes epidemias, por suas proporções inauditas, também perturbaram os espíritos da população e desarmaram os curandeiros mexicanos.” (P.85)
Os índios acreditavam em deuses e espíritos que curavam doenças, e os protegiam, explicavam acontecimentos relacionando-os a divindades, porém com o surto de epidemias, alto índice de mortalidade as explicações pelo “divino” não contemplavam mais o povo e não eram mais tão precisos, os curandeiros, por exemplo, tiveram que buscar explicações mais palpáveis e que sua intepretação derivasse do mundo material; esse fato demonstra a pressão dos novos tempos sobre as interpretações e representações do povo indígena. Essas perdas de significado, como na cartografia, medicina e escrita foram mais sutis e impactaram mais do que a destruição de santuários, pois perderam parte da sua essência.
“Todavia, a pressão colonial também se manifestou, de modo mais brutal e generalizado, na integração forçada de mão-de-obra indígena ao mercado, à mina, à oficina, submetendo-a a novos ritmos e relações de produção, mas igualmente a uma concepção do trabalho desvinculada das tradições locais e cosmologias antigas”. (P.86)
Os europeus também passaram pela descontextualização, perda de sentido, distanciamento com práticas antigas, porém sofreram muito menos com o impacto em relação aos índios e negros.
“Os espanhóis que haviam se habituado a comer milho estavam longe de imaginar a carga cósmica que esse cereal divino tinha para os índios. Se quisessem imaginar, teriam de penetrar no campo das crenças dos índios, tidas como idolátricas. [...] o cacau e o tabaco tiveram destino semelhante. Também se esvaziaram das presenças divinas que os impregnavam. Privilégio reservado à nobreza indígena antes da conquista espanhola, o consumo de ambos oferecia aos homens o meio de manter um intercâmbio com o mundo divino”. (P.86)
“O choque da conquista não conseguiu secularizar a maneira de ver o mundo. Mas foi suficiente para abalar certos hábitos arraigados no tempo, semeando a dúvida, a ambiguidade e a indecisão. Perda de referências e perde de significado modificaram as condições e o conteúdo da comunicação entre indivíduos e grupos repentinamente postos na presença um do outro. Essas perdas resultaram num déficit constante nas trocas que podiam se estabelecer, pois não eram “culturas” se encontrando, mas fragmentos de Europa, América e África. Fragmentos e estilhaços que em contato um com outros, não ficavam intactos por muito tempo”. (P.87)
A Conquista tem um teor caótico, como o choque entre povos diferentes não tinha o “repasse” de uma cultura completa, mas sim de fragmentos acaba por atrapalhar desde a emissão até a recepção de cultura, aumentando ainda mais a indeterminação e a confusão ao explicar o processo de “mestiçagem”. Há também a dificuldade assimilar às imagens cristãs as divindades indígenas o que acaba por provocar grandes mal entendidos entre espanhóis e índios. Os problemas da comunicação não foram apenas por ordem conceitual, mas também pelo desprezo dos europeus que inferiorizavam os interlocutores indígenas mais do que buscavam valorizar seu patrimônio intelectual. 
“Tais deficiências de comunicação que constituirão um fenômeno durável, são indissociáveis das mestiçagens. [...] O esforço que fazemos para juntar os fragmentos que nos chegam ininterruptamente de todos os cantos do globo tornou-se um exercício planetário, que na verdade intensifica práticas inauguradas no México do Renascimento”. (P.90)
Apesar da fragmentação cultural há a tentativa de guardar suas próprias referências, para negros e índios era de extrema importância para sua sobrevivência, e para os espanhóis se adaptarem ao novo mundo representa uma jogada decisiva e importante que abriria as portas para conquistar novas terras, que imaginavam ser mais abundantes e prósperas.
“[...] a realidade imposta pela Conquista nãoseja de todo estéril e destruidora. Ela estimula capacidades de invenção e improvisação, exigidas pela sobrevivência num contexto extremamente perturbado, heterogêneo (indo-afro-europeu) e sem precedente. Tal limitação molda nos sobreviventes uma receptividade particular, a flexibilidade na prática social, a mobilidade do olhar e da percepção, a aptidão para combinar os fragmentos mais esparsos”. (P.92)
“O choque da Conquista obrigou os grupos ali presentes a se adaptarem a universos fragmentados e fraturados, a viverem situações precárias, instáveis e imprevisíveis, a se contentarem com intercâmbios quase sempre rudimentares. Essas características marcaram fortemente as condições em que se desenvolveram as mestiçagens da América espanhola, criando, em todos os sentidos da palavra, um ambiente caótico, sensível à menor perturbação”. (P.92)
Há outro processo que também desempenha um papel importante para tentar compreender o período da conquista e suas consequências que é denominado por “ocidentalização”.
“A ocidentalização cobre o conjunto dos meios de dominação introduzidos na América pela Europa do Renascimento: a religião católica, os mecanismo do mercado, o canhão, o livro ou a imagem”. (P.93)
Com a ocidentalização há uma nova criação de costumes, valores, modelos políticos, religiosos e sociais europeus na América, transformando o México na “Nova Espanha”.
	“[...] se deve analisar o surgimento de uma infraestrutura de tipo europeu, com a construção de cidades, portos, estradas, fortalezas e arsenais; a criação das universidades; as gigantescas campanhas de obras que cobriram de igrejas, catedrais, claustros, capelas e hospitais uma parte do continente americano.” (P.94)
	Com a extensão da cultura dos vencedores há uma uniformização da linguagem, por exemplo, todos aderiram ao castelhano, tanto mestiços, negros, mulatos como a elite indígena. Os decretos, e leis implantados em uma região americana deveriam ser exercidos e respeitado em todo o império.
	“[...] o direito castelhano regia a vida cotidiana, definia as relações do indivíduo e do grupo com o Estado, impunha a noção de propriedade privada e legitimava o lucro”. (P.95)
	O autor cita uma passagem do jesuíta José de Acosta para sintetizar e resumir essa adaptação, padronização do direito:
	“A multidão de índios e espanhóis forma uma só e mesma comunidade política, e não duas entidades distintas uma da outra; todos têm o mesmo rei e são sujeitos às mesmas leis, um único tribunal os julga, e não há direito diferente para uns e para outros, mas o mesmo para todos". (P.96)
	A América espanhola era o projeto ideal do que seria a Europa imperial e romana, pois como estavam recriando uma América não era necessário levar em conta mazelas, obstáculos, empecilhos e burocracias que estavam presentes na Europa por conta dos resquícios do período medieval e possuíam maior facilidade de substituir costumes indígenas por heranças europeias, transformando assim o território americano em uma nova Castela renascentista.
	“[...] Por toda parte, nos centros da cidade erguiam-se os símbolos da supremacia dos vencedores: a igreja, a sede da prefeitura e do representante do rei, a fonte na praça principal. [...] Essa política urbanística materializava a vontade imperial de inscrever na paisagem americano o triunfo do poder e da fé”. (P.96)
Apesar do cenário europeu na América, os vencedores não eliminavam a população indígena, pois essa era indispensável para a criação do novo modelo; as comunidades indígenas agora se inspiravam e foram adaptadas ao modelo castelhano.
“A um só tempo, a Coroa espanhola separava e juntava: cristalizava as sociedades vencidas numa posição de alteridade, mas este era um decalque do universo hispânico. [...] as elites indígenas serviram de intermediárias forçadas –e muitas vezes interessadas – entre europeus e massas ameríndias. Estas forneceram os contingentes de mão-de-obra necessários aos inúmeros canteiros de obras que se abriram na América Central, nos Andes e no México. [...] produziram os víveres exigidos pelos vencedores, fabricaram inteiramente um novo quadro de vida para eles e arrancaram ouro e prata das entranhas da terra. [...] as populações autóctones confrontaram-se com outros modos de trabalhar, ao mesmo tempo que se projetavam numa nova economia mercantil que ligava seus destinos à economia europeia”. (P.97)
Uma outra cristandade
	“A integração dos índios à sociedade colonial dependia de uma condição imperativa: os derrotados tinham de abjurar suas crenças”. (P.97)
	Os índios consideração idólatras tiveram de ser converter para poder integrar a nova sociedade imposta pelos conquistadores. A adoção do cristianismo vai além da salvação, pois no renascimento religião está diretamente ligada a política, e também englobava um modo de vida, interferia na educação, sexualidade, moral, valor, arte, práticas alimentares etc; a religião, a fé era o ponto comum entre todos os súditos do rei.
	“[...] a cristianização foi um elo essencial da ocidentalização do Novo Mundo”. (P.98)
	A Igreja tem um papel fundamental na substituição do “indígena para o europeu”, pois somada com ao urbanismo europeu reforça a superioridade e supremacia europeia tanto no físico como no espiritual.
	Com a chegada dos franciscanos a educação inspirada no humanismo se fortalece e há mais construções de escolas e os filhos da elite indígena aprendem a ler, escrever e possuem a oportunidade de se formar no colégio de Santa Cruz de Tlateloco, onde aprende latim, tipografia e estudam clássicos da Antiguidade. Essa forte ocidentalização apresenta ser perigosa e amedronta os menos abastados da sociedade espanhola, pois veem indígenas superiores a eles em conhecimento e educação. Porém há outro fator que afirma e impõe ainda mais a ocidentalização e cristianização.
	“[...] a difusão maciça do casamento cristão pareceu o meio mais eficaz de se obter uma cristianização profunda e rápida da população indígena”. (P.100)
	“[...] a monogamia cristã participava, em todos os sentidos da palavra, da replicação das formas de vida ocidentais. Por último, o controle das almas também passava pela carne e dos prazeres mais secretos, como revelam os manuais de confissão escritos em língua indígena”. (P.100)
A cópia indígena: produção e reprodução
	Além de se adaptarem aos valores morais, espirituais do ocidente os indígenas também teve de aderir às técnicas europeias, o que marca essa reprodução é a boa qualidade dos indígenas que muitas vezes chegava a serem superiores ao produto original e feito à mão dos europeus, os artesãos indígenas superavam artes dos mestres espanhóis. Os indígenas impressionam não só pelas cópias perfeitas, mas também por aprenderem as técnicas em um tempo muito menor que os espanhóis.
	“A espionagem dos menores gestos, a decomposição, meticulosa das etapas de fabricação e sua memorização, e até a utilização de um livro de magia, tudo servia para descobrir o segredo dos espanhóis”. (P.101)
	Em algumas situações as cópias foram substituídas pelas invenções, e em outros casos há a prática de reutilização e bricolagem.
“O mimetismo teve efeitos ambivalentes. Precipitou a inserção dos índios no universo econômico e técnico de origem ocidental. Entretanto, ao mesmo tempo que estabeleceu laços de dependência, deixou o campo livre para os trabalhadores indígenas. Para os índios mais qualificados abriu-se uma margem de manobra e invenção que eles logo aproveitaram”. (P.103) 
Mimetismo e comunicação
	“A partir do teatro e da ritualização dramática, a reprodução do imaginário ocidental criou uma nova dimensão para o processo mimético”. (P.104)	
As técnicas de reprodução e mimetismo não são apenas usadas para a fabricação de produtos; os missionários responsáveis pela conversão dos índios usavam do teatro para explicar o cristianismo, montavam peças com episódios da bíblia e mais uma vez os índios foram protagonistas, e impressionaram pela perfeição na interpretação e encenação, que surpreendia os espectadores espanhóis pela fidelidadeda representação e por ter um aspecto “natural”.
Os indígenas passaram a dominar e se interessar além da leitura e escrita, também a música, desenho e pintura.
“Os jovens índios aprendiam a reproduzir a imagem europeia ao mesmo tempo que penetravam em outro universo de comunicação gráfica e sonora”. (P.105)
	“[...] Na verdade, os três modos ocidentais de expressão baseiam-se no mesmo princípio: sinais alfabéticos, notas e “imagens”, encarregados de reproduzir a palavra, o som ou a visão. [...] É provável que a coerência do sistema europeu tenha facilitado a tarefa dos monges professores”. (P.105)
Copiar ou interpretar
“O envolvimento direto dos índios nas representações teatrais explica a eficácia do espetáculo e seu impacto no público. [...] Mas a intervenção indígena marca também os limites e as ambiguidades do mimetismo cênico. [...] a representação indígena tendia a se desviar do modelo hispânico original, pois estava sujeita ao enfoque indígena da interpretação e do palco”. (P.105)
“O mimetismo imposto pelo Ocidente prestava-se, assim, a desvios que prosperavam sob as aparências enganosas da cópia fiel”. (P.106)
“Os índios haviam se tornado mestres calígrafos, rivalizando com o trabalho da máquina (no caso, a prensa para imprimir)”. (P.106)
A reprodução e invenção mexicana impressionam na caligrafia, na pintura pela perfeição nas técnicas, principalmente pelo registro artístico.
“[...] Mesmo se o modelo europeu continuava a ser, por essência, a manifestação da superioridade dos vencedores, o direito à invenção na cópia era reconhecido aos índios”. (P.107)
Caos, ocidentalização e mestiçagens
	“As dinâmicas miméticas da ocidentalização, que se manifestaram em ambientes conturbados, imprevisíveis e incertos, progressivamente canalizaram as desordens da Conquista. Multiplicaram efeitos de convergência, equilíbrio e inércia, que por sua vez produziram novas formas de vida e expressão”. (P.108)
 	A conquista espanhola diferencia-se da holandesa, inglesa, pois fez do índio um dos principais agentes da reprodução. O mimetismo pode ser um dos principais autores das mestiçagens por englobar tantas combinações, interpretações. 
	Apesar da disposição e a aceitação de muitos povos indígenas ao se deparem com a ocidentalização, há casos de hostilidade e resistência contra esse processo, muitos índios se recusaram a adotar o cristianismo como religião, outros fugiram para floresta para não ter que trabalhar nas minas, ou simplesmente sabotavam o trabalho, rejeitando o novo modelo social que a Coroa espanhola impunha aos derrotados. É necessário analisar as mestiçagens não só pelos fatores “positivos” e de aceitação, mas também pelo caos e rejeição à ocidentalização.
	“[...] as mestiçagens aparecem primeiro como reação de sobrevivência a uma situação instável, imprevista e amplamente imprevisível.[...] Mas essas “bricolagens” são também efeito da ocidentalização quando resultam da replicação e da apropriação, pelos índios, de elementos europeus”. (P.110)
“Assim há que se imaginar as mestiçagens americanas a um só tempo como um esforço de recomposição de um universo desagregado e como um arranjo local dos novos quadros impostos pelos conquistadores. Os dois movimentos são indissociáveis. Nem um nem outro escapam ao ambiente profundamente perturbado que descrevemos.” (P.110)

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