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ARAUJO, George Z. - Aspectos econômicos da República Velha

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Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes. Nº 1 - Maio de 2009 
 
 7 
Artigos 
 
Aspectos econômicos da República Velha: 
café, urbanização e industrialização 
 
George Zeidan Araújo
*
 
 
Resumo: Para muitos, o binômio café-indústria é a expressão que poderia sintetizar o 
período da História nacional conhecido como República Velha. Lamentavelmente, 
esse momento é frequentemente vítima de simplificações grosseiras e superficiais que 
tornam seu estudo algo difícil. Todavia, para a devida compreensão daquela época, é 
preciso caracterizar adequadamente a economia cafeeira, o desenvolvimento industrial 
e as relações existentes entre eles. Para tanto, é fundamental recuar um pouco no 
tempo e analisar como se deu, no final do período imperial, a expansão da economia 
cafeeira e a paulatina substituição do trabalho escravo pelo livre assalariado. 
Palavras-chave: República Velha; Economia cafeeira, Industrialização 
_____________________________________________________________________ 
Abstract: For many, the binomial coffee-industry is the term that could synthesize the 
period of the Brazilian history known as Old Republic. Unfortunately, that time is 
often victim of gross and superficial simplifications that make their study rather 
difficult. However, for the proper understanding of that time, we must adequately 
characterize the coffee economy, the industrial development and the relations between 
them. Thus, it is crucial to go back a little in time and look, in the final period of the 
imperial period, how was the expansion of the coffee economy and the gradual 
replacement of slave labor by free labor. 
Keywords: Old Republic; Coffee economy; Industrialization 
 
 
*
 Graduado em História na modalidade licenciatura pela UFMG e atualmente cursando o bacharelado 
pela mesma instituição. 
E-mail do autor: geoaraujo@ymail.com 
 
Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes. Nº 1 - Maio de 2009 
 
 8 
A expansão da economia cafeeira 
 
A economia cafeeira começou a expandir-se em meados do século XIX, 
sendo que por volta de 1840, o café já era o principal produto da pauta de exportações 
da economia nacional. Tal expansão se deu nas bases de um sistema agroexportador, 
isto é, uma economia semicolonial e escravista, reforçada pela elite imperial dos 
grandes proprietários. Alguns setores da elite defendiam um curioso tipo de 
liberalismo, já que ao mesmo tempo em que defendiam o laissez-faire liberal, 
defendiam a escravidão, destacando “certas especificidades” da constituição social 
brasileira, “(...) posição que não destoava dos plantadores de algodão do Sul dos 
Estados Unidos e da oligarquia açucareira cubana” (ARIAS NETO, 2006, p. 200). 
 Os liberais descartavam qualquer espécie de protecionismo às manufaturas e 
indústrias, defendendo que os novos capitais desviados do tráfico de escravos fossem 
investidos na consolidação da lavoura, advogando o que chamavam de “vocação 
agrária do Brasil”. Apesar disso, esse capital foi alocado para atividades comerciais, 
manufatureiras, transportes e especulação financeira, ocasionando um primeiro 
impulso urbanizador e a expansão do trabalho livre. 
Ao final dos anos 1860, um novo tipo de liberalismo ganha força no país, 
defendendo sua inserção na “moderna civilização ocidental”. Para tanto, foram 
propaladas, por diferentes camadas da sociedade, idéias abolicionistas, republicanas, 
democráticas, imigrantistas e industrializantes; além das idéias positivistas, que 
tiveram especial acolhimento no interior das Forças Armadas. De qualquer maneira, 
com o fim da escravidão cada vez mais iminente, o principal problema para os grandes 
proprietários e produtores rurais, era como resolver a questão da mão-de-obra uma vez 
proclamada a Abolição. Uma análise da tabela abaixo, que mostra a pauta de 
exportações brasileira de 1821 a 1890, revela como isso deveria ser particularmente 
preocupante para os produtores de café, atividade que se havia tornado um vultoso 
negócio a partir, como já foi dito, dos anos 1840: 
 
 
Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes. Nº 1 - Maio de 2009 
 
 9 
TABELA 1: 
PRINCIPAIS PRODUTOS DE EXPORTAÇÃO 1821-1890 
(% na receita das exportações) 
PERÍODO CAFÉ AÇÚCAR ALGODÃO BORRACHA COURO E PELES OUTROS 
1821-1830 18,4 30,1 20,6 0,1 13,6 17,2 
1831-1840 43,8 24,0 10,8 0,3 7,9 13,2 
1841-1850 41,4 26,7 7,5 0,4 8,5 15,5 
1851-1860 48,8 21,2 6,2 2,3 7,2 14,3 
1861-1870 45,5 12,3 18,3 3,1 6,0 14,8 
1871-1880 56,6 11,8 9,5 5,5 5,9 11,0 
1881-1890 61,5 9,9 4,2 8,0 3,2 13,2 
 
Fonte: SINGER, Paul. O Brasil no contexto do capitalismo internacional:1889-1930. In: FAUSTO, 
Boris (dir.) O Brasil Republicano. T.3 v.1 p.355. 
 
Observa-se claramente que tanto a produção como a exportação de café aumentaram 
substancialmente no período, sendo a mão-de-obra escrava ainda predominante. 
 
Trabalho escravo, trabalho livre 
 
Se bem podemos afirmar que a base econômica era o trabalho escravo, é 
preciso considerar que a sociedade brasileira não se dividia apenas em dois setores 
antagônicos, a saber, senhores e escravos. Desde cedo, já no período colonial 
 
(...) formou-se no Brasil uma camada de homens livres pobres cuja 
existência estava atada descontinuamente à economia mercantil. Ocupavam 
lugares socioeconômicos distintos do escravo, isto é, da produção 
Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes. Nº 1 - Maio de 2009 
 
 10 
agroexportadora, sendo algumas vezes subsidiária daquela, como na 
produção de alimentos, indústrias domésticas, oficinas, serviço militar etc. 
Pode-se falar, grosso modo, que era o agregado da grande propriedade, o 
lavrador que comercializava pequenos excedentes alimentares nas cidades, 
bem como profissões variadas, como artesãos urbanos, marinheiros etc
 
(ARIAS NETO, 2006, p. 203). 
 
Contudo, no momento de substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre 
no Brasil, havia um sentimento de aversão ao labor, sobretudo ao manual. Essa relação 
com o trabalho, nódoa da escravidão, estaria latente nesses setores sociais pobres 
livres, representada pelo desprezo que sentiam pela condição de “homem alugado”. 
Além disso, após a Abolição, os próprios proprietários desejavam substituir o 
negro nas fazendas, pois acreditavam que ele era “racialmente” inferior e nunca 
poderia superar a marca da escravidão. Portanto, voltaram-se para o exterior, para o 
imigrante. 
 
Imigrantes e dinamização da economia cafeeira 
 
As primeiras experiências com imigrantes, realizadas na década de 1840 – 
parceria e contrato de locação de serviços feitos através de iniciativa particular – 
convenceram os fazendeiros que apenas um processo migratório subvencionado pelo 
Estado poderia ser uma alternativa viável para substituir o trabalho escravo. O 
trabalhador imigrante foi submetido a um sistema conhecido como colonato, onde 
arrendava-se uma porção de terra sob condição de destinar parte de sua produção 
como pagamento ao proprietário. Um sistema assaz lucrativo para o fazendeiro, já que 
ademais de liberar capitais que eram usados para manter o escravo, fazia subir a 
produtividade da fazenda; uma vez que o pagamento era feito por tarefa, implantando-
se uma moderna disciplina do trabalho, fundada na coerção econômica do trabalhador. 
Na segunda metade dos anos 1880, o governo imperial passa a subvencionar a 
imigração, dando preferência à imigração familiar. Em muitas áreas cafeeiras esse 
modelo acarretou a miséria do agricultor e muitos conflitos. De todos os modos, o 
processo de industrialização foi muito influenciadopela imigração europeia. Há de se 
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 11 
fazer uma referência também aos imigrantes ou descendentes deles que conseguiram 
amealhar certa fortuna e investiram o capital adquirido em atividades industriais, como 
foi o caso de Francisco Matarazzo. Porém, a convivência com os nativos não foi 
sempre harmônica, pois tanto os libertos quanto quase todos os outros trabalhadores 
tiveram que competir com eles, sentindo-se, às vezes marginalizados pelo fluxo 
imigrante. 
A dinamização da economia cafeeira, aliada ao afluxo de capitais dos países 
industrializados em direção aos periféricos contribuiu para a modernização do país. No 
Brasil, de 1860 a 1902, 77,6% do total de investimentos estrangeiros era de origem 
britânica; que entraram sob forma de empréstimos, implantação de estradas de ferro, 
modernização de instalações portuárias, melhoramentos urbanos e em equipamentos 
para atividades industriais surgidas em função da economia agroexportadora. Destarte, 
a expansão da economia cafeeira, simultaneamente, engendrou e foi engendrada por 
essa modernização. 
Em resumo, a economia cafeeira estimulou os setores comercial e bancário, e 
foi integrando, de maneira paulatina, o mercado interno. Tudo isso se deu de maneira 
acelerada. Tal desenvolvimento acelerou-se depois de 1888, principalmente em função 
de três elementos. Em primeiro lugar a Abolição, que permitiu ao governo imperial a 
liberação de créditos para a agricultura e a adoção de uma política de emissões mais 
flexível. O segundo elemento foi a enorme safra cafeeira, tendo o Brasil exportado 
mais de 51.631 milhares de sacas de 60 kg no período 1881-1890 (PRADO JR, 1981, 
p. 160). Por fim, a entrada de capitais estrangeiros, principalmente ingleses, que 
chegaram a quase 225 milhões de libras por volta de 1913 (SINGER, 1988, p. 364); 
provocando verdadeira euforia nos negócios. 
 
Economia cafeeira, urbanização e desenvolvimento industrial na República Velha 
 
As reformas políticas e econômicas sugeridas pelo governo imperial, 
principalmente pelo Gabinete Ouro Preto (o último da Monarquia) desagradaram os 
monarquistas e desconsideraram as reivindicações dos cafeicultores de São Paulo, dos 
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negociantes e dos militares, não conseguindo impedir a implantação da República. 
Após o golpe de 15 de novembro de 1889, um período de instabilidade 
política e financeira abriu-se na história nacional. O governo provisório promoveu 
reformas nas Forças Armadas, criou um novo Código Penal, definiu as fronteiras 
nacionais e levou a cabo uma grande reforma financeira e bancária. Essa reforma tinha 
por escopo atender às demandas de crédito dos empresários, criando três bancos 
regionais com autorização para emitir o triplo de papel-moeda em relação ao que 
existia na época. Ademais, as sociedades anônimas, que possuíam total liberdade, 
multiplicaram-se, acarretando uma especulação descomedida que ficou conhecida 
como “Encilhamento”. Caio Prado Júnior aponta os efeitos mais manifestos dessa 
política emissionista afirmando que 
 
Sob a ação deste jorro emissor não tardará que da (..) ativação dos negócios 
se passe rapidamente para a especulação pura. Começam a surgir em 
grande número novas empresas de toda ordem e finalidade. Eram bancos, 
firmas comerciais, companhias industriais, de estradas de ferro, toda sorte 
de negócios possíveis e impossíveis. Entre a (...) proclamação da República 
e o fim da aventura (1891) incorporar-se-ão no Rio de Janeiro sociedades 
com o capital global de 3.000.000 de contos; ao iniciar-se a especulação, 
isto é, novembro de 1889, o capital de todas as sociedades existentes no 
país apenas ultrapassava 800.000 contos. Quintuplicara-se quase este 
capital em pouco mais de dois anos! (...) A quase totalidade das novas 
empresas era fantástica e não tinha existência senão no papel. 
Organizavam-se apenas com o fito de emitir ações e despeja-las no 
mercado de títulos, onde passavam rapidamente de mão em mão em 
valorizações sucessivas (...). Em fins de 1891 estoura a crise e rui o castelo 
de cartas levantado pela especulação. (...). A débâcle arrastará muitas 
instituições de bases mais sólidas, mas que não resistirão à crise; e as 
falências se multiplicam. O ano de 1892 será de liquidação; conseguir-se-á 
amainar a tempestade, mas ficará a herança desastrosa legada por dois anos 
de jogatina e loucura: a massa imensa de papel inconversível em 
circulação. Esta subira, entre 1889 e 1892, de 206.000 contos para 561.000. 
E como não será possível estancar de súbito este jorro emissor, a inflação 
ainda continuará nos anos seguintes (PRADO JR, 1981, p. 220). 
 
Entretanto, juntamente com a exportação do café, essa reforma criou condições para se 
investir em indústrias, importando-se máquinas e equipamentos. 
Se bem os lucros da exportação de café financiaram a industrialização, as 
reformas urbanas e a balança de pagamentos; houve uma acentuação da dependência 
Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes. Nº 1 - Maio de 2009 
 
 13 
financeira e econômica em relação a essas exportações. Os altos lucros geraram um 
contínuo aumento da área cultivada e provocaram o fenômeno da superprodução; 
agravada pela recessão da economia mundial em 1893, que afetou também os EUA (o 
principal comprador do Brasil). Isso ocasionou a queda nos preços do produto em uma 
época na qual o café chegou a representar 64,5% das exportações (SINGER, 1988, p. 
355), dado que pode nos dar uma idéia das terríveis conseqüências para o país. 
Além da crise internacional o país passava por um período de grande 
instabilidade política. Deodoro havia renunciado devido a fortes pressões e Floriano 
Peixoto, o Marechal de ferro, instaurou uma espécie de ditadura militar para combater 
os opositores, a Revolução Federalista do Rio Grande do Sul, a Revolta da Armada e 
outras tantas revoltas que ameaçavam a unidade do Estado naquele período. 
Prudente de Morais, que assumiu em 1894 encontrou o país em grave crise, 
que perdurou até o fim de seu mandato (1897), quando a insolvência do país era 
inevitável. O acordo de moratória que se seguiu com os credores europeus foi 
negociado por ele e por seu sucessor, Campos Sales. Durante seu mandato (1898-
1902) promoveu-se uma política deflacionária, elevando-se os impostos e o custo de 
vida, também com algumas falências em certos empreendimentos industriais e 
agrícolas. Apesar dos sofrimentos da massa da população, tal política evitou prejuízos 
maiores à agricultura e à indústria, já que houve um alívio na balança de pagamentos e 
redução de importações, ao mesmo tempo em que as exportações de café elevaram-se. 
Na realidade, entre 1889 e 1896 houve 
 
(...) um boom no desenvolvimento e na acumulação industrial, tendo o 
ritmo de crescimento diminuído entre 1897 e 1904, para voltar a crescer a 
partir de 1905 até 1914. A crise pós-encilhamento, que coincidiu com a 
crise internacional e a política de caráter emergencial adotada para 
enfrentá-la, demonstrou duas faces do problema da relação entre café e 
industrialização. Em primeiro lugar, a manutenção do modelo 
agroexportador dependeria de uma intervenção nos mercados visando a 
forçar a alta dos preços e uma redução na expansão do café para evitar a 
superprodução. Em segundo, evidenciou que o crescimento industrial se 
processava em situação de dependência em relação à dinâmica da dinâmica 
cafeeira – fator de fragilidade e instabilidade – que seria superada somente 
com o investimento nas indústrias de base, isto é, na produção de bens decapital (ARIAS NETO, 2006, pp. 217-8). 
Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes. Nº 1 - Maio de 2009 
 
 14 
Contudo, frente à baixa nos preços do produto, devido ao câmbio 
desfavorável, os dirigentes dos estados cafeeiros pensaram na possibilidade de retirar 
do mercado parte dos estoques, na esperança de fazer subir os preços internacionais. 
As medidas para essa valorização foram expostas no Convênio de Taubaté, em 1906. 
Segundo Celso Furtado 
 
Em essência, essa política consistia no seguinte: a) com o fim de 
restabelecer o equilíbrio entre a oferta e a procura de café, o governo 
interviria no mercado para comprar os excedentes; b) o financiamento 
dessas compras se faria com empréstimos estrangeiros; c) o serviço desses 
empréstimos seria coberto com um novo imposto cobrado em ouro sobre 
cada saca de café exportada; d) a fim de solucionar o problema mais a 
longo prazo, os governadores dos Estados produtores deveriam 
desencorajar a expansão das plantações (FURTADO, 1975, p. 179) 
 
Os governos estaduais acabaram forçando o governo central a assumir a 
política de valorização, o que levou a protestos de grupos sociais e políticos, bem 
como de credores internacionais. No entanto, em função da concorrência entre vários 
banqueiros europeus, mesmo os antigos credores como a Casa Rothschild passaram a 
realizar empréstimos aos cafeicultores, que viviam seu ápice de poder na República 
Velha. 
 
A Primeira Guerra Mundial e os anos 1920 
 
A crise cafeeira no começo do século XX se inseria no bojo da relação de 
dependência do Brasil com os centros internacionais. A produção em excesso de um 
produto de exportação e a ação dos intermediários levaram à queda dos preços, e a 
elevação da taxa cambial depois do Funding Loan de 1898, não permitiu que a baixa 
fosse compensada pela “sustentação da renda dos cafeicultores em moeda nacional” 
(FAUSTO, 1988, p. 227). 
A crise internacional iniciada em 1913 acarretaria um novo período de crise 
na economia e política mundiais que levaria à Grande Guerra. O ritmo de crescimento 
Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes. Nº 1 - Maio de 2009 
 
 15 
da indústria caiu dramaticamente depois de 1914. Warren Dean defende que 
 
(...) de um ponto de vista econômico, a Primeira Guerra Mundial foi um 
intervalo histórico mais importante do que a crise e a derrubada da 
República Velha em 1930, porque assinalou a destruição do mercado livre 
em artigos de comércio, capital e trabalho (DEAN, 2006, p.280). 
 
Mas ao contrário da difundida idéia de que se consolidou no Brasil uma indústria de 
substituição de importações devido ao cerre do mercado internacional, devemos ter em 
mente que essa tal substituição é, no mínimo, questionável, já que se o mercado estava 
fechado às importações de produtos manufaturados, as importações de bens de capital, 
que poderiam possibilitar a implantação de novas unidades, estavam também a 
padecer da mesma restrição. Durante a guerra o que se verifica é uma diminuição na 
atividade industrial, o que nos leva encarar a dita “substituição de importações” de 
maneira relativa. 
Por outro lado, se analisarmos os dados industriais de 1920 nos deparamos 
com os seguintes números: 
 
TABELA 2: 
DADOS INDUSTRIAIS 1920 
 NÚMERO DE EMPRESAS CAPITAL 
(em contos) 
NÚMERO DE OPERÁRIOS 
Brasil 13.336 1.815.156 275.512 
Distrito Federal 
 
1.542 
 
441.669 
 
56.517 
 
São Paulo 4.145 537.817 83.998 
 
Fonte: Adaptado de ARIAS NETO, José Miguel. Primeira República: economia cafeeira, urbanização e 
industrialização. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil 
Republicano. v.1. 2. ed. p..221. 
Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes. Nº 1 - Maio de 2009 
 
 16 
Esses dados mostram que a concentração industrial se dava onde a força da 
economia cafeeira era mais acentuada. São Paulo e o Distrito federal concentravam 
42% dos estabelecimentos industriais, 53% dos capitais e 50% do operariado. No 
entanto, São Paulo sozinho detinha 31% dos estabelecimentos industriais, 29% dos 
capitais e 30% do operariado, enquanto o Distrito Federal apenas detinha 12% dos 
estabelecimentos, 24% dos capitais e 20% do operariado. Dessa forma, é possível 
dizer que o desenvolvimento industrial em São Paulo foi mais acelerado e se 
conservou assim até o final do período, apesar de que, em conjunto, o crescimento 
industrial brasileiro ocorreu em ritmo mais lento até 1929. 
 
A crise de 1929 
 
Vimos como a economia brasileira era frágil e sensível aos choques externos. 
Por isso mesmo, afirma Boris Fausto que 
 
Antes mesmo que a “quinta-feira negra” de 24 de outubro de 1929 abrisse 
na Bolsa de Nova York, a grande crise mundial, os problemas inerentes à 
superprodução brasileira, agravados pela política de contenção monetária 
realizada pelo governo federal, desencadearam a crise no Brasil.
 
(FAUSTO, 1963, p. 245) 
 
Quando houve o crash da bolsa de valores de Nova York em 1929 a produção de café 
atingia quase 29 milhões de sacas para uma exportação de 14,5 milhões. Os 
mecanismos de defesa foram ineficazes e a crise assumiu dimensões desastrosas, com 
o câmbio em queda livre, as reservas metálicas evaporando-se com o pagamento de 
dívidas externas e uma fuga generalizada de capitais. Apenas o desenvolvimento 
histórico advindo da Revolução de 1930, poria fim a esse padrão de desenvolvimento 
industrial calcado no capital cafeeiro. “A partir de fins da década de 1930 e nos anos 
seguintes a acumulação industrial passou, gradativamente, a ser fundamentada na 
reprodução e ampliação de seu próprio capital” (ARIAS NETO, 2006, p. 220). 
 
Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes. Nº 1 - Maio de 2009 
 
 17 
Conclusão 
 
A industrialização brasileira foi sendo engendrada em conjunto com a 
expansão da cafeicultura, concentrando-se, assim, nos lugares onde se dava essa 
expansão. Não obstante, em outras regiões também ocorreu um processo de 
industrialização, embora em compasso mais lento. 
A entrada efetiva do Brasil na divisão internacional do trabalho na condição 
de agroexportador acabou por condicionar a expansão da cafeicultura ao capital 
estrangeiro e, dessa forma, a industrialização se deu sob uma dupla subordinação: do 
capital internacional e do cafeeiro. 
O fundamento para a primeira acumulação industrial foi o volumoso 
comércio importador e exportador, no qual se sobressaíam as grandes casas 
comissárias de café, já nos anos 1880. À essa burguesia comercial se somaram 
imigrantes como os Matarazzo, Crespi e outros, que constituíram relações de 
parentesco com a grande burguesia do café, facilitando a fusão de capitais. A 
burguesia industrial brasileira surgiu, pois, dessa fusão. 
Porém, a apontada fusão de capitais não engendrou uma comunhão de 
interesses e mecânico alinhamento político entre as partes. Ocorreram disputas entre 
cafeicultores, comerciantes e industriais em torno das taxas alfandegárias. A elevação 
das taxas seria, teoricamente, benéfica aos industriais, que teriam suas atividades 
resguardadas por barreiras aduaneiras. No entanto, não foi assim, já que os industriais 
eram dependentes das importações de equipamentos e de manufaturados, como o aço, 
para a ampliação de suas atividades. Muitas vezes, lutaram por taxas alfandegárias 
mais baixas apenas para os artigos que precisavam importar. Nesse sentido, se 
opunham freqüentemente aos comerciantes, e às vezes aos cafeicultores, que receavam 
sofrer represálias dos compradores internacionais do café se fosse imposta uma 
política aduaneira protecionista. De qualquer maneira,como as rendas do Estado eram 
em sua maior parte oriundas das rendas aduaneiras, ou seja, dos impostos sobre as 
importações, se as taxas fossem demasiadamente altas poderiam fazer com que a 
arrecadação caísse, afetando os pagamentos da dívida externa, os investimentos 
Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes. Nº 1 - Maio de 2009 
 
 18 
públicos etc. 
É verdade que o Estado buscou estabelecer algum protecionismo e conferir 
alguns estímulos às atividades industriais. Mas, no conjunto do período (1889-1930), 
não houve uma política industrializante contínua e sistemática. Por fim, é preciso 
assinalar que, desde o final do Império, já existia um pensamento industrializante no 
Brasil. Esse pensamento – de maneira nenhuma homogêneo – teve um importante 
papel nos “inúmeros debates e polêmicas em nível nacional [ocorridos durante a Primeira 
República] sobre a questão do protecionismo industrial, identificado, às vezes, em nível 
ideológico, à segurança e à soberania nacionais” (Idem, p. 224). Muitas das ideias discutidas 
seriam adotadas algum tempo depois, quando o Estado brasileiro desenvolveria uma 
política sistemática de industrialização. 
 
Bibliografia 
 
ARIAS NETO, José Miguel. Primeira República: economia cafeeira, urbanização e 
industrialização. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves 
(orgs.). O Brasil Republicano. v.1. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. 
 
DEAN, Warren. A industrialização durante a República Velha. In: FAUSTO, Boris 
(dir.) O Brasil Republicano,v.1 Rio de Janeiro: DIFEL,1963. (Coleção História Geral 
da Civilização Brasileira.T.3). 
 
FAUSTO, Boris. Expansão do café e política cafeeira. In:FAUSTO, Boris (dir.) O 
Brasil Republicano,v.1 Rio de Janeiro: DIFEL,1963. (Coleção História Geral da 
Civilização Brasileira. T.3). 
 
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 13. ed. São Paulo: Nacional, 
1980. 
 
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