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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE MEDICINA BIOFÍSICA MÉDICA 1º PERÍODO DAVIDSON AUGUSTO DE ARAÚJO MED 101 JUIZ DE FORA 2012 BIOELETRECIDADE I. INTRODUÇÃO Todas as células são verdadeiras pilhas elétricas. São pilhas elétricas porque existe uma diferença de potencial elétrico (DDP) entre o meio intra e extracelular, a qual pode ser modulada pelo estabelecimento de correntes elétricas através da membrana celular. Corrente elétrica é fluxo ou movimento de elétrons de um ponto com excesso dessas partículas para outro ponto com falta dessas partículas. Esse movimento ocorre através de um meio metálico ou através de estruturas químicas chamadas íons. Convencionou-se chamar o ponto com excesso de elétrons de polo negativo, e o ponto com falta de elétrons de polo positivo. São características importantes de uma corrente elétrica: A corrente elétrica sempre ocorre na menor distância possível entre os polos positivo e negativo. A medida da corrente está relacionada à quantidade de elétrons que flui por um determinado ponto ao mesmo tempo. A potência de um circuito é proporcional à corrente elétrica e à diferença de potencial elétrico entre os polos da pilha ou gerador. Para haver uma pilha é importante que existam dois pontos em um sistema com elétrons armazenados. E entre esses dois pontos deve haver uma diferença na concentração de elétrons. Como há uma diferença na concentração de elétrons entre esses dois pontos, potencialmente há uma tendência de os elétrons passarem do local de maior concentração até o local de menor concentração. Quanto maior a diferença de concentração de elétrons entre os polos positivo e negativo, maior a força com que esses elétrons serão movidos de um polo a outro através da corrente elétrica. Por isso, quanto maior a diferença, maior a velocidade de trânsito desses elétrons entre os polos. Voltagem ou diferença de potencial elétrico (DDP) é a medida da diferença da concentração de elétrons entre os dois polos de uma pilha, gerador ou capacitor, a qual determina a força ou a velocidade com a qual esses elétrons potencialmente irão trafegar entre os dois polos. Gerador: É um dispositivo que produz uma diferença de potencial elétrico entre seus dois polos através de energia mecânica ou energia luminosa. Capacitor: É um dispositivo composto por placas condutoras separadas por material isolante (dielétrico), capazes de armazenar carga e energia elétrica, que funciona como uma pilha de descarga imediata. Força elétrica: Forças de atração ou repulsão entre cargas. Entre os polos de uma pilha existe essa força, determinada pela energia potencial elétrica. Quanto maior a diferença da quantidade de elétrons entre os polos, maior é a força elétrica entre eles. NA CÉLULA: Existe uma diferença na concentração de elétrons entre os dois meios da célula, a saber, o meio interior e o meio exterior. Esses meios são separados por uma lâmina isolante, a membrana celular. Um dos meios é o polo negativo (o meio interno) e o outro é o polo positivo (o meio externo). Entre os polos elétricos da célula há uma DDP. Uma corrente elétrica entre os meios interno e externo pode ocorrer se houver condições para tal. Existe, assim, uma força elétrica entre os meios interno e externo da célula. Quando ocorre uma corrente elétrica, a DDP entre os polos vai se alterando. E, também, ocorre uma modificação no valor da força elétrica entre os meios intra e extracelular. II. A PILHA CELULAR Chamamos de despolarização da célula quando a DDP entre os polos da célula diminui. Isso acontece porque há uma corrente elétrica transferindo cargas elétricas entre os meios da célula. Nas células, as correntes elétricas se estabelecem através de outro tipo de condutor: soluções iônicas. Quando ocorre uma corrente elétrica entre os meios intra e extracelular, pode haver passagem tanto de ânions do polo negativo para o polo positivo quanto de cátions do polo positivo para o negativo. Em ambas as situações, ocorre redução da DDP entre os meios, o que chamamos despolarização (perda dos polos). As correntes elétricas que acontecem em uma célula também são chamadas de correntes iônicas. Essas correntes acontecem através de canais proteicos da membrana celular. Quando esses canais se abrem sob condições específicas, ocorre passagem de um determinado íon através da membrana. Essa corrente iônica promove a alteração da DDP entre os meios intra e extracelular. O fenômeno de correntes elétricas contra a diferença de potencial (ou seja, que promovem aumento da diferença de concentração de cargas elétricas entre os dois meios) promove aumento da força elétrica entre os meios intra e extracelular, e é chamado hiperpolarização (aumento da força dos polos da célula). A chamada hiperpolarização ocorre porque não é somente a força elétrica que atua entre os dois meios da célula. Há uma outra força que promove movimento de partículas de soluto (mesmo que sejam íons) dentro do meio aquoso: a força de difusão. A força de difusão (ou força de gradiente de concentração) promove a difusão de substâncias em uma solução, pois essa força aponta do ponto em que há maior concentração de soluto para o(s) ponto(s) em que há menor concentração de soluto. Quando não ocorre alteração significativa da DDP da célula, seja porque forças estão em equilíbrio para determinados íons, seja porque não há condições para o estabelecimento de correntes para outros íons (canais fechados), dizemos que essa célula está em repouso, e eis o potencial elétrico de repouso da membrana celular. 1. O POTENCIAL DE REPOUSO DA CÉLULA O valor do potencial de repouso varia de célula para célula (entre -50mV e - 90mV). Todas as células do corpo mantêm uma DDP de repouso em relação ao meio que as circunda. O motivo da existência dessa DDP nas células é que a DDP possibilita que haja fluxo de corrente elétrica entre as células. Inicialmente é preciso compreender que o interior da célula não está em equilíbrio como o meio extracelular, pois se assim fosse, não seria possível a existência dos potenciais de membrana. Quando dizemos que a célula não está em equilíbrio com o meio extracelular, queremos dizer que existem íons que são predominantemente extracelulares, enquanto outros são predominantemente intracelulares. Mas quem é o responsável por essas diferenças de concentração? São proteínas que, ativamente, contra o gradiente de concentração, expulsam íons do interior das células e puxam outros íons para seu interior. Como esse processo envolve gasto energético (para vencer os gradientes de concentração), essas proteínas são conhecidas como bombas. O combustível para essas bombas é o ATP. Uma das causas da negatividade interna da célula em repouso é a presença, em seu interior, de ânions impermeáveis à membrana celular: em primeiro lugar as proteínas, e, em segundo lugar, os fosfatos (que compõem as moléculas de ATP, DNA, RNA e diversas proteínas). Porém, o fator causal mais importante para a gênese do potencial de repouso é o seguinte: o interior da célula está repleto de potássio, que é um íon positivo bombeado ativamente para o meio intracelular. Há cerca de 30 vezes mais potássio dentro da célula do que no meio exterior. A bomba puxa dois íons para dentro da célula, ao mesmo tempo que expulsa três íons para fora. Se a célula não tivesse potássio em seu interior,a DDP da célula seria bem mais negativa: cerca de -200 a - 250mV. O potássio presente no interior da célula, por ser uma carga positiva, diminui a DDP intracelular para valores próximos a -70mv. Pelo visto, se levarmos em conta a força de difusão, existe uma tendência de o sódio entrar e de o potássio sair. Acontece que a membrana em repouso é 100 vezes mais permeável ao potássio do que ao sódio. Com isso, começa a sair potássio através da força de difusão, e pelo fato de existirem canais de potássio abertos. Entretanto, assim que o potássio começa a sair, o sódio que está fora da célula começa a exercer uma força elétrica de repulsão; além disso, as proteínas intracelulares também exercem uma força elétrica de atração pelo potássio. Quando essas forças elétricas se equilibram com a força de difusão, o potássio pára de sair e tampouco volta para o meio intracelular. Dizemos então que a membrana está em repouso. Mas a pequena quantidade de potássio que sai já é suficiente para deixar a superfície interna da membrana mais negativa que a superfície externa. EQUILÍBRIO ELETROQUÍMICO E EQUAÇÃO DE NERNST: Quando não há força resultante sobre o íon (as forças do gradiente de concentração e elétrico são iguais e opostas), nenhum movimento do íon ocorre, e diz- se que o íon está em equilíbrio eletroquímico através da membrana. A equação de Nernst determina o valor potencial de equilíbrio ( ) de um íon qualquer para o qual a membrana é permeável. = ln Onde, : Potencial de equilíbrio. R : Constante dos gases. T : Temperatura em K. z : Valência do íon. F : Constante de Faraday. : Concentração interna do íon. : Concentração externa do íon. Esse seria o potencial de repouso da membrana caso ela fosse permeável apenas ao íon considerado. POTENCIAL DE EQUILÍBRIO: A tendência natural de qualquer íon que possa se mover através da membrana é a de procurar o equilíbrio (até que sua diferença de potencial de equilíbrio seja estabelecida). Quanto maior a permeabilidade da membrana ao íon, maior é sua habilidade de forçar a diferença de potencial elétrico da membrana em direção ao seu potencial de equilíbrio. Durante o repouso a membrana é muito mais permeável ao que ao ; por isso, o potencial de repouso da célula está muito mais próximo do potencial de equilíbrio do . O interior da célula tem baixa concentração de sódio, cálcio e cloreto; esses íons não conseguem entrar na célula em repouso pois os canais de membrana estão fechados. Será que esses íons são importantes para gerar o potencial de repouso da membrana? EQUACÃO DE CONDUTÂNCIA DE CORDA: Especifica que o potencial da membrana ( ) é uma média ponderada dos potenciais de equilíbrio de todos os íons para os quais a membrana é permeável ( , , ). Quanto mais permeável a membrana é a um íon particular, maior é a condutância da membrana para aquele íon. A equação de condutância de cordas mostra que quanto maior a condutância da membrana a um dado íon, maior é a influência daquele íon no sentido de trazer o potencial da membrana próximo ao valor do seu potencial de equilíbrio. 2. A MEMBRANA COMO UM CAPACITOR Como a membrana da célula é muito fina, as cargas negativas de dentro da célula tendem a se parear como as positivas de fora por interação de campos elétricos, sem, no entanto, estarem diretamente em contato. A membrana, composta por lipídeos, é um dielétrico, um isolante. Logo, o sistema funciona como um capacitor. Essa organização das cargas é fundamental para a boa condutividade elétrica dos meios intra e extracelular e para o estabelecimento de correntes elétricas longitudinais à membrana. Grandes alterações no potencial da membrana são causadas por alterações minúsculas nas concentrações iônicas. 3. OS VAZAMENTOS E AS BOMBAS DE SÓDIO E POTÁSSIO De fato, se a célula como um todo é uma pilha elétrica, as bombas de sódio e potássio são um gerador elétrico. As bombas de Na/K-ATPase são proteínas da membrana celular que, na presença da energia liberada pela quebra de ATP, literalmente bombeiam 3 íons para fora da célula e 2 íons para dentro contra o gradiente de concentração. As bombas de sódio e potássio funcionam em duas situações: Para restauração das concentrações originais quando ocorrem entrada de sódio e saída de potássio por processos fisiológicos da célula. Para restauração das concentrações originais quando ocorrem vazamentos de sódio para dentro da célula e de potássio para fora. III. QUANDO A CÉLULA SAI DO POTENCIAL DE REPOUSO ELÉTRICO 1. O QUE ACONTECE COM O POTENCIAL ELÉTRICO DA CÉLULA? a) A DDP pode simplesmente não sofrer alterações – Se a entrada de sódio ou cálcio for lenta o suficiente, ocorrerá saída de potássio pelos canais de vazamento na mesma proporção que entra o outro cátion, e o potencial não se altera. O potássio sai porque na medida em que entra sódio na célula, que é um cátion, a força elétrica que segura o potássio diminui. Então, à custa da força de difusão, o potássio começa a sair da célula, buscando um novo ponto de equilíbrio. Essa saída leva a força elétrica a retornar aos valores anteriores. Assim a DDP não vai se alterar. b) A DDP provavelmente vai diminuir (despolarização) – Se a entrada de sódio ou cálcio for rápida (o mais provável), ocorrerá maior influxo de cátions do que efluxo de potássio pelos canais de vazamento e a DDP vai aproximar- se do zero. Dependendo da velocidade desse influxo de cargas positivas, a DDP pode vir a se tornar positiva (o que acontece no potencial de ação), pois a força de difusão para o sódio é maior que a força elétrica. Todavia, nesses casos é comum acontecer a abertura de canais de potássio com portão, acelerando o fluxo desse íon, o que promove rapidamente a recuperação da polaridade negativa da membrana celular. Obs: A passagem de íons está condicionada à abertura de canais de membrana que, no repouso, estão fechados. Os canais com portão se fecham antes de a célula atingir valores de voltagem tão discrepantes. 2. A CONTABILIDADE DE ÍONS DO SISTEMA As grandes oscilações da DDP da membrana mobilizam quantidades quase insignificantes de íons. Isso é importante para a dinâmica de células como músculos e neurônios, que podem se despolarizar e repolarizar a frequências altíssimas. Se as concentrações iônicas se alterassem muito em cada um desses processos, deduziríamos que a célula, após poucos eventos de despolarização, estaria impossibilitada de novos eventos. IV. O POTENCIAL DE AÇÃO Sinal elétrico auto-regenerável continuamente recriado. O potencial de ação é um processo de amplitude fixa e invariável. O potencial de ação surge quando, através de um estímulo, ocorre um súbito aumento da permeabilidade da membrana ao sódio. As proteínas dos canais para íons dependentes de voltagem e de ligante são as responsáveis pelos potenciais de ação. MECANISMOS IÔNICOS DOS POTENCIAIS DE AÇÃO: O entra indefinidamente na célula quando a condutância a esse íon aumenta? Não! Os canais de possuem um mecanismo automático de inativação. A membrana também é auxiliada a voltar ao seu valor de repouso pela abertura dos canais de controlados por voltagem. POTENCIAL DE AÇÃO NO MÚSCULO ESQUELÉTICO: POTENCIAL DE AÇÃO NO MÚSCULO CARDÍACO: V. A BATERIA TECIDUAL Em umcircuito de células em que elas se despolarizam simultaneamente ou sequencialmente, todo o tecido que compõe essas células vai se comportar como uma grande bateria cujo polo negativo é a extremidade do tecido que fica mais rica em elétrons e o polo positivo é a extremidade do tecido que fica mais pobre em elétrons, o que é determinado pelo sentido da corrente de despolarização das células. QUESTÕES 1. O que é o potencial de repouso da membrana plasmática? 2. Quais os fatores responsáveis pela formação do potencial de repouso das células? Explique. 3. O que é o potencial de equilíbrio de um íon? Explique. 4. Qual a importância do potencial de ação? Todas as células sofrem potencial de ação? Durante o potencial de ação, a membrana aumenta a permeabilidade a qual íon? DINÂMICA DOS FLUIDOS I. O SISTEMA DOS FLUIDOS O fluido e seu continente (recipiente) formam um sistema. Circuito é a parte continente de sistemas de fluidos em dinâmica. Sempre que um fluido está em movimento em função de um continente, dá-se a esse continente o nome de circuito. Circuito fechado: O fluido contido nesse circuito circula sem contato direto com outros sistemas. Circuito aberto: O fluido contido nesse circuito estabelece contato direto com outros sistemas, ou seja, mesmo que temporariamente, o fluido deixa o circuito. II. APLICANDO O CONCEITO DE PRESSÃO Só ocorrerá aceleração de um fluido se houver diferença de pressão entre dois pontos do circuito. Após ter sua inércia rompida pela diferença de pressão, o movimento do fluido em velocidade constante é mantido pela própria inércia. Devido à existência de uma força de resistência inerente ao deslocamento do fluido ao longo do circuito, essa força de resistência deve ser vencida por uma força motriz para que o líquido se mantenha em inércia. Por exemplo, no sistema circulatório humano, em que, em condições normais, o sangue flui a uma velocidade mais ou menos constante, o coração é um motor, que nada mais faz do que vencer a resistência do sistema para que o sangue se mantenha em movimento inercial. Obviamente, devido à demanda (exercício físico, por exemplo), o coração bate mais depressa e com mais força, gerando maior gradiente (diferença) de pressão, o qual acelera o sangue e aumenta o fluxo no sistema para suprir as necessidades metabólicas do organismo. A aceleração de um fluido ocorre do ponto do circuito de maior pressão para o ponto de menor pressão do circuito. Pressão positiva: Quando aumentamos a pressão de um continente, dizemos que foi gerada uma pressão positiva, ou seja, uma pressão que expulsa o fluido de seu interior. Pressão negativa: Quando diminuímos a pressão de um continente, dizemos que foi gerada uma pressão negativa, ou seja, uma pressão de sucção, que aspira um fluido para seu interior. De acordo com a Lei de Boyle, quando aumentamos o volume do continente, a pressão em seu interior diminui, e, paralelamente, quando diminuímos o volume do continente, a pressão em seu interior aumenta. Logo, quando quisermos gerar uma pressão positiva, devemos diminuir o volume do continente. Para gerar uma pressão negativa, devemos aumentar o volume do continente. SISTEMA CIRCULATÓRIO: O coração realiza dois movimentos básicos – sístole e diástole. Durante a sístole (contração), a cavidade dos ventrículos diminui e, consequentemente, a pressão interior aumenta. Dessa maneira o coração ejeta o sangue para os vasos. Já na diástole (relaxamento), os átrios aumentam sua cavidade e consequentemente a pressão interior diminui (gera-se uma pressão negativa), e assim o coração aspira o sangue de volta para si. É interessante observar que nosso sistema circulatório é fechado, ou seja, forma um circuito de vasos comunicantes, de modo tal que o mesmo volume que é ejetado pelo coração será posteriormente aspirado por ele, após percorrer os vasos sanguíneos. SISTEMA LINFÁTICO: Os capilares linfáticos são vasos em fundo cego que existem no interstício dos tecidos e cuja função é aspirar o excesso de líquidos e proteínas dos tecidos, desembocando finalmente no sistema venoso para devolver à circulação o líquido recolhido (linfa) ao longo dos tecidos. Os capilares linfáticos apresentam grande capacidade de se dilatar ativamente; ao se dilatar, o capilar aumenta seu volume, e, portanto, sua pressão diminui. Assim, o capilar linfático gera uma pressão negativa que aspira os líquidos em excesso do interstício. Para que os líquidos do interstício sejam aspirados pelo capilar, este é dotado de grandes poros, porém esses poros apresentam válvulas que só permitem a entrada do líquido. O objetivo dessas válvulas é o seguinte: após dilatar (aumentar o raio) e aspirar os líquidos, a tensão na parede do capilar aumenta (lei de Laplace), gerando uma força elástica contrária que faz o capilar se contrair, bombeando a linfa adiante; ora, se as válvulas não existissem, nesse momento a linfa retornaria aos tecidos através dos poros. Dessa forma, ao se dilatar e contrair, os capilares linfáticos vão drenando os líquidos dos tecidos e bombeando esses líquidos para frente, até desembocar no sistema venoso. III. FLUXO Fluxo é sinônimo de vazão ou caudal. Fluxo é volume por unidade de tempo. No circuito fechado, os vasos saem de uma bomba e retorna à mesma bomba, logo não existe nenhuma alteração de volume do fluido – o volume que entra na bomba é o mesmo que sai dela em um dado intervalo de tempo. O nosso sistema circulatório é um circuito fechado estruturado na sequencia: coração – vasos arteriais – rede capilar – vasos venosos – coração. É sabido que o fluxo do coração (que recebe o nome de débito cardíaco) é de, aproximadamente, 5 litros por minuto. Ou seja, se a cada minuto o coração ejeta 5 litros nos vasos, e como o sistema circulatório é um sistema fechado (formado por um conjunto de vasos comunicantes unidos por uma bomba), a cada minuto retornam os mesmos 5 litros ao coração. Isso significa que, num circuito fechado, como o fluxo é constante em todos os pontos, pois num dado tempo t a quantidade de fluido (sangue) que passa é sempre a mesma, para saírem 5 litros do coração é preciso que entrem 5 litros no coração. Em um circuito fechado, o fluxo é constante em todos os pontos. O fluxo é diretamente proporcional à área de secção transversa e à velocidade do fluido. Fluxo é o produto da velocidade pela área de secção transversa. Q = V . A Onde, Q : Fluxo. V : Velocidade. A : Área. IV. VELOCIDADE DOS FLUIDOS Imagine dois vasos de calibres diferentes, pertencentes a um circuito hidráulico fechado. Bem, como os vãos pertencem a um circuito fechado, logo o fluxo é o mesmo nos pontos A e B. Mas se o fluxo é igual, logo o produto da área de secção transversa pela velocidade é o mesmo nos pontos A e B. Porém, como região A tem menor calibre, logo a velocidade do fluido terá de ser maior para satisfazer a igualdade de fluxo nos dois pontos. Em um circuito fechado, quanto maior o calibre do vaso, menor a velocidade do fluido nele contido. Quanto menor o calibre do vaso, maior a velocidade do fluido nele contido. Existe total concordância entre o comportamento da velocidade em um sistema hidráulico e o comportamento da velocidade no sistema circulatório. Osvasos capilares recebem esse nome porque apresentam a espessura de um fio de cabelo, porém a rede capilar apresenta milhões de vasos capilares dispostos em paralelo, de forma que a área de secção transversa total da rede capilar é centenas de vezes maior que a área de secção transversa da arteríola que origina a rede. Uma vez que cada órgão tem sua rede capilar, e sendo justamente na rede capilar que ocorrem as trocas de nutrientes entre o sangue e os tecidos, o ideal é que o sangue flua muito lentamente, a fim de haver tempo suficiente para que as trocas ocorram. V. PRESSÃO DOS FLUIDOS Podemos observar que a velocidade diminui do ponto de menor calibre para o ponto de maior calibre; então, o fluido desacelerou do ponto A para o ponto B, e assim o sentido do vetor aceleração é do ponto B para o ponto A. O que determina o sentido da aceleração (rompimento de inércia) de um fluido é a diferença de pressão. Logo, concluímos que, como o fluido diminui sua aceleração do ponto A para o ponto B, a pressão no ponto B deverá ser maior que no ponto A. Se no caso do fluido que se desloca de A para B a pressão “resultante” está de B para A, o que então mantém o sentido do fluido? O que mantém o movimento com velocidade constante é a própria inércia, ou seja, o vetor velocidade. Assim, o fluido escoa em velocidade constante unicamente por inércia. Agora, se quisermos alterar a inércia do fluido, acelerando-o ou desacelerando-o, aí sim, uma pressão “resultante” será necessária. Se um fluido escoa de A para B com velocidade constante, nenhuma pressão é necessária, pois ele escoa por inércia. Se um fluido acelera de A para B, a pressão em A é maior que a pressão em B. Se um fluido desacelera de A para B, a pressão em B é maior que a pressão em A. Outra forma de explicar por que a pressão é maior no ponto B é pela conservação da energia mecânica. A energia mecânica ( ) é composta pela energia potencial e pela energia cinética: = + Dizemos que um corpo tem energia potencial ( ) quando, em virtude de sua posição, ele tem possibilidade de entrar em movimento (como, por exemplo, um fluido sob pressão dentro de um continente). A energia potencial é uma forma de energia latente, ou seja, uma energia armazenada e pronta para produzir um movimento. Já a energia cinética ( ) é a energia que o corpo possui em virtude de seu próprio movimento. Então quanto maior a velocidade, maior a energia cinética. Como a pressão é o agente que rompe a inércia, ela representa a energia potencial ( ) de um fluido, enquanto a energia cinética ( ) é representada pela velocidade. Bem, pela primeira lei da termodinâmica, sabemos que a energia mecânica ( ) se conserva em sistemas não-dissipativos. Ora, se a velocidade diminui do ponto A para o ponto B, houve diminuição da . Dessa forma, para a energia mecânica se conservar, é obrigatório que a (representada pela pressão) aumente no ponto B. Quanto maior o calibre do continente, maior a pressão exercida pelo seu conteúdo. Não existe no organismo um vaso único, cujo calibre aumente ao longo do percurso, como o vaso da figura anterior. Então, no organismo, o princípio da desaceleração não se aplicará tal qual no vaso utópico em questão. Em relação ao sistema circulatório humano, podemos dizer que: O coração (bomba), que acumula energia potencial hidráulica (pressão), alimenta o sistema circulatório fechado. O coração oferece à circulação um determinado volume de sangue por unidade de tempo (fluxo). O fluxo é o mesmo em vasos associados em série. O fluxo se divide entre os vasos em paralelo. A pressão total é a soma da pressão dos vasos em série. A pressão é a mesma em cada vaso associado em paralelo. Desde a aorta até os capilares, os vasos estão em série. Como a pressão nesses vasos em série vai se somando, concluímos que a soma da pressão nesses vasos vai nos fornecer como resultado a diferença de pressão entre a raiz da aorta e a extremidade das arteríolas (aorta, artérias e arteríolas estão em série). Como os capilares estão em paralelo, a pressão que atua na rede capilar é a mesma pressão que atua em um único capilar. Se a pressão no sistema circulatório se comportar como a pressão no circuito hidráulico descrito anteriormente, seria de se esperar que a pressão na rede capilar fosse bem mais elevada que a pressão na arteríola – afinal, em um circuito hidráulico fechado a pressão é maior onde a área de secção transversa é maior. Entretanto, a pressão na rede capilar é MENOR que a pressão na arteríola que a origina. Conclui-se que o sistema arterial NÃO obedece aos princípios que se aplicam aos sistemas hidráulicos simples, no que se refere à pressão. Uma das diferenças fundamentais que existe no sistema arterial em relação a um sistema hidráulico simples, é que, na extremidade final da maioria das arteríolas, existem os esfíncteres pré-capilares. Essas estruturas são formadas por musculatura lisa e produzem um estreitamento importante na extremidade arteriolar, fazendo com que o volume de sangue que chega aos capilares flua lentamente e de forma contínua. Dessa maneira, a pressão no capilar fica pequena. Os capilares apresentam uma parede tão fina, que mesmo uma pressão pequena poderia causar sua ruptura. Isso não acontece graças ao fato de os capilares apresentarem um raio muito pequeno, o que faz com que a tensão na parede capilar seja mínima (lei de Laplace). Além disso, como a pressão em cada capilar é baixa, somente muito pouco do plasma vaza através dos poros capilares para os tecidos, embora os nutrientes possam se difundir facilmente para as células que circundam os capilares. De fato, quase não ocorre troca de plasma entre capilares e tecidos, o que é trocado entre eles são os nutrientes. Para que um capilar cumpra corretamente o seu papel, o importante é que a pressão capilar e a velocidade de escoamento do sangue sejam baixas. VI. FLUXO LAMINAR As regiões centrais do fluido se deslocam com uma velocidade maior e as linhas de deslocamento representadas pelo vetor velocidade formam linhas paralelas. Assim, é como o fluxo se deslocasse em lâminas, que na verdade se comportam como cilindros concêntricos. A lâmina (cilindro) mais externa apresenta contato com a parede do vaso que é um sistema sólido, havendo então certo grau de atrito. À medida que as lâminas de fluxo se afastam das paredes do vaso, seu contato também diminui, logo sua aceleração aumenta, e, portanto, elas se movem com maior velocidade. Caso o vaso apresente algum estreitamento, dilatação ou obstrução, haverá choque entre as lâminas, e então dizemos que houve turbilhonamento (fluxo turbilhonado). VII. RESISTÊNCIA AO FLUXO Para o líquido se manter em fluxo constante (inercial) a resistência a esse fluxo deve ser vencida por uma força motriz. O fluxo é dado pela razão diferença de pressão/resistência. Podemos verificar que o fluxo depende diretamente da diferença (gradiente) de pressão entre o início e o fim do trajeto, e, também, é claro, que o fluxo é inversamente proporcional à resistência imposta à sua passagem. F = Onde, F : Fluxo. ΔP : Diferença de pressão. R: Resistência A existência da resistência pode ser evidenciada pelo seguinte argumento: em um circuito fechado a velocidade de um fluido varia em função da área de secção transversa de um vaso. Pois bem, em um vaso ondeo calibre não se altera, podemos concluir que a velocidade do fluido nesse vaso é constante (isto é, o fluido se movimenta por inércia). Ora, se ele se move por inércia (velocidade constante), por que é necessária a existência de uma diferença de pressão para manter o fluxo? Acontece que, em regiões do vaso em que o calibre é constante, a pressão resultante serve tão somente para anular a força de resistência. Como a resultante das forças será nula, a velocidade será constante. Com esse raciocínio fica demonstrado que existe uma resistência ao escoamento do fluido em um vaso (continente). 1. FATORES RESPONSÁVEIS PELA RESISTÊNCIA O raio do vaso: Quanto maior o raio do vaso, menor será a resistência e maior será o fluxo. Quanto menor o raio do vaso, maior será a resistência e menor será o fluxo. O fluxo em um vaso é diretamente proporcional à quarta potência de seu raio. A importância desse princípio é muito grande, pois ele mostra que mínimas alterações no calibre de um vaso geram grandes alterações no fluxo de seu conteúdo. Viscosidade: Quanto mais viscoso um fluido, maior o atrito entre as lâminas (cilindros) do fluido. O fluxo em um vaso é inversamente proporcional à viscosidade de seu conteúdo. Comprimento: Quanto maior a extensão do vaso, maior será a superfície de atrito entre a lâmina externa do fluido e a parede do vaso. O fluxo em um vaso é inversamente proporcional ao seu comprimento. Equação de Poiseuille: No caso da análise da circulação humana, a variável comprimento não tem muita importância, pois não há como aumentar ou diminuir significativamente o comprimento dos vasos sanguíneos. A variável viscosidade apresenta importância relativa, pois raramente ocorrem grandes alterações na viscosidade do sangue. Pode ocorrer relativo aumento da viscosidade do sangue em casos de desidratação ou discreta redução da viscosidade no caso de anemias. O principal determinante da resistência ao fluxo no sistema circulatório é o raio do vaso. Sabemos que o coração fica um terço do tempo em sístole e dois terços do tempo em diástole. A pressão sistólica tem por finalidade acelerar o sangue (romper sua inércia) para fora do coração. Já a pressão diastólica existe unicamente para equilibrar a resistência e permitir que o fluxo flua em velocidade constante, ou seja, por inércia. VIII. VISÃO TERMODINÂMICA DA CIRCULAÇÃO Num sistema dissipativo, parte da energia “se degrada”, se transforma em um tipo de energia que não pode retornar para o tipo original. Essa parcela de energia perdida pelo sistema em forma de calor é a entropia. À medida que o tempo passa, aumenta a entropia, ocasionando uma irreversibilidade das transformações. Desde a saída do sangue do coração até o seu retorno, novamente ao coração, a energia mecânica deveria se conservar, caso o sistema circulatório fosse um sistema conservativo. Mas esse não é o caso – o sistema é dissipativo. Assim, a energia mecânica não se conserva, pois uma parcela, tanto da energia cinética (velocidade) quanto da energia potencial (pressão), se transforma em entropia, em função das forças dissipativas. Como as grandes artérias apresentam um considerável grau de elasticidade, logo ao sair do coração a pressão do sangue é amortecida pela dilatação de tais artérias. Dessa forma, parte da energia potencial do sangue (pressão) é transformada em energia potencial elástica nas artérias. Outra força dissipativa muito importante é a força de atrito. Apesar de o endotélio que reveste os vasos sanguíneos apresentar um dos coeficientes de atrito mais baixos da natureza, como a extensão total dos vasos é grande, existe dissipação de energia mecânica do sangue em função do atrito com o endotélio. Além disso, pelo fato de o sangue não ser um fluido homogêneo, já que apresenta células e proteínas em seu conteúdo, o fluxo do sangue não é perfeitamente laminar. Assim, existe também perda de energia através do atrito entre as lâminas do próprio sangue. Como as artérias se bifurcam, o choque da coluna de sangue com as incontáveis bifurcações também faz com que a parte da energia seja dissipada. Os esfíncteres pré-capilares também contribuem para a perda de energia, uma vez que o sangue também se choca com eles. Em função de todas essas variáveis dissipativas, o sangue chega aos capilares com baixa pressão (energia potencial) e baixa velocidade (energia cinética). Após deixar os capilares, o sangue chega ao sistema venoso com baixa pressão e retorna ao coração graças à pressão aspirativa produzida pela diástole dos átrios, dentre outros fatores. A constante dissipação de energia é um motivo capital para o sistema venoso ser um sistema de baixa pressão. IX. PRESSÕES DE ESCOAMENTO NA REDE CAPILAR Pressão hidrostática: favorece a filtração. Pressão oncótica: oposição à filtração. X. DINÂMICA DA FILTRAÇÃO RENAL Filtração é um método em que separam substâncias sob pressão. Formalmente podemos definir a filtração como um processo de separação de um sistema sólido- líquido ou sólido-gasoso, e que consiste em fazer tal sistema passar através de um material poroso (filtro) que retém o corpo sólido de deixa passar a fase líquida ou gasosa. Quando as substâncias retidas pelo filtro apresentam dimensões muito pequenas (da ordem de micrômetros), o processo é denominado ultrafiltração. Os rins têm como principal função filtrar o plasma para formar a urina. Para que ocorra filtração, os vasos sanguíneos, ao chegarem nos néfrons, formam uma rede capilar enovelada, que denominamos glomérulo. A pressão existente no glomérulo é a pressão hidrostática do sangue, que tende a acelerar o filtrado para fora (em direção à cápsula de Bowman, que é a porção inicial do néfron). Opondo-se à filtração existem duas pressões – a pressão oncótica do glomérulo, determinada pelas proteínas ali existentes, e a pressão hidrostática na cápsula de Bowman (pressão capsular), que vai aumentando à medida que o filtrado se acumula na cápsula. Assim, a pressão efetiva de filtração (PEF) é determinada pela aritmética entre a pressão hidrostática do glomérulo (PH), a pressão oncótica (PO) e a pressão capsular (PC), da seguinte forma: PEF = PH – PO – PC QUESTÕES 1. Qual o principal fator responsável pela aceleração de um fluido? Comente sobre pressão positiva e pressão negativa, exemplifique. 2. Comente sobre a relação do fluxo de sangue com a velocidade do fluido e com a área dos vasos. Quais os vasos do sistema circulatório de humanos com o maior calibre? Qual a importância fisiológica dessa grande área nesses vasos? 3. Comente sobre a pressão do sangue nas artérias, arteríolas, capilares e veias. Qual o motivo de ocorrer uma redução significativa da pressão nas arteríolas? 4. O que é o fluxo laminar e o fluxo turbilhonado de um fluido? 5. Quais fatores causam resistência ao fluxo de sangue no sistema circulatório? 6. Comente sobre as pressões hidrostáticas e oncóticas na rede capilar sistêmica e nos capilares glomerulares dos néfrons. BIOFÍSICA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO I. PRESSÃO Um líquido ouum gás exerce pressão sobre o seu continente. A pressão é um conjunto de forças exercidas por cada uma das infinitas partículas do fluido sobre infinitos pontos de seu continente. Macroscopicamente, a pressão não pode ser considerada uma força, pois incide sobre todos os pontos do continente com mesma intensidade. Porém, a pressão é composta por pequenas forças geradas pelos choques das moléculas do fluido sobre a parede do continente. Pressão = força por unidade de área. Como o choque de moléculas se dá aleatoriamente em todos os pontos do recipiente, fica fácil observar que a pressão será a mesma em todos os pontos do continente. A pressão de um fluido se distribui igualmente em todos os pontos de seu continente. A pressão em um sistema é dependente do volume do continente (Lei de Boyle). Para aumentar a pressão dentro de um continente, basta diminuir seu volume. Para diminuir a pressão dentre de um continente, basta aumentar seu volume. 1. PRESSÃO PARCIAL DE UM GÁS Um gás exerce pressão em seu continente. A pressão exercida por um gás é produzida pela força que esse gás exerce sobre a parede por unidade de área da parede. E a causa dessa força é o somatório dos choques que as moléculas de gás sofrem contra a parede: quanto mais choques, mais pressão. Numa mistura gasosa, cada componente da mistura exerce uma determinada pressão parcial sobre as superfícies em contato com a mistura, a qual é proporcional à concentração desse gás na mistura. 2. PRESSÃO PARCIAL DE UM GÁS MISTURADO EM UM LÍQUIDO Os gases muitas vezes estão em suspensão na água. O motivo de essa mistura ser uma suspensão é a existência da pressão parcial exercida pelo gás, na mistura, contra a superfície do líquido, de dentro para fora. Como o líquido e o gás circundante são sistemas abertos, a pressão parcial do gás será proporcional à quantidade de gás que escapa do líquido. Definitivamente, as moléculas de gás projetam-se contra a lâmina tensa na superfície do líquido, ricocheteando de volta. A pressão parcial de um gás no líquido é proporcional à concentração do gás no líquido. Contudo, há um fenômeno curioso que acontece nos líquidos: gases diferentes, ainda que em mesma concentração, exercem pressões parciais diferentes! Ao se determinar experimentalmente a relação entre a pressão e a concentração de gases, determinou-se um coeficiente numérico de solubilidade para cada gás. Quanto menor esse coeficiente, maior será a pressão parcial exercida pelo gás na superfície do líquido. O coeficiente de solubilidade determina o grau de afinidade ou repulsão que um gás apresenta em relação ao líquido. A pressão parcial de um gás é diretamente proporcional à sua concentração e inversamente proporcional ao seu coeficiente de solubilidade. Coeficiente relativo de difusão – Esse coeficiente é derivado do coeficiente de solubilidade e trata da velocidade de difusão de um gás dentro de um líquido. Os gases como maior coeficiente de solubilidade têm mais liberdade para circular dentro do líquido e, assim, difundir-se por sua intimidade, uma vez que gases com coeficiente de solubilidade baixo apresentam afinidade pelo líquido. A pressão parcial externa de um gás é determinante da concentração desse gás quando ele está misturado em líquido. Se pressão é força sobre unidade de área, imaginamos uma força para cada tipo de gás apontando do meio circundante para dentro do líquido e uma outra força apontando do líquido para o meio circundante. O gás entra ou sai do líquido até as forças se equilibrarem, ou seja, até as pressões parciais ficarem iguais dentro e fora do líquido. Se a pressão parcial de um gás, externa ao líquido, abaixa em relação à pressão interna, sai gás da mistura. Se a pressão parcial de um gás, externa ao líquido, aumenta em relação à pressão interna, entra gás na mistura. A pressão parcial de um gás dentro e fora da mistura líquida é a mesma. II. TENSÃO Tensão é uma força que tende a produzir ruptura. A tensão é maior onde o raio do continente é maior. Tensão é a força de contato exercida sobre um cabo em reação à força de tração. Utiliza-se o termo tração para a força exercida no corpo e tensão para a força exercida no cabo ou no continente de um fluido. A natureza da tração e da tensão é a mesma, ambas são forças que “puxam” alguma coisa. O efeito da tensão depende da resistência do material. A força elástica é a reação à tensão em um continente que apresente elasticidade. A tensão na superfície de um recipiente é diretamente proporcional à pressão exercida pelo fluido que preenche esse recipiente e ao raio do recipiente (Lei de Laplace). ELASTÂNCIA E COMPLACÊNCIA: Elastância é a variação da resistência elástica de um tecido por unidade de tensão. Complacência é a variação da deformação de um tecido, por unidade de tensão. Complacência é o inverso da elastância. Quanto maior a elastância, menor a variação de volume sob uma mesma pressão, e quanto maior a complacência, maior a variação de volume sob uma mesma pressão. Complacência é a variação do volume por unidade de pressão. Capacitância é sinônimo de complacência. III. TENSÃO SUPERFICIAL A exemplo da água, as suas moléculas formam pontes de hidrogênio em todas as direções. Ou seja, uma molécula de água está cercada por pontes de hidrogênio. Como cada ponte é uma interação de forças entra duas moléculas, obviamente a resultante delas será nula se considerarmos uma molécula situada no meio da massa de água. Contudo, na superfície do líquido que é o limite físico da massa de água, essas forças não se anulam! Para o rigor da definição, consideramos que a tensão superficial é a propriedade que só existe na interface de dois meios diferentes, por exemplo, líquido e gás. 1. TENSÃO SUPERFICIAL NA SOLUÇÃO DE DETERGENTE O detergente age como um competidor pelos sítios polares das moléculas de água. Ele é um sal de cabeça longa, composto por uma cadeia polar de dezenas de carbonos (cauda) e uma extremidade polar que se liga à água. A parte iônica é hidrofílica, que se liga a moléculas de água. A parte apolar é hidrofóbica, ou seja, não interage com a água. Logo, a molécula anfipática, ao se ligar a uma molécula de água através da parte iônica, literalmente desliga essa molécula da rede de pontes de hidrogênio, pois a parte apolar do detergente não tem a que se ligar. Assim, com a adição de uma substância anfipática à água, o número de pontes de hidrogênico no sistema cai vertiginosamente. E com isso, a tensão superficial da água é reduzida. As moléculas anfipáticas são, por isso, chamadas de tensoativas. 2. OS ALVÉOLOS PULMONARES E AS MOLÉCULAS TENSOATIVAS Os alvéolos, como qualquer outro tecido do organismo, são ricos em água. Tanto que, continuamente, existe uma fina camada de água na sua superfície interna. E, como sabemos, a água exerce uma tensão superficial. Essa tensão é forte o bastante para fazer com que o alvéolo se feche, fique todo amassado (a isso chamamos colabamento). E também é forte o suficiente para impedir a inspiração. Entretanto, a água alveolar está repleta de surfactante (uma substância tensoativa, tipo um detergente). O surfactante é produzido a partir de ácidos graxos pelas células alveolares do tipo II. O constituinte mais importante é a dipalmitil fosfatidilcolina (DPPC), são anfipáticos. Esse surfactante reduz a tensão superficialda água, permitindo que ela se “espalhe” pela superfície do alvéolo e que este seja insuflado tranquilamente durante a inspiração. Síndrome da angústia respiratória neonatal: Um dos maiores dramas no parto de crianças prematuras é que o pulmão de fetos com menos de 30 semanas (aproximadamente) ainda não produz surfactante. Logo, se o problema não for imediatamente tratado com a aplicação de surfactante sintético pelas vias respiratórias, o bebê provavelmente morre por incapacidade de respirar. IV. VENTILAÇÃO PULMONAR A ventilação pulmonar é o processo físico que possibilita a entrada e a saída de ar dos pulmões. 1. AS FORÇAS ELÁSTICAS E AS PRESSÕES NO PULMÃO O ar é um fluido, e só é possível acelerar fluidos submetendo-os a uma diferença de pressão. Como os alvéolos e as vias respiratórias são estruturas anatomicamente abertas, mantêm contato com o ar atmosférico. Portanto, a pressão intra-alveolar tem valor igual ao da pressão atmosférica. O ar só poderá se deslocar em direção aos alvéolos se a pressão atmosférica se tornar maior que a pressão intra-alveolar. A solução, então, é diminuir a pressão intra-alveolar, ou seja, torná-la uma pressão negativa, subatmosférica. Para diminuir a pressão intra-alveolar, basta aumentar o volume dos alvéolos (Lei de Boyle). Logo, para que a pressão intra-alveolar diminua, basta que os pulmões se expandam durante a inspiração. A consequência é a entrada de ar até a pressão intra-alveolar se igualar à atmosférica. A cavidade pleural é um espaço único delimitado em toda a sua extensão por uma membrana serosa denominada pleura. A parte da pleura que fica aderida à parede torácica se denomina pleura parietal, enquanto a porção do folheto pleural que fica aderida ao parênquima pulmonar (alvéolos) é chamada de pleura visceral. O pulmão é um órgão elástico, cuja malha de fibras conjuntivas é concêntrica (ou seja, as fibras são pequenas molas radiais que convergem para o hilo do órgão). Esse pulmão está literalmente aberto, ou seja, o ar no seu interior mantém continuidade com o ar atmosférico. O pulmão está encerrado dentro de uma caixa rígida, que é a caixa torácica, reforçada por um gradil costal. A caixa torácica tem um volume bem maior do que o do pulmão em repouso (pulmão sob tensão zero). Contudo, o pulmão está preenchendo completamente o interior da caixa torácica. Isso significa que o pulmão está sendo submetido a uma determinada tensão que o estire a ponto de preencher toda a cavidade. O interior do alvéolo mantém contato contínuo com o meio atmosférico; assim, mesmo quando o pulmão está estirado dentro da caixa torácica (sob tensão), a sua pressão interna (pressão intra-alveolar) é igual à pressão atmosférica. Qual é a fonte de tensão que produz o estiramento do pulmão tornando-o distendido? É uma pressão negativa que rodeia o exterior do pulmão que o puxa excentricamente, estirando-o – a pressão intrapleural negativa. O que faz com que a pressão intrapleura seja negativa é o fato de caixa torácica ser inextensível, criando um vácuo dentro da cavidade pleural. Isto ocorre em virtude das características elásticas intrínsecas da caixa torácica e dos pulmões. Se realizarmos um experimento retirando os pulmões da caixa torácica, vamos observar que a elasticidade dos músculos da parede torácica tende a tracionar esta para fora, ou seja, sem os pulmões a tendência do tórax é expandir-se ainda mais. Por outro lado, os pulmões, se forem retirados da caixa torácica, tendem a colapsar (retrair-se) por causa das muitas fibras elásticas que existem em torno dos alvéolos. Como a parede da caixa torácica tende a se expandir (trazendo consigo a pleura parietal) e os pulmões tendem a colapsar (levando com eles a pleura visceral), ocorre um discreto afastamento dos dois folhetos pleurais, aumentando o volume da cavidade pleural e gerando nesta uma pressão de sucção (pressão negativa). Outro importante fator que contribui para que a pressão intrapleural seja negativa é a contínua retirada de líquido do espaço pleural pelos capilares linfáticos. A caixa torácica não é imóvel. Ela aumenta de volume pela contração de músculos como o diafragma e os músculos intercostais. Quando a caixa torácica se expande, traciona a pleura parietal para fora, e isto aumenta o volume da cavidade pleural, fazendo com que a pressão intrapleural se torne ainda mais negativa. A pressão intrapleural negativa traciona a pleura visceral em direção à pleura parietal, e como a pleura visceral está aderida ao parênquima pulmonar, o pulmão é tracionado em direção à parede torácica. Consequentemente, o pulmão se distende, causando aumento do volume dos alvéolos, e, com o aumento do volume alveolar, a pressão intra-alveolar diminui. A pressão intra-alveolar, então, passa a apresentar valores negativos (subatmosféricos), propiciando a entrada de ar nos pulmões. Estes são os fenômenos mecânicos que possibilitam que a inspiração ocorra. Para que a expiração ocorra, basta que os músculos intercostais e o diafragma relaxem e as próprias forças elásticas existentes no pulmão cuidem de “tracionar” as pleuras e a caixa torácica até a posição original, gerando uma pressão intra-alveolar positiva que faz com que o ar saia dos pulmões. Existem dois tipos de forças elásticas que atuam na expiração: As forças elásticas do tecido pulmonar, que são determinadas principalmente pelas fibras elásticas e pelas fibras colágenas existentes no interstício pulmonar. AS forças elásticas causadas pela tensão superficial existente no interior dos alvéolos, as quais representam cerca de 2/3 do total das forças elásticas nos pulmões normais. A tensão superficial é um efeito que ocorre na camada superficial de um líquido, fazendo com que a superfície deste se comporte como uma membrana elástica. Como o interior dos alvéolos é repleto de moléculas de água, a tensão superficial é tão grande que poderia impedir a abertura dos alvéolos. A tensão superficial só não inviabiliza a respiração porque existe no interior dos alvéolos uma substância produzida pelos pneumócitos tipo II, denominada surfactante, que atua reduzindo a tensão superficial da água. A inspiração é um processo ativo, pois depende de trabalho muscular. A expiração é um processo passivo, que ocorre em virtude das forças elásticas existentes no pulmão. A diferença numérica entre o valor da pressão intrapleural e a pressão intra- alveolar é denominada pressão transpulmonar. A expansão torácica ocorre justamente por causa da diferença de pressão na cavidade pleural e a pressão no alvéolo. Assim, podemos afirmar que, quando os valores da pressão transpulmonar estão baixos, a ventilação fica prejudicada. = – A pressão transpulmonar é a pressão que mantém as vias respiratórias abertas, tanto na inspiração quando na expiração. 2. VOLUMES PULMONARES Volume corrente (VC): Volume de ar (cerca de 500mL) inspirado ou expirado durante a respiração em repouso. Volume de reserva inspiratória (VRI): Volume extra de ar (cerca de 3000mL) que pode ser inspirado em uma inspiração forçada Volume de reserva expiratória (VRE): Volume extra de ar (cerca de 1000mL) que pode ser expirado em uma expiração forçada, após o final da expiração do volume corrente de pressão. Volume residual (VR): Volume de ar (cerca de 1000mL) que permanece nos pulmões mesmo após uma expiração forçada de intensidade máxima.3. FLUXO DE AR E RESISTÊNCIA DAS VIAS AÉREAS O fluxo é diretamente proporcional á diferença de pressão entre a boca e o nariz e os alvéolos, e é inversamente proporciona à resistência das vias aéreas. F = A resistência é determinada, principalmente, pela lei de Poiseuille: Quanto menor o raio do vaso, maior será a resistência e menor será o fluxo. O fluxo de um vaso é diretamente proporcional à quarta potência do raio. Alterações da resistência das vias aéreas – sistema nervoso autônomo: Estímulo parassimpático produz constrição da musculatura lisa dos brônquios. Estímulo simpático produz relaxamento. A resistência se torna um impedimento importante ao fluxo de ar quando o interior das vias aéreas se tornam anormalmente estreitados por acúmulo de muco ou por doença obstrutiva crônica (bronquite crônica, asma). 4. COMPLACÊNCIA PULMONAR Descreve a distensibilidade do sistema. Refere-se à variação de volume dos pulmões para uma dada mudança de pressão. A complacência dos pulmões e da caixa torácica tem relação inversa com as propriedade elásticas, ou elastância. Quanto maior a quantidade de tecido elástico, maior é a força de recuo, menor é a complacência. Enfisema Pulmonar: Aumento da complacência por destruição das fibras elásticas. V. TROCAS GASOSAS, DIFUSÃO E TRANSPORTE DE GASES Relaciona-se com a pressão parcial de um gás misturado em um líquido e seu coeficiente de solubilidade. Gás Coeficiente de Solubilidade Coeficiente de Difusão 0,024 1,00 0,570 20,30 1. TRANSPORTE DE PELO SANGUE dissolvido: 2% do conteúdo total de no sangue. Oxiemoglobina: maior parte do no sangue. 2. TRANSPORTE DE PELO SANGUE dissolvido: 5% do conteúdo total do no sangue. Carbaminoemoglobina: 3% do conteúdo total de . : 92% do total de . QUESTÕES 1. Explique o porquê de os pulmões estarem estirados para ocupar o volume da caixa torácica. Quais as forças são responsáveis pelo estiramento pulmonar e qual a importância fisiológica desse evento? 2. Quais mudanças ocorrem nos volumes e pressões da caixa torácica e pulmões durante o ciclo respiratório? Quais músculos participam da inspiração silenciosa? Por que a expiração silenciosa é um processo passivo? 3. Comente sobre a complacência pulmonar e dê um exemplo de alteração patológica da complacência dos pulmões. 4. Fales sobre a difusão dos gases entre os alvéolos e os capilares pulmonares. Explique o que é a pressão parcial dos gases. ONDAS I. INTRODUÇÃO Onda é uma forma de transferência de energia sem transferência de matéria. Onda é o fenômeno que consiste numa perturbação periódica, que se propaga em um meio material ou no espaço. II. PERTURBAÇÃO E PROPAGAÇÃO Toda vez que um determinado corpo transfere energia para um meio, esse corpo produz um perturbação local que se propaga para todas as direções desse meio. Essa perturbação recebe o nome de onda. A quantidade de movimento (energia) de um corpo que se choca com um meio elástico determina, nesse meio, tanto o número de ondas por unidade de tempo (frequência) como a amplitude dessas ondas. A quantidade de movimento de um corpo que se choca com um meio elástico não determina a velocidade de propagação da onda. Pois, O que determina a velocidade de propagação de uma onda são as características intrínsecas do meio. As principais características de uma onda, as quais definem seu comportamento, são: Frequência: Número de perturbações em propagação por unidade de tempo. Amplitude: Intensidade de cada perturbação (altura da onda). Quanto mais energia tem a onda, maior sua amplitude. Comprimento de onda: Distância entre duas perturbações (medida pela distância entre duas cristas). Velocidade de propagação: Distância percorrida pela perturbação (no sentido da propagação) por unidade de tempo. Uma onda é definida pela quantidade de energia que transmite. A velocidade de propagação da onda depende simultaneamente da frequência e do comprimento de onda. A velocidade de propagação de uma onda é dada pelo produto da frequência da onda por seu comprimento de onda. v = λ . f Ondas veiculam energia! 1. COMO AS ONDAS SE PROPAGAM Ondas que se propagam por uma única dimensão são chamadas ondas unidimensionais. Ondas que se propagam através de uma superfície são chamadas de ondas bidimensionais. Ondas que se propagam para todas as direções do espaço a partir da fonte são chamadas de ondas tridimensionais. A propagação tridimensional de uma onda no ar se dá com oscilações longitudinais ao sentido da onda, gerando momentos de rarefação e compressão. Podemos, para fins de simplificação e visualização, representar uma onda tridimensional (rarefação – compressão) como uma oscilação bidimensional em um gráfico, em que a rarefação apresenta os “vales” do gráfico da onda e a compressão, as “cristas” do gráfico. 2. COMO AS ONDAS INTERAGEM Uma grande variabilidade de padrões de frequência e amplitude podem se somar, gerando um composto complexo de oscilações. Esse complexo é chamado de “onda complexa”. 2.1. INTERAÇÕES ADITIVAS Quando pulsos de rarefação ou de compressão de duas ondas coincidem, é produzido um pulso de amplitude aumentada ou amplificada, definindo o pulso resultante, que é a soma aritmética dos pulsos originais. 2.2. INTERAÇÕES SUBTRATIVAS Quando o pulso de rarefação de uma onda coincide com o pulso de compressão de outra, e vice-versa, a amplitude do pulso resultante é reduzida ou anulada, definindo uma subtração aritmética dos pulsos originais. 3. RESSONÂNCIA Ressonância é um processo de amplificação de ondas com mesma frequência, produzidas em fontes diferentes, através de uma interação aditiva. III. A NATUREZA DAS ONDAS 1. ONDAS MECÂNICAS Onda mecânica é aquela que se propaga através de um meio material, através do deslocamento de uma perturbação local, e que interfere no estado de cinética das partículas desse meio. A perturbação in loco alteração cinética das moléculas, a qual não configura deslocamento de massa no sentido da propagação da onda, mas gera a amplitude da onda. É assim que a onda transfere sua energia: através de sua amplitude, a qual ocasiona movimento transversal. A velocidade de propagação das ondas mecânicas depende do meio em que ela se propaga. De um modo geral, quanto mais denso o meio, maior a velocidade de propagação. A velocidade de propagação das ondas mecânicas é maior nos sólidos do que nos líquidos, e maior nos líquidos do que nos gases. As ondas mecânicas não se propagam no vácuo. 2. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS A onda eletromagnética é uma perturbação que se origina através da vibração de um campo elétrico e magnético, simultaneamente. Os campos de força magnética e elétrica, por si, são inseparáveis, e não é admitida a existência exclusiva de um. Onda eletromagnética é a onda que se origina pela variação de um campo eletromagnético e que se propaga no vácuo com a velocidade da luz. Ao contrário das ondas mecânicas, quantomaior a densidade de um meio, menor a velocidade de propagação das ondas eletromagnéticas. A velocidade desse tipo de onda é máxima no vácuo. Como nas ondas mecânicas, a quantidade de energia transferida para o receptor de ondas eletromagnéticas é proporcional à frequência dessas ondas. Além disso, segundo o modelo adotado atualmente, essa transferência de energia se dá através dos fótons, que se comportam como “pacotes de energia”. Fóton é a partícula elementar mediadora da força eletromagnética. O fóton também é a quantidade de radiação eletromagnética, ora se comportando como onda, ora se comportando como partícula. Espectro eletromagnético: É todo o conjunto de ondas eletromagnéticas possíveis. BIOFÍSICA DA VISÃO I. A ESTRUTURA DO OLHO O olho é uma esfera cheia de fluidos envolvida por três camadas de tecido especializado: Esclera: membrana rígida que serve para dar forma ao olho. Coróide: rica em vasos sanguíneos e em pigmentos de cor negra (melanina), é responsável pela nutrição da retina e reduz a reflexão da luz no interior do globo ocular. Retina: membrana onde estão os fotorreceptores (células nervosas responsáveis pela detecção da luz e onde ocorre o primeiro estágio do processamento das informações visuais). Câmara anterior preenchida com humor aquoso que nutre a córnea e o cristalino. O humor aquoso é drenado para as veias; seu volume determina a pressão intraocular. A grande cavidade que se situa atrás do cristalino contém o humor vítreo; um fluido gelatinoso com composição semelhante à do líquor. A emergência do nervo óptico cria na retina uma região chamada de ponto cego, que se localiza próximo à fóvea. Nessa região não existem fotorreceptores. II. A QUANTIDADE DE LUZ QUE ENTRA NO OLHO É CONTROLADA PELA ÍRIS Míose: Constrição da pupila (parassimpático). Ambiente bem iluminado, fadiga, focalização de objeto próximo. Midríase: Dilatação da pupila (simpático). Ambiente pouco iluminado, dor, orgasmo, no momento da morte. III. O OLHO REFRATA A LUZ QUE ENTRA PARA FOCALIZAR A IMAGEM NA RETINA Refração é a alteração da direção de propagação de uma onda em função da alteração de sua velocidade, que ocorre quando uma onda muda de meio. LENTES: Lente côncava – Divergente Lente convexa – Convergente. A córnea e o cristalino atuam, em condições normais, como lentes convergentes. n (cristalino) = 1,4 n (córnea) = 1,38 Quanto maior o n (índice de refração), menor a velocidade do raio de luz, maior a convergência. IV. FORMAÇÃO DA IMAGEM NO OLHO Podemos fazer uma analogia de uma câmera fotográfica com o olho. Em ambos temos um sistema de lentes, que focam a imagem de um olho sobre uma região específica, no caso dos olhos, a retina, na câmera, o filme. Como na câmera, a imagem do olho forma-se invertida, o cérebro corrige e interpreta a informação como se a imagem estivesse na posição original. V. FOTOTRANSDUÇÃO A fototransdução pelas células receptoras da retina (cones e bastonetes) converte estímulos de luz em sinais luminosos. VI. DESORDENS COMUNS DA VISÃO Miopia. Hipermetropia. Astigmatismo QUESTÕES 1. Assim como uma câmera fotográfica, o olho humano possui uma espécie de diafragma chamado pupila. Como são denominadas sua dilatação e constrição e qual parte do sistema nervoso é responsável por cada um desses dois processos? 2. Quais as duas estruturas do olho que se comportam como lentes e qual o tipo de lente elas se comportam? BIOFÍSICA DA AUDIÇÃO I. SOM E AUDIÇÃO Grande parte das informações que o ser humana recebe são transmitidas por ondas sonoras – mecânicas – originadas em diversas fontes no ambiente. O sistema auditivo dos animais permite a captação e reconhecimento do conteúdo que essas ondas possuem. O aparelho auditivo humano também está relacionado com o equilíbrio do corpo. Som é a sensação percebida pelo cérebro que se relaciona com a chegada ao ouvido de ondas de vibração mecânica. O som se propaga nos ambientes materiais através de ondas. As ondas sonoras são vibrações sincronizadas das moléculas que constituem o meio. Ao vibrarem em conjunto, elas criam em torno da fonte sonora regiões de alta e baixa pressão. Essas variações de pressão se propagam no meio como onda mecânica. Ao vibrar, a fonte sonora produz uma série de ondas compressão-expansão que se propagam no meio, perdendo intensidade ao longo do percurso. Nem todos os eventos geram vibrações atmosféricas que podemos ouvir. A sensibilidade do ouvido humano varia com a frequência do som. O ouvido humano pode detectar frequências sonoras na faixa de 16 a 17000Hz, mas é mais sensível para as frequências entre 2000 e 5000Hz. II. QUALIDADES FISIOLÓGICAS DO SOM 1. ALTURA A altura do som é a qualidade que permite diferenciar um som grave (baixo) de som agudo (alto), e é determinada pela frequência da onda sonora. Os sons com frequência menor que 16Hz são chamados infrasons, enquanto os de frequência maior que 17000Hz são chamadas ultra-sons. 2. INTENSIDADE OU VOLUME O volume (ou intensidade) do som nada mais é do que a intensidade da onda sonora, ou seja, a amplitude das oscilações. Intensidade é a amplitude da onda sonora, e permite diferenciar um som forte de um som fraco. A unidade de intensidade dos sons é o decibel (dB). Intensidades sonoras acima de 140dB causa dor, e acima de 160dB podem lesionar o tímpano. 3. TIMBRE Todos os sons são ondas compostas (soma de várias ondas diferentes) que contêm uma onda dominante. Essa onda dominante se destaca em amplitude das demais ondas que compõem o som, definindo assim, o perfil resultante da soma de ondas, ou seja, o perfil da onda composta. Timbre é a qualidade que permite diferenciar dois sons de mesma altura e mesma intensidade, mas emitidos por fontes distintas. O timbre de um som depende do conjunto de sons secundários (harmônicos) que acompanham o som principal. III. EFEITO DOPPLER Se uma fonte emissora de som se aproxima de um observador parado, a frequência do som percebida por esse observador será maior do que se a fonte estivesse em repouso, e, quando a fonte se afasta do observador parado, a frequência será menor do que se estivesse em ropouso. IV. APARELHO AUDITIVO Amplificação da onda no ouvido médio: Ouvido interno: QUESTÕES 1. Para pesquisarmos distúrbios auditivos podemos utilizar testes (teste de Rinne e Weber) para avaliarmos a condução aérea e a condução óssea. O teste de condução óssea consiste na colocação de um diapasão vibrando num osso atrás da orelha chamado processo mastoide. Utilizando os conhecimentos de biofísica sobre ondas mecânicas, explique por que em pessoas normais a colocação do diapasão nessa eminência óssea produz um som audível. 2. Além da função da audição, o sistema auditivo possui outra importante função. Que função é essa? RADIAÇÕES I. INTRODUÇÃO Radiações são partículas ou campos (ondas) que se propagam transferindo energia ou matéria no espaço.Assim, as radiações podem surgir tanto no núcleo quanto na eletrosfera de átomos, dependendo de onde ocorre o excesso de matéria ou energia. II. IONIZAÇÃO Uma vez que um átomo libera radiação, essa radiação (energia) irá se transferir para um corpo qualquer. Dependendo da intensidade da radiação emitida, o corpo que irá recebê-la poderá ou não sofrer ionização. Classificamos as radiações de acordo com seu efeito em radiações ionizantes e radiações não-ionizantes. Ionização é o processo pelo qual os átomos de uma determinada matéria perdem ou ganham elétrons, formando íons. Logo, os átomos de um corpo que sofreu efeito de uma radiação ionizante ficarão ionizados. Como as radiações ionizantes transportam grandes quantidades de energia, quando a radiação atinge um corpo essa energia se transfere à eletrosfera do corpo atingido e arranca elétrons da matéria que constitui o corpo em questão, gerando elétrons livres. Os elétrons livres são espécies químicas altamente reativas, e assim eles reagem com qualquer matéria que esteja ao seu alcance alterando sua estrutura química, podendo muitas vezes alterar sua função. Se uma radiação ionizante atinge o tecido humano, os elétrons livres formandos poderão fundamentalmente atuar de duas formas, uma direta e outra indireta. 1. VIA DIRETA DA IONIZAÇÃO Na forma direta, os elétrons livres reagem diretamente com as proteínas do organismo, alterando totalmente sua configuração e pervertendo sua função. Esse tipo de atuação ocorre com aproximadamente 20% dos elétrons livres liberados. É importante ressaltar que, pela atuação direta, muitas vezes os elétrons livres reagem diretamente com o DNA das células, atacando principalmente suas muitas pontes de hidrogênio. Nesse caso, se uma grande quantidade de radiação for absorvida pelas células, o DNA pode sofrer alterações estruturais que irão interferir diretamente nos processos de reprodução celular e síntese proteica, podendo ocasionar diversos tipos de câncer. Se porventura as mesmas radiações forem dirigidas de forma controlada para o DNA de células cancerosas, estas poderão ser destruídas. Esse é o fundamento da radioterapia. 2. VIA INDIRETA DA IONIZAÇÃO Na via indireta os elétrons livres reagem com as moléculas de água (presentes em todo o organismo), e, desta forma, produzem radicais livres de oxigênio (peróxidos, superóxidos, etc.) que são altamente reativos e poderão posteriormente reagir com as estruturas celulares alterando sua função. Oitenta por cento dos efeitos das radiações ocorrem através da indireta. O fato de a maior parte das radiações ionizantes atuar através de radicais livres de oxigênio explica porque os tecidos em hipóxia (mal oxigenados) são cerca de três vezes mais resistentes aos efeitos das radiações. As radiações, sejam elas ondas ou partículas, podem ser ionizantes ou não- ionizantes. A ionização ocorre quando a energia da radiação incidente sobre um material é suficiente para arrancar elétrons dos seus átomos. Dizemos que a radiação é não-ionizante quando sua energia não é suficientemente grande para arrancar elétrons dos átomos; nesse caso, pode ocorrer excitação do átomo, em que os elétrons são levados a camadas mais externas do átomo sem, contudo, serem ejetados. III. RADIAÇÕES O átomo é composto pelo núcleo e pela eletrosfera. No núcleo temos fundamentalmente os prótons (com carga positiva e massa) e os nêutrons (sem carga e com massa). O que determina a identidade de um átomo é o número de prótons que existe em seu núcleo, que denominamos número atômico. A soma do número de prótons e nêutrons determina o número de massa. Isótopos são átomos de um mesmo elemento químico (portanto, mesmo número atômico), porém com número de nêutrons diferentes. Normalmente, as radiações que transportam mais energia se originam em núcleos atômicos, pois levam consigo a energia das forças nucleares. As forças nucleares são extremamente poderosas. As forças nucleares francas são capazes de transformar prótons em nêutrons (e vice-versa) como ocorre no caso de emissão beta. Já as forças nucleares fortes mantêm os prótons unidos e restritos ao núcleo; além disso, parece que os nêutrons atuam como uma cola que mantém os prontos juntos dentro do núcleo. Assim, foi verificado experimentalmente que: Todas as vezes que existe uma diferença significativa entre o número de prótons e o número de nêutrons, o núcleo se torna instável, emitindo radiação. IV. RADIAÇÕES IONIZANTES Uma vez que o núcleo de um átomo é constituído de partículas, podemos considerar o núcleo atômico como um sistema. Se um núcleo apresentar excesso de energia, a termodinâmica garante que esse núcleo apresenta baixa estabilidade, logo maior será a probabilidade de ele transferir essa energia para um sistema com menos energia, como assegura a segunda lei da termodinâmica. Assim, uma núcleo atômico com excesso de energia caracteriza um sistema instável. Uma vez que, segundo os postulados da física moderna, matéria é energia condensada, podemos concluir que um núcleo instável é aquele que apresenta excesso de matéria ou energia. Todas as vezes que um núcleo de um átomo for instável, damos a esse átomo o nome de radionuclídeo, e, como ele deverá transferir essa energia em busca da estabilidade, essa energia será transferida na forma de radiação (radioatividade), ou seja, o átomo será radioativo. Radionuclídeo é o átomo cujo núcleo emite radiação. A radiação emitida por um radionuclídeo pode ser de natureza particulada (de partículas) ou ondulatória (de ondas). Prótons, nêutrons e elétrons ejetados de átomos ou núcleos atômicos são exemplos de radiação particulada. As radiações de natureza particulada são caracterizadas por sua carga, massa e velocidade. As radiações eletromagnéticas (ondulatórias) são constituídas por campos elétricos e magnéticos variando no espaço e no tempo. As ondas eletromagnéticas são caracterizadas pela amplitude e pela frequência da oscilação. Já que um radionuclídeo emite partículas, ele irá um dia acabar se desintegrando. Para medir o tempo durante o qual um radionuclídeo emite radiações, foi criado o conceito de meia-vida. A meia vida representa o tempo transcorrido até que a atividade de um determinado radionuclídeo caia pela metade. 1. RADIAÇÃO ALFA A radiação alfa é um feixe de partículas. O decaimento alfa acontece quando um núcleo, em geral pesado, emite uma partícula composta por dois prótons e dois nêutrons, ou seja, por um núcleo de hélio. Caso o núcleo tenha uma desproporção entre prótons e nêutrons, a emissão alfa não terá poder para igualar o número de prótons e de nêutrons, uma vez que a cada radiação alfa o átomo perde 2 prótons e 2 nêutrons. Já que a emissão alfa, por si só, não estabiliza o núcleo, por que ela acontece? Como a emissão alfa ocorre em átomos com número de massa muito elevado, e como a cada emissão o número de massa diminui, parece que o objetivo da emissão alfa é justamente diminuir a massa do núcleo, afinal, excesso de massa não deixa de ser excesso de energia, se considerarmos a massa como energia condensada. Porém é claro que, para igualar o número de prótons e de nêutrons, isto é, equilibrar o núcleo, outros de emissão serão necessários. Se levarmos em consideração que ela apresenta massa (2 prótons e 2 nêutrons), poderemos concluir que essa radiação é um corpo de tamanho considerável (levando em conta a escala dos tamanhos atômicos).
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