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CURSOS DE PEDAGOGIA E ADMINISTRAÇÃO TÓPICOS ESPECIAIS: ÉTICA E CIDADANIA 2 Faculdade Internacional Signorelli SUMÁRIO UNIDADE 1 - CIDADANIA CONCEITUAL ...............................................................5 AULA 1: ANTIGUIDADE CLÁSSICA - GRÉCIA E ROMA .........................................6 1 O que você entende por ética na antiguidade? ...............................................6 2 Ética na antiguidade clássica ...........................................................................8 AULA 2 - ANTROPOCENTRISMO, REVOLUÇÃO INGLESA E REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ..................................................................10 1 O que você entende por antropocentrismo, Revolução Inglesa e Revolução Industrial? .....................................................................10 2 A ética na modernidade .................................................................................11 AULA 3 - INDEPENDÊNCIA EUA E REVOLUÇÃO FRANCESA............................13 1 O que você entende por Revolução Francesa? ............................................13 2 O princípio ético .............................................................................................14 UNIDADE 2 - CIDADANIA CONTEMPORÂNEA I .................................................19 AULA 4 - BRASIL: DA PRIMEIRA REPÚBLICA AO ESTADO NOVO ....................20 1 O que você entende por ética no Brasil? .......................................................20 2 Ética na política ..............................................................................................21 AULA 5 - BRASIL PÓS-30, A ERA VARGAS ..........................................................23 1 O que você entende por ética na antiguidade? .............................................23 2 A ética no espaço público ..............................................................................24 AULA 6 - BRASIL: DO PÓS-GUERRA À ATUALIDADE .........................................25 1 O que você entende por ética no pós-guerra? ..............................................25 2 Ética no pós-guerra ........................................................................................26 UNIDADE 3 - CIDADANIA CONTEMPORÂNEA II ................................................32 AULA 7 - A VIA PARA O NEOLIBERALISMO, O CONTEXTO INTERNACIONAL ..................................................................................33 1 O que você sabe sobre ética da responsabilidade? ......................................33 2 Ética da responsabilidade ..............................................................................34 AULA 8 - BRASIL ANOS 80 – A LUTA PELA REDEMOCRATIZAÇÃO ...................36 1 O que você sabe sobre a redemocratização? ...............................................36 2 Ética e luta por redemocratização .................................................................37 AULA 9 - BRASIL NO ANOS 90 – CIDADANIA E DEMOCRACIA. ........................39 1 O que você entende por cidadania e democracia no Brasil nos anos 90? .................................................................................................39 2 Código de Ética ..............................................................................................40 3 Faculdade Internacional Signorelli UNIDADE 4 - ESTADO GLOBALIZADO E CIDADANIA .......................................44 AULA 10 - GLOBALIZAÇÃO E PÓS-MODERNIDADE: ESTADO GLOBALIZADO E CIDADANIA .............................................................45 1 O que você entende sobre Estado globalizado e cidadania? ........................45 2 Ética na globalização .....................................................................................47 AULA 11 - DESAFIOS GLOBAIS E VELHAS QUESTÕES ....................................48 1 O que você sabe sobre desafios da ética global? .........................................48 2 Ética moderna ................................................................................................49 AULA 12 - DESAFIOS GLOBAIS E NOVAS QUESTÕES ......................................51 1 O que você entende por desafios globais ......................................................51 2 Novas questões éticas ...................................................................................52 REFERÊNCIAS ......................................................................................................58 4 Faculdade Internacional Signorelli PALAVRAS DO PROFESSOR O autor é mestre em Teologia Sistemática pela PUC-Rio, bacharel e licen- ciado em Filosofia pela mesma instituição. Pós-Graduado em Sociologia e Educação a Distância. Atualmente leciona na graduação de Pedagogia e Administração da Faculdade Internacional Signorelli. Prezado estudante, Este material é referente à disciplina Tópicos Especiais: Ética e Cidadania, constante nas estruturas curriculares dos Cursos de Administração e Pedagogia. Essa disciplina é constituída de 40 horas-aula, divididos em 4 (quatro) Unidades, sendo 12 aulas. Esta disciplina buscará trabalhar, essencialmente, os conhecimentos teórico-práticos relativos aos principais conceitos e institutos da ética e cidadania. É importante salientar que o estudante necessita, para uma formação completa, adquirir conhecimentos nas áreas éticas. Graças ao slogan infeliz, um anúncio de cigarros ampla- mente divulgado na década de 70 tornou-se a melhor (e a pior) tradução da malandragem brasileira. O jogador Gerson, da seleção tricampeã de futebol, foi o garoto-propaganda que proferiu a sentença: “O importante é levar vantagem em tudo”. Nascia assim a chamada “Lei de Gerson”, símbolo de uma postura que legitima o individualismo e estabelece como valor socialmente aceitável a noção de que devemos priorizar nossos próprios interesses em de- trimento do coletivo. A História do Brasil está repleta de casos afins. Nos anos 60, por exemplo, ganhou fama a política do “rouba mas faz”, atribuída ao então governador paulista Adhemar de Barros. Na prática, o lema significa que as obras públicas necessárias seriam realizadas – ainda que com o custo extra da comissão embolsada pelos governantes. E como esquecer o escândalo do Mensalão, que gerou uma CPI e um dos maiores julgamentos de nossa história? Para finalizar essa nossa conversa inicial, vale destacar o nosso compromisso com o perfil esperado para o egresso, segundo as Diretrizes Curriculares estabelecidas para o cur- so, pelo Conselho Nacional de Educação, através do desenvolvimento das competências e habilidades propostas no PPC (Projeto Pedagógico do Curso). 5 1 5 U N ID A D E CIDADANIA CONCEITUAL 6 Faculdade Internacional Signorelli Prezado estudante, Nessa unidade estudaremos os aspectos históricos dos conceitos de cidadania e éti- ca. Tem surgido à preocupação com a instauração de um estado ético, para contrapor-se a toda uma desordem moral que parece ser a tônica desse final de século. Ética aqui funciona como um paradigma de caráter, modo correto de serem, os valores de um ser. Os tratados de sociologia nos trazem ética como teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. AULA 1: ANTIGUIDADE CLÁSSICA - GRÉCIA E ROMA ObjetivO ▪ Proporcionar a reflexão sobre a ética, enquanto disciplina filosófica que estabelece os fundamentos e a validade das normas morais e dos juízos de valor concernentes às coisas, aos fatos e às ações humanas. 1 O QUE VOCÊ ENTENDE POR ÉTICA NA ANTIGUIDADE? Os antigos gregos falam de ética como a procura de umavida moralmente boa. Segun- do Immanuel Kant, a ética fundamenta-se no dever moral o que significa um ato motivado somente por um dever moral. No campo da finalidade, vemos que a ética tem como objetivo traçar normas à vontade, na sua inclinação para o bem. Assim, ética trata do uso que o ho- mem deve fazer da sua liberdade para atingir seu fim último. Nas relações humanas, a ética precisa ser vista como uma faculdade moral, em que o ser humano torna-se um sujeito ético ou moral. A partir da percepção concreta, graças a uma faculdade ou senso, do ponto de vista moral, a pessoa percebe imediatamente a diferença entre o certo (o bem) e o errado (o mal). Se for um ser livre, iluminado pelo direito natural, ele abraçará o primeiro, desprezando o outro. A história humana nos mostra que a ética sofreu, no decurso dos tempos, algumas modificações, a ponto de o que foi ético há séculos não o seria hoje. As mudanças culturais influenciaram, de certa forma, sobre alguns princípios éticos. De todo conjunto, entretanto, permanece uma base, buscada na natureza, no direito natural ou nas leis sagradas. Hoje, por exemplo, temos situações sociais e contextos humanos bem diversos, sujeitos à imposição da moda, de costumes e modelos sociais em permanentes mudanças. Preocupa- do com a busca do lucro e da produtividade, o homem do século XX exilou a ética das suas discussões de vida, e por isso está pagando um preço elevadíssimo, assistindo à hipertrofia de valores materiais - que se transformam em antivalores - bem como à atrofia dos valores éticos, com desequilíbrio vital grave. 7 Faculdade Internacional Signorelli A ética foi entendida como um bem absoluto. Falava-se em ética profissional como um dogma. O código de ética dos médicos, advogados, contadores e demais profissionais nos levava a imaginar pessoas entregando-se ao sacrifício de suas vidas, para não trair a ética de sua classe e o juramento de sua profissão. Hoje não é bem assim. O próprio direito reduz a moral a um “mínimo ético”; ou seja, indispensável. Hoje é de certo modo comum escutarmos políticos afirmarem que o princípio ético que movia sua atuação era: é feio perder. Nesse modo de pensar vê-se todo um modelo social ligado não à ética, mas à chamada “Lei de Gerson”, pela qual “é preciso levar vantagem em tudo”, custe o que custar. Mesmo que, para obter esse sucesso, arranhe-se ou enterre-se os mais elementares princípios da ética. Parece desnecessário dizer que toda a crise sociopolítica do Brasil tem sua gênese a partir de uma enorme crise de ética. Por causa de um comportamento moral conflituoso, com tendências individualistas, surgem conseqüências incontroláveis que, aliadas à impunidade, fazem alastrar-se progressivamente, nos mais estratégicos setores da nação, um caos sem precedentes. Todo o problema moral, social e político do Brasil nasce a partir de uma quase total falta de ética. A ética profissional, que encantou as gerações passadas, como guardiã da moral, hoje converteu-se num corporativismo, em que, para não revelar atos, muitas vezes ilícitos ou duvidosos, pessoas ou entidades invocam essa ética para encobrir aqueles atos, em de- trimento da justiça e do direito da coletividade. Essa distorção da ética tem levado grupos a confundir lei com justiça, bem individual com bem comum, direito com moral. A caminhada até a ética precisa percorrer alguns estágios de entendimento. Dentre eles situa-se a conceituação de bem e de valor. Se ética é bom comportamento moral, voltado para a vivência do bem como valor máximo, para entrarmos no campo da moral é necessário estudarmos os conceitos intermediários Aristóteles, em sua obra, Ética a Nicômaco, conceitua o bem, aquilo que é bom como uma aspiração universal de todos os seres. Nos tempos modernos, nenhuma classe social aceita como bom aquilo que entra em contradição com seus interesses sociais. Por isso, o bom (ou o bem), para uma determinada classe, num mesmo grupo social ou sociedade, pode resultar em algo danoso para a outra. Nota-se que as idéias de bem e mal variam de acordo com as diferentes tendências morais de cada época. Levando em conta a aspiração comum dos homens de alcançarem o bem, por consi- derá-lo o valor moral fundamental, embora sempre de acordo com as aspirações concretas em cada época e em cada sociedade, existem concepções médias que definem o bom como felicidade, prazer, boa vontade, utilidade. As ideologias modernas alimentam seus valores. O que é aceito como bem para uma facção, pode ser entendido como mal pela outra. Por ideologia entende-se aqui uma forma de expressão ou pensamento de um determinado grupo em certo período histórico. 8 Faculdade Internacional Signorelli Dessa multiplicidade de formas de sentir o bem, a sociedade pluralista vai segmentando- se, e cada um de seus grupos pensando aprisionar o maior número possível de verdades, resultando o confronto e, não raro, o conflito. Na iminência do conflito, os pensadores modernos foram buscar juízos medianos entre os comportamentos e aspirações sociais, a que chamaram de bem comum, que é a base de toda a convivência humana. Nessa conformidade o bem é um valor. O ato moral perfeito busca ser a realização do bem. Um ato moral positivo torna-se um ato axiologicamente rico. 2 ÉTICA NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA Historicamente, a idéia de Ética surgiu na antiga Grécia, por volta de 500-300 a.C, através das observações de Sócrates e seus discípulos. A ética surge na Grécia, quando os filósofos de cultura ocidental apontam suas teorias aos contemporâneos dos mistérios do universo e das forças cósmicas (cosmogonia), para a essência moral e o caráter dos indivíduos, então o homem passa a ser objeto de pesquisa, iniciando a temática do discurso moral e político como forma de enquadramento social. Essa tendência movimenta o mundo das ideias, que, percorre em diversos períodos na visão de filósofos até os dias atuais. Sócrates (470-399 a.C.) considerou o problema ético individual como o problema filosófico central e a ética como sendo a disciplina em torno da qual deveriam girar todas as reflexões filosóficas. Para ele ninguém pratica voluntariamente o mal. Somente o ignorante não é vir- tuoso, ou seja, só age mal, quem desconhece o bem, pois todo homem quando fica sabendo o que é bem, reconhece-o racionalmente como tal e necessariamente passa a praticá-lo. Ao praticar o bem, o homem sente-se dono de si e consequentemente é feliz. A virtude seria o conhecimento das causas e dos fins das ações fundadas em valores morais identificados pela inteligência e que impelem o homem a agir virtuosamente em dire- ção ao bem. Platão (427-347 a.C.) ao examinar a idéia do Bem a luz da sua teoria das ideias, subor- dinou sua ética à metafísica. Sua metafísica era a do dualismo entre o mundo sensível e o mundo das ideias permanentes, eternas, perfeitas e imutáveis, que constituíam a verdadeira realidade e tendo como cume a idéia do Bem, divindade, artífice ou demiurgo do mundo. Aristóteles (384-322 a.C.), não só organizou a ética como disciplina filosófica, mas além disso, formulou a maior parte dos problemas que mais tarde iriam se ocupar os filósofos morais: relação entre as normas e os bens, entre a ética individual e a social, relações entre a vida teórica e prática, classificação das virtudes, etc. Sua concepção ética privilegia as virtudes (justiça, caridade e generosidade), tidas como propensas tanto a provocar um sentimento de realização pessoal àquele que age quanto simultaneamente beneficiar a sociedade em que vive. A ética aristotélica busca valorizar. a harmonia entre a moralidade e a natureza humana, concebendo a humanidade como parte da ordem natural do mundo sendo, portanto uma ética conhecida como naturalista.9 Faculdade Internacional Signorelli Na Idade Média, os valores éticos são marcados pela influência da religião católica e suas doutrinas. O cristianismo que se tornou a religião oficial de Roma a partir do século IV, sobreviveu ao fim do império e ganhou força sobre as ruínas da sociedade antiga imperou seu domínio por dez séculos. Neste período a igreja enriqueceu e manteve um forte domínio sobre o modo de pensar fazendo com que o teocentrismo passasse a definir as formas de ver e sentir, contribuindo para a formação ética medieval. Para a ética cristã medieval a igualdade só podia ser espiritual ou no futuro para um mundo sobrenatural e a mensagem cristã tinha um conteúdo moral, não havendo proposta por uma igualdade real dos seres humanos. Com isto, a ética cristã procura regular o comportamento dos humanos com vistas ao outro mundo, sendo o valor supremo encontrado em Deus. Santo Agostinho (354-430) fundamentou a moral cristã, com elementos filosóficos da filosofia clássica. O objetivo da moral é ajudar os seres humanos a serem felizes, mas a felicidade suprema consiste num encontro amoroso do homem com Deus. Só através pela graça de Deus podemos ser verdadeiramente felizes. São Tomás Aquino (1225-1274). No essencial concorda com Santo Agostinho, mas procura fundamentar a ética tendo em conta as questões colocadas na antiguidade clássica por Aristóteles. 10 Faculdade Internacional Signorelli AULA 2 - ANTROPOCENTRISMO, REVOLUÇÃO INGLESA E REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ObjetivO ▪ Apresentar os fundamentos dos valores éticos e morais concernentes ao processo histórico e antropocêntrico. 1 O QUE VOCÊ ENTENDE POR ANTROPOCENTRISMO, REVOLUÇÃO INGLESA E REVOLUÇÃO INDUSTRIAL? O pensamento moderno reduz o homem à razão. A ética doutrinante deste século é a ética moderna. Aqui neste período, a ética se caracteriza pelo contraste à ética Teocêntrica e Teológica da Idade Média. A ética moderna surge com a sociedade que sucede a sociedade feudal da Idade Média, moldada pelas consequências da Reforma Protestante que provoca um retorno aos princípios básicos da tradição cristã, porém o individuo passa a ter respon- sabilidades, tomadas como mais importantes que obediências aos ditames religiosos e a au- toridades e costumes, assim, com essa transformação, em varias ordens, leva o surgimento da ética moderna. Neste período ocorrem mudanças na Ciência, na Política, na Economia, na Arte e princi- palmente na Religião, onde se transfere o centro de Deus para o homem que passa a adquirir um valor pessoal, que acabará por apresentar-se como o absoluto, ou como o criador ou legislador em diferentes domínios, incluindo nestes a moral. René Descartes (1596-1650), simboliza toda a fé que a Idade Moderna deposita na razão humana. Só ela nos permitiria construir um conhecimento absoluto. Em termos morais mos- trou-se, todavia muito cauteloso. Neste caso reconheceu que seria impossível estabelecer princípios seguros para a ação humana. Limitou-se a recomendar uma moral provisória de tendência estóica: O seu único princípio ético consistia em seguir as normas e os costumes morais que visse a maioria seguir, evitando deste modo rupturas ou conflitos. John Locke (1632-1704), parte do princípio que todos os homens nascem com os mesmos direitos (Direito á Liberdade, à Propriedade, à Vida). A sociedade foi constituída, através de um contrato social, que visava garantir e reforçar estes mesmos direitos. Neste sentido, as relações entre os homens devem ser pautadas pelo seu escrupuloso respeito. David Hume (1711-1778), defende que as nossas ações são em geral motivadas pelas paixões. Os dois princípios éticos fundamentais são a utilidade e a simpatia. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), concebe o homem como um ser bom por natureza (mito do “bom selvagem) e atribui a causa de todos os males à sociedade e à moral que o 11 Faculdade Internacional Signorelli corromperam. O Homem sábio é aquele que segue a natureza e despreza as convenções sociais. A natureza é entendida como algo harmonioso e racional. 2 A ÉTICA NA MODERNIDADE A Ética moderna é a Ética fundada numa compreensão “moderna” - que é uma compre- ensão antropocêntrica e racional - do Ser humano e de seu comportamento. A expressão mais perfeita da Ética moderna é a Ética de Immanuel Kant (1724-1804). Kant partiu de uma concepção universalista do homem. Afirma que este só age moralmente quando, pela sua livre vontade, determina as suas ações com a intenção de respeitar os princípios que reconheceu como bons. O que o motiva, neste caso, é o puro dever de cumprir aquilo que racionalmente estabeleceu sem considerar as suas conseqüências. A moral assume assim, um conteúdo puramente formal, isto é, não nos diz o que devemos fazer (conteúdo da ação), mas apenas o princípio (forma) que devemos seguir para que a ação seja considerada boa. Kant afirma que a filosofia moral deve ser pura, isto é, despida de tudo o que é empí- rico. Nesta perspectiva a moral é concebida como independente de todos os impulsos e tendências naturais ou sensíveis; a ação moralmente boa seria a que obedecesse unicamente à lei moral em si mesma. Esta somente seria estabelecida pela razão, o que leva a conce- ber a liberdade como postulado necessário da vida moral. A vida moral somente é possível, para Kant, na medida em que a razão estabeleça, por si só, aquilo que se deva obedecer no terreno da conduta. Kant investiga a liberdade como a razão de ser da vida moral. Em outras palavras, ele demonstra que a lei moral provém da idéia de liberdade e que, portanto, a razão pura é por si mesma prática, no sentido de que a idéia racional de liberdade determina por si mesma a vida moral e com isso demonstra sua própria realidade. Em suma, o incondicionado e abso- luto (inatingível pela razão no terreno do conhecimento) seria alcançado verdadeiramente na esfera da moralidade; a liberdade seria a coisa-em-si almejada pela razão. Nesse sentido, a razão prática tem primazia sobre a razão pura. Kant chama a lei moral de “imperativo categórico” que - contrariamente aos “imperativos hipotéticos” - é incondicio- nado e absoluto, podendo ser formulado com as palavras: “Age de tal maneira que o motivo que te levou a agir possa ser convertido em lei universal”. Sendo a razão pura por si mesma prática, o “imperativo categórico” afirma a autonomia da vontade. Segundo Kant, o único bom em si mesmo, sem restrição é uma boa vontade. A bonda- de de uma ação não se deve procurar em si mesma, mas na vontade com que se fez. Mas quando é que uma vontade é boa, ou como uma boa vontade age ou quer? É boa a vontade que age por puro respeito ao dever, sem razões outras a não ser o cumprimento do dever ou a sujeição à lei moral. O que a boa vontade ordena é universal por sua forma e não tem um conteúdo concreto: refere-se a todos os seres humanos em todo o tempo, e em todas as circunstâncias e condições. O ser humano é o legislador de si mesmo. 12 Faculdade Internacional Signorelli Portanto, a Ética de Kant é uma Ética formal e autônoma. Por ser puramente formal, tem de postular um dever para todos os seres humanos, independentemente da sua situação social e seja qual for o seu conteúdo concreto. Por ser autônoma aparece como a culmina- ção da tendência antropocêntrica iniciada no Renascimento, em oposição à Ética medieval. Enfim - por ser a ética de um sujeito autônomo e livre - a Ética de Kant é o ponto de partida de uma ética que define o ser humano como ser ativo e criador e que deseja ver realizado no mundo real (e não no mundo ideal) o princípio kantiano: o ser humano deve ser sempre tomado como fim e nunca como meio. A imortalidadeda alma e a existência de Deus - como a liberdade - são para Kant pos- tulados da “razão pura prática”. A fé moral na imortalidade da alma é necessária para que se conceba uma vida suprassensível na qual a virtude possa receber seu prêmio. A existência de Deus, por outro lado, é necessária enquanto afirma um ser cuja vontade e cujo intelecto criam um mundo no qual não há abismo algum entre o real e o ideal, entre o que é e o que deve ser. 13 Faculdade Internacional Signorelli AULA 3 - INDEPENDÊNCIA EUA E REVOLUÇÃO FRANCESA. ObjetivO ▪ Proporcionar o conhecimento dos valores éticos na atualidade. 1 O QUE VOCÊ ENTENDE POR REVOLUÇÃO FRANCESA? Na atualidade, a palavra virtude está em desuso e a palavra moral foi substituída por ética. Por ser mais geral e menos identificada com a religião. Entretanto, mantém inalterada a certeza de que a vida humana é constitutivamente moral, pois ela se estrutura em torno de valores. Os projetos de vida, sejam eles individuais ou coletivos, configuram-se a partir de ideias que outra coisa não são senão valores. Nossas ações, das mais simples às mais complexas, pressupõem escolhas que são feitas a partir do valor que elas tenham para nós. O que é valor? Normalmente, quando falamos em valor, vêm a nossa mente ideias como honestidade, bondade e justiça, assim como podemos pensar em beleza, lucro ou utilidade. O que nos faz lembrar que podemos falar de valores em varias acepções: estéticos, políticos, jurídicos ou morais, que os valores podem ser morais ou imorais. Os valores não morais diferem dos morais, sobretudo por possuírem uma base real, um substrato material. Por exemplo, a água, o ar que respiramos uma cadeira, um prato de alimento possuem valor; contudo, ele só se tornará realidade na relação com o ser humano, que em sua articulação cultural dirá se aquela coisa é útil, bonita, confortável ou imprescindível à vida. Os valores morais, diferentemente dos não morais, não possuem substrato material e só existem nos atos e produtos humanos, tais como: comportamentos, interações sociais, decisões tomadas, no produto e aplicação desses atos. Deles podemos falar em justiça, ho- nestidade ou integridade, assim como em responsabilidade. Os valores morais são exclusivos do ser humano, O bem, que a filosofia trata como o bom (do grego agatón) e o mal são realidades que aparecem dialeticamente, numa relação de recíproca oposição, e que apesar de opostas situam-se, comparativamente, de forma inseparável. A partir da Idade Média (período da Escolástica), o bem passou a ser visto como algo que deriva da vontade de Deus, e o mal oriundo dos poderes diabólicos. Nesse particular, e perfilado aos princípios tomistas do bem comum, o bem tornou-se um sinônimo de felici- dade. Esse bem já era visto dessa forma por Aristóteles, em sua formulação da eudaimonia (literalmente, bom espírito = felicidade; é um método aristotélico que afirma que a felicidade é sumo bem, o ápice da busca e realização humana), ou maneira de viver bem, conforme o espírito interior. 14 Faculdade Internacional Signorelli Se o bem é visto como felicidade, para aprofundarmos nosso estudo é necessário que busquemos alguns conceitos de felicidade, tais como: ausência de dor (Epicuro); satisfação de todas as nossas necessidades (Leibniz); ideal de vida; autossuficiência, harmonia e liber- dade (Kant); somatório de eventuais momentos agradáveis (Kierkegaard); não passa de um valor cultural (Freud); felicidade é viver na graça de Deus (cristianismo). 2 O PRINCÍPIO ÉTICO A fenomenologia de Max Scheler, admite que os valores são qualidades objetivas do ser, ligados à sua vida espiritual. Na verdade, os valores morais, oriundos da ética, existem unicamente em relação aos atos humanos. Tão somente o que tem significado humano pode ser avaliado moralmente. De uma obra de arte, podemos avaliar seu valor econômico ou estético, mas nunca indagar um valor moral. Se a imagem retratada não condiz com certos padrões, a questão moral localiza-se no comportamento do ser humano que a expôs ou a produziu. As coisas materiais são neutras no seu valor moral. O bem, entretanto, e sua aplicação na vida do ser humano é um valor, talvez o maior. A vida, por exemplo, é o maior bem do ser humano. Mas não só a vida vegetativa, animal, espontânea, mas sobretudo a vida cercada de valores. Como valores de vida temos a beleza, a utilidade, a bondade, a justiça, a solidariedade, entre outros. Os valores negativos (alguns chamam de antivalores), indiferença, injustiça, egoísmo, opressão, são fatores determinantes de uma diminuição da qualidade de vida do ser humano, ou seja, um achatamento de valores, uma diminuição de vida, no sentido mais profundo de bem, uma vez que esses valores negativos mais se aproximam do mal do que do bem. Nem sempre perfilada às exigências do bem comum, nossa sociedade entroniza seus valores, relativos, porque só promovem o bem de alguns grupos sociais. Os bens econômi- cos têm valor de utilidade para quem pode consumi-los e para os que dele auferem lucro. Os bens sociais e morais são determinados pela dialética bem/mal, ético/não-ético, legal/ilegal, justo/injusto. Se o valor da ação humana se mede por sua utilidade ao bem de todos, o das coisas materiais, revela-se conforme as circunstâncias. A água, por exemplo, é um bem à medida que serve para lavar, refrescar, beber. Torna-se, entretanto, um mal quando, numa enchente, destrói e mata. Nesse aspecto, há o valor circunstancial da coisa. Não se fala na bondade da água, mas que ela é boa enquanto mata a sede, e má quando, turbulenta, torna-se um perigo para a navegação. Deste modo se pode afirmar que só as ações humanas podem ser caracterizadas, em termos de valor, como boas ou más. Na natureza temos, por exemplo, os minerais cumprindo, seu papel de mineral. Uma pedra foi criada para ser pedra, e isso ela sempre saberá fazer 15 Faculdade Internacional Signorelli muito bem. Um vegetal ou um animal irracional igualmente têm sua destinação natural e por todo o sempre cumprirão sua finalidade. Num plano hipotético, poderíamos afirmar que, cumprindo sua finalidade, pedras, vegetais e bichos são, à sua maneira, felizes. Com o homem, a coisa torna-se diferente. Por ter liberdade de escolha e por impregnar de valor suas atitudes, o ser humano nem sempre consegue viver o bem, e em função disto nem sempre é feliz, provocando muitas vezes a infelicidade sua e daqueles que o cercam. Terá a visão desfocada da ética e da moral a ver alguma coisa com isto? Veremos isso em nossas próximas aulas. 16 Faculdade Internacional Signorelli AtividAdes de FixAçãO 1. Numa sociedade marcada por uma profunda crise de valores, a palavra éti- ca aparece nos discursos de quase todos os indivíduos. Muitos eleitores cobram dos políticos uma postura ética; no entanto, nem sempre o cidadão age, ele próprio, eticamente. Dentre as alternativas abaixo, escolha a que melhor define a Ética: a. Ética diz respeito às ações humanas, dizendo aquilo que se deve e o que não se deve fazer, sem que precisemos pensar a respeito. b. Ética é a ciência do comportamento humano, preocupada exclusivamente com as ações individuais, sem nenhuma relação com a política. c. Ética é a ciência do comportamento humano; como o ser humano é um ser social, ética e política estão necessariamente articuladas. d. Ética é a ciência do conhecimento humano, preocupada com tudo aquilo que de- vemos saber para poder agir politicamente. e. Cabe à ética o papel de indicar a meta, o caminho que a pessoa, ao percorrer, torna a si mesma e a sociedade verdadeiramente humana. 2. O que é a consciência ética? a. O estado decorrente de mente e espírito, através do qual nãosó aceitamos mod- elos para a conduta, como efetivamente julgamentos próprios. b. Princípio fundante da ação política que determina a forma de comportamento; c. Ato volitivo que surge da espontaneidade no cumprimento dos princípios das vir- tudes morais e éticas. d. A qualidade do que é ético decorrente de uma ação harmônica entre o ser que o pratica e a comunidade na qual se insere. e. Ética diz respeito às ações humanas, dizendo aquilo que se deve e o que não se deve fazer, sem que precisemos pensar a respeito. 17 Faculdade Internacional Signorelli 3. A ética contém atribuições específicas, entre elas a elucidação a respeito do que é bom, do sentido do bem. Portanto: I. Cabe à ética o papel de indicar a meta, o caminho que a pessoa, ao percorrer, torna a si mesma e a sociedade verdadeiramente humana. II. A ação moral é singular, fruto da consciência, da liberdade, do caráter, da decisão e da responsabilidade do sujeito em particular. III. A comunidade não exerce influência decisiva na regulamentação do compor- tamento moral, e exatamente por isso não há a necessidade da pessoa seguir um padrão comportamental vigente em seu meio. Estão corretas a. II, III b. I e II c. I, II e III d. Somente I e. Somente III 4. A ética é um fenômeno humano e a experiência moral é um dos aspectos es- senciais que se manifesta tanto na existência de cada pessoa em particular como na comunidade da qual participa. Com isso é correto afirmar que: a. a ambiência deteriorara-se há muito, a partir dos maus exemplos de expressivos dirigentes do Estado, mergulhados que estão na prática de atos imorais; b. a consciência ética resulta da relação íntima do ser humano consigo mesmo, pois é fruto da conexão entre as capacidades do “ego” e as energias espirituais, re- sponsáveis pela nossa vida. c. a experiência moral é revelada pois se define através da ação e o sentido ético pode ser captado e definido em relação aos comportamentos, às práticas, aos atos realizados pela pessoa humana; d. a felicidade está na eficácia de nossa ação em nosso ambiente, em confronto com as necessidades que programamos, e que nos condiciona a atitudes e condutas que exigem uma linha normativa ou não de experiência moral. e. a comunidade exerce influência decisiva na regulamentação do comportamento moral, moldando e configurando a pessoa segundo o padrão comportamental vi- gente em seu meio e indispensável para a convivência social. 18 Faculdade Internacional Signorelli 5. “Age sempre de tal modo que a máxima de tua ação possa sempre valer como princípio universal de conduta.” (Immanuel Kant, filósofo alemão do século XVIII). Esta frase traduz os princípios fundamentais da ética kantiana e significa que: a. devemos agir sempre pensando em nós mesmos, sem nos importar com os outros. b. nossa ação deve ser racionalmente decidida, de forma que possa valer para todos e não apenas para nós mesmos. c. devemos sempre agir pensando nos outros, sem nos importar com nós mesmos. d. nossa ação deve sempre estar fundamentada em nossos desejos, exclusivamente e. cientificamente falando, a ética é um entrave que deve ser dispensado; ela apenas atrapalha o desenvolvimento da ciência. GAbARitO 1-c, 2-a, 3-b, 4-c, 5-b. síntese Na UNIDADE 1 aprendemos sobre os valores da ética e cidadania ao longo da histó- ria. Procuramos identificar e refletir sobre as bases morais da nossa sociedade hoje, sobre as características das relações humanas, e apontar alguns caminhos; antes, porém, procuraremos entender alguns conceitos básicos, tais como: valores, ética, moral, suas origens e consequências, assim como as condições para a responsabi- lidade moral. A importância da ética hoje se dá pela necessidade, por uma questão de sobrevivência; considerando que a humanidade passa por um momento de anseio por uma vida melhor e acima de tudo digna e feliz. Podemos dizer que o tema mais ecumênico que existe atualmente é o da dignidade humana, vida com qualidade e por fim, a felicidade. No entanto percebemos que o mundo se tornou um caos, e o homem como um todo se encontra perdido em meio a tanta confusão; é o verdadeiro “jogo dos interesses”. O comportamento ético não consiste exclusivamente em fazer o bem a outrem, mas em exemplificar em si mesmo o aprendizado recebido. É o exercício da paciência em todos os momentos da vida, a tolerância para com as faltas alheias, a obediência aos superiores em uma hierarquia, o silêncio ante uma ofensa recebida.. Espero que a mesma tenha cumprido com os seus objetivos, ou seja, de fornecer subsídios para seu aprendizado. 19 2 19 CIDADANIA CONTEMPORÂNEA I 20 Faculdade Internacional Signorelli Prezado estudante, A questão das relações entre ética e política se transformou na questão número um do debate nacional a partir das denúncias de corrupção dos últimos anos. Este debate tem certamente méritos e é de fundamental importância para a vida nacional, mas é marcado por uma visão muito unilateral do fenômeno político. Ele dá a entender que tudo seria ma- ravilhoso se nossos governantes possuíssem um conjunto de virtudes que atestassem seu bom caráter do qual dependeriam a paz e a ordem social. Nessa unidade estudaremos os aspectos contemporâneos dos conceitos de cidadania e ética. AULA 4 - BRASIL: DA PRIMEIRA REPÚBLICA AO ESTADO NOVO ObjetivO ▪ Proporcionar ao aluno o entendimento dos diferentes critérios éticos no aspecto po- lítico. 1 O QUE VOCÊ ENTENDE POR ÉTICA NO BRASIL? Uma das intuições fundamentais do pensamento ético contemporâneo é a ética na política, não são simplesmente as virtudes privadas dos governantes, mas o ordenamento institucional, porque é dele que depende se os cidadãos têm acesso ou não a seus direitos universais. Claro que neste contexto é muito importante ter presente de que a corrupção individual e social não começou no atual governo, mas lamentavelmente se transformou num elemento estrutural do exercício do poder e da cultura política que nos marca. Por isto, não espanta e nem causa indignação a muitos o fato de que nossos partidos políticos não tenham defendido no parlamento de modo consistente as reformas e as políticas públicas que tornariam o país menos vulnerável sejam à corrupção individual seja à continuidade de uma configuração iníqua da vida coletiva, porque marcada por um conjunto de instituições que sustentam as diferentes formas de exploração e de degradação da vida humana. Para além das virtudes pessoais dos governantes, o que realmente pode garantir a ética na política é a existência de instituições sólidas e de mecanismos de administração transparente, que sejam capazes de garantir os direitos universais do cidadão assim também como a existência de meios de comunicação livres, independentes, e de organismos de controle social que acompanhem o exercício do governo. O grande desafio do momento é que, sejamos capazes de ir além de uma crítica moralizante à corrupção pessoal, que facilmente é acompanhada de enorme hipocrisia, e nos empenhemos com seriedade numa crítica cívica às instituições e às políticas públicas. Na origem da cultura ocidental, a distinção entre as esferas da vida privada e pública corresponde à existência dos domínios da família e da política como entidades diferentes, 21 Faculdade Internacional Signorelli separadas e em tensão. O que especifica a esfera privada (da família) é que nela a aglutinação se dá em função das necessidades de sobrevivência. Nesse espaço, a força e a violência são entendidas como justificáveis por serem os únicos meios considerados capazes de vencer a necessidade. O que especifica a esfera pública (esfera da política) é que ela constitui lugar exclusivo da liberdade. Nesse sentido,é um espaço de convivência entre iguais. 2 ÉTICA NA POLÍTICA Desse modo, ao contrário da esfera política, a da família é o espaço da mais profunda desigualdade. O significado de “privado”, então, era de “privação”; privação do que era consi- derado essencial ao homem, a liberdade. Com a emergência do mundo moderno, do capita- lismo, esses significados mudaram, culminando com a quase extinção da diferença entre os dois domínios, ambos subsumidos num âmbito propriamente social. O que caracteriza esse âmbito é o fato de que aí a problemática da sobrevivência, antes restrita ao mundo privado, adquire crucial importância como questão pública. Como campo de organização pública do processo de sobrevivência, a esfera do social instituiu todos os seus membros como figuras da relação de trabalho. Então, no mundo mo- derno, a economia, antes objeto privado primordial, torna-se o cerne da problemática política. As questões da liberdade, da ética e da própria política, passam a ser sobredeterminadas pelas injunções econômicas. No reino do social, o que resta de privado, no sentido antigo, é o que se pode chamar de intimidade enquanto subjetividade interior dos indivíduos. Como pensar a relação entre ética e política num contexto em que o social tem as ca- racterísticas supracitadas? Em termos gerais, como já indicado no início, na prática contem- porânea, a política é claramente preponderante sobre a ética. Isso quer dizer o quê? Quer dizer que os valores, os costumes, os fins, o reconhecimento do outro, os critérios de juízo, são primordialmente estabelecidos ou legitimados a partir dos interesses da política (poder), que, como vimos, são por sua vez sobredeterminados pela lógica dos interesses econômicos. Apesar da força do estabelecido, podemos pensar como desafio, como ato de rebeldia a esse estado de coisas, uma ética concebida de forma diferente (a que denominamos “ética da contradição”) e uma relação entre ela e uma política que também deve ser concebida de modo distinto. Essa política – resgatando ao presente o sentido de espaço público da tradição ocidental originária, sem que isso signifique reviver situações pregressas – deve ter como fundamento não exclusivamente as injunções da esfera econômica, mas também, num mesmo plano, as questões da liberdade. É na conjunção desses dois domínios que se pode especificar (historicamente) o que poderíamos chamar de bem-estar, ou boas condições de vida do povo. Designemos a política assim concebida como “política da vida e da liberdade”. A rebeldia provocadora esboçada, entretanto, não se completa somente na enunciação desses termos dominiais inovadores. É necessário avançar na proposição e defesa de uma modalidade também radicalmente distinta para a relação entre as esferas da ética (enquanto 22 Faculdade Internacional Signorelli ética da contradição) e da política (enquanto política da vida e da liberdade), que se constitua contra a barbárie da subjugação do domínio ético aos interesses político-econômicos e, es- pecialmente, contra a ardilosa justificativa da suspensão da ética no embate político. Nesse sentido, sustento a prevalência do campo ético na íntima e necessária relação deste com a política, ou seja, sustento o campo dos valores de juízo como referente primordial às práticas políticas dos indivíduos, dos agentes da sociedade civil, do Estado. 23 Faculdade Internacional Signorelli AULA 5 - BRASIL PÓS-30, A ERA VARGAS ObjetivO ▪ Analisar os conceitos da ética no Brasil republicano. 1 O QUE VOCÊ ENTENDE POR ÉTICA NA ANTIGUIDADE? A propriedade da terra não se tornou propriedade régia ou patrimônio privado do rei, nem se tornou propriedade comunal ou da aldeia, mas manteve-se como propriedade de famílias independentes, cuja peculiaridade estava em não formarem uma casta fechada sobre si mesma, porém aberta à incorporação de novas famílias e de indivíduos ou não proprietários enriquecidos no comércio. Apesar das diferenças históricas na formação da Grécia e de Roma, há três aspectos comuns a ambas e decisivos para a invenção da política. O primeiro, como assinalamos há pouco, é a forma da propriedade da terra; o segundo, o fenômeno da urbanização; e o terceiro, o modo de divisão territorial das cidades. Como a propriedade da terra não pertencia à aldeia nem ao rei, mas às famílias indepen- dentes, e como as guerras ampliavam o contingente de escravos, formou-se na Grécia e em Roma uma camada pobre de camponeses que migraram para as aldeias, ali se estabelece- ram como artesãos e comerciantes, prosperaram, fizeram, das aldeias, cidades, passaram a disputar o direito ao poder com as grandes famílias agrárias. Uma luta de classes perpassa a história grega e romana exigindo solução. A urbanização significou uma complexa rede de relações econômicas e sociais que co- locava em confronto não só proprietários agrários, de um lado, e artesãos e comerciantes, de outro, mas também a massa de assalariados da população urbana, os não proprietários, genericamente chamados de “os pobres”. A luta de classes incluía, assim, lutas entre os ricos e lutas entre ricos e pobres. Tais lutas eram decorrentes do fato de que todos os indivíduos participavam das guerras externas, tanto para a expansão territorial, quanto para a defesa de sua cidade, formando as milícias dos nativos da cidade. Essa participação militar fazia com que todos se julgassem no direito, de algum modo, de intervir nas decisões econômicas e legais das cidades. A luta das classes pedia uma solução. Essa solução foi a política. Os primeiros chefes políticos ou legisladores introduziram uma divisão territorial das cidades que visava a diminuir o poderio das famílias ricas agrárias, dos artesãos e comer- ciantes urbanos ricos e à satisfazer a reivindicação dos camponeses pobres e dos artesãos e assalariados urbanos pobres. 24 Faculdade Internacional Signorelli Em outras palavras, retiraram dos indivíduos o direito de fazer justiça com as próprias mãos e de vingar por si mesmos uma ofensa ou um crime. O monopólio da força, da vingança e da violência passou para o Estado, sob a lei e o direito. De fato, e como vimos, a marca do poder despótico é o segredo, a deliberação e a de- cisão a portas fechadas. A política, ao contrário, introduz a prática da publicidade, isto é, a exigência de que a sociedade conheça as deliberações e participe da tomada de decisão. 2 A ÉTICA NO ESPAÇO PÚBLICO A existência do espaço público de discussão, deliberação e decisão significa que a so- ciedade está aberta aos acontecimentos, que as ações não foram fixadas de uma vez por todas por alguma vontade transcendente, que erros de avaliação e de decisão podem ser corrigidos, que uma ação pode gerar problemas novos, não previstos nem imaginados, que exigirão o aparecimento de novas leis e novas instituições. Para responder às diferentes formas assumidas pelas lutas de classes, a política é in- ventada de tal maneira que, a cada solução encontrada, um novo conflito ou uma nova luta podem surgir, exigindo novas soluções. Em lugar de reprimir os conflitos pelo uso da força e da violência das armas, a política aparece como trabalho legítimo dos conflitos, de tal modo que o fracasso nesse trabalho é a causa do uso da força e da violência. Evidentemente, não devemos cair em anacronismos, supondo que gregos e romanos ins- tituíram uma sociedade e uma política cujos valores e princípios fossem idênticos aos nossos. Em primeiro lugar, a economia era agrária e escravista, de sorte que uma parte da sociedade – os escravos – estava excluída dos direitos políticos e da vida política. Em segundo lugar, a sociedade era patriarcal e, conseqüentemente, as mulheres também estavam excluídasda cidadania e da vida pública. A exclusão atingia também os estrangeiros e os miseráveis. A cidadania era exclusiva dos homens adultos livres nascidos no território da Cidade. Além disso, a diferença de classe social nunca era apagada, mesmo que os pobres tivessem direitos políticos. Assim, para muitos cargos, o pré-requisito da riqueza vigorava e havia mesmo atividades portadoras de prestígio que somente os ricos podiam realizar. Veja bem, o que procuramos apontar não foi a criação de uma sociedade sem classes, justa e feliz, mas a invenção da política como solução e resposta que uma sociedade oferece para suas diferenças, seus conflitos e suas contradições, sem escondê-los sob a sacralização do poder e sem fechar-se à temporalidade e às mudanças. 25 Faculdade Internacional Signorelli AULA 6 - BRASIL: DO PÓS-GUERRA À ATUALIDADE ObjetivO ▪ Proporcionar o conhecimento dos valores éticos na atualidade. 1 O QUE VOCÊ ENTENDE POR ÉTICA NO PÓS-GUERRA? A ética e a crise da modernidade tem sido um dos temas mais discutidos na atualidade. E a discussão se aprofunda quando nem ao menos temos um princípio geral de definição de modernidade. O que é a modernidade? Não sabemos! Ela é a fusão do múltiplo, do hetero- gêneo, do fragmentado, do efêmero, onde se envolve atividade racional, científica, tecnoló- gica e administrativa. Basicamente, existem duas figuras condensadoras da modernidade: a racionalização e a subjetivação. Racionalização e subjetivação aparecem ao mesmo tempo, como a Renascença e a Re- forma, que se contradizem, mas se completam ainda mais. O drama da nossa modernidade é que ela se desenvolveu lutando contra a metade dela mesma, fazendo a caça ao sujeito em nome da ciência, rejeitando toda a bagagem do cristianismo que vive ainda em Descarte, destruindo a herança do dualismo cristão e as teorias do direito natural que haviam provocado o nascimento das Declarações dos Direitos do Homem. A modernidade precisou matar o sujeito para triunfar. No plano da ética, o problema se torna bem mais crucial. A pergunta a ser feita, hoje, é se os valores éticos se constituem em padrões uniformes, imutáveis e universais ou devemos ter regras casuísticas de conduta? Devemos adotar a subjetividade ou a objetividade axiológica? A absolutividade ou relatividade dos valores éticos? A sua Igualdade ou hierarquia? Esses questionamentos permanecem ainda insolúveis, temos mais de três séculos de discussão sobre o triunfo da razão e o esboroamento das tradições ocidentais. E agora, o esgotamento da modernidade se transforma em sentimento de angústia e desencantamento do mundo. Surge a secularização e a separação entre o mundo dos fenômenos (da técnica) e o mundo do ser. Parte da filosofia permanece arrebatada na contemplação dos grandes pensadores, sem trazê-los para fermentar a realidade do cotidiano. Mudaram os mitos, apagaram-se as luzes e alguns pensam que a filosofia ainda pensa controla a situação. Com a modernidade, a ciência se isolou de qualquer referência à religião, decretando o exílio do sagrado, como se a única resposta para o homem se condicionasse ao discurso científico. A ciência moderna está empenhada em transformar o mundo com novas tecnologias, mas para que mudar o mundo se a ciência ignora o homem com suas crenças e valores? De que servem todas as conquistas científicas se não para benefício do homem? E onde está o encontro da ciência com os valores humanos? 26 Faculdade Internacional Signorelli A crise do “ethos” valorativo, vivenciada pelas formas de vida da sociedade contemporâ- nea, tem sua razão de ser na profunda perda de identidade cultural, na desumanização das relações sócio-políticas, no individualismo irracionalista e egoísta, na ausência de padrões comunitários e democráticos, senão ainda na constante ameaça de destruição da humanidade e de seu meio-ambiente. Essa situação gera uma das grandes dificuldades presentes, que é arquitetar as bases de um conjunto de valores éticos capazes de internalizar o “eu” individual e o “nós” enquanto comunidade real. No meio da crise de legitimidade normativa, vive-se a falta de consenso e o impasse face à diversidade de interpretações sobre o que seja “virtude”, “bem-comum”, “vida boa” ou “ação justa”. É óbvio, neste contexto, que, para diagnosticar uma saída para a crise ética da moderni- dade, há de se contemplar todo um certo avanço de racionalização da vida, uma racionalização de cunho técnico que acaba fragmentando o mundo da vida e da cultura em dois níveis: de um lado, normas e orientações cada vez mais sofisticadas para a ação humana no campo instrumental e técnico. De outro, as normas e valores éticos da ação humana vão se gene- ralizando cada vez mais, até o ponto de sua diluição ou extinção completa. O reconhecimento do individualismo, da desumanização alienadora e da deslegitimação como traços ético-culturais das sociedades atuais propicia a abertura e a busca de alternativas para a descoberta de um novo universo axiológico. Dentre as muitas propostas aventadas, duas importantes contribuições filosóficas, configuradas, ora pelo “pragmatismo analítico”, ora pelo “racionalismo discursivo”, oferecem, no seu cerne, respostas paradigmáticas para o exaustão dos valores éticos da modernidade. A partir desta lógica, torna-se claro entender a defesa que o mesmo faz de uma ética específica, calcada nas tradições culturais do modo de vida liberal-individualista. Isso leva-o, não só a minimizar o papel de uma ética de racionalidade universal, como, sobretudo, a des- considerar as concepções éticas de outros contextos culturais, principalmente no que tange às éticas libertárias desenvolvidas nas culturas. Na verdade, ainda que tenham a pretensão de ser “progressistas”, ao proclamarem a validade e a universalidade da filosofia analítica, buscam utilizar sua linguagem, sua lógica e seu instrumental metodológico para justificar uma ética regional de dominação inerente ao “ethos” de legitimação nacional. 2 ÉTICA NO PÓS-GUERRA Deixando de lado o conservadorismo e a insuficiência do “pragmatismo analítico” e de outras correntes, importa explicitar a mais importante contribuição do racionalismo filosófico contemporâneo na edificação do projeto de uma ética universal: a ética racional do discurso. Diferentemente das posturas irracionalistas do pragmatismo analítico norte-americano e do pós-estruturalismo francês, a teoria da racionalidade comunicativa de Jürgen Habermas e Karl Otto-Apel se constitui no ponto referencial obrigatório e necessário para toda e qualquer investigação sobre a fundamentação de princípios éticos universais. 27 Faculdade Internacional Signorelli Trabalhando com um novo conceito de razão (não mais a “razão instrumental” iluminista, mas a “razão dialógica”, vivenciada e partilhada por atores lingüisticamente competentes), assentado num entendimento comunicativo, tanto Habermas quanto Apel buscam uma saída para a crise da ética moderna, ou seja, a proposição de normas e valores para a ação hu- mana que levem à emancipação dos sujeitos históricos e dos grupos sociais. Neste sentido, Habermas e Apel procuram edificar as condições para uma ética universalista do discurso prático-comunicativo que objetive uma maior assimilação entre o “eu” individual e a autonomia das identidades coletivas. Tendo presente e rompendo com a tradição clássica de ética aristotélico-tomista (que já estudamos anteriormente), Habermas, sustentando-se em argumentos apoiados na dialética hegeliana, retoma, amplia e transpõe a ética formalista de Kant (sistema de deveres: imperativo categórico como “a priori” de fundamentação dos enunciados normativos), caminhando em direção de uma ética do discurso prático. Desta maneira, os pressupostos deHabermas não mais recorrem exclusivamente à razão, mas interpõem os princípios gerais da comunicação humana dada pela vida concreta dos participantes. Além disso, toda e qualquer concepção ética, a partir do discurso prático consensuali- zado, deve tratar e considerar a reciprocidade de três grandes princípios de fundamentação universal: princípio da justiça, princípio da solidariedade e princípio do bem comum. Passa a ser essencial para Habermas que a ética do discurso prático-comunicativo, enquanto ética de cunho universalista, dependa das formas reais de vida e das ações humanas concretas. A ética do discurso ou da comunicação, alicerçada na “pragmática universal” (segundo Habermas) e/ou na “pragmática transcendental” (conforme Apel), por ser uma ética cognitiva, formalista e pós-kantiana, assume características de uma “macroética pós-convencional” que tem eficácia para o conjunto da humanidade, requerendo, para seu princípio fundante, uma validade universal intersubjetiva e independente das “circunstâncias”. Isso leva à pon- deração de Apel de que a ética do discurso é mediada por dois níveis: o princípio formal de fundamentação racional último e as normas materiais justificadas pela comunicação prática. Além da contribuição de Habermas, outra proposta não menos importante para a edi- ficação racional de uma nova ética universalista, em fins do século XX, é a que vem sendo sistematizada pelo também integrante da Escola de Frankfurt, Karl-Otto Apel. Tendo presentes as proposições normativas de teor lingüístico-pragmático, muito próximas de Habermas, Apel avança, através de uma racionalidade marcada por uma reflexão transcendental, na constru- ção de uma ética especial (discursivo-comunicativa), denominada “ética da responsabilidade”, que tem como exigência ser constituída pelo “consenso” de vontades livremente reafirmadas. No instante em que a ciência busca traduzir uma civilização unitária, tornando-se insufi- ciente a formação de éticas específicas de grupos e éticas subjetivas individuais, nada mais oportuno do que afirmar, mediante uma racionalidade estratégica de interação social, uma ética comunitária intersubjetivamente válida. 28 Faculdade Internacional Signorelli Efetivando uma ponte conciliadora entre a racionalidade tecno-instrumental (adaptada e depurada a partir de categorias weberianas), Apel define o princípio de uma norma moral fundamental, denominada “ética da responsabilidade”. A “ética da responsabilidade” nada mais é do que uma ética dialógica que se articula através da interação social, mediação que possibilita as condições de existência da comunidade ideal com a Comunidade real. Ressalta ainda Apel que a necessidade e o surgimento desta “norma moral fundamental” assenta na premissa de que todos os homens são parceiros, com os mesmos direitos e os mesmos deveres. Insiste Apel em assinalar que somente este tipo de norma básica, universalmente válida, de fundamentação consensual-normativa, é que pode possibilitar a convivência das pessoas, dos povos e culturas, com diferentes interesses e tradições valorativas de mundos vitais. Ora, é justamente o reconhecimento intersubjetivo da “metanorma”, enquanto princípio da raciona- lidade discursiva, que torna possível a condição do pluralismo valorativo do mundo moderno. Para Apel, a forma de se conseguir aceitação das normas, no âmbito de uma “ética da responsabilidade” e/ou “ética do diálogo”, depende da capacidade de se obter consenso por parte dos atores sociais e “das consequências das normas que se há de aceitar”. 29 Faculdade Internacional Signorelli AtividAdes de FixAçãO 1. “ – O que significa exatamente essa expressão antiquada: ‘virtude’? – per- guntou Sebastião. - No sentido filosófico, compreende-se por virtude aquela atitude de, na ação, deixar- se guiar pelo bem próprio ou pelo bem alheio – esclareceu o senhor Barros. - O bem alheio? – perguntou Sebastião. - Sim – disse o senhor Barros. – É verdade que a coragem e a moderação são virtu- des, em primeiro lugar, para consigo mesmo, mas também há outras virtudes, como a benevolência, a justiça e a seriedade ou confiabilidade, ou seja, a qualidade de ser confiável, que são disposições orientadas para o bem dos outros.” (TUGENDHAT, Ernst; VICUÑA, Ana Maria; LÓPES, Celso. O livro de Manuel e Camila: diálogos sobre moral. Goiânia: Ed. da UFG, 2002. p. 142) Com base no texto, é correto afirmar: a. A ação virtuosa é orientada por princípios externos que determinam a qualidade da ação. b. As virtudes são disposições desvinculadas de qualquer orientação, seja para o bem, seja para o mal. c. As ações virtuosas são reguladas por leis positivas, determinadas pelo direito, independentemente de um princípio de bem moral. d. A virtude limita-se às ações que envolvem outras pessoas; em relação a si próprio a ação é independente de um princípio de bem e. Ser virtuoso significa guiar suas ações por um bem, que pode ser tanto em relação a si próprio quanto em relação aos outros. 2. O movimento negro no Brasil, embora exista de fato desde a Colônia, teve seus avanços reais constituídos em políticas públicas a partir dos anos 1990. Sobre as bandeiras, ações afirmativas e conquistas deste movimento, é IN- CORRETO afirmar que: a. Pretendem indenizar economicamente os descendentes de escravos negros no Brasil. b. São movimentos sociais que, visando à autonomia e à participação mais efetiva dos negros, justapõem oposição e resistência em suas formas de atuação. c. Tornaram possível a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasilei- ra nas escolas de ensino fundamental e médio. d. Pretendem contribuir para diminuir a distância socioeconômica entre negros e brancos no Brasil e um dos mecanismos para que isso ocorra é a instituição de cotas para negros na universidade. e. Relacionam-se a um movimento de políticas de identidade étnico-racial que de- nuncia a democracia racial brasileira como um mito. 30 Faculdade Internacional Signorelli 3. Acerca da relação entre ética e moral, assinale a opção correta. a. Durante as Idades Média e Moderna, a ética era considerada uma ciência, por- tanto, era ensinada como disciplina escolar. Na Idade Contemporânea, a ética assumiu uma nova conotação, desvinculando-se da ciência e da filosofia e sendo vinculada às práticas sociais. b. A simples existência da moral significa a presença explícita de uma ética, entendi- da como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discute, problematiza e interpreta o significado dos valores morais. c. O entendimento ético discorre filosoficamente, em épocas diferentes e por vários pensadores, dando conceitos e formas de alusão ao termo ética. d. A ética não tem por objetivo procurar o fundamento do valor que norteia o compor- tamento, tendo em vista a historicidade presente nos valores. e. O conhecimento do dever está desvinculado da noção de ética, pois este é con- sequência da percepção, pelo sujeito, de que ele é um ser racional e, portanto, está obrigado a obedecer ao imperativo categórico: a necessidade de se respeitar todos os seres racionais na qualidade de fins em si mesmos. 4. Sobre o conceito de ética marque a alternativa que NÃO representa uma al- ternativa correta. a. Ética é o Julgamento da validade das morais. b. Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética. c. A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e cult- urais. d. Ética é a ciência normativa dos comportamentos humanos, sendo definida através de leis específicas. e. Ao conviver em sociedade o homem percebeu a necessidade de “regras” que regulamentassem esse convívio. 5. A ética é um fenômeno humano e a experiência moral é um dos aspectos es- senciais que se manifestatanto na existência de cada pessoa em particular como na comunidade da qual participa. Com isso é correto afirmar que a. a ambiência deteriorara-se há muito, a partir dos maus exemplos de expressivos dirigentes do Estado, mergulhados que estão na prática de atos imorais; b. a experiência moral é revelada pois se define através da ação e o sentido ético pode ser captado e definido em relação aos comportamentos, às práticas, aos atos realizados pela pessoa humana; c. a consciência ética resulta da relação íntima do ser humano consigo mesmo, pois é fruto da conexão entre as capacidades do “ego” e as energias espirituais, re- sponsáveis pela nossa vida. d. a comunidade não exerce influência decisiva na regulamentação do comporta- mento moral, e exatamente por isso não há a necessidade da pessoa seguir um padrão comportamental vigente em seu meio. e. a felicidade está na eficácia de nossa ação em nosso ambiente, em confronto com as necessidades que programamos, e que nos condiciona a atitudes e condutas que exigem uma linha normativa ou não de experiência moral; 31 Faculdade Internacional Signorelli GAbARitO 1-e, 2-a, 3-c, 4-d, 5-e. síntese Em resposta às críticas feitas pelo “pós-estruturalismo” francês (Foucault, Deleuze, Derrida etc.), Apel pondera que a busca de valores universais não prejudica a diferen- ça e a particularidade, porquanto, mais do que nunca, se faz necessária uma grande ética, uma ética cósmica, planetária. A intenção de Apel não é oferecer uma ética aca- bada para uma realidade constituída de diferentes grupos particulares, mas sim prin- cípios universais condutores que deverão ser usados como direção geral, princípios que ordenam uma ética coletiva da responsabilidade, envolvendo a participação de todos para o bem-estar e a felicidade geral. Certamente, deve-se, preliminarmente, reconhecer não só o esforço de Habermas e Apel no sentido de fundamentar uma éti- ca racional, potencialmente universal, que parte de relações intersubjetivas e da ação comunicativa concreta, superadoras do formalismo positivista, como, sobretudo, a importância de suas análises e de suas categorias-chaves como “responsabilidade”, “práxis emancipatória”, “solidariedade”, “valorização das subjetividades do mundo da vida” e “consenso da comunidade real”, para se repensar e romper com todos os pa- râmetros axiológicos convencionais. 32 3 32 U N ID A D E CIDADANIA CONTEMPORÂNEA II 33 Faculdade Internacional Signorelli Prezado estudante, Indicar que uma ética para os nossos dias deve ser aquela que se oponha à moral es- sencialista das instituições da modernidade, que, apesar de ter produzido o progresso técnico, produziu também injustiças sociais e o cinismo ético na observância dos princípios que não levaram em conta os fracos. Elaboramos na modernidade uma ética cínica. Para opor-se a essa, propõe-se uma ética solidária – Ética da Responsabilidade - que supere a ética de princípios, a individualista (da modernidade) e a fragmentada e niilista (da pós-modernidade), a fim de que possamos responder a pergunta inquietante – o que e como posso fazer? AULA 7 - A VIA PARA O NEOLIBERALISMO, O CONTEXTO INTERNACIONAL ObjetivO ▪ Analisar os conceitos atuais sobre os valores éticos. 1 O QUE VOCÊ SABE SOBRE ÉTICA DA RESPONSABILIDADE? A palavra responsabilidade deriva do latim respondere, responder. No dicionário Mi- chaellis, responsabilidade é a qualidade de responsável, que responde por atos próprios ou de outrem, que deve satisfazer os seus compromissos ou de outrem. Estas derivações nos remetem a questões ligadas ao dever, a obrigações, a moral que, por sua vez, nos faz de- bruçar ao campo da ética. A relação da ética com responsabilidade social está diretamente vinculada aos costumes e hábitos de cada coletividade através de suas crenças e tradições. A construção do conceito definindo como um processo dinâmico que reflete o próprio meio social, no qual se entrecruzam diversos fatores de ordem econômica, política e cultural e envolve os diversos segmentos da sociedade cidadãos, consumidores, organizações públi- cas ou privadas, comunidades, etc. estreitamente vinculadas à ciência do dever humano que chamamos de ética e voltadas para o desenvolvimento sustentado da sociedade. Temos nos orientado por uma ética de princípios baseada nas normas morais das socie- dades tradicional e moderna e, atualmente, pelos princípios das regras fragilizadas e fugazes da chamada pós-modernidade. Essas concepções, que pautam e estudam o comportamento humano nas diferentes experiências de sociedades, são vistas como categorias universais e imutáveis. Não obstante, existe outro olhar ao qual se direciona a ética: a responsabilidade do in- divíduo frente à vida do outro, o que, conseqüentemente, está relacionado com a noção de cidadania. Essa concepção de ética não deseja carregar o “apelido” de universal nem tampouco 34 Faculdade Internacional Signorelli o status de imutável, prefere ser forjada nos contextos históricos ao sabor das experiências grupais emergentes das mais variadas vivências e necessidades dos sujeitos nas tramas históricas. A diferença básica entre a ética da responsabilidade e as outras posturas é que ela não se orienta somente por princípios, mas principalmente pelo contexto e pelos efeitos que podem causar nossas ações. Dessa maneira, compreendemos que a responsabilidade social da ética é nos levar a refletir sobre os comportamentos dos indivíduos que se imaginam guiados por normas e preceitos transcendentais, ou por normas e leis criadas, sem levar em conta o ser aí - presente em toda sua existencialidade. 2 ÉTICA DA RESPONSABILIDADE A ética da responsabilidade tem por natureza preservar a vida onde quer que ela esteja ameaçada. Por isso, falamos em bioética, ecoética, etc.. O que realmente interessa é a vida do grupo e todos os esforços para mudar comportamentos e alterar normas caducas. Nessa concepção, as normas não devem ter um status de dogma, mas sim, de guia (kanôn, no sentido de guia – vara de conduzir), pelas quais a comunidade dos humanos percorre seu itinerário nesta oikoumene. Esse quadro ético-moral determina que os efeitos e o campo em que a ação se desen- rola servem como critério ético para avaliar o comportamento dos homens no contexto social. Nesse particular, faz-se necessária uma nova leitura das categorias morais que impregnaram nossos dicionários, como, por exemplo, justiça, paz e vida. A ética da responsabilidade social, ao contrário das demais concepções, é dinâmica, e por isso, se refaz a cada contexto consti- tuindo-se em requisito para a busca da transformação das normas morais, uma vez que essas não são frutos de uma ordem transcendental, mas sim criação humana, sujeitas a falhas e, portanto, passíveis de constantes revisões, sempre que o contexto histórico assim o exigir. Face a essa moldura teórica da ética e da moral, feita de maneira breve, perguntamos: de que maneira podemos refletir, como profissionais da educação, sobre a responsabilidade ético-social de nossas ações, numa sociedade marcada pela ética essencialista das tradições arcaicas de nossa cultura ibero-americana e ocidental, por uma ética cínica e uma moralida- de individualista de nossa pretensa modernidade? Quais os valores que pautam nosso agir diante de um niilismo ético-moral em que as pessoas passam simplesmente de um valor de uso para um valor de troca [econômica] - transformando-se em mercadorias de um mercado mundializado? Configura-se diante disso, a necessidade de se pensar outra eticidade, aquela que está para além dos códigos de ética profissionais, que, em geral, são fósseis arqueológicos de regrase normas petrificadas num tempo fora do tempo e que a eles se nos recomendam fidelidade. A ética da responsabilidade orienta-nos a ultrapassar suas barreiras e a buscar outros referenciais sócio-históricos, a fim de melhorar nossa eticidade no cotidiano e contribuir na formação dos novos sujeitos profissionais. 35 Faculdade Internacional Signorelli Pensar a ética nesses termos é também pensar a cidadania e buscar a compreensão que as instituições têm dessas duas dimensões da vida hoje. Para alguns, no Brasil, nem cidadãos há de fato, uma vez que o Estado ainda não concretizou os ideais burgueses de cidadania e do capitalismo, caracterizando-se como uma sociedade autoritária e hierarquizada, em que os direitos do homem e do cidadão simplesmente não existem para uma imensa maioria. Ao longo de sua recente história democrática, as tentativas desse contingente de exclu- ídos conquistar essa cidadania, ainda que seja nos moldes do Estado burguês, foram sendo compreendidas como problemas de ordem e distúrbios sociais, e, portanto, casos de polícia. Por isso, é importante relacionar ética e cidadania neste país que as concebe a partir de uma perspectiva jurídica de Estado, quando os sociólogos já apontam para a fragilidade dos laços territoriais entre indivíduos e Estado, em que as lealdades se esvaem na emergência da sociedade civil global. A ética moderna foi suficiente para o estado burguês educar o cidadão, reduzindo-a ao longo da modernidade contemporânea numa reserva moral do privado e particularizando o dever ético dos indivíduos, sem levar em conta as advertências de Hegel de que as ações do cidadão e, portanto, sua eticidade se realizavam dentro das estruturas sociais - família, sociedade civil e estado - coletivamente. Formar o cidadão implica repensar a ética e reconceituá-la a partir dos novos desafios que o tempo presente nos aponta. Propomos algumas perguntas que provocam e aguçam nossa reflexão sobre ética e educação: 1. pode o saber eliminar ou amenizar o autoritarismo, a injustiça, a imoralidade?; 2. a conduta dos que “sabem” menos é menos ética, solidária e “humana” que a dos que “sabem” mais?; 3. que tipo de saber é requerido para que se pro- movam sociedades mais democráticas, justas e solidárias do que as que foram idealizadas pelo Estado Burguês? Essas perguntas comprometem, de maneira indelével, a Educação. Se afirmarmos romanticamente que todo “saber” é libertador, estaremos sendo cúmplice dos velhos mitos iluministas e burgueses da educação do soberano. Se, de maneira crítica, reconhecermos que nem todo saber serve para promover uma sociedade mais igualitária, estaremos afirmando que nossa tarefa de educar foi sempre realizada para educar o soberano e não o cidadão. Sair desse dilema, que há muito já colocou Gramsci à educação (formar cidadãos ou funcionários e súditos?), é uma exigência do nosso tempo. Urge a necessidade de discutir uma ética cidadã, uma Escola Cidadã cuja ética exerça seu estatuto epistemológico de re- flexão crítica sobre o comportamento dos homens e se comprometa a questionar a validade desse saber elaborado pelo conhecimento científico da modernidade, (ainda hoje socialmente válido) em detrimento dos outros saberes, de maneira que essa ética nos permita alcançar o objetivo de formar o cidadão. 36 Faculdade Internacional Signorelli AULA 8 - BRASIL ANOS 80 – A LUTA PELA REDEMOCRATIZAÇÃO ObjetivO ▪ Reconhecer a origem da cidadania e sua ligação com a política e a redemocratiza- ção. 1 O QUE VOCÊ SABE SOBRE A REDEMOCRATIZAÇÃO? Muito se tem falado e escrito sobre a redemocratização do pais e da responsabilidade ética do processo de ensino-aprendizagem, de como a escola deve ter por objetivo a cons- trução de cidadãos participativos e conscientes, isto é, indivíduos responsáveis e solidários com a comunidade e autônomos intelectualmente, de como a escola está empenhada em desenvolver atividades que tematizam os direitos humanos e o Estatuto da Criança e do Adolescente e despertar o respeito ao meio ambiente (natureza). Salvo melhor juízo, não é possível observar o grande sucesso apregoado pelas escolas e educadores nesta questão tão premente. Mais e mais jovens estão saindo das escolas sem um sentimento de pertença à comunidade e à natureza e, também, sem possuir autonomia intelectual para a resolução de problemas cognitivos e práticos, além de não possuírem au- tonomia moral para fundamentar racionalmente sua ação moral (deliberação). O homem relaciona-se de forma variada com o mundo. Seu comportamento é influenciado pelas variadas e diversas necessidades humanas, sendo direcionado de acordo com estas demandas. Devido a esta variedade de relações do homem com o mundo, desenvolvem-se relações diversas dos homens entre si na economia, direito, política etc. E são nestes rela- cionamentos que afloram os vários tipos de comportamento. O comportamento do homem varia de acordo com o objeto com o qual ele se relaciona e com a necessidade a ser satisfeita. Todas as formas de comportamento estão relacionadas entre si e variam de acordo com o contexto histórico em que ocorrem, pois ele determina qual a forma de comportamento deve dominar em determinada época ou sociedade. Por ser um grupo de normas e regras que regem o comportamento individual e social dos homens, a moral tem uma relação articulada com as demais formas fundamentais de conduta humana. Mas é preciso observar que apesar das semelhanças entre as variadas formas de comportamento, existem diferenças que identificam cada tipo de conduta e que precisam ser respeitadas. A moral não pode interferir nas demais condutas, assim como estas não podem interferir na moral, pois as diversas condutas possuem campos específicos. A relação da moral com os outros campos deve ser mútua. 37 Faculdade Internacional Signorelli Uma das funções da moral é regulamentar as ações mútuas entre os indivíduos e entre estes e a comunidade, enquanto que a política abrange relações entre grupos humanos, como classes, povos de nações, incluindo a atividade destas classes ou grupos sociais através das suas organizações específicas. 2 ÉTICA E LUTA POR REDEMOCRATIZAÇÃO A política é a atividade dos grupos sociais que tende a conservar a ordem social existente, a reformá-la ou mudá-la. É também a atividade que o próprio poder estatal desenvolve na ordem nacional e internacional. A maneira com que os indivíduos se situam na política se difere da moral. No campo político os sujeitos da ação política são indivíduos, mas enquanto membros de um grupo social determinado, procurando defender os interesses comuns nas relações com o Estado, com outras classes e com outros povos. Na moral é o fator íntimo e pessoal que determinará sobremaneira as relações morais do indivíduo com os demais. Aqui, o indivíduo toma deci- sões pessoais e assume uma responsabilidade pessoal pelos seus atos. Apesar de que as normas morais possuam um caráter coletivo, é o indivíduo que deve decidir pessoalmente se as cumpre, assumindo a responsabilidade. Pode-se dizer que a moral e o direito se encontram inter-relacionados por se caracteriza- rem em um conjunto de normas que visam regulamentar as ações humanas na perspectiva da manutenção da ordem social. Percebe-se, entre essas duas formas de comportamento humano, traços de semelhança que as identificam, fortalecendo a relação existente entre elas. Têm-se como pontos análogos à regulamentação das relações sociais através de normas de caráter obrigatório, onde estas impõem exigências para que sejam cumpridas, determinando um “certo” comportamento a ser seguido. Além disso, têm o mesmo objetivo, que é manter uma coesão social e são determinadas historicamente, já que são mutáveis
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