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Revisão aulas 6 a 10

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EDUCAÇÃO E ECONOMIA POLÍTICA
REVISÃO PARA A AV-2
CURSO DE PEDAGOGIA – professora BEATRIZ PINHEIRO
Rio de Janeiro, 22 de outubro de 2011
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OBJETIVOS
Revelar o caráter ideológico das teorias: do capital humano, da neoteoria do capital humano e da sociedade do conhecimento, mostrando que elas correspondem a diferentes leituras, elaboradas pelas classes dominantes em cada momento da história do capitalismo, para ocultar as relações de dominação existentes na sociedade, bem como a natureza do Estado e da escola capitalista.
Compreender que a escola é determinada socialmente, que reproduz a desigualdade, mas pode contribuir para o processo de transformação social e, nessa perspectiva, os educadores devem, ao desenvolverem práticas e estratégias pedagógicas, levar em consideração as principais contribuições do marxismo para o campo da educação, isto é, as noções de trabalho como princípio educativo e de formação omnilateral. 
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A TEORIA DO CAPITAL HUMANO
A Teoria do Capital Humano foi desenvolvida na década de 1960 por Schultz. Para ele o desenvolvimento econômico de um país está diretamente ligado ao investimento em capital humano, ou seja, em aperfeiçoamento /educação dos trabalhadores. A tese central da teoria vincula a educação ao desenvolvimento econômico e à distribuição de renda. 
A teoria do Capital Humano é um desdobramento da teoria neoclássica do desenvolvimento. Esta teoria postulava que o crescimento econômico dependia de aumentos nos estoques de três fatores: capital, trabalho e tecnologia. Entretanto, esta teoria não conseguia explicar todo o crescimento por meio desses três fatores. Havia um resíduo não explicado, que Schultz passou a atribuir ao investimento nos indivíduos, denominado analogicamente por ele de capital humano. Este investimento nos homens envolveria os investimentos em educação, treinamento e saúde. O fator humano, então, complementaria os demais fatores explicativos propostos pela teoria neoclássica.
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TEORIA DO CAPITAL HUMANO – 
ponto de vista macro
Schultz observou que quanto maior o nível de escolarização de uma população, maior é a renda per capita do país e o seu desenvolvimento econômico. Criou, então, a idéia de que a educação está diretamente vinculada ao desenvolvimento.
A educação, assim, foi entendida como um investimento como qualquer outro. É compreendida como capital humano, já que ela passa a ser vista como produtora da capacidade de trabalho. Na perspectiva macroeconômica, o investimento no fator humano passa a ser visto como um dos determinantes básicos do aumento da produtividade do trabalho e elemento de superação do atraso econômico das diferentes nações. O processo educativo, escolar ou não, fica reduzido à função de produzir habilidades, gerando capacidade de trabalho e de produção e a escola é concebida como a salvadora de todas as questões sociais, além de possibilitar o desenvolvimento de um país.
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O CARÁTER IDEOLÓGICO DA TEORIA –
ponto de vista macro
A teoria do capital humano revela-se como uma ideologia que busca o desenvolvimento do capitalismo e que tem como objetivo manter a hegemonia na recomposição do imperialismo capitalista. Uma ideologia que busca manter cada pais no lugar que ocupa na ordem internacional, afirmando que o subdesenvolvimento de alguns países da periferia do capitalismo não é uma realidade histórica, associada aos interesses de domínio dos países do capitalismo central e da divisão internacional do trabalho, mas uma questão de escolha. O caminho do desenvolvimento é visto como um processo gradual, fruto dos investimentos em educação. Assim, a teoria passa a idéia de que o subdesenvolvimento nada tem a ver com as relações de poder, mas se trata de um problema de mudança ou modernização de alguns fatores, ente os quais se destaca a presença de recursos humanos qualificados: de capital humano. Não se discutem as relações de poder econômico internacionais. 
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TEORIA DO CAPITAL HUMANO – 
ponto de vista micro
As tentativas de mensurar, em termos macro, a contribuição da educação para o crescimento econômico foram alvo de muitas críticas, que fizeram com que a teoria do capital humano se deslocasse da esfera da macroeconomia para a da microeconomia.
Do ponto de vista microeconômico Schultz estudou a rentabilidade do fator humano a partir da comparação entre a renda de pessoas que não freqüentaram a escola e outras que se educaram. Viu-se que existia uma forte correlação entre a educação e a renda individual. Cada acréscimo em escolaridade corresponderia a um acréscimo de produtividade. Como a renda individual é vista como dependente da produtividade, acréscimos em produtividade levariam a acréscimos na renda individual. Com base nesse raciocínio, conclui-se que a educação potencia o fator trabalho, aumenta a sua produtividade e, consequentemente, a aumenta a renda individual, contribuindo para uma melhor distribuição de renda e equalização social. A educação passa a ser vista como um fator explicativo das diferenças individuais de produtividade e renda e de mobilidade social. 
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O CARÁTER IDEOLÓGICO DA TEORIA –
ponto de vista micro
Na medida em que a teoria do capital humano afirma que uma despesa em educação garante maior produtividade no trabalho e maior renda individual, a teoria acaba por fazer acreditar que a decisão de aumentar a renda é uma escolha individual. Os sujeitos podem escolher livremente aumentar sua renda: basta investir em educação. Ser rico ou pobre é uma decisão de cada indivíduo. Se não se é bem sucedido, a responsabilidade é do indivíduo. 
A teoria do capital oculta a desigualdade social determinada pelas relações de produção capitalistas que separam as classes sociais. Escamoteia a relação de dominação e exploração, que se concretiza na mais valia, definindo interesses antagônicos e irreconciliáveis para as duas classes sociais fundamentais: burguesia e classe trabalhadora. Encobre com um véu a luta entre essas duas classes. As pessoas que têm capital, se esforçaram mais, pouparam mais, sacrificaram suas horas de lazer e tiveram uma maior escolaridade. Os demais não demonstram real interesse pela escola.
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O CARÁTER IDEOLÓGICO DA TEORIA –
ponto de vista micro
A questão da desigualdade e dos antagonismos de classe fica encoberta pela crença na meritocracia. A sociedade capitalista se reveste de uma igualdade de oportunidades. A todos é dado o poder de conseguir, através da educação, ascender socialmente e aqueles que não conseguem não podem reclamar, já que se não ascendem é por falta de mérito próprio. O problema da desigualdade tende a reduzir-se a um problema de qualificação.
Culpar cada um pelo “fracasso” e pela posição social retira do debate a responsabilidade do Estado e da classe dominante sobre as trajetórias de vida dos sujeitos da classe trabalhadora. As relações de poder e de dominação cedem lugar à ideologia do mérito, do dom, do esforço individual.
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O CARÁTER IDEOLÓGICO DA TEORIA 
DO CAPITAL HUMANO
A teoria do capital humano também oculta a real função da escola capitalista. Oculta que a escola capitalista contribui para manter a ordem social desigual, na medida em que ela difunde a ideologia (constrói o consenso em torno da ordem burguesa) e que “nega” o acesso ao saber acumulado às classes trabalhadores, alvo de uma educação desqualificante. Os sujeitos das diferentes classes sociais chegam à escola em condições distintas. A escola, em trajetórias escolares diferenciadas, forma os profissionais que ficarão a cargo das funções intelectuais e instrumentais da sociedade, reproduzindo a desigualdade social, reproduzindo as diferenças sociais. 
A teoria do capital humano faz da escola uma instituição a serviço do indivíduo e promotora da construção de uma sociedade aberta (mobilidade social), já que oferece iguais oportunidades a todos e permite o desenvolvimento dos talentos individuais. É oferecida, entretanto, uma escola empobrecida para a classe trabalhadora,
mas fazendo todos acreditarem que o aumento dos níveis de escolarização, o esforço individual e o sacrifício garantem uma ascensão profissional e um aumento de renda. A escola fica reduzida a uma dimensão asséptica, separada do político e do social. 
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O CARÁTER IDEOLÓGICO DA TEORIA 
DO CAPITAL HUMANO
É o caráter ideológico da teoria do capital humano que faz com que ela sobreviva até os nossos dias. Certamente a teoria foi bem sucedida na sua intenção de justificar a ordem capitalista, de fazer uma apologia da ordem burguesa, de ocultar a natureza reprodutora da escola capitalista. É fácil mesmo perceber que já faz parte do senso comum acreditar que a educação é fundamental para o desenvolvimento econômico de um país. A teoria do capital humano conferiu à ideologia liberal uma roupagem científica, técnica, e por isso mesmo mais difícil de questionar. Era a legitimidade “científica” que lhe faltava...
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FRIGOTTO E A CIRCULARIDADE DA TEORIA
DO CAPITAL HUMANO
A teoria do capital humano afirma que o indivíduo investindo em educação, em capital humano, poderá aumentar sua renda. E como se forma o capital humano? Pelo investimento em escolaridade. O fator humano seria determinado pelo conjunto de anos de escolaridade. Mas o que determina tanto o acesso à escola, quanto o nível escolar e os diferentes tipos de desempenho escolar? Eles são explicados pelos fatores socioeconômicos (família, nutrição, renda familiar, características ambientais, etc).
Assim, de acordo com Frigotto temos uma análise circular. Sob a ótica do capital humano a educação é vista como fator de aumento de renda e mobilidade social. A escolarização é posta pela teoria do capital humano como determinante da renda. Mas sabemos que o acesso à escola, a permanência nela e o desempenho escolar são determinados fundamentalmente pela renda dos indivíduos e outros indicadores que descrevem a situação econômica familiar. 
A teoria do capital humano faz do elemento determinado (educação), o elemento determinante (da renda), invertendo a lógica da análise crítica sobre a relação escola/sociedade e reafirmando a visão liberal da escola
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SE A EDUCAÇÃO NÃO CONTRIBUI PARA O DESENVOLVIMENTO, QUAL SUA RELAÇÃO COM A ECONOMIA?
Frigotto defende a tese de que a prática educativa se relaciona com a estrutura produtiva não de forma imediata, direta, mas de forma MEDIATA. Afirma que a prática educativa realiza diferentes mediações com a estrutura produtiva. A mediação da escola com o processo produtivo se dá, em primeiro lugar, pelo fornecimento de um saber geral, com traços ideológicos, fundamental para criar os trabalhadores com o perfil desejado pelo capital. Além disso, a escola, mediante a criação de centros de excelência, prepara os intelectuais que atuam como trabalhadores improdutivos, mas necessários à realização da mais valia, já que são eles que organizam, planejam, gerenciam e supervisionam a produção. Sua atuação é voltada para maximizar as condições de produção da mais valia.
A escola cumpre também uma função mediadora através de sua INEFICIÊNCIA. Na medida em que a escola oferecida para as classes trabalhadoras é de péssima qualidade, isto é, na medida em que os trabalhadores não têm acesso ao saber acumulado, fracassam e aceitam seu fracasso como sendo de sua responsabilidade, a escola acaba cumprindo uma dupla função na reprodução das relações de produção: 1) justifica a situação de exploração; 2) limita a luta da classe trabalhadora contra o capital. 
Por sua improdutividade, a escola torna-se produtiva ao capital. 
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POR QUE UMA NOVA TEORIA DO CAPITAL HUMANO? 
A teoria do Capital Humano precisa assumir uma nova roupagem com a crise do Bem Estar social e com a ascensão do neoliberalismo. Na atual fase do processo de acumulação capitalista, diante da Reforma do Estado e do novo quadro do mercado de trabalho (marcado pelo desemprego, pelo aumento da informalidade e pela precarização das relações de trabalho), a concepção econômica da educação passa a ganhar novos contornos no discurso do pensamento econômico e educacional oficial, para que seja possível justificar a nova ordem neoliberal. Agora, a discussão sobre a educação é focada na necessidade de formação para o mercado de trabalho, uma formação para a empregabilidade.
Diferentemente da teoria do Capital Humano, a neoteoria do capital humano afirma que um incremento no capital humano individual aumenta as condições de empregabilidade do indivíduo, o que não significa que ele terá um lugar garantido no mercado. Incrementos na educação e formação profissional apenas darão melhores condições de competição na disputa pelos poucos empregos disponíveis 
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A NEOTEORIA DO CAPITAL HUMANO
Com a crise do Bem Estar Social, chega ao fim a promessa integradora da escola, que atribuía ao Estado uma função central no planejamento e implementação das políticas públicas educacionais, atuando no sentido adequar a preparação dos recursos humanos às exigências da conquista de mercados e do bem estar da população. Assim, com a crise do Estado, verifica-se uma mudança no papel econômico da escola. Agora já não é mais possível falar que a escola irá incluir a todos e garantir maior renda individual. Agora só é possível afirmar que maior escolaridade e maior capacitação profissional correspondem, no plano individual, a melhores oportunidades para competir no mercado de trabalho. A educação passa a preparar para as novas características de: desemprego, precarização, informalidade e exclusão do mercado de trabalho. A nova função econômica da educação, a promessa da empregabilidade, tem agora caráter estritamente privado, já que resta ao indivíduo (não sendo mais papel do Estado) definir as opções que lhe ofereçam um melhor lugar no mercado de trabalho.
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A RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E MERCADO
DE TRABALHO 
Se antes “era possível” postular um vínculo linear entre educação e mercado, já que o acesso à educação garantiria aos mais capazes melhores posições no mercado (e, conseqüentemente, maior renda individual), agora, a noção de empregabilidade torna a explicação sobre a relação educação/mercado de trabalho duplamente enganosa, uma vez que, embora se continue a postular uma associação direta entre educação e renda, não é mais possível afirmar que a educação garante a inserção no mercado. Só é possível afirmar que a educação pode aumentar as chances de um trabalho remunerado. 
Essa associação oculta as causas estruturais da redução da oferta de empregos, transferindo o problema para a esfera individual do trabalhador.
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O CARÁTER IDEOLÓGICO DO CONCEITO DE EMPREGABILIDADE
É possível afirmar que, quando articulada à educação, a empregabilidade acaba por forjar uma ideologia de passividade, individualismo e competitividade. Não se trata de formar cidadãos que, conscientes de seu direito à renda, ao trabalho e ao emprego, sejam capazes de lutar pela inserção no mercado e pela transformação das relações que produzem uma sociedade desigual e um mercado excludente, mas sim de formar indivíduos passivos, que aceitem a realidade do mercado de trabalho como imutável e entendam a exclusão social e laboral como um fracasso pessoal, resultante de sua incapacidade individual de negociar as competências adquiridas nos processos educativos. 
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A VISÃO NEOLIBERAL DA ESCOLA
Apoiado na neoteoria do capital humano, o neoliberalismo vê a escola em uma perspectiva técnico-científica. Ele não valoriza a formação humanística do indivíduo, mas defende uma formação guiada pela necessidade de mão-de-obra do mercado. Nos discursos neoliberais a educação não é mais reconhecida como integrante do campo social, mas se insere definitivamente no mundo do mercado. O neoliberalismo entende a escola como parte constituinte e importante do mercado, valorizando as técnicas de gerenciamento e reconhecendo que pais e alunos são consumidores do produto educação. Esvazia-se, desse modo, o papel político da educação.
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O DIAGNÓSTICO
NEOLIBERAL E A ESCOLA
Os neoliberais afirmam que a escola não cumpre o papel econômico previsto pela teoria do Capital Humano porque está em crise e a crise da escola passa não passa pela falta de recursos, mas pela incompetência de gestão. Afirmam que o desafio da escola é apenas gerencial, gerado pela incompetência dos Estados em gerir as políticas educacionais. Para os neoliberais, para que a escola assuma o seu papel na sociedade e possa garantir o desenvolvimento econômico dos países ditos “subdesenvolvidos”, devem ser adotadas as seguintes estratégias:
a) o estabelecimento de mecanismos de controle e avaliação da qualidade e produtividade da escola e dos serviços educacionais, isto é, de práticas empresariais, que devem ser transferidas para o sistema educacional sem adaptações ou mediações. O sistema escolar dever ser administrado e avaliado tal qual qualquer empresa.
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O DIAGNÓSTICO NEOLIBERAL E A ESCOLA
b) subordinar a produção educacional às necessidades do mercado de trabalho.
É necessário que o sistema educacional se adapte ao mundo do trabalho. Entretanto, isso não que dizer que a escola tenha como papel social a garantia do emprego. Antes de tudo ela deve garantir a empregabilidade, ou seja, cabe a escola criar as condições necessárias ao indivíduo quanto à qualificação para quem sabe um dia ele consiga um emprego. A escola deve ser capaz de formar o indivíduo flexível para atender as demandas do mercado. Ela tem como função oferecer as ferramentas necessárias para que ele tenha condições de competir no mercado.
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NEOLIBERALISMO E EDUCAÇÃO
Para os neoliberais, na medida em que a escola passe a ser tratada como uma empresa, isto é, na medida em que ela priorize um rígido controle gerencial para a obtenção da qualidade total, é que se obterá a produtividade e a eficiência necessárias para que a teoria do capital humano surta os efeitos desejados: o crescimento econômico.
O modelo de desenvolvimento do capital sob a hegemonia neoliberal tem se materializado em uma política educacional voltada para a adaptação da educação às necessidades do mercado, através de estratégias de conformação da escola e de seus profissionais à nova ordem desigual.
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O BANCO MUNDIAL E A TEORIA DO
CAPITAL HUMANO
O Banco Mundial defende a teoria do Capital Humano, isto é, postula que a educação é um meio de ascensão social e de elevação de renda, tanto no plano individual, quanto nacional. A educação é vista como instrumento fundamental para a promoção do crescimento econômico e redução da pobreza. Para alcançar estes objetivos, o Banco Mundial apresenta propostas de reformulação do sistema educacional para os países do Terceiro Mundo, entendendo que a educação deve ter como meta a criação de condições para o desenvolvimento econômico dos países. Assim, no Brasil, o Banco define alguns fatores responsáveis pela ineficiência da educação: falta de livros didáticos; prática dos professores ineficiente; gestão deficiente. Por conta desse diagnóstico, são traçadas linhas de ações prioritárias: providenciar material didático; ensinar técnicas de ensino aos professores; melhorar gerenciamento. 
A importância do Banco Mundial nos países do terceiro mundo não é apenas pela quantidade de dinheiro que empresta aos países, mas principalmente pela atuação estratégica que vem desempenhando no processo de reestruturação neoliberal junto dos países em desenvolvimento, por meio de políticas de ajuste estrutural.
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SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
Na atual etapa do processo de acumulação capitalista ganha corpo uma nova leitura da sociedade contemporânea. De acordo com essa leitura, a evolução das sociedades se deu da seguinte forma: primeiro passou-se de uma economia agrícola para uma economia industrial e, atualmente, vive-se a passagem dessa economia industrial para a “economia do conhecimento”. “Uma economia onde a criação e uso do conhecimento são os aspectos centrais das decisões e do crescimento econômico”. Acredita-se que a capacidade de criar novos mercados, criar novos produtos e, principalmente, inovar é competência indispensável para essa nova economia. 
O ponto central dessa nova forma de ver a sociedade é o conhecimento, compreendido como fator que vitaliza a sociedade do ponto de vista econômico, social e político. Conceitos como posse de terra, posse de capital e exploração dos trabalhadores perdem sentido nessa visão.
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SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
Para alguns de seus defensores, a sociedade do conhecimento é o momento em que o sistema capitalista é superado. A sociedade do conhecimento é também denominada de sociedade pós-industrial.Para essa corrente de pensamento, o conhecimento é a nova maneira de possibilitar a acumulação de capital. É o saber que é visto como a força da produção e o elemento capaz de gerar riqueza para quem o possui. A economia da nossa sociedade é baseada em conhecimento. Isso significa que o eixo da riqueza e do desenvolvimento passa a se deslocar de setores industriais tradicionais (intensivos em mão-de-obra, matéria-prima e capital) para setores cujos produtos, processos e serviços são intensivos em tecnologia e conhecimento. Mesmo na agricultura e na indústria de bens de consumo e de capital, a competição é cada vez mais baseada na capacidade de transformar informação em conhecimento e conhecimento em decisões e ações de negócio. O valor dos produtos depende cada vez mais do percentual de inovação, tecnologia e inteligência, a eles incorporadas 
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DESCONSTRUINDO OS ARGUMENTOS
Partimos, no âmbito desta disciplina, da compreensão de que não vivemos o fim da sociedade capitalista. As transformações que os adeptos da sociedade do conhecimento identificam na sociedade atual não inauguram nem uma sociedade, nem práticas econômicas novas. Correspondem apenas a uma resposta do capitalismo à crise do fordismo. Trata-se de uma realidade que, apesar de guardar novos contornos e formas específicas, mantém a essência mesma do capitalismo: a acumulação e a apropriação privada dos frutos do trabalho. Na atualidade do capitalismo, bem como na sua origem, estão presentes na produção relações sociais que estabelecem a exploração do trabalho pelo capital (extração de mais-valia). Agora como antes, a categoria trabalho (e não o conhecimento) é central para explicar a sociedade produtora de mercadorias e, sobretudo, a vida humana.
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DESCONSTRUINDO OS ARGUMENTOS
As dimensões que os adeptos da sociedade do conhecimento identificam na nossa atual sociedade são apenas os caminhos que o capital vai traçando em seu processo de valorização e acumulação. Já estudamos essas mudanças, sempre no quadro do capitalismo. 
Convivemos com uma profunda modificação nas relações de trabalho e de produção. Esse é um momento de reestruturação produtiva e que tem com base o sistema de organização do trabalho toyotista. Está sendo construído um novo padrão de acumulação: o flexível, que não introduz mudanças estruturais. Dessa forma: 
o toyotismo não constitui uma organização do trabalho pós-capitalista
no toyotismo a subjetividade operária é colocada a serviço do processo de acumulação capitalista 
o toyotismo não traz relações mais democráticas na empresa 
o toyotismo amplia a exploração do trabalhador
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SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E A ESCOLA
Os adeptos da sociedade do conhecimento defendem a construção de uma nova escola para uma nova sociedade. O Banco Mundial defende essa abordagem, que não entra em contradição com a teoria do capital humano. As recomendações têm a mesma natureza: articular essa nova escola às exigências da economia. A escola passa a ser vista como um espaço onde se deve ensinar ao aluno aprender a aprender, além de desenvolver as competências. Para os que defendem a sociedade do conhecimento a gestão da escola deve ficar focada na busca da eficiência e da redução de custos. Deve-se buscar maior capacidade de produção com o menor custo. Ou seja, formar mais e melhor gastando menos, racionalizando os custos.
Acreditam que os trabalhadores devem abandonar a perspectiva de trabalho seguro e estável, devendo investir no desenvolvimento do seu potencial de adaptabilidade e de empregabilidade. Que os trabalhadores devem se voltar para a maximização das suas competências cognitivas, pois cada um deles irá produzirá mais na razão direta de sua maior capacidade de aprender a aprender.
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SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E A ESCOLA
O objetivo desta pedagogia do aprender a aprender é consolidar as novas bases da hegemonia burguesa, legitimando o consenso e a conformação das classes trabalhadoras. 
Assim, à escola foi atribuída a função de formar e conformar o novo tipo de homem exigido pelo projeto neoliberal, através de uma “pedagogia do aprender a aprender”. Longe de propor uma formação humanística que tenha por objetivo a construção de um ser humano em seu sentido amplo, a classe dominante defende uma pedagogia centrada na “qualidade”, buscando a racionalização e otimização do trabalho. A formação do trabalhador nesta proposta tem uma íntima ligação com o mercado e procura ajustar o trabalhador às suas novas demandas. Essa formação é vista como necessária e urgente, recaindo sobre ela a responsabilidade de desenvolvimento do país e sua competitividade no mundo globalizado. 
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SÍNTESE
Essas 3 visões têm o mesmo objetivo: ocultar o papel reprodutor da escola capitalista e legitimar a ordem social e econômica burguesa. O importante é desmascarar essa ideologia e lutar pela divulgação de uma visão crítica da escola e de seu papel econômico. Cabe mostrar que a escola não tem um papel econômico direto. Ao contrário, é a sociedade e a economia que determinam o tipo de escola que temos. 
Mas a escola tem uma dimensão política importante. Como educadores comprometidos com o processo de transformação social, importa lutar por uma educação democrática, inclusiva e integral, capaz de formar cidadãos críticos e autônomos. Importa oferecer aos trabalhadores uma formação integral, que incorpore as dimensões técnica, científica e política. Importa formar indivíduos conscientes de seu papel político na sociedade e capazes de lutar por seus interesses. Capazes de lutar por políticas de educação, emprego e renda mais justas, por uma sociedade menos desigual, onde todos tenham voz e vez. 
Nessa proposta de educação transformadora, dois importantes conceitos do marxismo podem contribuir: o trabalho como princípio educativo e o de formação omnilateral
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O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO
Apesar de ter sofrido transformações, o trabalho ainda mantém a centralidade e é ontologicamente decisivo no processo de formação e circulação de bens e riquezas materiais e/ou imateriais e na nossa condição de humanidade.
As mudanças na natureza do trabalho, na apropriação dos instrumentos e das relações de trabalho constituem a diversidade histórica do trabalho. Essa diversidade denuncia os processos de exploração do trabalho e do trabalhador, mas não tira a função educacional do trabalho. O trabalho, como atividade fundamental da vida humana, existirá enquanto existirmos. O que muda é a natureza do trabalho, as formas de trabalhar, os instrumentos de trabalho, as formas de apropriação do produto do trabalho, as relações de trabalho e de produção.
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TRABALHO E ALIENAÇÃO
Vimos como as sociedades comunais primitivas, as sociedades agrícolas e as sociedades escravistas foram marcadas pela centralidade histórica do trabalho. De uma sociedade sem propriedade privada e baseada no trabalho coletivo, a humanidade passou a experimentar relações de exploração do trabalho alheio, associada à propriedade privada de bens produzidos pelo trabalho.
Neste processo histórico de socialização, aconteceram transformações e alguns homens se apoderaram da força de trabalho de outros homens, dando origem à face alienada do trabalho: foi assim no escravismo, na servidão e é assim atualmente, no capitalismo. Esta alienação tem um caráter duplo: exploração do trabalho alheio que gerava riqueza, riqueza que era alienada ao trabalhador.
Essa alienação acontece, na atualidade, como fruto do modelo econômico hegemônico, no qual o mercado e não o ser humano é elo entre as relações sociais. No sistema capitalista, a centralidade está no lucro e na multiplicação de capitais. 
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O TRABALHO E SUA DIMENSÃO HUMANA
Mas o trabalho não possui somente esta face alienante. O sistema ou modo de produção que o utiliza e como o utiliza, é que pode tornar sua prática alienante. 
Em outras palavras, no sistema de acumulação capitalista, o trabalhador foi alienado dos meios de produção que um dia pertenceram a ele. Assim, o trabalhador foi alienado destes recursos, não por obra do trabalho, mas por imposição do modo de produzir injusto.
Mas o trabalho ao mesmo tempo em que é exercido de forma alienada, ele também pode ser libertador, uma vez que só por ele conseguimos gerar bens (materiais e imateriais) e imprimir valor a estes bens. Independente de qualquer questão, não podemos esquecer a sua dimensão humana. Alienado ou não, o trabalho é uma característica humana.
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O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO
É fundamental entender que o trabalho ao gerar bens, deixa as marcas humanas naquilo que foi produzido. Isso gera ensinamentos e aprendizagens, uma vez que, gerações podem repetir ou aprimorar o produzido. Neste processo que envolve dialeticamente, trabalho, humanização, aprendizado, e saberes, o trabalho ganha um outro sentido: o seu caráter educativo. 
Assim, o trabalho tem sido visto pelo pensamento crítico como um princípio educativo. Entende-se que o trabalho pode contribuir para a educação do trabalhador, contribuindo para que ele possa reconhecer-se no produto de sua obra, aprendendo a se organizar, reivindicar seus direitos, desmistificar ideologias, dominar conteúdos do trabalho, compreender as relações sociais e a função que nela desempenha
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A FORMAÇÃO UNILATERAL
A sociedade e a escola formam, atualmente, o homem unilateral, (aquele que vai aprender parcialmente procedimentos tecnológicos e, passivamente, atender aos interesses do capital) Ao defender uma educação para o trabalho e que só objetiva a inserção no mercado de trabalho, estamos ampliando a dualidade e a exclusão nas práticas educativas. 
A unilateralidade burguesa se revela de diversas formas. Revela-se por meio do desenvolvimento dos indivíduos em direções específicas; pela especialização da formação; pelo desenvolvimento no plano intelectual ou no plano manual; pela internalização de valores burgueses relacionados à competitividade, ao individualismo, egoísmo, etc. Uma formação de pessoas ajustadas ao modelo sócio-produtivo que, na atualidade, apesar da formação técnica/profissional, não terão a garantia do emprego.
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A FORMAÇÃO OMNILATERAL
A formação omnilateral se propõe a romper com a formação do homem limitado e se opõe à formação unilateral, comprometida com o trabalho alienado, com a divisão social do trabalho, e a manutenção das relações de dominação. A formação do sujeito omnilateral supõe a articulação entre educação e trabalho, rompendo com os processos associados à alienação. Alienação que se concretiza na separação e na negação da dimensão educadora existente no trabalho e que cria a dicotomia escola/mundo do trabalho.
O desafio que se coloca para nós educadores, é pensarmos possibilidades de uma educação integrada, que possa romper e superar não só a dualidade sócio-educacional e que, para isso, seja uma prática educacional cidadã, que forme sujeitos ativos, críticos e autônomos.
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O CONCEITO DE OMNILATERALIDADE
O conceito de omnilateralidade se refere à ruptura com o homem limitado da sociedade capitalista. Essa ruptura deve ser ampla e radical, isto é, deve atingir uma gama muito variada de aspectos da formação do ser social, expressando-se nos campos da moral, da ética, do fazer prático, da criação intelectual, artística, da afetividade, da sensibilidade, da emoção, etc. Entretanto,
essa ruptura não implica a compreensão de uma formação de indivíduos geniais, mas de homens que se afirmam historicamente, que se reconhecem mutuamente em sua liberdade e submetem as relações sociais a um controle coletivo, que superam a separação entre trabalho manual e intelectual e, especialmente, superam o individualismo e os preconceitos da vida social burguesa
A omnilateralidade tem como condição a superação do capital, da alienação e da propriedade privada
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A FORMAÇÃO QUE DESEJAMOS
Essa realidade e a incerteza sobre as condições de trabalho nos desafiam, enquanto educadores, a refletir sobre a formação humana desejável para que os trabalhadores possam enfrentar as lutas cotidianas sem separá-las da totalidade histórica de que são sujeitos.
Sabemos que a educação reproduz a realidade. Sabemos também que uma escola verdadeiramente igualitária só é possível em um novo tipo de sociedade. Mas compreendemos que é possível atuar desde já no sentido de construir a sociedade e a escola que estão no horizonte da nossa utopia.
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