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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS UNIDADE IBIRITÉ ADRIANO ALMEIDA RAMOS E GIANE CRISTINA C. PIMENTA DE FARIA REFLEXÕES SOBRE O USO DE ANALOGIAS COMO ELEMENTO FACILITADOR DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, A PARTIR DA ANÁLISE DE UM LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA Ibirité 2015 Adriano Almeida Ramos e Giane Cristina C. Pimenta de Faria REFLEXÕES SOBRE O USO DE ANALOGIAS COMO ELEMENTO FACILITADOR DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, A PARTIR DA ANÁLISE DE UM LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA Monografia apresentada ao curso de Graduação em Letras da Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, como requisito parcial à obtenção do título de graduados em Licenciatura Plena em Letras. Orientadora: Eliane G. Silva Fonseca Ibirité 2015 Monografia intitulada “Reflexões sobre o uso de analogias como elemento facilitador do processo de construção do conhecimento, a partir da análise de um livro didático de língua portuguesa” de autoria dos graduandos Adriano Almeida Ramos e Giane Cristina C. Pimenta de Faria, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores: __________________________________________________________ Prof. Me. Eliane G. Silva Fonseca – UEMG - Orientadora __________________________________________________________ Prof. Me. Alexandre da Silva Ferry – CEFET/MG __________________________________________________________ Prof. Me. Juliana Lopes Melo Ferreira Sabino – UEMG Ibirité, 03 de julho de 2015 Agradecimentos da dupla A Deus, por nos conduzir até aqui com sabedoria, paciência e por nos apontar a direção correta. À Mestre Eliane G. Silva Fonseca, modelo de seriedade no trabalho intelectual, pela orientação apaixonada, paciente e exemplar. Pelos muitos e preciosos ensinamentos e por nos apresentar ao tema: “Analogias”. Aos doutores Cláudio Guilarduci e Mauro Rocha Baptista por permitirem que nossas propostas saíssem do papel para se tornar uma realidade em São João Del Rei e por fomentar em nós a investigação pelo tema escolhido. Ao Mestre Alexandre da Silva Ferry por apreciar nossa pesquisa, permitir que fosse realizada a apresentação no GEMATEC/CEFET-MG, contribuir com sugestões de melhoria e nos honrar com a participação na banca examinadora. À Mestre Juliana Lopes Sabino pelo carinho e por nos prestigiar com a honrosa participação na banca examinadora. Ao Pós-Doutor Ronaldo Luiz Nagem e ao GEMATEC/CEFET-MG que nos recebeu de braços abertos e compartilhou experiências que enriqueceram nossa pesquisa. A todos os professores da UEMG, ainda que estejam em outras universidades, pela dedicação ao ensinar-nos os melhores caminhos a serem seguidos e por despertarem em nós o desejo de investigação e de melhorias em sala de aula. Aos teóricos utilizados em nossa pesquisa que permitiram grandes reflexões e contribuições ao longo de nossas leituras. Às bibliotecárias Jane Aparecida Vieira de Moura e Danielle Luciane Aquino Meira Amaral por mostrarem disponibilidade em todos os momentos que precisamos. Esse trabalho só foi possível graças à ajuda de vocês, dos dicionários, dos livros didáticos, teóricos e de tantos outros que vocês nos disponibilizaram. À Escola Municipal do Bairro Morada da Serra por nos ceder espaço para pesquisa e trabalho em diversos momentos, fornecer material didático para análise e permitir que nossos estágios fossem realizados nas dependências da escola, o que evidenciou a motivação do nosso trabalho. Aos colegas da turma, em especial Marli Heloiza dos Reis e Fabiana Gomes dos Santos pelos momentos compartilhados e pelas parcerias nos trabalhos realizados. Agradecimentos Adriano Almeida À Giane Cristina Carmo Pimenta de Faria pela parceria e paciência nos momentos mais difíceis. Obrigado por comprar essa ideia e embarcar nessa jornada que ainda não terminou, pois nos renderá muitos frutos em um futuro muito próximo. Aos professores Benedito de Castro, Irani Aparecida da Silva Resende por me atenderem prontamente durante os estágios curriculares e ao professor Geraldo Magela da Silva, grande amigo e incentivador nessa empreitada enquanto professor de Língua Portuguesa. Aos meus familiares: À minha mãe, Maria de Lourdes Almeida, a maior fã do meu trabalho e que esteve disponível ao longo de todos esses anos e por me apoiar em todas as minhas decisões. À minha querida irmã, Elaine Almeida, por me ouvir nos momentos mais difíceis em que tudo parecia tão perdido e por colaborar com o meu sucesso. Obrigado pelos seus conselhos, carinho e amizade. Ao meu irmão Vando André de Almeida e sua esposa Valdineia da Silva Cardoso de Almeida por entenderem as minhas ausências ao longo desses anos e por apoiarem as minhas decisões. Aos meus sobrinhos, em especial à Joyce Naiara por colaborar com minhas apresentações de trabalho, durante os ensaios e me ouvir pacientemente quando as ideias surgiam. Aos meus queridos amigos, que nos momentos mais difíceis estenderam-me a mão e caminharam lado a lado me apoiando ao longo dessa maravilhosa jornada. Agradecimentos Giane Cristina C.P. de Faria Ao Adriano, pelo altruísmo, pois sabemos que nem sempre é fácil dividir o pensamento e as ideias, e você com boa vontade soube me ouvir em todos momentos. Agradeço experiência maravilhosa de ter conhecido você e chamá-lo de amigo e parceiro de tantas empreitadas. Aos meus queridos mestres, agradeço pelo conhecimento científico ensinado, por me inspirar, aguçar minha criatividade e incentivar a trilhar o caminho do conhecimento. Aos meus familiares: À minha mãe, Nedes Carmo Pimenta, maior incentivadora e exemplo de mulher, mãe e amiga. Ao meu pai, Nestor Pimenta, (in memoriam) sei que se estivesse conosco sentiria um imenso orgulho pois sua filha cumpriu seu desejo. À Ana Clara, filha amada por compreender minha ausência durantes esses anos, por fazer minha vida mais iluminada, é um privilégio ser sua mãe. Pela sua marcante, maravilhosa e silenciosa presença. Ao meu amado esposo Cléber, colaborador, amigo, cúmplice e exemplo de determinação e caráter. Essa conquista também é sua. Aos meus irmãos, Alexandre Carmo Pimenta, Alessandra Carmo Pimenta e Flávio Ferreira, que entenderam minhas ausências e sempre torceram pelo meu sucesso. Aos meus queridos sobrinhos, por serem tão especiais em minha vida. Aos meus amigos e familiares por entenderem que nem sempre pude estar presente, mesmo distantes motivaram-me vencer. “A tarefa não é tanto ver o que ninguém viu, ainda, mas pensar o que ninguém, ainda, pensou sobre algo que todos veem.” Arthur Schopenhauer, 1851. SUMÁRIO I INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 12 1.1 Problematização ......................................................................................................... 13 1.2 Justificativa .................................................................................................................14 1.3 Objetivo Geral ............................................................................................................ 16 1.4 Objetivos Específicos ................................................................................................. 16 1.5 Estruturação da pesquisa ........................................................................................... 17 II REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................ 19 2.1 Referencial Teórico .................................................................................................... 19 2.2 As analogias e a construção da Aprendizagem Significativa ...................................... 26 III METODOLOGIA DA PESQUISA .................................................................................... 30 3.1 Tipo de pesquisa abordada ........................................................................................ 30 3.2 A metodologia de ensino com analogias – MECA ...................................................... 30 3.3 Análise do livro didático. ............................................................................................. 32 3.4 Elaboração de uma MECA. ........................................................................................ 45 IV DISCUSSÃO DE RESULTADOS .................................................................................... 54 V CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 56 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 58 ANEXOS ............................................................................................................................. 62 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Capa do livro Abensonhadas. ........................................................................... 33 FIGURA 2 - Tira Calvin “Reinicialzou”. ................................................................................. 35 FIGURA 3 - Mensagem em rede social. ............................................................................... 36 FIGURA 4 - Tipos de derivação. .......................................................................................... 37 FIGURA 5 - Poema: “As fases da lua”. ................................................................................ 38 FIGURA 6 - Tira Calvin “Sobremesariano”. .......................................................................... 39 FIGURA 7 - Tira Calvin “Esminhocar”. ................................................................................. 40 FIGURA 8 - Tira Calvin “G.R.O.S.S.O” ................................................................................ 41 FIGURA 9 - Tira da Mafalda. ............................................................................................... 42 FIGURA 10 - Atividade de fixação. ...................................................................................... 43 FIGURA 11 - Reportagem atividade 4.................................................................................. 44 FIGURA 12 - Apresentação de banner ................................................................................ 48 FIGURA 13 - Ctrl-v Ctrl-z Ctrl-x ............................................................................................ 49 FIGURA 14 - Gírias de internet ............................................................................................ 50 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CBC Currículo Básico Comum CEFET-MG Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais GEMATEC Grupo de Estudos em Metáforas e Analogias na Tecnologia, na Educação e na Ciência LP Língua Portuguesa MECA Metodologia de Ensino com Analogias PCN Parâmetros Curriculares Nacionais PNLD Programa Nacional do Livro Didático TWA Teaching With Analogies UFSJ Universidade Federal de São João Del Rei ZDP Zona de desenvolvimento proximal RESUMO REFLEXÕES SOBRE O USO DE ANALOGIAS COMO ELEMENTO FACILITADOR DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, A PARTIR DA ANÁLISE DE UM LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA O presente estudo objetiva fomentar o uso de analogias e metáforas no processo de formação de palavras compostas e derivadas, utilizando como apoio o livro didático “Singular & Plural” e a rede social “Facebook”. Nosso intuito é auxiliar educadores na elaboração de artifícios capazes de promover uma aprendizagem significativa em língua portuguesa. Acreditamos nesse processo ligado a uma rede de semelhanças e integrado a uma teia de informações, ou seja, o conhecimento está conectado a pensamentos que nem sempre estão relacionados à norma culta apresentada na escola, mas à vivência social. Logo, a analogia precisa refletir o contexto sociocultural do sujeito e ser verossímil para fazer algum sentido a ele. Nossos estudos assinalam de modo recorrente, o uso do processo análogo para evitar alguma dificuldade de expressão, obter mais clareza, pôr em destaque uma oposição ou semelhança e compreender uma regra antiga ou nova. Assim, para o entendimento eficiente, o indivíduo emprega associações e comparações que nem sempre intencionava dizer, entretanto, pelo uso de analogias, consegue comunicar-se de modo eficiente. Palavras-Chave: Aprendizagem; Língua-Portuguesa; Processo de Formação de Palavras e Analogias. 12 I INTRODUÇÃO A aprendizagem eficaz é uma tendência na educação, de modo geral, e o assunto está em voga entre os estudiosos da área. Muitos pesquisadores têm se debruçado em iniciativas com o propósito de apontar ferramentas capazes de favorecer a construção do conhecimento de forma mais dinâmica e eficiente. Segundo Mortimer (1996, p.34.), “A tentativa de descrever a evolução das ideias dos estudantes como uma mudança de perfil conceitual é, portanto, uma maneira de descrever um conjunto específico de ideias num espaço social bem determinado [...].” A presente pesquisa busca refletir a contribuição do uso de analogias como recurso de mediação e capaz de promover o aprendizado a que nos referimos anteriormente, usando como subsídio os processos relacionados à formação de palavras compostas, derivadas e por neologismos. Alguns estudos apontam que o aprendizado pode ser alcançado por meio de fatores externos ao sujeito e Vygotsky (1989), por exemplo, pautou suas ideias no que chamou de mediação simbólica, que pode colaborar com a aprendizagem significativa sugerida por Ausubel (1982). As teorias de Vygotsky podem ser associadas a outros conceitos, inclusive aos estudos de, Glynn, Cachapuz e Nagem que também se esforçaram para encontrar mecanismos promotores da aprendizagem de modo significativo como a MECA por exemplo. Essas reflexões são aliadas, têm características em comum e colaboram com nossas expectativas, pois os autores citados desenvolveram métodos de aprendizagem, levando em consideração que a aquisição do conhecimento parte daquilo que o aprendiz já sabe, para aquilo que ele ainda não sabe, ou seja, a aprendizagem é externa ao sujeito e para que ocorra de modo eficiente, será necessária uma mediação, como Vygotsky sugeriu. Consideramos as propostas de Vygotsky, que fala sobre a zona de desenvolvimento real, proximal e potencial. Zona de desenvolvimentoProximal: a distância entre o que já se sabe e o que será aprendido. Nesse sentido, a zona proximal de hoje, 13 será a zona real de amanhã. Ao analisarmos esses estudos, convém indicarmos que as analogias, serão absorvidas de modo eficaz, durante o estágio de desenvolvimento proximal do indivíduo, onde está mais propício para o aprendizado mediado. De acordo com Oliveira (1989, p.27), “A relação do indivíduo com o mundo é mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos no interior da vida social”. Essa mediação pode ocorrer por modos distintos, seja pelo uso de analogias, como defenderemos, pela relação entre professor e aluno, como apontou Cachapuz ou pela existência de três fatores relevantes para a aprendizagem significativa, o conhecimento inerente ao sujeito, a disposição para aprender e a motivação para aprender algo em seu benefício, como afirmou o próprio Ausubel, além de Novak e Gowin; Nagem e Moreira. Defendemos o uso do processo análogo para que essa aprendizagem possa ser alcançada e para tal, acreditamos na necessidade de compreender o que são analogias e metáforas, além de refletir sobre o modo que podem ser aplicadas como artifícios capazes de mediar o processo de aprendizagem de maneira eficaz. Assim, nossa pesquisa objetiva identificar como as analogias podem ser usadas para facilitar a aprendizagem significativa. Também intencionamos estudar a possibilidade de se usar a MECA como ferramenta para exploração de uma analogia específica. 1.1 Problematização Ao longo do tempo, estudiosos afirmam que muitos educadores encontram dificuldades no ensino de língua portuguesa. Estudos apontam adversidades na aquisição do conhecimento, no que diz respeito aos processos de formação de palavras, por exemplo. Nesse sentido, alguns professores adotam metodologias julgadas como mais ou menos adequadas a cada tipo de situação. Por vezes, sentem-se frustrados quando não alcançam os resultados esperados. O espaço da sala de aula é diverso, nele se encontram variados 14 tipos de alunos, com necessidades diferentes e existem docentes com dificuldades em atender a essas diferenças. Na opinião de Nagem (2010), vários pesquisadores, ao estudarem a criatividade, afirmam que o uso de analogias são importantes ferramentas nas descobertas científicas. Logo, consideramos necessária uma pesquisa que possa promover a análise sobre o modo como tais métodos interferem na aprendizagem dos sujeitos com o propósito de elaborarmos MECA, coerente com o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e o Currículo Básico Comum (CBC). Assim, percebemos a necessidade da seguinte pergunta de investigação: De que maneira as analogias podem ser utilizadas para tornar o processo de ensino-aprendizagem mais agradável, dinâmico e eficiente para os alunos? 1.2 Justificativa O interesse em trabalhar com o tema Analogias e Metáforas surgiu no ano de 2013, quando durante as aulas de Didática Aplicada do Ensino de Língua Portuguesa (LP), no 4º período do curso de Letras, a professora da disciplina aguçou-nos interesse pelo assunto. Na ocasião, pediu um texto dissertativo sobre as possibilidades do uso de modelos que facilitassem a aprendizagem de determinados conteúdos. A partir daí, buscamos informações e realizamos pesquisas independentes sobre o assunto. Posteriormente, a professora em questão, convidou-nos para a inscrição de um artigo científico com essa temática em um Congresso Internacional na Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ). O trabalho foi escrito, aceito e publicado nos Anais do Evento, em novembro de 2013, onde tivemos a oportunidade de refletir as contribuições das analogias nas aulas de LP e nos reunirmos com outros estudiosos da área, que também meditaram acerca do trabalho apresentado e contribuíram com suas considerações sobre os processos análogos e as pesquisas que já haviam sido desenvolvidas sobre a temática em questão. 15 Aquele encontro acentuou nossa curiosidade e percebemos que havia necessidade de ampliar a reflexão sobre o tema. A partir da realização do estágio curricular obrigatório, no segundo semestre de 2013, observamos as dificuldades de alguns professores em lidar com diferenças em sala de aula e encontrar metodologias eficientes para o ensino de LP, ao trabalhar em processo de formação de palavras, por exemplo. Por meio de conversas informais, os docentes disseram que encontram dificuldades em lidar com as diferenças no espaço escolar e em selecionar metodologias capazes de atender a essas adversidades. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), essa dificuldade em lidar com diferenças e em valorizar a realidade dos alunos foi percebida desde os anos 1980 e é considerada uma crítica ao ensino tradicional. Através das leituras realizadas, identificamos que as analogias estão presentes no cotidiano e são estudadas há muitos anos, conforme a opinião de autores pesquisados. Glynn (1991), por exemplo, indica estudos futuros no que diz respeito à necessidade de mais investigação sobre formas de facilitar o raciocínio analógico para os estudantes. Para o autor, há necessidade de mais informações, a respeito do uso de analogias e como elas podem ser adaptadas de modo produtivo, ao processo de ensino e de aprendizagem. Nesse sentido, nossa proposta pode ser considerada uma aliada ao processo de aprendizagem significativa, pois durante a seleção de material bibliográfico identificamos que os pesquisadores da área defendem o uso sistemático de analogias enquanto métodos facilitadores do aprendizado em diversas áreas: na química, matemática, ciências, biologia e sociologia, por exemplo. Porém, notamos que os autores em questão, possuem pouco material análogo voltado para o ensino de LP em sala de aula, ainda que defendam o seu uso. Esse cenário serviu para impulsionar o trabalho pretendido, uma vez que não foram encontradas MECA1 que pudessem ser utilizadas no contexto da sala de 1Metodologia de Ensino com Analogias 16 aula, em particular no que diz respeito aos processos de formação de palavras, objeto de nossa pretensão. Tal fato foi analisado e considerado, pois daí, parte a relevância e a pertinência na escolha do tema, que poderá colaborar de modo eficiente com o meio acadêmico e científico. Pensando nisso, decidimos trabalhar com o assunto e cogitamos propor recursos de mediação do processo de ensino - aprendizagem. Logo, a analogia passou a fazer sentido para esse processo, pois vislumbramos novas possibilidades capazes de promover aulas mais dinâmicas e que considerem a realidade dos alunos, tendo como foco o processo de formação de palavras compostas por neologismos. 1.3 Objetivo Geral Estudar uma estratégia de ensino baseada em analogias que possa ser utilizada por educadores, a fim de promover a construção da aprendizagem significativa no que diz respeito ao processo de formação de palavras compostas e derivadas, na LP. 1.4 Objetivos Específicos Analisar o conteúdo referente às analogias do capítulo 1 da unidade 1 – Língua e Linguagem do livro Singular & Plural de 9º Ano do Ensino Fundamental, amparado pelos modelos estabelecidos pelos CBC 2005 e pelo PNLD 2014; Selecionar analogias possíveis para aprendizagem eficaz, apoiadas na reflexão dos teóricos aqui discutidos e tomando como base a leitura do livro didático em questão. Para alcançarmos nossos objetivos, serão necessárias algumas etapas, conforme a seguir: (1) Levantamento da leiturade produções que abordam os temas analogias, modelos e metáforas; (2) Reflexão sobre o modo como as teorias pesquisadas podem contribuir com os processos de ensino- aprendizagem; 17 1.5 Estruturação da pesquisa Este trabalho foi estruturado em cinco capítulos, sendo que o primeiro deles é dedicado à problematização, justificativa e objetivos da pesquisa, além do caminho intencionado para o alcance dos resultados esperados. No segundo capítulo, apresenta-se a revisão de literatura e os teóricos utilizados ao longo da pesquisa. Busca-se refletir teorias que contribuam com nossos objetivos, uma vez que autores como Ausubel, Glynn, Vygotsky e Nagem discutiram o modo como a aprendizagem ocorre nos sujeitos e propuseram mecanismos que facilitassem esse processo. Posteriormente, são apresentadas algumas definições a respeito das analogias, bem como suas vantagens e desvantagens enquanto recursos didáticos. A metodologia da pesquisa, apresentada no terceiro capítulo, retoma as teorias selecionadas e permite a verificação das analogias enquanto aliadas das propostas do livro didático Singular & Plural, de 9° Ano do Ensino Fundamental. É analisada uma unidade do livro em questão, com foco nos processos de formações de palavras compostas e derivadas, no intuito de examinar o modo como esse material lida com analogias e formação de palavras em sua composição. Em seguida, sugere-se uma metodologia de ensino que possa ser apreciada em sala de aula, considerando a realidade em que os alunos estão inseridos. Neste capítulo, aponta-se o uso de analogias entre a rede social “Facebook” e a formação de palavras para promover a aprendizagem. Posteriormente, elabora-se um quadro comparativo com diferenças e semelhanças entre a formação de palavras compostas por neologismos e a rede social em questão para que seja iniciada a discussão dos resultados. O quarto capítulo objetiva a apresentação e discussão dos resultados obtidos com a pesquisa e por meio dele, realiza-se um resgate da análise do livro Singular & Plural. Neste capítulo, também apontam-se melhorias para os conteúdos abordados no livro. 18 A pesquisa encerra-se por meio das considerações finais mostradas no quinto capítulo, onde são explicitadas as reflexões e aprendizados alcançados ao longo do trabalho e são apontadas novas perspectivas. Também, verifica-se no último capítulo que os objetivos foram alcançados, todavia as possibilidades de continuidade dos estudos estão em aberto, uma vez que não foram esgotadas. 19 II REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Referencial Teórico De acordo com os PCN (1997) de LP, “as situações didáticas têm como objetivo levar os alunos a pensar sobre a linguagem, para poder compreendê- la e utilizá-la apropriadamente às situações e aos propósitos definidos.” Para o CBC (2005), uma das competências que deve ser trabalhada na escola é, “Mostrar uma atitude crítica e ética no que diz respeito ao uso da língua como instrumento de comunicação social.” O PNLD (2014) por sua vez afirma, (...) a metodologia é transmissiva quando a proposta de ensino acredita que a aprendizagem de um determinado conteúdo deve dar- se como assimilação, pelo aluno, de informações, noções e conceitos, organizados logicamente pelo professor e/ou pelos materiais didáticos adotados. (...) Bons resultados nesse tipo de abordagem exigem uma organização rigorosamente lógica da matéria e, sobretudo, uma adequada transposição didática de informações, noções e conceitos que leve em conta o patamar de conhecimentos e as possibilidades dos alunos. (PNLD, 2014, p. 24) No intuito de tornar o tema escolhido mais próximo dos nossos objetivos, recorremos a estudos relativos à psicologia, ciências, analogias, entre outros, em favor da construção da aprendizagem e consideramos necessário apresentar algumas exposições indicadas por estudiosos das áreas citadas. Dreistadt (1968) citado por Fonseca (2011, p.67), por exemplo, apontou que, “(...) as analogias são realmente ferramentas indispensáveis para o progresso científico”. O estudioso justificou suas afirmações assegurando que as analogias e metáforas são constantemente utilizadas por psicólogos ao estudar a criatividade. Suas teorias concordam com os estudos de Harrison e Treagust (1994) que apontam o uso de analogias e metáforas como métodos eficazes na aprendizagem e ensino de ciência. Nagem (1997) citado por Pádua (2003, p.18) considerou que o uso de analogias “envolve intensas e frequentes construções representacionais imagísticas, resultando em substancial economia do processamento cognitivo.” 20 Duit (1991) citado por Pádua (2003), descreveu as analogias como comparação de estruturas ou relações entre dois campos. Glynn (1989) por sua vez, desenvolveu o que chamou de Teaching With Analogies2 (TWA) para usar as analogias enquanto recursos de ensino. Nesse sentido, julgamos necessário recorrer ao conceito de analogia para expandir nossas reflexões a respeito do tema proposto. De acordo com Santos, citado por Nagem e Fonseca, (...). Significam respectivamente: “Ana = de acordo com, segundo”. Logos= razão. Portanto, segundo uma razão. No sentido original (empregado pelos gregos): proporcional. Meta = mudar. Pherein = carregar, portar. A junção dos dois étimos era compreendida pelos gregos como significando transferir ou transportar”. Duit (1991, p.651) diferencia analogias de metáforas da seguinte forma: “(...) uma analogia compara explicitamente as estruturas de dois domínios: ela indica semelhança ou identidade de partes das estruturas. Uma metáfora, por sua vez, compara implicitamente, destacando características ou qualidades relacionais que não coincidem em dois domínios. Tomadas literalmente, as metáforas são simplesmente falsas. (NAGEM E FONSECA, 2010 p.4) Analogias tornaram-se motivo de interesse, de modo geral e em particular, na área da educação, pois podem ser consideradas como metodologias aliadas às boas práticas de ensino-aprendizagem em sala de aula. Glynn (1991) considera que a argumentação analógica é necessária nas descobertas científicas, na percepção e explicação. Tais processos precisam considerar dois elementos fundamentais dessa relação, o professor e o aluno. Esse raciocínio é considerado por Cachapuz, ao afirmar, (...) analogias e metáforas podem bem ser uma necessidade epistemológica já que, em conjunto com a imagética que lhes está associada, podem constituir poderosos instrumentos de ajuda cognitiva e, nesse sentido, importantes mediadores da aprendizagem dos alunos. (CACHAPUZ, 1989, p. 123) As ideias de Cachapuz estão alinhadas às propostas de Vygotsky (1989). Para o estudioso, o desenvolvimento humano necessita de outras interações externas ao aprendiz, a que Vygotsky chamou de mediação, processo pelo qual a construção do conhecimento ocorre através de uma interação mediada 2Ensinando com Analogias. 21 por outras relações. Nesse sentido, o conhecimento é construído por uma intermediação feita por outros sujeitos. Oliveira (1989, p. 27), por exemplo, considera, “A relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas sim, uma relação mediada por instrumentos.” Isso significa que a analogia proposta precisa refletir o domínio do professor sobre determinado conteúdo e a correspondência que o aluno deve ter entre o que se ensina e a sua realidade, ou seja, o professor deve definirseus objetivos, compreender as necessidades dos aprendizes e escolher metodologias adequadas a cada tipo de situação, conforme apontam Fonseca e Nagem (2010). Lakoff e Johnson (2009) consideram que os conceitos metafóricos podem proporcionar uma compreensão parcial do que é comunicação. Nesse sentido, a metáfora pode ser compreendida de maneira diferente para cada pessoa, levando em consideração o meio cultural em que está inserida. Glynn (1991) afirma que as analogias são tão utilizadas quanto as metáforas, porém o uso ocorre em diferentes situações, pois enquanto as analogias são mais usadas na explicação de conceitos científicos, as metáforas são mais utilizadas em contextos literários e na formação de conceitos. Essa linha de pensamento merece reflexão, pois se a analogia não for entendida pelos alunos, poderá ocasionar problemas, como afirma Brown (1989), citado por Faria e Ramos (2013, p.1803), “se o estudante não aceita a analogia, o professor esforça-se para encontrar uma “bridging analogy”3 (ou várias “bridging analogies”4) conceitualmente intermediárias entre a ideia-alvo e a âncora.” Ou seja, o docente não pode se engessar em uma estratégia acreditando que ela funcionará de modo eficiente para todos os perfis de alunos, como afirmam os autores. 3Ponte analógica; 4Pontes analógicas. 22 Essa abordagem identifica que dentro do contexto análogo caberá ao educador propor métodos que auxiliem seus alunos na compreensão de certas questões. Magalhães e Silva lembram as habilidades necessárias aos docentes e os contextualiza na modernidade, Esse professor do século XXI não detém seu conhecimento para uso próprio, ele media o diálogo entre as vivências e experiências do seu aluno (Subsunçores) com o fator que gerará o conhecimento a ele necessário (Aprendizagem Significativa), como os valores éticos de solidariedade, preservação do meio ambiente e diálogo. (MAGALHÃES e SILVA, 2013, p. 1251) Esse pensamento reforça os estudos de Vygotsky (1989) no que diz respeito à mediação simbólica. Nesse sentido, é preciso uma relação de proximidade que possibilite ao aluno, inclusive, que possa contribuir ou até mesmo, melhorar a analogia sugerida pelo educador. Glynn (1991) indica contribuições do uso de analogias nas relações de aprendizagem. Para o autor, uma relação analógica é poderosa porque há uma relação associativa entre conceitos prévios e a criação de novos conceitos após a comparação realizada. Isso significa que ao elaborar o novo conceito, o aluno reforçará o conhecimento adquirido por meio da analogia. Para (Ausubel, 1980, p. 6). “O mais importante fator isolado que influencia a aprendizagem é o que o aprendiz já sabe. Determine isto e ensine-o de acordo”. Segundo o PCN de língua portuguesa (1997, p.37), “Considerar o conhecimento prévio do aluno é um princípio didático para todo professor que pretende ensinar procedimentos de revisão (...).” Para o PNLD (2014, p.24) “(...) o tratamento didático dado a um conteúdo curricular é vivencial quando investe na ideia de que o aluno o aprende vivenciando situações escolares em que esse conteúdo está envolvido.” Isso significa que o conhecimento é conquistado a partir do que o aluno já sabe e o professor servirá como ponte entre o conhecido e o novo. Essa afirmativa corrobora com a proposta do PCN ao afirmar, Em se tratando da área de Língua Portuguesa, o professor também terá outro papel fundamental: o de modelo. Além de ser aquele que 23 ensina os conteúdos, é alguém que pode ensinar o valor que a língua tem, demonstrando o valor que tem para si. (PCN, 1997, p. 38) Glynn (1991) cita Robert Oppenheimer (1956) ao afirmar que a analogia é indispensável e inevitável ferramenta para o progresso da ciência. O estudioso pondera, In all its forms, science text plays a vital role in the instruction of science. In elementary school, high school, and college, students rely heavily on text for much of the science knowledge and skill they must learn. Comprehending the concepts in a science text can be difficult for a student. To facilitate students meaningful comprehension of science text, teachers and text authors must help students relate new concepts to concepts with which they are already familiar.5 (BRITTON; GLYNN E MUTH. V.2, p. 215-223,1990) As teorias analisadas também levam em consideração que as analogias não podem ser consideradas como a solução de todos os problemas em sala de aula. Nagem (2002), por exemplo, recorre à história para afirmar que as analogias nem sempre foram observadas de modo benevolente. O autor é assertivo ao afirmar que, O uso de analogias e de metáforas, como mediadores no processo de ensino e de aprendizagem, foi muito criticado nas últimas décadas. Alguns educadores as consideram frívolas, desnecessárias e apenas servem como muletas para mentes preguiçosas. Entretanto, essa visão radical está sendo revista e considerada equivocada por pesquisas e teorizações realizadas nos últimos 20 anos. (NAGEM, 2002, p. 02) As considerações de Nagem (2002) evidenciam que a analogia não deve ser pensada como algo milagroso e fomentador da aprendizagem significativa proposta por Ausubel (1968), mas como uma metodologia que se adequada à realidade vivenciada pelos alunos e a outros métodos. Poderá auxiliá-los nesse processo e conduzi-los ao entendimento de determinado conteúdo ou situação que ainda não está clara o bastante. 5Em todas as suas formas, textos científicos desempenham um papel vital na instrução da ciência. Na escola primária, no ensino médio, e na faculdade, os alunos dependem fortemente de textos para grande parte do conhecimento científico e da habilidade que eles devem aprender. Compreender os conceitos em um texto científico pode ser difícil para um estudante. Para facilitar aos alunos a compreensão significativa desses textos, professores e autores devem ajudar os alunos a relacionar novos conceitos por meio de conceitos com os quais eles já estão familiarizados. 24 Para reforçar as ideias acima, recorremos aos estudos de Ferry (2008, p.01 v. 3 (1), p.7-21), pois o autor apresenta, por meio de contra-analogias uma ferramenta auxiliar que pode evitar certas barreiras, usualmente encontradas no uso deste artifício. Para ele, "Tomando as contra-analogias como comparações em que se privilegiam as diferenças, há algumas considerações acerca do seu papel na estruturação do conhecimento científico." Isso significa dizer que as analogias devem ser utilizadas de modo coerente e aliadas a outras propostas, como apontamos anteriormente e como defende Ferry (2008). Assim, os estudos de Ausubel (1968) apontam a necessidade de envolver informação e estrutura do conhecimento prévio do indivíduo, de forma interativa, ou seja, para que ocorra a aprendizagem significativa, defendida pelo autor, uma nova informação deverá ser amparada em concepções inerentes ao conhecimento que o aprendiz carrega consigo, como afirmam Fonseca e Nagem (2010). Processo pelo qual, Harrison e Treagust (2006) chamaram de construção pessoal de significado, condizente com a ZDP proposta por Vygotsky. Os autores em questão, também consideraram que o conhecimento prévio é relevante no processo de aprendizagem. Para eles, When people ‘receive’ analogies, they use their past knowledge, experiences and preferences to interpret the analogy so that it harmonises with their current personal and social milieu. In modern terms, this is called the personalconstruction of meaning.6 (HARRISON E TREAGUST, 2006, p.11) Consideramos relevante que a utilização das analogias estabelece renovação do processo pedagógico, pois, representa uma ponte para estruturação dos conceitos apontados anteriormente, além de permitir ao aluno a expansão das competências intelectuais, aguçando sua criatividade. Para Nagem, Carvalhaes e Dias (2001, p.198), “daí a ênfase no desenvolvimento da inteligência dos aprendizes, das estruturas mentais e, na evolução das competências 6Quando as pessoas ‘recebem’ analogias, elas usam seus conhecimentos passados, experiências e preferências para interpretar a analogia para que ela harmonize com o seu ambiente pessoal e social atual. Em termos modernos, isso é chamado de construção pessoal de significado. 25 intelectuais, contextualizadas nos grupos ou individualmente, por meio de linguagens inovadoras.” Para os autores, O desenvolvimento de metodologias inovadoras vem ao encontro do atendimento às necessidades do aprendiz como ser único, singular, diferente, que recorre a diferentes estratégias de aprendizagem e exibe diferentes habilidades ao resolver problemas. (NAGEM, CARVALHAES e DIAS, 2001, p.198) As analogias e as metáforas expressam similaridades de maneiras diferentes. Enquanto a analogia aproxima elementos de diferentes esferas de maneira objetiva, a metáfora compara de modo implícito, enfatizando peculiaridades que não fazem parte das mesmas esferas. Segundo Nagem (2001, p.05), “(...) As analogias e as metáforas podem então, ser vistas como polos e, em princípio, ser transformadas uma na outra. Isto é, as analogias podem ser vistas como metáforas, e vice-versa”. Ao aplicar a analogia é necessário observá-la sobre três aspectos diferentes como explicam Harrison e Treagust (1994, p. 41), “When the analogy is used to develop the concept the concept should be taught in sufficient detail to make the analogy relevant. When the analogy is used as a revision, the concept is fully taught.”7 No que diz respeito à metáfora Lakoff e Johnson consideram, (...) nuestros conceptos estructuram lo que percebimos, cómo nos movemos em el mundo, La manera en que qual nos relacionamos com otras personas. Así que nuestro sistema conceptual desempeña un papel central em nuestras realidades cotidianas. Si estamos em lo cierto al sugerir que nuestro sistema conceptual es em gran medida metafórico, La manera en que pensamos, lo que experimentamos y lo que hacemos cada dia también es em gran medida cosa de metáforas.8 (LAKOFF E JOHSON, 2006, p.39) Nesse sentido, as metáforas estão presentes no nosso dia-a-dia, ainda que sejam imperceptíveis. Por meio delas, são feitas associações que nos ajudam a compreender nosso mundo e o modo como estamos inseridos nele. 7Quando a analogia é usada como um organizador prévio, o conceito alvo é introduzido após a analogia. Quando a analogia é usada para desenvolver o conceito, este deveria ser ensinado com detalhamento suficiente para tornar a analogia relevante. Quando a analogia é usada como uma revisão, o conceito é completamente ensinado. 8Nossos conceitos que estruturam, como percebemos, como nos movemos no mundo, a maneira como nos relacionamos com outras pessoas. Assim nosso sistema conceitual desempenha um papel central em nossas realidades cotidianas. Se estivermos corretos ao sugerir que o nosso sistema conceitual é, em grande parte extensão metafórica, a forma como pensamos, o que sentimos e o que fazemos todos os dias, também é em grande parte uma questão de metáforas. 26 Outro ponto que merece destaque está relacionado às mediações simbólicas percebidas na concepção de Vygotsky, citado por Oliveira. Segundo a autora, A relação do indivíduo com o mundo é mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos no interior da vida social, é enquanto ser social que o homem cria suas formas de ação no mundo e as relações complexas entre suas várias funções psicológicas. Para desenvolver-se plenamente como ser humano o homem necessita, assim dos mecanismos de aprendizado que movimentarão seus processos de desenvolvimento. (OLIVEIRA, 2010, p.80) Desse modo, a mediação simbólica proposta por Vygotsky dialoga com as analogias que podem ser instrumentos facilitadores do processo de ensino e aprendizagem, pensando no desenvolvimento do indivíduo como resultado de interações sociais. Para Fonseca (2011, p. 44), “O instrumento, neste sentido, é então provocador de mudanças externas, pois amplia as possibilidades de intervenções na natureza.” 2.2 As analogias e a construção da Aprendizagem Significativa Visando alcançar os resultados esperados, aliamos nossas reflexões ao pensamento de Ausubel, pois o estudioso apresenta mecanismos capazes de evitar que os aprendizes sejam meros observadores de suas experiências de aprendizagem. Para Ausubel (1978), Citado por Moreira (2006, p.38) “a aprendizagem significativa receptiva não é um processo cognitivo passivo”. Para que esse método seja bem sucedido são necessários outros fatores, como defendem o próprio Ausubel (1980) e seus colaboradores, Novak e Gowin (1999) e Moreira (2006). Os autores consideram a combinação de três elementos para que a aprendizagem seja, de fato, significativa: o conhecimento prévio; a predisposição do indivíduo para aprender e a motivação que ele tem para aprender algo em benefício próprio. Nesse sentido, consideramos necessário relacionar nossos estudos ao pensamento de Ausubel que, segundo Moreira (2006), conceituou a 27 aprendizagem significativa do seguinte modo, “(...) é um processo pelo qual uma nova informação se relaciona, de maneira substantiva (não literal) e não arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura cognitiva do indivíduo.” Ou seja, o aluno aprenderá um novo conceito, associando-o a conhecimentos adquiridos anteriormente e que estejam relacionados ao que será aprendido, processo análogo pelo qual Ausubel chama de subsunçor. De acordo com Moreira, O resultado da interação que ocorre na aprendizagem significativa, entre o novo material a ser aprendido e a estrutura cognitiva existente é uma assimilação de antigos e novos significados que contribui para a diferenciação dessa estrutura. No processo de assimilação, o mesmo após o aparecimento de novos significados, a relação entre as ideias-âncora e as assimiladas permanecem na estrutura cognitiva. (MOREIRA, 2006, p.28) As ideias propostas anteriormente favorecem as teorias apresentadas por Vygotsky, pois o estudioso defendeu o uso da mediação simbólica na construção do conhecimento. Faria e Ramos relataram uma analogia proposta por Vygotsky, ao afirmarem que, A relação entre o indivíduo e a sociedade é um processo semelhante a um rio e seus afluentes, ou seja, aproxima e separa diversos elementos da vida humana. (...) considerando-o resultado de um processo sócio-histórico, destacando o papel da linguagem nesse desenvolvimento. (FARIA E RAMOS, 2013, p. 1803) Esse raciocínio considera que a interação com o meio em que vivem, transforma os sujeitos e é promotora de conhecimento. De acordo com os estudos de Vygotsky (1989), existe a possibilidade de aprendizagem nas relações humanas, por meio da mediação simbólica. Sua pesquisa é direcionada para a aquisição de conhecimento através da interação entre os sujeitos e o meio, método pelo qual, Vygotsky chamou de mediação. Para ele, as relações mediadas ocorrem quando há a intervenção de algum elemento que funcione, de forma a intermediar uma relação,tornando-a permeada por esse elemento, que o autor chama de interventor. Essas reflexões apontam a necessidade de discutirmos alguns aspectos ligados à teoria apresentada por Vygotsky, tais como os signos, instrumentos e 28 o sistema simbólico, pois o pesquisador afirma que os signos agem de forma análoga e são orientados para o próprio sujeito, além de auxiliá-los em processos psicológicos, o que os diferencia dos instrumentos, externos ao indivíduo. Além disso, Vygotsky (1989) afirmou que os sistemas simbólicos servem para organizar os signos em estruturas articuladas, como explicam Faria e Ramos (2013). Retomando as discussões sobre analogias, em especial ao papel delas, Nagem e Fonseca (2010) reafirmaram o papel das analogias como inovação pedagógica capaz de promover a reestruturação do conhecimento através da relação entre os sujeitos. Segundo os autores, (2010, p.10) “(...) a consciência proveniente das práticas sociais como fruto de um processo histórico e a relação homem/mundo são mediadas por sistemas simbólicos.” Para Oliveira, (...) é o conceito de mediação, que nos remete ao terceiro pressuposto Vygotskiano: a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas uma relação mediada, sendo os sistemas simbólicos os elementos intermediários entre o sujeito e o mundo. (OLIVEIRA, 1989, p.33) As considerações acima reforçam as ideias apresentadas até aqui. Entretanto, como mencionamos anteriormente, as analogias não podem ser consideradas como o único método eficiente no processo de ensino-aprendizagem. Os estudos de Ferry, por exemplo, afirmam, (...) Por outro lado, também por causa de tal constatação, apontando para o seu uso inconsciente e irreflexivo, muitos autores discorrem o seu perigo e chegam inclusive a descrever desvantagens e cuidados na utilização de analogias e metáforas como estratégia de ensino. Dentre estas pesquisas, um autor comumente citado como referência para alertar sobre o mau uso de analogias é o epistemólogo francês Gaston Bachelard (1884-1962). (FERRY, 2008, p.10) Isso significa dizer que esse tipo de recurso deve ser utilizado de forma consciente e reflexiva, ou seja, é necessário que haja planejamento com o propósito de evitar deslizes e ineficácia nesse processo, além do uso excessivo do método. Alguns autores acenam para as desvantagens no uso de analogias. Bachelard (1996) citado por Ferry (2008) considerou que os processos que envolvem 29 analogias, “podem induzir a formação ou o reforço de obstáculos, como por exemplo o substancialismo e o animismo.” Ferry (2008) amplia as reflexões de Bachelard (1996, p.93) ao afirmar, “a utilização excessiva de imagens que se acumulam e prejudicam a razão, pois seu lado concreto, apresentado sem prudência, impediria a visão abstrata e nítida dos problemas reais.” Harrison e Treagust (2006); e Glynn (1991) por sua vez, consideram que as analogias são “two-edged swords9”, pois podem apresentar tanto benefícios, quanto malefícios, além do fato do professor não conseguir controlar o modo como o aprendiz entenderá a analogia realizada. O autor afirma, ainda que, Science teachers and textbook writers differ widely in their enthusiasm for analogical explanations: some use many analogies (Harrison, 2001; Harrison & de Jong, 2004); others are wary because they cannot predict how their students or readers will interpret the analogies, they use to teach science (Treagust, Duit, Joslin & Lindauer, 1992; Thiele & Treagust, 1994).10 (HARRISSON e TREAGUST, 2006, p.10) As considerações propostas por Harrison e Treagust fortalecem nossas ideias, pois a partir do momento em que a analogia é realizada, não é possível prever as consequências que ela terá nos alunos. Até mesmo porque o que se pretende é que o aprendiz a assimile e possa melhorá-la, se possível. Entretanto, os autores não desconsideram que no meio científico as analogias são utilizadas, ainda que de forma cautelosa, como mencionaram. Essas afirmações reforçam nosso propósito, visto que por meio do uso da MECA, não intencionamos apresentar uma fórmula que tenha sucesso em todas as situações, como mencionado anteriormente. Nosso foco é estudar uma estratégia de ensino e, além disso, intencionamos provocar a reflexão sobre um assunto em voga na educação, considerando que o método apresenta vantagens e desvantagens, mas que deve ser levado em consideração quando se pensa em estratégias de ensino. 9Espada de dois gumes. 10Os professores de ciências e escritores de livros didáticos diferem amplamente em seu entusiasmo para explicações analógicas: alguns usam muitas analogias (Harrison, 2001; Harrison & de Jong, 2004); outros são cautelosos porque não podem prever como seus estudantes ou leitores vão interpretar as analogias que eles usam para ensinar ciência (Treagust, Duit, Joslin & Lindauer, 1992; Thiele &Treagust, 1994). 30 III METODOLOGIA DA PESQUISA No decorrer deste capítulo, apresentaremos os métodos empregados na pesquisa, além do caminho percorrido na tentativa de alcançar os objetivos propostos anteriormente. Ao falarmos sobre a metodologia, torna-se necessário lembrarmo-nos das contribuições de Lakatos e Marconi (2003), pois as autoras explicam a relevância na escolha do método de trabalho. Para elas, Assim, o método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos e verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. (LAKATOS E MARCONI, 2003, p. 83) 3.1 Tipo de pesquisa abordada Para a realização deste trabalho, escolhemos a pesquisa bibliográfica sugerida por Lakatos e Marconi (2003, p.183), pois as autoras contribuem com nossas reflexões ao considerar, “(...) a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras.” Isso reflete os objetivos da nossa pesquisa e colabora com a construção de nossa metodologia, pois realizamos um estudo bibliográfico, abordando a utilização de metodologia de ensino com analogias. 3.2 A metodologia de ensino com analogias – MECA Como mencionamos anteriormente, Glynn (1989) desenvolveu uma técnica chamada TWA que aborda a analogia enquanto recurso de aprendizagem. Segundo Glynn, The teaching-with-analogies (TWA) model is based on survey of 43 science textbooks and an analogies of the analogies used in those textbooks. The most effective analogies from the standpoint of instructional design were identified. The authors of these analogies performed certain key operations that have been incorporated into a 31 model, which can serve as a guide for teachers and authors of science textbooks.11 (GLYNN, 1991, p. 230) Seguindo a mesma linha de pesquisa, os estudos de Carvalhaes e Nagem (2001), Figueroa, Nagem e Carvalho (2003) apontaram que o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) criou uma equipe com o nome GEMATEC, cujo objetivo é a contribuição com o desenvolvimento de atividades relacionadas ao ensino por meio de analogias e metáforas, sob a coordenação de Nagem. Segundo Nagem, Oliveira e Dias (2001) os estudos realizados pelo GEMATEC proporcionaram o que mais tarde foi chamado de MECA, um tipo de modelo de ensino baseado nas propostas de Glynn, de acordo com estudos realizados por Figueroa, Nagem e Carvalho; e para sua aplicação, são necessários algunspassos a saber: QUADRO 1 1 Área do Conhecimento 2 Assunto 3 Público 4 Veículo 5 Alvo 6 Descrição da Analogia 7 Semelhanças e Diferenças 8 Reflexões 9 Avaliação Fonte: Nagem et AL (2001) O quadro acima foi desenvolvido pelos estudos do GEMATEC e segundo Figueroa, Nagem e Carvalho (2001) a área do conhecimento deve ser definida, pois uma analogia de determinada área pode ser veículo de outra. 11O modelo de ensino com analogias é baseado no levantamento de 43 livros de ciências e uma análise das analogias utilizadas nesses livros didáticos. As analogias mais eficazes do ponto de vista de modelo instrucional foram identificadas. Os autores dessas analogias realizaram certas operações-chaves que foram incorporadas a um modelo que pode servir como um guia para professores e autores de livros didáticos da ciência. 32 Os autores afirmam que o assunto está relacionado ao tema e que a definição do público é necessária, visto que ao elaborar uma analogia, o conhecimento prévio é considerado. Além disso, os autores estabelecem que o veículo é o que torna a analogia correspondente para o público alvo. Realizadas essas escolhas, a MECA apresentada por eles, descreve a analogia em detalhes, além da forma como será utilizada e apresenta; quais são as semelhanças e diferenças entre elas. A partir daí, refletem e discutem sobre a analogia em questão para enfim, avaliarem a compreensão do conceito e nesse caso, os autores apontam que podem ser feitas novas analogias pelos próprios alunos com a finalidade de fortalecer algum entendimento. 3.3 Análise do livro didático. Para a elaboração da metodologia, escolhemos analisar um capítulo de um livro didático de 9º ano do ensino fundamental. A escolha foi feita segundo os critérios estabelecidos pelo PNLD (2014) e optamos pelo livro Singular & Plural – Leitura, produção e estudos de linguagens. O livro é da autoria de Laura de Figueiredo, Marisa Balthasar e Shirley Goulart e possui três cadernos, divididos conforme a seguir: caderno de leitura e produção, com três unidades; caderno de práticas de literatura, com duas unidades; além de um caderno de estudo de língua e linguagem, com três unidades. O livro contém 296 páginas e para a realização desse trabalho, escolhemos analisar o primeiro capítulo da primeira unidade do caderno de estudos de língua e linguagem, pois ele aborda os processos de formação de palavras, objeto de nossa análise. Segundo Glynn, It is common for the teacher’s edition of science textbooks to point out, in the introduction, all of the special features incorporated into design of the text to facilitate students’ comprehension of science concepts. These features include: advance organizers; structured overviews; highlighted concept names; among others. (…). Analogies rarely are mentioned in textbook introductions. This ends to be true even in textbooks is which authors make excellent use analogies. In a number of research studies, analogical reasoning has been shown to facilitate comprehension and problem solving. (…). So, why not promote this 33 valuable aid to comprehension in the introduction to the text?12 (GLYNN, 1991, p. 222) Na opinião do estudioso, os livros didáticos não abordam diretamente o uso de analogias, porém é possível perceber que vários deles apresentam analogias que não são explicadas ou introduzidas de forma a provocar o aprendizado significativo. Nesse sentido, a unidade que escolhemos para análise condiz com essa afirmativa, pois na página 182, a primeira da unidade, encontramos a palavra “abensonhadas” que pode ser considerada como uma analogia, pois o aluno poderá interpretá-la como “abençoada” e “sonhada”, visto que a língua ganha ares de esperança. 12É comum para a edição do professor de livros de ciência, salientar, na introdução, todos os recursos especiais incorporados ao projeto do texto para facilitar a compreensão de conceitos científicos dos alunos. Esses recursos incluem: organizadores avançados; súmulas estruturadas; destacar nomes de conceitos; entre outros. (...) Analogias raramente são mencionados em introduções de livros didáticos. Isso acaba de ser verdade mesmo nos livros didáticos, em que os autores fazem excelentes analogias de uso. Em uma série de estudos de investigação, o raciocínio analógico foi mostrado para facilitar a compreensão e resolução de problemas. (...). Assim, por que não promover esta ajuda valiosa para a compreensão na introdução do texto? Fonte: BALTHASAR, FIGUEIREDO E GOULART, 2012, p.182. FIGURA 1 - Capa do livro Abensonhadas. 34 Entretanto, notamos que as autoras propõem aos alunos que decifrem quais palavras foram utilizadas nesse processo de formação. Essa analogia tem potencial para gerar confusão no entendimento, uma vez que o aprendiz pode encontrar tantas palavras possíveis que não foram pensadas pelas autoras da obra e não condizem com os resultados desejados. Espera-se que o aluno encontre as palavras: “abençoadas” e “sonhadas”. Entretanto, por meio da analogia e de seu conhecimento, ele poderá encontrar outras palavras, como “bem, sonho” e “bem sonhadas”, por exemplo, e isso pode dificultar seu entendimento. Bachelard considera, (...) as metáforas seduzem a razão. São imagens particulares e distantes que, insensivelmente, tornam-se esquemas gerais. Uma psicanálise do conhecimento objetivo deve, pois tentar diluir, senão apagar, essas imagens ingênuas. (...) O perigo das metáforas imediatas para a formação do espírito científico é que nem sempre são imagens passageiras; levam a um pensamento autônomo; tendem a completar-se, a concluir-se no reino das imagens. (...) mesmo quando se quer apagar a imagem, a função da imagem persiste. (BACHELARD,1996, p.97; p.101; p.93) Segundo o autor, esse processo é perigoso uma vez que a imagem construída pelo aluno pode desfavorecer os propósitos do professor ao introduzir o assunto. Seguindo pelo mesmo raciocínio, Glynn (1991) indica que a analogia deve ser explicada de forma correta. Caso contrário, acarretará confusões no entendimento do aluno. O autor afirma que escritores de livros didáticos devem alertar acerca dos perigos no mau uso de analogias. Na página 184, as autoras levantam alguns questionamentos a serem realizados com os aprendizes. Dentre eles, destacamos: “Qualquer um de nós pode formar novas palavras?” De acordo com a proposta do livro, é possível para o aluno interpretar essa pergunta de modo a acreditar que poderá formar novas palavras, tantas quanto quiser, sem levar em consideração que tenham que fazer algum sentido. No que diz respeito à significação de palavras em nossa língua, observadas na página 185, constatamos o uso de uma metáfora para explicar o grupo de palavras pertencentes ao mesmo radical, mostradas no livro didático por meio do termo, “família de palavras”. 35 Essa metáfora pode facilitar o entendimento do conceito apresentado, pois o livro exemplifica essa afirmativa com as palavras: “pedra”, “pedrisco” e “pedregulho”. Realizando a analogia entre a família de palavras e uma estrutura familiar tradicional, a palavra “pedra” seria considerada a “mãe” das demais, levando-se em conta o radical “pedr” presente nas demais variações de “pedra”. Entretanto, esse raciocínio não está presente na apresentação do conceito de palavras pertencentes ao mesmo radical. Sugerimos para as autoras que explicitemde forma mais clara e realizada a associação para esclarecer a compreensão do assunto. A página 187 apresenta os estrangeirismos utilizados na língua portuguesa. Para introduzir o tema, o livro exibe uma “tira” onde são utilizadas as palavras: “delete” e “reinicializou”, conforme mostrado na (FIG.- 2). Por meio do uso de analogias, percebemos que a personagem “Calvin” realiza uma comparação entre si e o computador. Nossa análise evidencia que a analogia selecionada foi bem construída e considerou que embora o aluno desconhecesse as palavras em questão, poderia identificá-las e incorporá-las ao seu repertório lexical, por meio da proposta do dicionário, recomendada pelas autoras. Além disso, o aluno pode comparar as palavras em questão com “apagar” e “recomeçar”, ampliando seu vocabulário. Tais reflexões podem ser comprovadas na imagem a seguir, FIGURA 2 - Tira Calvin “Reinicializou”. Fonte: BALTHASAR; FIGUEIREDO E GOULART, 2012, p.187. Para abordar o tema neologismos as autoras utilizam a rede social “twitter”. Observamos na (FIG- 3) o uso da palavra “brisei” com o sentido de “admirei”. 36 Fonte: BALTHASAR; FIGUEIREDO E GOULART, 2012, p.188. Essa associação é possível para a compreensão do aprendiz, uma vez que o livro didático propõe atividades de busca do sentido da palavra que originou o verbo “brisei”. Segundo o dicionário Aurélio (2013), a palavra “brisa” significa [Fr. brise.] sf. vento brando e fresco; aragem e por meio da analogia utilizada no livro, foi transformada em verbo. Porém, a atividade 3 da página 188 concentra-se nas palavras “vibe” e “show”, cogitando que a primeira não faz parte do léxico da LP e a segunda já está incorporada ao dicionário. Considerando que a proposta do tema é trabalhar com neologismos, a atividade referente a estrangeirismos, poderá confundir o aluno, uma vez que não está claro se tratar de neologismo, estrangeirismo ou gíria. No texto dois, “Intoxicados de informação” as autoras usam as palavras “hiperconectividade”13 e “infoxicação”14 para falar sobre neologismos. No livro Singular & Plural (2012, p.188) as autoras afirmam que, “quando se cria uma palavra ou expressão nova, ou ainda quando se atribui novo sentido a uma palavra, dizemos se tratar de um neologismo.” Essa afirmação condiz com a atividade proposta, pois as autoras pedem aos alunos que atribuam sentido à palavra “hiperconectividade”. Há a possibilidade de os aprendizes inferirem, a partir da leitura do texto e da imagem exposta, atribuindo significado à nova palavra criada. Entretanto, não evidenciamos 13Conexão com várias mídias simultaneamente. 14Intoxicação por informação. FIGURA 3 - Mensagem em rede social. 37 atividades que abordassem a palavra “infoxicação”, analogia com a palavra intoxicação que poderia colaborar com a aprendizagem significativa desejada por Ausubel. De acordo com a proposta do livro Singular & Plural, os processos de formação de palavras por derivação e por composição ocorrem de modos distintos. No primeiro deles, as palavras são formadas por meio de outras palavras, como em “carroça” e “laranjada”, provenientes de “carro” e “laranja”, respectivamente. O segundo caso lida com as palavras que apresentam dois ou mais radicais na formação, como ocorre em “carro-forte e “laranja-pera”, por exemplo. Para estudar esse tema, as autoras definem os conceitos segundo as afirmações mencionadas e para aprofundar o conteúdo, é apresentado um quadro explicativo com os diferentes tipos de derivação, a saber: FIGURA 4 - Tipos de derivação. Fonte: BALTHASAR; FIGUEIREDO E GOULART, 2012, p.191. Para reforçar os conceitos apresentados, as autoras sugerem a leitura do poema “As fases da lua”, conforme a (FIG.- 4) de Sérgio Capparelli (2007), em que são utilizadas metáforas nos processos de formação por derivação de palavras. 38 O livro propõe atividades relacionadas ao poema em questão, considerando os processos de derivação prefixal e sufixal. Porém, na página 192, a atividade 4. (a) pode gerar ambiguidade, pois espera-se que o aluno escreva todas as palavras com sufixos iguais. Nessa perspectiva, o aluno deveria escrever no caderno as palavras “aluada e tabuada”; “luneta e opereta”. Veja o poema a seguir: FIGURA 5 - Poema: “As fases da lua”. Fonte: BALTHASAR; FIGUEIREDO E GOULART, 2012, p.192. Por meio desse tipo de associação, pode-se inferir que a palavra “lunática15” e “gramática16” apresentam o mesmo processo de formação por derivação sufixal. Esse raciocínio, aparentemente incorreto, faz sentido para o aprendiz ao associar as duas palavras, mas essa inferência é arriscada e compromete o 15adj. Influenciada pela lua; aluada. Excêntrica; diz-se de quem tende a divagar ou vive no mundo da lua. 16s.f. Conjunto de princípios que regem o funcionamento de uma língua. 39 entendimento do conceito apresentado, uma vez que a palavra “lunática” é formada por derivação sufixal e a palavra “gramática” é formada por hibridismo. Além disso, o poema apresenta a palavra “lua-de-mel”, formada por justaposição, a qual não foi mencionada na atividade elaborada. Nesse sentido, sugerimos que o professor explique esse processo de formação de modo a introduzir o próximo conteúdo, nesse caso, as palavras compostas. Veja a (FIG.- 6), FIGURA 6 - Tira Calvin “Sobremesariano” Fonte: BALTHASAR; FIGUEIREDO E GOULART, 2012, p.193. Na imagem apresentada, a personagem Calvin usa a palavra “sobremesariano” ao referir-se ao tipo de alimentação preferida. Observamos o uso de um neologismo entre a palavra formada por ele e a palavra “vegetariano”, pois a personagem parte de um conhecimento prévio para construir uma nova palavra. Essa afirmativa condiz com as teorias de Ausubel, ao apontar o processo de aprendizagem significativa. No entanto, a palavra “sobremesariano” deve ser analisada sobre dois aspectos. No primeiro deles, consideramos a sugestão do livro, de que a palavra foi formada por derivação prefixal. No segundo caso, observamos que a nova palavra criada por “Calvin” trata-se de um neologismo, pois de acordo com a explicação dada pelo livro, na página 188, os neologismos são a criação de novas palavras ou expressões; ou ainda, a atribuição de novos sentidos a palavras existentes. Desse modo, as atividades sugeridas na página 193, não contemplaram o neologismo criado por “Calvin”. Se o objetivo é falar sobre a formação de palavras e as atividades propostas possuem mais de um processo, esses 40 deveriam ser abordados. Consideramos ainda que a analogia utilizada colabora com a construção da aprendizagem. Essa página também contempla a atividade 5 (c) que pede aos alunos para criar um novo adjetivo para “sobremesa”, com outras terminações diferentes de “iano”. Recomendamos que essa atividade seja acompanhada de um quadro de sufixos com o propósito de orientar os alunos a realizá-la corretamente. Contudo, reafirmamos nossa posição de que esse processo de formação de palavras também lida com um neologismo e esse conteúdo não é o foco desta página. Inclusive, a atividade enfatiza dois processos de derivação: prefixal e sufixal. Isso ocorre de modo semelhante nas atividades que contemplam o anexo B, “Nas águas do tempo”, de Mia Couto (1996), verificadas na página seguinte, pois observamos o uso de neologismos nas palavras“devagaroso”, “desabandonado”, “um agorinha”, “crepusculando”, “desbengalando” e “musculíneo”; e as atividades as consideraram como novas palavras, porém elas são tratadas apenas como derivação e não mencionam que essas derivações acarretam neologismos. Além disso, também constatamos que a palavra “cabecinhava” está inclusa no texto e não foi considerada na atividade. Ao falar sobre os processos de composição, as autoras explicaram a formação de palavras por justaposição e por aglutinação, presentes na página 195. As explicações condizem com os conceitos mencionados pela Gramática Teoria e Exercícios de Paschoalin e Spadoto (2008), mas na página seguinte, é apresentada a tira Calvin: FIGURA 7 - Tira Calvin “Esminhocar” Fonte: BALTHASAR; FIGUEIREDO E GOULART, 2012, p.196. 41 Notamos que as atividades solicitadas não condizem com os conceitos explicados na página anterior, pois além de abordar a derivação parassintética presente na palavra “esminhocar17”, não está claro se a atividade preocupa-se com o processo de formação de palavras por justaposição, aglutinação ou neologismo, por exemplo. Ou seja, é possível que o aluno realize tantas inferências, quanto quiser ou julgar convenientes. Indicamos que os conteúdos apresentados, nesse caso, a justaposição e a aglutinação, fossem trabalhados logo em seguida à explicação do conceito, até mesmo porque não identificamos atividades que abordassem esse tema na página que lida com o assunto. No que diz respeito ao processo de formação de palavras por redução, as autoras apresentam a tira abaixo, FIGURA 8 - Tira Calvin “G.R.O.S.S.O”. Fonte: BALTHASAR; FIGUEIREDO E GOULART, 2012, p.190. As atividades relacionadas à (FIG.- 8) estão contidas na página 199 e se referem à palavra “G.R.O.S.S.O.” que de acordo com o livro, pode apresentar um significado qualquer. Essa perspectiva é delicada, pois o aluno poderá atribuir vários significados a essa palavra reduzida, incluindo o adjetivo “grosso”. Segundo Nagem, Figueroa, Silva e Carvalho, Podemos observar que as analogias tornam-se “perigosas” a partir do momento em que não se sabe quem as utiliza como recurso didático, quais metáforas e analogias são usadas. Se não forem utilizadas de maneira adequada, poderá ocorrer uma substituição ou desvio do real sentido do conteúdo ensinado, levando a um erro de entendimento e de compreensão. (NAGEM, et al, 2002, p.8) 17Esmagar minhocas. 42 Seguindo o raciocínio apresentado pelos autores, os alunos interpretariam a sigla “G.R.O.S.S.O.” do modo que bem entendessem, fugindo dos propósitos do livro didático e do professor. As autoras do livro Singular & Plural propõem 6 atividades de revisão. A primeira delas é apresentada pela figura a seguir: FIGURA 9 - Tira da Mafalda. Fonte: BALTHASAR; FIGUEIREDO E GOULART, 2012, p.200. O capítulo sugere atividades relacionadas à formação de palavras por neologismos apresentando a palavra “ofertorial”. O neologismo elaborado serve para impulsionar a construção do significado desse termo, entretanto a atividade da letra d) I. sugere que o aluno associe a última frase da tira: “Alguma insuficiência nas glândulas do sistema ofertorial?” a uma das esferas a seguir, “publicitária”, “médica”, “jurídica” e “escolar”. Essa perspectiva leva o aluno a várias interpretações, pois associando o termo à esfera publicitária, pode-se pensar que a personagem “Susanita” faz uma propaganda de balas, por exemplo. Ao associá-lo à esfera jurídica, há a possibilidade de que haja algum problema com as leis, se apreciar apenas a palavra “sistema”, o que mostra o perigo do uso da analogia sem uma reflexão direcionada a ela. Caso o aluno escolha a esfera escolar, poderá comparar com alguma atividade do ensino de ciências, pois ao focar na palavra “glândula”, acessará conhecimentos da área do ensino de ciências, fugindo da proposta de associação com a área médica. 43 Esse raciocínio não estaria incorreto, embora a disciplina escolar ciência e a medicina pertençam a diferentes campos; por outro lado se o aluno escolher a esfera médica, terá acertado a questão, pois o livro espera que ele tenha conhecimento prévio relacionado à área médica. Com relação à formação de palavras por derivação e composição, observamos que o capítulo contém apenas uma atividade de fixação, a saber: FIGURA 10 - Atividade de fixação. Fonte: BALTHASAR; FIGUEIREDO E GOULART, 2012, p.201. Ao analisarmos essa questão, nos questionamos se seria possível realizá-la sem o auxílio de uma gramática, pois na atividade 2. a) não conseguimos identificar que palavra poderia ser formada a partir da derivação parassintética, uma vez que na página 191, as autoras afirmam, “Quando acrescentamos ao mesmo tempo um prefixo e um sufixo à palavra primitiva, de modo que, sem um deles, a palavra não tem sentido.” Essa afirmativa é contrária à atividade em análise, pois não foi colocada uma palavra, mas sim um radical. Na questão 2. b), observada na (FIG. 10) há a possibilidade do aprendiz formar a palavra “relançamento, usando o prefixo “re” e o sufixo “mento”. Caso o aluno escolha essa palavra, estará de acordo com o conceito de derivação prefixal18 e sufixal19 propostos pelo livro, porém seguindo a explicação no próprio quadro 18Quando acrescentamos um prefixo à palavra primitiva. 19Quando acrescentamos um sufixo à palavra primitiva. 44 sobre a derivação parassintética, como apresentamos acima, há a possibilidade de confusão entre os dois conceitos. Processo semelhante ocorre na questão 2. c), referente à (FIG. 10), pois, na tentativa de realizar a atividade, caso o aluno escolha a palavra “imoralidade”, haveria três possibilidades. A saber: o processo de formação de palavras prefixal em “imoral”; sufixal em “moralidade”; prefixal e sufixal em “imoralidade”. Além disso, na formação de palavras por derivação parassintética, não encontramos uma combinação de prefixo + palavra primitiva + sufixo sem que ao retirarmos um deles, com quaisquer dessas combinações, a palavra perdesse o sentido de acordo com o conceito afirmado pelo livro, no que diz respeito à derivação parassintética. Veja a imagem abaixo, FIGURA 11 - Reportagem atividade 4. Fonte: BALTHASAR; FIGUEIREDO E GOULART, 2012, p.190. As atividades relacionadas ao texto em questão refletiram acerca da influência dos estrangeirismos na LP. Seguindo esse raciocínio, sugerimos que o livro solicitasse aos alunos a busca por outros estrangeirismos presentes e mais comuns na nossa língua, pois palavras como, hot-dog, hambúrguer, facebook, sanduiche, twitter, mouse, diet, sundae e whatsapp estão incorporadas em nosso vocabulário e podem contribuir para o entendimento do aprendiz com relação ao assunto. 45 Também observamos que as atividades propostas criticam a escolha de estrangeirismos na publicidade do “Siena”, o que pode ser considerado como uma depreciação ao uso desse processo de formação de palavras, (grifos nossos). Essa perspectiva contradiz a proposta do CBC que afirma no item 20.2, “Identificar o processo de formação de neologismos em circulação no português brasileiro”. Na verdade, as autoras escolheram expressões pouco utilizadas na nossa língua, como, “size impression”20, “family feeling”21 e “hig safety drive”22. Ao analisarmos esse capítulo, percebemos o uso de analogias, metáforas, o cuidado
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