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4a. Aula Filos.Comunic.Etica - O ideal cientifico e a razao instrumental

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4ª. AULA
Filosofia, Comunicação e Ética
O ideal científico e a razão instrumental 
Professor Paulo D. Ferreira
A razão instrumental
A razão instrumental – que os frankfurtianos, como Adorno, Marcuse e Horkheimer também designaram com a expressão razão iluminista – nasce quando o sujeito do conhecimento toma a decisão de que conhecer é dominar e controlar a Natureza e os seres humanos. Assim, por exemplo, o filósofo Francis Bacon, no início do século XVII, criou uma expressão para referir-se ao objeto do conhecimento científico: “a Natureza atormentada”.
Atormentar a Natureza é fazê-la reagir a condições artificiais, criadas pelo homem. O laboratório científico é a maneira paradigmática de efetuar esse tormento, pois, nele, plantas, animais, metais, líquidos, gases, etc. são submetidos a condições de investigação totalmente diversas das naturais, de maneira a fazer com que a experimentação supere a experiência, descobrindo formas, causas, efeitos que não poderiam ser conhecidos se contássemos apenas com a atividade espontânea da Natureza. 
Atormentar a Natureza é conhecer seus segredos para dominá-la e transformá-la.
O tormento da realidade aumenta com a ciência contemporânea, uma vez que esta não se contenta em conhecer as coisas e os seres humanos, mas os constrói artificialmente e aplica os resultados dessa construção ao mundo físico, biológico e humano (psíquico, social, político, histórico). Assim, por exemplo, a organização do processo de trabalho nas indústrias apresenta-se como científica porque é baseada em conceitos da psicologia, da sociologia, da economia, que permitem dominar e controlar o trabalho humano sob todos os aspectos (controle sobre o corpo e o espírito dos trabalhadores), a fim de que a produtividade seja a maior possível para render lucros ao capital. 
Na medida em que a razão se torna instrumental, a ciência vai deixando de ser uma forma de acesso aos conhecimentos verdadeiros para tornar-se um instrumento de dominação, poder e exploração. Para que não seja percebida como tal, passa a ser sustentada pela ideologia cientificista, que, através da escola e dos meios de comunicação de massa, desemboca na mitologia cientificista.
Todavia, devemos distinguir entre o momento da investigação científica propriamente dita e o da ideologização-mitologização de uma ciência. Um exemplo poderá auxiliar-nos a perceber essa diferença. Quando Darwin elabora a teoria biológica da evolução das espécies, o modelo de explicação usado por ele permitia-lhe supor que o processo evolutivo ocorria por seleção natural dos mais aptos à sobrevivência. 
Ora, na mesma época, a sociedade capitalista estava convencida de que o progresso social e histórico provinha da competição e da concorrência dos indivíduos, segundo a lei econômica da oferta e da procura. Um filósofo, Spencer, aplicou, então, a teoria darwiniana à sociedade: nesta, os mais “aptos” (isto é, os mais capazes de competir e concorrer) tornam-se naturalmente superiores aos outros, vencendo-os em riqueza, privilégios e poder.
Ao transpor uma teoria biológica para uma explicação filosófica sobre a essência da sociedade, Spencer transformou a teoria científica da evolução em ideologia evolucionista. Por quê? 
Em primeiro lugar, porque generalizou para toda a realidade resultados obtidos num campo particular de conhecimentos específicos. 
Em segundo lugar, porque tomou conceitos referentes a fatos naturais e os converteu em fatos sociais, como se não houvesse diferença entre Natureza e sociedade. Uma vez criada a ideologia evolucionista, o evolucionismo tornou-se teoria da História e, a seguir, mitologia científica do progresso humano.
A noção de razão instrumental nos permite compreender:
● a transformação de uma ciência em ideologia e mito social, isto é, em senso comum cientificista; 
● que a ideologia da ciência não se reduz à transformação de uma teoria científica em ideologia, mas encontra-se na própria ciência, quando esta é concebida como instrumento de dominação, controle e poder sobre a Natureza e a sociedade; ● que as idéias de progresso técnico e neutralidade científica pertencem ao campo da ideologia cientificista. 
O problema do uso das ciências, além do problema anterior, isto é, de teorias científicas serem formuladas a partir de certas decisões e escolhas do cientista ou do laboratório onde trabalham os cientistas, com conseqüências sérias para os seres humanos é que outro problema também é trazido pelas ciências: o de seu uso.
Vimos que uma teoria científica pode nascer para dar resposta a um problema prático ou técnico. Vimos também que a investigação científica pode ir avançando para descobertas de fenômenos e relações que já não possuem relação direta com os problemas práticos iniciais e, como conseqüência, é freqüente uma teoria estar muito mais avançada do que as técnicas e tecnologias que poderão aplicá-la. Muitas vezes, aliás, o cientista sequer imagina que a teoria terá aplicação prática. 
É exatamente isso que torna o uso da ciência algo delicado, que, em geral, escapa das mãos dos próprios pesquisadores. É assim, por exemplo, que a microfísica ou física quântica desemboca na fabricação das armas nucleares; a bioquímica e a genética, na de armas bacteriológicas. Teorias sobre a luz e o som permitem a construção de satélites artificiais, que, se são conectáveis instantaneamente em todo o globo terrestre para a comunicação e informação, também são responsáveis por espionagem militar e por guerras com armas teleguiadas. 
Uma das características mais novas da ciência está em que as pesquisas científicas passaram a fazer parte das forças produtivas da sociedade, isto é, da economia. A automação, a informatização, a telecomunicação determinam formas de poder econômico, modos de organizar o trabalho industrial e os serviços, criam profissões e ocupações novas, destroem profissões e ocupações antigas, introduzem a velocidade na produção de mercadorias e em sua distribuição e consumo, modificando padrões industriais, comerciais e estilos de vida. 
A ciência tornou-se parte integrante e indispensável da atividade econômica. Tornou-se agente econômico e político. Além de fazer parte essencial da atividade econômica, a ciência também passou a fazer parte do poder político. Não é por acaso, por exemplo, que governos criem ministérios e secretarias de ciência e tecnologia e que destinem verbas para financiar pesquisas civis e militares. Do mesmo modo que as grandes empresas financiam pesquisas e até criam centros e laboratórios de investigação científica, assim também os governos determinam quais as ciências que irão ser desenvolvidas e, nelas, quais as pesquisas que serão financiadas. 
Essa nova posição das ciências na sociedade contemporânea, além de indicar que é mínimo ou quase inexistente o grau de neutralidade e de liberdade dos cientistas, indica também que o uso das ciências define os recursos financeiros que nelas serão investidos.
A sociedade, porém, não luta pelo direito de interferir nas decisões de empresas e governos quando estes decidem financiar um tipo de pesquisa em vez de outra. Dessa maneira, o campo científico torna-se cada vez mais distante da sociedade sem que esta encontre meios para orientar o uso das ciências, pois este é definido antes do início das próprias pesquisas e fora do controle que a sociedade poderia exercer sobre ele. 
Um exemplo de luta social para intervir nas decisões sobre as pesquisas e seus usos encontra-se nos movimentos ecológicos e em muitos movimentos sociais ligados a reivindicações de direitos. De um modo geral, porém, a ideologia cientificista tende a ser muito mais forte do que eles e a limitar os resultados que desejariam obter.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª. Ed. São Paulo: Ática, 2003
O ideal científico e a razão instrumental
O ideal científico
No estudo das ciências evidenciamos um ideal científico, ou seja, a ciência é a confiança que a cultura ocidental deposita na razão como capacidade para conhecer a realidade.Esta lógica está centrada na idéia de demonstração e prova e funda-se:
Na distinção entre sujeito e objeto do conhecimento pela objetividade, ou seja, independência dos fenômenos em relação ao sujeito que conhece e age;
Na idéia de método como um conjunto de regras, normas e procedimentos que servem para definir ou construir o objeto e para o auto-controle do pensamento durante a investigação, para a confirmação ou falsificação dos resultados obtidos. A idéia de método tem como pressuposto que o pensamento obedece universalmente a certos princípios internos – identidade, não-contradição, terceiro excluído, razão suficiente – dos quais dependem o conhecimento da verdade e a exclusão do falso;
Nas operações de análise e síntese, ou seja, a passagem do todo complexo às suas partes constituintes ou de passagem das partes ao todo que as explica e determina;
Na idéia da lei do fenômeno, ou seja, de regularidades e constâncias universais e necessárias, que definem o modo de ser do objeto. A lei científica diz como o objeto se constitui, como se comporta, por que e como permanece, por que e como se transforma, sobre quais fenômenos atua e de quais sofre ação;
No uso de instrumentos tecnológicos e não simplesmente técnicos. Os instrumentos técnicos são prolongamentos de capacidades do corpo humano e destinam-se a aumentá-las na relação do nosso corpo com o mundo. Os instrumentos tecnológicos são ciência cristalizada em objetos materiais, nada possuem em comum com as capacidades e aptidões do corpo humano; visam intervir nos fenômenos estudados e mesmo construir o próprio objeto científico; desatinam-se a dominar e transformar o mundo e não simplesmente a facilitar a relação do homem com o mundo;
Na criação de uma linguagem específica e própria, distante da linguagem cotidiana e da linguagem literária; a ciência se afasta dos dados qualitativos e perceptivo-emotivos dos objetos ou dos fenômenos para construir apenas seus aspectos quantitativos e relacionais.
Ciência desinteressada e utilitarismo
Conforme Chauí, 2003, desde a Renascença, ou seja, desde o Humanismo que colocava o homem no centro do universo e afirmava seu poder para conhecer e dominar a realidade, duas concepções sobre o valor da ciência estiveram sempre em confronto:
1ª. Ideal do conhecimento desinteressado – afirma que o valor de uma ciência encontra-se na qualidade, no rigor e na exatidão, na coerência e na verdade de uma teoria, independentemente de sua aplicação prática
2ª. Utilitarismo – afirma, ao contrário, que o valor de uma ciência encontra-se na quantidade de aplicações práticas que possa permitir.
As duas concepções são verdadeiras, mas parciais. Se uma teoria científica fosse elaborada apenas por suas finalidades imediatas, inúmeras pesquisas jamais teriam sido feitas e inúmeros fenômenos jamais teriam sido conhecidos, pois com freqüência, os conhecimentos teóricos estão mais avançados do que as capacidades técnicas de uma época e, em geral, sua aplicação só é percebida e só é possível muito tempo depois de haver sido elaborada. 
No entanto, se uma teoria científica não for capaz de suscitar aplicações, se não for capaz de permitir o surgimento de objetos técnicos e tecnológicos, instrumentos utensílios, máquinas, medicamentos, de resolver problemas importantes para os seres humanos, então seremos obrigados a dizer que a técnica e a tecnologia são cegas, incertas, arriscadas e perigosas, porque são práticas sem bases teóricas seguras. A distinção e a relação entre ciência pura e aplicada pode resolver o impasse entre as duas concepções sobre o valor das teorias científicas.
A ideologia cientificista
O senso comum, ignorando a complexidade entre as teorias científicas e as técnicas(ciência pura e aplicada), tende a identificar as ciências com os resultados de suas aplicações, desembocando numa atitude conhecida como cientificismo(fusão de ciência e técnica) e a ilusão da neutralidade científica.
O Cientificismo
É uma crença infundada de que a ciência pode e deve conhecer tudo. 
O senso comum cientificista acredita numa ideologia e numa mitologia da ciência: Ideologia da ciência: crença no progresso e na evolução dos conhecimentos científicos que um dia explicarão toda a realidade e permitirão manipulá-la tecnicamente, sem limites para a ação humana. Mitologia da ciência: crença na ciência como se fosse magia e poderio ilimitado sobre as coisas e os homens, como se fosse religião(conjunto de verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis).
A ilusão da neutralidade da ciência
Como a ciência se caracteriza pela separação e pela distinção entre o sujeito do conhecimento e o objeto e por retirar dos objetos do conhecimento os elementos subjetivos e também, como os resultados obtidos não dependem da boa ou má vontade do cientista nem de suas paixões, então a ciência é neutra e imparcial. Quando o cientista escolhe certa definição de seu objeto, decide usar um determinado método e espera obter certos resultados, sua atividade não é neutra nem imparcial, mas feita por escolhas precisas.
Exemplo: 1. Racismo – não é apenas uma ideologia racial e política; é uma teoria que se pretende científica, apoiada em observações, dados e leis conseguidos com a biologia, a psicologia, a sociologia. È certa maneira de apresentar tais dados de3 modo a transformar diferenças étnicas e culturais em diferenças biológicas naturais imutáveis e separar seres humanos em superiores e inferiores, dando aos primeiros justificativas para explorar, dominar e mesmo exterminar os segundos.
2. Por que Copérnico teve de esconder os resultados de suas pesquisas e Galileu foi forçado a comparecer perante a Inquisição e negar que a Terra se movia em redor do Sol? Por que a concepção astronômica geocêntrica(elaborada na Antiguidade) permitia que a Igreja Romana mantivesse a idéia de que a realidade é constituída por uma hierarquia de seres, que vão dos mais perfeitos – os celestes – aos mais imperfeitos – os infernais – tendo, a Terra como ponto intermediário entre o celeste e o infernal. 
Esse pensamento servia de base para a afirmação de que a mesma função pertencia à Igreja e que esta estava mais próxima de Deus do que as outras religiões e que no mundo cristão, ela ocupava um lugar mais alto do que os reis e imperadores. Se a astronomia demonstrasse que a Terra não é o centro do universo e se a mecânica de Galileu demonstrasse que todos os seres estão submetidos às mesmas leis do movimento, então as hierarquias celestes, naturais e humanas perderiam legitimidade e fundamento.
As condições atuais da pesquisa e os grandes interesses em jogo
Durante séculos os cientistas trabalharam individualmente em seus pequenos laboratórios e suas pesquisas eram custeadas por eles próprios ou por reis, nobres e burgueses ricos, interessados em patrocinar as descobertas e as vantagens práticas que delas poderiam advir. Por sua vez, o senso comum social olhava o cientista como inventor e gênio.
Hoje, os cientistas trabalham coletivamente, em equipes, nos grandes laboratórios universitários, nos dos institutos de pesquisa e nos das grandes empresas transnacionais que participam de um sistema conhecido como complexo industrial-militar. As pesquisas são financiadas pelo Estado, pelas empresas privadas e por ambos nos centros do complexo industrial. São pesquisas que exigem altos investimentos econômicos e das quais se esperam resultados que a opinião pública nem sempre conhece. Os cientistas competem entre si por recursos e financiamentos e tendem a fazer segredo de suas descobertas pois dependem delas para conseguir fundos e vencer a competição com os outros. O senso comum social, vê agora o cientista como engenheiro e mago, em roupas brancas no interior de grandes laboratórios repletos de objetos incompreensíveis. Tanto na visão anterior, como na visão atual, o senso comum vê a ciência desligada do contexto das condições da sua realização e de suas finalidades. Eis por que tende a acreditar na neutralidade científica, na idéiade que o único compromisso da ciência é o conhecimento verdadeiro e desinteressado e a solução correta de nossos problemas.
A ideologia cientificista usa essa imagem idealizada para consolidar a da neutralidade científica, dissimulando, com isso, a origem e a finalidade da maioria das pesquisas, destinadas a controlar a natureza e a sociedade segundo os interesses dos grupos que dominam os financiamentos dos laboratórios.

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