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Plano de Aula: A sociedade como objeto de estudo e os usos e abusos da cultura FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS - CCJ0001 Título A sociedade como objeto de estudo e os usos e abusos da cultura Número de Aulas por Semana Número de Semana de Aula 3 Tema A análise antropológica da cultura. O método etnográfico, o etnocentrismo e o relativismo cultural. Objetivos - Compreender o conceito de cultura como objeto de estudo privilegiado da análise antropológica. - Conhecer as práticas antropológicas utilizadas para categorizar comportamentos culturais. - Reconhecer a importância do principio de relativismo cultural, em contraposição ao etnocentrismo. Estrutura do Conteúdo Antes da aula, leia o Capítulo 2 de seu Livro didático de Ciências Sociais da página 32 até a 43. 1- O conceito de cultura O conceito de cultura é uma preocupação intensa atualmente em diversas áreas do pensamento humano, no entanto a Antropologia é a área por excelência de debate sobre esta questão. O primeiro antropólogo a sistematizar o conceito de cultura foi Edward Tylor que, em Primitive Culture, formulou a seguinte definição: "cultura é todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade". No sentido antropológico, portanto, a cultura é um conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e deve ser classificado. Ela, como os textos teatrais, não pode prever completamente como iremos nos sentir em cada papel que devemos ou temos necessariamente que desempenhar, mas indica maneiras gerais e exemplos de como pessoas que viveram antes de nós o desempenharam. Apresentada assim, a cultura parece ser um bom instrumento para compreender as diferenças entre os homens e as sociedades. Elas não seriam dadas de uma vez por todas, por meio de um roteiro geográfico ou de uma raça, como equivocadamente pensavam os defensores do determinismo geográfico e do determinismo biológico, mas em diferentes configurações ou relações que cada sociedade estabelece no decorrer de sua história. 2- O olhar eurocêntrico sobre a cultura Desde sempre os homens se preocuparam em entender por que outros homens possuíam hábitos alimentares, formas de se vestir, de formarem famílias, de acessarem o sagrado de maneiras diferentes das suas. A essa multiplicidade de formas de vida dá-se o nome de diversidade cultural. Contudo, foi a partir da descoberta do "Novo Mundo", nos séculos XV e XVI, que os europeus se depararam com modos de vida completamente distintos dos seus, e passaram a elaborar mais intensamente interpretações sobre esses povos e seus costumes. É fundamental lembrarmos que o impacto e a estranheza se deram dos dois lados. Os grupos não europeus se espantavam com o ser diferente que chegava até e les desembarcando em suas praias e tomando posse de seu território. Existem relatos de povos que após a morte de um europeu em combate, colocavam seu corpo dentro de um rio e esperavam sua decomposição para ver se eram pessoas como eles. A diferença é que não temos contato com esses relatos dos povos não europeus para conhecermos a visão que eles tinham dos brancos. No século XIX, com o surgimento da Antropologia como ciência, passa-se a estudar culturas "exóticas", buscando descrever seus hábitos, costumes e sua forma de ver o mundo. No entanto, os primeiros antropólogos não iam ao campo, não experimentavam diretamente o dia a dia dos grupos "selvagens". Eram enviados viajantes, pessoas comuns que eram deslocados para essas ?tribos? e ali ficavam por um certo tempo, registrando tudo que viam e ouviam, a fim de entregar este material aos antropólogos que aí sim analisavam estes relatos, desenvolvendo suas teorias sobre as diferentes culturas. Esta é a denominada "antropologia de gabinete". 3- A prática etnográfica Na segunda metade do século XIX esta metodologia foi questionada, afinal, como falar sobre uma cultura que nunca se viu? Como descrever eventos que nunca se vivenciou? Assim cunhou -se a prática etnográfica que é a metodologia característica da antropologia até os dias de hoje: o próprio antropólogo vai ao campo, entra no grupo, vivencia esta cultura diferente, deixa-se fazer parte deste dia a dia, registra esta vivência, retorna para sua própria cultura e finaliza seu trabalho de escrita que é o re gistro final desta experiência. Segundo François Laplantine, em Aprender Antropologia, a prática etnográfica consiste em ?impregnar-se dos temas de uma sociedade, de seus ideais, de suas angústias. O etnógrafo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a tendência principal da cultura que estuda?. No entanto, não é nada fácil vivenciar uma outra cultura diferente da nossa. Por quê? Não sentimos nossa cultura como uma construção específica de hábitos e costumes: pensamos que nossos hábitos e nossa forma de ver o mundo devem ser os mesmos para todos! Naturalizamos nossos costumes e achamos o do outro "diferente". Diferente de quê? Qual é o padrão ?normal? segundo o qual analisamos o "diferente"? Geralmente estabelecemos a nossa cultura como o padrão, a norma. Assim tudo que é diferente é concebido como estranho, e mesmo errado. Tal postura é o que denominamos etnocentrismo. 4- Etnocentrismo Segundo Everardo Rocha, em O que é Etnocentrismo, trata-se da "visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. ". Esse autor nos alerta, ao analisar o etnocentrismo, para a questão do choque cultural. Como ele afirma, "de um lado conhecemos o "nosso" grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí então de repente, nos deparamos com um "outro", o grupo do "diferente" que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este ?outro" também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe". 5- Relativismo cultural É a postura, privilegiada pela Antropologia contemporânea, de buscar compreender a lógica da vida do outro. Ainda segundo Roberto da Matta, "antes de cogitar se ?aceitamos? ou não esta outra form a de ver o mundo, a antropologia nos convida a compreendê-la, e verificar que ao seu jeito outra vida é vivida, segundo outros modelos de pensamento e de costumes (...) pois cada sociedade humana conhecida é um espelho onde nossa própria existência se reflete". Aplicação Prática Teórica Questão discursiva: Leia o texto abaixo e responda as questões propostas: Em 1883, Franz Boas foi estudar os esquimós e passou um tempo convivendo com eles. O autor fez as seguintes observações no seu diário: "Frequentemente me pergunto que vantagens nossa "boa sociedade" possui sobre aquela dos "selvagens" e descubro, quanto mais vejo de seus costumes, que não temos o direito de olhá -los de cima para baixo. Onde, entre nosso povo, poder-se-ia encontrar hospitalidade tão verdadeira quanto aqui ... Nós, "pessoas altamente educadas", somos muito piores relativamente falando ... Creio que, essa viagem tem para mim uma influência valiosa, ela reside no fortalecimento do ponto de vista da relatividade de toda formação (...)" (Trecho extraído do livro Antropologia cultural/Franz Boas. Celso Castro (org). Rio de Janeiro:Jorge ZaharEditor, 2004). (i) Identifique e explique que método antropológico foi utilizado pelo autor em sua pesquisa? (ii) Elabore uma análise sobre relativismo cultural a partir das observações feitas por Franz Boas. Questão de múltipla escolha: O criminoso nato seria caracterizado por uma cabeça com pronunciada assimetria craniana, fronte baixa e fugidia, orelhas em forma de asa, zigomas, lóbulos occipitais e arcadas superciliares salientes, maxilares proeminentes (prognatismo), face longa e larga, apesar do crânio pequeno, cabelos abundantes, mas barba escassa, rosto pálido". (Cesare Lombroso, psiquiatra italiano.) A descrição acima evidencia um tipo de pensamento típico do século XIX, no qual características biológicas (fenotípicas, somatológicas) determinariam comportamentos sociais. Como ficou conhecido, na Antropologia, esse tipo de pensamento? A) Determinismo social B) Determinismo geográfico C) Determinismo biográfico D) Determinismo biológico E) Determinismo cultural
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