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Direito Civil III - 1º Bimestre

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Direito Civil III – 1º Bimestre
Direito das Coisas x Direitos Reais
	Diversos autores consideram o termo direito das coisas como equivalente ao termo, direitos reais. Na verdade, o primeiro é mais amplo, porque abrange a posse, que integra o direito das coisas. 
	O direito das coisas regula o poder dos homens sobre as coisas materiais suscetíveis a apropriação e os modos de sua utilização econômica. Em caráter excepcional, o Código Civil, admite em determinadas situações, que os direitos reais incidam sobre coisas imateriais, como a caução de créditos ou o usufruto sobre ações ou cotas de uma sociedade. A regra, porém, é que incidam os direitos reais sobre as coisas, vale dizer, sobre os bens corpóreos. 
	Importante relembrar que o termo “bem” é gênero, abrangendo tudo o que satisfaz a necessidade humana. Bens jurídicos são aqueles amparados pela ordem jurídica. São bens tudo o que se pode submeter ao poder dos sujeitos de direito, como instrumento de sua realização de sua finalidade jurídica. O termo “coisa” é uma espécie de bem, de natureza corpórea e suscetível de medida de valor. Assim, a honra é um bem não uma coisa, e um imóvel é um bem e também uma coisa.
	Os direitos reais, chamados também de iura in re, traduzem uma dominação sobre a coisa e constituem importante categoria jurídica, que se diferencia do direito das obrigações (iura ad rem) pelo fato de este se traduzir na faculdade de exigir do direito passivo determinado uma prestação. 
				Direitos Subjetivos
Direito Subjetivo em senso estrito (privado).
Dever comportamental
Pretensão Ausência de pretensão
Faculdade de AgirSujeito Ativo						 Sujeito passivo
												
Relação de Coordenação – a partir do vencimento vira direito obrigacional; o sujeito passivo é universal, diferente, portanto, dos obrigacionais que o sujeito passivo é singular.
Direito Potestativo (Público)
Ausência de poder
Sujeição
Poder
ImunidadeSujeito Ativo							Sujeito Passivo
					
Introdução à Posse 
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
Definição de Posse: na posse há sempre um senhorio de fato sobre a coisa, um poder efetivo sobre ela. Há uma situação de fato, em que uma pessoa, que pode ou não ser a proprietária, exerce sobre uma coisa atos e poderes ostensivos, conservando-a e defendendo-a. O possuidor tem, de fato, o exercício, pleno ou não, de alguns ou de todos os poderes inerentes à propriedade. Age o possuidor como agiria o proprietário em relação do que é seu. Não se confunde a posse, que é o senhorio de fato, com a propriedade, que é o senhorio jurídico. Tem o possuidor os poderes de fato inerentes a propriedade. Age como proprietário, usa, frui, conserva e defende o que é seu. Tal como o proprietário, tira o proveito da coisa, dando-lhe a destinação econômica e social. Pode o possuidor ser pessoa física ou jurídica, inclusiva coletiva, desprovida de personalidade, como a massa falida, o espólio e o condomínio edilício.
Elementos da posse: em toda posse há dois elementos, consistentes numa conduta e numa vontade que traduzem a relação de uso e de fruição. São eles o objetivo, denominado corpus, e o subjetivo, animus. O corpus é o elemento exterior da posse, é o comportamento ostensivo do possuidor imitando o proprietário. O animus nada mais é do que manter a conduta exterior semelhante a do propritário.
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.
Como foi visto acima, o possuidor é aquele que se comporta como proprietário, de modo consciente, mantendo de fato o exercício de alguns dos poderes inerentes a propriedade. Para obter seu aproveitamento econômico, é possível tanto a utilização direta com a cessão a terceiros da coisa, vale dizer, mediante utilização indireta.
O possuidor indireto, embora não tenha poder físico imediato sobre a coisa, se dominação direta, é também possuidor porque se comporta como proprietário. 
As duas posses coexistem em planos diferentes, sem contradição entre si. Por exemplo: locador e locatário; o primeiro tem posse direta, porque receberam temporariamente em virtude de relação jurídica real ou pessoal. O segundo tem posse direta, porque a cederam. Não colidem nem se excluem as duas posses, porque se referem a poderes distintos sobre a mesma coisa.
Os desdobramentos da posse podem ser sucessivos. Feito um primeiro desdobramento, poderá o possuidor direto reproduzi-lo, criando novas e repetidas situações de posse direta e indireta. Ainda no exemplo acima citado, se o locatário que é possuidor direto, subloca o imóvel à terceiro, teremos então dois possuidores indiretos – locador e sublocador – e um possuidor direto – sublocatário. O mesmo acontece com o usufrutuário que loca ou empresta coisa à terceiro. Nota-se que somente terá a posse direta aquele que tiver a coisa consigo, ou seja, o ultimo integrante da cadeia. Todos os demais terão posse indireta, em gradações sucessivas. Tanto possuidor direto como indireto podem afastar os ataques injustos de terceiros à posse, utilizando a tutela possessória e o desforço próprio.
Embora a parte final deste artigo não diga, o inverso também é possível, ou seja, pode o possuidor indireto usar a tutela possessória contra o possuidor direto. Isso porque tem o possuidor indireto o direito à restituição futura da coisa, o que, no presente, se reflete nas prerrogativas de fiscaliza e vigiar, para preservá-la e conservá-la. Se a substancia da coisa foi ameaçada ou estiver sendo destruída, pode o possuidor indireto usar os remédios possessórios contra o possuidor direto. No caso do locatário que impede a entrada do locado no imóvel locado para vistoriar o prédio, como previsto em contrato, por exemplo.
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário.
O conceito de detenção caria de acordo com a teoria adotada. Para Savigny, sempre que houvesse corpus, mas não animus, estaríamos diante a uma figura de detenção, não de posse. Para Ihering, a posse e a detenção não se distinguem por animus específico. Ao contrário. Têm os mesmos elementos (corpus e animus), são ontologicamente iguais. O que as distingue é um obstáculo legal que, com respeito a certas relações que aparentemente preenchem a princípios os requisitos de posse, retira dela os efeitos possessórios; é uma posse, então, degradada, que, em virtude de lei, se avilta em detenção. O possuidor tem animus, vale dizer que exerce poderes de fato típicos de modo consciente e proposital, entretanto, dispensa a vontade de ser dono.
Nosso Código Civil adotou a teoria de Ihering. Não distinguiu estruturalmente a posse da detenção. Apenas criou, obstáculos objetivos para diferenciar ambos os institutos. A teoria objetiva parte da posse para chegar à detenção. A princípio quem reúne poderes fáticos sobre a coisa semelhante aos poderes de proprietário é possuidor. Somente não será se uma barreira legal, criada pelo legislador, retirar os efeitos possessórios de tal comportamento. Por exemplo: o operário em relação as ferramentas e aos utensílios do patrão que ele usa em seu laboro. O detento age como mero instrumento, para o verdadeiro possuidor exercer sua posse. Há relação de autoridade e subordinação do possuidor sobre o detentor. 
Note-se que a detenção, ou servidão da posse é inconfundível com a posse direta. Geram as duas figuras efeitos radicalmente distintos. Apenas o possuidor pode invocar a tutela possessória, não o detentor. As semelhanças entreambas são que tanto o possuidor direto como o detentor tem poder imediato sobre a coisa, assim podem ambas as figuras derivar de uma relação jurídica preexistente. Haverá mera detenção quando a submissão a ordens e decisões for estreita, vale dizer, não goza o detentor de independência nem autonomia; age ele em proveito, por conta do possuidor; dá á coisa o destino e a utilização que lhe determina o possuidor. Já o possuidor indireto após certo tempo, enquanto permanece com ela, tem certo grau de autonomia e exerce os poderes imediatos em proveito próprio.
No parágrafo primeiro o legislador marca que a conduta do detentor é a sua obediência, isto é, a falta de autonomia em relação á utilização da coisa. Quem assim age, presume-se detentor cabendo-lhe o ônus da prova de demonstrar o contrário. Podem ocorrer situações duvidosas, como saber se alguém que ocupa um imóvel é comodatário (possuidor direto) ou preposto (detentor). Em situações tais como essas, será valiosa a prova de autonomia da conduta, do grau de independência, para definir qual é a situação jurídica do ocupante.
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores.
A posse, como vimos, nada mais é do que o exercício de fato de alguns dos poderes dos proprietários. Porém, em determinadas situações, pode instituir-se condomínio e, portanto, também a composse, que é a aparência de propriedade.
Tal como no condomínio, exige-se nesta segunda hipótese pluralidade objetiva de titulares cada compossuidor tem direito a parte ideal do bem, uma vez que a composse não se fraciona em partes certas. Note-se que o artigo fala de composse sobre coisa indivisa, de modo que não há composse se três condomínios, por exemplo, ocupam, individualmente, partes certas e determinadas de um imovel. Nada impede, porem, que os compossuidores acordem que cada um utilizará a coisa comum em determinadas datas, ou por certo tempo. 
Perante terceiros, os compossuidores procedem como se fossem um único sujeito. Cada um pode defender a posse a posse do todo, ainda que individualmente. Entre si, a cada um é assegurada a utilização da coisa, contanto que não exclua o direito dos demais. Disso decorre que cada um dos compossuidores tem legitimidade para ajuizar ação possessória contra atos ilícitos de terceiros, assim como contra os demais compossuidores. 
Cessa a composse pela divisão em partes certas do todo ou pela posse exclusiva de um dos possuidores sem oposição ou exclusão dos demais. 
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.A posse é justa quando não marcada pelos vícios da violência, clandestinidade e precariedade. É injusta por exclusão, quando presentes quaisquer dos vícios. A posse para o sistema brasileiro é viciosa desde que obtida por esbulho, contra a vontade do possuidor anterior, por meios ilícitos, ainda que não se consiga a priori enquadrá-la em nenhuma das situações previstas no artigo 1200.
	O que importa, para a caracterização dos vícios, é a razão, a forma de aquisição da posse. A posse pode ter sido obtida de modo licito ou ilícito. Quando adquirida por meio objetivo reprovado pelo direito, é viciada. A posse pode ter sido obtido por meio justo ou injusto. Posse justa, portanto, é aquela cuja aquisição não repugna ao direito. Nada impede, porém, que uma posse nascida justa se converta em injusto, especialmente no que se refere ao vicio da precariedade. De outro lado, a posse nascida injusta somente se tornará justa se alterada a forma de aquisição da posse.
Posse violenta: a posse violenta quando se adquire por ato de força, natural ou física, ou ainda, ameaça. A violência física supõe a ausência de vontade daquele que foi usurpado. A ameaça, ou violência moral, deve ser séria e injusta, de modo que o usurpado entrega a coisa para não sofrer o mal prometido. Consequência disso é que não constituem atos de violência o exercício regular de um direito ou mesmo o temor reverencial. Entretanto, não pratica ato violento o credor que avisando o devedor que remeterá a titulo de protesto, ou ajuizará ação de cobrança, recebe dação em pagamento com a transferência da posse adquirida. Questão difícil é saber se a posse adquirida por ameaça, para ser considerada injusta exige prévia ação anulatória do ato por vicio de consentimento ou admite o imediato ajuizamento de ação possessória para recuperar a coisa. O entendimento mais plausível é que, se a entrega da coisa não transmitiu também a propriedade, cabe desde logo a ação possessória. Caso envolva transmissão de posse e de domínio, deve ser previamente desfeito o negocio jurídico, com pedido cumulativo de devolução de coisa alienada. (Trata-se de detenção, só vira posse quando o meio é lícito). É um vício temporário;
Posse Clandestina: ocorre quando se adquire via processo de ocultamento em relação àquele contra quem é praticado o apossamento. Oculta-se da pessoa que tem interesse em retomar a posse, embora possa ser ela pública para os demais. O possuidor não percebe a violação de seu direito, e por isso não pode reagir. Não há necessidade de que a vitima tenha efetivo conhecimento do esbulho, mas que o esbulhador torne possível a vitima conhecê-lo. (Trata-se de detenção, só vira posse quando o meio é lícito). É um vício temporário.
Posse precária: ocorre quando o possuidor recebe a cosisa com a obrigação de restituí-la e, abusando da confiança, deixa de devolvê-la ao proprietário, ou possuidor legitimo. O vício inicia-se no momento em que o possuidor se recusa a devolver o bem. A posse, que era justa, torna-se injusta. Torna-se injusta porque mudou somente o animus do possuidor, mas porque mudou a causa, a razão pela qual se possui. P.ex.: comodato. A posse era justa durante o prazo convencionado, porque há razão jurídica que justifica a posse lícita. Expirado o prazo, a posse torna-se injusta. Diferente da posse violenta e da posse clandestina, esse vício nunca se convalesce*
		Os vícios da posse só podem ser arguidos pela vítima, a quem cabe à faculdade de reaver a coisa pela autotutela ou pelos interditos possessórios.
Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.
	A boa fé está intimamente ligada à causa de possuir, ao titulo em razão do qual se possui. Esta assentada no desconhecimento do vicio que existe no titulo, que quanto a sua substancia, quer quanto a sua forma. Logo, a posse justa é sempre posse de boa-fé, na ausência de vícios a serem conhecidos.	
	Entretanto não basta a boa-fé no momento da aquisição da posse, mas se exige a continuidade de tal qualidade. 
	O parágrafo único deste artigo cria presunção relativa de boa-fé para o possuidor com justo título. É relativa porque pode ser destruída por prova, a cargo de quem pretende retomar a coisa, de que o possuidor, apesar de munido de justo título, conhecia o vício de sua posse, ou então, quando a própria leu não admitir presunção. O termo justo título é uma causa jurídica que justifica a posse, é a sua razão eficiente.
Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente.
Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.
	A alteração do comportamento te apenas o condão de transformar a detenção em posse injusta, mas não é suficiente para retirar a posse o vício original. De igual modo, a posse precária não deixa de sê-lo pela simples mudança de comportamento do precarista, ainda que deixe de reconhecer sua condição de comodatário ou locatário, por exemplo. Basta lembra que o esbulhado pode, ocorrendo tal fato, pedir a retomada judicial da coisa, prova maior de que permanece a posse injusta.
	A relevância da mudança fática do comportamento do possuidor reflete-se apenas nos caracteres de posse de ad interdicta para ad usucapionem. Assim, aquele que deixa de praticar os atos violentos ou torna a posse pública, tirando-a da clandestinidade, mantém os vícios de origem, que não podem ser apagados pela conduta posterior do possuidor, mas gera, apesar disso, posse útil para usucapião, desde que preenchidos os demais requisitos previstos em lei. A reação do esbulhado é possível, mas, se não o fizer em determinado prazo, perderá o domínio por usucapião.
	No que se refere à posse precária, ela continua precária porque o vício não se apaga, tanto que o esbulhado pode retomar a coisa. O que mudou com o comportamento de fato do possuidor não foi à origem ilícita da posse, mas o animus. Apesar de continuar injusto, o que mudou com o novo comportamento foi o nascimento do animus domini, requisito que faltava para iniciar o prazo útil da usucapião.
Aquisição de posse
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio¹ (diferencia a posse da detenção¹), de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
	Adquire a posse aquele que procede em relação a coisa, em nome próprio, da maneira como o proprietário habitualmente o faz. Assim, para verificar adquiriu a posse, basta constatar se ocorre uma situação análoga a conduta do proprietário em relação às suas coisas, estando sempre presente o animus e o corpus.
	Posse civil: adquiri-se como consequência de uma relação jurídica sem que haja necessidade de apreensão da coisa
	Posse natural: é resultado do simples comportamento do possuidor, que passa a agir de fato como dono, independente de prévia relação jurídica que confira direito a posse. Pode ser adquirida por ato unilateral, bilateral, quando o possuidor a transfere a outrem, ou por sucessão causa mortis. Na aquisição por ato unilateral diz-se que a posse é adquirida por ato originário. Na aquisição por ato bilateral, ou por sucessão hereditária, diz-se que a posse é adquirida a titulo derivado.
	Embora o CC/02 não trate expressamente da figura do constituto possessório é importante a sua definição, porque se amolda ao critério genérico de aquisição de posse. Constituo possessório o possuidor de uma coisa em nome próprio passa a possuí-la em nome alheio. O adquirente assim, recebe a coisa por mera convenção, sem posse física. O alienante apenas deixa de possuir para si mesmo a coisa e passa a possuir em nome do adquirente, ou seja, converte sua posse em detenção, sem nenhum ato exterior que ateste essa mudança.
	Operação inversa ocorre na traditiobrevi manu, pela qual o possuidor de uma coisa em nome alheio, ou com mera posse direta, passa a possuir ou em nome próprio ou com posse plena, sem necessidade de promover ato físico de entrega da coisa.
Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:
I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;
II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.
	Podem adquirir a posse, segundo o inciso I, a própria pessoa que a pretende, ou seu representante. 
	No caso da própria pessoa, podem adquirir tanto a pessoa natural como a pessoa jurídica, esta mediante atuação dos seus órgãos. Não podem adquirir a posse às pessoas jurídicas irregulares, porque não são dotadas de personalidade. Já o que se refere às pessoas naturais, cabe uma distinção: se a posse é adquirida por simples ato jurídico de apreensão, desprovido de vontade negocial, pode o incapaz realizá-la por si, independente de representação (caso do estudante que toma posse do livro do professor que o esquece na sala). São atos-fato, em que se cogitam os requisitos de validade (Art. 104 CC), porém a posse seja adquirida por negócio jurídico, o incapaz somente poderá adquiri-la por atuação do seu representante. A expressão ‘adquirir a posse por representante’ também, abrange diversas atividades de cooperação, sem a conotação estrita dos institutos de representação previstos no artigo 115 e seguintes do CC. É o caso da detenção dependente, em que não há propriamente representação, mas uma incumbência, do vinculo jurídico que faz alguém atuar em proveito de outrem ou em cooperação de outrem, como o empregado e o preposto sem poder de representação.
	O inciso II dispõe que a posse pode ser adquirida por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. É o caso do gestor de negócios, em que uma pessoa agem em interesse de outra, sem ter recebido essa incumbência. O gestor age espontaneamente, sem conhecimento do dono do negocio, mas a ratificação retroage ao começo da gestão e prudoz efeitos do mandato. 
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres.
	Com a morte do possuidor, a posse transmite-se imediatamente e sem necessidade de apreensão de pelos herdeiros. A transmissão da posse é ex lege, em razão única do titulo da sucessão hereditária.
	O artigo não trata do momento da transmissão da posse, porque engloba as figuras dos herdeiros legítimos e testamentários, que recebem a titulo universal, e dos legatários, que recebem a titulo singular.
	Na transmissão da posse por ato de causas mortis, denominada sucessio possessionis, a posse do de cujus incorpora-se na posse dos herdeiros e legatários com todos os seus caracteres. Se tinha o de cujus, p.ex., posse direta/indireta, posse de boa-fé/má-fé, as mesmas qualidades, os mesmos vícios ou limitações terão os herdeiros e legatários quanto a eventuais vícios não é levada em consideração se o defunto os conhecia. Há uma continuação do antecessor, de modo que o herdeiro simplesmente fica no lugar do defunto, como se fosse uma só pessoa. Disso decorre que herdeiros e legatários podem invocar a posse que tinha o defunto para ajuizar ações possessórias que este poderia propor, assim como para somar prazo necessário à usucapião. 
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.
	Parte dos efeitos da posse depende do tempo que ela dura, em especial a usucapião. Em determinadas situações, a posse de uma pessoa é insuficiente para gerar certos efeitos. Faz-se necessário somar à sua posse a daquele a quem adquiriu. A posse representa um valor patrimonial, e por isso, é passível de transmissão. O artigo acima trata dos casos de transmissão e de conjunção – união – das posses, regulando-as em modo distinto.
	A primeira parte do preceito estabelece que o sucessor universal continua de direito a posse de seu antecessor. Trata-se de sucessio possessiones, na qual a transmissão se opera ex lege. A posse é una, de modo que não pode o possuidor atual descartar a posse do transmitente, porque maculada por vícios que não lhe convêm, ou seja, não pode o sucessor inaugurar um novo período possessório, desprezando a posse do seu antecessor.
	Entende-se por sucessor universal quando se transmite todo o patrimônio ou fração dele. Singular quando se transmite coisa certa ou destacada do patrimônio. Via de regra, a sucessão universal dá-se a titulo causa mortis e a singular intervivos. Isso porém, nem sempre acontece. Pode perfeitamente ocorrer a transmissão universal por ato intervivos, por exemplo no casamento pelo regime da comunhão universal de bens, ou pela incorporação/fusão de pessoas jurídicas, assim como a transmissão singular causa mortis, nos legados.
	Já na aquisição de modo derivado, a título singular, por ato intervivos (acessio possesionis), o adquirente recebe nova posse, podendo juntá-la ou não à posse anterior. Cuida-se de mera faculdade do possuidor, que pode ou não acrescer o tempo do antecessor, para determinados efeitos, especialmente usucapião. Se por exemplo, a má-fé for do antecessor ela não contamina o sucessor, se o possuidor ignora o vício.
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
 	Permissão x tolerância: a permissão exige conduta positiva do possuidor, que, sem perda do controle ou da vigilância sobre a coisa, entrega-a voluntariamente a terceiro, para que este a tenha momentaneamente. Vê-se, assim, que o possuidor não se exonera da posse entrega alguns de seus poderes ao detentor, ou os compartilha com ele, até segunda ordem. A tolerância é o comportamento de inação, omissivo, consciente ou não do possuidor, que mais uma vez, sem renunciar a posse, admite a atividade de terceiro em relação a coisa ou não intervém quando ela acontece; não implica em transferências de direitos. Ambas são revogáveis qualquer tempo.
	Violência x clandestinidade: esses casos versam sobre a posse injusta e da inábil usucapião. Enquanto perduram a violência e a clandestinidade não há posse, só simples detenção. No momento em que cessam os mencionados ilícitos, nasce a posse, mas injusta.
Art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis que nele estiverem.
	A posse do imóvel cria presunção relativa que vigora até prova em sentido contrário, de abranger as coisas móveis que nele estiverem. Se os bens acessórios forem partes integrantes do imóvel, como os frutos, mantém-se a regra geral de que o acessório segue o principal.
	No entanto, se os bens móveis que não são parte integrante do imóvel encontrarem-se temporariamente em seu uso, presume-se que o possuidor do imóvel tenha a posse das coisas móveis que nele se encontram, mas eventuais negócios que dizem respeito ao bem principal (p.ex. cessão de posse) não abrange as pertenças, salvo se uma convenção ou as circunstancias do caso indicarem o contrário.
Efeitos da Posse
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
Tutela da posse: a posse gera diversos efeitos, por ser ela o exercício de fato de poderes inerentes à propriedade.
Efeitos relevantes não positivados: a usucapião e a visibilidade do domínio (a presunção relativa de que o possuidor é dono da coisa, até que se faça prova em contrário).
Alguns efeitos exigem posse revestida de determinadas qualidades, como a percepção de frutos, a indenização de certas benfeitorias e o direito de retenção, que pressupõe a boa-fé do possuidor e especialmente o usucapião, que exige posse prolongada e com requisitos específicos para cada uma de suas modalidades.
O principal efeito da posse é a tutela possessória, que consiste nos meios legais de assegurar ao possuidor repelir a agressão injustaà posse (autotutela – esforço próprio do possuidor ou autodefesa – mediante a interferência do poder judiciário).
 	O fundamento da proteção possessória para Ihering é uma linha avançada de defesa da propriedade, o que nem sempre é exato, porque é possível a tutela possessória do possuidor contra o proprietário. Para Savigny, a proteção visa a evitar a violência e seu caráter delituoso e oposto ao direito
	No que se refere à extensão, a proteção possessória não atinge os direitos pessoais, pela singela razão de não existir poder fático sobre abstrações; existem remédios próprios para ofensa aos direitos possessórios que não as ações possessórias.
	Esbulho: significa a perca de posse, sendo impossível o respectivo exercício pelo titular. Cabe à ação de reintegração de posse que visa restaurar para o desapossado a situação fática anterior, desfeita pelo esbulho.
	Turbação: é o embaraço ao normal exercício da posse; não leva à perda da posse, mas apenas dificulta ou perturba o seu regular exercício. Cabe à ação de manutenção de posse que visa impedir o desapossamento que ainda não ocorreu e a fazer cessar os atos turbativos, restabelecendo plenitude dos direitos possessórios.
	Ameaça: tem como requisito a seriedade e a efetiva possibilidade de ocorrer em breve espaço de tempo moléstia mais grave a posse. Não há ainda ofensa concreta à posse, mas apenas a probabilidade e iminência de sua ocorrência. A ação é de interdito proibitório que tem caráter meramente preventivo e visa impedir que a turbação ou o esbulho comecem.
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
	 Trata do preceito de autotutela, pelo qual pode o possuidor turbado ou esbulhado repelir direta ou pessoalmente, usando sua ‘própria força’ o atentado à posse, desde que o faça de forma proporcional a agressão, com uso moderado dos meios necessários. O pressuposto do instituto é que a agressão seja injusta, porque se ilícito o ato do terceiro não cabe reação do possuidor. 
	Não se confunde com legitima defesa, vai além dela. Exige que a agressão seja injusta seja iminente ou atua, sua reação deve ser tomada ‘logo’.
§ 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
 	Percebe-se facilmente que a posse pode ser considerada sob dois ângulos distintos:
Em si mesma independente do fundamento ou do título jurídico;
Como uma das faculdades jurídicas que integram a propriedade, ou outras relações jurídicas.
	Jus Possidente significa direito a posse, ou direito de possuir; pressupõe uma relação jurídica preexistente que confere ao titular o direito de possuir. (petitório)
	Jus possessions: é o direito originado da situação jurídica da posse, independente da preexistência de uma relação jurídica que lhe dê causa. É indiferente a incidência ou não de um título para possuir. Aqui a posse não aparece subordinada a direitos nem é emanada deles, formando parte do seu conteúdo. (possessório). Constituída pelos interditos ou ações possessórias em sentindo estrito – defende só a posse como tal.
Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso.
	Havendo fundada acerca de quem é o real possuidor mantém-se a coisa em poder de quem com ela fisicamente se encontra, coibindo o conflito das partes pelo apoderamento. É uma espécie de manutenção provisória da coisa em que poder com ela se encontra, até que haja final decisão da ação possessória. 
Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era.
	Considera o legislador que tanto o terceiro adquirente de boa-fé como o esbulhado são titulares de posse justa e inclina-se a favor do primeiro, que nenhum ato licito praticou e tem a posse atual da coisa. Note-se que o esbulhado não tem ação possoria para recuperar a coisa em poder do adquirente de boa fé, fundada no ius possessionis. Tem, porém, ação indenizatória. A posse é a mesma, com idênticas qualidades e vícios, e apenas prossegue com titular distinto.
	No que se refere a sucessão intervivos a união de posses é mera faculdade do adquirente que não tem a situação jurídica automaticamente contaminada pelos vícios da posse de má-fé do antecessor.
Art. 1.213. O disposto nos artigos antecedentes não se aplica às servidões não aparentes, salvo quando os respectivos títulos provierem do possuidor do prédio serviente, ou daqueles de quem este o houve.
	O que diz a regra é que apenas as servidões aparentes (que ostentam sinais exteriores) é que gozam de proteção possessória. 
	Já as servidões não aparentes (não ostentam sinais exteriores) somente gozam de tutela possessória se o titulo provier diretamente do possuidor do prédio serviente ou a titulo derivado.
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação.
	Cabe ao possuidor de boa-fé i direito aos frutos percebidos, enquanto ela durar. O possuidor de boa-fé adquire não só a posse como também a propriedade dos frutos percebidos, estantes e consumidos. Os frutos como bem acessório, via de regra, pertencem ao proprietário. A boa-fé que alude o preceito é subjetiva, consistente nos vícios que maculam a posse. Logo, no exato momento que o possuidor tomar ciência dos vícios inverte-se a sua qualidade.
	Direito Civil III – Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo.
 Posse.
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