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(20170923130834)DIREITOS DA PERSONALIDADE (Das Pessoas)

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Direito Civil – Pessoas e Bens
Prof. Pablo Bonfim
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Direitos da Personalidade
	O Código Civil de 1916, devido ao seu caráter essencialmente patrimonialista, não tratava dos direitos da personalidade. 
	No Brasil, somente em fins do século XX se pôde construir a dogmática dos direitos da personalidade, estabelecendo a noção de respeito à dignidade da pessoa humana, consagrada no art. 1°, III, da CF/88.
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	Essa inserção dos direitos da personalidade na Carta Constitucional de 1988 consagrou também a evolução pela qual passava tal instituto jurídico. 
	A nossa atual Constituição Federal os reconheceu de forma expressa, principalmente em seu artigo 5° inciso X, que diz: "São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;".
 A partir daí, temos o Código Civil de 2002 que, seguindo uma tendência de repersonalização, dedica também um capítulo, em sua parte geral, à tutela dos direitos da personalidade.
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	O Código Civil de 2002, em seu art. 1º, reconhece que “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.”
	Beviláqua, no Código Civil de 1916, definiu a personalidade como “a aptidão, reconhecida pela ordem jurídica a alguém, para exercer direitos e contrair obrigações.”
	Nós, seres humanos, do nascimento com vida até a morte, somos dotados de personalidade jurídica. E, portanto, da aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações.
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	Alguns conceitos mostram-se importantes para o estudo dos direitos da personalidade:
	Pessoa: ente físico (ser humano – pessoa natural) ou coletivo (pessoa jurídica) suscetível de direitos e obrigações. Sujeito de direito é aquele sujeito de um dever/pretensão/titularidade jurídica.
 Personalidade: aptidão jurídica para adquirir direitos e contrair obrigações. Toda pessoa é dotada de personalidade.
 Capacidade: manifestação do poder de ação contido no conceito de personalidade.
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IMPORTANTE 	
	Vale ressaltar também que os direitos da personalidade possuem dupla dimensão: a axiológica, pela que se manifestam os valores fundamentais da pessoa, e a objetiva, pela que os direitos são assegurados legal e constitucionalmente.
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Para ser pessoa física, precisamos de personalidade, ou seja, de aptidão para exercermos os atos da vida civil e de capacidade de por si só exercer direitos e contrair obrigações.
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1. Conceito
	“Direitos da personalidade dizem-se as faculdades jurídicas cujos objetos são os diversos aspectos da própria pessoa do sujeito, bem assim da sua projeção essencial no mundo exterior.” (FRANÇA, 1988)
	É o direito de cada pessoa de defender o que lhe é próprio, como a vida, identidade, liberdade, privacidade, honra, opção sexual, integridade, imagem.
	“É o direito subjetivo de exigir um comportamento negativo de todos, protegendo um bem próprio, valendo-se de ação judicial.” (DINIZ, 2015).
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2. Características e fundamentos dos direitos da personalidade
	Consoante Maria Helena Diniz, temos que os direitos da personalidade são absolutos, intransmissíveis, indisponíveis, ilimitados, imprescritíveis e inexpropriáveis.
	Absolutos, no sentido de que podem ser opostos erga omnes, atingem todos os indivíduos de uma determinada população,e conterem um dever geral de abstenção. São intransmissíveis e irrenunciáveis, inseparáveis do titular. 
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	São também inalienáveis e, em princípio, indisponíveis, porque estão fora do comércio e não possuem valor econômico imediato.
 São direitos necessários, inexpropriáveis, pois são inatos, adquiridos no instante da concepção. São, portanto, vitalícios, perenes, perpétuos, protegidos após o falecimento. 
 E imprescritíveis, porque sempre poderá o titular invocá-los, mesmo que por largo tempo deixe de utilizá-los.
	Sendo assim, não se extinguem pelo seu não-uso e nem seria possível impor prazos para sua aquisição ou defesa, pois todos os direitos da personalidade são tutelados em cláusula pétrea constitucional. 
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3. Classificação dos direitos da personalidade
	Os direitos da personalidade destinam-se, basicamente, a resguardar a dignidade humana. 
	Qualquer classificação varia de acordo com os métodos e critérios de cada autor, porém, em regra geral, os direitos da personalidade dividem-se com base nos critérios corpo/mente/espírito, sendo classificados em:
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Integridade física: 	
	Fazem parte dessa classificação o direito à vida e o direito ao próprio corpo, vivo ou morto. 
	O direito à vida é tutelado desde o nascimento à velhice, passando pelos alimentos, planejamento familiar, habitação, educação, proteção médica, entre outros. 
 O direito ao corpo vivo compreende tudo aquilo relacionado ao corpo humano, desde o espermatozóide e o óvulo até a possibilidade de mudança de sexo. 
 O direito ao corpo morto, por sua vez, diz respeito ao sepulcro, à cremação, ao culto religioso e à experiências cientificas post mortem. 
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OBSERVEM:
	Os direitos referentes à integridade física estão presentes no Código Civil Brasileiro/2002 nos artigos 13, 14 e 15.
	Desta forma, “Fácil é perceber que se protege não só a integridade física, ou melhor, os direitos sobre o próprio corpo vivo ou morto[...] mas também a inviolabilidade do corpo humano.” (DINIZ, 2010, p. 130).
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b) Integridade intelectual e psíquica: 
	Por essa análise, a pessoa é vista como “[...] ser psíquico atuante, que interage socialmente. [...] Nessa classificação, levam-se em conta os elementos intrínsecos do individuo, como atributos de sua inteligência ou sentimento, componentes do psiquismo humano.” (GAGLIANO, 2010 p. 211) 
	O direito à integridade intelectual e psíquica compreende e garante a liberdade de pensamento, a autoria de criações intelectuais, de inventos e a privacidade.
	 Esses direitos são defendidos com base na premissa de que não se pode fazer uso dos produtos do pensamento e da intelectualidade humana de forma indevida, sem as devidas menções ou autorizações. 
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c) Integridade moral: 
	Os direitos referentes à integridade moral - mencionados nos artigos 16 a 20 do Código Civil/2002 - tutelam, basicamente, o direito de todas as pessoas de não terem sua imagem, sua honra ou sua moral expostas, mercantilizadas ou caluniadas. 
	A personalidade humana não deve ser alterada material ou intelectualmente.
	Relacionam-se à integridade moral: a liberdade civil, política e religiosa. São também asseguradas a segurança moral, a honra, a intimidade, a imagem, a identidade e a intimidade.
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ATENÇÃO
	Nos casos em que haja colisão entre os direitos da personalidade, visto que nenhum deles pode-se sobrepor aos demais, deve ser aplicada a ponderação.
	 Vale ressaltar, porém, que os valores considerados socialmente importantes e essenciais à vida não podem ser desprezados, de forma que a vida humana e a saúde pública, como bens mais preciosos, irão sobrepor-se aos outros.
	Convém observar, ainda, que o Código Civil, apesar de ter dedicado um capitulo aos direitos da personalidade, e a despeito da grande importância de tal matéria, absteve-se de maiores desenvolvimentos e especificações sobre esse assunto; limitando-se a prever em poucas normas a proteção de certos direitos inerentes aos seres humanos.
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10. Análise de decisão de tribunais
	Assim sendo, as questões que relativas à integridade física são muito mais complexas que as opções relacionadas à integridade psíquica, intelectual ou moral. 
	Por exemplo: em embates entre o direito à vida (integridade física) e o direito à liberdade religiosa (integridade psíquica ou moral). 
	Na maioria dos casos levados a julgamento, os tribunais sempre procuram primar pela vida. “Cautelar. Transfusão de sangue. Testemunhas
de Jeová. Não cabe ao poder judiciário, no sistema jurídico brasileiro, autorizar ou ordenar tratamentos médicos/cirúrgicos, salvo raríssimos casos e salvo quando envolvidos os interesses de menores. Se iminente o perigo à vida, é direito e dever do médico empregar todos os tratamentos, mesmo contra a vontade deste, e de seus familiares, ainda que a oposição seja ditada por motivos religiosos.
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	O direito à vida antecede o direito à liberdade, aqui incluída a liberdade de religião é falácia argumentar com os que morrem pela mesma, pois, aí se trata de contexto fático totalmente diverso. Não consta que morto possa ser livre ou lutar pela sua liberdade. (...) Religiões devem preservar a vida e não exterminá-la.(APELAÇÃO CÍVEL Nº595000373, SEXTA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNA DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: SÉRGIO GISCHKOW PEREIRA, JULGADO EM 28/03/1995)
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O NCC/2002 foi reconstruído tendo por base a dignidade da pessoa humana. O VCC era baseado no patrimônio. 
	PERSONALIDADE JURÍDICA
	Conceito: A Personalidade Jurídica é a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na ordem jurídica.
	Esse é o conceito técnico de Clóvis Beviláqua. Personalidade Jurídica é a qualidade para ser sujeito de direito (conceito simples). 
	O sujeito de direito tanto pode ser a Pessoa Jurídica ou Pessoa Física.
	
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	PESSOA FÍSICA (OU PESSOA NATURAL – cfe. o CC/2002)
Problema: Em que momento a pessoa física adquire personalidade jurídica? 
	R: Numa interpretação literal, a resposta está na 1ª parte do artigo 2º do CC: No Nascimento com Vida! Que é comprovado por exame médico que vai atestar o sistema cardio-respiratório. Mas, esta é só uma interpretação literal da norma até o ponto e vírgula. 
	A resposta, é mais complexa:
	Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
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	Obs.1: Diferentemente da orientação do artigo 30 do CC da Espanha, o nosso direito, a luz do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, para considerar o recém nascido PESSOA, não exige FORMA HUMANA e NEM TEMPO MÍNIMO DE SOBREVIDA. 
	Art. 30. Para efeitos civis só se reputará nascido o feto que tiver figura humana e viver vinte e quatro horas inteiramente desprendido do ventre materno.
	Após o “;” há um “mas” que põe a salvo, DESDE A CONCEPÇÃO, os direitos do NASCITURO. 
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	OBSERVEM 
	Então, quer dizer que antes de ter personalidade jurídica, ele, o nascituro, já é sujeito de direitos? 
	Então, o nascituro é pessoa? O que é o nascituro? 
	R: Limonge França (SP) = segundo este doutrinador, o nascituro é o ente concebido, MAS, ainda não nascido. É o ente com vida intra-uterina. 
	Então, de que maneira se explica o nascituro de maneira jurídica?
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	TEORIAS DE EXPLICAÇÃO JURÍDICA SOBRE O NASCITURO: 
	1. TEORIA NATALISTA
	
	2. TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL 
	 	3. TEORIA CONCEPCIONISTA
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1.TEORIA NATALISTA:
	Foi defendida pelos doutrinadores: Silvio Rodrigues, Silvio Venoza, Eduardo Espínola, Vicente Rao,... Esta teoria, AINDA, é a mais forte e clássica do Direito Brasileiro. Ela é a mais conservadora. 
	
	Ela sustenta que a personalidade jurídica somente é adquirida a partir do nascimento com vida de maneira que o nascituro não seria considerado pessoa, tendo MERA EXPECTATIVA DE DIREITO. 
	Esta teoria parte da interpretação literal do CC. Porém, surgiram tantas críticas a essa teoria que nasceram outras 2 teorias mais modernas. Perceba que a segunda é preparatória da terceira.
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2. TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL: 
 	Ela é um pouco tímida, porém, mais evoluída. Ela está presente nas obras de Arnold Wald e de Serpa Lopes. 
	Ela afirma que o nascituro seria dotado apenas de uma personalidade “limitada” a certos direitos personalíssimos, apenas tornando-se pessoa, na concepção plena do termo, a partir do nascimento com vida.
Ex.: Ele teria direito à vida, mas não teria direitos patrimoniais, porque considera que ele só teria direitos personalíssimos.
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3.TEORIA CONCEPCIONISTA:
	É a teoria mais moderna. Adotada do Código Francês e que caiu no gosto dos civilistas, principalmente no TJRS. 
	Esta teoria afirma que o nascituro é PESSOA, é dotada de PERSONALIDADE JURÍDICA Defensores: Clóvis Beviláqua, Teixeira de Freitas, a Prof. Silmara Chinelato, a Des. Maria Berenice Dias. 
	Esta teoria vai mais além, porque não se limita a dizer que o nascituro é titular de direitos. Ela diz que ele É PESSOA! Portanto, ele tem direitos patrimoniais, direito a alimentos...
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OBSERVEM
 
	Independentemente da Teoria adotada, não se pode desconhecer que a ordem jurídica brasileira tutela os direitos do nascituro.
	O nascituro tem direito a Alimentos? 
	R: Conforme jurisprudência, a maioria dos juízes brasileiros não aceita esta tese. Porque a teoria natalista ainda é mais forte atualmente. Ora, onde está o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana? Ela tem uma dimensão existencial, concreta, não está no imaginário. 
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PERGUNTO:
	Teria o nascituro, direito à indenização por dano moral? 
R: Um indivíduo recebeu uma indenização de cerca de 30.000 reais, porque enquanto estava no útero da mãe, esta foi obrigada a ouvir os gritos lancinantes que o seu marido soltava enquanto era barbaramente torturado na época da ditadura. Ele foi morto. O filho teve consequências traumáticas, abalos psicológicos provenientes da época da vida intra-uterina. Se o irmão desta criança estivesse presente à cena, receberia uma indenização ainda maior, porque ele chegou a conhecer o pai vivo.
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Observação:
	O natimorto tem algum direito? 
	R: O natimorto é o nascido morto. A doutrina segue com o entendimento no sentido de que o natimorto teria direitos personalíssimos (nome, respeito a sua imagem e sepultura).
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Um adolescente de 15 anos de idade, tem aptidão para adquirir um imóvel?
Sim. O agente é considerando, até os 16 anos, absolutamente incapaz. Assim, apesar de possuir capacidade de direito, não possui capacidade para o exercício desse direito, razão pela qual ele deve ser representado.
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