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PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 1 CORROSÃO INTERGRANULAR DE AÇO INOXIDÁVEL FERRÍTICO: AVALIAÇÃO ATRAVÉS DE MÉTODO ELETROQUÍMICO ROGÉRIO FELIPE PIRES1 NEUSA ALONSO-FALLEIROS2 Resumo O presente trabalho objetivou verificar a viabilidade da aplicação do método eletroquímico DL-EPR na avaliação do grau de sensitização de aços inoxidáveis ferríticos. Este método vem sendo aplicado com sucesso para aços inoxidáveis austeníticos e recentemente para martensíticos, mas não se encontra na literatura dados sobre a sua aplicação para os inoxidáveis ferríticos. O trabalho experimental consistiu na aplicação do método DL-EPR às amostras de um aço inoxidável ferrítico UNS S43000, inicialmente tratado a 1200°C e resfriado com diferentes velocidades: em água, em óleo, em nitrogênio líquido e no forno. Os resultados obtidos com a técnica DL-EPR foram confrontados com os resultados obtidos com a Prática W da norma ASTM A763, que também foi aplicada às mesmas amostras. A Prática W é basicamente um ataque eletrolítico em ácido oxálico, que dissolve fases ricas em cromo. Todas as amostras ensaiadas pelos dois métodos foram examinadas em microscópio óptico. Palavras-chave: corrosão intergranular, aço inoxidável ferrítico, ensaio eletroquímico. 1 Bolsista Fapesp, Processo nº 00/12045-9, de 01/02/2001 a 31/01/2002, Escola Politécnica da USP, Engenharia Mecatrônica. 2 Professora do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da EPUSP. PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 2 1. Introdução A corrosão intergranular ocorre nos aços inoxidáveis e pode, na grande maioria das vezes, ser explicada através do mecanismo de empobrecimento do teor de Cr nas adjacências dos contornos de grão1, empobrecimento este, causado pela precipitação de carbonetos de cromo nos contornos de grão. O aço inoxidável nesta condição é dito sensitizado. Os métodos de avaliação da sensitização podem ser de imersão, como estão descritos, por exemplo, nas normas ASTM A2622, para aços austeníticos e ASTM A7633, para ferríticos. A Prática A da ASTM A2622 e Prática W da ASTM A7633 apresentam o procedimento para a realização do ataque metalográfico em ácido oxálico, o qual é capaz de revelar a presença de fases ricas em cromo, tais como os carbonetos de cromo4,5. Estas práticas são utilizadas para aceitação do material, mas a sua rejeição deve ser decidida em conjunto com métodos de avaliação descritos em outras práticas, as quais muitas vezes são lentas e destrutivas, incluindo testes de perda de massa e deformação por dobramento. Outras alternativas de avaliação da sensitização são os métodos eletroquímicos, sendo que estes tem algumas vantagens em relação aos métodos de imersão normalizados, pelo fato de que são mais rápidos, econômicos e mais precisos, pois conseguem avaliar o grau de sensitização do aço e não apenas responder se o aço está ou não sensitizado. O método chamado de Reativação Potenciodinânica (Eletrochemical Potentiokinetic Reativation - EPR) vem sendo utilizado de modo quantitativo e não destrutivo para avaliar a susceptibilidade à corrosão intergranular em aços inoxidáveis6,7,8,9,10. Nos últimos anos vêm sendo estudada a aplicação dos métodos eletroquímicos particularmente do DL-EPR( Electrochemical Potenkinetic Reactivation in the Double Loop version) para a avaliação da susceptibilidade à corrosão intergranular de aços PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 3 inoxidáveis martensíticos , tipo UNS S410007 , UNS S420008 e superausteníticos tipo UNS S 312549. A literatura também apresenta diversos trabalhos para os aços inoxidáveis austeníticos mais comuns. Por outro lado, não há registros na literatura que tratem da sensitização de aços inoxidáveis ferríticos avaliada pelo método eletroquímico de reativação potenciodinâmica. Aspectos metalográficos dos aços inoxidáveis ferríticos Os aços inoxidáveis são divididos em 5 famílias distintas de acordo com a sua estrutura cristalina e seus precipitados11. Cada família possui suas características gerais em termos de propriedades mecânicas, resistência à corrosão e custo11. Os aços inoxidáveis ferríticos são os mais simples aços inoxidáveis, pois contêm quase somente ferro e cromo ( 11% a 26% de cromo )12. Cromo é um estabilizador ferrítico; por essa razão, a estabilidade da estrutura ferrítica aumenta com a presença de cromo. Os ferríticos possuem uma estrutura cristalina cúbica de corpo centrado e são caracterizados como magnéticos, com limite de escoamento relativamente alto e baixa ductibilidade. Os aços inoxidáveis ferríticos apresentam baixa solubilidade para certos elementos intersticiais como carbono e nitrogênio. Também exibem uma transição brusca de comportamento dúctil para frágil. As ligas com 17% de cromo, quando resfriadas rapidamente até a temperatura ambiente, não ocorre, devido às condições cinéticas, a precipitação de outras fases, como por exemplo a fase sigma (σ). Disto resulta que as ligas Fe – 17% Cr são monofásicas de estrutura CCC. PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 4 A presença de carbono e nitrogênio nas ligas ferro-cromo amplia o campo de duas fases, austenita mais ferrita13 (α+γ). Uma liga Fe – 17% Cr, com teores de carbono e nitrogênio suficientemente baixos para permitir uma estrutura totalmente ferrítica, quando aquecida a temperaturas superiores a 1150ºC, sofrerá um acentuado crescimento de grão, e todo carbono e nitrogênio estarão em solução sólida12. Entretanto, com o resfriamento, a solubilidade do carbono e nitrogênio na matriz α diminui, e ocorre a precipitação de carbonetos complexos, e nitretos de cromo, principalmente nos contornos de grão. Essa precipitação de carbonetos e nitretos intergranulares, além de prejudicar as propriedades mecânicas dos aços inoxidáveis ferríticos, devido à perda da tenacidade do material, torna estes aços susceptíveis à corrosão intergranular14. Corrosão intergranular de aços inoxidáveis ferríticos Quando os aços inoxidáveis ferríticos são aquecidos até temperaturas superiores a 950ºC e, depois, são resfriados até a temperatura ambiente, eles podem tornar-se susceptíveis à corrosão intergranular14 . Bond1 estudou ligas de ferro com 17% de cromo com quantidades controladas de carbono e nitrogênio, e verificou que uma liga contendo 0,0095% de nitrogênio e 0,0021% de carbono é resistente à corrosão intergranular, inclusive nas temperaturas de sensitização (927ºC a 1149ºC). Entretanto, verificou que ligas contendo mais do que 0,0022% de nitrogênio ( com teor de carbono menor do que 0,0044% ) ou mais do que 0,012% de carbono ( com teor de nitrogênio menor do que 0,0089% ) tornam-se susceptíveis à corrosão intergranular quando tratadas em temperaturas superiores a 927ºC. As amostras PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 5 foram examinadas em microscópio eletrônico, o qual revelou a presença de precipitados nos contornos de grão para as ligas susceptíveis à corrosão intergranular, e a ausência destes nas ligas resistentes a essa corrosão. Bond1 explicou a corrosão intergranular dos aços inoxidáveis ferríticos como sendo devida ao empobrecimento do teor de cromo nas áreas adjacentes aos precipitados de carbonetos e nitretos de cromo. Mecanismo de sensitização dos aços inoxidáveis ferríticos: Quando um aço inoxidável ferrítico é aquecido a temperaturas acima de 950ºC, os carbonetos e nitretos de cromo dissolvem-se na solução sólida. Se o teor de intersticiais é suficientemente baixo, eles serão conservados em solução sólida quando rapidamente resfriados até a temperatura ambiente, e o material não sofrerá corrosão intergranular. Entretanto, se essas ligas supersaturadas em carbono e nitrogênioforem aquecidas a temperaturas entre 500ºC a 950ºC, ocorrerá a precipitação de carbonetos e nitretos de cromo em contornos de grão para aliviar a supersaturação. Se a temperatura estiver entre 700ºC a 950ºC, tão logo ocorre a precipitação, o cromo passará a se difundir até as áreas adjacentes aos carbonetos e nitretos de cromo, empobrecidas nesse elemento. Nesse caso, o aço não sofrerá corrosão intergranular. Entretanto, em temperaturas entre 500ºC a 700ºC a precipitação dos carbonetos e nitretos de cromo é rápida, mas a velocidade de difusão do cromo é pequena e, consequentemente, o material só será recuperado após longos tempos de aquecimento nessas temperaturas; em tempos curtos, o material ficará susceptível à corrosão intergranular. No caso de aços com teores comerciais de carbono e nitrogênio, como os aços UNS S 43000 e UNS S 44600, a sensitização ocorre mesmo para a têmpera em água, a partir de temperaturas acima de 950ºC. Isso ocorre devido à maior supersaturação de carbono e nitrogênio nessas ligas, o que, associado à rápida velocidade de difusão desses intersticiais PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 6 nas ligas ferríticas, facilita a precipitação dos carbonetos e nitretos em tempo menor. Essas ligas também têm o problema da sensitização eliminado, quando aquecidas a temperaturas de 700ºC a 950ºC, nas quais ocorre a precipitação e simultânea difusão do cromo para as áreas empobrecidas13. 2. Materiais e Métodos 2.1 Aço e Corpos-de-prova A composição química do aço inoxidável ferrítico UNS S43000 que foi utilizado no presente trabalho está apresentada na Tabela 1. Tabela 1: Composição química do aço estudado (% em peso)* C Mn Si P S Cr Ni Ti Nb N2 0,047 0,35 0,40 0,027 0,002 16,24 0,24 0,002 0,004 0,030 *Doação da Acesita. A partir de uma chapa retangular lisa com 1,1 mm de espessura, 15 cm de largura e 20 cm de comprimento foram extraídas amostras de secção quadrada com 10 mm de lado. As amostras foram solubilizadas num forno da marca Lindberg/blue-m a 1200°C (1273K) durante 20min e, em seguida, foram resfriadas em nitrogênio líquido, água, óleo, e no forno (sendo este último um resfriamento com a taxa de 1ºC por minuto), de modo a se obter amostras com diferentes velocidades de resfriamento. Após os tratamentos térmicos as amostras tiveram todas as faces lixadas até a lixa #600. Em seguida foram embutidas em baquelite. O contato elétrico necessário para os ensaios eletroquímicos foi realizado através de um pequeno orifício na baquelite até a superfície da amostra. Foi ensaiada a superfície PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 7 da chapa, por isso, com o embutimento, esta face ficou exposta. Em conseqüência disto, o material disponível para o contato elétrico no interior do baquelite teria a espessura da chapa, a qual é muito fina (1,1 mm ). Para aumentar esta espessura, permitindo o contato elétrico sem problemas, foi embutido junto com a amostra um pedaço de aço UNS S30400, simplesmente colocado em contato com a amostra. Deste modo a região para contato ficou prolongada. A figura 4.1 mostra um esquema deste corpo-de-prova. Pelo menos seis corpos-de-prova de cada condição de resfriamento foram preparados para os ensaios. Figura 4.1 – Esquema da montagem usada para os corpos-de-prova embutidos. 2.2 Métodos Foram realizados os seguintes ensaios: (a) Reativação Eletroquímica Potenciodinâmica na Versão Duplo Loop (DL-EPR); (b) Ataque metalográfico com ácido oxálico (Prática W-ASTM A763). Furo de rosca para o contato elétrico Amostra de UNS S 43000 Aço inoxidável UNS S 30400 Superfície a ser ensaiada Baquelite PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 8 O ensaio DL-EPR foi realizado com o auxílio de um potenciostato PAR-273 acoplado a microcomputador, utilizando solução naturalmente aerada de 0,5 M H2SO4 à (23+1)°C. Neste ensaio a amostra foi lixada com lixa #600 imediatamente antes de ser imersa no eletrólito, onde permaneceu por 5 min sem nenhuma aplicação de potencial. Foram utilizados o eletrodo de calomelano saturado (ECS) como eletrodo de referência e um fio de platina como contra eletrodo. O ensaio DL-EPR é basicamente uma polarização cíclica. Iniciou-se a polarização anódica no potencial de corrosão estabelecido após os cinco minutos de imersão seguindo- se até o valor máximo de 500 mVECS, potencial no qual o material se encontrava passivo. Este processo é chamado de ativação. Em seguida, o potencial foi diminuído até o potencial inicial. Já este processo é chamado de reativação. Tanto na ativação quanto na reativação a velocidade de varredura empregada foi de 1,67 mV/s. Sendo assim, neste ensaio foram obtidos os valores de máxima densidade de corrente tanto na etapa de ativação Ia, como na de reativação, Ir. O grau de sensitização foi medido através do quociente entre os dois máximos de densidade de corrente, Ia Ir . Os ensaios em ácido oxálico foram realizados seguindo os procedimentos da Prática W da norma ASTM A763. As amostras foram polidas até diamante 1 µm e atacadas em solução aquosa de 10% H2C2O4.2H2O (ácido oxálico), sob uma densidade de corrente de 1 A/cm2, durante 90 s. Também neste caso foi utilizado o potenciostato PAR 273 e acessórios. PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 9 3. Resultados e Discussão Durante o período de Iniciação Científica foram realizados ensaios do tipo: ataque em ácido oxálico (Prática W) e DL-EPR. Nos itens a seguir, estão apresentados e discutidos os resultados obtidos. 3.1 Resultados da Prática W A realização da Prática W permitiu a observação das características inerentes aos diferentes meios de resfriamento. Uma breve discussão dos resultados está apresentada a seguir. 3.1.1 Amostras resfriadas em água e óleo As amostras resfriadas em água e em óleo apresentaram micrografias semelhantes (Figura 5.1 a 5.3 para resfriamento em água e Figuras 5.4 e 5.5 para resfriamento em óleo). Figura 5.1 - Micrografia de amostra resfriada em água após a Prática W. Nota-se a presença de grãos recristalizados de ferrita com alguns contornos de grão mais atacados do que outros. Aumento: 50x. PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 10 Figura 5.2 – Micrografia de amostra resfriada em água após a Prática W. Nota-se a existência de contorno de grão atacado e outros praticamente sem nenhum ataque. Aumento: 200x. Figura 5.3 - Micrografia de amostra resfriada em água após a Prática W. Nota-se a existência de valas nas regiões dos contornos de grão mais atacados. Aumento: 500x. PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 11 Figura 5.4 - Micrografia de amostra resfriada em óleo após a Prática W.Nota-se a presença de grãos recristalizados de ferrita com alguns contornos bem acentuados. Aumento: 100x. Figura 5.5 - Micrografia de amostra resfriada em óleo após a Prática W. A figura mostra as valas nos contornos de grão. Aumento: 1000x. PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 12 Primeiramente, observa-se através das figuras 5.1 a 5.5, que os resfriamentos em água e em óleo produziram microestruturas muito semelhantes: foram revelados grãos de ferrita recristalizados, com contornos de grão atacados com diferentes intensidades na mesma amostra; alguns contornos de grão apresentaram valas profundas e outros, valas mais rasas e, ainda, outros com apenas um leve ataque. Outra característica importante, é que não foi encontrado nestas amostras, nenhum grão totalmente envolvido por valas. É importante notar que os resfriamentos em água e óleo produziram microestruturas totalmente ferríticas. Isto significa que durante o tratamento de solubilização a 1200ºC, o material encontrava-sedentro do campo ferrítico do diagrama de equilíbrio Fe - Cr - C. A figura 5.6 mostra esquematicamente o que ocorreu com o material durante a solubilização. Figura 5.6 – Esquema gráfico do Diagrama de Fases para o sistema Fe-Cr-C. Como pode-se observar na Figura 5.6, durante o aquecimento a 1200oC o aço apresentava estrutura ferrítica (α). Durante o resfriamento o material atravessou o campo (α + γ). No entanto, os resfriamentos em água e em óleo foram suficientemente rápidos T(ºC) %Cr γ α + γ α 1200 16 PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 13 para impedir a formação de austenita (γ). Desse modo, a estrutura resultante é totalmente ferrítica, conforme observado nas micrografias das Figuras 5.1 a 5.5. Por sua vez, os resfriamentos mais lentos (forno e nitrogênio) permitiram a formação de austenita, conforme está apresentado mais adiante, devido a permanência do material por um tempo maior no campo (α + γ). Como a Prática W dissolve fases ricas em cromo, a presença de ataque no contorno de grão (vala rasa ou profunda), indica que ali havia precipitados de carbonetos de cromo, que foram dissolvidos. Por sua vez, a presença de carbonetos de cromo é um alerta para a existência de regiões empobrecidas no elemento cromo, e portanto, um alerta de que o material pode estar susceptível ao ataque intergranular, ou seja, que o material esteja sensitizado. Como não foi encontrado nenhum grão totalmente envolvido por valas, pelos critérios da norma ASTM A763, os materiais resfriados em água e óleo, poderiam ser aceitos. No entanto, a Prática W revela que ocorreu a precipitação de carbonetos de cromo, portanto, algum empobrecimento no elemento cromo deve ter ocorrido e este é o responsável pelo grau de sensitização do material. Este grau de sensitização não pode ser obtido pela Prática W, mas pode ser determinado pelo método DL-EPR (cujos resultados estão apresentados mais adiante). 3.1.2 Amostras resfriadas em nitrogênio líquido e no forno Como no item anterior, as amostras resfriadas em nitrogênio líquido e no forno também apresentaram microestruturas muito semelhantes. As figuras 5.7 a 5.9 referem-se ao resfriamento em nitrogênio líquido e as figuras 5.10 a 5.12 ao resfriamento no forno. PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 14 Figura 5.7 - Micrografia de amostra resfriada em nitrogênio líquido após a Prática W. Nota-se a presença de grãos recristalizados de ferrita com alguns contornos bem definidos e algumas regiões com ataque mais acentuado. Aumento: 50x. Figura 5.8 – Micrografia da amostra resfriada em nitrogênio líquido após a Prática W. Nota-se a presença de contornos atacados, regiões vizinhas aos contornos de grão sem precipitação de carbonetos e precipitação no interior dos grãos. Aumento: 100x PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 15 Figura 5.9 – Detalhe que mostra a presença de estruturas em forma de agulha (austenita de Widmanstätten) em alguns contornos. Aumento: 200x. Figura 5.10 - Micrografia de amostra resfriada no forno após a Prática W. Nota-se a presença de grãos recristalizados de ferrita com alguns contornos bem definidos e algumas regiões com ataque mais acentuado. Aumento: 50x. PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 16 Figura 5.11 - Micrografia de amostra resfriada no forno após a Prática W. Nota-se a presença de estruturas em forma de agulha (austenita de Widmanstätten) em alguns contornos. Aumento: 100x. Figura 5.12 – Micrografia de amostra resfriada no forno após a Prática W. Nota-se a presença de valas nos contornos. Aumento: 500x PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 17 As micrografias obtidas para as amostras resfriadas em nitrogênio líquido e no forno, revelaram primeiramente uma intensa precipitação tanto nos contornos de grão como no interior dos grãos de ferrita, além da precipitação de austenita nos contornos de grão da ferrita, na forma de agulhas de Widmanstätten. Como no caso anterior, através da Figura 5.6, pode-se compreender a causa da precipitação de austenita nestes resfriamentos lentos. Na temperatura de 1200ºC, o material encontrava-se no campo ferrítico, mas devido ao lento resfriamento, o material atravessou o campo α+γ, originando as austenitas de Widmanstätten. Foram encontradas valas nos contornos de grão da ferrita e nos contornos ferrita/austenita, o que indica que aí ocorreu a precipitação de carbonetos de cromo. Além disso, no caso do resfriamento no forno, foi possível encontrar grãos totalmente envolvidos por valas. Já no caso do resfriamento em nitrogênio líquido, este fato não ficou muito nítido. Também, as amostras resfriadas em nitrogênio parecem ter sofrido uma precipitação no interior dos grãos maior do que as amostras resfriadas no forno, além de maior quantidade de precipitação de austenita nos contornos de grão. Houve, ao contrário do que era esperado, uma intensa precipitação nas amostras resfriadas em nitrogênio líquido. Isto ocorreu devido à formação de uma camada de gás durante o resfriamento que, impedindo a troca de calor entre a amostra e o nitrogênio líquido, tornou este o resfriamento mais lento dentre todos, juntamente com o forno. No caso do resfriamento no forno foram encontrados grãos totalmente envolvidos por valas, estas amostras não seriam aceitas pelos critérios da norma ASTM A763 e seriam encaminhadas para outras Práticas (X, Y ou Z). No caso do resfriamento com nitrogênio, não ficou clara a existência de valas contornando completamente pelo menos PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 18 um grão, mas devido a intensa precipitação ocorrida, a não aceitação também deve ser a decisão mais segura. Já no caso dos resfriamentos em água e óleo, foi revelado que houve precipitação de carbonetos e, portanto, deve haver empobrecimento em cromo. Para avaliar o grau deste empobrecimento (grau de sensitização), foram realizados os ensaios DL-EPR, cujos resultados estão apresentados a seguir. 3.2 Resultados dos ensaios DL-EPR Com a Prática W, observou-se que as amostras apresentaram diferentes intensidades de ataque, o que revela a presença de diferentes quantidades de carbonetos de cromo precipitados nos contornos de grão, porém, nada se pode concluir sobre o grau de sensitização das amostras. Para avaliar o grau de sensitização das amostras, foram realizados ensaios DL-EPR, cujos resultados estão apresentados nas figuras 5.13 a 5.16 e na tabela 2. 1E-8 1E-7 1E-6 1E-5 1E-4 1E-3 1E-2 Densidade de corrente (A/cm²) -0.80 -0.40 0.00 0.40 0.80 Po te nc ia l ( V ,E C S) Água Figura 5.13 - Curva de polarização típica obtida pelo método DL-EPR para a amostra resfriada em água. PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 19 1E-7 1E-6 1E-5 1E-4 1E-3 1E-2 1E-1 Densidade de corrente (A/cm²) -0.80 -0.40 0.00 0.40 0.80 Po te nc ia l ( V ,E C S) Óleo Figura 5.14 - Curva de polarização típica obtida pelo método DL-EPR para a amostra resfriada em óleo. 1E-7 1E-6 1E-5 1E-4 1E-3 1E-2 1E-1 Densidade de corrente (A/cm²) -0.80 -0.40 0.00 0.40 0.80 Po te nc ia l ( V ,E C S) Nitrogênio líquido Figura 5.15 - Curva de polarização típica obtida pelo método DL-EPR para a amostra resfriada em nitrogênio líquido. PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 20 1E-5 1E-4 1E-3 1E-2 1E-1 Densidade de corrente (A/cm²) -0.80 -0.40 0.00 0.40 0.80 Po te nc ia l ( V ,E C S) Forno Figura 5.16 - Curva de polarização típica obtida pelo método DL-EPR para a amostra resfriada em forno. Nota-se nas figuras 5.13 a 5.16 o aspecto geral das curvas de polarização obtidas com o método DL-EPR para os resfriamentos em água, óleo,nitrogênio líquido e no forno. Na tabela 2 estão os resultados dos ensaios realizados. Foi calculada a média e desvio padrão do parâmetro Ir/Ia, que fornece o valor do grau de sensitização. Os resultados da tabela 2 mostram que o grau de sensitização aumenta no sentido dos resfriamentos: água, óleo e nitrogênio líquido e forno, que apresentaram o mesmo grau de sensitização. PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 21 Tabela 2 – Resultados dos ensaios DL-EPR. Meio de Resfriamento Ir (A/cm2) Ia (A/cm2) Ir/Ia (Ir/Ia) + ∆ 4,71x10-6 16,73x10-3 0,0002815 48,78x10-6 8,40x10-3 0,0057844 0,00 8,98x10-3 0 0,00 8,77x10-3 0 0,00 8,80x10-3 0 Água 0,00 6,93x10-3 0 0,001 + 0,002 82,50x10-6 6,60x10-3 0,0125 143,40x10-6 17,04x10-3 0,00842 52,11x10-6 4,467x10-3 0,01167 12,89x10-6 3,811x10-3 0,00338 47,22x10-6 3,756x10-3 0,01257 Óleo 58,22x10-6 5,344x10-3 0,01089 0,010+0,003 387,00x10-6 12,17x10-3 0,0317995 341,10x10-6 11,43x10-3 0,0298425 808,90x10-6 9,67x10-3 0,0836764 638,92x10-6 9,55x10-3 0,0669021 654,79x10-6 9,78x10-3 0,0669521 Nitrogênio 1,89x10-3 15,44x10-3 0,12241 0,067+0,003 848,9x10-6 13,67x10-3 0,0621 821,1x10-6 15,32x10-3 0,0536 1,373x10-3 15,49x10-3 0,0886 528,9x10-6 8,856x10-3 0,0597 1,21x10-3 16,13x10-3 0,0750 Forno 1,012x10-3 15,83x10-3 0,0639 0,067+0,005 De fato, apesar de no resultado da Prática W os resfriamentos em água e óleo apresentarem-se muito semelhantes, a realização do ensaio DL-EPR mostrou que o grau de sensitização das amostras resfriadas em óleo é dez vezes maior do que o obtido com o resfriamento em água. Por sua vez, as amostras resfriadas em nitrogênio líquido apresentaram um grau de sensitização praticamente igual ao grau de sensitização apresentado pelas amostras resfriadas no forno. Outro parâmetro sugerido na literatura16 para se avaliar o grau de sensitização de aços inoxidáveis ferríticos é o valor do segundo máximo de corrente obtido durante a ativação. Este segundo máximo ocorre em amostras que possuem regiões empobrecidas em cromo, e devido a esse fato, não se passivam, ficando susceptíveis à corrosão. PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 22 Os valores de segundo máximo de corrente, normalizados pelos valores de Ia, obtidos para os quatro meios de resfriamento estudados estão apresentados na Tabela 3. Através dos valores obtidos, percebe-se que a ordem de classificação do grau de sensitização não se alterou: o menor grau de sensitização permaneceu a água, que apresentou menor valor de I2MÁX/Ia, seguida pelo óleo, e, por fim, pelos resfriamentos em nitrogênio líquido e no forno, que apresentaram graus de sensitização muito próximos. Tabela 3 – Valores de segundo máximo de corrente durante a ativação(I2MÁX) Meio de Resfriamento I2MÁX (A/cm2) Ia (A/cm2) I2MÁX/Ia (I2MÁX/Ia) + ∆ 35,22x10-6 16,73x10-3 0,00211 28,78x10-6 8,40x10-3 0,00343 22,00 x10-6 8,98x10-3 0,00245 28,22 x10-6 8,77x10-3 0,00322 22,56 x10-6 8,80x10-3 0,00256 Água 26,32 x10-6 6,93x10-3 0,00380 0,0029+0,0007 54,00 x10-6 6,60x10-3 0,0082 57,22 x10-6 17,04x10-3 0,0034 51,60 x10-6 4,467x10-3 0,0116 68,33 x10-6 3,811x10-3 0,0179 58,60 x10-6 3,756x10-3 0,0156 Óleo 57,55 x10-6 5,344x10-3 0,0108 0,011+0,005 184,20 x10-6 12,17x10-3 0,0151 172,0 x10-6 11,43x10-3 0,0150 195,22 x10-6 9,67x10-3 0,0202 185,55 x10-6 9,55x10-3 0,0194 186,50 x10-6 9,78x10-3 0,0191 Nitrogênio 188,60 x10-6 15,44x10-3 0,0122 0,017+0,003 286,75 x10-6 13,67x10-3 0,0210 270,50 x10-6 15,32x10-3 0,0177 266,45 x10-6 15,49x10-3 0,0172 280,20 x10-6 8,856x10-3 0,0316 273,30 x10-6 16,13x10-3 0,0169 Forno 245,20 x10-6 15,83x10-3 0,0155 0,020+0,006 Devido à coerência com os resultados obtidos nos ensaios DL-EPR, observa-se que o valor de I2MÁX também pode ser empregado na avaliação do grau de sensitização de aços inoxidáveis ferríticos. PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 23 4. Conclusões Com os resultados obtidos, é possível relacionar as seguintes conclusões: 1. Após a Prática W, os resfriamentos em água e óleo apresentam resultados semelhantes, sem apresentar nenhum grão totalmente envolvido por valas e, portanto, seriam materiais aceitos pela norma ASTM A763. 2. Após a Prática W, o resfriamento no formo revelou uma estrutura com grãos totalmente envolvidos por valas, o que torna o material não aceito pela norma ASTM A763, necessitando a realização de outras Práticas para a avaliação da sensitização. 3. Após a Prática W, o resfriamento em nitrogênio líquido revelou ser a condição de maior intensidade de precipitação, inclusive com formação de agulhas de austenita, como no caso do resfriamento no forno. Este resultado inesperado é explicado pela formação de uma camada de gás durante a imersão da amostra no nitrogênio, o que impediu a troca térmica. 4. Com os ensaios DL-EPR, foi possível obter o grau de sensitização das amostras resfriadas em água, óleo, nitrogênio e forno. O menor grau de sensitização foi obtido para o resfriamento em água, seguido pelo resfriamento em óleo (dez vezes maior), e por fim, pelos resfriamentos em nitrogênio líquido e no forno. 5. Os valores obtidos para o segundo máximo de corrente, I2MÁX, foram coerentes com os resultados dos ensaios DL-EPR realizados para os diferentes meios de resfriamento. Devido a essa coerência, percebe-se que este parâmetro também pode ser aplicado para a avaliação do grau de sensitização de aços inoxidáveis ferríticos. 6. A coerência obtida nos resultados mostraram que o método DL-EPR pode ser empregado para a medida do grau de sensitização do aço UNS S43000 e é capaz de PRODUÇÃO EM INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EPUSP – 2002 24 distinguir o grau de sensitização para diferentes meios de resfriamento que na Prática W apresentam a mesma microestrutura (caso dos resfriamentos em água e óleo). 5. Referências Bibliográficas 1. BOND, A. P. Mechanisms of intergranular corrosion in ferritic stainless steels. Transactions of the Metallurgical Society of AIME, v.245, p. 2127-34, Oct. 1969. 2. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING MATERIALS. “Standard pratices for detecting susceptibility to intergranular attack in austenitic stainless steels”: A262-93a. Philadelphia, 1999. 3. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING MATERIALS.“Standard practices for detecting suscepitibility to intergranular attack in ferric stainless steels”: A763-93. Philadelphia, 1999. 4. ABE, S; KANEBO, M. On the intergranular corrosion mechanism in stainless steels. 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