Buscar

dissertacao margareth

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 144 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 144 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 144 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
FACULDADE DE LETRAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS PROCESSOS ANAFÓRICOS NO GÊNERO RELATO ESPORTIVO 
 
 
 
 
 
 
MARGARETH ANDRADE MORAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
JULHO DE 2012 
 
2 
 
 
OS PROCESSOS ANAFÓRICOS NO GÊNERO RELATO ESPORTIVO
 
 
 
 
MARGARETH ANDRADE MORAIS 
 
 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado apresentada 
ao Programa de Pós-Graduação em 
Letras (Letras Vernáculas), Faculdade 
de Letras, da Universidade Federal do 
Rio de Janeiro, como parte dos 
requisitos necessários à obtenção do 
título de Mestre em Letras Vernáculas, 
na Área de Concentração Língua 
Portuguesa. 
 
Orientador: Profa. Dra. Leonor 
Werneck dos Santos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
Julho de 2012. 
 
4 
 
 
 
OS PROCESSOS ANAFÓRICOS NO GÊNERO RELATO ESPORTIVO 
 
 
MARGARETH ANDRADE MORAIS 
 
 
Orientador: Profa. Dra. Leonor Werneck dos Santos 
 
 
 
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras (Letras 
Vernáculas), Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como 
parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas, na 
Área de Concentração Língua Portuguesa. 
 
 
Examinada por: 
 
 
______________________________________________________________________ 
Profa. Dra. Leonor Werneck dos Santos (presidente) 
 
 
______________________________________________________________________ 
Profa. Dra. Mônica Magalhães Cavalcante (UFC) 
 
 
______________________________________________________________________ 
Profa. Dra. Maria Eduarda Giering (UNISINOS) 
 
 
______________________________________________________________________ 
Profa Dra. Deise Santos (UFRJ – Suplente) 
 
 
______________________________________________________________________ 
Profa. Dra. Regina de Souza Gomes (UFRJ – Suplente) 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
Julho de 2012 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MORAIS, Margareth Andrade. 
 
 Os processos anafóricos no gênero relato esportivo 
/ Margareth Andrade Morais – Rio de Janeiro: UFRJ / FL, 
2012. 
V, 144f. 
Orientador: Leonor Werneck dos Santos. 
Dissertação (mestrado) – UFRJ / Faculdade de 
Letras / Programa de Pós-Graduação em Letras 
Vernáculas / Língua Portuguesa, 2012. 
Referências Bibliográficas: f.109-113. 
 1. Referenciação. 2.Gênero. 3.Linguística 
Textual. I. SANTOS, Leonor Werneck. II. Universidade 
Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa 
de Pós-Graduação em Letras Vernáculas. III. Os processos 
anafóricos no gênero relato esportivo. 
 
 
6 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Antes de tudo, agradeço a Deus pela força que me fez seguir em frente em todos 
os momentos da minha vida. 
Ao meu pai (in memoriam), exemplo pra toda minha vida, que, mesmo na 
ausência se fez presença. Ao Sr. José Carlos Morais (e minha mãe, é claro) devo tudo o 
que sou hoje. 
 A minha mãe, por ser essa pessoa de extrema generosidade, coisa que nunca vi 
igual. Com seu constante sorriso e colo acolhedor, faz com que tudo pareça muito mais 
fácil do que é. 
 A minha querida irmã, Marcia, minha melhor amiga desde sempre, colega de 
mestrado, de profissão e de tudo mais! Obrigado pelo estímulo e por estar do meu lado 
sempre. 
 Aos meus amigos pela alegria de sempre: Alane, Provietti, Sinézio, Nilze e todos 
os outros. Ao Thiago, meu cunhado querido, pois sem ele eu nunca saberia que o Fágner 
é lateral-direito. Aos meus amigos Elma e Carlos Iberê, pelo apoio e toda força que 
dispensaram a mim nessa caminhada. 
 Aos meus alunos que estão na torcida, por serem um dos motivos pelos quais me 
aventuro ainda mais na busca pelo conhecimento. 
 À Leonor Werneck, minha querida orientadora: esta dissertação é apenas a parte 
visível de tudo o que fez por mim. Exemplo de professora, foi com ela que aprendi o 
que é ser professora de Língua Portuguesa. Obrigada! 
 Ao meu marido, Leandro, companheiro de toda uma vida, pela paciência 
infinita, por entender o meu cansaço e a minha ausência nos momentos mais tensos e 
por todo seu amor que torna a minha vida completa. 
 Ao meu sogro, Alberto, pelas conversas agradáveis sobre futebol! 
 Agradeço também à profa. Mônica Cavalcante pela generosidade nas sugestões 
dadas a este trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tudo é teu, que enuncias. Toda forma 
nasce uma segunda vez e torna 
infinitamente a nascer. O pó das coisas 
ainda é um nascer em que bailam mésons. 
E a palavra, um ser esquecido de quem o 
criou; flutua, reparte-se em signos — 
Pedro, Minas Gerais, beneditino — 
para incluir-se no semblante do mundo. 
O nome é bem mais do que o nome: o além 
da-coisa, coisa livre de coisa, circulando. 
E a terra, palavra espacial, tatuada de sonhos, 
cálculos. 
 
Carlos Drummond de Andrade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SINOPSE 
 
Análise do fenômeno da 
referenciação em relatos 
esportivos sob a ótica da 
Linguística de Texto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
RESUMO 
 
OS PROCESSOS ANAFÓRICOS NO GÊNERO RELATO ESPORTIVO 
 
Margareth Andrade Morais 
Orientador: Leonor Werneck dos Santos 
 
 
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – 
UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em 
Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). 
 
 O presente trabalho trata da referenciação em relatos esportivos, analisando-os a 
partir do aparato teórico da Linguística de Texto. Os objetivos deste trabalho consistem 
em verificar os processos de referenciação mais frequentes nesse gênero e em que 
medida esses processos podem ser orientados por um gênero textual específico. Tendo 
em vista tais objetivos, será priorizada uma abordagem que integre os processos de 
referenciação ao estudo dos gêneros, observando como as formas de referenciação são 
importantes para a progressão temática dos textos, indicando como enunciador e co-
enunciador trabalham juntos para obter o sucesso no processo de comunicação. 
Pretendemos demonstrar ainda como o relato esportivo depende, para sua interpretação, 
do conhecimento de mundo compartilhado, o que pode ser percebido através das marcas 
de referenciação. Para isso, foram analisados 40 relatos esportivos retirados dos jornais 
Lance! e Marca e, a partir dessa análise, foram sistematizados os recursos mais 
frequentes e sua possível relação com o gênero relato esportivo. 
. 
 
 
 
 
 
Palavras-chave: Referenciação, gênero textual, relato esportivo, conhecimento de 
mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
ABSTRACT 
 
ANAPHORIC PROCESSES IN THE GENRE SPORTS REPORTING 
Margareth Andrade Morais 
 
Advisor: Leonor Werneck dos Santos 
 
 
Abstract of Master’s Thesis presented to Programa de Pós-Graduação em Letras 
Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, as 
a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Portuguese. 
 
 
The present work deals with referenciation resources for sports reports, analyzing them 
from the theoretical apparatus of Textual Linguistics. The objectives of this research is 
to verify the referenciation processes frequently this genre and towhat extent these 
processes can be guided by a specific genre. We tried to investigate, then, if this genre 
requires certain forms of identification. In view of these objectives will be prioritized an 
approach that integrates the processes of referenciation to the study of genres, observing 
the forms of referencing are important to the thematic progression of texts, showing 
how co-enunciator enunciator and work together to succeed in the communication 
process. For this, we analyzed 40 reports taken from newspapers Lance sports! and 
Marca, and from this analysis, the resources were systematically more frequent and 
their possible relationship to gender sports reporting. 
 
Keywords: genres, shared knowledge, referenciation, reporting sports. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
SUMÁRIO 
 
Introdução ................................................................................................................. 13 
 
1. TEXTO E REFERENCIAÇÃO............................................................................ 18 
 
1. 1 O texto como lugar de interação ........................................................................... 18 
 
1.2 Noções sobre referenciação .................................................................................. 23 
1.2.1 A relação entre as palavras e o mundo ................................................................ 24 
1.2. 2 Referenciação e objetos de discurso ................................................................... 25 
1.2.3 A recategorização dos referentes ........................................................................ 28 
1.2.4 As formas de construção dos objetos de discurso e sua implicação para progressão 
referencial ................................................................................................................... 32 
1.2.5 Classificação dos processos referenciais................................................................33 
 
2. GÊNEROS TEXTUAIS: CONCEITUAÇÃO E ESPECIFICIDADES .............. 44 
2.1 O que entendemos por gênero...................................................................................44 
2.2 Gênero Relato esportivo ........................................................................................ 50 
 
3. O JORNALISMO ESPORTIVO ......................................................................... 57 
 
3.1 Um pouco sobre o jornalismo esportivo................................................................. 57 
3.2 O estilo dos jornais e a linguagem da imprensa esportiva....................................... 59 
 
4. O RELATO ESPORTIVO EM ANÁLISE .......................................................... 62 
 
4.1 Anáforas diretas recategorizadoras ........................................................................ 66 
4.1.1 Epítetos: um caso especial de anáfora direta ....................................................... 75 
4.1.2 Expressões metafóricas ...................................................................................... 80 
4.1.3 Anáforas prospectivas ........................................................................................ 84 
 
4.2 Anáforas indiretas propriamente ditas.................................................................... 87 
12 
 
 
4.3 Anáforas encapsuladoras ....................................................................................... 91 
 
4.4 Aprofundando a discussão ..................................................................................... 95 
 
4.5 A referenciação no relato esportivo: cruzando dados ........................................... 102 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 106 
 
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 109 
 
ANEXOS ................................................................................................................. 114 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Acompanhando os avanços da Linguística Textual acerca dos processos de refe-
renciação e sua importância para a textualidade, pretendemos, nesta pesquisa, analisar 
os processos referenciais anafóricos tendo em vista seu uso em determinado gênero: o 
relato esportivo. 
 A motivação para esse trabalho nasceu do interesse em estudar a referenciação 
devido a sua importância para os estudos do texto, analisando as transformações e 
mudanças pelas quais passam os referentes e sua contribuição para os propósitos 
comunicativos dos textos. Esses mecanismos são importantes para a progressão 
temática, recuperação e construção dos sentidos, uma vez que os processos referenciais 
colaboram para a compreensão e mostram como os enunciadores trabalham juntos para 
obter sucesso no processo de comunicação, além de apresentarem uma série de funções 
discursivas de grande relevância para a construção do texto. 
 Acreditamos em uma concepção de referenciação que vai além da simples 
rotulação de elementos presentes no mundo (cf. CAVALCANTE, 2011), por isso 
defendemos nesta pesquisa que os processos de referenciação são construídos na 
interação, tendo como base atividades cognitivas, sociais e o próprio entorno discursivo 
em que os falantes se encontram. Para nós, todos esses aspectos, incluindo as marcas 
linguísticas, apresentam igual importância dentro do processo de referenciação. 
Há muitos estudos sobre os processos de referenciação, tema a que têm se 
dedicado muitos estudiosos, porém ainda são poucos os estudos que procuram 
relacionar as formas de referenciação ao gênero no qual tais processos ocorrem. Os 
gêneros, uma vez que emergem e estabilizam determinadas práticas sociais, utilizam 
formas linguísticas na sua construção. Por isso, procuraremos também relacionar ao 
gênero relato esportivo os processos referenciais. 
Assim, para a presente pesquisa, cujos objetivos são verificar os mecanismos 
referenciais em relatos esportivos e descrever de que forma o gênero pode orientar a 
escolha dessas formas de referenciação, inicialmente, foram detectados os seguintes 
problemas: (1) de que forma ocorre a referenciação em relatos esportivos? (2) De que 
maneira tal gênero pressupõe certas formas de referenciação? 
A fim de responder a esses questionamentos, levantamos as seguintes hipóteses: 
14 
 
 
 O gênero relato esportivo tem a sua interpretação bastante atrelada ao contexto 
sociocognitivo, sendo um fator importante para a compreensão desse gênero; 
 Há, nesse gênero, uma preferência para o uso de anáforas diretas 
recategorizadoras em relação às outras formas de referenciação, apelando 
fortemente ao entorno cognitivo dos enunciadores; 
 
Para tentar elucidar as questões acima, o alicerce teórico em relação à 
referenciação tem como base Mondada e Dubois (2003) que estudam a referenciação 
como um processo colaborativo de construção que emerge da negociação dos sujeitos, 
posição corroborada no Brasil por Marcuschi (2008), Koch (2002, 2005 e 2006) e 
Cavalcante (2011), dentre outros. Concordamos com tais autores quando afirmam que a 
noção de referência não se restringe à equivalência das palavras aos elementos do 
mundo, mas abrange o fenômeno de uma construção conjunta de objetos cognitivos e 
discursivos, sempre tendo em vista as intenções dos sujeitos presentes na interação e seu 
contexto sócio-histórico. As entidades nomeadas, portanto, são vistas como objetos de 
discurso e não como objetos de mundo; desse modo os objetos são dinâmicos e não 
estáticos, podendo ser construídos, reconstruídos, recategorizados,contribuindo, assim, 
para o desenvolvimento e progressão dos textos. 
Adotamos também o posicionamento de Cavalcante (2011), para quem os 
processos de referenciação não podem ser analisados somente pelo prisma da 
manifestação de expressões referenciais para serem introduzidos no universo do 
discurso; concordamos com a autora quando ela defende que o objeto de discurso vai 
sofrendo transformações a partir da ação dos interlocutores sobre ele, podendo já estar 
disponível no entorno discursivo. Isso poderá ser verificado no corpus analisado, pois, 
ao pensarmos em futebol, todo um contexto cognitivo é ativado trazendo possíveis 
referentes à memória discursiva dos leitores. 
Também são pressupostos básicos desta pesquisa os estudos de Koch sobre o 
conceito de que todo texto contém marcas deflagradoras de pistas que orientam o leitor 
no seu percurso de construção de sentido. Portanto, a noção de texto aqui empreendida 
levará em conta que a construção de sentidos no texto não ocorre apenas pela sua 
materialidade linguística, como simples resultado de escolhas lexicais ou sintáticas, mas 
como marcas enunciativas, como ações dos sujeitos na sua relação com e sobre o 
15 
 
 
mundo. Deste modo, o texto não é um produto acabado, mas contém pistas que 
permitirão ao leitor percorrer caminhos na construção dos sentidos no texto. 
Outro pilar de sustentação desta pesquisa funda-se no estudo dos gêneros 
textuais. Baseamos esse conceito nos estudos de Bakhtin (2003[1929]), tendo em vista a 
sua definição de gênero como tipos relativamente estáveis de enunciado, compostos por 
uma estrutura composicional, estilo e conteúdo temático, assim como adotamos as 
contribuições de Marcuschi (2008) e Bhatia (2009). 
A fim de concretizar tais ideias, foram escolhidos como corpus vinte relatos 
esportivos extraídos do Jornal Lance!, durante a realização da Copa do Mundo de 
Futebol, em junho/julho de 2010, e vinte relatos do jornal Marca, referentes ao 
Campeonato Carioca de 2011. Embora tenham sido recolhidos 40 relatos de jogos da 
Copa do Mundo e 56 do Campeonato Carioca e separamos como amostra de análise 
vinte relatos de cada jornal, que se encontram numerados de 1 a 20, tendo como 
referência a letra inicial do nome do Jornal do qual foram retirados, por exemplo, L1 
significa que se trata do relato número 1, do jornal Lance!. Esses relatos estarão ao final 
da dissertação como anexos. 
O tratamento qualitativo dos dados observará a forma como as estratégias 
referenciais se inserem no relato e quais são seus papéis textuais-discursivos, mas 
também quantificaremos as ocorrências para verificar que tipo de recurso foi mais 
empregado, tentando justificar esse possível predomínio. 
No primeiro capítulo, faremos um breve panorama sobre as bases teóricas desta 
pesquisa, como a noção de texto e de referenciação, partindo, resumidamente, dos seus 
estudos iniciais, que defendiam uma estabilidade entre o nome e seu referente no 
mundo, para chegarmos ao que se entende por referenciação hoje: uma atividade que, 
como já dissemos, não consiste em colocar etiquetas sobre os elementos presentes no 
mundo, mas reconstruí-los através do discurso. Ainda nesse capítulo, trataremos da 
noção de texto e progressão textual e abordaremos a questão da construção conjunta dos 
referentes com um exemplo de trecho retirado de um relato esportivo. 
No segundo capítulo, consideraremos os estudos sobre os gêneros e trataremos 
do relato esportivo, caracterizado como um gênero do domínio do relatar, de acordo 
com Dolz e Schneuwly (2004). Demonstraremos também sua composição e a forma 
como aparecem nos jornais. Após esse breve panorama, teceremos alguns comentários 
16 
 
 
sobre o jornalismo esportivo, já que tal gênero pertence a essa categoria, e 
discorreremos sobre o estilo dos dois jornais, bem como sobre a linguagem esportiva. 
As reflexões propostas no terceiro capítulo, além de estabelecerem o que 
entendemos por gêneros textuais, propõem-se a apresentar o gênero relato esportivo, a 
forma como aparece nos jornais, e a contextualizar ainda o histórico do tratamento dos 
esportes dentro dos jornais, uma vez que tais publicações destinam-se a um público 
específico e podem não ser conhecidas por todos. 
Já o quarto capítulo inicia a análise propriamente dita, começando com 
apontamentos sobre as estratégias metodológicas adotadas e apresentando a 
quantificação de cada subtipo de anáfora verificado no corpus. Após essa sistematização 
inicial, começaremos a análise pelos casos de anáfora direta, explicitando os subtipos 
que propusemos para a análise, bem como os conhecimentos envolvidos na construção 
dos referentes. Dentro desse capítulo, discutiremos ainda um caso especial verificado no 
corpus, envolvendo alguns casos de anáforas diretas que, de tão estabilizadas 
culturalmente na memória dos falantes, passam a atuar como equivalentes, dentro do 
contexto, de seus referentes: os epítetos de clubes. 
 Discutiremos ainda sobre alguns casos de anáforas diretas que envolvem 
processos metafóricos para nomeação dos referentes. Cabe ressaltar que não 
esperávamos encontrar casos desse tipo, que, embora estejam em uma quantidade 
pequena, merecem ser destacados, pois suscitam discussões interessantes. Após as 
anáforas diretas, trataremos dos exemplos de anáforas indiretas e encapsuladoras, 
mostrando como atuam na construção do texto e que conhecimentos mobilizam para sua 
interpretação. Por fim, apresentaremos exemplos que motivam questionamentos 
relevantes sobre a necessidade de inferências para a interpretação de determinadas 
anáforas diretas, no item “aprofundando a discussão”. 
Após a análise do corpus, ainda no capítulo quarto, procuraremos estabelecer de 
que forma os processos de referenciação verificados se relacionam ao gênero relato 
esportivo, se é possível afirmar que alguns processos, como as anáforas diretas, são 
recorrentes nesse gênero, que particularidades ele abriga. 
Nas considerações finais, organizaremos os resultados e os discutiremos, 
verificando a pertinência das hipóteses e objetivos postulados. Vale ressaltar que esta 
17 
 
 
pesquisa pretende colaborar para um melhor entendimento dos casos de anáfora, 
contribuindo, assim, para os estudos de referenciação. 
Acreditamos que esta dissertação representa um importante movimento no 
sentido de expandir os estudos sobre referenciação e apresentar uma tentativa de 
associar esses estudos ao campo dos gêneros textuais, fomentando não só outras 
pesquisas na área, como o ensino de língua materna hoje com foco nos processos de 
leitura e produção textual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
 
 
 
1. TEXTO E REFERENCIAÇÃO 
 
1. 1. O texto como lugar de interação 
 
Como a proposta deste trabalho integra aspectos cognitivos, sociais e 
linguísticos na construção de sentidos do texto, não podemos analisar a materialidade 
linguística como simples resultado de escolhas lexicais ou sintáticas, mas como marcas 
enunciativas, ações dos sujeitos na sua relação com e sobre o mundo. Deste modo, o 
texto pode ser visto, conforme Koch (2006a, p.65), como um “mapa da mina”, o que 
permitirá ao leitor percorrer caminhos que o aproximem da ideia do produtor ou o 
desviem dela, por meio do levantamento de hipóteses de sentido, embora seja 
impossível garantir a captação da intenção de um locutor/produtor de um texto. 
Com essa abordagem atual dos estudos linguísticos, é possível deslocar o 
interesse atribuído, prioritariamente, à forma linguística para o funcionamento da língua 
em distintos contextos e, consequentemente, para a análiselinguística de textos e/ou 
discursos, isto é, da língua em uso, no seu funcionamento entre os sujeitos, deixando a 
análise de enunciados isolados. Para Marcuschi (2008, p. 67), “a função mais 
importante da língua não é a informacional e sim a de inserir os indivíduos em 
contextos sócio-históricos e permitir que se entendam”, assim, entendemos que a língua 
é, de fato, um produto social: por meio dela, o conhecimento cultural e as relações 
interpessoais se estabelecem e nos inserimos no mundo. Desse modo, todos esses 
fatores atuam na produção linguística das pessoas. 
Não há, então, como falar em uso significativo da língua fora das interrelações 
pessoais e sociais. Essa nova concepção abre a possibilidade para que seja considerada a 
ação conjunta de autor/leitor, já que a leitura de um texto não é mais vista como 
codificação de estruturas linguísticas. Desse modo, a partir disso não podemos mais 
imaginar um leitor passivo, que apenas receba informações já prontas. Os estudos 
linguísticos, portanto, passaram a entender o leitor como coautor do texto, alguém que 
investe seus conhecimentos no ato da leitura, sendo sua participação parte do 
procedimento de interpretação dos textos. 
19 
 
 
O sentido não está no leitor, no texto, nem no autor, mas resulta do efeito das 
relações entre eles. Dentro dessa perspectiva, os textos não são estáveis, pelo contrário, 
apresentam um alto grau de instabilidade devido à complexa rede de relações que se 
estabelecem na atividade enunciativa. Os textos, então, têm por característica a 
instabilidade, e sua estabilidade é sempre relativa ao objetivo dos interlocutores e ao 
contexto sociocognitivo que os cerca, visto que os textos guardam marcas históricas. 
Tudo isso repercute diretamente sobre a organização do material linguístico presente 
neles e nas condições de processamento deles. 
A noção de que a compreensão do texto não se pauta, somente, pela 
superficialidade do escrito, no âmbito mais formal da língua, mas também se orienta 
pelas ligações que se estabelecem no funcionamento global da linguagem, institui uma 
nova acepção de texto. Nesta acepção, o texto passa a ser considerado uma atividade 
entendida a partir do processo de enunciação, que acontece de forma consciente e 
organizada, compreende processos e estratégias cognitivas inerentes à mente humana, 
colocados em prática na interação social. 
Ainda, seguindo essa ótica, de acordo com Marcuschi (2008, p.72): 
 
O texto é o resultado de uma ação linguística cujas fronteiras são, em geral, 
definidas por seus vínculos com o mundo no qual ele surge e funciona. Esse 
fenômeno não é apenas uma extensão da frase, mas uma entidade 
teoricamente nova. 
 
 A afirmativa acima corrobora a ideia de que a leitura depende de uma 
determinada focalização para a qual confluem os aspectos da materialidade linguística e 
as estratégias de processamento cognitivo, suscetíveis a variações a cada nova interação. 
Assim, o efeito de sentido surge de acordo com a percepção e experiência de cada novo 
interlocutor. 
Portanto, entende-se aqui que a construção dos sentidos ocorre por meio de uma 
interação entre texto e leitor. Tal atividade não é somente uma forma de reprodução de 
sentidos já expostos no texto nem apenas a decodificação de estruturas linguísticas, mas 
um processo ativo de construção e reconstrução de sentidos que envolve aspectos 
linguísticos, cognitivos e sociais. 
 Por meio dos textos, são concretizados os elementos do mundo que cercam os 
interlocutores. Isso significa dizer que a língua estabiliza valores, ideias, crenças, 
20 
 
 
manifestando o mundo que interpretamos à nossa volta. Desta forma, a língua, para os 
estudos da Linguística do Texto hoje, é uma construção social, lugar de interação, assim 
como o texto. É na interação que os sentidos do texto se estabelecem, não cabendo, 
portanto, pensarmos em um leitor passivo que não condiz com a atividade de leitura. A 
produção de sentidos, então, decorre de acontecimentos sociais, visto que o ser humano 
se relaciona através de acontecimentos interativos, pois os enunciados são concretizados 
em situações contextualizadas e não isoladas. Conforme Marcuschi (2008, p. 90), 
“falamos de texto como um evento que atualiza sentidos e não como uma entidade que 
porta sentidos na independência de seus leitores”. 
Assim, o procedimento de leitura dos textos envolve, segundo Koch (2006b), 
uma interação entre autor-texto-leitor, na qual se faz necessário tanto o conhecimento da 
materialidade linguística, como os conhecimentos do leitor para o estabelecimento do 
jogo interacional, conforme mostra a autora: 
 
O sentido de um texto é, portanto, construído na interação texto-sujeitos (ou 
texto-coenunciadores) e não algo que preexista a essa interação. Também a 
coerência deixa de ser vista como mera propriedade ou qualidade do texto, 
passando a dizer respeito ao modo como os elementos presentes na 
superfície textual, aliados a todos os elementos do contexto sociocognitivo 
mobilizados na interlocução, vêm a constituir, em virtude de uma construção 
de interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos (KOCH, 2006b 
p. 17). 
 
 
Por essa razão, não se fala em um sentido para o texto, uma vez que valores 
culturais atuam na interpretação deste. Portanto, considerar o leitor e perceber que os 
conhecimentos podem variar de um leitor para outro acarreta aceitar múltiplas leituras e 
sentidos oriundos de um mesmo texto, o que não significa dizer que se possa admitir 
qualquer interpretação, mas pensar o texto a partir das pistas que ele fornece tendo em 
vista a interação autor-texto-leitor e todos os outros conhecimentos envolvidos nesse 
processo. 
O processo de leitura não é único, pois os conhecimentos utilizados pelos 
diferentes leitores são acompanhados de diferentes fatores como diferenças sociais e 
linguísticas, por exemplo, que podem originar diversos sentidos durante a leitura. Sendo 
assim, os sentidos produzidos em distintas situações, ainda que de um mesmo texto, 
21 
 
 
podem diferenciar-se devido à interferência do contexto sociocognitivo que abrange o 
espaço e o tempo em que o leitor se encontra. 
Podemos dizer, então, que o processamento textual, seja para a produção de um 
texto ou para a sua leitura, depende da interação entre os interlocutores que atuam em 
conjunto, mobilizando uma série de conhecimentos – de ordem cognitiva, interacional, 
cultural e textual – para produzirem sentido. Esse processamento envolve um 
movimento por parte do leitor para estabelecer pontes entre informações novas e outras 
já fornecidas dentro do texto. Cabe ressaltar que essa relação não é simples nem 
explícita: exige inferências, interpretação de expressões referenciais e de outros 
mecanismos linguísticos. De acordo com Koch (2002, p. 30): 
 
O sentido de um texto, qualquer que seja a situação comunicativa, não 
depende tão somente da estrutura textual em si mesma. Os objetos de 
discurso a que o texto faz referência são apresentados em grande parte de 
forma lacunar, permanecendo muita coisa implícita. O produtor do texto 
pressupõe da parte do leitor/ouvinte conhecimentos textuais, situacionais e 
enciclopédicos e, orientando-se pelo Princípio da Economia, não explicita as 
informações consideradas redundantes. Ou seja, visto que não existem textos 
totalmente explícitos, o produtor de um texto necessita proceder ao 
“balanceamento” do que necessita ser explicitado textualmente e do que 
pode permanecer implícito, por ser recuperável via inferenciação. 
 
 Percebemos que a atividade de leitura pressupõe acionar mecanismos 
linguísticos que farão parte da composição do texto, a partir de um contexto 
sociocognitivo,e organizá-los de acordo com os propósitos comunicativos do autor, que 
conta com a participação do leitor para compor as lacunas que ele, intencionalmente, 
instaurou na composição do texto. Deste modo, a atividade de produção de sentidos 
abrange o trabalho do autor e do leitor, que, segundo Koch (2002) são “estrategistas” da 
atividade de linguagem e mobilizam uma série de fatores para a produção de sentidos. 
Por isso, podemos dizer que o texto é um processo e não um produto. 
Conforme Koch e Elias (2006) e Koch (2002), na atividade de leitura e produção 
de sentido, colocamos em ação várias estratégias sociocognitivas, que atuam no 
processamento textual e mobilizam tipos de conhecimento armazenados na memória. 
As autoras asseveram que, para o processamento textual, utilizamos três grandes 
sistemas de conhecimento: linguístico, enciclopédico e interacional. O conhecimento 
linguístico abrange o conhecimento gramatical e lexical, que permite aos falantes 
22 
 
 
compreender a seleção lexical, a organização dos elementos linguísticos na superfície 
textual e os mecanismos que atuam na coesão/coerência textual. Já o conhecimento 
enciclopédico ou de mundo refere-se às experiências vividas, eventos temporalmente 
situados; seriam esquemas cognitivos adquiridos ao longo do tempo e de acordo com 
cada experiência individual. Por fim, o conhecimento interacional leva em consideração 
aspectos sobre as ações verbais e sobre as formas de interação por meio da linguagem. 
Koch e Elias (2006) dividem ainda o conhecimento interacional entre: 
conhecimento ilocucional, referente ao reconhecimento dos objetivos propostos pela 
situação comunicativa; comunicacional, relacionado à variante linguística e ao gênero 
textual adequados à situação bem como à quantidade de informações necessárias; 
metacomunicativo, que permite ao leitor assegurar a compreensão do texto; e, por fim, 
conhecimento superestrutural, que diz respeito ao reconhecimento de exemplares de 
diversos gêneros textuais. 
Essas estratégias são responsáveis por articular os conhecimentos armazenados 
na memória e garantir a interpretação de um texto, pois, à medida que avançamos na 
atividade de leitura, vamos elaborando e descartando hipóteses que atuam na construção 
dos sentidos. 
Cabe ressaltar que, como vimos, são diversos os conhecimentos utilizados na 
articulação de sentidos dentro de um texto, imbricados em uma relação estreita, por isso 
é difícil falar em conhecimentos linguísticos e extralinguísticos; já que não se pode 
distinguir quais conhecimentos estariam dentro e quais estariam fora do texto, visto que 
todos eles atuam em igual medida na construção de sentidos. Marcuschi (2008, p. 95), 
ao refletir sobre a questão, já nos mostra essa direção quando assegura que “não se pode 
imaginar o texto como se tivesse um dentro (cotextualidade) e um fora 
(contextualidade)”, o autor explica ainda que, se os textos são vistos como atrelados aos 
aspectos interacionais, tanto em situação de produção quanto de recepção, não é 
possível separar o que seria cotexto e contexto dentro dessa perspectiva de observação. 
Por fim, cabe acrescentar aqui que adotamos a posição de Cavalcante (2011), na 
esteira do que já nos apontou Koch (2002 e 2006a), de que o texto é algo que se abstrai 
da relação entre texto-autor-leitor dentro de um contexto sociocultural específico. Dessa 
forma, o texto não pode ser entendido como uma materialidade que leva ao discurso. 
23 
 
 
Pelo contrário, se é resultado de uma situação discursiva, o texto é indissociável do 
discurso. 
 Segundo Marcuschi (2008, p.58), a distinção entre texto e discurso, além de 
complexa, não se mostra interessante, já que hoje as duas noções podem ser vistas como 
intercambiáveis, nas palavras do autor: 
 
A tendência é ver o texto no plano das formas linguísticas e de sua 
organização, ao passo que o discurso seria o plano do funcionamento 
enunciativo, o plano da enunciação e efeitos de sentido na sua circulação 
sociointerativa e discursiva envolvendo outros aspectos. Texto e discurso 
não distinguem fala e escrita como querem alguns nem distinguem de 
maneira dicotômica duas abordagens. São muito mais duas maneiras 
complementares de enfocar a produção linguística em funcionamento. 
 
 Como vimos, entendemos o texto como um processo e não um produto, que só 
adquire significação dentro da situação comunicativa. Portanto, mesmo que se adote a 
ideia de que o texto é a materialização do discurso, seria difícil separar discurso e texto 
ou entender os dois conceitos de modo isolado, o que não seria produtivo. De acordo 
com Marcuschi, a tendência atual é ver um contínuo entre ambos, tendo em vista um 
condicionamento recíproco entre eles, pois o discurso ocorreria no plano de dizer e o 
texto no plano da esquematização e, portanto, observável. Marcuschi afirma ainda que, 
visto dessa forma, reitera-se a articulação entre plano discursivo e textual, considerando 
o texto como “objeto de figura”, que pressupõe uma configuração, e o discurso como 
“objeto de dizer”. 
 Essa relação é de suma importância e permite integrar três conceitos bastante 
relevantes à Linguística do Texto: texto, discurso e gênero. O gênero seria a ponte entre 
o discurso e o texto, pois, sendo resultado de uma prática social e textual discursiva, 
apresenta uma composição observável que corresponde a formas sociais que cercaram a 
situação de sua produção. O conceito de gênero e a caracterização do gênero que 
compõe o corpus serão observados no capítulo 2. 
 
 
1.2. Noções sobre referenciação 
 
24 
 
 
Esclarecidos os pressupostos sobre a noção de texto e discurso desta pesquisa, 
discorreremos agora sobre outro tema relevante: o conceito de referenciação e seus 
processos. 
 
 
 
1.2.1. A relação entre as palavras e o mundo 
 
A trajetória do pensamento sobre a questão da referência é acompanhada por 
dicotomias, pois, a priori, o entendimento geral era de que a referência se constituía por 
atividades objetivas, tendo em vista uma relação concreta entre a língua e a realidade, de 
forma que qualquer referente pudesse corresponder a um estado de coisas no mundo de 
modo estável. No entanto, outros pensadores já percebiam a dificuldade de estabelecer 
tal relação concreta entre a linguagem e o mundo e começaram a pensar a referência de 
modo mais subjetivo, enfocando a ligação entre linguagem e pensamento sem negar a 
existência de uma realidade fora das mentes, mas afirmando a necessidade de uma visão 
não somente realista sobre o fenômeno da referência. 
De fato, é bastante complicado pensar a estabilidade/instabilidade dos referentes, 
já que a própria natureza da atividade de nomeação aproxima os nomes da realidade e 
não se pode descartar esse aspecto. Entretanto, é importante perceber que as categorias 
usadas para descrever o mundo são plurais e passíveis de mudança porque não se trata 
de uma rotulação real e objetiva, mas de conceber que a relação entre a linguagem e o 
mundo é construída pelos falantes, podendo ser modificada a todo instante. O cérebro 
humano não opera somente de forma a refletir exemplarmente a realidade, isto é, o 
modo como dizemos o real é reelaborado dentro de nossas mentes e essa reestruturação 
ocorre no discurso, não de forma individual e isolada, mas obedecendo a condições 
culturais, sociais, históricas e linguísticas, conforme apontam Koch e Marcuschi (1998). 
Isso implica dizer que os objetos, sejam eles sociais ou físicos, são construídos, 
interativa e discursivamente, pelos participantes da atividade linguística; tais objetos 
não são, portanto, representações fiéis aos objetos do mundo, eles não pré-existem ao 
discurso, sãoconstituídos dentro da atividade discursiva. O ato de referir, então, não 
pode ser interpretado como rotulação da realidade. 
25 
 
 
Dentro dessa nova perspectiva, porém, não se refuta a relação entre as palavras e 
as coisas do mundo, mas se destaca que a questão da referência vai muito além disso. 
Conforme Marcuschi (2004, p.263), “o problema da significação não é resolver se às 
palavras corresponde algo no mundo externo, e sim o que fazemos do ponto de vista 
semântico quando usamos as palavras para dizer algo”. O problema da referenciação, 
para a Linguística do Texto, é o como fazemos, do ponto de vista semântico, pragmático 
e social, quando nos referimos a algo. A relação entre a linguagem e o mundo deve 
incluir a subjetividade de quem diz, seus propósitos comunicativos, experiências de vida 
dentro de uma dada cultura e de um determinado momento histórico. Dessa forma, as 
coisas não estão no mundo da maneira pela qual nós as dizemos, mas são construídas 
através de nossa atividade linguística, das práticas discursivas dos locutores, tendo a 
língua como instrumento de ação sobre o mundo, instrumento esse que se apoia em 
nossos conhecimentos culturais, sociais, cognitivos. 
Essa visão se alinha hoje com o que é concebido como referente pela Linguística 
do Texto. Tal mudança de foco está centrada na dimensão discursiva, deixando claro 
que o referente é construído e modificado pelo falante ao referi-lo. 
 
1.2. 2. Referenciação e objetos de discurso 
 
Conforme já afirmamos, atualmente focaliza-se a dimensão discursiva e 
cognitiva dos fenômenos referenciais e, nesta pesquisa, será adotada a perspectiva de 
que a referência funciona em cooperação com os parceiros da interação, sendo, 
portanto, construída no discurso, como uma atividade linguístico-cognitiva, ligada à 
interação. Toda essa concepção foi baseada em uma noção de língua heterogênea, 
histórica, variável e socialmente construída. 
 A partir desses pressupostos, a Linguística do Texto apresenta o termo 
“referenciação” em lugar de “referência”, uma vez que aquela remete à noção de 
processo, atividade, ao passo que “referência” denota certa estaticidade/estabilidade que 
não condiz com o que se entende atualmente pela atividade de referir. Mondada (2005, 
p.12), ao tratar da questão, confirma o uso do termo “referenciação” e propõe também o 
uso de “objeto de discurso” no lugar de “referentes”, como diz a autora: 
 
26 
 
 
Nessa perspectiva, são as práticas referenciais manifestadas na interação que 
são objetos de análise- práticas linguageiras, mas também práticas gestuais, 
movimentos no espaço, orientação do olhar; “os referentes” visados por estas 
práticas não são tratados como preexistindo a elas, mas como instaurados na 
realização e no desenrolar da atividade referencial, pela maneira mesmo 
como esta é reconhecidamente organizada. (...) Tornando, assim, um 
pertinente, visível e presente um referente que é tratado não como um objeto 
de mundo, mas como um objeto-de-discurso. 
 
 Tal como postulam Mondada e Dubois (2003), a noção de representação do 
mundo é discutida, passando ao conceito de discursivização do mundo. Dentro dessa 
perspectiva, postula-se a construção de objetos cognitivos e discursivos na 
intersubjetividade das negociações linguísticas, que podem ser transformadas, 
modificadas e serem alvo de reavaliações dos interlocutores. 
Para Mondada e Dubois (2003, p. 20), os objetos referidos pelo discurso são 
“objetos constitutivamente discursivos”, criados na enunciação; isto é, eles são gerados 
em uma dinâmica discursiva e não fazem uma simples remissão linguística. Essas novas 
conclusões se devem ao fato de não se usar mais a noção de referência, como dissemos 
anteriormente, pois não se trata de uma designação especular de um elemento tal qual 
ele é, mas de uma construção conjunta desse elemento. De acordo com os autores 
(2003, p. 20): 
 
(...) passando da referência à referenciação, vamos questionar os processos 
de discretização e de estabilização. Esta abordagem implica uma visão 
dinâmica que leva em conta não somente o sujeito “encarnado”, mas ainda 
um sujeito sociocognitivo mediante uma relação indireta entre os discursos e 
o mundo. Este sujeito constrói o mundo ao curso do cumprimento de suas 
atividades sociais e o torna estável graças às categorias – notadamente às 
categorias manifestadas no discurso. 
 
Defendemos o enfoque discursivo no processo de referenciação, uma vez que esse 
processo é visto como uma atividade de construção de “objetos de discurso”, que não se 
confundem com a realidade extralinguística, mas (re) constroem-na no processo de 
interação. Desse modo, referir é, sobretudo, elaborar uma discursivização ou 
textualização do mundo, a qual se funda em escolhas do sujeito em função de um 
querer-dizer. 
Segundo Koch e Elias (2006, p. 123), “eles (os referentes) são construídos e 
reconstruídos, de acordo com nossa percepção”. Ou seja, não há uma perfeita 
equivalência entre as palavras e as coisas. Ao serem reconstruídas no interior do 
27 
 
 
discurso, as entidades se tornam novos objetos de discurso, revestidos de nossas 
crenças, atitudes e intenções comunicativas. Tal noção parece mais abrangente do que a 
noção comum de referente. O processo de referenciação, então, não é a simples 
substituição de um termo por outro equivalente, mas uma prática discursiva, já que 
pressupõe uma interação entre os sujeitos do discurso e estes procedem a escolhas 
significativas para representar as coisas de acordo com a sua proposta de sentido. 
Em resumo, entende-se por referenciação as diversas formas de introdução, em 
um texto, de novos referentes ou entidades. Já quando tais referentes são retomados 
mais adiante ou servem de base para a introdução de novos referentes, há o que se 
chama de progressão referencial (cf. KOCH & ELIAS, 2006 e 2009). 
A categorização dessas entidades, conforme apontam Koch e Elias (2006) pode 
ocorrer de acordo com a multiplicidade de pontos de vista dos sujeitos e não 
dependendo somente de restrições semânticas determinadas pelas categorias linguísticas 
empregadas no ato de referir. Ainda de acordo com a autora, mudanças no contexto 
comunicativo, no ponto de vista ou nos propósitos comunicativos dos sujeitos 
envolvidos podem resultar na recategorização de um objeto dentro do texto. 
Para Mondada e Dubois (2003, p. 24): 
 
A variação e a concorrência categorial emergem notadamente quando uma 
cena é vista de diferentes perspectivas, que implicam diferentes 
categorizações da situação, dos atores, dos fatos. A ‘mesma’ cena pode, mais 
geralmente, ser tematizada diferentemente e pode evoluir – no tempo 
discursivo e narrativo – focalizando diferentes partes ou aspectos. 
 
 O próprio entorno discursivo pode alterar a percepção do objeto de discurso, 
sendo responsável também por sua identificação, uma vez que, nas atividades 
discursivas, a instabilidade categorial manifesta-se em todos os níveis da organização 
linguística, de forma que a recategorização seja uma evolução natural do referente 
dentro do discurso. 
 É na prática social de linguagem que se constroem os referentes e construímos a 
realidade a partir das estruturas linguísticas; assim, a instabilidade dos referentes é 
inerente ao discurso. Portanto, a escolha de determinadas categorias textuais está 
intimamente relacionada às representações sociais, aos papéis sociais, aos propósitos 
comunicativos dos enunciadores e ao próprio sentido que se deseja atribuir ao texto. 
28 
 
 
 
1.2.3. A recategorização dos referentes 
 
 A partir do momento em que ocorre a categorização de um determinado objeto 
discursivo, são instauradas possibilidadesde que esse mesmo objeto possa ser 
transformado no decorrer do discurso. Dessa forma, um mesmo objeto pode ser 
renomeado e sofrer constantes alterações no ato enunciativo. Tal possibilidade opera 
mudanças tanto nas formas linguísticas como nos processos cognitivos envolvidos na 
construção/reconstrução desses objetos que pode apresentar significativas alterações do 
referente. Essa operação tem sido classificada pelos estudiosos em geral como um caso 
de continuidade referencial, um subtipo das anáforas diretas, como será exposto mais 
adiante. 
 Como dissemos no final do item anterior, a instabilidade dos objetos é inerente 
aos processos de referenciação, pois ocorre no interior de uma situação comunicativa. 
Desse modo, a transformação dos objetos acontece sempre tendo em vista os propósitos 
comunicativos dos enunciadores. 
 Segundo Koch (2005), as formas nominais, com função de categorização ou de 
recategorização de referentes, são resultados de escolhas frente a uma diversidade de 
formas de caracterizar o referente, de acordo com os sentidos pretendidos pelo produtor 
do texto. Essas formas ativam conhecimentos partilhados, como informações culturais, 
valores e crenças sobre características dos referentes, que podem levar o interlocutor a 
reconstruir a imagem do objeto de discurso. 
 Koch (2002) assevera que a recategorização, além de trabalhar na referência, 
auxilia a interpretação dos sentidos realizada pelo receptor do texto, como no exemplo 
abaixo: 
 
Hoje, Laerte desperta ódio e perplexidade. Friamente, confessou 11 assassinatos de crianças, 
entre quatro e dez anos. Duas outras mortes foram confessadas informalmente à polícia, até 
quinta-feira, 27. O Monstro de Rio Claro, como passou a ser conhecido, gostava de registrar 
num caderno o dia e a cidade onde passava (...). O andarilho da morte fez questão de dizer que 
tem profissão: é engraxador de portas de estabelecimentos (...) 
(Isto É, 02/02/00) (Koch, 2002, p.106) 
 
29 
 
 
Ao objeto de discurso Laerte vão sendo incorporadas novas designações 
(monstro de Rio Claro e o andarilho da morte) que contribuem para a progressão do 
texto. Além de formarem uma cadeia coesiva, elas trazem para a situação discursiva 
outros sentidos, complexificando o processo de interpretação, visto que outras 
significações, como monstro, por exemplo, são acrescentadas ao texto. Segundo a 
autora, essas transformações só são possíveis porque essas novas categorias se formam 
durante a enunciação. 
 Esses fenômenos também foram verificados no nosso corpus, conforme 
podemos observar adiante: 
 
 
(1) (...)A Austrália só assustou no começo, quando Garcia teve a chance de abrir o placar – 
Lahm evitou o gol. Mas logo a Alemanha passou a se impor, trocando passes com objetividade, 
e fez 1 a 0 aos oito minutos, num chute forte de Podolski. 
 Daí em diante, ao seu melhor estilo, com ótima movimentação, o time dirigido por 
Joachim Löw pôs os australianos na roda e passou a criar um punhado de oportunidades. Aos 
26, Klose ampliou, de cabeça, após cruzamento de Lahm. 
 No intervalo, o técnico holandês da seleção da Oceania, Pim Verbeek, trocou Grella por 
Holman, e a equipe saiu em busca de reação. Inútil... (L2). 
 
 
 
 No exemplo (1), retirado do relato da partida entre Austrália e Alemanha, os 
objetos de discurso são apresentados no começo do texto, depois recebem uma nova 
configuração, pois são recategorizados pelas expressões sublinhadas, a primeira faz 
referência ao técnico alemão e a segunda, à localização geográfica da seleção da 
Austrália. Tal estratégia não é usada ocasionalmente, mas de forma proposital para 
fornecer ao co-enunciador outras informações. Como afirma Cavalcante (2011), “são 
situações de anáfora correferencial em que o mesmo referente vai sendo alterado em 
proporções variadas.” 
 Koch (2005) também alerta que, para interpretação mais adequada dessas 
recategorizações, são necessários conhecimentos prévios, pois a reativação dos 
referentes se manifesta acrescida de novas significações. A autora acrescenta ainda que 
esse recurso constitui uma importante forma de construção textual que pode contribuir, 
inclusive, para atribuir valores argumentativos ao texto: 
 
O emprego de uma descrição nominal, com função de categorização ou 
recategorização de referentes, implica sempre uma multiplicidade de formas 
30 
 
 
de caracterizar o referente(...). Trata-se, em geral, da ativação, dentre os 
conhecimentos culturalmente pressupostos como compartilhados, de 
características ou traços do referente que devem levar o interlocutor a 
construir dele determinada imagem(...) uma de suas funções textual-
interativas específicas é a de imprimir aos enunciados em que se inserem, 
bem como ao texto como um todo, orientações argumentativas conformes à 
proposta enunciativa do seu interlocutor. (KOCH, 2005, p. 35) 
 
 O emprego dessas expressões nominais anafóricas opera a recategorização dos 
objetos de discurso, reconstruindo-os de acordo com intenções comunicativas do 
interlocutor. Acreditamos, portanto, que a recategorização é um processo textual que 
revela as transformações de um referente, o que pode acarretar mudança de significação, 
podendo indicar a orientação argumentativa do texto. 
Como vimos, para a construção da referenciação, são necessários conhecimentos 
textuais e extratextuais. Entretanto, a mente humana não é apenas um processador de 
informações, mas outro participante da ação, de modo que o processamento das 
informações ocorre por meio de estratégias de ordem sociocognitiva, as quais 
consideram os conjuntos de conhecimentos socioculturalmente determinados e 
adquiridos em (con)vivência, passíveis de complementação e/ou de reformulação. 
Desta forma, os processos de referenciação são vistos de modo dinâmico, como 
uma atividade, e a construção de sentidos como um processo que acontece dentro e fora 
da mente, requerendo constante negociação. Nesta perspectiva teórica, os signos 
linguísticos, então, funcionam como pistas deflagradoras de sentidos, as quais, junto 
com outras pistas, confluem para a construção de um sentido situado, emergente do 
contexto, da prática discursiva. O contexto, de acordo com essa ótica, segundo Carvalho 
(2005, p.33) 
 
é mais do que o entorno físico, social ou cultural. É, acima de tudo, uma 
noção cognitivamente construída. O conjunto dessas representações se 
encontra interiorizado nos interlocutores e é mobilizado, sempre que 
necessário, no ato da enunciação. Ele engloba, portanto, não só o lugar e o 
momento da enunciação, mas também os participantes, os meios de 
interação de que se utilizam, os recursos extralingüísticos – gestos, olhares, 
etc. –, o texto em realização, os conhecimentos de mundo compartilhados 
entre os usuários e o entorno sociocultural, que ultrapassa a enunciação. 
Enfim, a noção de contexto se amplia e abarca os aspectos cognitivos em 
funcionamento na interação. 
 
 
31 
 
 
As formas de construir o real no mundo não são oriundas de sistemas de 
significação com correspondência semântica para cada entidade; os modos de 
construção dos referentes são gerados criativamente pelos interlocutores. Podemos 
afirmar que eles dizem “criativamente”, de forma que a significação não é algo dado a 
priori, mas fornecido pelo contexto interacional. Tendo em vista essa perspectiva sócio-
interacionista, a construção de uma dada realidade é feita a partir da experiência dos 
indivíduos que convivem e interagem em uma determinada cultura ou sociedade. 
Veremos, no exemplo abaixo, como todas essas circunstâncias são primordiais para a 
emergência dos sentidos no texto retirado do jornal O Lance!, no qual se fala sobre um 
jogo do clube São Paulo pelo campeonatobrasileiro: 
 
(2) A quinta vítima! 
São Paulo Jason vence quinto jogo seguido, entra no G4 e diferença para o líder cai 
 
Barueri, Grêmio, Vitória, Botafogo e Goiás. O tricolor Jason despachou mais um, 
completou cinco vitórias seguidas, sete jogos sem perder e entrou pela primeira vez no G4. 
A diferença para o líder Palmeiras, com um jogo a menos, caiu para cinco pontos. A 
vítima da vez foi a melhor colocada na tabela entre as já feitas pelo Sampa. E entrou em 
território tricolor com seis vitórias seguidas.(...) 
Ontem, o Jason demorou a entrar em cena. A vítima de Goiânia até ofereceu resistência. 
Só no início. O São Paulo, protagonista do filme, não conseguiu impor a marcação pressão que 
Ricardo Gomes gosta no começo. (...) O primeiro grande golpe do Jason foi com Richarlyson. O 
travessão salvou a vítima verde.(...) (NÚCLEO DE FUTEBOL. A quinta vítima. Jornal Lance). 
 
O exemplo 2 relata a vitória do São Paulo sobre o Goiás. O jornalista se valeu do 
nome Jason (personagem de filme de terror que sempre reaparecia após ser considerado 
morto) para fazer referência ao clube paulista. Tal associação foi feita pelo fato de o São 
Paulo realizar uma campanha ruim no campeonato, distante da zona de classificação 
para disputar a Taça Libertadores da América (G4) e distante também da luta pelo título 
de campeão brasileiro. No entanto, o time emplacou uma sequência de cinco vitórias 
seguidas, conseguindo, assim, entrar no G4. Devido a essa melhora, Jason passou a ser 
o símbolo da reação do São Paulo no campeonato, conforme pode ser percebido através 
dos sintagmas o tricolor Jason, o primeiro grande golpe do Jason, que retomam o 
clube São Paulo bem como através das expressões a vítima da vez e a vítima de 
Goiânia, que retomam o referente Goiás, pois o uso do substantivo vítima faz parte do 
campo semântico da associação realizada. 
32 
 
 
Essa associação estava sendo feita pela torcida e foi aproveitada pelos meios 
jornalísticos, mostrando o que foi discutido acima sobre a construção conjunta dos 
referentes. O nome Jason pode ativar diversos significados, mas, dentro do contexto 
histórico e sociocognitivo compartilhado pelos interlocutores, um deles é ativado. Além 
disso, é possível perceber o que foi dito anteriormente sobre a referenciação se 
estabelecer no processo de comunicação, pois a associação do clube paulista com o 
personagem do cinema só foi possível pelo momento que o time vivia no campeonato; 
não se trata de uma associação posta, isto é, já pronta, mas forjada de acordo com a 
campanha do time na referida competição. 
 
1.2.4. As formas de construção dos objetos de discurso e sua implicação para 
progressão referencial 
 
A referenciação, como vimos, constitui uma atividade discursiva promovida pelos 
sujeitos sociais atuantes em uma situação de interação verbal que realizam escolhas 
significativas, tendo em vista seu projeto de dizer. Nesse sentido, concordamos com 
Koch (2006b) quando a autora afirma que, para a interpretação de uma expressão 
referencial anafórica, é mais importante ativar algum tipo de informação na memória 
discursiva do que somente localizar alguma palavra ou expressão na superfície textual, 
o que pode ser verificado no último exemplo (2). Para localizar tais informações na 
memória, o falante, segundo a autora, utiliza estratégias por meio das quais é possível 
construir os objetos de discurso, mantê-los ativados ou desfocalizados na 
plurilinearidade do texto. Portanto, toda atividade de escrita pressupõe (KOCH, 2006b, 
p. 62): 
 
1. Construção/ativação - pela qual um referente textual até então não 
mencionado é introduzido, passando a preencher um nódulo ("endereço" 
cognitivo, locação) na rede conceptual do modelo de mundo textual: a 
expressão linguística que o "representa" permanece em foco na memória de 
curto termo, de tal forma que o referente fica saliente no modelo; 
2. Reconstrução/reativação - um nódulo já introduzido é novamente ativado 
na memória de curto termo, por meio de uma forma referencial, de modo que 
o referente textual permanece saliente (o nódulo continua em foco); 
3. Desfocalização/desativação: ocorre quando um novo objeto-de-discurso é 
introduzido, passando a ocupar a posição focal. Embora fora de foco, porém, 
este continua a ter um endereço cognitivo (locação) no modelo textual, 
podendo a qualquer momento ser novamente ativado, ou seja, ele continua 
33 
 
 
disponível na memória dos interlocutores. Seu estatuto no modelo textual é 
de inferível. 
 
 
 Por meio dessas estratégias, os referentes instaurados no texto podem ser, em 
qualquer momento, expandidos ou modificados. Desse modo, durante o processo de 
compreensão, a memória do interlocutor vai criando uma representação complexa, que 
ocorre pela soma sucessiva de categorizações, recategorizações e/ou novas avaliações 
sobre os referentes. Em um texto, todas essas estratégias estão presentes, à medida que 
atuam instaurando novos referentes, mantendo-os em foco ou até mesmo desativando 
esses referentes na arquitetura textual, formando a memória discursiva dos 
interlocutores, permitindo que novas informações sejam assimiladas sem causar 
estranhamento. 
Então, os procedimentos denotados acima, ao mesmo tempo, contribuem para a 
estabilidade do modelo textual e auxiliam para que ele possa ser continuamente 
modificado e reelaborado por meio de novas referenciações e, assim, auxiliam na 
construção da progressão referencial. 
 
1.2.5. Classificação dos processos referenciais 
 
Trataremos agora da classificação proposta por Cavalcante (2011) para os 
processos referenciais, tendo em vista a perspectiva sociointeracionista, que considera a 
realidade uma experiência criada em conjunto a partir da interação de um determinado 
grupo, inserido em uma dada cultura. 
Há diferentes tipos de processos referenciais que ajudam os participantes da 
interação a construírem os sentidos e a coerência dos textos que recebem ou produzem. 
Entendemos aqui, baseados em Cavalcante (2011), que todo processo referencial é 
constituído por um dispositivo remissivo, uma propriedade de apontar para um objeto 
reconhecível a partir de pistas diversas. 
A partir dessas noções, Cavalcante (2011, p.86) aponta para duas possibilidades 
dos processos referenciais: a introdução referencial, equivalente à ativação de novos 
referentes, e a anáfora ou continuidade referencial, equivalente à reativação, dentro da 
perspectiva do que a autora chama de “processos atrelados à menção no cotexto”. 
34 
 
 
A fim de ilustrar e exemplificar essa concepção, segue-se o quadro abaixo retirado 
de Cavalcante (2011, p.86): 
 
Processos referenciais atrelados à menção 
Introdução Referencial Anáfora direta (continuidade referencial) 
 Anáforas diretas 
(Correferenciais) 
Anáforas indiretas 
(Não-correferenciais) 
AI (propriamente 
ditas) 
Anáforas 
encapsuladoras 
 
 
O quadro acima aponta para a divisão dos mecanismos de referenciação em 
introdução de referentes e continuidade referencial. Pode-se dizer, portanto, que há duas 
grandes funções das expressões referenciais, de acordo com Cavalcante (2011, p. 86): 
 
 1) Introduzir formalmente um novo referente no universo discursivo 
 2) Promover, por meio de expressões referenciais, a continuidade de 
referentes estabelecidos no universo discursivo 
 
Desse modo, podemos separar dois tipos de processo: as introduções e as 
anáforas. As introduções são ocorrências novas, formalmente apresentadas no texto pela 
primeira vez. Em contrapartida, as anáforas devem estar ancoradas em pistas do cotexto. 
Isto é, devem estar baseadas em algumelemento do cotexto que possa servir de âncora 
para as anáforas, sendo necessário que as expressões referenciais possam ser associadas 
a alguma indicação presente no cotexto. 
A introdução referencial consiste na inserção de referentes novos sem estarem 
apoiados em nenhum outro elemento do texto, ou seja, as entidades estão sendo 
introduzidas no texto pela primeira vez. Vejamos o exemplo retirado de um relato 
esportivo publicado no jornal Lance! em 10/03/2011: 
 
 (3) Em ritmo de ressaca do Carnaval, o Botafogo mais uma vez venceu, mas não 
convenceu: 1 a 0 sobre o Nova Iguaçu, em Volta Redonda, com gol de Everton, novo 
camisa 10 do time depois da saída de Renato Cajá. A trégua entre Joel Santana e a 
torcida acabou e ele voltou a ser vaiado.(...).(M20) 
 
 
35 
 
 
As expressões “Botafogo” e “Nova Iguaçu” introduzem novos referentes no texto, 
já que foram citados pela primeira vez, sendo chamadas de introdução referencial por 
não haver nada que remeta a esses nomes anteriormente. 
Já as anáforas são divididas em subgrupos de acordo com a forma de menção de 
expressões referenciais. Havendo correferencialidade, há anáforas diretas; por outro 
lado, se houver menção a âncoras do contexto e, simultaneamente, a elementos do 
conhecimento compartilhado e/ou da situação extralinguística, temos as anáforas 
indiretas. Além dessas características, as expressões referenciais também podem fazer 
uma remissão prospectiva, isto é, uma remissão catafórica de forma a antecipar o 
referente, uma vez que as expressões referenciais anafóricas podem levar o leitor para o 
que foi dito no texto, o que ainda vai ser dito ou para os dois. Vejamos exemplos do 
corpus: 
 
a) Anáforas diretas (correferenciais): 
 
(4)A Inglaterra impôs a sua flagrante superioridade desde o início, dominando o meio de campo, 
mantendo os eslovenos recuados. Aos 23 minutos, Milner cruzou, Defoe se antecipou a Suler e 
desviou de Handanovic, abrindo o placar. O adversário não esboçou a reação. A Inglaterra ainda 
esteve perto de ampliar, aos 29, numa bola rasteira colocada por Gerrard no canto esquerdo, que 
obrigou o goleiro a um grande esforço para defender.(...) (L7) 
 
 
 A expressão sublinhada é uma anáfora direta1 correferencial, já que recupera a 
mesma entidade previamente mencionada por meio de uma repetição lexical. Além da 
propriedade de remeter a um antecedente no texto. As anáforas diretas também podem 
operar sucessivas recategorizações nos referentes, podendo exercer, no fluxo do 
discurso, alterações a partir das quais novas referências podem ser feitas, como no 
exemplo a seguir: 
 
(5)Até mesmo o Soccer city pareceu torcer para a Holanda em sua estreia na Copa da África. 
Pintados de laranja, os assentos do maior estádio do Mundial se confundiam com os inúmeros 
torcedores de uma das seleções favoritas ao título. Uma coincidência, claro. Mas a Laranja 
Mecânica jogou o suficiente para derrubar sem dificuldades a Dinamarca por 2 a 0 e o tolo blefe 
de seu técnico. (L5) 
 
 
1 Marcamos em negrito as introduções referenciais e sublinhamos as anáforas . 
36 
 
 
 No exemplo acima, o referente Holanda passa por duas recategorizações ao ser 
nomeado como uma das seleções favoritas ao título e a laranja mecânica; ambas as 
expressões acrescentam novas informações ao objeto de discurso. Por isso, costumamos 
dizer que as anáforas diretas podem marcar a presença de outras vozes no texto ou até 
mesmo atribuir conteúdos avaliativos aos objetos de discurso. Conforme aponta Koch 
(2005), as formas nominais podem funcionar como elementos avaliativos ou 
argumentativos, uma vez que a escolha lexical feita pelos enunciadores visa a ressaltar 
os sentidos de determinados vocábulos tendo em vista seus propósitos comunicativos. 
 Já no exemplo (6), a seguir, a recategorização ocorre de maneira prospectiva: 
 
(6) Azurra, que surra! 
Com pouca inspiração e escalação errada no primeiro tempo, Itália só acorda no fim e não evita 
derrota que a elimina da Copa. (L10). 
 
 Assim, a expressão sublinhada azurra faz uma remissão prospectiva, catafórica, 
antecipando o referente Itália. 
 
b) Anáforas indiretas (não-correferenciais): 
(7)Deu sono! 
Em jogo muito ruim, Uruguai e França pouco criam e não saem do zero. Nem parecia que 
havia três títulos mundiais em campo. (L19) 
 
A progressão referencial, no entanto, não se articula apenas por meio de 
estratégias de correferencialidade, pois nem toda continuidade implica a manutenção do 
mesmo referente. A continuidade anafórica também pode ocorrer pela menção de 
expressões ligadas a âncoras linguísticas do cotexto, ou seja, uma referência indireta que 
também é anafórica. Nesse caso, a progressão referencial ocorre por associação e 
inferências articuladas pelos participantes da interação, configurando as anáforas 
indiretas (não correferenciais). 
No exemplo acima, há uma anáfora indireta, pois a expressão sublinhada 
instaura um novo referente no discurso, tendo em vista alguma pista formal do texto que 
funciona como apoio para inferência das relações estabelecidas no texto. As anáforas 
indiretas são caracterizadas pelo fato de não haver correferencialidade. A sua 
interpretação é ativada por uma pista no texto que vai acionar outros conhecimentos 
necessários à reconstrução do referente. 
37 
 
 
O sintagma nominal três títulos mundiais faz referência às copas conquistadas 
pelas seleções do Uruguai e da França: esta com um título mundial e aquela com dois 
títulos mundiais. Essa informação não está presente no texto, mas, por meio dos nomes 
das seleções (pistas presentes no cotexto) e do conhecimento sobre sua história no 
futebol (informações ativadas a partir das pistas), podemos chegar a essa interpretação. 
Cavalcante (2011) cita autores que propõem uma divisão das anáforas indiretas 
em diferentes subtipos (associativas, inferenciais, meronímicas, etc). Entretanto, a 
autora não as subdivide, tendo em vista que toda anáfora indireta se constrói por meio 
de uma diversificada associação de ideias, não sendo produtivo, portanto, subclassificá-
las. Neste trabalho, adotamos a mesma posição de Cavalcante, por acreditarmos que 
subdividir esse tipo de anáfora seria apenas encontrar diferentes maneiras de nomear o 
mesmo fenômeno. 
Em relação à subdivisão entre anáforas diretas e indiretas, destacamos os estudos 
de Ciulla e Silva (2008) e Cavalcante (2011), os quais mostram que essa subdivisão não 
abrange satisfatoriamente a complexidade do uso dessas anáforas. As autoras chamam 
atenção sobre a definição de anáfora correferencial, como aquela que remete a um único 
antecedente no cotexto, apontando como tal definição pode ser questionada, se levarmos 
em consideração que há diversas pistas disponíveis para a elaboração da referência. Em 
outras palavras, o que as autoras demonstram é o comportamento semelhante entre esses 
dois subtipos de anáforas, pois, em ambos os casos, há o apelo à memória discursiva e 
os procedimentos de recuperação dos referentes podem englobar pistas no cotexto. De 
modo mais específico, as autoras provam que, mesmo no caso das chamadas anáforas 
diretas, pode não haver um antecedente expresso recuperado através de substituição de 
termos, mas um referente reformulado através de informações inferenciais, assim como 
ocorre nos casos tratados como anáforas indiretas. Nas palavras de Ciulla e Silva (2008, 
p. 52): 
 
nos dois casos [anáforas diretas e indiretas] o comportamento pode ser 
o de amálgama cognitivo, isto é, as anáforas, tanto chamadas diretas 
como indiretas, podem ser núcleos a partir dos quais diversas 
referências podem ser feitas, em procedimentos de recuperação,de 
reformulação ou de homologação de novos referentes. 
 
38 
 
 
Concordamos com a posição de Ciulla e Silva (2008), para quem todo processo 
anafórico implica inferência e outros processos cognitivos realizados a partir de 
diferentes graus de inferência e com diversas pistas concorrentes para interpretação dos 
elementos referenciais. 
Como dissemos, os objetos de discurso podem sofrer transformações e 
recategorizações ao longo do discurso, tendo por base processos inferenciais e o apelo à 
memória cognitiva compartilhada pelos interlocutores. As anáforas, de qualquer 
subtipo, promovem essa reformulação dos objetos de discurso, envolvendo tais 
mecanismos inferenciais e o uso da memória cognitiva em diferentes graus, ou seja, 
determinadas construções anafóricas podem apelar mais ou menos para a memória 
compartilhada. Portanto, corroboramos a tese de Ciulla e Silva (2008) de que a 
interpretação de qualquer processo anafórico está diretamente relacionada a cálculos 
inferenciais e outros processos cognitivos. 
A autora rejeita qualquer definição que dissocie léxico e cognição, descartando 
inclusive a subclassificação entre anáforas diretas e indiretas, pois sempre há a 
dependência de algum processamento cognitivo para interpretação de quaisquer tipos de 
anáforas sejam elas tradicionalmente chamadas de diretas, indiretas ou encapsuladoras. 
Esse comportamento pode ser observado em alguns exemplos do corpus em que 
os sintagmas nominais recategorizadores revelam uma evolução dos objetos designados: 
 
(8) (...)Aos 2 minutos, Ronaldinho fez um carnaval, deu caneta e Botinelli bateu para fora. 
Três minutos depois, porém, Felipe falhou em chute de Renam Silva e soltou a bola nos pés de 
Danilo, que abriu o placar. 
 Para o samba não atravessar, Ronaldinho passou a ditar o ritmo da equipe. O camisa 10 
trouxe um pouco de fantasia ao jogo aos 14, quando tentou marcar de bicicleta. 
 O Flamengo só igualou o placar aos 46: Botinelli chutou mal, mas Thiago Neves, bem 
posicionado, completou para o gol: 1 a 1. 
 Thiago Neves e Ronaldinho começaram o segundo tempo com nota 10 no quesito 
harmonia. O capitão recebeu do camisa 7 na cara do gol e fez 2 a 1, com categoria. (...)(M16) 
 
No exemplo acima, o referente Ronaldinho é retomado por duas expressões 
nominais recategorizadoras: camisa 10 e capitão. Nesses exemplos, as formas nominais 
trazem informações novas que se somam à primeira referência – fazendo com que o 
referente evolua no curso do discurso – e que, vale ressaltar, talvez soassem estranhas 
para quem não dispusesse de tais conhecimentos sobre o jogador. 
39 
 
 
Um outro uso interessante nesse texto pode ser percebido através das expressões 
capitão e camisa 7, que se referem, respectivamente, a Ronaldinho Gaúcho e a Thiago 
Neves. Percebemos que a interpretação desses sintagmas nominais se apoia muito em 
conhecimentos culturais sobre o futebol, pois os objetos foram retomados por sintagmas 
que representam as posições desses jogadores em campo, informações que podem não 
estar acessíveis a qualquer leitor. 
Esse exemplo comprova o que dissemos acima sobre o fato de os processos 
anafóricos estarem sempre apoiados em processos cognitivos. Tais sintagmas são 
tratados como anáforas diretas recategorizadoras, tipos de anáforas que pressupõem a 
manutenção de um mesmo referente no discurso e são correferenciais. Entretanto, a 
interpretação dessas anáforas não constitui uma simples operação pontual de troca de 
termos e depende diretamente da associação de informações culturais acerca das 
posições dos jogadores. 
 
c) Anáforas encapsuladoras 
 
Ainda sobre as anáforas indiretas (não-correferenciais), destaca-se a 
possibilidade de, por vezes, funcionarem como encapsuladoras no discurso. Como 
afirma Cavalcante (2011), as anáforas encapsuladoras podem ser entendidas como 
indiretas por fazerem menção a um referente novo no discurso, apresentado como se ele 
já fosse conhecido. Tais anáforas resumem conteúdos textuais (explícitos ou implícitos) 
em partes cotextuais anteriores ou posteriores e não estão atreladas a nenhum objeto de 
discurso citado formalmente no texto, mas a definições, conteúdos presentes no 
contexto. 
Esse tipo de anáfora, além de apresentar um importante papel coesivo e 
organizar os tópicos dentro do discurso, pode, a partir de informações já mencionadas 
no texto, implementar um objeto quase novo para discurso, remetendo a informações 
não explicitadas no cotexto, como pressupostos, subentendidos e outros conteúdos 
presentes na memória discursiva dos participantes da interação. 
Segundo Cavalcante (2011, p. 73) 
A diferença crucial entre estes encapsuladores e os anafóricos indiretos 
propriamente ditos, (...) é que resumem, “encapsulam”, conteúdos 
proposicionais inteiros, precedentes e/ou consequentes. Além disso, os 
40 
 
 
encapsuladores não remeteriam a âncoras bem pontuais, bem específicas, do 
cotexto, mas a informações ali dispersas. 
 
 
Vejamos um exemplo: 
 
(9)“Rafa Marquez também mostrou seu talento. O camisa 4 deu a assistência para Hernandez, 
que explorou a velocidade e marcou o primeiro gol. A jogada, sem dúvida, foi irregular, mas o 
árbitro não marcou. No entanto, foi uma compensação ao domínio imposto”. (L12). 
 
No exemplo (9), o sintagma nominal a jogada resume as duas primeiras frases do 
texto, nas quais são descritas as ações que culminaram no gol da seleção mexicana, 
resumindo uma parte do cotexto precedente, ou seja, informações já mencionadas. Ao 
mesmo tempo, esse sintagma traz um novo objeto para o discurso, tomando como base 
as informações que já foram expostas, estabelecendo, portanto, um novo referente no 
discurso, já que o encapsulador jogada agrupa os lances descritos anteriormente e 
introduz um tópico praticamente novo de discussão na sequência do texto. 
Para Conte (2003, p.186) a anáfora encapsuladora “funciona simultaneamente 
como um recurso coesivo e como um princípio organizador, e pode ser um poderoso 
meio de manipulação do leitor”, pois o fato de o produtor do texto rotular um conteúdo 
contribui para a força argumentativa de um texto. O grau de argumentatividade vai 
variar de um rótulo para outro, contudo, mesmo aqueles com aparente neutralidade, não 
são esvaziados de carga argumentativa, já que sua escolha constitui sempre uma opção 
do produtor do texto. 
Koch (2006b) comenta que as anáforas encapsuladoras ajudam na organização 
macrotextual, visto que, além de apontarem o fechamento de uma porção do texto, 
podem funcionar como “sinalizadores argumentativos”, levando o coenunciador para o 
próximo tópico do texto. Assim, essas anáforas se mostram como um recurso 
importante para a introdução, mudança ou desvio de tópico, bem como podem servir de 
ligação entre os tópicos do texto, constituindo, assim, um mecanismo linguístico de 
estruturação tópica. 
Esse tipo de elaboração referencial pode atribuir uma hierarquia nos argumentos 
listados em um texto e até mesmo funcionar como um elemento de avaliação por parte 
do autor, pois, ao sumarizar uma parte do texto, ele pode destacar ou enfatizar alguma 
parte desse conteúdo, como também atesta Koch (2005). 
41 
 
 
 Vale destacar a importância dos dados do entorno sociocultural e situacional dos 
enunciadores, não só a importância das fontes presentes no texto, mas a forma como 
todos esses critérios vão auxiliar na representação mental do objeto de discurso. O 
processamento das relações requer uma complexa ativação de processos cognitivos que 
mobilizam conhecimentos na memória discursiva dos participantes da interação, pois, 
para entender as relações postas no texto, os falantes vão elaborando representações

Outros materiais