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RESUMO DO CAPITULO 1

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A CONCEPÇÃO DO SISTEMA CENTRO-PERIFERIA 
INTRODUÇÃO:
Antes de abordarmos o que exatamente é essa concepção, é interessante apresentarmos os pressupostos de que partem os autores da CEPAL. Para os cepalinos Desenvolvimento Econômico é a expressão do aumento do bem-estar material, refletido pela elevação da renda real por habitante e condicionado pelo crescimento da produtividade média do trabalho. Deve-se ressaltar, sobretudo que a ideia de desenvolvimento para esses autores (nas sociedades capitalistas) possui um caráter de desigualdade que é inerente a sua existência.
RAÚL PREBISCH já havia estudado sobre o subdesenvolvimento e depois de alguns anos teria retomado este estudo com base em novas ideias sobre este tema; 
Estás ideias eram expostas em nível pré-analítico gerando uma teoria formalizada;
Estas eram harmônicas e complementares, gerando assim uma nova visão do subdesenvolvimento, ou seja, uma nova visão sobre as características e a evolução a longo prazo destas economias após o pós-guerra. 
UMA NOVA VISÃO DO SUBDESENVOLVIMENTO
PARA SCHUMPETER: 
Uma nova teoria surge por conta de surgimento de hipóteses e sendo assim elas geram um conteúdo básico que vão sendo analisadas em diversas formas e estruturas.
PARA PREBISCH:
Tratava como um modo de ser. As economias subdesenvolvidas não são simplesmente “atrasadas” só porque não teve grande mudança e isto foi por conta de certos fatores extra econômicos ou mais precisamente por conta da precariedade da estrutura social e/ou institucional, ou ainda raça e religião.
O subdesenvolvimento é visto como um modo de ser de certas economias. Sendo assim, o desenvolvimento econômico é expressado pelo aumento do bem-estar material que é refletido no alto ganho real por habitante que vem através da sua produtividade do trabalho. A densidade do capital só é obtida à medida que a acumulação se concretize por causa dos avanços tecnológicos e estes acabam gerando lucros e estes serviram para dar continuidade.
PARA “ESTUDO”:
Considerando o plano de abstração as ideias sobre o desenvolvimento econômico coincidem com as contidas em linhas gerais nas teorias do crescimento de origem neoclássica e keynesiana, que o concebem como um processo de acumulação de capital que é ligada ao progresso técnico obtendo –se assim uma elevação gradual da densidade de capital e um aumento da produtividade do trabalho e do nível médio de vida.
Essa concepção possui um traço comum com as teorias neoclássicas e keynesiana, mas também possui um diferencial em relação às teorias correntes do crescimento a longo prazo, pois ela procura elucidar que características assumem este processo de acumulação, de progresso técnico e desenvolvimento econômico no âmbito do sistema econômico mundial composto por centros e periferia.
CENTRO: Aqueles países que as técnicas capitalistas de produção penetraram primeiro, considerem-se técnicas tanto tecnológicas como organizativas. Sua estrutura produtiva é diversificada e homogênea.
PERIFERIA: Parte-se de um atraso inicial no domínio das técnicas capitalistas de produção, esse domínio ocorre numa primeira fase chamada de “desenvolvimento para fora”, quando se desenvolve o setor exportador de produto primário. Contrariamente aos centros possuem como traços característicos de sua estrutura a especialização e a heterogeneidade.
O DESENVOLVIMENTO DESIGUAL
	Existe uma tendência para a desigualdade entre os pólos do sistema, inerente à sua própria dinâmica: por um lado, a desigualdade estrutural e, por outro, a diferenciação entre produtividades e rendas médias, interagem-se e reforçam-se mutuamente.
O DESENVOLVIMENTO PARA FORA
Ao empregar o desenvolvimento para fora, a estrutura produtiva da periferia adquire dois traços fundamentais:
Caráter especializado ou unilateralmente desenvolvido, já que uma parte substancial dos recursos produtivos é destinada a sucessivas ampliações do setor exportador de produtos primários;
Já a demanda de bens e serviços, que aumenta e se diversifica, se satisfaz em grande parte por meio de importações.
Podemos dizer que essa estrutura é heterogênea ou parcialmente atrasada no sentido de que coexistem em seu seio setores onde a produtividade alcança níveis muito altos – setor exportador- e atividades que utilizam tecnologias com as quais a produtividades do trabalho resulta significativamente inferior.
Diversificado e homogêneo (CENTRO) – Industrializado e com alto nível técnico-produtivo, abrangendo diversas áreas do comércio mundial, oferecendo também um mercado tecnológico.
Especializada e heterogênea (PERIFERIA) – Quando parte dos recursos (a maior parte) se destina a sucessivas ampliações do setor exportador de produtos primários, por isso especializada. Heterogênea porque a evolução das técnicas de produção é desigual, o que é ultrapassado e o que é novidade convivem. Por ex.: Setor exportador de soja no Brasil, de metais como cobre e alumínio na África. A convivência de técnicas rústicas de preparação do solo (como a queimada) e ao mesmo tempo o domínio de tecnologia de ponta na extração de petróleo.
DIFERENÇAS ENTRE CAMPO x CIDADE
Essa diferença ocorre em relação a divisão internacional do trabalho.
No sistema econômico mundial, ao polo periférico cabe produzir e exportar matérias-primas e alimentos, enquanto que os centros cumprem a função de produzir e exportar bens industriais, operando como núcleos fabris do sistema em seu conjunto.
O DESENVOLVIMENTO PARA DENTRO
 Na concepção de Centro-Periferia, a industrialização é um fato real e um fenômeno espontâneo, e indica a existência de uma mudança no modelo ou pauta do crescimento periférico: do desenvolvimento para fora, baseado na expansão das exportações, ao desenvolvimento para dentro, baseado na ampliação da produção industrial.
Para esta concepção, este fenômeno (a industrialização) está vinculado a transformações ocorridas na economia mundial, de particular importância na periferia.
Acontecimentos específicos: 
Acontecimentos conjunturais: guerras mundiais, crise de 1929;
Acontecimentos estruturais: substituição da Grã-Bretanha pelos EUA como centro dinâmico principal;
Argumentos de maior nível de abstração: processo de desenvolvimento que distribui de forma inter-setorial a população ativa. Condição de especialização inicial interfere sobre a trajetória de desenvolvimento.
A DINÂMICA DO SISTEMA: O DESENVOLVIMENTO DESIGUAL
Os conceitos de centro e periferia diferem de um outro par de conceitos paralelos: desenvolvimento e subdesenvolvimento:
Centro: estrutura de comercio mundial, caracterizado pelo intercambio de manufaturas por matérias-primas.
Periferia: concernem às diferenças das estruturas produtiva e econômica entre países avançados e atrasados.
	Diferença significativa: os conceitos de centro e periferia possuem um claro conteúdo dinâmico, incorporado mediante a suposição de que a desigualdade é inerente ao desenvolvimento do sistema em seu conjunto.
	Aspectos dessas desigualdades:
A estrutura produtiva da periferia conserva traços marcantes de especialização e heterogeneidade, sempre contrastantes com a diversificação e homogeneidade do centro, que, por outro lado, seguem acentuando.
Diferenciação entre os ganhos médios dos dois polos que crescem menos na periferia.
Resumidamente:
	A desigualdade estrutural e a diferenciação entre ganhos médios interatuam e se reforçam reciprocamente. 
Observe o esquema abaixo:
O SISTEMA CENTRO –PERIFERIA
As características básicas da estrutura produtiva periférica (quadro A) se conformaram com o desenvolvimento para fora. Entretanto tais características tendem a se reproduzir mediante e ao longo da fase de desenvolvimento para dentro. A especialização existente no ponto de partida desta fase (no limite, e como exemplo explicativo, a produção quase exclusiva de exportações primárias e a ausência quase total de produção de manufaturas) faz com que a industrialização comece por setores produtores de bens de consumo tecnologicamentesimples e, do mesmo modo, que avance lentamente para a elaboração de bens de consumo ou intermediários de maior complexidade do ponto de vista tecnológico e organizativo. Admitamos, por um momento, que não se produz progresso técnico. Conforme se pode observar, a forma de industrialização assinalada implica um padrão de mudança da estrutura produtiva periférica ao qual a reiteração de seu caráter especializado é inerente. A razão é que esse padrão de mudança procede do simples para o complexo e, portanto, que a estrutura produtiva vai somente atingindo graus de complementaridade inter-setorial e de integração vertical reiteradamente incipientes, em comparação com os alcançados pelos grandes centros. Esse padrão de mudança tampouco facilita a diversificação das exportações da periferia que tendem, pois, a conservar seu caráter primário por períodos mais ou menos prolongados, conforme o caso.
Considere-se agora o tema do progresso técnico. Nas atividades heterogêneas de baixa produtividade, a reduzida capacidade de acumulação limita em muito as possibilidades de incorporá-lo. Mas importa destacar este pressuposto-chave: o progresso é mais intenso na indústria que nas atividades primárias (“Principais problemas”, p. 1 e 4), e também o é naquelas atividades e ramos pelos quais a industrialização periférica não pode começar, em virtude de sua especialização no ponto de partida (por exemplo, certos ramos produtores de bens de consumo duráveis e de insumos de uso difundido, e sobretudo os de bens de capital). Esclarecido esse pressuposto, percebe-se que a periferia padece de uma desvantagem quanto à geração e incorporação de progresso técnico (quadro 1), e isso não apenas como resultado de sua heterogeneidade: também faz parte o seu caráter especializado. Mais explicitamente, tem peso o papel que lhe coube desempenhar no desenvolvimento da economia mundial, de produtora e exportadora de bens primários, e o condicionamento ulterior que esse papel lhe impõe, enquanto a expansão da indústria tem de proceder necessariamente do simples ao complexo. Este padrão de industrialização implica que se expandam justamente aqueles ramos e atividades em que o progresso técnico é mais reduzido e, portanto, que limitam as possibilidades de se alcançar graus mais altos de complementaridade inter-setorial e integração vertical da produção. Em outros termos, a especialização inicial e o padrão de industrialização gerado sobre essa base trazem consigo um ritmo de progresso técnico mais lento na periferia. De tal modo que, nela, as possibilidades de se complexar a estrutura industrial — de enriquecer a malha de relações interindustriais — se vêem reiteradamente limitadas. Além dos altos níveis de proteção existentes nos grandes centros, são limitadas, pela mesma razão, as possibilidades de se diversificar as exportações, que tendem, portanto, a conservar seu caráter primário.
O menor crescimento da produtividade do trabalho nas economias periféricas (quadro 2) advém diretamente da sua desvantagem quanto à geração e incorporação de tecnologia. A este argumento básico se somam outros dois: os efeitos negativos sobre a produtividade, associáveis às margens de capacidade ociosa em diferentes indústrias cujas escalas mínimas resultam excessivas diante da dimensão dos mercados periféricos (“Estudo”, p. 68); os efeitos da heterogeneidade sobre os níveis médios da produtividade, como resultado da considerável proporção da mão-de-obra ocupada em atividades tecnologicamente atrasadas e da persistência deste fenômeno nas economias de tipo periférico. Do mesmo modo, a diferenciação dos níveis de produtividade do trabalho está na base da tendência à diferenciação do ganho real médio (por pessoa ocupada ou per capita) entre centros e periferia (quadro 5). Voltaremos a isso mais adiante.
A heterogeneidade estrutural persiste, embora, com a expansão industrial, também se verifiquem transformações significativas (quadro A). A atração das zonas urbanas, ou a simples expulsão da força de trabalho das atividades agrícolas atrasadas, induzem nas primeiras um aumento da porcentagem de mão-de-obra subempregada (ocupada em condições de baixa produtividade) sobre o total do subemprego, e, nas segundas, uma redução complementar da porcentagem correspondente. Em outras palavras, com o passar do tempo, o subemprego estrutural tende a se transformar de rural em urbano, sem por isso deixar de se configurar como expressão-chave da heterogeneidade.6 v) A superabundância de força de trabalho (quadro 3) constitui um reflexo direto da heterogeneidade. De fato, esta implica a existência de uma vasta oferta de mão-de-obra redundante, ou seja, de um contingente de subempregados rurais e urbanos de dimensões tais que comprometem a possibilidade de uma rápida absorção do conjunto da mão-de-obra em níveis de produtividade elevados ou, se quisermos, normais, que podem ser alcançados com tecnologias conhecidas e disponíveis. A superabundância de mão-de-obra, além disso, é vista como associada a variáveis demográficas. O aumento da taxa de crescimento populacional e da população economicamente ativa contribui para gerar uma oferta excessiva, em comparação com a dinâmica de sua absorção nas atividades modernas. Por outro lado, embora a um ritmo mais reduzido que nos centros, vão sendo introduzidas nessas atividades tecnologias intensivas em capital e economizadoras de mão-de-obra cuja própria índole desfavorece a sua absorção (“Estudo”, p. 69 e 70).
Nos centros, a relativa escassez de mão-de-obra, assim como o enorme desenvolvimento das organizações sindicais que foram se conformando e consolidando sob o estímulo de seus processos de industrialização deram lugar à elevação dos salários reais, no longo prazo. Em contrapartida, nas economias periféricas, ambos os elementos apresentam sinais inversos aos descritos, de tal sorte que os salários reais permanecem estancados em níveis muito baixos. Esta diferenciação salarial entre centros e periferia constitui um fator-chave na explicação da tendência à deterioração dos termos de intercâmbio (quadro 4), a cuja explicação se voltará oportunamente.
Importa agora evidenciar uma certa implicação-chave do fenômeno da deterioração concernente à diferenciação do ganho real médio entre centros e periferia (quadro 5). Já se indicou que ela está relacionada ao menor crescimento da produtividade do trabalho verificado, em geral, nas atividades produtivas desta última (quadro 2). Entretanto, cabe ainda questionar a incidência da deterioração (quadro 4) sobre essa diferenciação.
Para esse fim, é útil recorrer à expressão 
Onde:
 Lp designa a produtividade física do trabalho na produção de um bem primário;
 Pp, o preço desse bem;
 Li, a produtividade na produção de um bem industrial;
 Pi, o preço respectivo;
Y representa a relação entre o produto (renda) real por pessoa ocupada em ambas as atividades, medido em termos de bens industriais.
Com base na expressão anterior, percebe-se claramente que com a constância dos termos de troca (do Pp/Pi), tenderá a se produzir uma diferenciação dos ganhos médios (uma redução de y) derivada do menor crescimento da produtividade do trabalho nas exportações periféricas, em comparação com o que se verifica nas exportações dos centros (derivada de aumentos do Lp mais baixos que os correspondentes ao Li). Do mesmo modo, percebe-se que esta tendência básica, que se associa à evolução das produtividades físicas, ver-se-á reforçada ou agravada pelo comportamento dos preços relativos dos bens exportados por centros e periferia (pela diminuição do Pp/Pi), também favorável aos primeiros.
O parágrafo precedente procura precisar o significado atribuído à deterioração dos termos de troca pelos documentos institucionais mencionados anteriormente. Estes assinalam que os incrementos de produtividade derivados da incorporação do progresso técnico não se traduzem, nos fatos, em reduções proporcionais dos preços dos bens objeto do comércio internacional. A longo prazo, esses preçossobem em vez de baixar, e seus aumentos resultam maiores na produção industrial exportada pelos centros que na produção primária exportada pela periferia.
Como a produtividade também se eleva mais nos centros, esse comportamento dos preços relativos implica uma disparidade na evolução do ganho por unidade de trabalho favorável a eles. 
Assim, conclui-se legitimamente que a deterioração dos termos de troca implica uma diferenciação do ganho real médio nas atividades exportadoras das economias periféricas (quadros 4 e 5), convalidando a tendência geral ali presente, causa do menor crescimento da produtividade do trabalho (quadros 2 e 5).
Os argumentos sobre o desequilíbrio externo (quadro 6) derivam de outros que se referem à especialização da estrutura produtiva periférica, examinados anteriormente. De acordo com eles, no que diz respeito às exportações, a especialização implica não se conseguir expandir as de origem industrial, enquanto o ritmo de aumento das de origem primária se vê limitado por margens que, se excedidas, dão lugar à deterioração de seus preços relativos e comprometem seu valor. Como também se pôde ver, a especialização se expressa nos graus de complementaridade inter-setorial e de integração vertical da produção, que na periferia são reiteradamente incipientes em comparação com os dos grandes centros. O desequilíbrio externo, inerente ao processo espontâneo de industrialização da periferia é explicado em função dos comportamentos recém- considerados. Por um lado, concorre a relativa lentidão com que suas exportações se expandem. Por outro, incidem o padrão de transformação industrial e as desvantagens que lhe são próprias, em matéria de geração e incorporação de tecnologia. Este padrão gera aumentos consideráveis da demanda de importações, necessárias para se dispor de bens situados “mais atrás” na cadeia produtiva, que não podem ser produzidos internamente (em particular, os bens de capital, portadores de tecnologia). As importações tendem, portanto, a superar as exportações. Além disso, esta tendência ao déficit comercial se vê acentuada pela deterioração a longo prazo dos termos de troca (quadro 4). Segundo se entende, o desequilíbrio da balança comercial constitui a chave dos problemas de desequilíbrio externo, que ficam evidentes pela alternância de períodos de bonança e de aguda escassez de divisas. Ou seja, os problemas de balanço de pagamentos são percebidos como a média entre as oscilações de preço e valor das exportações e da capacidade para importar diante do montante crescente de importações que a indústria vai requerendo.
A diferenciação de renda per capita a que se fez referência afeta negativamente a capacidade de poupança do pólo periférico do sistema e, com isso, seus níveis acessíveis de acumulação (“Principais problemas”, p. 1). Por outro lado, a tendência ao déficit comercial mencionada implica que o aumento das importações requeridas pela industrialização seja continuamente dificultado e, a longo prazo, limitado, o que, por sua vez, limita a magnitude das taxas de crescimento do produto e de acumulação de capital que derivam espontaneamente do livre jogo das forças de mercado.
 Assim, tanto como resultado da diferenciação dos ganhos quanto do obstáculo externo, são geradas restrições à capacidade da economia e ao dinamismo da acumulação (Quadro 7). Por sua vez, este duplo comprometimento restringe a margem de possibilidades de se alterar de forma significativa as estruturas básicas das economias periféricas (quadro A), cujo atraso tende, pois, a se perpetuar. Dito de outro modo: ultrapassar acerca do atraso requer um esforço de tal índole e intensidade que a especialização e a heterogeneidade estruturais sejam reduzidas paulatina, mas sustentavelmente, com o passar do tempo. No entanto, o ritmo de acumulação de capital que este esforço requer não encontra respaldo adequado na capacidade de poupança, comprometida em parte pelo modo de relação entre periferia e centro, e pela perda de ganho potencial que ele origina, através da deterioração dos termos de troca. Por outro lado, o desequilíbrio externo também impede de se alcançar aquele ritmo, por causa da restrição que impõe ao crescimento do produto e, portanto, à própria acumulação, condicionada, do mesmo modo, pelo tipo de relação comercial entre centro e periferia (quadros 5, 6, 7 e A). Esses são os vínculos da diferenciação dos ganhos médios e da desigualdade das estruturas produtivas próprias do sistema centro-periferia, entre si e com a tendência ao desequilíbrio externo que as acompanha. Como se pôde verificar, com base no esquema comentado, embora se verifiquem mudanças estruturais significativas, a diferenciação, a desigualdade e o desequilíbrio expressos se reiteram ou reproduzem quando a evolução desse sistema fica ao sabor das forças do mercado ou, mais especificamente, quando a industrialização do pólo periférico se dá de maneira espontânea.
O CONTEÚDO BÁSICO E SUAS FORMALIZAÇÕES
Os fundamentos do estruturalismo latino-americano têm sua origem e sua base essencial na concepção do sistema centro-periferia. Entretanto, eles possuem também um segundo componentes-chave: as teorias formais a que essa concepção foi dando lugar, em estreita conexão com as análises construídas concomitantemente para sustentar recomendações de política econômica.
 No esquema já examinado, o quadro A relativo à estrutura produtiva da periferia, encontra-se conectado de maneira mais direta com os outros quatro. Destes, o quadro 1 registra uma hipótese sobre o progresso técnico que impregna e condiciona a caracterização do sistema mencionado. Tacitamente, admite-se que o progresso técnico resulta de processos exógenos no âmbito do econômico, que se plasma na criação de novos bens de capital. Mas, além disso, como se pôde ver, postulasse que ele procede de forma mais rápida em certos setores, ramos e atividades da produção material e, em conexão com isso, que vai se dando a taxas mais altas nos centros que na periferia. Os registros dos quadros, 3 ,4 e 6 não concernem a qualquer hipótese exógena, mas a tendências consideradas inerentes ao funcionamento do pólo periférico do sistema: a superabundância de força de trabalho, a deterioração dos termos de troca e desequilíbrio externo, respectivamente.
Tais tendências se interinfluenciam e interatuam com a evolução da estrutura produtiva desse pólo. Entende-se, pois, que elas constituem aspectos essenciais do conteúdo básico, que requerem análises formalizadas - de teorias em sentido estrito — se quisermos compreender mais cabalmente as especificidades do desenvolvimento da periferia.
Além da concepção institucional, os documentos básicos, denominados abreviadamente de “Principais problemas” e “Estudo”, contêm duas primeiras formalizações da teoria da deterioração dos termos de troca. Uma versão “contábil” (que utiliza apenas relações de definição), por meio da qual ela é descrita de maneira precisa e se revela seu significado oculto, ou seja, a diferenciação das rendas médias entre centros e periferia. E, do mesmo modo, uma segunda formalização, denominada “versão ciclos”, cujo objetivo é explicar o fenômeno da deterioração pelos movimentos cíclicos das economias centrais, e a forma como estes se propagam de tais economias para as de tipo periférico. Na primeira metade dos anos 1950, chega-se a formalizações também precisas de outras duas teorias, destinadas a explicar as tendências à superabundância de mão de- obra e ao desequilíbrio externo.12 Em 1959 é publicada uma terceira versão formal da teoria da deterioração dos termos de troca. Esta nova versão procura dar conta desse fenômeno conectando-o ao processo de industrialização e explicando-o como resultado natural do mesmo ou, com mais propriedade, das modalidades e características com que espontaneamente a industrialização se produz nas economias periféricas. Assim, ao longo da década de 1950, foram obtidas formalizações adequadas daqueles aspectos-chave do conteúdo inicial, necessárias para conferirinteligibilidade e coerência à interpretação do desenvolvimento a longo prazo das economias periféricas. Em outras palavras, conseguiu se elaborar o que se pode chamar de uma “teoria do subdesenvolvimento”, conformada pelo conjunto do conteúdo básico e das três teorias que replicam, em abstrato, os fenômenos do desequilíbrio externo, do subemprego estrutural e da deterioração dos termos de troca.
O fato de estas teorias cumprirem com os requisitos de lógica habituais da economia convencional legitima identificar esse conjunto como uma “teoria” do subdesenvolvimento. Mas, além disso, há que se possa ter presente que elas foram elaboradas em estreita conexão com propostas de política econômica, por sua vez sustentadas em corpus de análise que cumprem também com tais requisitos de lógica ou de coerência interna. Das teorias recém-mencionadas, o próximo capítulo cobre as duas primeiras. Ali são examinadas, além disso, as propostas de política a que se acaba de fazer referência. O capítulo culmina com a apresentação dos fundamentos do estruturalismo latino-americano, revisando a terceira dessas teorias.

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