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RESUMO DO CAPITULO 2

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A ANÁLISE DA INDUSTRIALIZAÇÃO PERIFÉRICA
INTRODUÇÃO:
	Como vimos anteriormente, a economia mundial alcança certo grau de maturação ou certo nível de ganho, a industrialização passa a ser a forma necessária e espontânea de desenvolvimento da periferia. 
	Aqui veremos que essa nova fase será chamada de “desenvolvimento para dentro” e que esta apresenta características relevantes:
A substituição de importações constitui a forma obrigatória da industrialização e traz consigo uma mudança na composição das importações;
A tendência ao desequilíbrio externo é inerente a esse duplo processo de substituição de importações e de mudança em sua composição;
Reproduz altos níveis de subemprego estrutural;
Condições próprias da agricultura incidem de maneira decisiva e provocam desequilíbrios Inter setoriais de produção.
Essas características serão analisadas através de dois instrumentos:
	O primeiro consiste em uma teoria estrutural do ajuste do balanço de pagamento (veremos na seção I);
	O segundo contém os esboços gerais de uma teoria explicativa da reiteração do subemprego estrutural (veremos na seção II). 
Neste capitulo veremos também os desequilíbrios gerados na agricultura (seção II) e uma breve referência aos componentes de uma política de desenvolvimento apta a dar curso à industrialização periférica, superando seus obstáculos e desequilíbrios naturais (seção IV).
SEÇÃO I: A TENDÊNCIA AO DESEQUILIBRIO EXTERNO
A explicação da tendência ao desequilíbrio externo é realizada por contraste, com um referente analítico relativo ás condições que a industrialização periférica deve atender para que esta tendência não se produza. Parte-se da admissão de que os preços dos bens elaborados nos dois pólos do sistema centro-periferia permanecem constantes, e que tampouco variam os preços dos bens objeto de seu comércio recíproco. Também se admite que não são produzidos movimentos de capital entre ambos os pólos. Do mesmo modo, cabe destacar que o raciocínio se apoia na hipótese da disparidade das elasticidades-renda da demanda dos produtos comercializados.
Conforme se argumenta, nos centros, o ritmo de aumento da demanda de importações é reduzido em comparação com o ritmo de crescimento de sua renda. Tal divergência é resultante dos efeitos do progresso técnico sobre a utilização de insumos e também sobre o consumo. No que diz respeito aos primeiros, um aproveitamento melhor e mais completo das matérias-primas provoca uma redução da proporção em que elas (ou o valor que incorporam) participam do valor do produto final; do mesmo modo, a substituição cada vez maior de matérias-primas naturais por produtos sintéticos tende a reduzir a demanda de bens primários.
 Quanto ao consumo:
o crescimento da renda, tem passado de certos limites, pois tem produzido uma demanda de alimentos básicos relativamente lento, em comparação com a demanda de uma variada gama de bens (entre eles os serviços), nos quais o conteúdo de produtos primários é mais baixo.
Mas, inclusive nos alimentos, a demanda se desloca para artigos mais elaborados, em cujo valor o conteúdo de bens primários é reduzido. Tais são os elementos explicativos de por que a elasticidade-renda da demanda de importações primárias dos centros é menor que a unidade.
Contrariamente, a elasticidade-renda da demanda de importações da periferia será maior que um. Isso se deve a seu caráter especializado, a que se fez referência no capítulo anterior: nos períodos iniciais da fase de industrialização, ela só exporta produtos primários; os graus de complementariedade inter-setorial e a integração vertical de sua estrutura produtiva ambas ocorrem nesta fase. Com base nesta segunda característica podemos dizer que as demandas de manufaturas produzidas pelo centro apresentam um elevado dinamismo, este cresce mais que a renda no polo periférico.
 Observamos melhor esta disparidade através da seguinte equação:
 
ep= elasticidade-renda das exportações da periferia;
ec= importações;
y= taxa de crescimento da sua renda;
w= taxa de crescimento correspondente à renda dos centros.
Esta equação expressa as condições que devem ser atendidas para que o crescimento de ambos os pólos não gere desequilíbrios em seu comércio recíproco. 
Por conta da disparidade de elasticidades (ep>ec), assim a periferia cresce menos que o centro (y<w) e menos ainda de acordo com a disparidade.
Sendo assim, a disparidade de elasticidades e taxa de crescimento da renda central impõe um limite à taxa de aumento da renda da periferia. Se esse limite se estender acabara gerando sucessivos déficits comerciais, que impedirão a sua expansão. A não ser que se crie um padrão de industrialização, caracterizado pela substituição de importações e pela mudança na composição das importações.
Para crescer a uma taxa superior e evitar o desequilíbrio será necessário dois pontos:
Empreender a elaboração interna de diversos bens industriais;
Impedir a sua importação, assim como a de outros bens dispensáveis, pois assim satisfaz a demanda de importações induza por aquela produção substitutiva e, em geral, pelo crescimento da renda.
A substituição de importações tem de ser acompanhada por uma mudança na composição das importações, pois é preciso:
Reduzir as de algumas categorias de bens
Exemplo: bens de consumo de fácil elaboração, durante as primeiras etapas da expansão industrial;
Aumentar as de outros itens distintos
Exemplo: insumos intermediários e maquinário;
Veja que esses argumentos contém um referencial teórico que estabelecem condições para atender a industrialização ou transformar a estrutura produtiva da industrialização pois assim acaba rebatendo a tendência ao desequilíbrio externo imposta pela disparidade da elasticidade.
Simplificando:
	As exportações primarias da periferia aumentam a uma taxa definida e constante.
Preservando o equilíbrio da balança comercial:
Será necessário que as diferentes atividades cuja produção se destinam ao mercado interno e se expandam a ritmos tais que os graus de complementaridade inter-setorial e integração vertical sejam alcançados entre eles;
Somados a mudanças na composição das importações (a oportunidade da redução de algumas delas, para fazer frente às necessidades de importação dos setores que se expandem);
Limitem o crescimento das importações globais ao ritmo em que crescem as exportações.
As ofertas de bens se adaptem às mudanças na estrutura da demanda que acompanham a industrialização e o desenvolvimento da economia periférica. 
Para preservar o equilíbrio externo:
Cria-se um conjunto de taxas de expansão da produção (acumulação de capital) nas diferentes atividades da economia periférica, supõem certos ritmos de aumento ou de redução dos diversos componentes das importações.
Nas taxas setoriais e parciais estão implícitas as taxas globais de acumulação de capital, de crescimento do produto e de incremento das importações, que não são mais que médias das primeiras.
Olhando de outro ângulo vemos que:
	O mesmo referencial pode ser representado por meio das proporções em que os recursos produtivos e a produção total têm de ser distribuídos entre os diferentes setores e ramos da atividade, e os recursos de divisas entre os diversos tipos de importações durante um número arbitrário de períodos de renda.
Considerações anteriores:
Vimos com clareza que o caráter estruturalista do referencial não é outra coisa senão um padrão ideal de transformação da estrutura produtiva da periferia que estabelece as proporções que devem ser obedecidas entre seus diversos setores e ramos a fim de evitar o desequilíbrio externo.
Na realidade, o modelo constitui o desenvolvimento de um dos aspectos-chave da concepção inicial (a especialização da economia periférica), pois a tendência ao desequilíbrio pode ser superada mediante uma maior complementariedade inter-setorial e integração vertical da produção dessa economia, ou seja, reduzindo-se o grau de sua especialização.
A tendência ao desequilíbrio externo se explica por contraste,com um padrão de referência do tipo que acaba de ser resumido.
Periferia:
A industrialização se inicia em condições de especialização primário-exportadora, o que impede a substituição das importações de forma mais ou menos simultânea nos diferentes elos da cadeia produtiva 
Exemplo: diversos bens de consumo, intermediários e de capital.
	
Contrariamente:
	As condições aludidas levam a realizar a substituição a partir dos bens cuja elaboração é mais simples, como os bens de consumo final da indústria leve. Sendo assim a própria substituição acaba por gerar enormes demandas de importação, que tendem logo a exceder os limites impostos pelo lento crescimento das exportações e pela redução das margens para conter importações disponíveis.
Em outras palavras:
	Observa-se que as transformações na estrutura produtiva e as mudanças na composição das importações que a acompanham, não ocorrem na pratica de acordo com as condições ideais de proporcionalidade requeridas para preservar o equilíbrio externo.
Lembre-se, de que:
	O desequilíbrio é explicado pelas desproporções na composição setorial da produção ou, podemos dizer que nos ritmos de crescimento dos diversos setores produtivos da periferia. Essas desproporções expressam a dificuldade de superar a especialização peculiar da sua estrutura produtiva.
Aspectos-chaves da argumentação anterior:
A tendência ao desequilíbrio externo constitui um traço da própria industrialização periférica, inserido na disparidade de elasticidades.
Para evita-las:
	“... é indispensável ir transformando a composição das importações e desenvolvendo a produção substitutiva interna a fim de que outras importações possam crescer intensamente” (Prebisch, 1973b, p.33);
	“Reajuste das importações” (Prebisch,1973b, p.33).
Assim:
	Essas tendências provem da falta de um mecanismo econômico que assegure o “reajuste das importações”, ou seja, a adequação com o passar do tempo das necessidades de importação e a aptidão de satisfaze-las.
Observe este exemplo:
	O valor das importações requeridas para realizar determinado conjunto de substituições superar temporariamente o valor das importações substituídas, sem que se tomem medidas para saldar a diferença, mediante de outras substituições ou da contenção de importações dispensáveis. 
			Ou seja
Pensa-se que as transformações da estrutura produtiva inerentes à industrialização da periferia, assim como as transformações na gama de importações que a acompanham, não se dão na prática de acordo com as condições de proporcionalidade necessárias para manter o equilíbrio externo.
Por causa disto o desequilíbrio tende a ocorrer uma ou outra vez, por conta disto podemos dizer que o mesmo tende ao estimular o processo de industrialização pois o mesmo obriga uma ou outra vez, que sejam tomadas medidas protecionistas de índole distintas.
O impulso à industrialização espontânea provocado pelo desequilíbrio externo vai se dando mediante e em conexão com as oscilações conjunturais do valor das exportações.
Quando ocorrer aumento:
	 A industrialização substitutiva ocorre sem dificuldades.
Quando ocorrer diminuição:
	O simples fato de manter o nível de atividade nas manufaturas preexistentes pode exigir importações superiores á minguada capacidade para importar, dando lugar a novas substituições.
A tendência ao desequilíbrio externo vincula-se à alternância de períodos de bonança e de aguda escassez de divisas.
Mas na realidade, ela é concebida como resultado de longo prazo das oscilações do valor das exportações e da capacidade para importar, que em certos períodos facilitam o processo de industrialização, e em outros exigem perseverança no esforço de substituição das importações em que esse processo consiste.
SEÇÃO II: OS PROBLEMAS OCUPACIONAIS
Com base no capitulo 1:
A estrutura produtiva é assumida como heterogênea para indicar que nela coexistem atividades em que a produtividade do trabalho é alta ou “normal” (quando se aproxima dos níveis permitidos pelas técnicas disponíveis), com atividades cuja produtividade é muito reduzida, substancialmente inferior à que prevalece nas primeiras. Vimos também que o emprego se define como constituído pela mão de obra de produtividade elevada, e o subemprego, por aquela outra cuja produtividade é exígua.
As estruturas produtivas dos centros industriais são homogêneas, de modo que, neles, a porcentagem do subemprego em relação ao total da PEA tem pouca significação. Isso quer dizer que os problemas ocupacionais dos centros se manifestarão na forma de desemprego aberto, se agravando de tempos em tempos pelas conjunturas de queda do nível de atividade.
Nas economias periféricas, esses problemas possuem características especiais, diferentes das apresentadas nas economias industriais.
 Seu traço distintivo consiste na presença de:
 “(...) um excedente real ou virtual de população ativa (...)” (Prebisch, 1973b, p. 41), ou seja,
 “(...) de grandes massas de potencial humano de capital exíguo e produtividade inferior (...)” (Prebisch, 1973b, p. 42), que configuram o subemprego estrutural.
Se observa que:
Essa presença maciça do subemprego e sua persistência durante períodos muito prolongados configuram-se como problemas ocupacionais de particular gravidade, que são justamente peculiares das economias de tipo periférico.
Veremos que:
A enorme proporção de subemprego no início da fase de desenvolvimento para dentro (ou, se preferirmos, de forma mais concreta, com a aceleração da industrialização latino-americana após a Segunda Guerra Mundial) constitui um elemento explicativo essencial de sua própria persistência.
Entende-se que:
Nela incidem, além disso, o ritmo da acumulação de capital e 
os padrões tecnológicos com que se dá a industrialização ao longo dessa fase.
O que veremos a seguir se refere a esses pontos acima:
Tecnologia e progresso técnico 
Conceitos: com base em certas hipóteses genéricas sobre as características que o progresso técnico assume nas economias onde se origina, ou seja, nas economias dos grandes centros.
Hipóteses: são expostas com um intuito limitado: o de avaliar as dificuldades que essas características impõem à mudança em profundidade da estrutura ocupacional da periferia — a uma redução significativa do subemprego — durante sua industrialização.
Segundo se alega, na longa e gradual evolução econômica dos centros, a alta dos salários reais teria servido de incentivo para a contínua emergência de inovações tecnológicas destinadas a substituir mão-de-obra por capital.
 A adoção dessas técnicas de maior densidade de capital tendia, por certo, a gerar desocupação, mas ao mesmo tempo contribuía para absorvê-la, graças aos investimentos adicionais induzidos pelos novos procedimentos produtivos.
 Quando os efeitos da acumulação sobre o emprego voltavam a incidir sobre o nível dos salários, a tendência destes à alta provocava a incorporação de uma nova corrente de inovações, com procedimentos técnicos de densidade de capital ainda maior. 
Assim, a interação entre progresso técnico, acumulação, empregos e salários, com base em um mecanismo como o recém-descrito, dá conta do gradual aumento da densidade de capital no desenvolvimento dos grandes centros industriais.
 Indica-se, do mesmo modo, que esse mecanismo operou nos diversos setores e ramos de atividade, razão pela qual seus resultados eram propensos a se estender a todos eles.
 A mobilidade dos recursos produtivos tendia a igualar sua remuneração nas diversas atividades.
 Desse modo, quando a elevação dos salários impulsionava a inovação e o aumento da densidade de capital em certos ramos, possibilitando por sua vez o pagamento de salários mais altos, a propagação dessa elevação para outros ramos e setores fazia com que também neles se adotassem tecnologias de maior densidade de capital.
Em resumo, o progresso técnico das economias centrais se traduziu em um aumento paulatino da quantidade de capital por unidade de mãode- obra e em uma relativa homogeneização da densidade de capital nas diversas atividades produtivas.
É de observar que este postulado se une a um pressuposto adicional:
à medida que a densidade de capital aumenta— e, com ela, a produtividade do trabalho e os salários —, incrementa-se também a produtividade do mesmo capital, possibilitando que sua remuneração conserve níveis compatíveis com a continuidade da acumulação.
 Quanto a este aspecto do progresso técnico, afirma-se que somente no plano abstrato as inovações podem ser divididas entre as destinadas a economizar mão-de-obra e a aumentar sua produtividade mediante uma maior quantidade de capital por homens, e as que são destinadas a elevar a produtividade do capital.
Na prática, essas transformações ocorrem juntas:
em geral, com cada inovação se consegue aumentar simultaneamente a produtividade de ambos os fatores. Do mesmo modo, sustenta-se que as tecnologias que vão sendo geradas nos centros obrigam a combinar trabalho e capital em proporções fixas e se moldam em processos produtivos de grande escala, excessiva em relação às dimensões das economias de menor desenvolvimento e à amplitude de seus mercados.
Assim, a elevada densidade de capital, a rigidez quanto à proporção com que se combinam os fatores e as indivisibilidades de escala são os traços fundamentais das técnicas geradas nos centros.
Tais traços são vistos como inadequados, por razões às quais voltaremos mais adiante.
As considerações precedentes podem ser detalhadas por meio de uma função de produção como a dada pelas seguintes equações simultâneas:
 P é o produto real;
 K e T representam quantidades físicas de capital e trabalho;
 k e t são as respectivas produtividades físicas, tanto médias como marginais.
A dotação de capital por pessoa ocupada, ou densidade de capital, é obtida igualando-se essas equações:
A densidade de capital equivale, pois, ao quociente entre a produtividade do trabalho (t) e a produtividade de capital (k), e indica a única proporção em que uma técnica permite combinar os recursos produtivos.
Assim, uma função de produção linear ou de coeficientes técnicos fixos como a precedente, em que inexiste qualquer possibilidade de substituição entre estes fatores de produção, pode ser tida como representativa de parte dos postulados descritos anteriormente.
 A mesma função pode incorporar o pressuposto segundo o qual as técnicas disponíveis utilizam certas dotações mínimas de capital e, portanto, impõem certas escalas de produção também mínimas.
Por outro lado, postula-se que o progresso técnico aumenta a produtividade dos recursos considerados, porém mais a do trabalho que a do capital (A t> A k), de tal modo que a densidade de capital (t/k) se vê incrementada.
 O aumento simultâneo das produtividades dos dois recursos implica que cada nova técnica é mais eficiente no uso de ambos e que, portanto, suplanta as previamente disponíveis, de menor densidade de capital, tornando-as obsoletas.
Desse modo de ver o progresso técnico deriva que as economias periféricas
estejam obrigadas a utilizar as tecnologias mais modernas, de mais alta dotação de capital por homem, tendo em vista que nelas a eficiência técnica é maior e, em consequência, também o é a eficiência econômica, tanto do ponto de vista privado como social.
A tendência ao subemprego estrutural
Breve analise:
A argumentação estruturalista básica sobre a tendência ao subemprego estrutural ou, se preferirmos, sobre sua persistência, pode ser exposta nestes termos: a acumulação de capital será exígua na periferia, tendo em vista os baixos níveis de produtividade e renda médios que nela prevalecem; mas, além disso, ao se traduzir em investimentos de alta densidade e grande escala, a acumulação será insuficiente para absorver a oferta de mão-de-obra que provém do crescimento vegetativa da PEA e para, ao mesmo tempo, ir reabsorvendo o subemprego instalado em setores de baixa produtividade, em novas condições de produtividade elevada. 
Para esclarecer como incidem os diferentes elementos descritos na tendência ao subemprego, convém recorrer à seguinte equação:
s representa a taxa de poupança; 
k, a produtividade do capital;
 e a taxa de crescimento da população ativa; 
Ea, o subemprego (a ocupação no setor de baixo produtividade, ou setor atrasado); e, finalmente,
Em representa o emprego (a ocupação no setor de alta produtividade, ou setor moderno).
O primeiro elemento dessa equação (s • k) registra a taxa de acumulação de capital, que determina a taxa de aumento do emprego e equivale a ela.
 O primeiro termo do segundo elemento (e) registra o aumento da PEA que se origina no setor moderno (e • Em) como porcentagem corresponde ao aumento da PEA que se origina no setor atrasado (e • Ea) como porcentagem da ocupação no setor moderno (e • Ea/Em), pelo que se infere que o segundo elemento se refere à taxa a que cresce a população ativa em relação ao emprego no setor moderno [e + e ■ Ea/Em = (e • Em + e • Ea) /Em].
A equação acima estabelece, pois, a condição que deve ser cumprida para que, com o passar do tempo, os incrementos do emprego se igualem ao total dos aumentos da PEA, isto é, à soma dos que provêm do setor moderno com aqueles que se originam no setor atrasado.
Basicamente, o segundo elemento da equação anterior corresponde à dinâmica da oferta de força de trabalho. Dessa perspectiva, argumenta-se que a fase de desenvolvimento para dentro sofre a incidência de variáveis demográficas que provocam uma alta (ou mantêm elevada) da taxa de crescimento populacional e, paralelamente, da taxa que corresponde à expansão da população ativa (e).
Do mesmo modo, a equação mencionada permite verificar que a absorção da mão-de-obra adicional depende grandemente do grau de heterogeneidade estrutural em um período de base arbitrário, que transcorre no início do processo de industrialização, grau que é definido como a porcentagem de subemprego na ocupação e na PEA.
Como é evidente, seu valor se relaciona com as proporções com que a força de trabalho se distribui entre os setores moderno e atrasado (Ea/Em) nesse período.
Por exemplo, se tal grau for de 50%, a ocupação será distribuída por metades entre esses setores, de modo que se a população ativa cresce em ambos a 3%, seu incremento em relação ao emprego no setor moderno será de 6% no período seguinte. Em contrapartida, se a ocupação se distribuir na proporção de 4 para 1, esta taxa se elevará a 15%.
Tais exemplos apontam que, quando o setor moderno é exíguo, a acumulação e o crescimento do mesmo podem ser insuficientes para dar emprego à mão-de-obra adicional que vai sendo gerada não só nesse setor, mas também em um setor atrasado onde se concentra grande parte da ocupação total. Do mesmo modo, se essa exiguidade dificultar a absorção no emprego dos incrementos da oferta de força de trabalho, será ainda mais difícil a reabsorção paulatina do subemprego preexistente (a redução da magnitude de Ea). 
Assim, conclui-se legitimamente que o grau inicial de heterogeneidade é um fator explicativo fundamental da persistência do subemprego — da persistência de sua elevada magnitude absoluta e relativa — durante a industrialização periférica.
Mas nessa persistência também concorrem fatores relativos ao dinamismo da demanda de força de trabalho, resumido pelo primeiro elemento da equação comentada. De tal perspectiva, opera a baixa capacidade de poupança (o reduzido valor de s) própria das economias periféricas, vinculada aos seus exíguos níveis de produtividade e renda médios; níveis em cujo bojo se encontra, por sua vez, a incipiente penetração da tecnologia, tanto naquelas atividades de produtividade muito baixa que abrigam o subemprego como em outras, de produtividade intermediária ou alta, mas inferior à que poderia ser obtida com técnicas conhecidas.
Sobre a taxa de acumulação (s • k) também incide negativamente a diminuição da produtividade do capital (k), comprometida pelos problemas de escala. Diversas são asatividades em que esta é excessiva diante das dimensões dos mercados periféricos. De tal sorte que a subutilização da capacidade instalada reduz nessas atividades a produtividade daquele fator e, com isso, o nível médio alcançado no conjunto do sistema econômico.
Um segundo aspecto da inadequação da tecnologia corresponde à densidade de capital, isto é, à dotação de capital por unidade de mão-de-obra. De acordo com os pressupostos descritos anteriormente, o progresso técnico traz aparelhada a alta da densidade de capital, e, com isso, incide favoravelmente sobre a sua produtividade (k) e sobre a taxa de acumulação (s • k); e, por estas vias, favorece também a absorção de mão-de-obra no setor moderno. No entanto, cabe esclarecer que se as novas atividades que vão sendo preexistentes ou a substituição da mão-de-obra destas por capital, a tendência será de geração de desemprego. E o seu valor líquido (isto é, a diferença entre o número de postos de trabalho destruídos e criados) será tão maior quanto maior for a densidade de capital nas atividades novas, ou seja, quanto mais esta diferir da densidade prevalecente naquelas atividades que mudam ou caducam.
Não é de se esperar que o desemprego líquido derivado da inadequação da densidade de capital seja relevante no âmbito da indústria, pois na periferia ela se expande a partir de condições de especialização primário-exportadora e, portanto, de um escasso desenvolvimento industrial prévio. De tal modo que poucas das novas atividades manufatureiras incidirão na continuidade de atividades “modernas” preexistentes, nas quais os níveis de produtividade sejam inferiores.
 Porém, além de sua limitada significação, há que se esclarecer que um eventual desemprego tecnológico associado à expansão da indústria se configura como uma possível fonte de oferta adicional de mão-de-obra, que se soma aos aumentos da população ativa provenientes dos setores moderno e atrasado (ou seja, dos aumentos de Em e Ea).
Diversas e especiais são as consequências provenientes das transformações do setor agrícola. Embora com variantes conforme o caso, no início da fase de desenvolvimento para dentro, este setor concentra uma grande proporção de subemprego estrutural. Nele vão sendo incorporadas as mudanças técnicas assinaladas, em boa medida pela mecanização das tarefas agrícolas. Essas novas técnicas não apresentam problemas de escala, mas sofrem aumentos significativos da densidade de capital, com virtuais efeitos sobre o emprego em atividades preexistentes, do tipo das referidas no ponto anterior.
No entanto, não se espera também que no setor agrícola tais efeitos sejam verdadeiramente significativos. Mais propriamente, eles se configuram como pouco relevantes, em comparação com os que são verificados no subemprego estrutural abrigado nesse setor. As atividades de cunho empresarial, às quais as novas técnicas se incorporam, reorientam o uso das terras de que dispõem, assim como o daquelas outras terras às quais têm acesso. E, ao fazê-lo, dão origem a uma tendência à expulsão da mão-de-obra anteriormente subempregada nessas mesmas terras.
Uma segunda fonte relevante de tal tendência se relaciona a explorações independentes situadas em pequenas áreas, que também abrigam o subemprego. O tamanho reduzido dessas explorações explica a incapacidade de muitas delas de reter os aumentos populacionais que originam.
Por outro lado, em muitos casos, a diminuição ou esgotamento da fertilidade dos solos impede que se continue provendo a subsistência à mão-de-obra dedicada ao seu cultivo.
Assim, por indução das transformações ocorridas na agricultura de tipo empresarial, e também de outras que ocorrem em minifúndios onde a produtividade do trabalho é muito reduzida,17 diferentes atividades agrícolas expulsam a mão-de-obra de baixa produtividade, que no todo ou em parte se incorpora a formas urbanas de subemprego.
Admitir a destruição do subemprego em determinadas atividades agrícolas não implica desconhecer sua recriação em outras atividades do mesmo setor. Mas de ambos os movimentos derivará uma queda da porcentagem do subemprego agrícola em relação ao total do subemprego e, portanto, uma alta complementar da porcentagem de subemprego urbano.
Diminuirá, do mesmo modo, a porcentagem correspondente à forma rural do subemprego em relação à ocupação e à PEA globais. Dependendo do caso e do período, poderá se produzir, além disso, uma diminuição da magnitude absoluta do subemprego agrícola.
Nas considerações anteriores foram mencionados os elementos que explicam a persistência do subemprego durante a fase de industrialização das economias de tipo periférico. Conforme se pôde ver, sob o ângulo da demanda, a baixa capacidade de acumular, assim como a inadequação da tecnologia gerada nos centros conjugam-se com a dimensão dos mercados e a abundância de mão-de-obra peculiares daquelas economias. Sob a perspectiva da oferta, incidem as taxas elevadas de crescimento da população ativa. Mas destaca-se particularmente o papel crucial da alta magnitude relativa do próprio subemprego no início dessa fase.
Essa é, numa síntese reduzida, a argumentação sobre a persistência do subemprego nos documentos iniciais do estruturalismo latino-americano, persistência assinalada então como problema ocupacional maior e distintivo das economias mencionadas.
 As considerações a seguir correspondem a certas mudanças na estrutura da sua ocupação, que se configuram como compatíveis com essa argumentação.
Admita-se que o emprego cresça num ritmo maior do que a população ativa. Nesse caso, embora com lentidão, sua porcentagem em relação à ocupação total aumentará ano após ano, e o do subemprego cairá completamente.
Se partirmos de um alto grau de heterogeneidade, como ocorre nas economias periféricas, a magnitude absoluta deste último aumentará. 
Mas se aquela diferença de ritmos se mantiver, chegaremos a um ponto de reversão, isto é, a um ano em que a quantidade de subempregados começará a decrescer. 
O lapso requerido para a reversão será muito prolongado; é uma demora que depende de forma decisiva da elevada heterogeneidade inicial própria dessas economias.
Assim, na heterogeneidade reside a razão estrutural, de fundo, da persistência do subemprego que nelas se percebe.
 Também se pode mostrar que o padrão de mudança da estrutura ocupacional recém-delineado sofre mudanças setoriais cuja base de impulsão reside na destruição de subempregos rurais e na paralela criação de subempregos urbanos.
Os desequilíbrios gerados na agricultura
Além da escassa complementaridade inter-setorial e da integração vertical da produção própria do processo de industrialização da periferia, outros desequilíbrios ficam claros durante esse processo.
 Particularmente:
Visíveis são os relacionados com a infraestrutura, a energia e os transportes.
Tais atividades foram se conformando durante a etapa prévia de desenvolvimento para fora, em função das necessidades impostas pela especialização primário-exportadora. 
Assim, durante o desenvolvimento para dentro, elas se apresentam com as mesmas sérias dificuldades de reajustamento, que tendem a perpetuar suas carências e a reduzir a eficiência do sistema econômico em seu conjunto. Entretanto, a ênfase recai sobre os desequilíbrios Inter setoriais da produção relacionados com a agricultura.
Os primeiros documentos estruturalistas que tratam dessa problemática enfocam-na sob uma perspectiva de política econômica, tentando estabelecer critérios gerais para a seleção da tecnologia no campo e para a distribuição do esforço de acumulação entre esse setor e as demais atividades econômicas. 
Mas nesses documentos está implícito o esboço de uma interpretação dos desequilíbrios gerados na agricultura: as carências de oferta agropecuária peculiares da fase de industrialização substitutiva e a incapacidade do campo de manter um nível de emprego que se harmonize com o crescimento das demais atividades.
Veremos a seguir:
A explicação das causasdesses desequilíbrios constitui uma primeira aproximação conceitual das características da estrutura da propriedade e posse da terra próprias das economias periféricas, e a sua incidência sobre o seu desenvolvimento a longo prazo. 
No caso da agricultura, a análise dos problemas ocupacionais e dos desajustes Inter setoriais da produção assume uma forma particular, diferente da analisada em pontos anteriores.
Convém reiterar os pressupostos básicos concernentes à tecnologia e ao progresso técnico:
Admite-se que os recursos produtivos se combinam em proporções fixas, ou seja, que há entre eles completa “insubstituibilidade” e, além disso, que, em razão da indivisibilidade dos bens de capital, geralmente só se acham disponíveis processos produtivos de grande escala. Postula-se, desse modo, que o progresso técnico aumenta a produtividade do trabalho e também a do capital, porém mais a do primeiro que a do segundo, de tal modo que, com ele, a densidade de capital vai se incrementando.
Na análise relativa à agricultura, estes pressupostos gerais são parcialmente deixados de lado: 
Por um lado, recolhe-se o fato mais ou menos claro de que as indivisibilidades de escala têm no campo pouca importância. 
Por outro, se aceita que para a produção agropecuária existem diversas opções tecnológicas em relação à proporção em que os recursos são combinados, de tal modo que, nela, a inadequação da densidade de capital se apresenta atenuada em relação à das demais atividades.
Conforme se argumenta, existem na agricultura dois grandes tipos de técnicas, sem prejuízo de que em cada um deles existem diversas opções, no que diz respeito ao modo de combinar os recursos produtivos:
O primeiro tipo se associa à mecanização das tarefas agrícolas, mediante a qual se consegue reduzir a mão-de-obra por unidade de produto (isto é, aumentar a produtividade do trabalho) e por unidade de superfície, embora sem alterar a produtividade do solo de modo significativo. 
Do segundo tipo de técnicas são exemplos os métodos de cultivo destinados a elevar os rendimentos por hectare, como a fertilização, e também os investimentos em irrigação, as obras de drenagem etc. Com tais técnicas se consegue aumentar consideravelmente a produtividade da terra sem afetar a ocupação na mesma medida em que o fazem as do primeiro tipo.
Além disso, sustenta-se que na agricultura o progresso técnico originou diferentes alternativas tecnológicas.
 Em linhas gerais,
Entre elas podem se distinguir algumas de densidade de capital relativamente elevada, às quais correspondem requisitos de mão-de-obra por unidade de produto e por unidade de superfície relativamente baixos. Mas existem também outras técnicas, de menor densidade de capital do que as primeiras, as quais apresentam uma maior produtividade relativa desse recurso e da terra, permitindo de uma vez o uso de uma maior quantidade de força de trabalho. 
Para a produção agropecuária existem diversos tipos de técnicas, de tal modo que em princípio é possível alcançar simultaneamente dois objetivos:
Elevar a oferta agrícola de acordo com o crescimento do conjunto do sistema econômico e, ao mesmo tempo, deslocar a mão-de-obra do campo de forma compatível com os aumentos da demanda de trabalho nesse mesmo setor e no resto do sistema.
Daí se depreende que os desequilíbrios originados na agricultura não se acham condicionados pela inadequação da tecnologia, em princípio apta a sustentar em tal setor essa dinâmica duplamente equilibrada. As razões que impedem que esses equilíbrios sejam alcançados não são puramente econômicas. 
Em boa medida, elas têm origem em certas condições de estrutura próprias do campo, atinentes ao sistema de propriedade e posse do solo que nele prevalecem.
O sistema de propriedade se caracteriza pela coexistência de latifúndio
e minifúndio. Ambos conspiram contra a expansão da oferta agrícola e contra a absorção da força de trabalho.
No latifúndio, a excessiva concentração da terra dificulta sua plena utilização, devido à grande quantidade de capital que seria necessário para explorá-la plenamente.
 Ao mesmo tempo, para proprietários que dispõem de grandes rendas é viável, e até desejável, manter terras improdutivas, como defesa contra a inflação e por questões de prestígio social.
Além de debilitar a acumulação pela subutilização da terra, no latifúndio a propensão é de se mecanizar as tarefas agrícolas, com consequências negativas sobre o uso da força de trabalho.
 Esta opção tecnológica depende em parte de razões econômicas, pois embora a mão-de-obra seja abundante, do ponto de vista privado sua contratação implica um custo que induz a substituí-la por capital. Mas não é esta a causa principal dos problemas ocupacionais que o latifúndio suscita.
Conforme se concebe, ao introduzir novas técnicas, alteram-se os modos de uso do solo e as relações sociais. A tendência preponderante consiste em privilegiar o trabalho assalariado e em reduzir ou eliminar a presença da mão-de-obra que trabalha no latifúndio, mas em condições de produtividade muito reduzida.
A dispersão da propriedade do solo em minifúndios tem efeitos semelhantes.
As pequenas explorações carecem de capacidade para acumular e para modificar os procedimentos rudimentares de cultivo, o que as impede de elevar a produtividade da terra e de expandir a oferta agrícola.
A falta de capital implica, além disso, que a produtividade da mão-de-obra se mantenha baixa. Junto com a escassa disponibilidade de terra por unidade familiar, isso torna o minifúndio incapaz de reter o crescimento vegetativo da população que habita e trabalha nele. 
Além disso, o esgotamento da fertilidade do solo induz a expulsão da mão-de-obra previamente subempregada. O arrendamento do solo agrícola e outras formas precárias de posse em atividades de tipo empresarial contribuem para a realização de investimentos cujo valor não se adere ao da propriedade. 
Assim, os maquinários e equipamentos tornam-se preferíveis a alternativas tecnológicas que economizam comparativamente menos mão-de-obra e aumentam mais a produtividade da terra. Mas, além disso, a proliferação de variadas formas de posse precária no minifúndio, e inclusive em pequenas parcelas situadas no interior do latifúndio, facilitam a expulsão da mão-de-obra subempregada.
Em síntese, a estrutura de propriedade e posse do solo peculiares da periferia (e, em particular, da periferia latino-americana) entorpece a acumulação de capital, e por esta via compromete a expansão da oferta agrícola, assim como o aumento da demanda de emprego nesse setor.
 Por outro lado, tais condições estruturais levam à conservação de técnicas rudimentares nos minifúndios, também em prejuízo da expansão da oferta agrícola e, do mesmo modo, da capacidade de retenção da mão-de-obra subempregada.
Estas características de estrutura conduzem, além disso, à adoção de técnicas do tipo da mecanização, as quais aumentam pouco a produtividade da terra e, portanto, a oferta de bens agrícolas, e incidem de forma comparativamente desfavorável sobre a demanda de emprego.
Sob a perspectiva ocupacional, o conjunto dos elementos assinalados tende a induzir aumentos do emprego agrícola que não compensam completamente os incrementos da oferta de mão-de-obra provenientes do crescimento populacional e da eliminação do subemprego.
 Desse modo, provoca-se a transferência de mão-de-obra do campo para a cidade e a paralela transformação do subemprego rural em subemprego urbano.
Segundo se argumenta, os desequilíbrios gerados na agricultura se manifestam com intensidade muito diversa nas diferentes economias periféricas. No entanto, entende-se que, em maior ou menor medida, durante o desenvolvimento para dentro tende a ocorrer escassez de alimentos e de matérias-primas de origem agropecuária, assim como um excedente de mão-de-obra agrícola que não consegue ser completamente absorvido pela indústria e por outros setores dinâmicos, constituindo- se em um elemento básico da reiteração do subempregoestrutural.
As recomendações de política econômica 
Em linhas gerais, as recomendações de política econômica que fazem parte dos fundamentos do estruturalismo guardam coerência entre si e com o contexto teórico examinado neste capítulo e no posterior. Tal consistência não é de se estranhar, pois os aspectos de teoria e política econômicas desses fundamentos foram se construindo em conjunto e em estreita inter-relação.
A afirmação precedente não implica que as posições de política constituam simples corolários das contribuições teóricas. Elas mesmas exigiram análises complexas (por exemplo, as que estabelecem critérios de alocação de recursos) ou até mesmo demandaram a elaboração de técnicas especiais (como as concebidas para o planejamento).
Sem dúvida, as posições de política do estruturalismo estão relacionadas com o intenso processo de desenvolvimento industrial que vinha se produzindo em diversos países da área desde a grande depressão, e especialmente durante a Segunda Guerra Mundial e o imediato pós-guerra. No entanto, há que se possa fazer presente que essas posições estabelecem uma clara distinção entre industrialização espontânea e deliberada. 
A primeira dá lugar ao surgimento de graves desequilíbrios e contradições (desajustes Inter setoriais da produção e tendências à deterioração, ao déficit externo e ao subemprego).
 Para evitá-los e assegurar o dinamismo das economias, recomenda-se conduzir a industrialização deliberadamente.
Com o objetivo de orientar a industrialização deliberada, propõe-se um conjunto de critérios de alocação de recursos que apontam como o investimento deve ser distribuído entre o setor exportador, a manufatura e as demais atividades internas, e que opções técnicas devem ser utilizadas para se obter um nível máximo de produto social.
 Tais critérios têm em conta os padrões de eficiência das diversas atividades produtivas, como a sua economicidade em relação às atividades correspondentes dos centros. Assim, pode-se afirmar que não é propugnada qualquer expansão excessiva e indiscriminada da indústria motivada por um desejo de autossuficiência.
Em relação à agricultura, recomendam-se medidas especiais no que diz respeito aos obstáculos criados por um regime de propriedade e posse do solo baseado na coexistência de latifúndio e minifúndio.
 Como insinua a seção anterior, tais medidas perseguem dois objetivos fundamentais: 
Elevar a produtividade dos recursos comprometidos nesse setor, de modo que a dinâmica da oferta agrícola possa se adequar às necessidades do desenvolvimento para dentro; superar em um período definido a heterogeneidade estrutural característica do campo mediante a absorção dos incrementos da sua população ativa em setores modernos, e a paulatina transferência para tais setores da mão-de-obra ocupada em condições de baixa produtividade (isto é, do subemprego rural).
 Por outro lado, entende-se que essa transformação da estrutura ocupacional do campo se configura como essencial para se alcançar um objetivo maior da política de desenvolvimento: a transformação global dessa estrutura, compreendida aí a redução paulatina de todo o subemprego.
No campo das relações econômicas internacionais, as diversas recomendações de política conformam uma posição harmoniosa e consistente em matéria de cooperação internacional, adaptada às características, às necessidades e aos interesses dos países de menor desenvolvimento. 
A cooperação internacional abrange a proteção do mercado interno, a integração regional, o financiamento externo, a política anticíclica e de atenuação das flutuações dos preços internacionais e a assistência técnica.
A análise da proteção explica por que ela é necessária para o desenvolvimento
e a industrialização da periferia e por que favorece a expansão do produto e do comércio mundiais, ao contrário do que acontece quando é aplicada nos centros; essa análise estabelece, do mesmo modo, a amplitude e o nível máximo que a proteção tarifária deve alcançar.
Quanto ao resto, e também em conexão com os critérios de alocação eficiente de recursos, postula-se a conveniência de imprimir à proteção um caráter decrescente. Examinam-se a necessidade e as vantagens da integração latino-americana, entre elas a possibilidade de se exportar manufaturas para o resto do mundo, a qual se associa à maior especialização e eficiência industrial derivadas da integração.
O financiamento externo cumpre com dois objetivos fundamentais:
Atenuar a escassez de divisas e
 Complementar o esforço interno de poupança.
Pensa-se que ele deve ser transitivo, o que reflete o caráter necessariamente nacional que o desenvolvimento periférico tem de ter, por motivos econômicos.
 O crescimento para dentro — em razão do seu caráter autocentrado, em fechamento gradual — exige que a cota, parte ideal dos ativos de propriedade estrangeira, não siga aumentando; do contrário, a remuneração do capital de fora pesaria de forma crescente sobre a capacidade para importar.
Recomenda-se a cooperação financeira internacional para o estabelecimento de reservas de produtos primários, com a dupla finalidade de regular as flutuações de seus preços e de impedir que caiam abaixo de determinados pisos. Finalmente, a assistência técnica é considerada um meio para atenuar as carências de capacitação de diferentes tipos, peculiares da “condição periférica”.
As medidas de política a que se acaba de fazer referência têm um objetivo global e de longo prazo: o desenvolvimento das economias periféricas.
Concebe-se que o planejamento é um instrumento necessário para articular e compatibilizar as diversas medidas parciais, assim como para enfrentar os problemas de caráter estrutural, profundo, que são próprios dessas economias. As técnicas de planejamento modificam e estendem os critérios de alocação de recursos com o fim de racionalizar o esforço de investimento com o passar do tempo, adequando-o às grandes metas da política de desenvolvimento (a industrialização como eixo central, conduzida de tal modo que incremente de forma sustentada a produtividade e o emprego, evite o desequilíbrio externo e minimize as perdas devidas à deterioração).
O planejamento é considerado, pois, um método imprescindível, do qual o Estado deve lançar mão para racionalizar a política de desenvolvimento a longo prazo. A necessidade da ação estatal, de contar com uma política de desenvolvimento deliberada e coerente e de implementá-la por meio do planejamento são três ideias-força do pensamento estruturalista estreitamente conectadas entre si. Não obstante, de acordo com esse enfoque, o grau de intervenção estatal poderá variar de país para país, dependendo de suas características concretas e da maior ou menor gravidade dos seus problemas de estrutura.
O planejamento não é considerado, portanto, um substituto da economia de mercado, mas um meio para dar maior eficiência ao seu funcionamento.
Como se verifica nesta breve visão de conjunto, as contribuições de política elaboradas na década de 1950 são, grosso modo, compatíveis entre si e com as contribuições da teoria mencionadas anteriormente. Verifica- se, do mesmo modo, que essas contribuições são compatíveis com as ideias que conformam a concepção do sistema centro-periferia, base geral de tais contribuições.

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