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Informativo STF mensal março 2017 Para mais acesse https://direitonaestaciofapbelem.blogspot.com.br

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Informativo STF Mensal nº 67 
 
Março de 2017 
Compilação dos Informativos nos 856 a 859 
 
 
O Informativo STF Mensal apresenta todos os resumos de julgamentos divulgados pelo Informativo STF concluídos no 
mês a que se refere e é organizado por ramos do Direito e por assuntos. 
 
SUMÁRIO 
Direito Administrativo 
 
Agentes Públicos 
TCU: multa e prescrição da pretensão punitiva 
Contratação Temporária 
Contratação temporária e autorização legislativa genérica 
Servidores Públicos 
Responsabilidade subsidiária da Administração e encargos trabalhistas não adimplidos - 4 
Abono de permanência e posse no TST 
Cumulação de proventos, pensões e cargos públicos inacumuláveis em atividade 
 
Direito Civil 
 
Posse 
Esbulho e terra indígena 
 
Direito Constitucional 
 
Competência Legislativa 
Competência legislativa dos Municípios e Direito Ambiental 
Controle de Constitucionalidade 
Bolsas de estudo e dedução do ICMS 
Guerra fiscal e modulação de efeitos 
Medida provisória: emenda parlamentar e “contrabando legislativo” 
Direitos e Garantias Fundamentais 
Reclamação: direito à informação e sessões secretas do STM 
Extradição 
Extradição e perda de nacionalidade brasileira 
Precatórios 
Precatórios e sociedade de economia mista 
 
Direito Penal 
 
Cumprimento da Pena 
Tráfico de drogas e fixação de regime inicial 
Pena 
Tráfico de drogas e imediações de estabelecimento prisional 
Tipicidade 
Queixa-crime e individualização da conduta 
Impossibilidade de trancamento de ação penal via “habeas corpus” 
 
Direito Processual Civil 
 
Prisão Civil 
Prisão civil por descumprimento de prestação alimentícia e dívida pretérita 
 
 2 
Direito Processual Penal 
 
Ação Penal 
Crime de dispensa ou inexigibilidade indevida de licitação e viabilidade da denúncia - 2 
Recebimento da denúncia: corrupção passiva e lavagem de dinheiro 
Recebimento da denúncia: corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa 
Recebimento da denúncia: fraude à licitação e peculato 
Intimação 
Tramitação em tribunal superior e intimação de defensoria pública estadual 
Nulidades 
Defesa prévia e prerrogativa de foro - 2 
Provas 
Desarquivamento de inquérito e excludente de ilicitude - 4 
Requisito de Admissibilidade Recursal 
Interposição de recurso via “e-mail” 
Tramitação em Tribunais 
Habeas corpus e julgamento monocrático em tribunais 
 
Direito do Trabalho 
 
FGTS 
FGTS e prescrição trintenária - 4 
 
Direito Tributário 
 
Contribuições Sociais 
Incidência do ICMS na base de cálculo da contribuição para o PIS e da COFINS - 2 
Contribuição social e ganhos habituais 
Imunidade Tributária 
Componentes eletrônicos que acompanham livro e imunidade tributária - 5 
Limitação ao Poder de Tributar 
Contribuição social do empregador rural sobre a receita da comercialização da produção 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
Agentes Públicos 
 
TCU: multa e prescrição da pretensão punitiva 
A Primeira Turma, por maioria, denegou a ordem em mandado de segurança impetrado contra 
decisão do TCU, que aplicou multa ao impetrante, em decorrência de processo administrativo 
instaurado para verificar a regularidade da aplicação de recursos federais na implementação e 
operacionalização dos assentamentos de reforma agrária Itamarati I e II, localizados em Ponta 
Porã/MS. 
 
Na impetração, alegava-se a ocorrência de prescrição. O impetrante, que à época da aludida 
implementação era superintendente regional do INCRA, foi exonerado do cargo em 2003, e a 
auditoria para apuração de irregularidades iniciou-se em 2007. Em 2008, o impetrante foi notificado 
para apresentar justificativa, e, em 2012, foi prolatada a decisão apontada como ato coator. 
 
Inicialmente, a Turma assinalou que a lei orgânica do TCU, ao prever a competência do órgão 
para aplicar multa pela prática de infrações submetidas à sua esfera de apuração, deixou de 
estabelecer prazo para exercício do poder punitivo. Entretanto, isso não significa hipótese de 
imprescritibilidade. No caso, incide a prescrição quinquenal, prevista na Lei 9.873/1999, que regula 
a prescrição relativa à ação punitiva pela Administração Pública Federal Direta e Indireta. Embora se 
refira a poder de polícia, a lei aplica-se à competência sancionadora da União em geral. 
 
Estabelecido o prazo quinquenal, o Colegiado entendeu que, no caso, imputava-se ao 
impetrante ação omissiva, na medida em que não implementou o plano de assentamento, conforme 
sua incumbência, quando era superintendente. Assim, enquanto ele permaneceu no cargo, perdurou a 
omissão. No momento em que ele deixou a superintendência, iniciou-se o fluxo do prazo 
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prescricional. Entretanto, a partir daquele marco temporal, não decorreram cinco anos até que a 
Administração iniciasse o procedimento que culminou na punição aplicada. 
 
Vencido o ministro Marco Aurélio, que concedia a segurança. 
MS 32201/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 21.3.2017. (MS-32201) 
(Informativo 858, 1ª Turma) 
 
Contratação Temporária 
 
Contratação temporária e autorização legislativa genérica 
São inconstitucionais, por violarem o artigo 37, IX (1), da CF, a autorização legislativa genérica 
para contratação temporária e a permissão de prorrogação indefinida do prazo de contratações 
temporárias. 
 
Com base nesse entendimento, o Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para 
declarar a inconstitucionalidade do inciso VI do art. 264 (2) e da expressão "prazos estes somente 
prorrogáveis se o interesse público, justificadamente, assim o exigir ou até a nomeação por concurso 
público", constante da parte final do § 1º (3) do mesmo artigo, todos da LC 4/1990 do Estado de Mato 
Grosso. 
 
Em seguida, o Tribunal, por maioria, modulou os efeitos da declaração de inconstitucionalidade 
para autorizar a manutenção dos atuais contratos de trabalho pelo prazo máximo de um ano, a contar da 
data da publicação da ata deste julgamento. Vencidos os ministros Marco Aurélio (relator) e Cármen 
Lúcia (Presidente), que não modulavam os efeitos da decisão. O ministro Marco Aurélio frisava que, toda 
vez que o STF agasalhasse situações inconstitucionais, ele não só estimularia os legislativos a disporem 
de forma contrária à Constituição, como também acabaria tornando-a um documento simplesmente 
flexível. A ministra Cármen Lúcia pontuava que a norma estaria em vigor há mais de 25 anos e não seria 
possível existir situação de urgência que durasse por todo esse período. 
 
(1) CF/1988, art. 37, IX: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, 
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, 
também, ao seguinte: ... IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária 
de excepcional interesse público”. 
 
(2) Lei Complementar 4/1990, art. 264, VI: “Art. 264. Consideram-se como de necessidade temporária de excepcional 
interesse público as contratações que visem a: ... VI – atender a outras situações motivadamente de urgência”. 
 
(3) Lei Complementar 4/1990, art. 264, § 1º: “§ 1º As contratações de que trata este artigo terão dotação específica e não 
poderão ultrapassar o prazo de 06 (seis) meses, exceto nas hipóteses dos incisos II, IV e VI, cujo prazo máximo será de 12(doze) 
meses, e inciso V, cujo prazo máximo será de 24 (vinte e quatro) meses, prazos estes somente prorrogáveis se o interesse público, 
justificadamente, assim o exigir ou até a nomeação por concurso público”. 
ADI 3662/MT, rel. Min. Marco Aurélio, julgamentoem 23.3.2017. (ADI-3662) 
(Informativo 858, Plenário) 
 
Servidores Públicos 
 
Responsabilidade subsidiária da Administração e encargos trabalhistas não adimplidos - 4 
O Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria, conheceu em parte e, na parte conhecida, deu 
provimento a recurso extraordinário em que discutida a responsabilidade subsidiária da Administração Pública 
por encargos trabalhistas gerados pelo inadimplemento de empresa prestadora de serviço. Na origem, o 
Tribunal Superior do Trabalho (TST) manteve a responsabilidade subsidiária de entidade da Administração 
Pública tomadora de serviços terceirizados pelo pagamento de verbas trabalhistas não adimplidas pela empresa 
contratante. Isso ocorreu em razão da existência de culpa “in vigilando” do órgão público, caracterizada pela 
falta de acompanhamento e fiscalização da execução de contrato de prestação de serviços, em conformidade 
com a nova redação dos itens IV e V do Enunciado 331 da Súmula do TST (1). A recorrente alegava, em suma, 
que o acórdão recorrido, ao condenar subsidiariamente o ente público, com base no art. 37, § 6º, da 
Constituição Federal (CF), teria desobedecido ao conteúdo da decisão proferida no julgamento da ADC 16/DF 
(DJE de 9.9.2011) e, consequentemente, ao disposto no art. 102, § 2º, da CF. Afirmava, ainda, que o acórdão 
recorrido teria declarado a inconstitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993, embora a norma tenha sido 
declarada constitucional no julgamento da ADC 16/DF. Sustentava violação dos arts. 5º, II, e 37, “caput”, da 
CF, por ter o TST inserido no item IV do Enunciado 331 da sua Súmula obrigação frontalmente contrária ao 
previsto no art. 71, § 1º, da Lei de Licitações. Defendia, por fim, que a culpa “in vigilando” deveria ser provada 
pela parte interessada, e não ser presumida — v. Informativos 852, 853 e 854. 
 
 4 
Prevaleceu o voto do ministro Luiz Fux, que foi acompanhado pelos ministros Marco Aurélio, Dias 
Toffoli, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia (Presidente) e Alexandre de Moraes. Entendeu que uma interpretação 
conforme do art. 71 da Lei 8.666/1993, com o reconhecimento da responsabilidade subsidiária da 
Administração Pública, infirma a decisão tomada no julgamento da ADC 16/DF (DJE de 9.9.2011), 
nulificando, por conseguinte, a coisa julgada formada sobre a declaração de constitucionalidade do dispositivo 
legal. Observou que, com o advento da Lei 9.032/1995, o legislador buscou excluir a responsabilidade 
subsidiária da Administração, exatamente para evitar o descumprimento do disposto no art. 71 da Lei 
8.666/1993, declarado constitucional pela Corte. Anotou que a imputação da culpa “in vigilando” ou “in 
elegendo” à Administração Pública, por suposta deficiência na fiscalização da fiel observância das normas 
trabalhistas pela empresa contratada, somente pode acontecer nos casos em que se tenha a efetiva comprovação 
da ausência de fiscalização. Nesse ponto, asseverou que a alegada ausência de comprovação em juízo da 
efetiva fiscalização do contrato não substitui a necessidade de prova taxativa do nexo de causalidade entre a 
conduta da Administração e o dano sofrido. Ao final, pontuou que a Lei 9.032/1995 (art. 4º), que alterou o 
disposto no § 2º do art. 71 da Lei 8.666/1993, restringiu a solidariedade entre contratante e contratado apenas 
quanto aos encargos previdenciários resultantes da execução do contrato, nos termos do art. 31 da Lei 
8.212/1991. 
 
O ministro Alexandre de Moraes considerou inexistente a possibilidade de a Administração Pública vir a 
responder por verbas trabalhistas de terceiros a partir de mera presunção, hipótese admitida apenas quando 
houver prova inequívoca de falha na fiscalização do contrato. Ponderou que o § 6º do art. 37 da CF prevê a 
responsabilidade civil objetiva do Estado como exceção. Em seu entendimento, elastecer a responsabilidade do 
poder público em contratos de terceirização parece ser um convite para que se faça o mesmo em outras 
dinâmicas de colaboração com a iniciativa privada, como as concessões de serviços públicos. Asseverou que a 
consolidação da responsabilidade do Estado por débitos trabalhistas de terceiros, alavancada pela premissa de 
inversão do ônus da prova em favor do trabalhador, acabaria por apresentar risco de desestimulo à colaboração 
da iniciativa privada com a Administração Pública, estratégia essencial para a modernização do Estado. 
 
Vencida a ministra Rosa Weber (relatora), acompanhada pelos ministros Edson Fachin, Roberto Barroso, 
Ricardo Lewandowski e Celso de Mello, que negavam provimento ao recurso. Concluíam: a) pela 
impossibilidade de transferência automática para a Administração Pública da responsabilidade subsidiária pelo 
descumprimento das obrigações trabalhistas pela empresa terceirizada; b) pela viabilidade de responsabilização 
do ente público em caso de culpa comprovada em fiscalizar o cumprimento dessas obrigações; e c) competir à 
Administração Pública comprovar que fiscalizou adequadamente o cumprimento das obrigações trabalhistas 
pelo contratado. 
 
Em seguida, o Tribunal deliberou fixar a tese da repercussão geral em assentada posterior. 
 
1. Enunciado 331 da Súmula do TST: “IV – O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, 
implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação 
processual e conste também do título executivo judicial; e V – Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta 
respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das 
obrigações da Lei 8.666, de 21.6.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais da 
prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações 
trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada.” 
RE 760931/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgamento em 
30.3.2017. (RE-760931) 
(Informativo 859, Plenário) 
 
Abono de permanência e posse no TST 
A Primeira Turma, em julgamento conjunto, concedeu a ordem em mandados de segurança impetrados 
contra decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), na qual foram definidas as balizas para o pagamento de 
abono de permanência no âmbito do Judiciário federal. 
 
No ato impugnado, determinou-se que os tribunais federais observassem o requisito do tempo mínimo de 
cinco anos no cargo, de carreira ou isolado, para o implemento do benefício, nos termos do art. 40, § 19, da 
Constituição Federal (CF). 
 
No caso, a impetrante tomou posse como ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST) após o 
exercício da função de juíza de Tribunal Regional do Trabalho (TRT) até 2014, onde recebia, além do subsídio 
correspondente, o valor de 11% relativo ao abono de permanência. Sustentava que deveria continuar a 
percebê-lo, na condição de ocupante de cargo no Judiciário. 
 
A Turma asseverou que a decisão do TCU teve efeito concreto, não foi um pronunciamento genérico, 
tampouco uma simples recomendação. 
 
 5 
O Colegiado entendeu que o TCU conferiu interpretação restritiva ao § 19 do art. 40 da CF, confundindo 
o direito à aposentadoria no novo cargo com o direito ao abono. 
 
Por fim, ponderou que, se a impetrante viesse a se desligar do cargo de ministra, ainda assim 
permaneceria com o direito a aposentar-se como juíza. 
MS 33424/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 28.3.2017. (MS-33424) 
MS 33456/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 28.3.2017. (MS-33456) 
(Informativo 859, 1ª Turma) 
 
Cumulação de proventos, pensões e cargos públicos inacumuláveis em atividade 
A Primeira Turmaconcedeu mandado de segurança impetrado contra ato do Tribunal de Contas da 
União (TCU), que determinou à impetrada optar por uma das duas pensões que recebe em decorrência de 
aposentadorias de seu falecido esposo — servidor público civil aposentado pelo SNI e militar reformado do 
Exército —, ao fundamento de que a cumulação seria ilegal. 
 
Inicialmente, afastou a preliminar de decadência. O acordão impugnado foi publicado em 3.3.2004, ao 
passo que o “mandamus” somente foi protocolado em 13.10.2004, mais de 120 dias após a ciência do ato 
impugnado, o que resultaria na perda do direito de ajuizar a ação mandamental. 
 
O Colegiado, entretanto, asseverou que o fato de a impetrante haver sido favorecida por decisão liminar 
deferida em 10.11.2004 — portanto, há mais de doze anos — justifica avançar na análise da impetração. 
 
Ressaltou a necessidade de encontrar solução alternativa que leve em consideração a eficiência 
processual e a primazia da decisão de mérito, normas fundamentais já incorporadas na estrutura do novo CPC 
(1 e 2). 
 
Ademais, citou precedentes da Corte no sentido da superação de óbices processuais, quando necessária 
para adentrar no exame das questões de mérito. Apontou, ainda, precedente no sentido da obrigatoriedade da 
observância do princípio da segurança jurídica, diante da concessão de medidas liminares em processos cujos 
méritos são definitivamente julgados depois de passados muitos anos. 
 
No mérito, a Turma anotou que o art. 11 (3) da Emenda Constitucional 20/1998 vedou expressamente a 
concessão de mais de uma aposentadoria pelo regime de previdência dos servidores civis previsto no art. 40 da 
Constituição Federal (CF). Registrou, no entanto, não haver qualquer referência à concessão de proventos 
militares, os quais são tratados nos arts. 42 e 142 do texto constitucional. 
 
Ressaltou que, por cumular a percepção de pensão civil com pensão militar, a impetrante está enquadrada 
em situação não alcançada pela proibição da referida emenda. Por fim, o Colegiado apontou precedentes nesse 
sentido (4). 
 
1 . CPC/2015: “Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade 
satisfativa.” 
2 . CPC/2015: “Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, 
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a 
publicidade e a eficiência.” 
3 . EC 20/1998: “Art. 11 A vedação prevista no art. 37, § 10, da Constituição Federal, não se aplica aos membros de poder e 
aos inativos, servidores e militares, que, até a publicação desta Emenda, tenham ingressado novamente no serviço público por 
concurso público de provas ou de provas e títulos, e pelas demais formas previstas na Constituição Federal, sendo-lhes proibida a 
percepção de mais de uma aposentadoria pelo regime de previdência a que se refere o art. 40 da Constituição Federal, aplicando-se-lhes, em 
qualquer hipótese, o limite de que trata o § 11 deste mesmo artigo.” 
4 . AI 375011/RS (DJU de 28.10.2004); RE 298694/SP (DJU de 23.4.2004); MS 22357/DF (DJU de 5.11.2004); MS 
25192/DF (DJU de 6.5.2005); MS 24958/DF (DJU de 1º.4.2005); AI 801096 AgR-EDv/DF (DJE de 30.6.2015). 
MS 25097/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 28.3.2017. (MS-25097) 
(Informativo 859, 2ª Turma) 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
Posse 
 
Esbulho e terra indígena 
A Segunda Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, não acolheu embargos de declaração em 
que se discutiam eventual esbulho e a natureza indígena de área não ocupada por índios em 5.10.1988 (marco 
demarcatório temporal, segundo entendimento firmado no julgamento da Pet 3.388/RR, DJE de 1º.7.2010). 
 
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As embargantes alegavam que o Enunciado 650 da Súmula do STF (1) não seria aplicável ao caso e que 
a apreciação do recurso extraordinário da parte embargada demandaria o reexame de fatos e provas. 
 
O Colegiado ressaltou não desconhecer o fato de que a orientação constante do Enunciado 650 da 
Súmula do STF foi firmada em hipóteses em que a União postulava o reconhecimento da propriedade de áreas 
ocupadas, no passado, por aldeamentos indígenas extintos. No entanto, o referido enunciado foi citado como 
mero reforço argumentativo ao entendimento defendido no acórdão embargado, não havendo qualquer 
omissão, contradição ou obscuridade a ser sanada no ponto. 
 
Além disso, a Turma manteve o entendimento no sentido de ser possível a formulação, a partir dos fatos 
expressamente indicados no acórdão recorrido, de um juízo seguro a respeito do tema constitucional discutido 
no recurso extraordinário. 
 
Salientou que o julgado embargado, à luz das premissas fáticas assentadas pelo Tribunal de origem, 
apreciou de forma clara e exaustiva o preenchimento do requisito do marco temporal estabelecido na Pet 
3.388/RR, bem como a ocorrência de renitente esbulho por parte de não índios. 
 
Vencidos os ministros Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, que acolhiam os embargos de declaração. 
Para eles, haveria elementos fundantes desse julgado que somente poderiam ser superados com o revolvimento 
de fatos e provas. 
 
(1) Enunciado 650 da Súmula do STF: “Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras de 
aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto.” 
ARE 803462 AgR-ED/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Celso de Mello, 
julgamento em 21.3.2017. (ARE-803462) 
(Informativo 858, 2ª Turma) 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
Competência Legislativa 
 
Competência legislativa dos Municípios e Direito Ambiental 
Os Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam fundamentadamente. 
Com base nesse entendimento, a Segunda Turma negou provimento a agravo regimental. 
 
A Turma afirmou que os Municípios podem adotar legislação ambiental mais restritiva em relação 
aos Estados-Membros e à União. No entanto, é necessário que a norma tenha a devida motivação. 
ARE 748206 AgR/SC, rel Min. Celso de Mello, julgamento em 14.3.2017. (ARE-748206) 
(Informativo 857, 2ª Turma) 
 
Controle de Constitucionalidade 
 
Bolsas de estudo e dedução do ICMS 
O Tribunal, por maioria, julgou parcialmente procedente ação direta para declarar a 
inconstitucionalidade do art. 3º da Lei 11.743/2002 do Estado do Rio Grande do Sul, conferindo à decisão 
efeitos “ex nunc”, a partir da publicação da ata deste julgamento. A lei impugnada assegura às empresas 
patrocinadoras de bolsas de estudo para professores que ingressam em curso superior a possibilidade 
de exigir dos beneficiários serviços para implementação de projetos de alfabetização ou aperfeiçoamento 
de empregados dessas empresas, bem como outras atividades compatíveis com a sua formação 
profissional. O art. 3º da lei impugnada autoriza o Poder Executivo a conceder à empresa patrocinadora 
incentivo equivalente a 50% do valor da bolsa, a ser deduzido do ICMS. 
 
De um lado, a Corte entendeu que o princípio federativo reclama o abandono de qualquer leitura 
inflacionada centralizadora das competências normativas da União, bem como sugere novas searas 
normativas que possam ser trilhadas pelos Estados-Membros, Municípios e Distrito Federal. A 
“prospective overruling”, antídoto ao engessamento do pensamento jurídico, possibilita ao STF rever sua 
postura em casos de litígios constitucionais em matéria de competência legislativa, viabilizando o 
prestígio das iniciativas regionais e locais, ressalvadas as hipóteses de ofensa expressa e inequívoca a 
norma da Constituição. Dessa forma, a competência legislativa de Estado-Membro para dispor sobre 
educação e ensino, prevista no art. 24, IX, da CF, autorizaa fixação, por lei local, da possibilidade de 
concessão de bolsas de estudo a professores em aprimoramento do sistema regional de ensino. 
 
Por outro lado, considerou que o pacto federativo reclama, para preservação do equilíbrio horizontal 
na tributação, a prévia deliberação dos Estados-Membros para concessão de benefícios fiscais 
 7 
relativamente ao ICMS, na forma prevista no art. 155, § 2º, XII, “g”, da CF e como disciplinado pela LC 
24/1975, recepcionada pela atual ordem constitucional. Por esse motivo, o art. 3º da Lei 11.743/2002 
padece de inconstitucionalidade. Ao conceder benefício fiscal de ICMS sem a antecedente deliberação 
dos Estados-Membros e do Distrito Federal, caracteriza-se hipótese típica de exoneração conducente à 
guerra fiscal, em desarmonia com a Constituição. 
 
Vencido, em parte, o ministro Marco Aurélio, que julgava improcedente o pedido. Para o 
magistrado, não se trataria, no caso concreto, de guerra fiscal, por não ter havido implemento de um 
benefício fiscal propriamente dito, mas simples contrapartida para as empresas que resolvessem adentrar 
esse campo e financiar o aprimoramento da classe dos professores. 
ADI 2663/RS, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 8.3.2017. (ADI-2663) 
(Informativo 856, Plenário) 1ª Parte: 2ª Parte: 
 
Guerra fiscal e modulação de efeitos 
O Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar, com 
efeitos “ex nunc”, a inconstitucionalidade da Lei 15.054/2006 do Estado do Paraná. A norma restabelece 
benefícios fiscais relativos ao ICMS, cancelados no âmbito dos programas “Bom Emprego”, “Paraná 
Mais Emprego” e “Desenvolvimento Econômico, Tecnológico e Social do Paraná” (PRODEPAR). 
 
O Colegiado afastou as preliminares de inconstitucionalidade formal por vício de iniciativa, de 
ofensa ao princípio da isonomia e de descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. Adotou, 
contudo, o fundamento da guerra fiscal, em virtude da “causa petendi” aberta. No caso, ao ampliar 
benefício fiscal no âmbito do ICMS de maneira unilateral, a lei impugnada incidiu em 
inconstitucionalidade. 
 
No que se refere à modulação de efeitos da decisão, a Corte registrou que a sua jurisprudência não a 
tem admitido em casos de leis estaduais que instituem benefícios sem o prévio convênio exigido pelo art. 
155, § 2º, XII, da CF, o que consistiria em incentivo à guerra fiscal. 
 
Ressaltou, entretanto, que, nas hipóteses de a lei haver vigorado por muitos anos, a não modulação 
apenaria as empresas que a tivessem cumprido. Por essa razão, o entendimento do Tribunal evoluiu no 
sentido de permitir a modulação a fim de que a declaração de inconstitucionalidade produza efeitos “ex 
nunc”. 
 
Vencido o ministro Marco Aurélio, que julgava a ação improcedente. 
ADI 3796/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 8.3.2017. (ADI-3796) 
(Informativo 856, Plenário) 
 
Medida provisória: emenda parlamentar e “contrabando legislativo” 
O Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta ajuizada em 
face dos arts. 113 a 126 da Lei 12.249/2010, incluídos por emenda parlamentar em projeto de 
conversão de medida provisória em lei. 
 
Os dispositivos impugnados: a) alteram os limites das unidades de conservação federais 
Floresta Nacional do Bom Futuro, Parque Nacional Mapinguari e Estação Ecológica de Cuniã; b) 
autorizam a União a doar ao Estado de Rondônia imóveis rurais de sua propriedade inser idos na área 
desafetada da Floresta Nacional do Bom Futuro, sob condição de que em parte dela sejam criadas 
uma área de proteção ambiental e uma floresta estadual; c) determinam sejam doadas ao Instituto 
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), pelos órgãos e pelas entidades federais 
que as detenham, as terras da União contidas nos novos limites do Parque Nacional Mapinguari e da 
Estação Ecológica de Cuniã; e d) declaram de utilidade pública, para fins de desapropriação pelo 
ICMBio, os imóveis rurais privados existentes nas áreas de ampliação do Parque Nacional 
Mapinguari e da Estação Ecológica de Cuniã. 
 
Porém, a medida provisória que originou a lei em questão contemplava, originalmente, matérias 
distintas das tratadas nos citados artigos. 
 
O Colegiado reportou-se ao decidido na ADI 5.127/DF (DJE de 11.5.2016), no sentido de ser 
incompatível com a Constituição CF apresentar emendas sem relação de pertinência temática com a 
medida provisória submetida à apreciação. 
 
Asseverou que a prática de inserção, mediante emenda parlamentar, no processo legislativo de 
conversão de medida provisória em lei, de matérias de conteúdo temático estranho ao objeto originário da 
medida provisória viola a Constituição, notadamente o princípio democrático e o devido processo 
legislativo (CF, arts. 1º, “caput” e parágrafo único, 2º, “caput”, e 5º, “caput” e LIV). 
 
 8 
Entretanto, nos termos do citado precedente, deliberou pela manutenção dos atos normativos 
atacados, por conta do princípio da segurança jurídica. Naquele caso, o Plenário manteve hígidas todas as 
leis de conversão fruto dessa prática promulgadas até a data do julgamento, ocorrido em 15.10.2015. 
 
A ministra Rosa Weber (relatora), com ressalva de seu entendimento pessoal, endossou a orientação 
quanto aos efeitos prospectivos daquela decisão. 
 
Vencido o ministro Marco Aurélio, que julgava a ação procedente. 
ADI 5012/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 16.3.2017. (ADI-5012) 
(Informativo 857, Plenário) 
 
Direitos e Garantias Fundamentais 
 
Reclamação: direito à informação e sessões secretas do STM 
O Tribunal julgou procedente reclamação ajuizada contra ato do Superior Tribunal Militar (STM), 
para determinar à autoridade reclamada dê fiel e integral cumprimento à ordem concedida no julgamento 
do RMS 23.036/RJ (acórdão publicado no DJ de 25.8.2006). 
 
No referido julgado, a concessão da ordem foi para que os impetrantes tivessem acesso a registro 
documentais de sessões do STM ocorridas na década de 1970. Não obstante, feito um novo requerimento, 
o STM o deferira somente ao que se refere às sessões públicas. 
 
Inicialmente, o Colegiado observou que a decisão proferida no julgamento do citado RMS 
23.036/RJ não limitou o acesso dos então impetrantes a documentos e arquivos fonográficos relacionados 
apenas às sessões públicas dos julgamentos do STM. Naquela ocasião, pelo contrário, a Corte assentou 
não haver campo para a discricionariedade da Administração em restringir o amplo acesso que os então 
recorrentes deveriam ter aos documentos gerados a partir dos julgamentos ocorridos no período em 
referência. Conferiu, assim, induvidosa amplitude àquela decisão e concluiu que o ato impugnado estava 
em evidente descompasso com a ordem constitucional vigente, que erigiu o direito à informação ao 
“status” de direito fundamental. 
 
Por esse motivo, é injustificável a resistência do STM de se opor ao cumprimento da decisão pelo 
STF, que taxativamente afastou os obstáculos erigidos para impedir fossem trazidos à lume a 
integralidade dos atos processuais lá praticados, seja na dimensão oral ou escrita, cujo conhecimento 
cidadãos brasileiros requereram, para fins de pesquisa histórica e resguardo da memória nacional. 
 
Asseverou que o direito à informação, a busca pelo conhecimento da verdade sobre sua história, 
sobre os fatos ocorridos em período avassalador do sentimento nacional e do espírito democrático que 
exsurgia, assim como sobre suas razões, integra o patrimônio jurídico de todo e qualquer cidadão e 
constitui dever do Estado assegurar os meios para o seu exercício. 
 
Dessa forma, o Plenário concluiu que a autoridade reclamada deve permitir o acesso do reclamante 
aosdocumentos descritos no requerimento administrativo objeto da impetração em questão, ressalvados 
apenas aqueles indispensáveis ao resguardo de interesse público legítimo e à defesa da intimidade e 
aqueles cujo sigilo se imponha para proteção da sociedade e do Estado, o que há de ser motivado de 
forma explicita e pormenorizada pelo reclamado, a fim de sujeitar esse exame administrativo ao controle 
judicial. 
Rcl 11949/RJ, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 15.3.2017. (Rcl-11949) 
(Informativo 857, Plenário) 
 
Extradição 
 
Extradição e perda de nacionalidade brasileira 
A Primeira Turma, por maioria, julgou procedente pedido formulado em extradição ajuizada pelo 
Governo dos Estados Unidos da América para assentar a possibilidade de entrega da extraditanda, 
brasileira nata naturalizada americana, acusada da suposta prática de homicídio doloso contra seu marido 
naquele país. 
 
Inicialmente, a Turma relembrou que a perda da nacionalidade brasileira da extraditanda, decretada 
pelo Ministério da Justiça, teria sido validada no julgamento do Mandado de Segurança 33864/DF (DJE 
de 9.12.2016). 
 
Asseverou que, na ocasião, a Turma, por maioria, firmou entendimento no sentido de que a 
Constituição Federal (CF), ao tratar da perda da nacionalidade brasileira, estabeleceu duas hipóteses: a) o 
cancelamento judicial da naturalização, em virtude da prática de ato nocivo ao interesse nacional, o que 
 9 
somente alcança brasileiros naturalizados (art. 12, § 4º, I); e b) a aquisição voluntária de outra 
nacionalidade secundária, o que alcança, indistintamente, brasileiros natos e naturalizados. Nesta última 
hipótese — a de aquisição de outra nacionalidade —, não se perde a nacionalidade brasileira em duas 
situações que constituem exceção à regra: a) tratar-se não de aquisição de outra nacionalidade, mas do 
mero reconhecimento de outra nacionalidade originária, considerada a natureza declaratória deste 
reconhecimento (art. 12, § 4º, II, “a”); e b) ter sido a outra nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro 
como condição de permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis (art. 12, § 4º, II, 
“b”). Entretanto, a situação da então impetrante não se enquadra em nenhuma dessas exceções, porque ela 
já detinha, desde muito antes de 1999, quando requereu a naturalização, o denominado “green card”, cuja 
natureza jurídica é a de visto de permanência e que confere, nos Estados Unidos da América, os direitos 
que alega ter pretendido adquirir com a naturalização: a permanência em solo norte-americano e a 
possibilidade de trabalhar naquele país. Em razão disso, desnecessária a obtenção da nacionalidade 
norte-americana para os fins que constitucionalmente revelam exceção à regra da perda da 
nacionalidade brasileira (CF, art. 12, II, § 4º, “a” e “b”). Ao contrário, a extraditanda pretendeu integrar-se 
àquela comunidade nacional, o que justamente constitui a razão central do critério adotado pelo constituinte 
originário para a perda da nacionalidade brasileira, critério este não excepcionado pela Emenda 
Constitucional 3/1994, que introduziu as exceções previstas nas alíneas “a” e “b” do § 4º do inciso II do 
art. 12 da CF. 
 
Em seguida, a Turma considerou preenchidos todos os requisitos previstos na Lei 6.815/1980 e no 
Tratado de Extradição firmado entre o Brasil e os Estados Unidos. Também não vislumbrou nenhum dos 
óbices fixados no art. 77 da Lei 6.815/1980 ao deferimento do pedido: a) a extraditanda não é nacional 
brasileira; b) sua extradição foi requerida por Estado que mantém Tratado de Extradição com o Brasil; c) 
a pena máxima prevista para os crimes comuns — pelo qual responde — é superior a um ano de privação 
de liberdade (art. III do Tratado de Extradição); d) a prisão foi decretada por juízo regularmente 
instituído; e) o Brasil não é competente para o julgamento do crime; e f) o crime não tem conotação 
política. 
 
No que concerne à alegação de não ter sido apresentada tradução juramentada em língua portuguesa 
dos documentos que instruem o pedido, o Colegiado entendeu que a expressão “tradução oficial”, 
utilizada pelo art. 80 do Estatuto do Estrangeiro, refere-se à tradução cuja autenticidade é certificada pelas 
autoridades do Estado requerente e cujo encaminhamento se dá por órgãos oficiais, o que confere a 
mencionada autenticidade, nos termos do art. IX do Tratado e da jurisprudência desta Corte (Ext 
1100/República do Chile, DJE de 3.10.2008; Ext 1171/República da Argentina, DJE de 25.6.2010). 
 
Observou que, no caso, a tradução foi certificada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos 
da América, e os documentos encaminhados a esta Corte pelo Ministério da Justiça e pela via 
diplomática, não havendo falar-se em defeito de tradução. 
 
Por fim, a Turma salientou não ser possível prosperar a cooperação quando houver o risco de 
imposição ao extraditando de penas não admitidas no ordenamento jurídico brasileiro. Assim, pode o 
Estado que coopera em matéria penal exigir o compromisso formal de que tais penas não serão 
eventualmente aplicadas ao extraditando entregue ao Estado requerente. 
 
Dessa forma, deferiu o pedido de extradição e condicionou a entrega ao Estado requerente ao 
compromisso formal de: a) não aplicar penas interditadas pelo direito brasileiro, em especial a de morte 
ou prisão perpétua (CF, art. 5º, XLVII, “a” e “b”); b) observar o tempo máximo de cumprimento de pena 
previsto no ordenamento jurídico brasileiro de trinta anos (CP, art. 75); e c) detrair da pena o tempo que a 
extraditanda permaneceu presa para fins de extradição no Brasil. 
 
Vencido o ministro Marco Aurélio, que indeferia o pedido, ao fundamento de persistir a condição de 
brasileira nata da extraditanda. 
Ext 1462/DF, rel. Min. Roberto Barroso, 28.3.2017. (Ext-1462) 
(Informativo 859, 1ª Turma) 
 
Precatórios 
 
Precatórios e sociedade de economia mista 
É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestadoras de serviço 
público próprio do Estado e de natureza não concorrencial. 
 
Com essa orientação, o Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em arguição de 
descumprimento de preceito fundamental para cassar decisões proferidas pelo Tribunal Regional do 
Trabalho da 22ª Região. As deliberações resultaram em bloqueio, penhora e liberação de valores oriundos 
 10 
da conta única do Estado do Piauí para pagamento de verbas trabalhistas de empregados da Empresa de 
Gestão de Recursos do Estado do Piauí S/A (EMGERPI), estatal que compõe a administração indireta do 
ente federativo estadual. 
 
Inicialmente, o Tribunal, também por maioria, converteu a apreciação do referendo da cautelar em 
julgamento de mérito, em respeito à economia processual e por estar a ação devidamente instruída. 
Considerou, ainda, ser cabível a ADPF, por estarem preenchidos os requisitos do art. 102, § 1º, da CF e 
da Lei 9.882/1999. Vencido, no ponto, o ministro Marco Aurélio, que entendia inadequada a arguição, 
não referendava a liminar nem convertia o referendo da cautelar em julgamento de mérito. 
 
Em seguida, o Plenário asseverou que não se sujeitam ao regime de precatório apenas as entidades 
jurídicas que atuam em mercado sujeito à concorrência, permitem a acumulação ou a distribuição de 
lucros. Essas se submetem ao regime de execução comum das empresas controladas pelo setor privado. 
 
Observou que a EMGERPI, instituída pela LC 83/2007, é sociedade de economia mista voltada à 
capacitação e redistribuição de servidores para órgãos e entidades da Administração Pública estadual. 
Tem como finalidade prioritária gerenciar recursos humanos da Administração Pública estadual, na 
medida em que seu objeto social é capacitar, aperfeiçoar, absorver,redistribuir e ceder pessoal para 
órgãos e entidades da Administração Pública do Piauí. Assim, não está configurada atividade econômica 
exercida em regime de concorrência capaz de excluir a empresa do regime constitucional dos precatórios. 
 
Acrescentou que o Estado do Piauí detém mais de 99% do capital votante da sociedade, que é 
mantida por meio de recursos financeiros previamente detalhados na Lei Orçamentária Anual piauiense 
(Lei 6.576/2014), repassados pelo Estado do Piauí e oriundos da conta única do ente mantenedor. 
 
Tendo isso em conta, o Colegiado concluiu que as decisões impugnadas estão em confronto com o 
regime de precatórios estabelecido no art. 100 da CF, não sendo o caso, ademais, de violação à ordem 
cronológica de pagamento dos precatórios nem de alocação no orçamento da entidade de dotação 
destinada ao pagamento da dívida. Registrou que as decisões impugnadas estão fundamentadas na 
inaplicabilidade do regime de precatórios às execuções das decisões judiciais contrárias à EMGERPI, 
ainda que as disponibilidades financeiras da empresa estivessem na conta única do Tesouro estadual. 
 
Além disso, foram violados os princípios constitucionais da atividade financeira estatal, em especial 
o da legalidade orçamentária (CF, art. 167, VI). Consignou que as ordens de bloqueio, penhora e 
liberação de valores da conta única do Estado de forma indiscriminada, fundadas em direitos subjetivos 
individuais, poderiam significar retardo/descontinuidade de políticas públicas ou desvio da forma 
legalmente prevista para a utilização de recursos públicos. 
 
Por fim, considerou que o bloqueio indiscriminado de provisões, da forma apontada pelo 
requerente, além de desvirtuar a vontade do legislador estadual e violar os aludidos princípios 
constitucionais do sistema financeiro e orçamentário, constitui interferência indevida, em ofensa aos 
princípios da independência e da harmonia entre os Poderes (CF, art. 2º). 
 
Vencido, quanto ao mérito, o ministro Marco Aurélio, que não acolhia o pedido formalizado, por 
entender que, por se tratar de execução contra pessoa jurídica de direito privado, não caberia a utilização 
de um instrumental próprio à Fazenda. 
ADPF 387/PI, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 23.3.2017. (ADPF-387) 
(Informativo 858, Plenário) 
 
DIREITO PENAL 
 
Cumprimento da Pena 
 
Tráfico de drogas e fixação de regime inicial 
A Segunda Turma, por maioria, concedeu a ordem em “habeas corpus” no qual se pretendia a 
alteração do regime prisional imposto ao paciente condenado pela prática do crime de tráfico de drogas 
— disposto no art. 33 da Lei 11.343/2006 (1) — a pena em regime inicial fechado, por força de decisão 
exarada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). 
 
No caso, o STJ deu parcial provimento a recurso especial interposto pelo Ministério Público para 
determinar o regime prisional fechado para o cumprimento inicial da pena. 
 
A Turma asseverou que o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos e não exceda 
a 8 anos, tem o direito de cumprir a pena corporal em regime semiaberto, segundo o art. 33, § 2º, “b”, do 
CP (2), caso as circunstâncias judiciais do art. 59 (3) do mesmo diploma lhe sejam favoráveis. 
 
 11 
Ademais, pontuou não haver fundamentação idônea necessária para a imposição de regime de 
cumprimento de pena mais gravoso – Enunciados 718 (4) e 719 (5) da Súmula do Supremo Tribunal 
Federal. 
 
Por fim, salientou que não cabe ao STJ revolver fatos e provas para, analisando a quantidade e a 
qualidade de droga, impor ao réu regime prisional mais gravoso. 
 
Vencido o ministro Edson Fachin, que indeferia a ordem. Para ele, a fixação de regime mais 
gravoso pelo STJ estaria devidamente justificada, pois, no julgamento da apelação, a pena-base ficou 
acima do mínimo legal, por ter sido considerada como desfavorável a circunstância do art. 42 da Lei 
11.343/2006 (6). 
 
1. Lei 11.343/2006: “Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, 
oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda 
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 
(quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.” 
2. CP/1940: “Art. 33 – A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em 
regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. (...) § 2º – As penas privativas de liberdade 
deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as 
hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: (...) b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e 
não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto;” 
3. CP/1940: “Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos 
motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja 
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I – as penas aplicáveis dentre as cominadas; II – a quantidade de pena 
aplicável, dentro dos limites previstos; III – o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV – a substituição da 
pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.” 
4. Enunciado 718 da Súmula do STF: “A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação 
idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.” 
5. Enunciado 719 da Súmula do STF: “A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir 
exige motivação idônea.” 
6. Lei 11.343/2006: “Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do 
Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente.” 
HC 140441/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 28.3.2017. (HC-140441) 
(Informativo 859, 2ª Turma) 
 
Pena 
 
Tráfico de drogas e imediações de estabelecimento prisional 
A Segunda Turma denegou a ordem de “habeas corpus” em que se pretendia afastar a aplicação da causa 
de aumento prevista no art. 40, III, da Lei 11.343/2006 (1) em condenação por tráfico de drogas realizado nas 
imediações de estabelecimento prisional. 
 
No caso, o STJ deu provimento a recurso especial, interposto pelo Ministério Público, para determinar a 
incidência da mencionada causa de aumento. 
 
A defesa insurgia-se contra a não aplicação o Enunciado 7 da Súmula do STJ (2). Além disso, alegava 
não ter sido demonstrado que o paciente comercializava qualquer tipo de entorpecente com frequentadores do 
estabelecimento prisional. 
 
A Turma asseverou que a jurisprudência do STF está sedimentada na impossibilidade do uso de “habeas 
corpus” para reexame dos pressupostos de admissibilidade de recurso interposto no STJ. A suposta contradição 
seria adequadamente solucionada em embargos de declaração dirigidos ao STJ, e não em “habeas corpus” 
diretamente ao STF. 
 
Ademais, salientou que a aplicação da referida causa de aumento se justifica quando constatada a 
comercialização de drogas nas imediações de estabelecimentos prisionais, sendo irrelevante se o agente infrator 
visa ou não aos frequentadores daquele local. 
 
(1) Lei 11.343/2006: “Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter 
em depósito, transportar,trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem 
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. (...) Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a 
dois terços, se: III – a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, 
de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se 
 12 
realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de 
unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;” 
(2) Enunciado 7 da Súmula do STJ: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.” 
HC 138944/SC, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 21.3.2017. (HC-138944) 
(Informativo 858, 2ª Turma) 
 
Tipicidade 
 
Queixa-crime e individualização da conduta 
A Primeira Turma determinou o desmembramento de queixa-crime em relação ao querelado não detentor 
de foro por prerrogativa de função. Quanto aos demais querelados, rejeitou, por maioria, a inicial acusatória. 
 
No caso, a queixa-crime foi oferecida por deputado federal, em face de radialista e sócios-proprietários 
de empresa de radiodifusão sonora, pela prática dos crimes de calúnia, difamação e injúria (CP, arts. 138, 139 e 
140, § 3º). 
 
O Colegiado registrou que o querelante não individualizou, minimamente, as condutas dos querelados 
detentores de prerrogativa de foro e lhes imputou fatos criminosos em razão da mera condição de 
sócios-proprietários do veículo de comunicação social por meio do qual o radialista teria proferido 
as supostas ofensas à honra do peticionário. 
 
Nesse contexto, pontuou que a mera posição hierárquica dos acusados na titularidade da empresa de 
comunicação, sem a descrição da ação e sem elementos que evidenciem a vontade e consciência de praticar o 
crime imputado, inviabiliza o prosseguimento da ação penal, por manifesta ausência de justa causa. 
 
Ademais, ressaltou que os princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da 
ampla defesa (CF, art. 5º, LIV e LV) impõem que a inicial acusatória tenha como fundamentos elementos 
probatórios mínimos que demonstrem a materialidade do fato delituoso e os indícios suficientes de autoria. 
 
Vencido, no mérito, o ministro Marco Aurélio. Para ele, a peça primeira da ação penal privada atenderia 
aos arts. 41 e 395, II e III, do CPP. Ponderava que, considerado o pano de fundo — uma disputa política no 
Estado do Pará —, os detentores da prerrogativa de serem julgados pelo STF seriam os autores intelectuais, e o 
radialista teria atuado a partir de orientação dos dois. 
Pet 5660/PA, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 14.3.2017. (Pet-5660) 
(Informativo 857, 1ª Turma) 
 
Impossibilidade de trancamento de ação penal via “habeas corpus” 
A Primeira Turma, por maioria, indeferiu “habeas corpus” impetrado em favor de denunciado pela 
prática do crime de estupro de vulnerável (Código Penal, art. 217-A). 
 
No caso, o paciente, aos dezoito anos de idade, manteve relação sexual com a vítima, de treze anos de 
idade. Na impetração, sustentava-se ausência de justa causa pela atipicidade da conduta, pois a conjunção 
carnal teria sido consentida pela vítima, em razão de relacionamento afetivo com o paciente. 
 
O Colegiado reafirmou entendimento segundo o qual, sendo a vítima menor de quatorze anos, o estupro é 
presumido, embora se trate de dois jovens, com idades próximas, em relacionamento afetivo. A ministra Rosa 
Weber destacou, ainda, o fato de o paciente estar solto. 
 
Vencido o ministro Marco Aurélio (relator), que concedia a ordem para trancar a ação penal. Afirmava 
não existir crime presumido e considerava que a condição de vítima não se verificaria quando, nos dias atuais, 
menor de quatorze anos aquiesce em manter relação sexual. 
HC 122945/BA, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento 
em 21.3.2017. (HC-122945) 
(Informativo 858, 1ª Turma) 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
Prisão Civil 
 
Prisão civil por descumprimento de prestação alimentícia e dívida pretérita 
A Primeira Turma concedeu “habeas corpus” para afastar a custódia do paciente, preso em virtude 
de não ter efetuado o pagamento de prestação alimentícia. 
 
O Colegiado ressaltou que a prisão foi determinada em virtude de débito referente ao período 
compreendido entre 2006 e 2010. 
 13 
 
Concluiu que a prisão por dívida é pertinente apenas no caso de descumprimento inescusável de 
prestação alimentícia, não sendo cabível quando se referir à execução de débito passado. 
HC 121426/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 14.3.2017. (MS-121426) 
(Informativo 857, 1ª Turma) 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
Ação Penal 
 
Crime de dispensa ou inexigibilidade indevida de licitação e viabilidade da denúncia - 2 
A Primeira Turma, em conclusão e por maioria, rejeitou denúncia oferecida em face de deputado 
federal pela suposta prática dos crimes previstos no art. 89 da Lei 8.666/1993 (“Art. 89. Dispensar ou 
inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à 
dispensa ou à inexigibilidade”) e no art. 1º, XIII, do Decreto-Lei 201/1967 (“XIII - Nomear, admitir ou 
designar servidor, contra expressa disposição de lei”), por condutas supostamente praticadas enquanto 
ocupava o cargo de prefeito municipal. 
 
Para a acusação, teria havido irregularidades na contratação de Organização da Sociedade Civil de 
Interesse Público (OSCIP) por ente municipal, com a verdadeira finalidade de admissão direta de 
servidores sem a observância da regra constitucional do concurso público. A defesa alega, em suma, a 
atipicidade da conduta imputada ao acusado — v. Informativo 855. 
 
O Colegiado reconheceu, de início, a ocorrência da prescrição quanto ao crime definido no art. 1º, 
XIII, do Decreto-Lei 201/1967, referente à suposta contratação de pessoal sem observância da regra do 
concurso público. 
 
No tocante ao crime previsto no art. 89 da Lei 8.666/1993, consignou que a dispensa ou 
inexigibilidade é incriminada, de acordo com o tipo penal, quando o fato não se enquadra nas hipóteses 
legais de dispensa ou de inexigibilidade (Lei 8.666/1993, arts. 24 e 25), ou as formalidades pertinentes à 
dispensa ou à inexigibilidade não são observadas (Lei 8.666/1993, art. 26). 
 
Ressaltou, ademais, que o tipo penal do art. 89 da Lei de Licitações prevê crime formal, que 
dispensa o resultado danoso para o erário. Nesses termos, a não exigência de prejuízo patrimonial, para a 
consumação do delito, não afasta a necessidade de que, para adequação da conduta à norma penal, sua 
prática revele desvalor maior para o ordenamento jurídico do que a observância parcial ou imperfeita de 
normas procedimentais. Assim, se, por um lado, o ilícito administrativo se aperfeiçoa com o simples atuar 
do administrador público, que não esteja estritamente em consonância com o princípio da legalidade; por 
outro, a prática de um delito penal exige uma conduta planejada e voltada finalisticamente a executar a 
conduta criminosa, com o fim de obter um proveito criminoso de qualquer natureza. 
 
Diante das peculiaridades que envolvem a distinção entre, de um lado, o ilícito cível e 
administrativo e, de outro lado, com maior desvalor jurídico, o ilícito penal, há a necessidade de 
sistematizar critérios para análise da ocorrência ou nãodo tipo versado no art. 89 da Lei 8.666/1993. 
Busca-se, com isso, reduzir o elevado grau de abstração da conduta prevista no tipo penal e, por 
consequência, atender aos princípios da “ultima ratio”, da fragmentariedade e da lesividade. 
 
Entendeu que podem ser estabelecidos três critérios para a verificação judicial da viabilidade da denúncia 
que trate da prática do crime disposto no art. 89 da Lei 8.666/1993. Esses critérios permitem que se diferencie, 
com segurança, a conduta criminosa definida no art. 89 da Lei 8.666/1993 das irregularidades ou ilícitos 
administrativos e de improbidade, intencionais ou negligentes. 
 
O primeiro critério consiste na existência de parecer jurídico lavrado idoneamente pelo órgão 
competente. Nesses termos, o parecer do corpo jurídico, quando lavrado de maneira idônea, sem indício de que 
constitua etapa da suposta empreitada criminosa, confere embasamento jurídico ao ato, até mesmo quanto à 
observância das formalidades do procedimento. O parecer jurídico favorável à inexigibilidade impede a 
tipificação criminosa da conduta, precisamente por afastar, desde que inexistentes outros indícios em contrário, 
a clara ciência da ilicitude da inexigibilidade, e determina o erro do agente quanto ao elemento do tipo, qual 
seja, a circunstância “fora das hipóteses legais” (CP, art. 20). 
 
No tocante a esse aspecto, sustentou que, no caso, a procuradoria-geral do Município foi consultada, 
quanto à necessidade de realização de licitação, anteriormente à assinatura do termo de parceria entre o 
município e a OSCIP. A existência de parecer do órgão jurídico especializado, no sentido da licitude da 
dispensa ou da inexigibilidade da licitação, constitui óbice ao enquadramento típico da conduta do 
administrador público que, com base nele, assinou o termo contratual no exercício de sua função, salvo 
 14 
indicação de dolo de beneficiar a si mesmo ou ao contratado e/ou narrativa mínima da existência de união de 
desígnios entre os acusados, para realização comum da prática delitiva. 
 
O segundo critério a ser observado corresponde à indicação, na denúncia, da especial finalidade de lesar o 
erário ou promover enriquecimento ilícito dos acusados. Para tanto, o crime definido no art. 89 da Lei 
8.666/1993, de natureza formal, independe da prova do resultado danoso. Porém, para que a conduta do 
administrador seja criminosa, é exigível que a denúncia narre a finalidade do agente de lesar o erário, de obter 
vantagem indevida ou de beneficiar patrimonialmente o particular contratado, ferindo com isso a razão 
essencial da licitação (a impessoalidade da contratação). 
 
Sobre esse critério, asseverou que a denúncia não mencionou a existência de indício de que o acusado 
teria agido com o fim de obter algum proveito ilícito ou de beneficiar a OSCIP contratada, em detrimento do 
erário. Ponderou, ainda, que o tipo previsto no art. 89 da Lei 8.666/1993 tem como destinatário o administrador 
e adjudicatários desonestos, e não os supostamente inábeis. A intenção de ignorar os pressupostos para a 
contratação direta ou a simulação da presença desses são elementos do tipo, que não se perfaz a título de 
negligência, imprudência ou imperícia — caracterizadores de atuar culposo. 
 
Como último critério, destacou a necessária descrição do vínculo subjetivo entre os agentes. Assim, a 
imputação do crime definido no art. 89 da Lei 8.666/1993 a uma pluralidade de agentes demanda a descrição 
indiciária da existência de vínculo subjetivo entre os participantes para a obtenção do resultado criminoso, não 
bastando a mera narrativa de ato administrativo formal eivado de irregularidade. Em outros termos, deve-se 
perquirir se a denúncia, ao narrar a prática de crime em concurso de agentes, indica a presença dos elementos 
configuradores da união de desígnios entre as condutas dos acusados, voltadas à prática criminosa comum. 
 
Quanto a esse ponto, afirmou que, na espécie, a investigação não reuniu indícios mínimos da existência 
de vínculo subjetivo entre os acusados, voltado à obtenção de proveito criminoso. 
 
Vencido o ministro Marco Aurélio, que recebia a denúncia. Para ele, o tipo penal previsto no art. 89 da 
Lei 8.666/1993 é estritamente formal, dispensando o dolo específico, bem como a existência de prejuízo para a 
Administração Pública. Ademais, observou que a denúncia apresentada pela acusação, embora sintética, teria 
atendido aos requisitos legais. 
Inq 3674/RJ, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 7.3.2017. (Inq-3674) 
(Informativo 856, 1ª Turma) 
 
Recebimento da denúncia: corrupção passiva e lavagem de dinheiro 
A Segunda Turma, por maioria, recebeu em parte denúncia oferecida contra senador e dois de seus 
assessores pela prática do crime de corrupção passiva, previsto no art. 317, “caput” e § 1º, do CP [“Art. 
317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou 
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em 
consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de 
ofício ou o pratica infringindo dever funcional”], e pelo delito de lavagem de dinheiro, disposto no 
art. 1º, “caput” e § 4º, da Lei 9.613/1998. 
 
No caso, de acordo com a inicial acusatória, o parlamentar, com auxílio de seus assessores, teria 
solicitado e recebido vantagem indevida em vultosa quantia, em razão de sua função pública, para a sua 
campanha ao Senado Federal em 2010. 
 
O montante seria oriundo do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro estabelecido na Diretoria 
de Abastecimento de empresa petroleira estatal, na época ocupada por pessoa que solicitava e recebia 
quantias ilícitas de empresas em decorrência da celebração irregular de contratos com a estatal e da 
obtenção de benefícios indevidos no âmbito das contratações. Parte dessas quantias ilícitas era repassada 
a agentes políticos por esse diretor a fim de assegurar sua permanência no cargo e a manutenção do 
esquema criminoso. 
 
Desse modo, o repasse de propina ao senador teve por finalidade a manutenção do diretor no cargo, 
fosse pela não interferência nessa nomeação e no funcionamento do esquema criminoso, fosse pelo apoio 
político, para sua sustentação, por parte do parlamentar, forte candidato à reeleição e nome de relevo de 
partido político, agremiação partidária da base do Governo Federal e uma das responsáveis pela Diretoria 
de Abastecimento da estatal. 
 
A propina foi paga sob o disfarce de doações eleitorais “oficiais” realizadas por empresa 
empreiteira, que fazia parte do esquema criminoso em questão, em favor do diretório estadual do partido 
do parlamentar. 
 
 15 
A Turma afirmou que, nesse momento processual de recebimento da denúncia, compete ao julgador 
tão somente analisar a existência de suporte probatório mínimo a embasar a peça acusatória e atestar a 
presença dos requisitos necessários para o recebimento, ou não, da denúncia (CPP, arts. 41, 395 e 397; 
Lei 8.038/1990, arts. 1º a 12). 
 
Ressaltou que, na espécie, a exordial acusatória atende aos requisitos do art. 41 do CPP. Observou 
que a denúncia narra a prática pelos acusados, em tese, dos crimes de corrupção passiva majorada (CP, 
art. 317, § 1º, c/c art. 327, § 2º) e de lavagem de dinheiro (Lei 9.613/1998, art. 1º, “caput” e § 4º), 
condutas relacionadas ao suposto recebimento pelo senador, com auxílio direto de dois de seus 
assessores, de vantagem indevida paga no âmbito de esquema criminoso arquitetado em torno da 
Diretoria de Abastecimento da estatal. 
 
Assentou constar da denúncia descrição compreensível das condutas imputadasaos acusados, com 
indicação das circunstâncias de tempo, lugar e modo, sem qualquer prejuízo ao exercício de defesa. Aliás, 
o direito à defesa foi exercido de forma ampla pelos denunciados, que se contrapuseram, em suas 
respostas, aos fatos e à capitulação indicada pelo órgão acusatório. 
 
Ao lado disso, não é necessário que a denúncia descreva minuciosamente as ações ilícitas, mesmo 
porque isso equivaleria a exercício de antecipação do que será apurado na fase instrutória, sob o crivo do 
contraditório. O que se exige é uma descrição lógica e coerente que possibilite ao acusado compreender a 
imputação e exercer seu direito de defesa. 
 
Com relação à materialidade e aos indícios de autoria — pressupostos básicos ao recebimento de 
qualquer denúncia —, é possível atestá-los, em especial pelo substrato indiciário. 
 
O Colegiado frisou que os indícios demonstram que o recebimento dos valores espúrios teria 
ocorrido de forma dissimulada, por intermédio de duas doações eleitorais oficiais realizadas pela 
empreiteira ao diretório estadual do partido do senador e, posteriormente, repassadas pela agremiação 
partidária ao parlamentar. 
 
Consignou que os elementos colhidos durante a investigação também indicam a possibilidade do 
cometimento do delito de lavagem de dinheiro, com a ocultação e dissimulação da origem dos valores 
desviados de contratos da estatal, mediante a utilização de mecanismos para dificultar a identificação do 
denunciado como destinatário final das quantias supostamente destinadas à sua campanha. A 
operacionalização desses pagamentos teria sido efetuada por doleiro, que administrava uma verdadeira 
estrutura criminosa especializada em branqueamento de capitais, conforme narrado por colaborador, que, 
em síntese, revela pagamentos realizados por empreiteiras, a título de propina, tanto em espécie como por 
meio de emissão de notas com base em contratos fictícios de prestação de serviços ou, ainda, depósitos no 
exterior. 
 
Reiterou que, nesta fase, não se exige juízo de certeza. Desse modo, o material indiciário mostra-se 
suficiente ao recebimento da denúncia, motivo por que não procedem as teses defensivas suscitadas 
contra a peça acusatória, que descreve a ocorrência de crimes antecedentes (contra a Administração 
Pública), bem como indica com clareza a ação e intenção dos denunciados de ocultar os valores recebidos 
por intermédio de organização criminosa, que se subsumem ao tipo penal descrito no art. 1º, V e § 4°, da 
Lei 9.613/1998, na redação anterior à Lei 12.683/2012, em vista de os fatos terem ocorrido em 2010. 
 
Enfatizou, por outro lado, que deveria ser excluída da denúncia a causa de aumento do art. 327, § 2º, 
do CP (“A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo 
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da 
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder 
público”), por ser incabível pelo mero exercício de mandato popular. Para isso, a situação exigiria uma 
imposição hierárquica que não foi demonstrada nos autos. 
 
Sublinhou que, ao contrário do que sustentado pelas defesas, a denúncia não está amparada apenas 
em depoimentos prestados em colaboração premiada, mas em outros indícios que reforçam as declarações 
prestadas pelos colaboradores e bastam nesse momento de cognição sumária, tais como: dados 
telefônicos, informações policiais e documentos. 
 
Vencidos, em parte, os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que rejeitavam a denúncia em 
relação aos assessores, nos termos do art. 395, III, do CPP (“A denúncia ou queixa será rejeitada quando: 
III – faltar justa causa para o exercício da ação penal.”). Pontuavam não ter a denúncia demonstrado 
minimamente que os assessores sabiam da suposta corrupção passiva. 
 
Além disso, os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes, com fundamento no art. 6º da Lei 
8.038/1990, julgavam improcedente a imputação de lavagem de dinheiro (Lei 9.613/1998, art. 1º, “caput” 
e § 4º) deduzida contra todos os denunciados. Sustentavam que, conforme narrado pelo “parquet”, o 
 16 
crime de lavagem de dinheiro estaria resumido a uma doação eleitoral, a qual constituiria simples 
consumação na modalidade receber ou exaurimento na modalidade solicitar do crime de corrupção 
passiva. Portanto, estaria ausente a autonomia de condutas a justificar o concurso material de crimes e 
evidente o excesso de acusação. 
Inq 3982/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 7.3.2017. (Inq-3982) 
(Informativo 856, 2ª Turma) 
 
Recebimento da denúncia: corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa 
A Segunda Turma recebeu em parte a denúncia contra deputado federal e outros pela suposta prática dos 
crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e integração de organização criminosa. Não a acolheu em 
relação a acusado que já responde, no Inq 4.112/DF, pelos mesmos fatos quanto ao último crime. Além disso, 
rejeitou a denúncia contra duas acusadas por falta de justa causa (CPP, art. 395, III). 
 
No caso, de acordo com a inicial acusatória, o denunciado deputado federal teria solicitado, aceitado 
promessa e recebido, por intermédio e em unidade de desígnios com os outros acusados, vantagem pecuniária 
indevida em vultosa quantia, para se omitir no cumprimento do seu dever parlamentar de fiscalização da 
administração pública federal, o que teria viabilizado o funcionamento de organização criminosa voltada para a 
prática dos crimes de peculato, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro no âmbito de empresa estatal 
de distribuição de petróleo. 
 
Inicialmente, a Turma rejeitou as preliminares suscitadas. Indeferiu o pedido de reabertura de prazo para 
aditamento da defesa; considerou que a manifestação da Procuradoria-Geral da República às respostas 
apresentadas pelos acusados à denúncia, após o transcurso do prazo de cinco dias, não gera nulidade; afastou a 
alegação de vício em interceptações telefônicas realizadas no âmbito de procedimento que tramitou perante o 
juízo da 13ª Vara Federal; observou que o afastamento dos sigilos bancário e fiscal dos acusados, bem como as 
buscas em endereços a eles vinculados não estariam maculados; ponderou que o fato de o Procurador-Geral da 
República não ter denunciado nestes autos crimes de corrupção ativa não acarreta a inépcia da denúncia com 
relação aos delitos de corrupção passiva. 
 
O Colegiado negou provimento a agravo regimental interposto contra decisão que deferiu o 
desmembramento do processo. Consignou que o desmembramento não acarreta inépcia da denúncia ou ofensa 
aos princípios da indivisibilidade, da obrigatoriedade e da indisponibilidade da ação penal. 
 
Frisou que a denúncia relata, de forma pormenorizada, os fatos supostamente delituosos e suas 
circunstâncias e explana, de modo compreensível e individualizado, a conduta criminosa, em tese, adotada 
pelos envolvidos, nos termos do que determina o art. 41 do CPP. Dessa forma, não há qualquer prejuízo ao 
exercício do direito de defesa. Explicou que o que a lei impõe é uma descrição lógica e coerente, a fim de 
permitir aos acusados a compreensão das imputações e o exercício amplo do contraditório, o que se verifica na 
espécie. 
 
Enfatizou que, ao menos para esta fase processual, há elementos nos autos que demonstram, de forma 
individualizada, o possível envolvimento do parlamentar e de outros dois acusados na prática de crimes de 
corrupção passiva (CP, art. 317, § 1º) no âmbito da estatal, com subsequente execução, em tese, de atos de 
lavagem de dinheiro (Lei 9.613/1998, art. 1º, § 4º), para a ocultação e dissimulação da origem e natureza dos 
valores indevidos recebidos por eles. 
 
A acusaçãotambém procede, nesta fase, quanto aos indícios de que o deputado e outro cometeram, em 
tese, o crime de integrar organização criminosa (Lei 12.850/2013, art. 2º, § 3º e 4º, II). Esses denunciados 
associaram-se a diversas outras pessoas para a prática permanente e reiterada de crimes de corrupção passiva, 
no âmbito da estatal, e de lavagem de dinheiro. 
 
A Turma ressaltou que a imputação dos crimes de corrupção passiva a duas acusadas é particularmente 
frágil, porquanto a exordial acusatória não sustenta terem elas ciência dos atos de corrupção em tese praticados, 
nem demonstra, sequer de forma indiciária, qualquer liame subjetivo entre elas e os demais denunciados. Na 
mesma linha, não há como atribuir às denunciadas a prática de lavagem de dinheiro, se a acusação não alega 
terem elas conhecimento da origem ilícita dos valores em espécie supostamente recebidos nem indica a 
destinação por elas dada ao numerário. 
 
Por fim, asseverou que a denúncia não está amparada apenas em depoimentos prestados em colaboração 
premiada. Há inúmeros outros indícios que reforçam as declarações prestadas pelos colaboradores, tais como, 
dados telemáticos e bancários, depoimentos, informações policiais e documentos, o que é bastante neste 
momento de cognição sumária, quando não se exige juízo de certeza acerca de culpa. 
Inq 3990/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 14.3.2017. (Inq-3990) 
(Informativo 857, 2ª Turma) 
 
 17 
Recebimento da denúncia: fraude à licitação e peculato 
A Primeira Turma, por maioria, recebeu denúncia oferecida contra deputado federal pelos crimes de 
dispensa indevida de licitação e modificação ilegal de contrato administrativo, previstos nos arts. 89 (1) e 92 (2) 
da Lei 8.666/1993 (Lei das Licitações). Em seguida, o órgão fracionário, por maioria, acolheu a denúncia 
quanto ao delito de peculato, na modalidade desvio, previsto no art. 312, § 1º (3), do Código Penal (CP). 
 
No caso, segundo a inicial acusatória, o parlamentar, então secretário de Estado, junto com outros 
acusados, teria — ao deflagrar processo administrativo que deu origem à contratação direta de determinada 
construtora — concorrido para a dispensa de licitação relativa à reforma de ginásio municipal, sob a 
justificativa de suposta situação de emergência. 
 
Além disso, o acusado teria participado da celebração de termo aditivo para reforma e ampliação das 
instalações do ginásio, cujo valor em percentual estaria acima do permitido, bem como da elaboração de 
parecer jurídico que teria embasado a referida modificação contratual, o que afrontaria o art. 65, § 1º (4) da Lei 
de Licitações. 
 
A denúncia narra, ainda, que o deputado teria autorizado o pagamento antecipado, sem antes ter 
observado a efetiva realização das obras, concorrendo assim diretamente para o desvio dos recursos públicos 
destinados à reforma do ginásio. 
 
Preliminarmente, a Turma afastou a alegação de “bis in idem”. Afirmou que as condutas de dispensar 
licitação fora das hipóteses legais e de deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa constituem 
crime único. 
 
 No que se refere à dispensa de licitação, assentou, indiciariamente, que não ficou demonstrada 
situação de emergência ou de urgência. 
 
Rejeitou a assertiva de que o tipo do art. 89 da Lei de Licitações seria inconstitucional. Consignou que o 
controle de constitucionalidade de tipos penais sob o parâmetro da ofensa ao princípio da proporcionalidade na 
fixação do “quantum” abstrato da pena deve ser excepcional e comedido e, no caso, não ficou demonstrado. 
 
Quanto ao delito do art. 92 da Lei 8.666/1993, ressaltou que o quadro indiciário aponta que o aditivo 
contratual extrapolou as meras alterações qualitativas no contrato. Dessa forma, ficou descaracterizado o objeto 
do contrato. Ademais, os limites legais de alteração aparentemente foram descumpridos, em afronta ao § 1º do 
art. 65 da Lei 8.666/1993, o qual estabelece escala máxima de 50% para os acréscimos contratuais. 
 
O fato de a dispensa de licitação e de o aditamento do contrato terem sido precedidos de parecer jurídico 
não é bastante para afastar o dolo, caso outros elementos externos indiciem a possibilidade de desvio de 
finalidade, ou de conluio entre o gestor e o responsável pelo parecer. 
 
A Turma destacou a presença dos requisitos do art. 41 do CPP para o recebimento da denúncia, até 
mesmo para o suposto crime de peculato. Sublinhou que há, no inquérito, elementos que indicam a necessidade 
da abertura da ação penal também em relação ao suposto desvio de verbas públicas. 
 
Vencida, em parte, a ministra Rosa Weber (relatora), que não recebia a denúncia quanto ao delito de 
peculato. Pontuava a violação do princípio do contraditório porque a defesa não teve acesso aos dados 
pertinentes à quebra do sigilo bancário da empresa lesada pela subtração dos recursos. 
 
1. Lei 8.666/1993, art. 89: “Art.89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar 
as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade: Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.”. 
2. Lei 8.666/1993, art. 92: “Art. 92. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer modificação ou vantagem, inclusive 
prorrogação contratual, em favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos celebrados com o Poder Público, sem 
autorização em lei, no ato convocatório da licitação ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatura com 
preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade, observado o disposto no art. 121 desta Lei: Pena - detenção, de dois a quatro 
anos, e multa”. 
3. Código Penal, art. 312, § 1º: “Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem 
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de 
dois a doze anos, e multa. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou 
bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a 
qualidade de funcionário”. 
4. Lei 8.666/1993, art. 65, § 1º: “Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as devidas 
justificativas, nos seguintes casos: (...) § 1º O contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os acréscimos 
ou supressões que se fizerem nas obras, serviços ou compras, até 25% (vinte e cinco por cento) do valor inicial atualizado do 
contrato, e, no caso particular de reforma de edifício ou de equipamento, até o limite de 50% (cinqüenta por cento) para os seus 
acréscimos”. 
Inq 3621/MA, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, 28.3.2017. 
(Inq-3621) 
(Informativo 859, 1ª Turma) 
 
 18 
Intimação 
 
Tramitação em tribunal superior e intimação de defensoria pública estadual 
A Primeira Turma, por maioria, não admitiu a impetração de “habeas corpus” em que discutida 
a possibilidade de atuação de Defensoria Pública estadual perante o STJ. 
 
No caso, Defensoria Pública estadual interpôs, em favor do paciente, agravo em face da não 
admissão de recurso especial perante o STJ. Ocorre que a Defensoria Pública da União, e não a 
estadual, foi intimada da decisão proferida no agravo, o que, segundo a defesa, implicou o trânsito 
em julgado do pronunciamento e a subsequente expedição de mandado de prisão contra o paciente. 
 
O Colegiado entendeu ser inadequada a via eleita por se tratar de “habeas corpus” substitutivo 
de agravo regimental, uma vez que foi impetrado contra decisão monocrática de ministro do STJ. 
 
Asseverou que, consoante a jurisprudência desta Corte, a intimação há de ser

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