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Informativo STF mensal junho 2017 Para mais acesse https://direitonaestaciofapbelem.blogspot.com.br

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1 
 
 
Junho/2017 
 
Sessões de 1º a 30 de junho de 2017 
 
70 
número 
 2 
 
 
Junho de 2017 
Compilação dos Informativos nos 868 a 870 
 
 
O Informativo por Temas apresenta todos os resumos de julgamentos divulgados pelo 
Informativo STF concluídos no mês a que se refere e é organizado por ramos do Direito e por 
assuntos. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Direito Administrativo 
 
Contratação Temporária 
Professor substituto e contratação temporária 
Servidor Público 
Jornada de trabalho reduzida e legislação específica 
Promoção funcional retroativa nas nomeações por ato judicial 
 
Direito Constitucional 
 
Competência Legislativa 
Meio ambiente e poluição: competência municipal 
Orçamento 
ADPF e expropriação de recursos administrados pelo poder público estadual 
Princípio da Igualdade 
Cotas raciais: vagas em cargos e empregos públicos e mecanismo de controle de fraude 
Processo Legislativo 
Interpretação do art. 62, § 6º, da CF e limitação do sobrestamento 
 
Direito Penal 
 
Colaboração Premiada 
Homologação de acordo de colaboração premiada e limites de atuação do relator 
 
Direito Processual Civil 
 
Suspensão Processual 
Repercussão geral: suspensão processual e prescrição 
 
Direito Processual Penal 
 
Competência 
Início de investigação e conexão 
Prevenção 
Colaboração premiada: prevenção e conexão 
Prisão Preventiva 
Súmula 691/STF e supressão de instância 
Prisão preventiva e excesso de prazo 
Prisão preventiva e destruição de provas 
Prova 
Crime achado e justa causa 
Sentença Absolutória 
Falsidade ideológica e ausência de dolo 
 3 
 
Direito Tributário 
Taxas 
Base de cálculo de taxa de fiscalização e funcionamento e número de empregados 
 
 
 
 4 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
Contratação Temporária 
 
Professor substituto e contratação temporária 
É compatível com a Constituição Federal a previsão legal que exija o 
transcurso de 24 (vinte e quatro) meses, contados do término do contrato, antes de 
nova admissão de professor temporário anteriormente contratado. 
 
Com base nesse entendimento, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao 
apreciar o Tema 403 da repercussão geral, por unanimidade, deu provimento a 
recurso extraordinário para denegar a ordem de mandado de segurança e declarar a 
constitucionalidade do art. 9º, III, da Lei 8.745/1993 (1). O dispositivo veda a 
contratação de professor substituto com contrato ainda vigente ou finalizado há 
menos de dois anos na mesma modalidade. 
 
Para o Tribunal, a Lei 8.745/1993, que dispõe sobre a contratação temporária, 
demonstra de forma expressa recaírem as hipóteses de contratação sobre atividades 
de caráter permanente, como a contratação de professores. No entanto, o fato de a 
necessidade ser temporária, sobretudo nos casos em que a atividade é contínua, não 
garante, por si só, que, ao término de determinado contrato, nova contratação se 
realize, caso a necessidade temporária persista. A impossibilidade de prorrogação 
não impede que os já contratados também possam participar de nova seleção. 
 
Tal situação traz, porém, um inegável risco. O servidor admitido sob regime 
temporário pode, ainda que por meio de um novo processo seletivo, ser mantido em 
função temporária, transformando-se em ordinário o que é, por sua natureza, 
extraordinário e transitório. O dispositivo legal questionado visa a mitigar esse risco 
com a consequência – restritiva do ponto de vista dos direitos fundamentais – de 
diminuir a competitividade, excluindo candidatos potenciais à seleção. Essa medida, 
no entanto, é necessária e adequada para preservar a impessoalidade do concurso 
público. 
 
Admitida a legitimidade, a necessidade e a impessoalidade na cláusula de 
barreira imposta pelo art. 9º, III, da Lei 8.745/1993, caberia perguntar se ela é, de 
fato, proporcionalmente ajustada. A resposta dada pelo Poder Judiciário deve, 
contudo, assumir uma deferência ao Poder Legislativo. Em situações como essa, 
cabe ao Poder Judiciário reconhecer ao legislador margem de conformação para 
elencar qual princípio deve prevalecer. Assim, não configura ofensa à isonomia a 
previsão legal de proibição, por prazo determinado, de nova contratação de 
candidato já anteriormente admitido em processo seletivo simplificado para atender 
a necessidade temporária de excepcional interesse público. 
 
(1) Lei 8.745/1993: “Art. 9º O pessoal contratado nos termos desta Lei não poderá: (...) III - ser novamente 
contratado, com fundamento nesta Lei, antes de decorridos 24 (vinte e quatro) meses do encerramento de seu contrato 
anterior, salvo nas hipóteses dos incisos I e IX do art. 2o desta Lei, mediante prévia autorização, conforme determina 
o art. 5o desta Lei”. 
 
RE 635648/CE, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 14.6.2017. 
(Informativo 869, 2ª Turma) 
 
 
 
 
 
 5 
Servidor Público 
 
Jornada de trabalho reduzida e legislação específica 
A Segunda Turma, por unanimidade, concedeu a segurança para anular 
acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) no ponto relativo a irregularidades 
na fixação de jornada de trabalho diária reduzida para ocupantes de cargos de 
analista judiciário - especialidades medicina e odontologia que não exerçam função 
de confiança ou cargo em comissão, mantendo vigentes os parâmetros adotados no 
âmbito do Tribunal Regional do Trabalho da 20ª Região (TRT20). 
 
No caso, o TRT20 fixou a jornada de trabalho dos servidores ocupantes dos cargos de 
analista judiciário, área apoio especializado, especialidades medicina e odontologia em 
quatro e seis horas diárias (vinte e trinta horas semanais), respectivamente, devendo o 
servidor designado para exercer cargo em comissão ou função de confiança cumprir a 
jornada integral de trabalho estabelecida para os demais servidores do órgão regional. 
 
O TCU, por sua vez, concluiu pela existência de irregularidades na prestação 
ordinária de contas dos gestores do TRT20, entre elas a jornada de trabalho reduzida para 
aqueles analistas. Diante disso, determinou que o referido tribunal trabalhista fixasse a 
jornada de trabalho dos servidores médicos e odontólogos em consonância com o regime 
jurídico estabelecido pela Lei 11.416/2006, c/c o art. 19 da Lei 8.112/1990 (1). 
 
A Turma destacou que o Supremo Tribunal Federal já assentou, em precedente 
específico (2), que a jornada diária de trabalho do médico servidor público é de quatro 
horas, nos termos do Decreto-Lei 1.445/1976 e da Lei 9.436/1997 (à época, posteriormente 
revogada pela Lei 12.702/2012) – normas que regulamentam o tema. 
 
Diante da existência de legislação específica (ainda que não trate categoricamente dos 
servidores do Poder Judiciário) disciplinando a matéria em discussão, aplica-se o princípio 
da especialidade da lei, o que afasta a observância da regra geral inserta no caput do art. 19 
da Lei 8.112/1990. 
 
O Colegiado também pontuou que idêntico raciocínio deve ser adotado acerca da 
jornada de trabalho dos analistas judiciários da área de odontologia, mas sem equiparar essa 
situação à dos analistas judiciários da área de medicina, ante a necessidade de observância 
do princípio da legalidade. De fato, para os odontólogos, há regramento distinto que 
instituiu jornada de trabalho reduzida [Decreto-Lei 2.140/1984, art. 6º (3)]. 
 
Por fim, ressaltou que essa conclusão não contempla servidores analistas judiciários 
— especialidades medicina ou odontologia — ocupantes de cargo em comissão e função 
comissionada, cujo respeito à jornada integral de trabalho já foi substancialmente firmado 
pela Corte em outras ocasiões. 
 
(1) Lei 8.112/1990: “Art. 19. Os servidorescumprirão jornada de trabalho fixada em razão das atribuições 
pertinentes aos respectivos cargos, respeitada a duração máxima do trabalho semanal de quarenta horas e observados 
os limites mínimo e máximo de seis horas e oito horas diárias, respectivamente”. 
(2) MS 25.027/DF, DJ de 1º.7.2005. 
(3) Decreto-Lei 2.140/1984: “Art. 6º Fica extinto o regime de trabalho de 40 (quarenta) horas semanais em 
relação às categorias funcionais mencionadas no artigo 5º, permanecendo o de 30 (trinta) horas semanais”. 
 
MS 33853/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 13.6.2017. 
(Informativo 869, 2ª Turma) 
 
Promoção funcional retroativa nas nomeações por ato judicial 
A nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso público, por meio de 
ato judicial, à qual atribuída eficácia retroativa, não gera direito às promoções ou 
 6 
progressões funcionais que alcançariam houvesse ocorrido, a tempo e modo, a 
nomeação. 
 
Com base nessa orientação, o Plenário, apreciando o Tema 454 da repercussão 
geral, por unanimidade, negou provimento a recurso extraordinário em que se 
discutia o direito à promoção funcional retroativa de candidatos nomeados por ato 
judicial. 
 
No caso, candidatos aprovados em concurso para o cargo de defensor público 
do Estado de Mato Grosso impetraram mandado de segurança voltado ao 
reconhecimento do direito à nomeação. O pleito foi acolhido pelo Superior Tribunal 
de Justiça (STJ) em sede de recurso ordinário. Os declaratórios formalizados pelos 
participantes do certame lograram êxito. Assim, todos os direitos inerentes ao cargo, 
inclusive financeiros, foram reconhecidos em caráter retroativo à data final do prazo 
de validade do concurso. 
 
O STJ, em novos declaratórios, esclareceu o alcance dos direitos. Entendeu ser 
devido o cômputo do tempo de serviço a partir da expiração da validade do certame, 
bem assim, a título indenizatório, o equivalente às remunerações que teriam sido 
percebidas a contar daquele marco até a entrada em exercício no cargo. Deixou de 
reconhecer o direito às promoções funcionais, pois envolveriam, como requisito, não 
apenas o decurso do tempo, mas o atendimento a critérios previstos na Constituição 
Federal e na Lei Orgânica da Defensoria do Mato Grosso. Contra esse 
pronunciamento, foi interposto recurso extraordinário. 
 
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) salientou que a controvérsia se 
resume em definir a pertinência das promoções funcionais – independentemente da 
submissão e do sucesso no estágio probatório – de candidatos aprovados em 
concurso público que tiveram assegurada judicialmente a nomeação, com efeitos 
retroativos, em razão da prática de ato da Administração. Não se questiona a 
natureza do ato formalizado pelo Poder Público, se lícito ou ilícito. Tampouco se 
discute o direito à nomeação, bem assim à indenização equivalente às remunerações 
que deixaram de ser pagas e à contagem retroativa do tempo de serviço, presente o 
retardamento da nomeação. Debate-se, tão somente, o direito às promoções sob os 
ângulos funcional e financeiro. 
 
A Corte pontuou, ainda, que a promoção ou a progressão funcional – a depender 
do caráter da movimentação, se vertical ou horizontal – não se resolve apenas 
mediante o cumprimento do requisito temporal. Pressupõe a aprovação em estágio 
probatório e a confirmação no cargo, bem como o preenchimento de outras 
condições indicadas na legislação ordinária. 
 
Diante disso, asseverou que, uma vez empossado no cargo, cumpre ao servidor 
atentar para todas as regras atinentes ao respectivo regime jurídico, incluídas as 
concernentes ao estágio probatório e as específicas de cada carreira. Assim, somente 
considerado o desempenho do agente, por meio de atuação concreta a partir da 
entrada em exercício, é possível alcançar a confirmação no cargo, bem como a 
movimentação funcional, do que decorreriam a subida de classes e padrões, eventual 
alteração na designação do cargo ou quaisquer outras consequências funcionais. 
 
RE 629392 RG/MT, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 8.6.2017. 
(Informativo 868, Plenário, Repercussão Geral) 
 
 
 7 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
Competência Legislativa 
 
Meio ambiente e poluição: competência municipal 
O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da 
poluição, quando se tratar de interesse local. 
 
Com esse entendimento, o Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria, 
negou provimento a recurso extraordinário em que se debateu a competência dos 
Municípios para legislar sobre proteção do meio ambiente e controle da poluição. 
Cuida-se, na espécie, de recurso extraordinário contra acórdão de tribunal estadual que, 
ao julgar apelação em mandado de segurança, reconheceu a legitimidade de legislação 
municipal com base na qual se aplicaram multas por poluição do meio ambiente, 
decorrente da emissão de fumaça por veículos automotores no perímetro urbano (vide 
Informativos 347, 431 e 807). 
 
O Colegiado, preliminarmente e por decisão majoritária, conheceu do recurso. 
Entendeu viável a utilização de mandado de segurança, uma vez ter sido impugnado, no 
caso, ato concreto fundado na legislação municipal, cuja alegada não recepção pelo 
ordenamento constitucional vigente é objeto de controvérsia no recurso. 
 
Vencido, no ponto, o ministro Dias Toffoli, que reputou extinto o mandado de 
segurança e, subsequentemente, prejudicado o recurso. Aduziu não caber mandado de 
segurança contra lei em tese (1). 
 
No mérito, o Plenário considerou que as expressões “interesse local”, do art. 30, I, 
da Constituição Federal (CF), e “peculiar interesse”, das Constituições anteriores, se 
equivalem e não significam interesse exclusivo do Município, mas preponderante. 
Assim, a matéria é de competência concorrente (CF, art. 24, VI), sobre a qual a União 
expede normas gerais. Os Estados e o Distrito Federal editam normas suplementares e, 
na ausência de lei federal sobre normas gerais, editam normas para atender a suas 
peculiaridades (2). Por sua vez, os Municípios, com base no art. 30, I e II, da CF (3), 
legislam naquilo que for de interesse local, suplementando a legislação federal e a 
estadual no que couber. 
 
Vencidos os ministros Cezar Peluso, Eros Grau e Gilmar Mendes, que proveram o 
recurso. Asseveraram que a matéria de fundo diz respeito ao art. 22, XI, da CF (4). 
 
(1) Enunciado 266 da Súmula do STF: “Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.” 
(2) Constituição Federal/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar 
concorrentemente sobre: (...) VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos 
recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição. § 1º No âmbito da legislação concorrente, a 
competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre 
normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os 
Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.” 
(3) Constituição Federal/1988: “Art. 30. Compete aos Municípios: I – legislar sobre assuntos de interesse 
local; II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber.” 
(4) Constituição Federal/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XI – trânsito e 
transporte. 
 
RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, 
julgamento em 29.6.2017. 
(Informativo 870, Plenário) 
 
 
 
 8 
Orçamento 
 
ADPF e expropriação de recursos administrados pelo poder público estadual 
O Plenário do Supremo TribunalFederal, por maioria, deferiu parcialmente 
liminar em ação de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), para suspender, 
até o julgamento de mérito, os efeitos de todas as decisões judiciais do Tribunal de 
Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) e do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª 
Região (TRT1) que tenham determinado o arresto, o sequestro, o bloqueio, a penhora ou 
a liberação de valores das contas administradas pelo Estado do Rio de Janeiro, para 
atender a demandas relativas a pagamento de salários, a satisfação imediata de créditos 
de prestadores de serviços e tutelas provisórias definidoras de prioridades na aplicação 
de recursos públicos, exclusivamente nos casos em que estas determinações tenham 
recaído sobre recursos escriturados, com vinculação orçamentária específica ou 
vinculados a convênios e operações de crédito, valores de terceiros sob a administração 
do Poder Executivo e valores constitucionalmente destinados a municípios, devendo, 
ainda, ser devolvidos os recursos que ainda não tenham sido repassados aos 
beneficiários dessas decisões judiciais. 
 
Preliminarmente, o Tribunal reconheceu a legitimidade ad causam ativa do 
governador do Estado do Rio de Janeiro para o ajuizamento da ação, nos termos dos 
arts. 2º, I, da Lei 9.882/1999 (1) e 103, V, da Constituição Federal (2). 
 
A Corte, por maioria, também reputou cabível a ADPF, que tem por objeto, na 
forma do art. 1º, caput, da Lei 9.882/1999, evitar ou reparar lesões a preceitos 
fundamentais resultantes de “atos do Poder Público que determinam a expropriação de 
recursos administrados pelo Poder Executivo estadual”. Nesse sentido, citou a 
orientação fixada no julgamento da ADPF 33/PA (DJ de 27.10.2006), que afirma não se 
configurar lesão a preceito fundamental apenas quando verificada possível afronta a um 
princípio fundamental, tal como assente na ordem constitucional, mas também quando 
observada ofensa a regras que confiram densidade normativa ou significado específico a 
esse princípio. 
 
O Colegiado aduziu que a ADPF desempenha, no conjunto dos mecanismos de 
proteção da higidez da ordem constitucional, função específica de evitar, à falta de outro 
meio eficaz para tanto, a perenização no ordenamento jurídico de comportamentos 
estatais – ostentem eles ou não a natureza de atos normativos – contrários a um 
identificável núcleo de preceitos – princípios e regras – tidos como sustentáculos da 
ordem constitucional estabelecida. Consignou que, sem risco de vulgarizar o conteúdo 
do núcleo essencial merecedor da proteção singular da ADPF, pode-se afirmar que o 
descumprimento de preceito fundamental acionador do mecanismo de defesa da ordem 
constitucional [art. 102, § 1º, da CF (3)] se manifesta na contrariedade às linhas mestras 
da Constituição, àquilo que, mesmo não identificado com esta ou aquela fração do texto 
positivado, tem sido metaforicamente chamado, por escolas do pensamento jurídico, de 
seu espírito, pilares de sustentação, explícitos ou implícitos, sem os quais a ordem 
jurídica delineada pelo Poder Constituinte, seja ele originário ou derivado, ficaria 
desfigurada na sua própria identidade. A própria redação do art. 102, § 1º, da CF, ao 
aludir a preceito fundamental “decorrente desta Constituição”, é indicativa de que esses 
preceitos não se restringem às normas expressas no seu texto, incluindo também 
prescrições implícitas, desde que revestidas dos indispensáveis traços de essencialidade 
e fundamentalidade. 
 
Sustentou, nesse sentido, parecer restarem poucas dúvidas de que a lesão ao 
postulado da separação e independência entre os Poderes, ao princípio da igualdade ou 
 9 
ao princípio federativo, considerada a centralidade da posição por eles ocupada no 
complexo deontológico e político consubstanciado na Constituição, desfigura a própria 
essência do regime constitucional pátrio. O mesmo pode ser dito quanto à garantia de 
continuidade dos serviços públicos, na medida em que estes assumem, no regime 
previsto na Carta de 1988, instrumentos particularmente relevantes de distribuição de 
direitos materiais subjetivos, notadamente os de natureza prestacional. 
 
Observou, no entanto, que é preciso reconhecer a dificuldade em se incluir, entre 
os preceitos fundamentais da ordem constitucional, normas veiculadoras de opções 
políticas relativas a determinados arranjos financeiros e orçamentários, caso dos 
invocados “princípios e regras do sistema orçamentário” [art. 167, VI e X, da CF (4)], e 
“regime de repartição de receitas tributárias” [arts. 34, V (5); 158, III e IV (6); 159, §§ 
3º e 4º (7); e 160 da CF (8)] e da alusão à “garantia de pagamentos devidos pela 
Fazenda Pública em ordem cronológica de apresentação de precatórios” [art. 100 da CF 
(9)]. Nada obstante, reconheceu que tais aspectos têm relação com a efetividade do 
modelo de organização da Administração Pública preconizado pela Lei Maior e, em 
alguma dimensão, com a interação entre os Poderes e a dinâmica do modelo federativo. 
 
Tendo isso em conta, a Corte reputou enquadrar-se a controvérsia, tal como 
apresentada, em hipótese de lesão a preceitos fundamentais indicados na inicial. 
Registrou, ademais, que, em certo sentido, a tutela sobre o descumprimento de preceito 
constitucional alcança um universo de comportamentos estatais mais amplo do que o de 
inconstitucionalidade, a abranger a lesão à Constituição resultante de “ato do Poder 
Público” outro que não apenas a “lei ou ato normativo”, sempre que traduza efetivo e 
material descumprimento da Constituição. Citou, no ponto, o que decidido na ADPF 
101/DF (DJE de 4.6.2012) e na ADPF 144/DF (DJE de 26.2.2010). 
 
Concluiu que o conjunto de decisões do TJRJ e do TRT1 analisado amolda-se ao 
conceito de ato do poder público passível de impugnação pela via da ADPF e 
considerou demonstrada, ao menos em juízo delibatório, a insuficiência dos meios 
processuais ordinários para imprimir solução satisfatória à controvérsia objeto da ADPF 
[Lei 9.882/1999, art. 4º, § 1º (10)]. 
 
Ressaltou, ainda, não ter o condão de elidir o cabimento da ADPF o deferimento 
das medidas liminares requeridas no MS 34.483/RJ (DJE de 1º.12.2016) e na Rcl 
25.581/RJ (DJE de 25.11.2016), em que tratada a questão relativa ao repasse do 
duodécimo orçamentário do Poder Judiciário fluminense para fins de pagamento de 
salários e subsídios de servidores e magistrados. Tais decisões estão contidas no escopo 
da ADPF, cujo objeto, no entanto, é mais amplo e abrange contrições de receitas que 
objetivam atender, além de determinações de imediato pagamento de salários de 
servidores estaduais ativos e inativos (objeto das liminares citadas), a satisfação 
imediata de créditos de prestadores de serviços e o cumprimento imediato de tutelas 
provisórias que estabelecem prioridades políticas para a aplicação de recursos públicos. 
 
Quanto ao pedido de liminar, o STF esclareceu, de início, ser o pano de fundo das 
decisões judiciais impugnadas na presente ADPF a notória situação de grave dificuldade 
econômica e financeira pela qual passa o Estado do Rio de Janeiro, especialmente ante 
as mudanças ocorridas no mercado petrolífero mundial, a sensível redução na receita 
dos royalties da exploração do petróleo, a grave crise pela qual passa a Petrobras e toda 
a sua cadeia de produção, e a desaceleração da economia, com a consequente redução 
das receitas tributárias do Estado. 
 
Consignou que os documentos trazidos aos autos apontam que as sucessivas 
expropriações de numerário existente nas contas do Estado do Rio de Janeiro, para 
saldar os valores fixados nas decisões judiciais, têm alcançado recursos de terceiros, 
 10 
escriturados contabilmente, individualizados ou com vinculação orçamentária 
específica.Essas determinações judiciais de bloqueio, penhora, arresto, sequestro e 
liberação de verbas públicas alteram a destinação orçamentária dos recursos públicos, 
remanejando-os de uma categoria de programação para outra, sem prévia autorização 
legislativa. Por isso, pelo menos aparentemente, são dificilmente conciliáveis com as 
vedações contidas no art. 167, VI e X, da Constituição da República. 
 
A aparente usurpação de competências constitucionais reservadas ao Poder 
Executivo (exercer a direção da Administração) e ao Poder Legislativo (autorizar 
transposição, remanejamento ou transferência de recursos de uma categoria de 
programação para outra ou de um órgão para outro) sugere configurada, na hipótese, 
provável lesão aos arts. 2º (11); 84, II (12); e 167, VI e X, da Carta Política. 
 
O Tribunal, por fim, asseverou ser passível de tutela jurisdicional a realização de 
políticas públicas, sobretudo para atender mandamentos constitucionais e assegurar 
direitos fundamentais. No entanto, a subtração de qualquer margem de 
discricionariedade do chefe do Poder Executivo na execução das despesas sugere haver 
indevida interferência do Poder Judiciário na administração do orçamento e na definição 
das prioridades na execução de políticas públicas, em conflito com o disposto nos arts. 
2º e 84, II, da Carta Política, o que suscita preocupações também sob o prisma da 
harmonia entre os Poderes. Além de comprometer a autonomia administrativa do 
Estado, por retirar do chefe do Poder Executivo os meios essenciais à alocação de 
recursos financeiros, a proliferação de decisões judiciais que determinam constrições 
imediatas, em descompasso com o cronograma de desembolso orçamentário, parece 
colocar alguns credores em situação mais vantajosa do que outros em igual condição 
fática e jurídica, quebrando a isonomia. Reputou presente, portanto, o fumus boni iuris e 
devidamente preenchido o requisito do periculum in mora em face do elevado risco de 
comprometimento do patrimônio e das receitas correntes do Estado do Rio de Janeiro. 
 
Vencidos os ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski. 
 
O ministro Marco Aurélio, preliminarmente, entendeu pelo não cabimento da 
arguição e, no mérito, votou pela improcedência dos pedidos. 
 
O ministro Ricardo Lewandowski concedeu parcialmente a liminar em menor 
extensão. 
 
(1) Lei 9.882/1999: “Art. 2o Podem propor arguição de descumprimento de preceito fundamental: I - os 
legitimados para a ação direta de inconstitucionalidade”. 
(2) Constituição Federal/1988: “Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação 
declaratória de constitucionalidade: (...) V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal”. 
(3) Constituição Federal/1988: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da 
Constituição, cabendo-lhe: (...) § 1.º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta 
Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei”. 
(4) Constituição Federal/1988: “Art. 167. São vedados: VI - a transposição, o remanejamento ou a 
transferência de recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia 
autorização legislativa; (...) X - a transferência voluntária de recursos e a concessão de empréstimos, inclusive por 
antecipação de receita, pelos Governos Federal e Estaduais e suas instituições financeiras, para pagamento de 
despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”. 
(5) Constituição Federal/1988: “Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto 
para: (...) V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por 
mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias 
fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei”. 
(6) Constituição Federal/1988: “Art. 158. Pertencem aos Municípios: (...) III - cinquenta por cento do produto 
da arrecadação do imposto do Estado sobre a propriedade de veículos automotores licenciados em seus territórios; IV 
- vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre operações relativas à circulação de 
mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação”. 
(7) Constituição Federal/1988: “Art. 159. (...) § 3º Os Estados entregarão aos respectivos Municípios vinte e 
cinco por cento dos recursos que receberem nos termos do inciso II, observados os critérios estabelecidos no art. 158, 
 11 
parágrafo único, I e II. § 4º Do montante de recursos de que trata o inciso III que cabe a cada Estado, vinte e cinco 
por cento serão destinados aos seus Municípios, na forma da lei a que se refere o mencionado inciso”. 
(8) Constituição Federal/1988: “Art. 160. É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao emprego 
dos recursos atribuídos, nesta seção, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, neles compreendidos 
adicionais e acréscimos relativos a impostos. Parágrafo único. A vedação prevista neste artigo não impede a União e 
os Estados de condicionarem a entrega de recursos: I – ao pagamento de seus créditos, inclusive de suas autarquias; II 
– ao cumprimento do disposto no art. 198, § 2º, incisos II e III”. 
(9) Constituição Federal/1988: “Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, 
Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de 
apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas 
dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim”. 
(10) Lei 9.882/1999: “Art. 4o A petição inicial será indeferida liminarmente, pelo relator, quando não for o 
caso de arguição de descumprimento de preceito fundamental, faltar algum dos requisitos prescritos nesta Lei ou for 
inepta. § 1o Não será admitida arguição de descumprimento de preceito fundamental quando houver qualquer outro 
meio eficaz de sanar a lesividade”. 
(11) Constituição Federal/1988: “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o 
Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. 
(12) Constituição Federal /1988: “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) II - exercer, 
com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal”. 
 
ADPF 405 MC/RJ, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 14.6.2017. 
(Informativo 869, Plenário) 
 
1ª Parte: 2ª Parte: 
1ª Parte: 2ª Parte: 3ª Parte: 
 
Princípio da Igualdade 
 
Cotas raciais: vagas em cargos e empregos públicos e mecanismo de controle de 
fraude 
É constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para 
provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da Administração Pública 
Direta e Indireta. 
 
É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de 
heteroidentificação, desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o 
contraditório e a ampla defesa. 
 
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o 
pedido formulado em ação declaratória de constitucionalidade em que se discutia a 
legitimidade da Lei federal nº 12.990/2014. 
 
A norma reserva aos candidatos que se autodeclararem pretos ou pardos 20% das 
vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos e empregos 
públicos. Prevê também que, na hipótese de constatação de declaração falsa, o 
candidato será eliminado do concurso e, se houver sido nomeado, ficará sujeito à 
anulação da sua admissão, após procedimentoadministrativo. A lei ainda dispõe que a 
nomeação dos candidatos aprovados respeitará os critérios de alternância e 
proporcionalidade, que consideram a relação entre o número de vagas total e o número 
de vagas reservadas a candidatos com deficiência e a candidatos negros (vide 
Informativo 864). 
 
Inicialmente, o Supremo Tribunal Federal (STF) enfrentou a questão das cotas 
raciais em três planos de igualdade, tal como compreendida na contemporaneidade: a) 
formal; b) material; e c) como reconhecimento. 
 
A igualdade formal impede a lei de estabelecer privilégios e diferenciações 
arbitrárias entre as pessoas, isto é, exige que o fundamento da desequiparação seja 
razoável e que o fim almejado seja compatível com a Constituição. No caso analisado, o 
fundamento e o fim são razoáveis, motivados por um dever de reparação histórica e por 
 12 
circunstâncias que explicitam um racismo estrutural na sociedade brasileira a ser 
enfrentado. 
 
Quanto à igualdade material, o Colegiado observou que o racismo estrutural gerou 
uma desigualdade material profunda. Desse modo, qualquer política redistributivista 
precisará indiscutivelmente assegurar vantagens competitivas aos negros. 
 
Enfatizou, em relação à igualdade como reconhecimento, que esse aspecto 
identifica a igualdade quanto ao respeito às minorias e ao tratamento da diferença de um 
modo geral. Significa respeitar as pessoas nas suas diferenças e procurar aproximá-las, 
igualando as oportunidades. A política afirmativa instituída pela Lei 12.990/2014 tem 
exatamente esse papel. 
 
Frisou haver uma dimensão simbólica importante no fato de negros ocuparem 
posições de destaque na sociedade brasileira. Além disso, há um efeito considerável 
sobre a autoestima das pessoas. Afinal, cria-se resistência ao preconceito alheio. 
Portanto, a ideia de pessoas negras e pardas serem símbolo de sucesso e ascensão e 
terem acesso a cargos importantes influencia a autoestima das comunidades negras. 
Ademais, o pluralismo e a diversidade tornam qualquer ambiente melhor e mais rico. 
 
O STF concluiu que a lei em análise supera com facilidade o teste da igualdade 
formal, material e como reconhecimento. 
 
Afastou a alegada violação ao princípio do concurso público. Afinal, para serem 
investidos em cargos públicos, os candidatos negros têm de ser aprovados em concurso 
público. Caso não atinjam o patamar mínimo, sequer disputarão as vagas. Observou que 
apenas foram criadas duas formas distintas de preenchimento de vagas, em razão de 
reparações históricas, sem abrir mão do critério mínimo de suficiência. 
 
Rejeitou a apontada violação ao princípio da eficiência. Registrou ser uma visão 
linear de meritocracia a ideia de que necessariamente os aprovados em primeiro lugar 
por um determinado critério sejam absolutamente melhores que os outros. Tal conceito 
já havia sido rechaçado pelo ministro Ricardo Lewandowski no julgamento da ADPF 
186/DF (DJE de 20.10.2014), segundo o qual a noção de meritocracia deve comportar 
nuances que permitam a competição em igualdade de condições. 
 
Afirmou haver um ganho importante de eficiência. Afinal, a vida não é feita apenas 
de competência técnica, ou de capacidade de pontuar em concurso, mas, sim, de uma 
dimensão de compreensão do outro e de variadas realidades. A eficiência pode ser 
muito bem-servida pelo pluralismo e pela diversidade no serviço público. 
 
A Corte também não vislumbrou ofensa ao princípio da proporcionalidade. A 
demanda por reparação histórica e ação afirmativa não foi suprida pelo simples fato de 
existirem cotas para acesso às universidades públicas. O impacto das cotas raciais não 
se manifesta no mercado de trabalho automaticamente, pois há um tempo de espera até 
que essas pessoas estudem, se formem e se tornem competitivas. Ademais, seria 
necessário supor que as mesmas pessoas que entraram por cotas nas universidades 
estariam disputando as vagas nos concursos. 
 
Reputou que a proporção de 20% escolhida pelo legislador é extremamente 
razoável. Se essa escolha fosse submetida a um teste de proporcionalidade em sentido 
estrito, também não haveria problema, porque 20%, em rigor, representariam menos da 
metade do percentual de negros na sociedade brasileira. 
 
Quanto à autodeclaração, prevista no parágrafo único do art. 2º da Lei federal 
12.990/2014, o Supremo asseverou que se devem respeitar as pessoas tal como elas se 
percebem. Entretanto, um controle heterônomo não é incompatível com a Constituição, 
 13 
observadas algumas cautelas, sobretudo quando existirem fundadas razões para 
acreditar que houve abuso na autodeclaração. 
 
Assim, acrescentou que é legítima a utilização de critérios subsidiários de 
heteroidentificação para concorrência às vagas reservadas. A finalidade é combater 
condutas fraudulentas e garantir que os objetivos da política de cotas sejam 
efetivamente alcançados, desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e 
assegurados o contraditório e a ampla defesa. Citou, como exemplos desses 
mecanismos, a exigência de autodeclaração presencial perante a comissão do concurso, 
a apresentação de fotos e a formação de comissões com composição plural para 
entrevista dos candidatos em momento posterior à autodeclaração. 
 
A reserva de vagas vale para todos os órgãos e, portanto, para todos os Poderes da 
União. Os Estados e os Municípios não estão obrigados por essa lei, mas serão 
consideradas constitucionais as leis estaduais e municipais que adotarem essa mesma 
linha. 
 
Quanto aos critérios de alternância e proporcionalidade na nomeação dos 
candidatos, o Plenário exemplificou a forma correta de interpretar a lei. No caso de 
haver vinte vagas, quatro seriam reservadas a negros, obedecida a seguinte sequência de 
ingresso: primeiro colocado geral, segundo colocado geral, terceiro colocado geral, 
quarto colocado geral, até que o quinto convocado seria o primeiro colocado entre os 
negros, e assim sucessivamente. Dessa forma, evita-se colocar os aprovados da lista 
geral primeiro e somente depois os aprovados por cotas. 
 
Os ministros Alexandre de Moraes e Dias Toffoli consignaram que a lei é 
constitucional apenas quanto ao provimento inicial dos cargos e empregos públicos. 
Após o ingresso na carreira, o sistema de cotas não deve ser usado na ascensão interna, 
a qual se dá mediante concursos internos de promoção e remoção com critérios 
específicos, determinados pela Constituição, de antiguidade e merecimento. 
 
Os ministros Edson Fachin e Luiz Fux entenderam que o art. 4º da Lei 12.990/2014 
se projeta não apenas na nomeação, mas em todos os momentos da vida funcional dos 
servidores públicos cotistas, tais como remoção e promoção. 
 
O ministro Roberto Barroso (relator) esclareceu que a questão da promoção não foi 
enfrentada porque não consta do pedido nem foi discutida em memoriais. 
 
Para o ministro Luiz Fux, por se tratar de política pública calcada no preâmbulo da 
Constituição Federal, a lei vale para todas as unidades federadas. 
 
ADC 41/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 8.6.2017. 
(Informativo 868, Plenário) 
 
1ª Parte: 2ª Parte: 
1ª Parte: 2ª Parte: 3ª Parte: 
 
Processo Legislativo 
 
Interpretação do art. 62, § 6º, da CF e limitação do sobrestamento 
O Supremo Tribunal Federal, em conclusão de julgamento e por maioria, denegou 
a ordem em mandado de segurança impetrado por parlamentares contra decisão do 
presidente da Câmara dos Deputados em questão de ordem. No ato coator, foi fixada a 
orientação de que a interpretação adequada do art. 62, § 6º (1), da Constituição Federal 
(CF) implicaria o sobrestamento apenas dos projetos de lei ordinária, apesar de odispositivo prever o sobrestamento de todas as deliberações legislativas da Casa em que 
 14 
estiver tramitando medida provisória não seja apreciada em 45 dias (vide Informativos 
572 e 778). 
 
O Colegiado entendeu que a interpretação emanada do presidente da Câmara dos 
Deputados reflete, com fidelidade, solução jurídica plenamente compatível com o 
modelo teórico da separação de poderes. Tal interpretação revela fórmula hermenêutica 
capaz de assegurar, por meio da preservação de adequada relação de equilíbrio entre 
instâncias governamentais (o Poder Executivo e o Poder Legislativo), a própria 
integridade da cláusula pertinente à divisão do poder. 
 
Nesse contexto, deu interpretação conforme ao § 6º do art. 62 da CF, na redação 
resultante da Emenda Constitucional 32/2001, para, sem redução de texto, restringir-lhe 
a exegese. Assim, afastada qualquer outra possibilidade interpretativa, fixou-se 
entendimento de que o regime de urgência previsto no referido dispositivo 
constitucional — que impõe o sobrestamento das deliberações legislativas das Casas do 
Congresso Nacional — refere-se apenas às matérias passíveis de regramento por medida 
provisória. Excluem-se do bloqueio, em consequência, as propostas de emenda à 
Constituição e os projetos de lei complementar, de decreto legislativo, de resolução e, 
até mesmo, de lei ordinária, desde que veiculem temas pré-excluídos do âmbito de 
incidência das medidas provisórias [CF, art. 62, § 1º, I, II e IV (2)]. 
 
Vencido o ministro Marco Aurélio, que concedeu a ordem. Para ele, o dispositivo 
constitucional em debate é claro no sentido de que a não aprovação de medida 
provisória após 45 dias deve paralisar toda a pauta, de modo a compelir a Casa 
Legislativa a se pronunciar de forma positiva quanto à aprovação, ou de forma negativa, 
considerado o teor da medida provisória. 
 
(1) Constituição Federal/1988: “Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá 
adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (...) § 6º Se a 
medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de 
urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a 
votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando.” 
(2) Constituição Federal/1988: “Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá 
adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É vedada 
a edição de medidas provisórias sobre matéria: I – relativa a: a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos 
políticos e direito eleitoral; b) direito penal, processual penal e processual civil; c) organização do Poder Judiciário e 
do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, 
orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º; II – que vise a detenção ou 
sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; (...) IV – já disciplinada em projeto de lei 
aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República.” 
 
MS 27931/DF, rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 29.6.2017 
(Informativo 870, Plenário) 
 
 
 
 15 
DIREITO PENAL 
 
Colaboração Premiada 
 
Homologação de acordo de colaboração premiada e limites de atuação do relator 
O Supremo Tribunal Federal (STF), em julgamento conjunto, resolveu questão de 
ordem e negou provimento a agravo regimental em petição em que se discutiam, 
respectivamente, os limites da atuação do relator em homologação de colaboração 
premiada e a distribuição ao ministro Edson Fachin (relator), por prevenção, da Pet 
7.003/DF, em razão do Inq 4.112/DF, cujo objeto são fatos relacionados à operação 
Lava Jato. 
 
A questão de ordem foi suscitada pelo relator tendo em conta petição ajuizada 
pelo governador do Estado de Mato Grosso do Sul e recebida como agravo regimental. 
O agravante contestou a distribuição por prevenção, e não por sorteio, dos autos em que 
foram homologados os acordos de colaboração premiada celebrados entre o Ministério 
Público Federal (MPF) e integrantes de grupo empresarial. Na petição, o governador 
pretendia o reconhecimento da inexistência de conexão entre os fatos e condutas a ele 
imputados na Pet 7.003/DF, bem como aqueles apurados no Inq 4.112/DF, e a 
consequente determinação da livre distribuição do feito. 
 
No bojo desse debate, questionou-se o conteúdo dos acordos formalizados entre 
os colaboradores e o MPF, com destaque para os limites da atuação jurisdicional no 
instituto em análise e seus reflexos na persecutio criminis, à luz das garantias 
constitucionais e das normas regulamentadoras previstas na Lei 12.850/2013. Diante 
disso, a questão de ordem foi submetida à deliberação do Plenário do STF, com base no 
princípio da segurança jurídica, insculpido no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal 
(CF). 
 
O Plenário, por maioria, resolveu a questão de ordem no sentido de reafirmar — 
nos limites dos §§ 7º e 11 do art. 4º (1) da Lei 12.850/2013 e incisos I e II do art. 21 (2) 
do Regimento Interno do STF (RISTF) — a atribuição do relator para, 
monocraticamente, homologar acordos de colaboração premiada, oportunidade na qual 
se limita ao juízo de regularidade, legalidade e voluntariedade da avença. Reafirmou, 
também, a competência colegiada do STF para avaliar, em decisão final de mérito, o 
cumprimento dos termos bem como a eficácia do acordo. 
 
Além disso, consignou que acordo homologado como regular, voluntário e legal 
gera vinculação condicionada ao cumprimento dos deveres assumidos pela colaboração. 
Salientou, ainda, que ao órgão colegiado é facultada a possibilidade de analisar fatos 
supervenientes ou de conhecimento posterior que firam a legalidade, nos termos do § 4º 
do art. 966 (3) do Código de Processo Civil/2015 (CPC/2015). 
 
Inicialmente, a Corte asseverou haver dois pontos em discussão: o poder do 
relator à luz do RISTF para a homologação do acordo de colaboração premiada, tanto 
no que concerne ao alcance quanto no que se refere aos limites dos atos; e o momento 
de aferição do cumprimento dos termos do acordo e sua eficácia. 
 
Diante disso, fixou dois nortes: a) os moldes do que foi decidido no HC 
127.483/PR (DJE de 4.2.2016), a fim de reafirmar a atribuição do relator como 
corolário dos poderes instrutórios para ordenar a realização de meios de obtenção de 
provas, nos termos que lhe são conferidos pelos incisos I e II do art. 21 do RISTF, e, por 
conseguinte, homologar monocraticamente acordos de colaboração premiada — 
oportunidade em que se limita ao juízo de regularidade, legalidade e voluntariedade da 
 16 
avença, nos limites do art. 4º, § 7º, da Lei 12.850/2013; e b) o juízo sobre o 
cumprimento dos termos do acordo de colaboração e sua eficácia, conforme preceitua o 
art. 4º, § 11, da Lei 12.850/2013. 
 
Nesse sentido, frisou que o que se põe ao exame do Colegiado é o momento dessa 
apreciação, ou seja, o instante da análise de mérito. Essa é a ocasião da prolação da 
sentença no STF em decisão colegiada, em Turma ou Pleno, etapa em que se confere 
concretude ao princípio acusatório que rege o processo penal no Estado Democrático de 
Direito. 
 
Destacou, ainda, que atualmente não há mais controvérsia acerca da natureza 
jurídica do instituto, considerado, em termos gerais, um negócio jurídico processual 
firmado entre o Ministério Público e o colaborador. Essa característica é representadapelas normas extraídas dos §§ 6º e 7º do art. 4º da Lei 12.850/2013, as quais vedam a 
participação do magistrado na celebração do ajuste entre as partes e estabelecem os 
limites de cognoscibilidade dos termos pactuados. Trata-se, portanto, de meio de 
obtenção de prova cuja iniciativa não se submete à reserva de jurisdição, diferentemente 
do que ocorre, por exemplo, com a quebra do sigilo bancário ou fiscal e com a 
interceptação de comunicações telefônicas. 
 
Nesse panorama jurídico, as tratativas e a celebração da avença são mantidas 
exclusivamente entre o Ministério Público e o pretenso colaborador, o que ocorreu no 
caso concreto. O Poder Judiciário é convocado ao final dos atos negociais apenas para 
aferir os requisitos legais de existência e validade, com a indispensável homologação. 
Nesse sentido foram as conclusões sobre a homologação no julgamento do HC 
127.483/PR. 
 
A Corte destacou, no ponto, que esse provimento interlocutório — o qual não 
julga o mérito da pretensão acusatória, mas resolve uma questão incidente — tem 
natureza meramente homologatória, limitando-se ao pronunciamento sobre a 
regularidade, legalidade e voluntariedade do acordo (art. 4º, § 7º, da Lei 12.850/2013). 
O juiz, ao homologar o acordo de colaboração, não emite juízo de valor a respeito das 
declarações eventualmente prestadas pelo colaborador à autoridade policial ou ao 
Ministério Público, nem confere o signo da idoneidade a seus depoimentos posteriores. 
 
Entendimento contrário colocaria em risco a própria viabilidade do instituto, 
diante da iminente ameaça de interferência externa nas condições acordadas pelas 
partes, reduzindo de forma significativa o interesse no ajuste. Essa “postura 
equidistante” do juiz em relação às partes no processo penal informa o citado comando 
legal que prestigia o sistema acusatório. Se as declarações do colaborador são 
verdadeiras ou respaldadas por provas de corroboração, esse juízo será feito apenas “no 
momento do julgamento do processo”, no momento diferido, qual seja, na sentença, 
conforme previsto no § 11 do art. 4º da Lei 12.850/2013. Nessa etapa, serão analisados 
os elementos trazidos pela colaboração e sua efetividade. 
 
Dessa forma, o Colegiado considerou ser imprescindível chancelar a importância 
da preservação da segurança jurídica e da própria figura da colaboração premiada como 
instrumento relevante para coibir delitos, sobretudo contra o erário. 
 
Em conclusão quanto ao primeiro ponto discutido, afirmou que, no ato de 
homologação da colaboração premiada, não cabe ao magistrado, de forma antecipada e 
extemporânea, tecer juízo de valor sobre o conteúdo das cláusulas avençadas, exceto 
nos casos de flagrante ofensa ao ordenamento jurídico vigente. Se assim agir, estará 
interferindo indevidamente na atuação dos órgãos de investigação, porque a celebração 
 17 
do acordo de colaboração premiada não trata de medida submetida à reserva de 
jurisdição. 
 
Repisou que, conforme decidido no julgamento do HC 127.483/PR, o art. 21, I e 
II, do RISTF confere ao relator poderes instrutórios para ordenar, de forma singular, a 
realização de quaisquer meios de obtenção de provas. Ressaltou que a natureza jurídica 
do acordo de colaboração premiada como meio de obtenção de prova é ato inserido nas 
atribuições regimentais do relator, ainda que os fatos apresentados pelos colaboradores 
envolvam supostas ações e omissões de ocupante de cargo da Presidência da República, 
a serem provadas e, se comprovadas, tornadas objeto de processamento de ação penal 
que compete ao Plenário do STF. 
 
Portanto, não há qualquer óbice à homologação do respectivo acordo mediante 
decisão monocrática. 
 
Quanto ao segundo ponto, o Colegiado esclareceu que o ensejo dessa 
oportunidade se relaciona ao momento para o exercício da aferição do cumprimento dos 
termos do acordo e da sua eficácia ao que está previsto no § 11 do art. 4º da Lei 
12.850/2013. 
 
Havendo foro por prerrogativa de função no STF, somente o juízo colegiado — 
Turma ou Pleno — poderá examinar o recebimento da denúncia e, em caso afirmativo, 
julgar a respectiva ação penal (RISTF, art. 5º, I). Esse juízo não é do relator, mas do 
Colegiado, sem embargo, para efeitos ordinatórios e instrutórios, da previsão do art. 21, 
XV (4), do RISTF. 
 
A instauração de inquérito é fase preliminar investigatória, na qual estão as 
colaborações, que, como meios de obtenção de prova, não são idôneas para se condenar, 
mas apenas para se ensejar a investigação onde há dúvida a ser dirimida ou indício a ser 
provado. Por isso, no momento de homologação, o juízo é preliminar e preambular. 
Somente no julgamento de mérito o Poder Judiciário, autorizado pela lei, poderá definir 
a extensão da colaboração e analisar o benefício respectivo. 
 
A Corte observou, também, que a lei permite ao Judiciário, em fase diferida, após 
a conclusão da instrução probatória, avaliar se os termos da colaboração premiada 
foram cumpridos e se os resultados concretos foram atingidos, o que definirá sua 
eficácia. [Lei 12.850/2013, art. 4º, §§ 9º e 12 (5)] 
 
Consignou que a última palavra será sempre do Colegiado, inexistindo quaisquer 
óbices jurídicos de índole subjetiva ou objetiva aptos a impedir a atuação do relator. O 
julgamento de mérito será levado a efeito pelo colegiado de juízes do STF ao apreciar 
os termos e a eficácia do acordo de colaboração. Reside na ambiência inafastável do 
Pleno a atribuição de juiz natural nos termos da competência deferida pela ordem 
jurídica, o que não contrasta com os regimentais poderes instrutórios e mesmo 
cautelares do relator. 
 
Salientou, por fim, que o direito subjetivo do colaborador nasce e se perfectibiliza 
na exata medida em que ele cumpre seus deveres. Estes são condictio sine qua non para 
que o colaborador possa fruir desses direitos. Nesse contexto, o acordo homologado 
como regular, voluntário e legal gera vinculação, condicionada ao cumprimento dos 
deveres assumidos pela colaboração, salvo ilegalidade superveniente apta a justificar 
nulidade ou anulação do negócio jurídico. 
 
Vencidos os ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Marco Aurélio. 
 
O ministro Ricardo Lewandowski divergiu pontualmente. Para ele, na delação 
premiada, apesar do relevante papel do MPF, a última palavra — não quanto à 
 18 
conveniência e oportunidade da celebração do acordo, mas quanto à legalidade lato 
sensu da avença — é do Poder Judiciário; neste caso, do juiz relator e também do 
Plenário, em última análise. 
 
Asseverou existirem dois momentos para analisar as cláusulas e condições das 
delações premiadas. O primeiro, precário e efêmero, é realizado pelo relator, com base 
no art. 21 do RISTF. Nele se verifica a presença dos requisitos de regularidade, 
voluntariedade e legalidade. Esta última, no entanto, é empregada em seu sentido 
amplo. O relator tem o dever de vetar cláusulas que excluam da apreciação do Judiciário 
lesão ou ameaça de lesão a direitos; estabeleçam o cumprimento imediato da pena ainda 
não fixada; fixem regime de cumprimento de pena não autorizado pela legislação em 
vigor; avancem sobre cláusulas de reserva de jurisdição; determinem o 
compartilhamento de provas e informações sigilosas sem intervenção da justiça; ou 
autorizem a divulgação de informações que atinjam a imagem ou a esfera jurídica de 
terceiros. 
 
Em um segundo momento, havendo falha ou dados porventura não examinados na 
análise perfunctória da legalidade pelo relator, caberá ao Plenário apreciar esses 
aspectos. A decisão do relator permite que a delação premiada possa efetivar-se no 
plano da realidade fática, mas, embora importante, não vincula o Plenário no que diz 
respeito aos aspectosda legalidade lato sensu. Em suma, a última palavra quanto à 
legalidade e à constitucionalidade das cláusulas e condições ajustadas no acordo de 
colaboração premiada é do juiz natural, que, nesse caso, é o Colegiado. 
 
Para o ministro Gilmar Mendes, a homologação dos acordos de colaboração 
premiada é de competência do Colegiado, especialmente em casos que envolvam 
dispensa da denúncia. O acordo de colaboração premiada deve ser admitido, desde que 
esteja nos limites da Lei 12.850/2013. Compete à Corte realizar o controle efetivo e 
eficaz dessa legalidade, que tem como limite apenas o espaço conferido pela lei para o 
juízo de conveniência e oportunidade da acusação e da defesa, mas é poder-dever do 
juiz aprofundar a avaliação da legalidade do acordo, inclusive quanto à extensão dos 
benefícios prometidos. 
 
Segundo ressaltou, o acordo de colaboração não é simples meio de obtenção de 
prova, mas um negócio jurídico com efeitos benéficos ao colaborador. Nessa mesma 
linha, os acordos, que podem envolver redução de penas, não podem vincular o 
Colegiado, o qual, na fase de julgamento, avaliará apenas sua eficácia. Em alguns casos, 
é oferecido perdão ao delator, com dispensa de denúncia, o que torna a decisão 
monocrática ainda mais incompatível com o sistema jurídico caso o processo não seja 
submetido ao Colegiado. Por fim, o ministro asseverou que a homologação do acordo 
não tem eficácia preclusiva completa, a afastar totalmente sua revisão, por ocasião do 
julgamento. 
 
Para o ministro Marco Aurélio, os poderes do relator no momento da 
homologação do acordo de colaboração premiada não deveriam ser tão amplos. Para 
ele, não compete ao relator avançar e endossar os parâmetros do acordo. Tal faculdade 
cabe apenas ao órgão que cumprirá o julgamento de eventual ação penal que venha a ser 
proposta. 
 
(1) Lei 12.850/2013: “Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em 
até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha 
colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração 
advenha um ou mais dos seguintes resultados: (...) § 7º Realizado o acordo na forma do § 6º, o respectivo termo, 
acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para homologação, o 
qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o 
 19 
colaborador, na presença de seu defensor. (...) § 11. A sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua 
eficácia.” 
(2) Regimento Interno do STF: “Art. 21. São atribuições do Relator: I – ordenar e dirigir o processo; II – 
executar e fazer cumprir os seus despachos, suas decisões monocráticas, suas ordens e seus acórdãos transitados em 
julgado, bem como determinar às autoridades judiciárias e administrativas providências relativas ao andamento e à 
instrução dos processos de sua competência, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais 
não decisórios a outros Tribunais e a juízos de primeiro grau de jurisdição;” 
(3) Código de Processo Civil de 2015: “Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser 
rescindida quando: (...) § 4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do 
processo e homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão 
sujeitos à anulação, nos termos da lei.” 
(4) Regimento Interno do STF: “Art. 21. São atribuições do Relator: (...) XV – determinar a instauração de 
inquérito a pedido do Procurador-Geral da República, da autoridade policial ou do ofendido, bem como o seu 
arquivamento, quando o requerer o Procurador-Geral da República, ou quando verificar: a) a existência manifesta de 
causa excludente da ilicitude do fato; b) a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo 
inimputabilidade; c) que o fato narrado evidentemente não constitui crime; d) extinta a punibilidade do agente; ou e) 
ausência de indícios mínimos de autoria ou materialidade.” 
(5) Lei 12.850/2013: “Art. 4º (...) § 9º Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre 
acompanhado pelo seu defensor, ser ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de polícia 
responsável pelas investigações. (...) § 12. Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o 
colaborador poderá ser ouvido em juízo a requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial.” 
 
Pet 7074 QO/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 21, 22, 28 e 29.6.2017. 
Pet 7074/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 21, 22, 28 e 29.6.2017. 
(Informativo 870, Plenário) 
 
1ª Parte: 2ª Parte: 3ª Parte: 4ª Parte: 
5ª Parte: 6ª Parte: 7ª Parte: 
 
1ª Parte: 2ª Parte: 3ª Parte: 4ª Parte: 
5ª Parte: 6ª Parte: 7ª Parte: 8ª Parte: 
9ª Parte: 10ª Parte: 
 
 20 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
Suspensão Processual 
 
Repercussão geral: suspensão processual e prescrição 
O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu julgamento de questão de ordem 
em recurso extraordinário no qual se discutiam o alcance da suspensão processual 
preconizada no art. 1.035, § 5º (1), do Código de Processo Civil (CPC) e os seus 
efeitos sobre os processos penais cuja matéria tenha sido objeto de repercussão geral 
reconhecida pela Corte. Questionava-se a possibilidade de suspensão – enquanto não 
julgado o recurso extraordinário paradigma – do prazo prescricional da pretensão 
punitiva de crimes ou contravenções penais objeto das ações penais sobrestadas. 
 
A questão foi suscitada em recurso extraordinário, com repercussão geral 
reconhecida (Tema 924), que no qual se impugna acórdão que considerou atípica a 
conduta contravencional do jogo de azar, prevista no art. 50 da Lei de 
Contravenções Penais (Decreto-Lei 3.688/1941) (vide Informativo 867). 
 
A Corte, por maioria, acompanhou o voto, ora reajustado, do ministro Luiz Fux 
(relator). 
 
A questão de ordem foi resolvida da seguinte forma: 
a) a suspensão de processamento prevista no § 5º do art. 1.035 do CPC não 
consiste em consequência automática e necessária do reconhecimento da repercussão 
geral realizada com fulcro no caput do mesmo dispositivo, sendo da 
discricionariedade do relator do recurso extraordinário paradigma determiná-la ou 
modulá-la; 
b) a possibilidade de sobrestamento se aplica aos processos de natureza penal; 
c) neste contexto, em sendo determinado o sobrestamento de processos de 
natureza penal, opera-se, automaticamente, a suspensão da prescrição da pretensão 
punitiva relativa aos crimes que forem objeto das ações penais sobrestadas, a partir 
de interpretação conforme a Constituição do art. 116, I (2), do Código Penal (CP); 
d) em nenhuma hipótese, o sobrestamento de processos penais determinado com 
fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC abrangerá inquéritos policiais ou 
procedimentos investigatórios conduzidos pelo Ministério Público; 
e) em nenhuma hipótese, o sobrestamento de processos penais determinado com 
fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC abrangerá ações penais em que haja réu 
preso provisoriamente; 
f) em qualquer caso de sobrestamento de ação penal determinado com 
fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC, poderá o juízo de piso, no curso da 
suspensão, proceder, conforme a necessidade, à produção de provas de natureza 
urgente. 
 
Asseverou que a suspensão do prazo prescricional para a resolução de questão 
externa prejudicial ao reconhecimento do crime abrange a hipótese de suspensão do 
prazo prescricionalnos processos criminais com repercussão geral reconhecida, 
porquanto a resolução da questão concernente à repercussão. 
 
Entendeu que a interpretação conforme a Constituição Federal do art. 116, I, do 
CP se funda nos postulados da unidade e da concordância prática das normas 
constitucionais. O legislador, ao impor a suspensão dos processos sem instituir, 
simultaneamente, a suspensão dos prazos prescricionais, cria o risco de erigir 
sistema processual que vulnera a eficácia normativa e a aplicabilidade imediata de 
princípios constitucionais. 
 21 
 
Além disso, o sobrestamento de processo criminal, sem previsão legal de 
suspensão do prazo prescricional, impede o exercício da pretensão punitiva pelo 
Ministério Público e gera desequilíbrio entre as partes. Desse modo, fere a 
prerrogativa institucional do Parquet e o postulado da paridade de armas, violando 
os princípios do contraditório e do devido processo legal. 
 
Afirmou, ainda, que o princípio da proporcionalidade opera tanto na esfera de 
proteção contra excessos estatais quanto na proibição de proteção deficiente. No 
caso, flagrantemente violado pelo obstáculo intransponível à proteção de direitos 
fundamentais da sociedade de impor sua ordem penal. 
 
Observou que a interpretação conforme à Constituição, segundo os limites 
reconhecidos pela jurisprudência do STF, encontra-se preservada. A exegese 
proposta não implica violação à expressão literal do texto infraconstitucional, 
tampouco à vontade do legislador, considerando a opção legislativa que fixou todas 
as hipóteses de suspensão da prescrição da pretensão punitiva previstas no 
ordenamento jurídico nacional, qual seja, a superveniência de fato impeditivo da 
atuação do Estado-acusador. 
 
Aduziu que o sobrestamento de processos penais determinado em razão da 
adoção da sistemática da repercussão geral não abrangerá inquéritos policiais ou 
procedimentos investigatórios conduzidos pelo Ministério Público. O § 5º do art. 
1.035 do CPC prevê apenas a possibilidade de suspensão dos processos pendentes 
que versarem sobre a questão debatida e tramitarem no território nacional, não 
ostentando os mencionados expedientes de investigação a natureza jurídica de 
processo, mas sim de procedimento. 
 
Acrescentou que o sobrestamento de processos penais determinado em razão da 
adoção da sistemática da repercussão geral tampouco abrangerá ações penais em que 
haja réu preso provisoriamente. Não se mostra admissível, sob pena de ampliação 
injustificada do período de restrição do direito de liberdade do acusado, que a 
segregação processual perdure enquanto estiver suspenso o curso da marcha 
processual e do prazo prescricional concernente às infrações penais cogitadas. 
 
Além disso, registrou que, em qualquer caso de sobrestamento de ação penal 
determinado com fundamento no art. 1.035, § 5º, do CPC, o juízo de piso poderá, a 
partir de aplicação analógica do disposto no art. 92, “caput”, do Código de Processo 
Penal (CPP), autorizar, no curso da suspensão, a produção de provas de natureza 
urgente. 
 
Vencidos os ministros Edson Fachin e Marco Aurélio. 
 
O ministro Edson Fachin rejeitou a questão de ordem por entender ser 
necessária lei em sentido formal para que o fenômeno da suspensão seja reconhecido 
como causa interruptiva da prescrição. 
 
O ministro Marco Aurélio assentou a inconstitucionalidade do art. 1.035, § 5º, 
do CPC por afronta ao art. 5º, XXXV, da CF. Além disso, reputou não ser o referido 
dispositivo aplicável ao processo-crime, tendo em conta o art. 3º do CPP, por ser 
com ele incompatível. 
 
(1) CPC/2015: “Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso 
extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos termos deste artigo. (...) 
§5o Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal determinará a suspensão do 
processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no 
território nacional”. 
(2) CP/1940: “Art. 116. Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: I - enquanto não 
resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime”. 
 
 22 
RE 966177 QO RG/RS, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 7.6.2017. 
(Informativo 868, Plenário, Repercussão Geral) 
 
 1ª Parte: 2ª Parte: 3ª Parte: 
 
 23 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
Competência 
 
Início de investigação e conexão 
A Primeira Turma, por maioria, denegou ordem em habeas corpus em que se 
pretendia revogar a prisão do condenado, ao argumento da incompetência da Justiça 
Federal de Curitiba/PR para o julgamento de processo-crime relativo aos delitos de 
estupro de vulnerável e de produção, armazenamento e disseminação de pornografia 
infanto-juvenil praticados na residência do paciente em São Paulo. 
 
O Colegiado pontuou que todas as investigações tiveram início em Curitiba, 
onde os pedófilos foram presos, a partir das quais foi possível chegar ao paciente e 
ao site russo pelo qual era disseminada a pornografia infanto-juvenil. 
 
Ressaltou que os investigados trocavam informações no eixo Curitiba–São 
Paulo, o que evidencia a conexão entre os crimes de uns e de outros. Em razão disso, 
a Turma concluiu não haver ofensa ao princípio do juiz natural. 
 
Vencido o ministro Marco Aurélio (relator), que concedeu a ordem para 
assentar a competência da Justiça Federal de São Paulo, declarando insubsistentes as 
decisões formalizadas pelo juízo de Curitiba. Asseverou que o fato de informações 
prestadas em investigação instaurada perante o aludido juízo terem levado ao 
paciente não foi suficiente para ensejar conexão probatória entre os crimes. 
 
 
HC 135883/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de 
Moraes, julgamento em 6.6.2017. 
(Informativo 868, 1ª Turma) 
 
Prevenção 
 
Colaboração premiada: prevenção e conexão 
Quanto à prevenção da relatoria, o Supremo Tribunal Federal (STF), por 
unanimidade, negou provimento ao agravo regimental. 
 
Inicialmente, o Plenário fez uma cronologia da tramitação dos feitos relacionados à 
operação Lava Jato. Registrou que, nos termos do art. 69 do Regimento Interno do Supremo 
Tribunal Federal (RISTF), as ações e os recursos que tratam de fatos conexos ao objeto da 
Rcl 17.623/PR foram aglutinados sob a mesma relatoria, entre os quais figuram o Inq 
3.883/PR e o Inq 4.112/DF, então distribuídos ao ministro Teori Zavascki. Em razão do 
falecimento do ministro Zavascki e da posterior opção, por ato da ministra presidente 
Cármen Lúcia, para integrar a Segunda Turma do STF, o ministro Edson Fachin foi 
designado, por sorteio, como relator da aludida operação. 
 
A redistribuição dos feitos a sua relatoria foi materializada nos autos dos citados 
inquéritos; pois, à época, a Rcl 17.623/PR já estava arquivada, diante do trânsito em julgado 
da decisão de mérito. Por isso, tais inquéritos, desde então, vêm sendo utilizados como 
referência à distribuição por prevenção ao relator dos feitos relacionados à operação Lava 
Jato, importando afirmar que a correta delimitação do parâmetro de aferição das causas de 
modificação da competência (conexão e continência) deve ter por referência seus 
predecessores. 
 
Em seguida, teceu considerações acerca do instituto da colaboração premiada, 
necessárias ao correto desate da controvérsia quanto à prevenção. Nesse sentido, ressaltou 
que, no seio da avença, o colaborador presta declarações perante a autoridade policial e/ou o 
 24 
Ministério Público com vistas a um ou mais resultados elencados nos incisosdo art. 4º da 
Lei 12.850/2013. Não raro, como ocorre na hipótese em análise, relata-se mais de um fato 
delituoso em contextos não necessariamente imbricados. 
 
Ponderou que, apesar de a Corte ter decidido, no Inq 4.130 QO/PR (DJE de 
3.2.2016), que o juízo homologador do acordo não é, necessariamente, competente para o 
processamento de todos os fatos relatados, existindo, entretanto, entre esses episódios, ao 
menos um em que se verifique a presença de conexão com objeto de feito previamente 
distribuído, faz-se imperiosa a observância da regra prevista no art. 79, caput (1), do Código 
de Processo Penal (CPP), a demandar a distribuição por prevenção, nos exatos termos do 
art. 69, caput, do RISTF. 
 
Com efeito, verificada a existência de liame de natureza objetiva, subjetiva ou 
probatória entre o conteúdo de termos de depoimento prestados pelo colaborador e o objeto 
de investigação em curso, incumbe à autoridade judicial responsável pela supervisão do 
procedimento investigatório, por força da prevenção, homologar o acordo de colaboração 
celebrado e adotar, subsequentemente, as providências acerca de cada fato relatado. Tal 
conclusão resguarda o jurisdicionado dos efeitos da litispendência e da coisa julgada. 
 
O Colegiado frisou ser o juízo prevento o detentor de condições mais adequadas para 
analisar os pontos de contato entre as declarações dos colaboradores e as outras 
investigações em curso, impondo, se for o caso, a tramitação conjunta. 
 
Ressaltou que o pano de fundo da controvérsia está na homologação dos acordos de 
colaboração premiada celebrados entre integrantes de grupo empresarial e o Ministério 
Público Federal (MPF). Conforme requerimento ministerial na Pet 7.003/DF, no momento 
em que submetidos à homologação judicial, noticiou-se a existência, entre os termos de 
depoimento prestados, de fatos envolvendo autoridades com foro por prerrogativa de 
função no STF, entre os quais se identificaram procedimentos já distribuídos ao relator com 
objetos conexos. Salientou que, embora da narrativa exposta pelo MPF não seja possível 
constatar a prática de atos em detrimento da Petrobras S.A. – parâmetro inicialmente 
utilizado pela Corte para definir os limites da operação de repercussão nacional (Inq 
4.130/PR) e, por conseguinte, a prevenção –, não se verifica qualquer mácula na 
distribuição do pedido de homologação dos acordos de colaboração. 
 
Lembrou, ademais, que a jurisprudência da Corte orienta-se no sentido de ser a 
fixação da competência de um ministro para relatar causas e recursos um assunto atinente à 
organização interna do Tribunal e, portanto, indisponível ao interesse das partes. Cuida-se 
de ato privativo da Presidência do STF, na qualidade de órgão supervisor da distribuição, e, 
como tal, de mero expediente, a atrair a incidência do art. 504 do Código de Processo Civil. 
 
Quanto ao caso em tela, afirmou que, conforme relatório da decisão proferida na Pet 
7.003/DF em 18.5.2017, o colaborador, em seus termos de depoimento, relata, entre outros 
fatos, o sistema de conta-corrente que teria como beneficiário ex-parlamentar. Este, por 
sua vez, atuaria em favor de grupo empresarial em questões relativas a financiamentos 
da Caixa Econômica Federal (CEF), especialmente no âmbito do Fundo de Investimento 
do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS). O acordo de colaboração 
premiada submetido à homologação do STF, por conter menção a autoridades 
detentoras de foro por prerrogativa, demonstra evidente relação de conexidade com o 
objeto do Inq 4.266, deflagrado para apurar as condutas supostamente delituosas 
praticadas pelo então deputado federal em detrimento do FI-FGTS, administrado pela CEF. 
 
Considerou, ainda, que, embora o aludido inquérito tenha sido baixado ao primeiro 
grau de jurisdição, pois o investigado não mais ocupa o cargo que lhe garantia a 
prerrogativa de foro no STF, o art. 74, § 1º, do RISTF estabelece que “o inquérito ou a ação 
 25 
penal, que retornar ao Tribunal por restabelecimento da competência por prerrogativa de 
foro, será distribuído ao Relator original”. Em outras palavras, caso o investigado incorra 
em qualquer das situações jurídicas previstas no art. 102, I, “b” e “c”, da Constituição 
Federal (CF), os autos devem retornar ao ministro Fachin, na qualidade de sucessor do 
ministro Teori Zavascki no que toca à cadeia de prevenção estabelecida com a distribuição 
da Rcl 17.623/DF. 
 
Por todas essas razões, o Plenário julgou não se verificar qualquer ilegalidade na 
distribuição por prevenção do pedido de homologação do acordo de colaboração premiada 
em análise, diante da evidente existência de fatos relatados conexos com investigações em 
curso sob sua relatoria. 
 
Entendeu não se poder falar, ainda, em violação ao princípio do juiz natural no 
tocante às providências adotadas na decisão proferida em 18.5.2017, relativamente às 
pessoas mencionadas nos depoimentos dos colaboradores e desprovidas de foro por 
prerrogativa na Suprema Corte. Constatado o envolvimento de alguma das autoridades 
elencadas no art. 102, I, “b” e “c”, da CF, cabe ao STF decidir, com exclusividade, sobre a 
permanência da investigação ou da ação penal deflagrada em desfavor das demais pessoas 
não submetidas à jurisdição criminal originária prevista no citado dispositivo constitucional, 
adotando-se, como regra, o desmembramento, salvo nas hipóteses em que a cisão possa 
causar prejuízo relevante. 
 
Desse modo, tendo em vista que os termos de depoimento prestados pelo colaborador 
fazem parte de um mesmo acordo de colaboração premiada, os fatos dos quais não há 
notícia de participação de autoridade detentora de foro por prerrogativa no STF, além 
daqueles em que não se observa qualquer relação de conexidade com investigações ou 
ações penais em curso, devem ser encaminhados para tratamento adequado perante a 
autoridade jurisdicional competente. 
 
Na hipótese em concreto, tendo em conta que o agravante atualmente ocupa o cargo 
de governador do Estado do Mato Grosso do Sul e que os fatos a ele relacionados não se 
afiguram conexos com quaisquer investigações ou ações penais em curso no STF, o 
ministro Fachin autorizou o procurador-geral da República a utilizar os respectivos termos 
de depoimento perante o Superior Tribunal de Justiça, órgão do Poder Judiciário 
competente, nos termos do art. 105, I, “a”, da CF, para o adequado tratamento dos fatos em 
observância às garantias constitucionais aplicáveis. 
 
Por fim, concluiu não haver qualquer mácula no procedimento adotado na Pet 
7.003/DF, seja na sua distribuição por prevenção, seja nas providências deferidas na decisão 
de 18.5.2017. 
 
(1) CPP: “Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:” 
 
Pet 7074 QO/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 21, 22, 28 e 29.6.2017. 
Pet 7074/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 21, 22, 28 e 29.6.2017. 
(Informativo 870, Plenário) 
 
1ª Parte: 2ª Parte: 3ª Parte: 4ª Parte: 
5ª Parte: 6ª Parte: 7ª Parte: 
 
1ª Parte: 2ª Parte: 3ª Parte: 4ª Parte: 
5ª Parte: 6ª Parte: 7ª Parte: 8ª Parte: 
9ª Parte: 10ª Parte: 
 
 
 
 
 26 
Prisão Preventiva 
 
Súmula 691/STF e supressão de instância 
A Segunda Turma, por maioria, não conheceu de pedido de habeas corpus em que 
se pretendia revogar a prisão preventiva do paciente acusado da prática dos delitos de 
lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa. 
 
No caso, o writ foi impetrado contra decisão monocrática de ministro do Superior 
Tribunal de Justiça (STJ) na qual se indeferiu liminar requerida nos autos de recurso 
ordinário em habeas corpus em trâmite

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