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Processo Penal Thiago 31 10 12 Parte1

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THIAGO PEDRO PAGLIUCA DOS SANTOS 
Recursos e Ações Impugnativas Autônomas no Processo Penal 
RECURSOS E AÇÕES IMPUGNATIVAS AUTÔNOMAS NO PROCESSO PENAL 
 
Aula ministrada na Verbo Jurídico em 31/10/12 para os cursos de Analista - DPE/RS e Procurador 
do Município de Porto Alegre 
Professor: Thiago Pedro Pagliuca dos Santos1 
 
 
I. Conceito 
 
 O recurso pode ser definido como um instrumento legal pelo qual as partes (ou, em casos 
excepcionais, expressamente previstos em lei, terceiros) prejudicadas com determinada decisão 
e que tenham interesse jurídico em modificá-la, anulá-la ou esclarecê-la poderão requerer o seu 
reexame, dentro de uma mesma relação processual, para um outro órgão jurisdicional (ou, em 
alguns casos, para o mesmo órgão jurisdicional), desde que não tenha havido trânsito em 
julgado da decisão que se queira combater. 
 
 De tal conceito podem-se extrair algumas conclusões: a) o reexame necessário (ou recurso 
ex officio) não é recurso; b) as ações impugnativas, por serem ações autônomas (isto é, fora de 
uma relação processual anterior) e poderem ser ajuizadas inclusive após o trânsito em julgado de 
uma decisão, não são recursos, muito embora a revisão criminal e o habeas corpus estejam 
inseridas equivocadamente no Livro III, Título II, CPP, que trata dos recursos. 
 
 As justificativas para a existência de recursos são: a) a falibilidade humana; b) necessidade 
psicológica, daquele que foi prejudicado com a decisão, de recorrer; c) a necessidade de um 
grupo de julgadores mais experientes (e, teoricamente, mais habilitados à decisão) rever o 
julgamento. 
 
II. Classificação dos recursos 
 
 a) Recursos ordinários e extraordinários: os primeiros são aqueles destinados à discussão de 
matéria de direito e matéria de fato, sendo possível a revaloração das provas sem maiores 
problemas (por exemplo: recurso de apelação, recurso ordinário constitucional). Os últimos têm 
por finalidade o reexame da matéria de direito, apenas (por exemplo: recurso especial, recurso 
extraordinário). 
 
 b) Recursos totais e parciais: no primeiro caso, dirigem-se contra a decisão inteira; no 
último, contra parte da decisão. 
 
 c) Recursos voluntários e de ofício: embora tal classificação esteja prevista em alguns 
autores, os “recursos de ofício” não se enquadram no conceito de recurso. 
 
 d) Recursos de fundamentação livre e de fundamentação vinculada: os primeiros têm como 
pressuposto uma decisão jurídica que cause gravame e seja recorrível. Os últimos necessitam de 
 
1Defensor Público do Estado do Rio Grande do Sul, Mestrando em Direito Penal pela Universidade de São Paulo e 
Professor da Verbo Jurídico. E-mail: thiagoppsantos@hotmail.com . 
 
 
 
 
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uma decisão jurídica que cause um gravame especificamente previsto na lei (por exemplo, 
apelação contra decisão do Tribunal do Júri, que tem como pressuposto não apenas o gravame, 
mas também a existência de uma das situações do art. 593, inc. III, CPP). 
 
III. Princípios recursais 
 
 a) Duplo grau de jurisdição: 
 
 Esse princípio não está previsto explicitamente na Constituição Federal. Há quem diga que 
a Constituição Federal, ao estruturar os órgãos jurisdicionais da forma como o faz, e ao garantir, 
no art. 5O, LV, o contraditório e a ampla defesa “com os meios e recursos a ela inerentes” , 
prevê implicitamente tal princípio (Gustavo Badaró, Gustavo Junqueira). Outros discordam de 
tal posicionamento, asseverando que a CF não prevê, sequer implicitamente, o princípio do 
duplo grau de jurisdição (Aury Lopes Jr.). 
 
 Mesmo para os primeiros, prevalece o entendimento de que a própria Constituição 
poderia excepcionar a si própria, razão pela qual não seria inconstitucional a inexistência 
de recurso contra decisão tomada pelo próprio Supremo Tribunal Federal (ou a 
inexistência de recurso ordinário contra decisão tomada por Tribunais), em processo de sua 
competência originária (vide caso do “Mensalão”). 
 
 Para dar um tempero a mais para o problema, o duplo grau de jurisdição está previsto 
expressamente na Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa 
Rica, art. 8O, item 2, alínea h – Decreto 678/92), a qual tem status de norma supralegal 
(posicionamento atual do STF). Muitos advogados do caso “Mensalão” estão inclusive 
cogitando a hipótese de levar o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
sustentando a afronta ao dispositivo citado da Convenção. 
 
 O duplo grau de jurisdição, para muitos, envolveria: a) a colegialidade – necessidade de a 
questão (fática ou jurídica) ser apreciada por mais de um julgador, o que fundamentaria 
inclusive a necessidade do agravo regimental contra decisão monocrática (Cássio Scarpinela 
Bueno); b) a necessidade de o julgamento do recurso ser feito por órgão jurisdicional diverso (e 
hierarquicamente superior) do que prolatou a decisão; c) a possibilidade de o órgão julgador do 
recurso apreciar não apenas questões de direito, mas também matéria de fato, com ampla 
revaloração da prova. 
 
 b) Taxatividade: 
 
 Tal “princípio” decorre da Constituição Federal, quando dispõe competir privativamente à 
União legislar sobre direito processual. Apenas lei federal poderia criar recursos. 
 
 Para Paulo Rangel, tal princípio decorre da “segurança jurídica” e da necessidade de se dar 
um fim aos litígios. 
 
 Para Eugênio Pacelli, a taxatividade não é um princípio, muito embora possa ser útil, como 
regra jurídica, no que se refere às decisões interlocutórias. 
 
 
 
 
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 Isso porque, no processo penal, por ora, vigora a irrecorribilidade das decisões 
interlocutórias. Assim, por exemplo, se não houver previsão expressa de recurso para 
desafiar determinada decisão, por causa do “princípio” da taxatividade, o recurso será 
inviável (é o caso, por exemplo, da decisão que recebe a denúncia, a qual é irrecorrível. Quando 
a decisão for irrecorrível e causar ameaça ou lesão à liberdade individual, porém, caberá 
impetração de habeas corpus). 
 
 Não obstante reconheça a doutrina, salvo raras exceções, a vigência de tal “princípio” - o da 
taxatividade -, fato é que inúmeros recursos (como a correição parcial, como se verá adiante) 
são previstos apenas regimentalmente e ninguém questiona de modo veemente sua validade. 
 
 c) Fungibilidade: 
 
 Está previsto no art. 579, CPP: “Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada 
pela interposição de um recurso por outro. Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a 
impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do 
recurso cabível”. 
 
 Paulo Rangel explica que esse princípio é também conhecido como “teoria do recurso 
indiferente” ou teoria do “tanto vale”. 
 
 A legislação processual só afasta o princípio da fungibilidade em caso de má-fé (não fala em 
erro grosseiro). A jurisprudência, no entanto, entende que o erro grosseiro e a interposição 
do recurso intempestivamente (tendo como parâmetro o prazo do recurso devido) seriam 
indicativos de má-fé. 
 
 Quanto à necessidade de o recurso inadequado ser interposto no prazo do recurso adequado, 
parte da doutrina doutrina critica esse entendimento (Gustavo Badaró). Não obstante, ele é 
aceito pela jurisprudência. 
 
 Exemplo: o recurso correto é o de embargos de declaração (prazo de 2 dias), mas a parte 
interpõe agravo regimental (prazo de 5 dias). Tal recurso só será conhecido se interposto no 
prazo menor (de 2 dias). 
 
 d) Voluntariedade: 
 
 “Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser 
interpostos, de ofício, pelo juiz:...” (art. 574, caput, CPP).Em outras palavras, não há obrigatoriedade em recorrer (sequer o Ministério Público tem 
essa obrigatoriedade, embora não possa desistir de recursos já interpostos, pois há vedação 
expressa no art. 576, CPP). 
 
 A parte só recorre se quiser. Em se tratando de recurso a ser interposto pelo réu, defensor e 
réu têm legitimidade disjuntiva, ou seja, prevalece a vontade de quem quer recorrer. A renúncia 
 
 
 
 
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ao direito de recorrer, pelo réu, não impede seja conhecido o recurso interposto pelo defensor 
(constituído, público ou dativo), conforme súmula 705, STF. Da mesma forma, a renúncia, pelo 
defensor, ao direito de recorrer, não impede que o réu, por si, recorra. Nesse caso, o defensor 
será intimado para apresentar razões. 
 
 Os casos que a lei prevê o reexame necessário (ou recurso ex officio) não são 
verdadeiramente recursos, mas condição impeditiva do trânsito em julgado de uma decisão 
(Súmula 423, STF, e STJ, Resp 767535/PA, 11/12/2009). A doutrina mais garantista sustenta a 
inconstitucionalidade do reexame necessário, por duas razões principais: a) afronta ao sistema 
acusatório (art. 129, inc. I, CF); b) afronta à isonomia, visto que o autoritário CPP prevê 
reexame necessário apenas para decisões desfavoráveis ao réu. 
 
 Os casos de reexame necessário referem-se às seguintes decisões: a) decisão que concede a 
reabilitação criminal (art. 746, CPP); b) sentença que concede habeas corpus (art. 574, inc. I, 
CPP – veja que a lei fala em sentença, não se aplicando aos acórdãos que concedem habeas 
corpus); c) decisão absolutória e de arquivamento de inquérito em processos submetidos à Lei 
1521/51 (crimes contra a economia popular), conforme art. 7O da referida lei; d) decisão que 
absolve sumariamente o réu em procedimento do Tribunal do Júri (importante: há divergência 
doutrinária sobre a manutenção dessa hipótese de reexame necessário no ordenamento 
jurídico, pois, muito embora permaneça inalterado o art. 574, inc. II, CPP, o art. 411, CPP, que 
previa tal reexame antes da Lei 11.689/08, foi alterado por esse diploma legal). 
 
 Uma dica para lembrar dos casos de reexame necessário no momento da prova: o CPP, por 
ser extremamente autoritário (é de 1941, fundamentado no Código italiano fascista de 1930) 
prevê recursos de ofício apenas contra o réu. 
 
 e) Proibição da reformatio in pejus: 
 
 O art. 617, CPP, dispõe que o tribunal não poderá agravar a pena quando somente o réu 
houver apelado da sentença. Muito embora a legislação fale em “apelação”, é tranquilo o 
entendimento de que tal princípio se aplica em todos os recursos (e também em ações 
impugnativas autônomas). 
 
 Esse princípio decorre da ampla defesa e do duplo grau de jurisdição. 
 
 Há reformatio in pejus direta nos casos em que o tribunal, após recurso exclusivamente 
defensivo, agrava diretamente a posição jurídica do réu. Essa, sem sombra de dúvidas, é vedada. 
 
 A reformatio in pejus indireta, por sua vez, ocorre quando o tribunal anula uma sentença 
condenatória, após recurso exclusivamente defensivo, e o juiz, ao proferir outra sentença em 
substituição à primeira, agrava a situação jurídica do acusado (aumentando sua pena, prevendo 
regime inicial mais gravoso ou deixando de conceder algum benefício). 
 
 Doutrina e jurisprudência majoritárias entendem que a reformatio in pejus indireta também 
está vedada pelo ordenamento jurídico (há respeitosa doutrina em sentido contrário, como Paulo 
Rangel). 
 
 
 
 
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 A reformatio in pejus no Tribunal do Júri pode ocorrer, por exemplo, quando o réu é 
pronunciado por homicídio qualificado e condenado por homicídio simples. O Ministério 
Público não recorre da decisão. O réu recorre, com fundamento no art. 593, inc. III, alínea a. O 
Tribunal de Justiça dá provimento ao recurso, anula a decisão e submete o réu a novo 
julgamento. O novo Conselho de Sentença, dessa vez, condena o réu nos termos da pronúncia 
(ou seja, por homicídio qualificado), prejudicando sobremaneira sua situação jurídica. Nesses 
casos, é evidente que há reformatio in pejus indireta. Mas seria ela vedada? Há dois 
posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais, sem prevalência de um sobre outro: a) como a 
soberania dos veredictos é princípio constitucional, pode haver a reformatio in pejus indireta, 
devendo o novo julgamento ser respeitado, embora agrave a pena do réu (Eugênio Pacelli, Paulo 
Rangel, 5a Turma do STJ); b) o princípio da soberania dos veredictos deve ser afastado, em prol 
da ampla defesa, razão pela qual, também nesses casos, incide a vedação da reformatio in pejus 
indireta (até porque tanto a ampla defesa como a soberania dos veredictos são garantias 
constitucionais dos acusados). Nesse sentido está o recente posicionamento do STF: 
 
EMENTA: AÇÃO PENAL. Homicídio doloso. Tribunal do Júri. Três julgamentos da mesma 
causa. Reconhecimento da legítima defesa, com excesso, no segundo julgamento. 
Condenação do réu à pena de 6 (seis) anos de reclusão, em regime semi-aberto. 
Interposição de recurso exclusivo da defesa. Provimento para cassar a decisão anterior. 
Condenação do réu, por homicídio qualificado, à pena de 12 (doze) anos de reclusão, em 
regime integralmente fechado, no terceiro julgamento. Aplicação de pena mais grave. 
Inadmissibilidade. Reformatio in peius indireta. Caracterização. Reconhecimento de outros 
fatos ou circunstâncias não ventilados no julgamento anterior. Irrelevância. Violação 
conseqüente do justo processo da lei (due process of law), nas cláusulas do contraditório e 
da ampla defesa. Proibição compatível com a regra constitucional da soberania relativa 
dos veredictos. HC concedido para restabelecer a pena menor. Ofensa ao art. 5º, incs. LIV, 
LV e LVII, da CF. Inteligência dos arts. 617 e 626 do CPP. Anulados o julgamento pelo 
tribunal do júri e a correspondente sentença condenatória, transitada em julgado para a 
acusação, não pode o acusado, na renovação do julgamento, vir a ser condenado a pena 
maior do que a imposta na sentença anulada, ainda que com base em circunstância não 
ventilada no julgamento anterior (HC 89544 / RN - RIO GRANDE DO NORTE, Relator(a): 
Min. CEZAR PELUSO, Julgamento: 14/04/2009, Órgão Julgador: Segunda Turma) 
 
 Em suma, não há resposta objetivamente correta quando à vedação ou não da reformatio in 
pejus indireta no Tribunal do Júri. Depende do posicionamento doutrinário adotado. Em provas de 
Defensoria Pública, melhor dizer que a reformatio in pejus, também no procedimento do júri, é 
vedada. 
 
 Avancemos. 
 
 A reformatio in mellius é admitida pela maior parte da doutrina, e pode ocorrer quando 
apenas a acusação recorre da decisão condenatória (para majorar a pena, por exemplo) e o Tribunal, 
além de não dar provimento ao recurso da acusação, absolve, de ofício, o réu, ou reconhece 
nulidade absoluta em seu favor ou, de qualquer forma, o beneficia, ainda que ele não tenha 
recorrido. Os argumentos favoráveis à reformatio in mellius são os seguintes: a) o art. 617, CPP, 
 
 
 
 
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trata apenas dos recursos interpostos pela defesa; b) o Tribunal pode inclusive conceder habeas 
corpus de ofício, razão pela qual não se poderia impedi-lo de conhecer nulidade absoluta em favor 
do réu; c) o Judiciário é responsável por evitar erros judiciários; seria absurdo que o Tribunal, 
diante de causa manifesta de absolvição, tivesse que manter a condenação tão somente porque o 
defensor do réu foi negligente e não recorreu. 
 
 Sobre a reformatio in pejus há a súmula 160, STF: “É nula a decisão do tribunal que acolhe, 
contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvadosos casos de recurso de 
ofício”. 
 
 f) Unirrecorribilidade (ou unicidade): 
 
 Das decisões judiciais cabe apenas um recurso. É o que a doutrina extrai do art. 593, §4o, 
CPP: “quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que 
somente de parte da decisão se recorra”. 
 
 Mas há exceções. A mais clara é a da possibilidade de interposição de Recurso 
Extraordinário e Recurso Especial simultaneamente. 
 
IV. Pressupostos (ou requisitos) recursais 
 
 O julgador, ao apreciar um recurso, irá primeiro verificar se o direito ao recurso existe no 
caso concreto e se foi devidamente exercido (ou seja, analisará os requisitos ou pressupostos 
recursais), ou seja, fará o juízo de admissibilidade recursal. 
 
 O juízo de admissibilidade recursal é feito tanto pelo Juízo a quo (o prolator da decisão) 
como pelo Tribunal ad quem (o órgão que irá julgar o recurso). 
 
 O juízo de admissibilidade positivo feito pelo Juízo a quo não vinculará o Tribunal ad quem. 
Ainda que aquele dê seguimento ao recurso, este pode entender estar ausente algum de seus 
pressupostos e não conhecer do recurso interposto. 
 
 Caso o Juízo a quo julgue inadmissível o recurso, será possível a interposição de outro 
recurso para fazer com que o Tribunal ad quem faça o juízo de admissibilidade (por exemplo, se o 
Juízo a quo entender inadmissível uma apelação, caberá recurso em sentido estrito; se o presidente 
do Tribunal de Justiça entender inadmissível o recurso especial ou extraordinário, caberá agravo; se 
o Juízo a quo entender inadmissível um agravo em execução, caberá carta testemunhável etc.). 
 
 Caso o juízo de admissibilidade seja positivo, diz-se que o recurso foi conhecido. Superada a 
questão do juízo de admissibilidade, passa-se à análise do mérito recursal. Se entender que o 
recorrente tem razão, o Tribunal dará provimento ao recurso. A análise do mérito cabe única e 
exclusivamente ao Tribunal ad quem (exceto nos recursos que tenham efeito regressivo. Por 
exemplo, em recurso em sentido estrito, o próprio juízo a quo pode modificar sua decisão, algo que 
não ocorre na apelação). 
 
 Os pressupostos recursais objetivos são: 
 
 
 
 
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 a) cabimento (o recurso tem que estar previsto na legislação – decorrência do princípio da 
taxatividade); 
 
 b) adequação (o recurso interposto deve ser o cabível. Esse pressuposto é mitigado pelo 
princípio da fungibilidade); 
 
 c) tempestividade - nos recursos de apelação, agravo em execução, e em sentido estrito – 
únicos recursos em que a interposição é feita num momento e as razões são apresentadas em outro – 
deve ser avaliada a tempestividade da interposição, e não da apresentação das razões. Se apenas as 
razões forem apresentadas fora do prazo, o recurso não será intempestivo. Como tanto o defensor 
como o réu são, em regra, intimados da decisão, o prazo recursal começa a correr a partir da última 
intimação. Assim, por exemplo, se o Defensor Público, que tem prazo em dobro, interpõe recurso de 
apelação 11 (onze) dias após a sua intimação, o recurso será intempestivo? Depende. Se o réu foi 
intimado pessoalmente na mesma data (ou antes) que o Defensor Público e não manifestou seu 
desejo de recorrer, o recurso será intempestivo. Porém, se a intimação pessoal do réu ocorreu, por 
exemplo, dois dias depois da intimação do Defensor Público, não haverá intempestividade, pois o 
prazo recursal terá se iniciado da data da intimação do réu e, como o Defensor Público tem prazo 
em dobro, teria 10 (dez) dias, a partir da intimação daquele, para recorrer. Importante a súmula 710, 
STF: “No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do 
mandado ou da carta precatória ou de ordem”. 
 
 d) inexistência de fatos impeditivos (que ocorrem antes da interposição, como a renúncia) e 
extintivos (que ocorrem após a interposição, como a desistência). A deserção (fato impeditivo ou 
extintivo) pela fuga do réu já não mais subsiste. Subsiste apenas a deserção pela ausência de 
recolhimento de custas e preparo do recurso, desde que se trate de ação penal privada e o querelante 
não seja pobre. Sobre os fatos impeditivos de recurso, há importante súmula do Supremo: “A 
renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não impede o 
conhecimento da apelação por este interposta” (Súmula 705, STF). 
 
 e) motivação - embora alguns autores defendam que a motivação é um pressuposto objetivo 
do recurso, não há como olvidar que o próprio CPP, no art. 601, estabelece que o recurso de 
apelação subirá ao Tribunal com ou sem as razões. Em decorrência dos princípios da ampla defesa e 
do contraditório, a jurisprudência vem determinando, em casos de recursos que chegam sem suas 
razões, que os autos baixem ao Juízo a quo para que Defensor Público ou dativo apresente as razões. 
 
 Os pressupostos recursais subjetivos são: 
 
 a) interesse - o acusado terá interesse jurídico em recorrer para modificar o fundamento da 
decisão, desde que haja reflexos jurídicos (por exemplo, reflexos no direito civil ou administrativo). 
Exemplo: alguém foi condenado por ausência de provas suficientes para a condenação – art. 386, 
inc. VII -, e recorre para que o Tribunal reconheça que ficou provado que ele não participou do 
crime – art. 386, inc. IV, CPP. O acusado também terá interesse em recorrer de sentença absolutória 
que lhe tenha aplicado medida de segurança. Por outro lado, não poderá recorrer apenas para 
discutir tese jurídica. Prevalece que o Ministério Público tem legitimidade para recorrer em favor do 
réu (até porque pode impetrar habeas corpus em seu favor – art. 564, caput, CPP), muito embora 
 
 
 
 
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haja divergência doutrinária a respeito. Pela possibilidade há antigo julgado do Superior Tribunal de 
Justiça: 
 
RESP - PROCESSUAL PENAL - MINISTERIO PUBLICO - RECURSO EM FAVOR DO 
REU - LEGITIMIDADE - O MINISTERIO PUBLICO, COMO INSTITUIÇÃO, NÃO E 
ACUSADOR, NO SENTIDO VULGAR DO TERMO. TECNICAMENTE, POR IMPERATIVO 
CONSTITUCIONAL, FAZ A IMPUTAÇÃO, PARA AVERIGUAR, PRESENTES O 
CONTRADITORIO E A DEFESA PLENA, O FATO, COM TODAS AS CIRCUNSTANCIAS. 
JURIDICAMENTE, NÃO ESTA JAMAIS CONTRA O REU. AO CONTRARIO, 
CONFLUEM INTERESSES, A FIM DE EVITAR O ERRO JUDICIARIO. BUSCA A 
VERDADE REAL, A DECISÃO JUSTA. EM CONSEQUENCIA, EVIDENCIA-SE A 
LEGITIMIDADE PARA RECORRER EM FAVOR DO REU (REsp 10715 / PR, Rel. Luiz 
Cernicchiaro, 07/04/1992) 
 
 b) legitimidade - A legitimidade do acusado e do seu defensor é disjuntiva e autônoma, 
como já visto. Prevalece a vontade daquele que quer recorrer. O Ministério Público não pode 
recorrer pelo querelante contra decisão absolutória em ação penal privada (mas poderá recorrer para 
agravar a pena ou para pedir a absolvição, quando a sentença for condenatória). O ofendido pode 
recorrer, nas ações penais públicas, seja ele habilitado ou não como assistente da acusação. No 
primeiro caso, o prazo será o mesmo do MP. No último caso, ele poderá recorrer em 15 dias, 
contados do término do prazo do MP. 
 
V. Efeitos recursais 
 
 Os efeitos recursais são: 
 
 a) devolutivo: significa dizer que a matéria discutida no Juízo a quo irá ser submetida 
(“devolvida”) ao Juízo ad quem. A devolutividade pode ser ampla (por exemplo, apelação) ou 
restrita (por exemplo, recurso extraordinário). Todos os recursos têm efeito devolutivo (por menor 
que seja), com exceção, para alguns, dos embargos de declaração (que não devolvem a matéria para 
um Tribunal superior, mas para o próprio prolator da decisão). 
 
 b) suspensivo: de acordo com a lei 8038/90, os recursos especial e extraordinário teriam 
efeito suspensivo, razão pela qual o Tribunalde Justiça (ou TRF), poderia expedir mandado de 
prisão, em caso de acórdão condenatório, ainda que pendesse o julgamento de RE ou Resp (Súmula 
267, STJ: “A interposição de recurso, sem efeito suspensivo, contra decisão condenatória não obsta 
a expedição de mandado de prisão”). O STF, porém, considera isso inconstitucional, pois fere a 
presunção de inocência (HC 91676/RJ, Tribunal Pleno, 8x2, 12/02/2009). Vários Ministros do 
próprio STJ não aplicam a súmula 267, pela sua manifesta inconstitucionalidade. Assim: 5a Turma, 
HC 112306, Rel. Jorge Mussi, 18/06/2009) . Prisão antes do trânsito em julgado só pode ocorrer se 
estiverem presentes os requisitos da prisão preventiva. Não tem efeito suspensivo o recurso do 
Ministério Público contra decisão absolutória. Se o réu estiver preso, deve ser solto imediatamente. 
 
 c) iterativo (ou regressivo): apenas alguns recursos possuem o efeito regressivo, que consiste 
em permitir ao próprio órgão prolator da decisão que a reveja (para esclarecê-la ou modificá-la). 
Têm efeito regressivo, por exemplo, o recurso em sentido estrito e o agravo em execução penal, que 
 
 
 
 
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permitem o juízo de retratação (art. 589, caput, CPP). 
 
 d) extensivo: de acordo com o princípio da isonomia, não seria correto que, havendo dois 
réus em posição jurídica idêntica, um fosse condenado e o outro não, só porque apenas um interpôs 
recurso. Por essa razão, prevê o art. 580, CPP: “No caso de concurso de agentes, a decisão do 
recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter 
exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros”. A jurisprudência utiliza esse entendimento, por 
analogia, também para as ações impugnativas autônomas (habeas corpus, revisão criminal). 
Cuidado: não haverá efeito extensivo sempre que a decisão for em prejuízo do réu (por exemplo, 
dois réus foram absolvidos. O MP apela apenas em relação a um deles. Não pode o Tribunal 
prejudicar o outro, ainda que isso fira a isonomia) e sempre que, embora pudesse beneficiar o réu, o 
motivo do provimento do recurso seja de caráter exclusivamente pessoal (por exemplo, apelação 
provida pelo réu menor de 21 anos para ver conhecida a atenuante da menoridade relativa. Só 
aproveitará ao outro réu se ele também for menor de 21 anos). 
 
VI. Recurso em sentido estrito 
 
 O recurso em sentido estrito caberá basicamente contra decisões interlocutórias, desde que 
haja previsão expressa em lei. O prazo é de 5 dias para interposição e 2 dias para apresentação 
de razões. A tempestividade é aferida no momento da interposição, e não no momento da 
apresentação das razões. A quase totalidade dos casos em que cabe recurso em sentido estrito está 
prevista no art. 581, CPP: 
 
 I- que não receber a denúncia ou a queixa – importante: quando a decisão receber a 
denúncia ou queixa, não cabe recurso, mas, se for o caso, habeas corpus. De decisão que não recebe 
aditamento à denúncia também cabe recurso em sentido estrito. Se o procedimento estiver sujeito 
à lei 9099/95 (quando se tratar de crime de menor potencial ofensivo), a decisão que não 
recebe denúncia ou queixa está sujeita ao recurso de apelação, que deverá ser interposta, 
juntamente com as razões, no prazo de 10 dias. Importante o teor das súmulas 707 e 709 do STF: 
“Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso 
interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo”. “Salvo quando 
nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, 
desde logo, pelo recebimento dela”. 
 II- que concluir pela incompetência do juízo – quando se conclui pela competência não cabe 
recurso. 
 III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição – exemplos: decisão que julga 
procedente exceção de coisa julgada, litispendência etc. Não cabe recurso contra decisão que julga 
improcedentes as exceções. Também não cabe quando o juiz julga procedente a exceção de 
suspeição, pois, se ele próprio se entende suspeito (e, portanto, parcial), nenhum outro órgão 
poderia dizer que ele não é suspeito. 
 IV – que pronunciar o réu – (importante: a partir de 2008, contra a decisão de impronúncia 
ou absolvição sumária, no âmbito do Tribunal do Júri, caberá apelação!). 
 V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento 
de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante 
 
 
 
 
THIAGO PEDRO PAGLIUCA DOS SANTOS 
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– contra decisão que decreta a prisão preventiva, indefere pedido de liberdade provisória ou de 
relaxamento de prisão não cabe recurso, mas habeas corpus. A única situação deste artigo que diz 
respeito a recurso a ser interposto pelo réu é o que desafia decisão que nega, cassa ou julga inidônea 
a fiança. Na prática, porém, mesmo nesses casos se pode impetrar habeas corpus. 
 VII- que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor; 
 VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade – se a 
decretação da prescrição se deu na sentença, cabe apelação. Se ocorreu em sede de execução penal 
(exemplo: prescrição da pretensão executória), cabe agravo em execução. 
 IX- que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da 
punibilidade – também é possível a impetração de habeas corpus. 
 X- que conceder ou negar a ordem de habeas corpus – o recurso em sentido estrito é cabível 
apenas se a sentença do habeas corpus for proferida em primeira instância. Se se tratar de habeas 
corpus julgado por Tribunal, caberá recurso ordinário constitucional (se a decisão for denegatória) 
ou recurso especial/extraordinária (se a decisão for concessiva ou denegatória, desde que presentes 
os requisitos desses recursos). Lembrar também que, de acordo com o autoritário CPP, cabe 
“recurso de ofício” (ou melhor: reexame necessário) das decisões de primeira instância que 
concedem a ordem de habeas corpus. 
 XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena – em verdade, contra 
a decisão que concede ou nega a suspensão condicional da pena caberá apelação (pois a decisão 
será sentença). Contra a que revoga, agravo em execução penal. 
 XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional; 
 XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte; 
 XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir – único caso em que o PRAZO É 
DE 20 DIAS (art. 586, parágrafo único) 
 XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta; 
 XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial; 
 XVII - que decidir sobre a unificação de penas; 
 XVIII - que decidir o incidente de falsidade; 
 XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado; 
 XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra; 
 XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774; 
 XXII - que revogar a medida de segurança; 
 XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a 
revogação; 
 XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples – essa conversão não é 
mais permitida. 
 Obs. Os incisos sublinhados foram tacitamente revogados. Contra qualquer decisão 
 
 
 
 
THIAGO PEDRO PAGLIUCA DOS SANTOS 
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proferida no âmbito da execução penal será cabível agravo em execução penal (LEP). 
 
 Importante, para provas objetivas, é o disposto no art. 583, CPP: 
 
 “Subirão nos próprios autos os recursos: I - quando interpostos de oficio; II - nos casos do 
art. 581, I [que nãorecebe denúncia/queixa], III [que julga procedente a exceção], IV [que 
pronuncia o réu], VI [que julga quebrada a fiança ou perdido o seu valor], VIII [que julga extinta a 
punibilidade] e X [que conceder ou negar o habeas corpus]; III - quando o recurso não prejudicar o 
andamento do processo. Parágrafo único. O recurso da pronúncia subirá em traslado, quando, 
havendo dois ou mais réus, qualquer deles se conformar com a decisão ou todos não tiverem sido 
ainda intimados da pronúncia”. 
 
 Para lembrar essas hipóteses, deve-se raciocinar da seguinte forma: se a decisão de alguma 
forma extingue o processo, não havendo necessidade de permanecerem os autos com o Juízo a quo, 
o recurso sobe nos próprios autos. Nos outros casos, deve haver a formação do instrumento. 
 
 O efeito suspensivo previsto no art. 584, CPP, subsiste apenas no que tange ao recurso 
interposto contra decisão que decreta a perda da fiança. 
 
 O art. 585, CPP, não mais subsiste. (Art. 585. O réu não poderá recorrer da pronúncia senão 
depois de preso, salvo se prestar fiança, nos casos em que a lei a admitir). 
 
 Artigo importante para as provas objetivas: “Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem 
ela, será o recurso concluso ao juiz, que, dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu 
despacho, mandando instruir o recurso com os traslados que Ihe parecerem necessários. Parágrafo 
único. Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples petição, poderá 
recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz modificá-la. Neste 
caso, independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos próprios autos ou em traslado”. 
 
VII. Agravo em execução penal 
 
O art. 197 da Lei de Execução Penal dispõe: “Das decisões proferidas pelo Juiz caberá 
agravo, sem efeito suspensivo”. Não foi prevista a forma pela qual seria interposto e processado 
esse recurso. A doutrina inicialmente se dividiu. Uns entendiam que deveria ser utilizado, por 
analogia, o agravo de instrumento do processo civil, com o prazo de 10 dias para a interposição. A 
maioria, porém, afirmou que o adequado era utilizar por analogia o rito do recurso em sentido 
estrito. Esse último entendimento é hoje dominante, havendo inclusive a súmula 700 do STF que 
dispõe: “É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da 
execução penal”. 
 
Importante ressaltar que contra qualquer decisão proferida pelo juiz da execução penal será 
este o recurso apropriado. Os dispositivos do CPP que dizem que cabe recurso em sentido estrito 
contra decisão de unificação de pena, extinção de medida de segurança etc. foram revogados 
tacitamente pelo art. 197, LEP. 
 
VIII. Apelação 
 
 
 
 
THIAGO PEDRO PAGLIUCA DOS SANTOS 
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 O seu cabimento é previsto no art. 593, CPP: “a) I - das sentenças definitivas de condenação 
ou absolvição proferidas por juiz singular; II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, 
proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior; III - das decisões do 
Tribunal do Júri”. 
 
 Contra sentença sempre caberá apelação, ainda que a parte recorra apenas de parte dela que, 
a rigor, poderia ser combatida por recurso em sentido estrito. Isso é decorrência do princípio da 
unirrecorribilidade (art. 593, §4o). 
 
 Assim como ocorre no recurso em sentido estrito e no agravo em execução, o recurso de 
apelação é dividido em dois momentos: primeiro ele é interposto (por petição ou termo nos autos) e 
posteriormente são apresentadas as razões. A tempestividade é aferida no primeiro momento, ou 
seja, quando da interposição. 
 
 Exceção importante: o recurso contra sentença no âmbito do Juizado Especial 
Criminal (ou mesmo contra decisão de rejeição de denúncia ou queixa) é o de apelação, a ser 
interposto no prazo de 10 dias, juntamente com as razões. 
 
 O prazo para a interposição da apelação é de 5 (cinco) dias (igual ao recurso em sentido 
estrito). O prazo para as razões, porém, é de 8 (oito) dias (muito maior do que os 2 dias do recurso 
em sentido estrito), ou de 3 (três) dias, sempre que se tratar de contravenção penal que não esteja 
sendo julgada pelo Juizado Especial Criminal (art. 600, CPP). 
 
 A apelação, em regra, sobe nos próprios autos. 
 
 A súmula 708, STF, dispõe: “É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos 
autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro”. 
 
 O apelante pode interpor o recurso e requerer que as razões sejam apresentadas diretamente 
no Tribunal (art. 600, §4o, CPP). 
 
 Importante é a peculiaridade da apelação no âmbito do Tribunal do Júri. Como há que se 
respeitar a soberania dos veredictos (art. 5O, inc.XXXVIII, c), a devolutividade do recurso de 
apelação contra sua decisão é restrita às hipóteses legais (trata-se de recurso de fundamentação 
vinculada). Só caberá quando (art. 593, inc. III, CPP): 
 
 a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; 
 b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; 
 c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; 
 d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. 
 
 Eis o teor da súmula 713, STF: “O efeito devolutivo da apelação contra decisões do Júri é 
adstrito aos fundamentos da sua interposição”. Isso significa que se a interposição do recurso 
 
 
 
 
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(primeiro momento) se deu com fundamento no art. 593, inc. III, alínea a, ainda que nas razões 
(segundo momento) o apelante se manifeste sobre a alínea d, o Tribunal ficará adstrito à alínea a. 
 
 Quando for dado provimento ao recurso de apelação interposto com fundamento nas alíneas 
b ou c, o próprio Tribunal pode proceder às devidas correções. Quando, por outro lado, o 
provimento se der em relação às alíneas a e d, será o réu submetido a novo júri pelos seus pares. 
Confira-se o teor do art. 593, §3o, CPP: “Se a apelação se fundar no n. III, d, deste artigo, e o 
tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos 
autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo 
mesmo motivo, segunda apelação”. 
 
IX. Embargos infringentes e de nulidade 
 
Esse recurso está previsto no art. 609, parágrafo único, CPP, nos seguintes termos: “Quando 
não for unânime a decisão de segunda instância, desfavorável ao réu, admitem-se embargos 
infringentes e de nulidade, que poderão ser opostos dentro de 10 (dez) dias, a contar da publicação 
de acórdão, na forma do art. 613. Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria 
objeto de divergência.” 
 
O que é importante lembrar sobre esse recurso? Ele não pode ser interposto pela acusação – 
mas apenas pelo réu -; caberá de decisão não unânime do Tribunal e será restrito à matéria objeto da 
divergência; o prazo é de 10 dias; e, finalmente, diferentemente do que ocorre no processo civil, 
não há necessidade de que a sentença proferida pelo Juízo a quo seja favorável ao réu. Por 
exemplo: réu é condenado em primeira instância e apela. O Tribunal, por maioria, não dá 
provimento ao recurso, vencido o relator, que absolvia o réu por ausência de prova. Poderá o réu 
opor embargos infringentes para tentar fazer valer o voto vencido. 
 
“Nas decisões por maioria, em reexame necessário, não se admitem embargos infringentes” 
(Súmula 390, STJ). 
 
X. Embargos de declaração 
 
Estão previstos nos artigos 619 e 620 do CPP. Cabem “quando houver na sentença 
ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão”. A despeito da lei falar em sentença, cabe 
também contra acórdãos (ver art. 620, caput) e contraqualquer decisão interlocutória. Sobre o 
cabimento contra despachos, por serem irrecorríveis, há divergência doutrinária. 
 
Os embargos são julgados pelo próprio órgão prolator da decisão. 
 
Em relação aos embargos de declaração previstos no CPP, o prazo é de 2 dias e sua 
interposição interrompe o prazo para outros recursos (utiliza-se, para concluir-se pela interrupção, e 
não suspensão, do prazo, o CPC por analogia). 
 
Cuidado: em relação aos embargos de declaração opostas contra decisão proferida pelo 
 
 
 
 
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Juizado Especial Criminal, o prazo é de 5 dias e sua interposição suspende o prazo para outros 
recursos. Ver, nesse sentido, art. 83 da Lei 9.099/95: “Caberão embargos de declaração quando, em 
sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida. § 1º Os embargos de 
declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da 
decisão. § 2º Quando opostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o prazo 
para o recurso. § 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício”. 
 
XI. Carta testemunhável 
 
É um recurso pouco utilizado. Caberá sempre contra (I) decisão que “denegar” [ou, em 
termos mais adequados, decisão do Juízo a quo que entende não estarem presentes os requisitos de 
admissibilidade recursal] recurso ou (II) que, embora o admitindo, obstar à sua expedição e 
seguimento para o juízo ad quem (art. 639, CPP). Essa última hipótese é ainda mais incomum do 
que a primeira. No atual estágio da civilização não se concebe que um magistrado simplesmente 
admita o recurso, mas se negue a remetê-lo ao Tribunal. 
 
Importante: a carta testemunhável não cabe contra qualquer decisão que declarar a 
inadmissibilidade do recurso, pois é subsidiária. Se a lei prevê um outro meio de “destrancar” o 
recurso a que se negou seguimento, ele deverá ser utilizado. Por exemplo, contra decisão 
denegatória de seguimento de recurso especial e extraordinário proferido pelo presidente do 
Tribunal de Justiça (ou TRF) caberá agravo. Contra decisão que nega seguimento ao recurso de 
apelação, cabe recurso em sentido estrito. 
 
Em verdade, a única importância da carta testemunhável será para “destrancar” recurso em 
sentido estrito e agravo em execução. 
 
O que devemos saber desse recurso para uma prova objetiva? a) será requerida ao escrivão 
ao ao secretário do Tribunal nas 48 (quarenta e oito) horas seguintes à decisão; b) o requerente deve 
indicar as peças que deverão ser trasladadas ; c) não tem efeito suspensivo; d) o Tribunal pode 
julgar, desde logo, o mérito do recurso “denegado”, desde que suficientemente instruído; e) o rito a 
ser seguido será o do recurso denegado. 
 
No mais, é ler os artigos 639 a 646, CPP. 
 
XII. Correição parcial 
 
A única previsão, em lei federal, desse recurso encontra-se na lei 5.010/66, mas que trata 
exclusivamente da justiça federal. 
 
A rigor, não há lei federal que disponha sobre a existência desse recurso no âmbito das 
justiças estaduais, mas, ainda assim, é ele tranquilamente aceito pela jurisprudência, com o amparo 
da doutrina. 
 
É subsidiário, cabe contra decisões em princípio irrecorríveis do magistrado que causem 
inversão tumultuária no processo (error in procedendo, e não error in judicando). 
 
 
 
 
 
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O procedimento desse recurso varia de Estado para Estado, sendo que, como regra, adota-se 
o rito do agravo de instrumento (Pacelli). 
 
XIII. Recurso ordinário constitucional 
 
 No processo penal, o recurso ordinário constitucional caberá apenas nas seguintes hipóteses: 
a) decisão denegatória de habeas corpus; b) decisão denegatória de mandado de segurança; c) 
sentença proferida por juiz federal no julgamento de crime político. 
 
 O recurso ordinário é parecido com a apelação. Devolve toda a matéria para o Tribunal ad 
quem (não se restringe, portanto, à discussão da matéria jurídica, mas pode analisar fatos, provas 
etc.). 
 
 Há apenas dois órgãos jurisdicionais competentes para apreciar recurso ordinário 
constitucional: o STF (art. 102, inc. II, CF) e o STJ (art. 105, inc. II, CF). 
 
 STJ: “a) os "habeas-corpus" decididos em única ou última instância pelos Tribunais 
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a 
decisão for denegatória; b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos 
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, 
quando denegatória a decisão”; 
 
 STF: “a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de 
injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; b) o 
crime político”. 
 
 Em relação ao ROC contra decisão denegatória de habeas corpus, após a distribuição, o 
MP terá vista dos autos por 2 (dois) dias. “Será aplicado, no que couber, ao processo e julgamento 
do recurso, o disposto com relação ao pedido originário de Habeas Corpus” (art. 32). O prazo é de 
5 (cinco) dias, e a interposição se dá juntamente com as razões (art. 30, Lei 8.038/90). 
 
 Em relação ao ROC contra decisão denegatória de mandado de segurança, o procedimento 
subsidiário aplicado é o da apelação (Lei 8.038/90, art. 34) e o prazo é de 15 (quinze) dias. O 
Ministério Público terá vista dos autos por 5 (cinco) dias. 
 
XIV. Recurso Especial 
 
Os casos de cabimento estão taxativamente previstos no art. 105, inc. III, CF: 
 
“Compete ao Superior Tribunal de Justiça (…) julgar, em recurso especial, as causas 
decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais 
dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: 
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; 
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; 
 
 
 
 
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c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal”. 
 
 Observações importantes: Não cabe Recurso Especial contra decisão de Turma Recursal 
(Súmula 203), pois não se trata de Tribunal, (embora haja entendimento no sentido de que caberia 
reclamação ao STJ, de decisões proferidas pelas Turmas Recursais, a fim de uniformizar a 
jurisprudência). Há necessidade de prequestionamento da matéria. “A pretensão de simples 
reexame de prova não enseja recurso especial” (Súmula 7, STJ). O prazo é de 15 (quinze) dias. Há 
necessidade de esgotamento das vias recursais ordinárias (por exemplo, embargos infringentes, se 
forem cabíveis - “É inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos infringentes contra o 
acórdão proferido no tribunal de origem” - Súmula 207). 
 
 São importantes as seguintes súmulas do STJ: “Não se conhece [ou seja, passa a ser 
verdadeiro pressuposto recursal a não conformidade da decisão com a jurisprudência do STJ] do 
recurso especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da 
decisão recorrida” (S. 83). “A decisão que admite, ou não, o recurso especial deve ser fundamentada, 
com o exame dos seus pressupostos gerais e constitucionais” (S. 123). “É inadmissível recurso 
especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional, 
qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso 
extraordinário” (S. 126). “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da 
oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal a quo” (S. 211). 
 
No mais, devem ser lidos os artigos 26 a 29da Lei 8.038/90. 
 
XV. Recurso Extraordinário 
 
 Os casos de cabimento estão taxativamente previstos no art. 102, inc. III, CF: 
 
 “Compete ao Supremo Tribunal Federal (…) julgar, mediante recurso extraordinário, as 
causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: 
a) contrariar dispositivo desta Constituição; 
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; 
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. 
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. 
(…) § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das 
questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a 
admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus 
membros”. 
 
 Observações importantes: Cabe RE contra decisão das turmas recursais (Súmula 640, 
STF). Também há necessidade de prequestionamento da matéria. A súmula 7 do STJ também vale 
para o STF: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”. O prazo é de 
 
 
 
 
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15 (quinze) dias. Há necessidade de esgotamento das vias recursais ordinárias (por exemplo, 
embargos infringentes, se forem cabíveis). 
 
No mais, devem ser lidos os artigos 26 a 29 da Lei 8.038/90. 
 
XVI. Agravo contra decisão denegatória de seguimento de recursos especial e extraordinário 
 
 Como vimos, o juízo de admissibilidade (e não de mérito!) recursal é feito tanto pelo Juízo 
ad quem como pelo Juízo a quo. Em casos de recurso especial e recurso extraordinário, compete ao 
presidente do Tribunal que prolatou a decisão impugnada fazer a análise dos requisitos ou 
pressupostos processuais. Quando o Tribunal nega seguimento aos recursos, há necessidade de se 
dar ao recorrente um meio para impugnar essa decisão denegatória. O meio apropriado é o agravo. 
 
 A Lei 8.038, em 1990, previu, no art. 28, o seguinte: “Denegado o recurso extraordinário ou 
o recurso especial, caberá agravo de instrumento, no prazo de cinco dias, para o Supremo Tribunal 
Federal ou para o Superior Tribunal de Justiça, conforme o caso”. 
 
 O Código de Processo civil, posteriormente, aumentou o prazo para 10 (dez) dias, mas a 
jurisprudência se pacificou no sentido de que, para o processo penal, continuaria vigendo o prazo de 
5 (cinco) dias (Súmula 699, STF) 
 
 Recentemente, a Lei 12.322/10 procedeu a nova alteração no Código de Processo Civil, para 
que esse agravo não fosse interposto mais na forma de instrumento, mas nos próprios autos, 
agilizando a prestação jurisdicional, visto que, dando provimento ao agravo, o Tribunal Superior 
poderá, desde logo, julgar o mérito do recurso cujo seguimento foi denegado. O prazo de 10 (dez) 
dias foi mantido. 
 
 A doutrina se manifestou, inicialmente, quanto à aplicabilidade desta nova lei também ao 
processo penal (nesse sentido: Gustavo Badaró). Esse entendimento também foi firmado, num 
primeiro momento, pelo próprio STF, na resolução 451, de 3 de dezembro de 2010: “(...). RESOLVE: 
Art. 1º A alteração promovida pela Lei nº 12.322, de 9 de setembro de 2010, também se aplica 
aos recursos extraordinários e agravos que versem sobre matéria penal e processual penal. Art. 2º 
Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. Ministro CEZAR PELUSO” (DJe de 
7/12/10). Nos dizeres do próprio Cezar Peluso, porém, essa resolução dizia respeito apenas ao 
procedimento do recurso de agravo (que não mais seria por instrumento, e sim nos próprios autos). 
Não teve por finalidade modificar o prazo já consolidado na jurisprudência, que era de 5 (cinco) 
dias. 
 
 O Plenário do STF, por maioria (6x4), ao resolver questão de ordem no Agravo Regimental 
no Recurso Extraordinário com Agravo 639.846/SP, entendeu que a jurisprudência anterior (Súmula 
699, STF) deveria ser mantida, e o prazo do agravo, no processo penal, continuaria sendo o de 5 
(cinco) dias, a teor da Lei 8.038/90. 
 
 Em suma: o agravo será interposto nos próprios autos, mas com o prazo de 5 (cinco) 
dias. 
 
 
 
 
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XVII. Embargos de divergência 
 
 O art. 29 da Lei 8.038/90 dispõe: “É embargável, no prazo de quinze dias, a decisão da 
turma que, em recurso especial, divergir do julgamento de outra turma, da seção ou do órgão 
especial, observando-se o procedimento estabelecido no regimento interno”. 
 
XVIII. Agravo regimental 
 
 O agravo regimental tem como finalidade levar para o órgão fracionário uma questão que foi 
decidida apenas pelo relator (por exemplo, decisão monocrática do relator que não conhece de 
determinado recurso). 
 
 Em outras palavras: busca-se dar eficácia ao princípio do duplo grau de jurisdição, na sua 
vertente da colegialidade. 
 
 O fundamento normativo do recurso é o art. 557, §1o, CPC (por analogia): “Art. 557. O 
relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou 
em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo 
Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. § 1o Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, 
ao órgão competente para o julgamento do recurso, e, se não houver retratação, o relator 
apresentará o processo em mesa, proferindo voto; provido o agravo, o recurso terá seguimento”. 
 
 O procedimento varia de acordo com o regimento interno do Tribunal. 
 
XIX. Conceito de ações impugnativas 
 
 As ações impugnativas também visam a anular ou modificar decisões judiciais, mas, 
diferentemente dos recursos, são ações autônomas, ou seja, não são ajuizadas dentro do mesmo 
processo e independem do trânsito em julgado da decisão a ser combatida (a revisão criminal, ao 
contrário, exige o trânsito em julgado para que possa ser ajuizada). 
 
XX. Revisão Criminal 
 
 Ao contrário da ação rescisória do processo civil, não há prazo para o ajuizamento da 
revisão criminal. Ela pressupõe o trânsito em julgado de uma sentença penal condenatória (ou 
absolutória imprópria). 
 
 A revisão criminal é possível ainda que a pena já tenha sido extinta ou mesmo nos casos em 
que o condenado já esteja morto. Se o condenado morreu no curso da revisão criminal, ser-lhe-á 
nomeado curador (art. 631, CPP). 
 
 “Art.621. A revisão dos processos findos será admitida: 
 I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à 
evidência dos autos; 
 
 
 
 
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 II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos 
comprovadamente falsos; 
 III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou 
de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena. 
 Art. 622. A revisão poderá ser requerida em qualquer tempo, antes da extinção da pena ou 
após. Parágrafo único. Não será admissível a reiteração do pedido, salvo se fundado em novas 
provas. 
 Art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente 
habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão”. 
 
 O julgamento da revisão criminal competirá ao Tribunal de Justiça (ou TRF) em caso de 
decisão condenatória proferida em 1a ou 2a instâncias. 
 
 Se houve recurso especial ou recurso extraordinário que foram conhecidos (ou seja, se 
houve juízo de admissibilidade positivo, pois presentes os pressupostos recursais), a decisão do STJ 
ou STF substituiu a decisão do Tribunal (ainda que não a tenha modificado), razão pela qual a eles 
caberá o julgamento da revisão criminal. 
 
 O relator da decisão não podeter pronunciado decisão em qualquer fase do processo (art. 
625, caput, CPP). 
 
 A decisão pode alterar a classificação da infração, absolver o réu, modificar a pena, ou 
anular o processo (art. 626, caput, CPP). Daí se extrai que, embora não previsto expressamente no 
art. 621, cabe revisão criminal contra decisão condenatória, sempre que houver, no processo, 
nulidade absoluta. 
 
 O interessado pode requerer na própria revisão judicial indenização pelo erro judiciário (art. 
630, CPP). 
 
 Prevalece em doutrina e na jurisprudência que a revisão criminal deve ser instruída com 
prova preconstituída, que pode ser obtida por meio de justificação (artigos 861 e seguintes do CPC). 
Nesse sentido: 
 
 “Ementa: REVISÃO CRIMINAL. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO. SENTENÇA 
PENAL CONDENATÓRIA SUPOSTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS. ART. 621 
DO CPP. NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. Para que a Revisão Criminal 
seja admitida deverá estar fundamentada em alguma das hipóteses previstas no art. 621 do CPP, sob 
pena de não conhecimento do pleito revisional. O pedido de reforma da sentença não encontra 
guarida na via processual eleita pelo requerente. Para que a demanda revisional seja fundamentada 
no inciso III, do artigo 621, do CPP, necessário que os documentos alegadamente comprobatórios 
da inocência do réu tenham sido objeto de procedimento específico para atestar a sua veracidade, 
passando, igualmente, pelo crivo do contraditório e da ampla defesa, tornando-se, assim, uma prova 
pré-constituída do direito alegado, o que não ocorreu no caso dos autos. Precedentes 
jurisprudenciais. REVISÃO CRIMINAL NÃO CONHECIDA. UNÂNIME”. (Revisão Criminal Nº 
 
 
 
 
THIAGO PEDRO PAGLIUCA DOS SANTOS 
Recursos e Ações Impugnativas Autônomas no Processo Penal 
70047757844, Segundo Grupo de Câmaras Criminais, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Catarina 
Rita Krieger Martins, Julgado em 29/06/2012). 
 
 
XXI. Habeas Corpus 
 
O procedimento do habeas corpus está previsto nos artigos 647 e seguintes do CPP. Sua 
natureza jurídica é de ação constitucional de resguardo à liberdade. Não há prazo para a sua 
impetração. 
 
É bastante utilizado no processo penal contra decisões interlocutórias que não se submetem 
a recursos. Mas a liberdade do paciente tem que estar de alguma forma ameaçada, sob pena do não 
cabimento do habeas corpus. Nesse sentido há diversas súmulas do STF: 
 
“Não se conhece do recurso (sic) de habeas corpus cujo objeto seja resolver sobre o ônus 
das custas, por não estar mais em causa a liberdade de locomoção” (Súmula 395, STF). 
 
“Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a 
processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada” (Súmula 693, 
STF). 
 
“Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de 
patente ou de função pública” (Súmula 694, STF). 
 
“Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade” (Súmula 695, 
STF). 
 
O habeas corpus pode ser repressivo (visando a um alvará de soltura ou um contramandado 
de prisão) ou preventivo (visando a um salvo-conduto, desde que haja prova da iminência da 
agressão à liberdade). A doutrina processualista também prevê uma terceira hipótese de habeas 
corpus: o profilático, que busca o trancamento de inquérito ou ação (melhor: processo) penal (Ada 
Pelegrini). 
 
Importante a leitura atenta do art. 648, CPP, para provas objetivas: 
 
 Art.648. A coação considerar-se-á ilegal: 
 I - quando não houver justa causa; 
 II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei; 
 III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; 
 IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação; 
 V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza; 
 
 
 
 
THIAGO PEDRO PAGLIUCA DOS SANTOS 
Recursos e Ações Impugnativas Autônomas no Processo Penal 
 VI - quando o processo for manifestamente nulo; 
 VII - quando extinta a punibilidade. 
 
A capacidade postulatória para ação de habeas corpus é amplíssima. Qualquer pessoa pode 
ser impetrante, substituto processual do paciente (aquele que será beneficiado com a decisão). O 
prolator da decisão que se questiona com o habeas chama-se autoridade coatora. A autoridade 
coatora não precisa ser agente público. 
 
Contra decisão proferida em sede de execução penal, há grande parte da jurisprudência que 
não conhece de habeas corpus impetrado, visto que há recurso legalmente previsto (agravo em 
execução penal). 
 
COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DE HABEAS CORPUS: 
 
Compete ao STF o julgamento de: “habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior 
ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos 
diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma 
jurisdição em uma única instância” (art. 102, I, i, CF). A súmula 690 do STF foi cancelada. Ela 
previa o cabimento de habeas corpus diretamente ao STF contra decisão de turma recursal dos 
juizados especiais criminais. Hoje, o julgamento desses habeas compete ao Tribunal de Justiça a 
que a turma recursal pertença. 
 
A Súmula 691 do STF (que o STJ também aplica) diz o seguinte: “Não compete ao Supremo 
Tribunal Federal conhecer de habes corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas 
corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar”. Em casos de ilegalidade teratológica 
decidida pelo relator, porém, os Tribunais Superiores vêm permitindo a superação da súmula. 
 
Compete ao STJ o julgamento de: “habeas corpus, quando o coator ou paciente for 
qualquer das pessoas mencionadas na alínea "a" [os Governadores dos Estados e do Distrito 
Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos 
Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito 
Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os 
membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da 
União que oficiem perante tribunais], ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, 
Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a 
competência da Justiça Eleitoral” (art. 105, I, c, CF). 
 
Compete ao TRF quando a autoridade coatora for juiz federal (art. 108, I, d, CF), e aos 
juízes federais, em matéria criminal de sua competência, quando a autoridade coatora for 
“autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição” (art. 109, VII, CF). 
 
Da mesma forma, cabe aos juízes de direito estaduais julgarem habeas corpus em matéria 
criminal de sua competência, bem como aos Tribunais de Justiça, quando a autoridade coatora for o 
próprio juiz criminal. Por sua vez, compete à turma recursal o julgamento de habeas corpus 
impetrado contra ato de juiz do juizado especial criminal, e ao Tribunal de Justiça, contra ato do 
 
 
 
 
THIAGO PEDRO PAGLIUCA DOS SANTOS 
Recursos e Ações Impugnativas Autônomas no Processo Penal 
juizado especial criminal. 
 
A jurisprudência dos Tribunais Superiores (STF e STJ) passou, a partir de meados deste ano 
(2012), a não conhecer mais de habeas corpus impetrado contra decisão denegatória de habeas 
corpus proferida por Tribunal, visto que há recurso próprio para tanto (ROC – recurso ordinário 
constitucional). 
 
Quando o habeas corpus é julgado em primeira instância – seja ele denegatório ou não – 
cabe recurso em sentido estrito (e, se a ordem for de concessão, cabe reexame necessário, como 
visto). 
 
 “Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de decisões de Turma, ou do 
Plenário, proferida em habeas corpusou no respectivo recurso” (Súmula 606, STF). Quer isso dizer 
que, contra decisão de Tribunal – seja por seu órgão fracionário ou plenário – só caberá habeas 
corpus (ou ROC em HC) para o Tribunal superior e não para o mesmo Tribunal. O órgão 
fracionário do Tribunal (turma, grupo, câmara), quando decide, representa o próprio Tribunal, sendo 
incabível que o órgão prolator da decisão do habeas corpus seja a própria autoridade coatora. 
 
A súmula 690 do STF foi cancelada. 
 
 
XXII. Mandado de segurança 
 
 O procedimento do mandado de segurança está previsto na Lei 12.016/09. Sua natureza 
jurídica é de ação constitucional. É o instrumento constitucional adequado para resguardar direito 
líquido e certo contra ato ilegal de autoridade (pública) coatora. Há o prazo decadencial de 120 
(cento e vinte) dias. 
 
 No processo criminal, sua utilidade é bem restrita em comparação ao habeas corpus. 
Normalmente é ajuizado pelo Ministério Público contra decisão não sujeita a recurso ou pelo réu, 
desde que a decisão não se sujeite a recurso ou a habeas corpus (ou seja, desde que não lesione ou 
ameace seu direito à liberdade). 
 
 O STJ tem o seguinte entendimento: “É incabível a impetração do mandado de segurança 
para conferir efeito suspensivo a recurso de apelação do Ministério Público” (HC 131150 / DF, 5a 
Turma, Rel. Laurita Vaz, 13/09/2011). 
 
 Relevante é a súmula 701, STF, que dispõe “no mandado de segurança impetrado pelo 
Ministério Público contra decisão proferida em processo penal, é obrigatória a citação do réu como 
litisconsorte passivo”.

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