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Faculdade Joaquim Nabuco - Paulista Direito Penal I - 2° Período Professora: Thais Galba Titulo: Evolução do Direito Penal no Brasil e no Mundo Aluno: Aloisio Fernando Alves dos Santos - 01212604 Paulista, 2017 1 INTRODUÇÃO Desde os primórdios da humanidade, o homem tem progredido em todos os sentidos. Através do desenvolvimento da razão, dom não atribuído a nenhum outro animal, exceto à espécie humana, o homem tem sempre estado organizado em grupos ou sociedades. No entanto, a interação social nem sempre é harmônica, pois nela o homem revela o seu lado instintivo: a agressividade. Pode-se afirmar que através dos tempos o homem tem aprendido a viver numa verdadeira "societas criminis". É aí que surge o Direito Penal, com o intuito de defender a coletividade e promover uma sociedade mais pacífica. Se houvesse a certeza de que se respeitaria a vida, a honra, a integridade física e os demais bens jurídicos do cidadão, não seriam necessários a existência de um acervo normativo punitivo, garantindo por um aparelho coercitivo capaz de pô-lo em prática. São haveria, assim, o "jus puniendi", cujo titular exclusivo é o Estado. Por isso é que o Direito Penal tem evoluído junto com a humanidade, saindo dos primórdios até penetrar a sociedade hodierna. Diz-se, inclusive, que "ele surge como homem e o acompanha através dos tempos, isso porque o crime, qual sombra sinistra, nunca dele se afastou" (Magalhães Noronha). EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL NO MUNDO “Importância do conhecimento histórico para desfazer preconceitos e alargar horizontes” J. Leal O estudo da evolução histórico-penal é de suma importância para uma avaliação correta da mentalidade e dos princípios que nortearam o sistema punitivo contemporâneo. A história humana não pode ser desvinculada do direito penal, pois desde o princípio o crime vem acontecendo. Era necessário um ordenamento coercitivo que garantisse a paz e a tranqüilidade para a convivência harmoniosa nas sociedades. “A história do Direito Penal é a história da humanidade. Ela surge com o homem e o acompanha através dos tempos, isso porque o crime, qual sombra sinistra, nunca dele se afastou”. Os estudiosos subdividem a história do direito penal em algumas fases, fases estas que não se sucederam de forma linear ou totalmente rígida (os princípios e características de um período penetravam em outro). São elas: Vingança Privada “A pena em sua origem, nada mais foi que vindita, pois é mais compreensível que naquela criatura, dominada pelos instintos, o revide à agressão sofrida devia ser fatal, não havendo preocupações com a proporção, nem mesmo com sua justiça” Noronha Quando ocorria um crime a reação a ele era imediata por parte da própria vitima, por seus familiares ou por sua tribo. Comumente esta reação era superior à agressão, não havia qualquer idéia de proporcionalidade. 2 Esta ligação foi definida por Eric Fromm como sendo um vínculo de sangue, ou seja, era “um dever sagrado que recai num membro de determinada família, de um clã ou de uma tribo, que tem de matar um membro de uma unidade correspondente, se um de seus companheiros tiver sido morto”. Foi um período marcado por lutas acirradas entre famílias e tribos, acarretando um enfraquecimento e até a extinção das mesmas. Deu-se então o surgimento de regras para evitar o aniquilamento total e assim foi obtida a primeira conquista no âmbito repressivo: a Lei de Talião (jus talionis). O termo talião de origem latina tálio + onis, significa castigo na mesma medida da culpa. Foi a primeira delimitação do castigo: o crime deveria atingir o seu infrator da mesma forma e intensidade do mal causado por ele. O famoso ditado “olho por olho, dente por dente” foi acolhido como principio de diversos códigos como o de Hamurabi e pela Lei das XII Tábuas (Lex XII Tabularum). Com o passar do tempo á própria Lei de Talião evoluiu, surgindo a possibilidade do agressor satisfazer a ofensa mediante indenização em moeda ou espécie (gado, vestes e etc). Era a chamada Composição (compositio). “A composição é, assim, uma forma alternativa de repressão aplicável aos casos em que a morte do delinqüente fosse desaconselhável, seja porque o interesse do ofendido ou dos membros de seu grupo fosse favorável à reparação do dano causado pela ação delituosa”.J. Leal Vingança Divina É o direito penal imposto pelos sacerdotes, fundamentalmente teocrático; o Direito se confundindo com a religião. O crime era visto como um pecado e cada pecado atingiam a um certo deus. A pena era um castigo divino para a purificação e salvação da alma do infrator. Era comum neste período o uso de penas cruéis e bastante severas. Seus princípios podem ser verificados no Código de Manu (Índia) e no Código de Hamurábi, assim como nas regiões do Egito, Assíria, Fenícia, Israel e Grécia. “Se alguém furta bens do Deus ou da Corte deverá ser morto; e mais quem recebeu dele a coisa furtada também deverá ser morto”.(Código de Hamurábi – art.6º.) Vingança Pública Período marcado pelas penas cruéis (morte na fogueira, roda, esquartejamento, sepultamento em vida) para se alcançar o objetivo maior que era a segurança do monarca.Com o poder do Estado cada vez mais fortalecido, o caráter religioso foi sendo dissipado e as penas passaram a ter o intuito de intimidar para que os crimes fossem prevenidos e reprimidos. 3 Os processos eram sigilosos, o réu não sabia qual era a imputação feita contra ele, o entendimento era de que, sendo inocente, o acusado não precisava de defesa; se fosse culpado, a ela não teria direito. Isso favorecia o arbítrio dos governantes. Direito Penal Romano De inicio, em Roma, a religião e o direito estavam intimamente ligados, o Pater Famílias consistia no poder de exercitar o direito de vida e de morte (jus vitae et necis) sobre todos os seus dependentes, inclusive mulheres e escravos. Com a chegada da Republica Romana ocorreu uma ruptura e desmembramento destes dois alicerces, a vingança privada foi abolida passando ao Estado o magistério penal. “Roma foi o marco inicial do direito moderno principalmente no âmbito civil. No penal, embora tímido, conseguiram destacar o dolo e a culpa e o fim da correção da pena (...)” César Dário Os romanos contribuíram para a evolução do direito penal fazendo a distinção do crime, do propósito, do ímpeto, do acaso, do erro, da culpa leve, do simples dolo e dolo mau (dolus malus), além do fim de correção da pena. Direito Penal Germânico O Direito era visto como uma ordem da paz; desta forma o crime seria a quebra, a ruptura com este estado. Inicialmente eram utilizadas a vingança e da composição, porém, com a invasão de Roma, o poder Estatal foi consideravelmente aumentado, desaparecendo a vingança. As leis bárbaras caracterizavam-se pela composição, onde as tarifas eram estabelecidas conforme a qualidade da pessoa, o sexo, idade, local e espécie da ofensa. Para aqueles que não pudessem pagar eram atribuídas as penas corporais. Também adotaram a Lei de Talião e, conforme o delito cometido, utilizavam a força para resolver questões criminais. Eram admitidas também as ordálias ou juízos de Deus (provas de água fervendo, ferro em brasa...), assim como os duelos judiciários, onde o vencedor era proclamado inocente. Direito Canônico É o ordenamento jurídico da Igreja Católica Apostólica Romana. O vocábulo canônico é derivado da palavra kánon, que significava regra e norma, com a qual originariamente se indicava qualquer prescrição relativa à fé ou à ação cristã. Inicialmente o Direito Canônico tinha o caráter meramente disciplinar, porém com o fortalecimento do poder papal,este direito passou atingir a todos da sociedade (religiosos e leigos). Tinha o objetivo de recuperação dos criminosos através do arrependimento, mesmo que fosse necessária a utilização de penas e métodos severos. 4 Esse direito deu uma atenção ao aspecto subjetivo do crime, combateu a vingança privada com o direito de asilo e as tréguas de Deus, humanizou as penas, reprimiu o uso das ordálias e introduziu as penas privativas de liberdade (ocorriam nos monastérios em celas) em substituição às patrimoniais. A penitenciária foi criada por este Direito: seria um local onde o condenado não cometeria crimes, se arrependeria dos seus erros e por fim se redimiria podendo voltar ao convívio social. Os tribunais eclesiásticos não costumavam aplicar as penas capitais até o período conhecido como a Inquisição. Neste período passou-se a empregar a tortura, o processo inquisitório dispensava prévia acusação e as autoridades eclesiásticas agiam conforme os seus valores e entendimentos. Foi um período marcado por muitas atrocidades... EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO Segundo Fragoso (2003), a comparação histórica, no que se refere ao Direito Penal, é um importante instrumento para a correta interpretação dos fatos ocorridos no passar dos tempos, uma vez que são estes que proporcionam as mudanças e novas teorias a fim de enriquecer o direito como um todo e a defesa do ser humano. Deste modo, é prudente mencionar que o direito, como regra de conduta social, surgiu com a sociedade, onde o primeiro direito seria o Direito Penal. Logo, pode-se mencionar que: “A primitiva idéia da pena é a de reação vindicativa do ofendido, mas não se pode dizer que a simples vingança individual dos primeiros grupos sociais constituísse um direito Penal”. (FRAGOSO, 2003, p. 31). O certo para se afirmar é que a sociedade primitiva era bastante rudimentar, mas desde os primórdios, a pena já existia como resposta ao mal causado por um dos seus semelhantes. Logo, com o passar do tempo, o homem, mesmo na sua fase primitiva, assim que passou a viver em grupo, sentiu a necessidade de punir aquele que tivesse agredido algum interesse de seus membros e também de punir o estranho que se tivesse colocado contra algum valor individual e coletivo. Sendo assim, é possível notar que o Direito nas sociedades primitivas, consiste em aspectos concernentes á religião, onde a reação punitiva apresentava caráter religioso, surgindo a pena com sentido sacral. Pode-se citar segundo Fragoso (2003), a vingança de sangue exercida pelos parentes da vítima, como um dever sagrado, visando alcançar a divindade, logo, a pena é a “expiação religiosa”. Desta forma, pode-se citar que: Cessada essa fase primitiva, a reação penal torna-se represália por parte da vítima, situando-se na esfera privada. A evolução processa-se então no sentido de restringir a princípio, a vingança privada, limitando-a pelo talião e pela composição com a vítima (preço da paz), para em seguida assumir o Estado o monopólio da justiça punitiva. A composição é a princípio voluntária depois imposta pelo Estado e finalmente abolida, passando as penas a serem públicas (FRAGOSO, 2003, p. 32). 5 Conforme explica Fragoso (2003), entende-se que o Direito passou por diversas fases, cujas quais foram aos poucos tomando corpo e defendendo os cidadãos, bem como sua dignidade. Uma fase que merece destaque é a de Vingança e o Talião. A primeira fase da evolução do Direito Penal, denominada Vingança Privada, mostra um Direito Penal praticado pelo próprio ofendido ou pelo que dele se apiedasse. Nota-se que além de fazer justiça com as próprias mãos, as penas não guardam a devida proporção com o delito que visavam responder. Assim, a lei era do mais forte, onde o interesse e a vontade individual se colocavam acima de tudo. Esta fase é marcada ainda por certa desorganização social, onde não havia um Estado, propriamente dito, mas famílias, clãs e tribos. Com o desenvolvimento dessas famílias, clâs e tribos, denominada sociedades primitivas, instala-se um poder social, baseado nas religiões que passam a controlar melhor as relações sociais, modificando-se assim, paulatinamente a natureza da sanção penal. Observa-se que nesta fase já não se trata mais da vingança individual, pessoal, com interesses privados, mas da vingança dos deuses. Porém, as sanções continuam extremamente severas. Posteriormente, quando o poder político evolui, podendo já citar a existência de um Estado primitivo, também o Direito Penal evolui, passando a aplicar sobre as penas a função do interesse coletivo, distinguindo-se do individual. Este foi um dos traços marcantes de evolução do Direito nesta época. Com relação ao Talião: “Olho por olho, dente por dente”, surge na história da humanidade a limitação da vingança privada. Assim, ouve também uma “evolução”, pois estabeleceu certa proporcionalidade entre o delito e a pena, o que até então era inexistente. Pode-se citar uma passagem da norma penal do Código de Hamurabi, ou seja, o mais antigo texto legislativo que versa: “Se alguém bate em uma mulher livre e a faz abortar, deverá pagar dez ciclos pelo feto, se essa mulher morre, então deverá matar o filho dele”. (TELES, 2002, p. 41). Já no Êxodo dos Hebreus é possível encontrar o seguinte: “Aquele que ferir, mortalmente, um homem, será morto”. (TELES, 2002, p. 41). Ainda na Lei da XII Tábuas, dos Romanos: “Se alguém fere a outrem, que sofra a pena de talião, salvo se houver acordo”. (TELES, 2002, p. 41). Surge ainda, o pagamento em valor econômico, pelo dano causado explicado pelas Leis Mosaicas: “Se um homem furtar um boi ou um carneiro, e o matar ou vender, pagará cinco bois pelo boi e quatro carneiros pelo carneiro”. (TELES, 2002, p. 42). Com o passar dos anos surge diferentes Direitos como o Grego, que segundo Teles (2002), distinguem crimes públicos, com penas coletivas aplicadas aos sucessores dos delinqüentes e os crimes privados em que a responsabilidade era individual. 6 No que concerne ao Direito Romano, entende-se que o mesmo representou um momento de evolução no Direito religioso ao Direito do Estado, onde este deveria assumir o poder de punição. Em Roma, o crime e a pena apresentavam um caráter público, pois o crime era entendido como um atentado à ordem estabelecida, e a pena correspondia à resposta estatal, existindo ainda as penas privadas primitivas, executadas pelo pater familias que aplicava o talião e a composição. Nesta época a principal pena pública era a morte, cominada para os crimes de traição à nação, de morte do cidadão livre, de incêndio, de falso testemunho, de suborno do juiz e de sátira injuriosa. (TELES, 2002, p. 45). Contudo, no período da República, vão diminuindo os crimes privados, desaparecendo a vingança privada, e passando o Estado a assumir as suas funções de jurisdição. Porém, mais adiante, a pena de morte aplicada pelo fogo, pela forca, pela espada, volta a ser aplicada pelos crimes mais graves, sendo presentes também as penas de trabalhos forçados. Assim, o fundamento das penas não é mais religioso, mas jurídico, sendo elas aplicadas, agora pelo Estado. Outro ponto importante neste Direito, segundo Teles (2004) é que: Os romanos reconheceram a noção de dolo, ou seja, a consciência e vontade de praticar o fato criminoso, além do desenvolvimento da dogmática penal e a “malitia suplet etatem”: a malícia supera a idade, onde o Direito Penal Romano analisa se o réu é malicioso ou inocente de acordo com sua capacidade de compreensão: “Os romanos já tinham a noção de dolo – intenção - e de culpa – negligência, noções fundamentais do Direito Penal moderno”. (TELES, 2004, p. 42). Fragoso (2003) salienta que nesta época depois de muitos acontecimentos, como as trocas de penas ora de morteora não, estas foram grandemente mitigadas, sendo praticamente abolida esta pena de morte, onde a punição se limitava ao exílio e a deportação. Nesta época também era predominante no Direito Penal Romano o Princípio da Reserva Legal. Com relação aos princípios do Direito Penal é importante mencionar o Princípio da Legalidade, tido como um dos mais importantes princípios do Direito Penal, onde a maioria dos autores o considera como sinônimo de Reserva Legal, afirmando serem equivalentes as expressões. A Legalidade então enfatiza que nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena criminal pode ser aplicada, sem que antes deste mesmo fato tenha sido instituídos por lei, o tipo delitivo. Este princípio é explicado através do art. 5º, inciso XXXIX e XL da Constituição Federal, que menciona: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Vale ressaltar que este termo costuma ser enunciado por meio na expressão latina: “nullum crimen, nulla poena sine lege”, construído por Feuebach no início do século XIX. (CAPEZ, 2003, p. 40). Sobre o Direito Germânico pode-se citar que o mesmo, antes da invasão romana, era consuetudinário, ou seja, não havia leis escritas, mas constumes. Estes tinham pouco desenvolvimento humanístico, não tinha normas de governo e a função do Direito era manter a paz entre as pessoas e as tribos. Além disso, o Direito era entendido como “Ordem e Paz”, que tinha como fundamento a vingança privada. 7 Após a invasão, este Direito adquire feições publicísticas, limitando a princípio, e depois extinguindo a vingança de sangue, dando espaço á existência de penas de morte, corporais, a mutiliação e o exílio. Os processos eram vários dos quais pode-se citar as ordálias e os juízos de deus, com provas de água fervente, ferro em brasa, entre outros. (TELES, 2002, p. 45). Observa-se que as ordálias e os juízos de deus eram utilizadas como métodos de investigação, ou seja, como forma de desvendar a verdade. Eram, em resumo os métodos de tortura, as penas vinham depois e basicamente caracterizavam-se como mortes, realizadas de inúmeras formas. Havia, nesta época ainda, os duelos, onde o vencedor era poupado por Deus. Diferencia-se das ordálias e juízos por ser característico dos nobres cujos quais duelavam em defesa da própria honra. O Direito Canônico foi sintetizado pelo “Corpus Iuris Canonice”, que tinha como fundamento o religioso e o moral, procurando uma disciplina que se estenda também aos leigos, além dos religiosos. Segundo Teles: “Direito Canônico é o direito estabelecido pela Igreja Católica, cujas normas estão escritas em cânones, que equivalem aos artigos de lei, e destinava-se, no princípio, a regular a vida interna da Igreja, impondo regras e disciplinas a seus membros” (TELES, 2002, p. 43). Procurou, o Direito Canônico, estabelecer um sistema de penas, mais suave e moderado, com a abolição da pena de morte. Mantinha e desenvolvia princípios romanísticos acerca da responsabilidade subjetiva, proclamando a igualdade de todos os homens e acentuando o aspecto subjetivo do crime. O Direito Medieval, ou Direito Comum, configura-se, segundo Teles (2002) como a união do Direito Romano, do Direito Germânico e do Direito Canônico com os direitos locais. Ele pode ser definido segundo o site Juris Way como: Uma grande miscelânea entre normas de Direito Romano, Direito Germânico, Direito Canônico, bem como de normas dos Estados Nacionais então em formação, por volta do século XII. Caracterizou-se pela crueldade com que as penas eram executadas. Girava em torno dos aplicadores da lei um ambiente de insegurança, e principalmente de terror. Afinal, a grande maioria das penas impostas importava em castigos corporais horríveis, aflitivos. A função exordial a ser exercida pela pena era a intimidação das pessoas. Como exemplo dessas penas, tem-se o afogamento, a forca, a roda, as mutilações, a castração, a fogueira (JURIS WAY, 2011). Após este período é possível citar o Período Humanitário que consistiu segundo Teles (2002), como um dos mais importantes movimentos da história da humanidade, podendo citar o Iluminismo e a Revolução Francesa como marcos de extrema importância para a época. No que se refere ao Direito Penal, as idéias iluministas vão se refletir, a partir da publicação, em 1764 da obra: “Dei delliti dele pene”, escrita por Cesare Beccaria, a qual combate com vigor o uso da tortura, a pena de morte, a atrocidade das penas e aponta como solução, que a pena seja a plicada apenas para que o delinquente não volte a delinqüir. 8 Há desta forma, uma grande exigência do princípio da Legalidade, inaugurando, a partir das idéias de Beccaria, o Período Humanitário, surgindo logo depois leis que vieram a aderir os preceitos por ele defendidos. Segundo Teles (2002), a Revolução Francesa vai culminar com a Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão, que consagra os fundamentais direitos humanos ainda hoje atuais. A Revolução Francesa não teve como único objetivo a mudança de um governo, mas de todo um modo de vida que envolvia a sociedade. Deste modo, muitos costumes e tradições tiveram que ser revistos e muitos deles tiveram que ser esquecidos dando lugar a uma nova visão de mundo. Nesta época era visível o crescimento econômico da burguesia, o que foi de encontro às instituições feudais que a cada momento estavam sendo superadas. A partir daí, nota-se uma sociedade, mais exigente para uma melhor e maior modernização do país, o que por vezes era negado pelo absolutismo. Tão grande foi a manifestação popular da época, ou seja, do Terceiro Estado, que as pessoas saíam às ruas com o objetivo de tomar o poder e arrancar do seu posto o Rei Luis XVI. Aí, pode-se perceber a queda da Bastilha, marcando o início do processo revolucionário e violento que estava por vim. Com tamanho descontentamento, surgem os iluministas, movimento formado por um grupo de intelectuais que começaram a trabalhar e questionar determinado regime absolutista. Este grupo passou a pregar que o poder deveria passar para outras mãos, ou seja, da nova classe que ascendia constantemente, isto é, os burgueses, sendo necessária a destituição do Rei. Assim, foi possível vislumbrar a proibição da venda de mercadorias, os preços exorbitantes, principalmente do pão, o que por vezes culminou para a violência, pois muitos foram os estabelecimentos saqueados, assaltados. A desordem acabou tomando conta de muitas pessoas e a fome muitas vezes acabou falando mais alto. O lema da época: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, resumia o desejo que a população francesa exprimia. O medo cercou muitos nobres, fazendo com que alguns abandonassem seu país. O Rei Luis XVI e sua esposa Maria Antonieta morreram com a invenção de Gilhotin, ou seja, a guilhotina, em praça pública e com os aplausos de muitos. O poder da igreja também foi atingido, sendo seus bens restritos e confiscados. Sendo assim, foi promulgada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, trazendo significativas mudanças como as sociais e as de direito. Não se pode esquecer, após a revolução, dos girondinos e jacobinos, onde os primeiros ao representar a burguesia queriam evitar a participação de trabalhadores tanto rurais quanto urbanos na política. Já os segundos, ao contrário, representavam a baixa burguesia defendendo maior participação da população na política. Porém, época marcante e de muito terror foi liderada por Marat que foi assassinado, exatamente como revolta da população diante de uma época marcada por muita violência. 9 Assim, pode-se dizer que a Revolução Francesa marca a história moderna, significando o fim dos privilégios da nobreza, tornando a população e os trabalhadores em geral, mais independentes e respeitados, mudando como um todo vidase costumes daqueles que trabalhavam muito e pouco eram reconhecidos. Segundo Fragoso (2003), Beccaria parte do contrato social, afirmando que o fim da pena, é apenas o de evitar que o criminoso cause novos danos males e que os demais cidadãos o imitem, sendo tirânica toda a punição que não se funde na absoluta necessidade. Vale ressaltar que a idéia de Contrato Social, o contratualismo, ou seja, resume-se em um pacto explícito, a partir do qual cada homem entrega uma parcela do seu poder em troca da proteção dos poderes que mantêm. Segundo Fragoso: Beccaria defendia a conveniência de leis claras e precisas, não permitindo sequer o juiz o poder de interpretá-las, opondo-se desta forma, ao arbítrio que prevalecia na justiça penal. Combateu a pena de morte e a tortura, o processo inquisitório, defendendo a aplicação de penas certas, moderadas e proporcionais ao dano causado à sociedade (FRAGOSO, 2002, p. 49). Entende-se assim, que Beccaria, opunha-se à justiça medieval que ainda vigorava em seu tempo, em como ao direito comum, romano-canônico da época. Desta forma, fica evidente o nome designado ao período desta obra: “Dei dellite dele pene”, ou seja, humanitário, ao passo que este demarcou na história idéias do respeito à personalidade humana fundando-se em sentimentos de piedade e compaixão pela sorte das pessoas submetidas ao terrível processo penal e ao regime carcerário que então existia. Segundo Fragoso (2003, p. 45): As idéias básicas do Iluminismo em matéria de justiça penal são as da proteção da liberdade individual contra o arbítrio judiciário, a abolição da tortura, abolição ou imitação da pena de morte e a acentuação do fim estatal da pena, com o afastamento das exigências formuladas pela Igreja ou devidas puramente à moral, fundadas no princípio da retribuição. Tomando como base a obra: “Dei delliti dele pene”, pode-se dizer que esta foi uma obra de cunho filosófico e humanitário da segunda metade do século XVIII quando a humanidade encontrava novos caminhos para garantir a igualdade e a justiça. Já mencionava em sua obra logo na introdução, fragmentos que questionavam o porquê das penas tão cruéis: Mas, qual é a origem das penas e qual o fundamento do direito de punir? Quais serão as punições aplicáveis aos diferentes crimes? Será a pena de morte verdadeiramente útil, necessária, indispensável para a segurança e a boa ordem da sociedade? Serão justos os tormentos e as torturas? Conduzirão ao fim que as leis se propõem? Quais os melhores meios de prevenir os delitos? Serão as mesmas penas igualmente úteis em todos os tempos? Que influência exercem sobre os costumes? (BECCARIA, 2011). Diante destes questionamentos, elabora, alternativas como a importância e principalmente a necessidade dos homens em estabelecerem o Contrato Social: Por conseguinte, só a necessidade constrange o homem a ceder uma parte de sua liberdade; daí resulta que cada um só consente em pôr no depósito comum a menor porção possível dela, isto é, precisamente o que era preciso para empenhar os outros em mantê-lo na posse do resto, é a origem das penas, e qual o fundamento do direito (BECCARIA, 2011). 10 Pode-se notar também uma crítica em relação às leis que sendo aplicadas desproporcionalmente pelos julgadores adota, na maioria das vezes, uma linguagem não habitual para o indivíduo comum deixando que os homens fiquem à mercê do que de fato acontece na realidade: Se a interpretação arbitrária das leis é um mal, também o é a sua obscuridade, pois precisam ser interpretadas. Esse inconveniente é bem maior ainda quando as leis não são escritas em língua vulgar. Enquanto o texto das leis não for um livro familiar, uma espécie de catecismo, enquanto forem escritas numa língua morta e ignorada do povo, e enquanto forem solenemente conservadas como misteriosos oráculos, o cidadão, que não puder julgar por si mesmo as conseqüências que devem ter os seus próprios atos sobre a sua liberdade e sobre os seus bens, ficará na dependência de um pequeno número de homens depositários e intérpretes das leis (BECCARIA, 2011). Enfatiza que ao colocar o texto legal, ou como o mesmo menciona “o texto sagrado” das leis nas mãos do povo e quanto mais homens o lerem, tanto menos delitos haverá. Pode-se ressaltar aí o Princípio da Taxatividade e a “Lex Certa” de fundamento garantista, onde a norma não pode ser confusa, mas clara, a fim de que todos possam dominá-la e entendê-la com facilidade. Entende-se com isso a preocupação de Beccaria em trazer à baila assuntos como estes, onde inclui todas as classes e o desejo de que estas estejam em um mesmo patamar de conhecimentos. Acrescenta posteriormente enfatizando que: À medida que as penas forem mais brandas, quando as prisões já não forem a horrível mansão do desespero e da fome, quando a piedade e a humanidade penetrarem nas masmorras, quando enfim os executores impiedosos dos rigores da justiça abrirem os corações à compaixão, as leis poderão contentar-se com indícios mais fracos para ordenar a prisão (BECCARIA, 2011). Assim, estas idéias produziram prontamente resultados na legislação penal. A influência da obra de Beccaria foi imensa, influenciando códigos como o promulgado por Leopoldo II, da Toscana, no qual foi abolida a pena de morte e a tortura, limitando-se o arbítrio judicial e mitigando-se as penas. Na França, com a Revolução Francesa, surge a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, bem como os códigos penais de 1791 e 1810. Após o Período Humanitário houve a Escola Clássica, na qual se identifica com o Direito Liberal Burguês, cuja qual opunha-se ao racionalismo, atacando o pensamento clássico de combate ao crime, com base em estudos antropológicos do delinqüente e sociológicos do crime, propondo um sistema penal de prevenção especial. Teve como precursores Lombroso e Garófalo com alguns princípios básicos como: O crime é um fenômeno natural e social; o fundamento da responsabilidade penal, que resulta de ser o homem um ser social, é a periculosidade do delinquente, a pena é medida defensiva da sociedade e seu objetivo é recuperar o delinquente, ou pelo menos neutralizá- lo; o delinquente é um anormal do ponto de vista psíquico (FRAGOSO, 2003, p. 46). Outra Escola foi a Alemã, que ficou permeada entre às Teorias Justas, cujas quais legitima o poder punitivo do Estado com base em critérios abstratos e as Teorias Úteis, que são baseadas em critérios de utilidade, derivadas a partir da noção de Contrato Social descrito por Rousseau. 11 CONSIDERAÇÕES FINAIS Através desta verdadeira jornada pela História, observou-se a evolução do Direito Penal, desde os primórdios da humanidade. Ficando nitidamente demonstrado as épocas de pouca evolução, bem como aquelas em que determinadas circunstâncias impulsionaram o Direito Penal, que por sua vez deu amplos saltos rumo à modernidade. Porém é necessário ressaltar que, por mais evoluído que seja o ser humano, seu comportamento será sempre controlado pelo Estado, no exercício do "jus puniendi". É que, na sociedade, o homem continuará expressando sua "spinta criminosa", havendo a necessidade da pena, como "controspinta". Atualmente vigora no Brasil o estatuto do Código Penal de 1940 (Dec. Lei n°2.848, de 7-12- 40), que sofreu importantes alterações em 1977 ( Lei 6.416, de 24-05-77), uma reformulação de sua Parte Geral em 1984 (Lei 7.209, de 11-07-84) e mais recentemente alterações em sua Parte Especial por meio da Lei 12.015/2009. Portanto, não cessará aqui a evolução do Direito Penal: ela acompanhará o homem enquanto o mesmo existir. Ficando, assim, as reticências que marcam o tempo. Bibliografia Equipe Brasil Escola. FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal (Parte Geral). 4. ed. Rio de Janeiro. Forense. TELES, Ney Moura, Direito Penal Vol. II - Parte Especial- Art. 121 a 212 - 1 Edição 2004. CAPEZ, Fernando, Curso de Direito Penal - Volume 4. Parte Especial, 9ª edição 2003 do Volume 4. BECCARIA, Cesare, Dos Delitos e das Penas - 5ª Ed. 2011 Sites de pesquisas http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=514 http://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/a-historia-as-ideias-direito-penal.htm http://conteudojuridico.com.br/artigo,a-historia-e-a-evolucao-do-direito-penal- brasileiro,25441.html
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