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Anotações sobre a obra "O Banquete", de Platão

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O BANQUETE – PLATÃO
NÃO É UM DIÁLOGO COMUM. OS DIÁLOGOS PLATÔNICOS SÃO VERDADEIRAS AULAS DE ARGUMENTAÇÃO E RETÓRICA. 
Assim como outros livros filosóficos, O Banquete pode proporcionar a condição de reflexão e analise particular para cada leitor, o que é deveras importante e interessante. Mesmo sendo um diálogo bastante antigo, toda a argumentação sobre o Amor é ainda vívida e autêntica, condizendo com o que muito se pode aprender e entender sobre tal sentimento divino e humano ao mesmo tempo.
Entre discursos e mitos sobre os efeitos do Amor, o livro baqueteia mesmo sobre o assunto, favorecendo uma discussão com muitas visões sobre e deixando claro, pelo menos para mim, que sobre isso há muito o que se falar e pouco, verdadeiramente, a ter certeza.
Acho curioso duas coisas nessa obra, uma de natureza super temporal e a outra atemporal. A questão temporal ocorre na naturalidade com que o amor homossexual é abordada na obra. Ora, sabemos que na Grécia Antiga  a questão da sexualidade não era tão marcada, tão autoritária, quanto se tornou mais tarde e que atualmente parece estar se flexibilizando. Mais do que a relação afetiva entre homens, era natural essa relação entre homens feitos e adolescentes, o que hoje chamaríamos de pederastia ou de pedofilia.
A questão atemporal está relacionada às noções de amor. Ainda hoje nossas concepções  sobre o amor são muito parecidas com as apresentadas por Platão. Por mais que sejamos seres sociais, o que nos confere uma posição de contínua mudança, nossas emoções são atávicas, o que evidencia nossa dimensão biológica.  
FEDRO: O primeiro que discursa, faz um discurso bem simples. Platão vale-se de um recurso de ordem retórica pois Fedro apresenta-nos Eros como o mais antigo dos deuses, o que é muito significativo pois o discurso de Fedro é o mais antigo, anterior a todos, compartilhando da mesma característica dada por ele ao Eros.
Aí vem a questão mais relevante de seu discurso: o desejo precede a consumação, nós desejamos antes de fazer, as intenções precedem as ações. Desejo como criador de coragem, elemento motivador. O desejo tem algo de corajoso que nos faz querer e buscar algo que realmente julgamos importante para nós. Aqueles que amam são mais nobres do que aqueles que são amados, pois os que amam tem uma espécie de inspiração divina para realizar boas ações àqueles que são amados. Todos os nossos desejos gostariam de realizar-se. Quando desejamos algo, temos a força motivacional para a consumação do desejo.
Nós somos corajosos quando queremos algo e quando amamos. Aquilo que desejamos nos motiva a realizar/fazer. Não deveríamos ignorar o poder de Eros, o poder do desejo, pois o desejo nos leva a determinadas ações. Motivados pelo desejo nós fazemos com muito gosto algo que não faríamos com muito gosto algo que pedissem para que fizéssemos.
PAUSÂNIAS: Diz que Eros é constituído por duas deusas femininas, analisando assim a dualidade das nossas inclinações amorosas, apresentando uma espécie de problema moral, resultante dos costumes ou das inclinações humanas. Afirma claramente que Fedro não fez as devidas distinções dos fenômenos afetivos ou amorosos, pois as coisas em si mesmas não são belas nem são nobres MAS ELAS ASSIM SE TORNAM EM VIRTUDE DE INTENÇÕES PROPÓSITOS DE UMA NOBREZA, por exemplo, não é nobre amar mas nobre se torna um tipo de amor, um modo como amamos. Pois as pessoas podem ter um amor não belo, não elogiável, não digno. Diferencia as deusas entre Afrodite urânia, dos céus e Afrodite popular, Pandêmia, vulgar. Nobre é aquele que ama a alma e vulgar é aquele que ama apenas corpo, que não tem compromisso, ama somente pelo gosto, pelo prazer. 
1º Fala a partir da permissão social daqueles que amam. Todos nós temos uma espécie de percepção espontânea a respeito daqueles que amam ou não se amam. Para aqueles que se amam nós permitimos que façam certas coisas que não seriam permitidas ou bem aceitas se fossem feitas por aqueles que não se amam. Nós somos muito permissivos ou recriminadores dependendo do tipo de mediação afetiva que ocorre.
2º Quando nós somos tomados de algo como o sentimento de afetividade autêntica, a sociedade permite e os próprios seres “que amam” se permitem determinadas ações. Porém, quando esse sentimento não é autêntico. Quando as outras pessoas, ou até mesmo quando você acredita numa espécie de amor honesto, nós somos permissivos. Quando imaginamos que alguém esteja querendo tirar vantagem na relação, isso seria entendido como uma espécie de má intenção.
NÓS NÃO JULGAMOS OS ATOS AMOROSOS, MAS AS INTENÇÕES, se elas são autênticas ou não. Eros, ou nesse caso as duas Afrodites, transformam os seres humanos, ou nós mudamos quando nós nos apaixonamos, ou quando temos sentimentos afetivos.
3º Você não é a mesma para mim se estou apaixonado por você quando não estou apaixonado. Nos portamos de maneira diferente com aqueles que amamos. Consideramos vergonhoso fracassar no amor, isso causa um baque na nossa autoestima.
Nós somos diferentes quando amamos e as outras pessoas são diferentes quando elas amam.
Pausânias apresenta o amor ideal, que seria entre um homem mais velho, sábio, aquele que ama, e um homem mais novo, jovem e belo.
Deusas diferentes inspiram modos diferentes de amar. Apresenta-nos a dualidade das possibilidades das ações humanas.
Nossos desejos sempre são associados ao prazer, desejamos algo perante a suposição de que será prazeroso alcançar aquilo que desejamos. Nossas ambições tem sempre uma ideia de prazer subjacente.
ERIXÍMACO: Temos a multiplicidade, são múltiplos fenômenos. Nossas mediações, sejam elas amorosas ou não, são motivadas por uma multidimensionalidade humana. Não apenas amamos pessoas, amamos também a beleza, a perfeição, amamos objetos, ações... Não são deusas, mas sim uma multidimensionalidade humana. O Eros aqui é um Eros que se manifesta dentro da multiplicidade da mente humana. Esta manifestação busca sempre algo como que o equilíbrio, nós somos necessariamente levados a algo como o bem estar quando conseguimos o equilíbrio extremo. Eros deve gerar algo como equilíbrio.
O amor está na harmonia, no equilíbrio entre os seres.
 OS DISCURSOS TEM UM ENCADEAMENTO
Nós tendemos a querer harmonizarmo-nos com quem nós amamos.
Justo equilíbrio quando amamos. Diz que nas nossas paixões, desejos, mediações, naquilo que nós queremos há sempre de se buscar uma espécie de equilíbrio que no fim das contas irá resultar em algo como o bem-estar. Justiça e sabedoria (é na verdade o discernimento). Saber a medida certa daquilo que se está fazendo. TODOS NÓS PODEMOS COMETER EXCESSOS QUANDO TEMOS PAIXÕES, quando queremos muito algo, podemos nos expor a determinados riscos. Em todas as experiências em que somos afetivamente vinculados a outro ser, deveríamos ter bom senso, discernimento.
ARISTÓFANES: Figura mitológica, mito das almas gêmeas. Diz que o fenômeno da afinidade entre pessoas tem a ver com uma causa metafísica, ou que precede a existência humana. Ele diz que os seres humanos antes de nascer eram uma espécie de alma única (mito da androginia), ou seja, que os homens são constituídos como indivíduos da metade de uma alma que foi seccionada, separada, e uma parte se tornou fem e outra masc, e essas metades de almas foram separadas em corpos diferentes, e desde o nascimento põem-se a procurar sua metade correspondente.
Esse parece ser o mais belos dos modelos de afetividade. É a aquela expectativa de explicação do porque algumas pessoas tem uma espécie de magnetismo uma com as outras, ou a impressão de que nasceram uma para a outra, ou a impressão de pertencimento recíproco, ou a sensação de afinidade, entendimento recíproco... que significaria uma quase que perfeita identidade. Ideia de amor a primeira vista.
Apresenta algo trágico em seu discurso: ONDE ESTARIA MINHA ALMA GÊMEA?
Encontrar a pessoa que tem afinidade conosco não é tão simples assim, encontrar aqueles que fazem parte de nós, não é tarefa fácil, é felicidade concedida a poucos entre os mortais. Os processosafetivos amorosos são seletivos, não temos afinidade para com todas as pessoas. Temos uma ideia imaginária de alguém que preencheria nossas expectativas afetivas.
Os homens desejam e de alguma maneira se expressam amorosamente motivados por polos opostos, o que provém da alma dessas pessoas que tem afinidade umas com as outras. Nós gostamos da pessoa, e não do corpo de alguém, gostamos do modo genuíno de alguém ser, e isso faz parte de nossas inclinações mais intimas, e por vezes a pessoa que nós estimamos está num corpo de mesmo sexo do nosso, mas que preenche uma espécie de polaridade inversa a nossa. Quando as pessoas realmente amam, a questão corpo é muitas vezes o que menos tem importância, pois no fundo as pessoas se amam como pessoas e não como corpos. Aristófanes transfere a origem de nossas inclinações amorosas ao “âmbito psíquico” em que não os corpos decidem, mas sim as almas. 
Historicamente nós sempre tivemos do ponto de vista jurídico, moral, religioso, social... Resistência em relação ao termo formas alternativas amorosas, mas mais recentemente nós começamos a entender o conceito de pessoa que não repousa sobre uma estrutura genética, mas sim sobre uma construção psíquica muito própria, o que faz com que alguém se sinta como se estivesse no corpo errado, a ponto de pessoas alterarem o seu corpo para se adequar com sua identidade psíquica.
 Temos a necessidade de encontrar um polo de mediação, de complemento para por um lado corresponder as nossas necessidades de afetividade, companhia, como também na realização de nossas mediações, energias afetivas. O desafio de cada ser humano é encontrar a parte, o ser humano que corresponda a sua real necessidade.
Sócrates, o sexto orador, considerado o mais importante dos oradores presentes, afirma que o amor é algo desejado, mas este objeto do amor só pode ser desejado quando lhe falta e não quando possui, pois ninguém deseja aquilo de que não precisa mais. Segundo Platão, o que se ama é somente "aquilo" que não se tem. E se alguém ama a si mesmo, ama o que não é. O "objeto" do amor sempre está ausente, mas sempre é solicitado. A verdade é algo que está sempre mais além, sempre que pensamos tê-la atingido, ela se nos escapa entre os dedos.

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