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Teoria Geral da Posse

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Teoria geral da posse
1
Teoria geral da posse
Professor Célio Egídio
Teoria geral da posse
2
Aula 1- Apresentação 3
Aula 2 - Posse: breve histórico 4
Aula 3 - Distinção entre os direitos reais e obrigacionais (parte 1) 5
Aula 4 - Distinção entre direitos reais e obrigacionais (parte 2) 7
Aula 5 - Teorias sobre a posse 8
Aula 6 - Posse: conceituação 9
Aula 7 - Teoria geral da posse 10
Aula 8 - Natureza jurídica da posse 11
Aula 9 - Classifi cação da posse (parte 1) 12
Aula 10 - Classifi cação da posse (parte 2) 13
Aula 11 - Classifi cação da posse (parte 3) 14
Aula 12 - Classifi cação da posse (parte 4) 15
Aula 13 - Posse de boa-fé e posse de má-fé (parte 1) 16
Aula 14 - Posse de boa-fé e de má-fé (parte 2) 17
Aula 15 - Posse nova e posse velha 19
Aula 16 - Posse natural ou posse civil ou jurídica 20
Aula 17 - Posse pro diviso e posse pro indiviso 21
Aula 18 - Aquisição da posse 23
Aula 19 - Modos de aquisição da posse 24
Aula 20 - Aquisição da posse 25
Aula 21 - Perda da posse 26
Aula 22 - Revisão 27
Aula 23 - Revisão 28
Aula 24 - Efeitos da posse 28
Aula 25 - Legitimidade ativa e passiva 30
Aula 26 31
Aula 27 - Distinção entre juízo petitório e juízo possessório 32
Aula 28 - Fungibilidade dos interditos 33
Aula 29 - Procedimentos de força nova e de força velha 34
Aula 30 - Ações possessórias 35
Aula 31 - Ação de manutenção de posse 36
Aula 32 - Ação de manutenção de posse 37
Aula 33 - Ação de reintegração de posse (parte 1) 39
Aula 34 - Ação de reintegração de posse (parte 2) 40
SUMÁRIO
Teoria geral da posse
3
Aula 35 - Interdito proibitório (parte 1) 42
Aula 36 - Interdito proibitório (parte 2) 44
Aula 37 - Outros efeitos da posse: ações possessórias atípicas 45
Aula 38 - Outros efeitos da posse: ações possessórias atípicas 47
Aula 39 - Revisão 48
Aula 40 - Revisão 49
Referências bibliográfi cas 50
SUMÁRIO
Teoria geral da posse
4
AULA 1- APRESENTAÇÃO
O eminente professor Clóvis Beviláqua (1975) 
defi ne direito das coisas como “[...] um complexo de 
normas reguladoras das relações jurídicas referentes 
às coisas”, lembrando que o ilustre autor defi ne coisas 
como gênero, da qual a espécie é o bem, algo de 
interesse do homem e, por conseguinte, de interesse 
relevante para o Direito. Afi rmamos, então, que 
direito das coisas é o conjunto normativo que rege as 
relações jurídicas que envolvem os bens de interesse 
das pessoas, sejam eles tangíveis ou intangíveis.
O Código Civil Brasileiro utiliza o título “Direito das 
Coisas” pela infl uência da lei germânica e também 
do Código Napoleônico (de 1804), principalmente 
no que diz respeito aos direitos que possuem a 
coisa como objeto imediato. Também é utilizada a 
expressão “Direitos Reais”, mas estes estão inseridos 
especifi camente pela norma e são numerus clausus.
Nesse contexto é que se apresenta a posse, 
fenômeno jurídico de difícil defi nição que se insere 
no direito das coisas, pois afi nal se encontra na 
relação jurídica, pessoa-coisa (ou bem). É neste 
viés de compreensão das relações possessórias que 
delineamos o conteúdo que se apresenta para o início 
do curso de Direito Imobiliário.
Inúmeras são as difi culdades que aparecem no 
estudo da posse. Muita doutrina já foi elaborada 
a respeito. Embora os pesquisadores da ciência 
jurídica tenham se debruçado ao redor do tema, 
ainda permanecem vários pontos controvertidos 
e nebulosos. O nosso direito protege a posse não 
só da mesma forma que protege a propriedade e 
outros direitos reais, mas também em virtude de 
suas características especiais, constituindo-se como 
fi gura de forma autônoma na topografi a do Código 
Civil (artigos 1.196 e seguintes).
O professor Oliveira Ascensão, da Universidade 
de Lisboa, afi rma que a posse é uma das grandes 
manifestações do Direito, ou seja, o catedrático 
dissertava e alertava para a singularidade da relação 
existente no jus possessionis. Então, se alguém 
exercer poderes sobre uma coisa exteriorizando a 
titularidade de um direito, a ordem jurídica permite 
que sobre esse simples fato continue a exercê-lo, 
sem exigir maior justifi cação. O que se entende como 
titular, ou se apresenta como tal, permanecerá titular, 
sem a necessidade de se provar a titularidade. É a 
exteriorização de dono como posse, ou seja, o dono 
se apresenta como tal e assim é considerado.
Obviamente, em dado momento lhe será 
inquirido sobre o modo de assunção como dono, 
sua legitimidade, a anterioridade do possuidor, entre 
outros pontos, mas deixaremos esta controvérsia 
para outro momento. Por ora, depreendemos que 
o direito de posse existe no qual o fato estriba o 
direito. A posse é protegida para evitar a violência 
e assegurar a paz social, porque a situação de fato 
aparenta ser uma situação de direito, ou seja, é uma 
situação de fato protegida pelo direito.
A compreensão do instituto posse não poderia 
se afastar do conteúdo geral do novo Código Civil 
e sua composição de atendimento ao fi m social, a 
socialidade. Como toda propriedade, a posse deve 
buscar seu fi m social e econômico. Além assegurar 
a paz social, deve também atingir o interesse social 
da comunidade, conforme preconiza os primados que 
envolvem o direito privado após a vigência do novo 
Código Civil, em total consonância com a Constituição 
Federal.
Não estamos distantes das demais legislações 
possessórias, pois o Código Civil Suíço assim 
apresenta o instituto posse (besitz), em seu artigo 
919: “Aquele que tem o poder efetivo sobre uma 
coisa é seu possuidor” (DINIZ apud RAMOS, 2004). 
Também o artigo 920, em uma clara demonstração 
de que a posse no sistema de direito positivo suíço 
é passível de desdobramento – e, portanto, sujeita a 
conferir a condição de possuidor também àquele que 
não seja proprietário – distingue a posse originária 
Teoria geral da posse
5
(posse do proprietário), da posse derivada (posse do 
“não proprietário”).
Portanto, o instituto posse recebe tratamento 
similar em legislações estrangeiras, sempre com o 
intuito de proteção e preservação da exteriorização 
do poder sobre algum bem.
AULA 2 - POSSE: BREVE HISTÓRICO
O homem, desde o seu surgimento, não foi 
diferente em relação ao ato volitivo de possuir coisas. 
Jamais saberemos quando e como surgiu a noção de 
posse, que em sua concepção primitiva é um vínculo 
estabelecido entre um indivíduo ou um grupo e um 
determinado bem da vida.
 Este vínculo pode ter um caráter exclusivamente 
individual, através do qual um indivíduo se reconhece 
com senhorio sobre um bem, ou pode apresentar 
a sua institucionalização (reconhecimento por 
terceiros).
A própria noção de Direito é variável na história. 
Entretanto, utilizando a atual visão que temos do 
Direito, podemos afi rmar que a posse certamente 
esteve presente desde as mais primitivas formas 
de organização humana. Outras descobertas 
arqueológicas ainda muito mais antigas, que 
remontam a períodos de dezenas de milhares de 
anos, revelam a existência de uma relação de posse 
de indivíduos ou grupos em relação a objetos ou 
áreas.
Mesmo a respeito do Direito Romano é preciso 
termos cuidado, já que sob esta categoria pode ser 
descrito o Direito de um período de aproximadamente 
doze séculos. Podemos afi rmar que a propriedade 
inicialmente era representada pela gens, surgindo 
posteriormente a propriedade do Estado.
Com a propriedade estatal, surgiu o dominium, 
poder conferido peloEstado aos particulares sobre 
as terras, que tomavam a forma de concessões 
feitas através de um dos seguintes instrumentos: 
assignationes viritanae, por solicitação dos cidadãos, 
assignationes coloniae, visando à fundação de uma 
nova colônia, ou pelas agri questorii, através de 
venda em leilões pelos “questores”.
A posse sobre a terra era exercida, assim, por três 
formas. Pelo exercício do dominium, pela ocupação de 
terras devolutas e por concessões que asseguravam 
a mera fruição, sem transferência do domínio (agri 
occupatori), mediante o pagamento de uma “pensão” 
paga ao Estado denominada vectigal. 
A posse na Europa medieval possui sua maior 
expressão na fi gura do feudo principal como 
unidade econômica, que se dividia em três partes: a 
propriedade privada do senhor (chamada de domínio 
ou manso senhorial, no interior do qual havia 
geralmente um castelo fortifi cado), o manso servil 
(porção de terras arrendadas aos camponeses e que 
eram divididos em lotes, chamados de tendências) e 
o manso comunal (constituído por terras coletivas em 
pastos e bosques, usadas tanto pelo senhor como 
pelos servos). Assim, a posse era primazia do senhor 
feudal e uma concessão aos seus servos.
Após a Revolução Francesa, um novo conceito de 
posse se instala na Europa com a abolição do regime 
feudal. Este foi um dos grandes “motes” para a nova 
sociedade, e por consequência para a nova relação 
possessória. O Código Civil Francês, publicado em 
1804, consolidou esta situação, priorizando uma 
visão privatista da propriedade e da posse. Na 
esteira do Código Napoleônico, surgiram os códigos 
austríaco (1811), neoirlandês (1838), saxão (1863) 
e italiano (1865). No mesmo sentido, a Constituição 
Americana apresenta o direito de propriedade e, por 
consequência, a liberdade no efeito posse.
No Brasil, o Código Civil de 1916, de concepção 
liberal europeia, não fi cou imune à discussão 
doutrinária ocorrida no percurso histórico iniciado 
especialmente na segunda metade do século XIX 
Teoria geral da posse
6
no Brasil, e que acabou por estabelecer um eixo de 
análise para a posse – embora não exclusivo – em 
torno das ideias de Savigny e Ihering, além de certa 
infl uência de autores portugueses do fi nal do século 
XVIII e do século XIX.
Para os doutrinadores do início do século XX, 
posse constitui a condição de fato da utilização 
econômica da propriedade. Assim, o direito de 
possuir é um elemento indispensável da propriedade. 
A posse é a porta que dá acesso à propriedade e 
por decorrência a proteção possessória apresenta-se 
como posição defensiva do proprietário, traçando os 
primeiros rumos da posse na era moderna, posição 
esta defendida até os dias atuais por alguns autores.
O Código Civil de 2002, inovador e distante de um 
conceito liberal, defi nido por Ricardo Fiuza e Miguel 
Reale, apresentam a posse com instituto de relação 
de fato, não a defi nindo, mas apresentando quais 
os atributos de sua apresentação, ou melhor, de sua 
exteriorização perante os demais para se confi gurar 
a condição de futuro proprietário.
“Considera-se possuidor, todo aquele que tem de 
fato o exercício, pleno ou não, de alguns dos poderes 
inerentes à propriedade.” (art. 1.196, Código Civil 
Brasileiro).
AULA 3 - DISTINÇÃO ENTRE OS 
DIREITOS REAIS E OBRIGACIONAIS 
(PARTE 1)
Após um breve relato sobre a posse, retornamos 
às grandes distinções que envolvem as diversas 
classes de direitos intrínsecos no direito privado –
mais precisamente no Direito Civil.
3.1 Introdução
O direito das coisas é o ramo do Direito Civil que 
regula as relações jurídicas reais, entendidas estas 
como as que se estabelecem entre o titular de uma 
coisa e a sociedade em geral (os não titulares do 
bem). 
 pessoa (titular) <-> bem <-> outras pessoas 
(sem direito ao bem)
O homem, na busca de satisfazer suas 
necessidades, procura apropriar-se das coisas que 
encontra na natureza. Não tratamos aqui das coisas 
que se apresentam de forma abundante – mesmo 
considerando sua enorme utilidade –, como a água 
potável, o ar, entre outros. As coisas somente se 
tornam objetos de apropriação quando são úteis, 
raras e passam a constituir bens, pelos quais se 
estabelece o domínio, um vínculo jurídico entre as 
coisas e os homens. 
Entre titulares e não-titulares surgem direitos e 
deveres. Os deveres, chamados obrigações reais, 
traduzem-se na abstenção de qualquer ato prejudicial 
ao direito do titular. Em correspondência, existem os 
direitos do titular, tidos como direitos reais. Neste 
diapasão, o direito das obrigações tem como objeto 
os direitos creditícios, enquanto que o direito das 
coisas tem como objeto os direitos reais.
3.2 Distinção entre direitos reais e 
obrigacionais: teorias
Com a intenção de diferenciar direitos reais e 
obrigacionais, surgiram teorias voltadas para este 
estudo. São elas:
3.2.1 Clássica ou realista
Os direitos reais constituiriam o poder imediato 
sobre uma coisa; os obrigacionais, o poder de exigir 
que se dê, faça ou não se faça algo. A distinção 
desses direitos obedece a vários referenciais:
a. Quanto aos elementos constitutivos: os 
direitos reais possuem dois (titular e objeto), 
enquanto os obrigacionais possuem três (sujeito 
ativo, passivo e objeto).
Teoria geral da posse
7
b. Quanto às vantagens: nos direitos reais há 
poder de sequela (direito de sequela), de seguir a 
coisa onde quer que ela vá, direito de dono. Nos 
obrigacionais, nenhuma.
c. Quanto à sanção: os direitos reais são 
oponíveis erga omnes, contra todos; os obrigacionais, 
contra uma certa pessoa, determinada – o devedor, 
único para quem o credor pode exigir o crédito.
d. Quanto aos modos extintivos: os reais não 
têm prazo para se extinguir, podendo ser perpétuos, 
enquanto os obrigacionais duram até o pagamento.
e. Quanto aos modos de aquisição: os direitos 
reais têm modos peculiares de aquisição. Assim, a 
propriedade, por exemplo, é adquirida pelo registro 
ou tradição, pela acessão e pela usucapião. Os 
direitos de crédito se adquirem pela ocorrência de 
fato, como um contrato ou ato ilícito.
f. Quanto à posse: para os direitos reais, 
somente uma coisa pode ser possuída, por ser a 
posse o elemento externo da propriedade, enquanto 
para um direito obrigacional isso não é possível.
g. Quanto aos caracteres gerais: os efeitos dos 
direitos reais são expressamente regulados em lei e 
estes são adquiridos de uma só vez, já os dos direitos 
de crédito podem ser estipulados em convenção e 
adquiridos em prestações.
3.2.2 Personalistas
As teorias personalistas negam a possibilidade 
de haver uma relação jurídica entre um titular e um 
bem, defendendo que esta só existe entre pessoas. 
As teorias personalistas enxergam que a distinção 
entre direitos reais e obrigacionais aparece ora em 
função do sujeito passivo, ora em função do objeto, 
ora em função do vínculo. Vejamos:
a. Primeira teoria personalista (Windscheid, 
Roguin e Planiol): tanto os direitos reais como os 
de crédito decorrem de relações obrigacionais entre 
pessoas. A diferença está no sujeito passivo: nos 
reais é universal, toda a sociedade; nos de crédito, 
uma ou várias pessoas determinadas, os devedores.
b. Segunda teoria personalista (Michas e 
Quéru): a diferença existe em função do objeto, que 
no direito real é um bem, e no obrigacional, uma 
prestação.
c. Terceira teoria personalista (Démogue): 
nenhuma das diferenças apresentadas é importante 
– o que existem são direitos fortes (reais) e fracos 
(creditórios). A diferença mais importante é a 
intensidade do vínculo jurídico.
d. Quarta teoria personalista (Thon e 
Schlobman): os direitos de crédito são subjetivos, ao 
passo que os direitos reais são de necessidade social.
3.2.3 Teoria da instituição (Hauriou)
Os direitos reais teriam sua fonte na própriainstituição social, e não nas relações pessoais ente os 
indivíduos. A coletividade organizada institucionaliza, 
cria seus mecanismos de defesa dos direitos 
individuais sobre suas coisas.
3.2.4 Obrigações propter rem
As obrigações reais proter rem (em razão da 
coisa) ou in rem scriptae (gravadas na coisa) situam-
se entre o direito real e o obrigacional. Surgem como 
obrigações pessoais de um devedor, por ser ele titular 
de um direito real. Porém, aderem mais à coisa do 
que propriamente ao seu titular.
Exemplos: dívidas de impostos prediais, despesas 
de condomínios e hipoteca.
Teoria geral da posse
8
AULA 4 - DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS 
REAIS E OBRIGACIONAIS (PARTE 2)
4.1 Conceito de direito real
Segundo Lafayette Rodrigues Pereira (apud 
CARVALHINHO, 2005) é o que afeta a coisa direta e 
imediatamente, sob todos ou sob certos respeitos e a 
segue em poder de quem quer a detenha.
É o direito que se prende à coisa, prevalecendo 
com a exclusão da concorrência de qualquer pessoa. 
Seu exercício independe da colaboração de outrem e 
confere ao titular a possibilidade de ir buscar a coisa 
onde ela se encontra para exercer seu direito sobre 
ela.
Enfi m, o direito real apresenta-se como um vínculo 
entre pessoa e coisa, prevalecendo contra todos, 
conferindo ao seu titular a prerrogativa da sequela e 
a ação real. Ademais, é exclusivo e tem seu número 
limitado pela lei. 
4.2 Características
a. Relação entre a pessoa e a coisa;
b. oponibilidade erga omnes; 
c. direito de sequela;
d. direito de preferência;
e. ação real;
f. exclusividade;
g. numerus clausus.
4.3 Os direitos reais enumerados pelo 
Código Civil Brasileiro
O Código Civil Brasileiro, em seu artigo 1.225, 
enumera como direitos reais a propriedade, a 
superfície, as servidões, o usufruto, o uso, a 
habitação, o direito do promitente comprador do 
imóvel, o penhor, a hipoteca e a anticrese. Esse 
rol, pelo entendimento da maioria dos juristas, é 
numerus clausus, sendo a enumeração taxativa, e 
não meramente exemplifi cativa.
São contrários a essa opinião, advinda do direito 
romano, Washington de Barros e Pontes de Miranda, 
entre outros. Como defensores, temos Serpa Lopes, 
Clóvis Beviláqua, César Fiuza, Maria Helena Diniz, 
Silvio Rodrigues etc.
Obs.: a enfi teuse foi extinta pelo CC/2002, porém 
continua regulada pelo CC/1916, a respeito das já 
constituídas.
4.4 Classifi cação dos direitos reais
Primeiramente, os direitos reais são classifi cados 
considerando o objeto que recai. Temos, assim, 
direitos reais sobre coisa própria (propriedade) e 
sobre coisa alheia (os demais). 
Os direitos reais sobre coisa alheia subdividem-se 
sob a ótica de sua fi nalidade:
• Direitos reais de gozo (uso e fruição): 
servidões, superfície, usufruto, uso e habitação, 
enfi teuse.
• Direitos reais de garantia: penhor, hipoteca, 
anticrese.
• Direitos reais de aquisição: promessa 
irretratável de venda de imóvel.
Teoria geral da posse
9
4.5 Princípios
Principio da aderência
Estabelece um vínculo, uma relação de senhorio 
entre a coisa e a pessoa (titular), não dependendo de 
nenhuma relação com terceiro.
Princípio do absolutismo
Os direitos reais se exercem erga omnes, ou 
seja, contra todos, que devem abster-se de molestar 
o titular, surgindo o direito de sequela ou o jus 
persequendi.
Princípio da publicidade
Os direitos reais, por serem imóveis, somente são 
adquiridos com o registro (cartório de registro de 
imóveis) e pela tradição, quando móveis.
AULA 5 - TEORIAS SOBRE A POSSE
O estudo da posse é rico em teorias que vêm a 
desvendar a sua real origem. Podemos reduzir as 
teorias que tentam explicar a posse em dois grupos. 
O primeiro se refere à teoria subjetivista da posse, 
proclamada por Friedrich Karl von Savigny, primeiro 
jusfi lósofo a tratar do tema na era moderna. Outro 
grande jus fi lósofo que tratou do tema Rudolf von 
Ihering, com a teoria objetivista. Temos ainda as 
teorias intermediárias, como a teoria eclética de 
Ferrini, onde a posse é um direito e um fato.
5.1 Teoria subjetiva de Savigny
Savigny, em sua obra intitulada Tratado da Posse, 
pesquisa a dogmática romana no contexto da posse, 
afi rmando sua posição autônoma e de direitos 
exclusivos e estritamente resultantes da posse. 
O jus possessionis, para o autor, ou seja, a posse 
se caracterizava pela conjugação de dois elementos, 
o corpus e o animus. O primeiro consiste na detenção 
física da coisa, e o segundo no elemento volitivo, 
ou seja, no elemento subjetivo que se encontra na 
intenção, na vontade de exercer o direito sobre certa 
coisa. É o exercício da posse pelo possuidor – não a 
concepção de ser dono, mas a vontade de ter o bem 
como seu.
Na visão do ilustre jurista, os dois elementos são 
indispensáveis para a compreensão da posse. Na falta 
do corpus, segundo sua teoria, inexistirá a fi gura da 
posse, e o mesmo ocorre na falta do animus. Então, 
Savigny desenvolveu a teoria de que a posse é o 
poder de dispor fi sicamente da coisa, com ânimo de 
considerá-la sua e defender contra terceiros.
Em síntese: corpus - elemento material
 animus - propósito de ter a coisa, vontade animus 
rem sibi habendi
Para Savigny, quando somente o animus está 
presente, o que existe é a mera detenção.
Não houve base para a progressão de sua teoria. 
Com a fi gura do arrendatário e do locador, a teoria 
não foi assimilada pelo direito moderno.
5.2 Teoria objetiva de Ihering
A teoria de Rudolf von Ihering é por ele batizada 
como objetiva, ou seja, não há elementos subjetivos 
que adornam a posse, pois não empresta a 
vontade ao animus. Portanto, basta o corpus para a 
caracterização da posse, ou seja, a relação física não 
é necessária – para Ihering, desde que haja por parte 
do possuidor a vontade de ser dono.
A posse é a condição do exercício da propriedade. 
A distinção entre corpus e animus é irrelevante, pois 
a noção de animus já se encontra na de corpus pela 
maneira como o possuidor age em face da coisa, sua 
condição de possuidor depende disso. O lavrador que 
deixa sua colheita no campo não a tem fi sicamente, 
Teoria geral da posse
10
entretanto o conserva em sua posse. O madeireiro 
que lança à correnteza os troncos na montanha para 
que o rio os conduza à serraria não tem o poder 
físico, mas mantém a posse.
A conduta de ser dono pode ser avaliada de 
madeira objetiva, sem a necessidade de se pesquisar 
a intenção. A posse, então, torna-se a exteriorização 
da propriedade. O Código Civil de 2002 aparenta 
adotar a Teoria de Ihering.
AULA 6 - POSSE: CONCEITUAÇÃO
O conceito de posse remonta ao período romano, 
embora tenha traços de outras civilizações mais 
antigas.
Na Lei das Doze Tábuas, a posse é alcançada 
por via indireta, pois descreve em dados momentos 
a pena para aquele que retira algo de alguém, 
deduzindo que havia uma relação possessória entre 
um titular e seus bens, inclusive sobre sua mulher e 
escravos.
Embora haja uma variedade de entendimentos, a 
posse, segundo a doutrina tradicional, está sempre 
na direção da compreensão da situação de fato. 
Posse - situação de fato
Posse é a conduta de dono, segundo Ihering, 
adotada pelo nosso Código. O conceito de posse é 
dado no artigo 1.196 do Código Civil Brasileiro, que 
descreve as questões de exercício dos atributos da 
propriedade.
Verifi camos que o legislador apresentou como 
nuclear a condição expressiva da posse, o animus 
em ser possuidor, na visão de João Batista Monteiro. 
A posse implica no exercício dos poderes de fato, não 
podendo recair sobre um direito real. Aduz o eminente 
autor que a posse está vinculada à expressividade de 
ser possuidor, e não na relação normativa que recai 
sobre os direitos reais.
Lembramos que atos de mera permissão não 
induzem posse, como veremos adiante,assim como 
os atos violentos ou clandestinos. O titular da posse 
tem o interesse potencial em permanecer, conservar 
e proteger a mesma de qualquer tipo de molestação 
que porventura venha a ser praticada por outrem.
Outros autores apresentam a formação do conceito 
de posse de forma indireta, utilizando outra técnica, 
mas que sempre caminharão para a conceituação 
posse-estado de fato-animus. Vejamos.
Segundo o Prof. Silvio Rodrigues (2002):
 Um proprietário de um prédio se encontra 
em pleno gozo e uso, quando violentamente 
desapossado. Como o ordenamento jurídico 
repele a violência, ou seja, o esbulho, 
independentemente de ser proprietário, poderá 
propor a devida reintegração, estabelecendo 
a situação anterior, de fato. O Poder Judiciário 
restabelecerá a situação de fato anterior.
Outro exemplo é daquele que adquire prédio 
de outrem que não é seu dono e nele se instala. 
Posteriormente, o verdadeiro proprietário vêm e 
pretende privar violentamente da posse que goza. 
Como a lei não permite tal situação, ou seja, “fazer 
justiça pelas próprias mãos”, permanece a situação 
de fato até que o verdadeiro proprietário, por via 
judicial, demonstre o direito. 
De ambos os casos retiramos a conclusão que o 
ordenamento jurídico visa à permanência da situação 
de fato até que se confi gure a situação de direito 
via sentença judicial, com o intuito de assegurar a 
paz social. Temos, portanto, a situação de posse 
protegida pelo ordenamento.
Na relação material entre a pessoa e a coisa, a 
situação de fato que se estabelece entre ele e a coisa 
se justifi ca em um direito preexistente, de modo 
que sua posse decorre de um jus possidendi (Otávio 
Moreira Guimarães). A situação de fato poderá 
vir desacompanhada de um direito anterior, pois 
Teoria geral da posse
11
alguém pode ocupar terra alheia de modo manso e 
pacífi co por certo lapso temporal, adquirindo certa 
estabilidade até adquirir a própria propriedade. 
A posse é uma situação de fato protegida pelo 
ordenamento jurídico. É real na aparência e situação, 
sendo posse a exteriozação do jus utendi, jus fruendi, 
rei reividicatio e o jus disponendi.
AULA 7 - TEORIA GERAL DA POSSE
7.1 Distinção de posse e propriedade
A posse, como afi rmamos anteriormente, é uma 
relação de fato entre o sujeito e o bem protegida 
pelo ordenamento. Por sua vez, a propriedade é 
uma relação de direito, ou seja, a norma apresenta 
de modo claro situação topográfi ca da propriedade, 
inserta nos direitos reais, que em nosso ordenamento 
é considerado numerus clausus, ou seja, somente a 
lei poderá criar um direito real.
 A distinção, portanto, entre a posse e a propriedade 
é transparente, não necessita de maiores ilações, pois 
a propriedade é o mais amplo direito sobre a coisa, 
dando poder de usar, fruir, consumir e até mesmo 
destruir.
A posse tem o poder de fato exercido por uma 
pessoa sobre uma coisa, relação esta que também é 
tutelada por lei, onde se revela a intenção de exercer 
o direito possessório. A posse do proprietário é 
consequência do seu direito de possuir, e esse direito 
pode ser conquistado por aquisição ou também por 
doação.
Portanto, a posse consiste em uma relação de 
pessoa e coisa, criando mera relação de fato, e a 
propriedade é a relação entre pessoa e coisa que 
assenta na vontade objetiva da lei, onde é criada 
uma relação de direito.
A propriedade é relação entre pessoa e coisa 
diante da lei, implicando poder jurídico e criando uma 
relação de direito.
Em ambas há proteção legal.
7.2 Distinção entre posse e detenção
O prof. Carlos Roberto Gonçalves exemplifi ca que 
o possuidor é aquele que exerce o poder de fato em 
razão de interesse próprio, enquanto o detentor, no 
interesse de outrem, é o caso típico dos caseiros e de 
todos aqueles que zelam por propriedades em nome 
dos donos. Podem ser mencionados, ainda, como 
exemplos de detenção a situação do soldado em 
relação às armas no quartel e a do preso em relação 
às ferramentas com que trabalha.
Embora, portanto, a posse possa ser considerada 
uma forma de conduta que se assemelha a de dono, 
não é o possuidor um vigilante permanente da posse, 
possibilitando à norma a delegação para outro a 
conservar em seu lugar, desde o faça que sob suas 
orientações e ordens.
É o típico caso, consagrado na doutrina, dos 
caseiros e de todos aqueles que de alguma forma 
zelam pelo patrimônio alheio.
7.3 Posse e quase posse
A quase posse vem do direito romano, mas 
alertamos, desde já, que a teoria não foi adotada pelo 
Código Civil de 2002. Trata-se da compreensão de 
que os romanos não consideravam a posse emanada 
de uma relação de exteriorização somente do animus 
de dono.
Para os romanos, a posse derivava da propriedade 
e a ela estava vinculada. Era exercida de um direito 
real menor ou de direitos reais sobre coisas alheias, 
tais como a servidão o usufruto. Desse modo, a 
posse ou poder de fato era emanado de um direito 
Teoria geral da posse
12
obrigacional ou pessoal, como na locação ou no 
comodato (atuais).
Os direitos, segundo os romanos, que poderiam 
constituir objeto de uma quase posse eram:
a. As servidões pessoais (usufruto e uso de 
escravos);
b. As servidões prediais (ligadas ao imóvel);
c. A superfície
Observamos que tal distinção não passa de escorço 
histórico para a compreensão de temas atuais, pois o 
objeto da posse naquele período avançava dos bens 
para as pessoas, algo abominado pela sociedade 
ocidental moderna.
O objeto da posse em quase todas as legislações 
modernas é o bem.
AULA 8 - NATUREZA JURÍDICA DA 
POSSE
Para aqueles que defendem a teoria subjetiva, 
a posse é ao mesmo tempo um fato e um direito. 
Aponta-se que se trata de um acontecimento casual 
que produz efeitos jurídicos. Na teoria objetiva, por 
outro lado, a posse é simplesmente um direito por 
representar um interesse juridicamente protegido. A 
doutrina moderna deve considerá-la um direito.
O professor Caio Mario da Silva Pereira realça 
que o debate doutrinário desse aspecto não tem 
hoje grande importância, bastando dizer que após a 
posse ter origem em uma relação de fato, converte-
se desde logo em uma relação jurídica.
Admitida a posse como direito, perdura o dissenso 
sobre a natureza desse direito, isto é, se ele é pessoal 
ou real. Civilistas como Caio Mario da Silva Pereira, 
Orlando Gomes e Pontes de Miranda concluem que a 
posse é um direito real. Eles dão conta; realçam que 
a sujeição da coisa à pessoa é direta e imediata, e o 
direito do possuidor é exercitado “erga omnes”, como 
todo direito real.
O Código de Processo Civil, no artigo 10, § 2º 
não reconhece que o direito de posse tem natureza 
real. O mesmo dispõe que, nas ações possessórias, 
a participação do cônjuge do litigante só será 
indispensável no caso de composse ou de atos 
praticados por ambos os cônjuges. A participação 
do casal em uma ação possessória não decorre da 
natureza jurídica da posse, mas da comunhão de 
direitos e obrigações.
Quanto à natureza jurídica da posse, Savigny que a 
posse é ao mesmo tempo um direito e um fato. É um 
fato se considerada em si mesma. Considerada nos 
efeitos que gera, sendo eles usucapião e interditos, 
ela se apresenta como um direito.
Para Ihering, a posse nada mais é que um direito. 
Parte ele de sua defi nição de direito subjetivo, 
segundo a qual aquele é o interesse juridicamente 
protegido.
Há alguns doutrinadores que defendem ser 
a posse um direito real e não um estado de fato. 
Neste sentido, aduz Maria Helena Diniz que a posse 
é um direito real, posto que é a visibilidade ou 
desmembramento da propriedade. Pode-se aplicar o 
princípio de que o acessório segue o principal, visto 
que não há propriedade sem posse. 
Diniz argue, ainda, que o princípio contido no 
artigo 1.191 do nosso Código Civil,de que a tutela 
possessória do possuidor direto abrange a proteção 
contra o indireto, artigos 1.210 e 1.212 do Código 
Civil e nos artigos 920 e seguintes do Código de 
Processo Civil e, que é possível verifi car que o caráter 
jurídico da posse decorre da própria ordem jurídica 
que confere ao possuidor ações específi cas para se 
defender contra qualquer pessoa que o ameace, 
perturbe ou esbulhe.
Teoria geral da posse
13
Prossegue a eminente professora acenando que 
na posse se encontram todos os caracteres dos 
direitos reais, tais como:
- seu exercício direto, sem intermediário;
 - sua oponibilidade contra todos;
Por outro lado, o jurista Silvio Salvo Venosa 
(2003) defende a natureza da posse como estado 
de aparência. Tal revela-se o posicionamento 
adotado pela doutrina majoritária e tradicional. 
Aduz este jurista que se um possuidor tiver sido 
desapossado da coisa, tendo que provar sempre e 
a cada momento sua propriedade ou outro direito 
real na pretensão de reaquisição do bem, teria sua 
devida tutela e prestação jurisdicional prejudicada 
em face da morosidade, instaurando-se desse modo 
a inquietação social. 
Deve-se levar em conta que esse estado de 
aparência, que pode originar-se sem conter qualquer 
substrato jurídico, poderá servir para a aquisição da 
propriedade, como no caso de usucapião. Por essas 
e outras razões, deve o direito fornecer meios de 
proteção àqueles que se mostram como aparentes 
titulares de direito.
Segundo Silvio Rodrigues, não se pode considerar 
a posse direito real porque ela não fi gura na 
enumeração do artigo 1.225 do Código Civil de 2002, 
que é praticamente a mesma elencada no artigo 
674 do Código Civil de 1916, posto que aquela regra 
é taxativa e não exemplifi cativa, tratando-se aí de 
numerus clausus.
Alguns autores, que a natureza jurídica da posse 
é especial.
AULA 9 - CLASSIFICAÇÃO DA POSSE 
(PARTE 1)
Ao verifi carmos o texto legal de maneira objetiva, 
entende-se que a doutrina traduz que a posse 
pode ser classifi cada de várias maneiras, além do 
descrito na norma. Esta apresenta a posse exclusiva, 
a composse e posses paralelas: posse nova, posse 
velha e outras.
Temos também as derivações para a posse de má-
fé, boa-fé e outras modalidades que passaremos a 
descrever nas próximas aulas.
9.1 Posse direta e indireta
A lei reconhece a possibilidade de existência de duas 
categorias simultâneas de possuidores, qualifi cando-
os como possuidores diretos e possuidores indiretos.
Embora seja exclusiva por sua natureza, a posse 
pode ser concebida pela norma como múltipla posse 
sobre a mesma coisa.
Vejamos o que dispõe o artigo 1.197 do Código 
Civil:
A posse direta, de pessoa que tem a coisa 
em seu poder, temporariamente, em virtude de 
direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de 
quem aquela foi havida, podendo o possuidor 
direto defender a sua posse contra o indireto.
Observamos que há convivência de vários institutos 
sobre o mesmo bem, ou seja, um possuidor direito 
e um indireto. Então, temos a existência de uma 
relação jurídica negocial ou legal entre possuidores 
– imediato (direto) e mediato (indireto) –, em um 
desdobramento da relação possessória. Dessa forma, 
ambos os possuidores podem valer-se das ações 
possessórias. O possuidor indireto, quando o titular 
se afasta por sua vontade, adquire a detenção da 
coisa e a posse é tranferida a outrem que inicia o 
exercício da posse direta.
Teoria geral da posse
14
São exemplos de possuidores diretos: o 
usufrutuário, o depositário, o credor pignoratício, o 
locatário e o comodatário, pois todos detêm a coisa 
que lhes foi transferida pelo dono, mas este, ao 
transferir, conservou-se na condição de dono.
Posse direta e indireta convivem harmoniosamente, 
segundo o ilustre professor Carlos Roberto Gonçalves, 
e não se colidem: “Possuidor direito, por ter o poder 
de fato sobre a coisa, objeto da posse direta, tem 
posse real e efetiva”.
O desdobramento da posse em direta e indireta 
pode ocorrer em vários casos, como nos contratos 
de compra e venda com reserva de domínio (nesta, o 
alienante, embora tendo transferido ao adquirente a 
posse da coisa alienada, conserva o domínio sobre a 
mesma até ser paga a totalidade do preço). Nos casos 
de alienação fi duciária também fi guram o possuidor 
direito e o indireto (a alienação fi duciária em garantia 
transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse 
indireta da coisa móvel alienada, independentemente 
da tradição efetiva do bem, tornando-se possuidor o 
alienante ou devedor).
No sentido contrário, temos a lavra do Professor 
José Paulo Cavalcanti, que afi rma que o possuidor 
indireto não seria um “possuidor efetivo” nem uma 
fi cção, mas deu-lhe uma legitimação extraordinária 
para propor ação possessória.
Os desdobramentos da posse podem ser 
sucessivos. Se assim o primeiro for feito, poderá 
o possuidor direto efetivar novo desdobramento, 
e assim sucessivamente – como ensina Carlos 
Roberto Gonçalves. Enfi m, há uma coexistência entre 
vários “possuidores” sobre mesmo bem, diante da 
translatividade natural existente nos bens.
AULA 10 - CLASSIFICAÇÃO DA POSSE 
(PARTE 2)
10.1 Princípio da continuidade: posse 
contínua
A posse também pode se apresentar na sua forma 
contínua, ou melhor, a posse é um instituto contínuo. 
É o que se depreende do que dispõe o artigo 1.203: 
“[...] Salvo prova em contrário, entende-se manter a 
posse o mesmo caráter com que foi adquirida”.
Neste sentido a posse adquirida de boa-fé é 
estendida para o possuidor seguinte, da mesma 
forma na qual ocorre com a posse de má-fé, em que 
o vício se perpetua ao novo possuidor. 
Ninguém pode mudar, por si só, a causa ou o 
título de sua posse (nemo si ipsi causam possessionis 
mutare potest).
A professora Sylvia Cristina Arinelli Gonçalves 
descreve, em artigo sobre transmissão da posse ou 
posse continuada, que a acessão é o fenômeno em 
que a posse poderá ser continuada, dos antecessores 
aos seus sucessores. Essa sucessão de posses 
abrange a sucessão e a união.
O artigo 1.206 também cita que a posse será 
transmitida aos herdeiros e legatários. A mesma 
situação é encontrada no Código Civil Espanhol, em 
seu artigo 440: 
La posesion de los bienes hereditários se 
entiende transmitida al heredero sin interrupción 
y desde el momento de la muerte del causante, 
en el caso de que llegue a adirse la herencia. 
El que válidamente repudia una herencia se 
entiende que no la ha poseido em ningún 
momento.
A simples mudança de vontade é incapaz de 
mudar a natureza da posse.
Teoria geral da posse
15
10.2 Posse ad interdicta e posse ad 
usucapionem
Toda posse que é defendida – ou que tem uma 
defesa plausível – pelas ações possessórias é 
denominada ad interdicta.
Posse ad interdicta é a posse que possui meio 
de defesa. Para entender essa nomenclatura, 
primeiramente deve-se ter em mente que toda e 
qualquer posse enseja algum tipo de proteção, 
independentemente da sua qualidade. Isso signifi ca 
que mesmo uma posse injusta ou de má-fé em 
relação ao real possuidor poderá ser defendida 
da ação de terceiros por meio de ações judiciais 
denominadas possessórias. Assim, a posse ad 
interdicta é aquela que enseja proteção através dos 
interditos possessórios, ou seja, ações judiciais que 
visam proteger a posse. Em regra, todas as posses 
são ad interdicta.
A posse ad usucapionem é aquela em que se é 
possível adquirir a propriedade por meio de uma 
ação denominada “usucapião”. Se certos requisitos 
legais forem obedecidos e certo tempo for cumprido, 
há viabilidade do possuidor adquirir sua propriedade.
Toda posse é ad interdicta, mas nem toda a posse 
é ad usucapione.
Em relação aos bens públicos, o mais correto é 
afi rmar que só pode haver a posse ad interdicta, pois 
há ações próprias para defendê-los.Contudo, no 
caso de aquisição de propriedade, fundada em bem 
público, isto não será possível, diante do primado da 
imprescritibilidade própria da seara pública.
O Tribunal de Justiça de São Paulo, em julgado 
(TJSP - apelação com revisão n° 0110731-25.2007) 
apresenta a necessidade de conhecimento da natureza 
da posse, para que seja considerada ad usucapionem. 
O mesmo tribunal, em outra apelação, também cita a 
necessidade da natureza ad usucapionem, pois neste 
caso (APL 1248574620088260000SP 0124857-462—
8.8.26) houve a precariedade levada a efeito somada 
à ausência de autorização do proprietário.
Sendo assim, reconhecer se a posse é 
ad usucapionem é de total relevância para 
prosseguimento do requerimento de usucapião, já 
a posse ad interdicta é passível para a proteção da 
posse em geral.
AULA 11 - CLASSIFICAÇÃO DA POSSE 
(PARTE 3)
11.1 Posse exclusiva
Posse exclusiva á aquela exercida por um único 
possuidor – pessoa natural ou jurídica – que tem 
sobre a posse sua plenitude, de modo direito ou 
indireto. 
Também a doutrina acresce que a posse exclusiva 
pode se apresentar da forma plena ou não. O 
professor Carlos Roberto Gonçalves afi rma que é 
plena a posse em que o possuidor exerce de fato 
todos os poderes inerentes ao domínio.
A posse exclusiva é o contraponto da posse coletiva, 
composse ou outro termo que os doutrinadores 
emanaram sobre o assunto, pois a exclusiva no 
exercício por parte do titular possui concepção plena, 
já na composse a demanda de vários titulares sobre 
o mesmo bem é clara. É certo que em virtude de 
questões econômicas e do próprio fenômeno da 
urbanização, a composse vem se apresentando de 
maneira múltipla, e progressivamente sendo aplicada 
em maior diversidade de bens (tanto móveis como 
imóveis e demais mobiliários).
11.2 Composse
Composse é a situação em que duas ou mais 
pessoas podem possuir a mesma coisa ao mesmo 
tempo. Simultaneamente temos mais de um titular 
sobre o mesmo bem. Diferentemente da posse 
direta e indireta, cujo exercício e utilização do bem 
Teoria geral da posse
16
ocorre sem a translatividade da titularidade, aqui de 
fato temos mais de um titular para o bem. Como foi 
apontado, nada impede que duas ou mais pessoas 
exerçam aos poderes da posse simultaneamente.
Assim a lei admite a composse: “Se duas ou mais 
pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma 
exercer sobre ela atos possessórios, contanto que 
não excluam os dos outros compossuidores”. Trata-
se do artigo 1.199 do Código Civil, que apresenta 
a normatividade sobre a composse, autorizando a 
possibilidade dentro do ordenamento.
O exemplo mais comum é a situação dos cônjuges 
no regime de comunhão de bens. Também podemos 
citar os coerdeiros antes da partilha de bens, na 
herança.
Como a composse é uma exteriorização do domínio, 
admite-se a composse nos casos de condomínio.
A proteção possessória é conferida ao compossuidor 
mesmo contra seu consorte, se este quiser impedir o 
exercício de sua posse.
São também compossuidores os condôminos da 
parte indivisa, a parte comum dos apartamentos 
(corredores, estruturas, elevadores, hall de entrada, 
muros etc.).
A composse extingue-se por vontade dos sujeitos, 
o que faz desaparecer o estado de indivisão, ou 
quando cessa a causa que a determinou – como na 
partilha quando morre um dos usufrutuários.
Como citamos, qualquer um dos compossuidores 
pode valer-se do interdito possessório ou da legítima 
defesa da posse para impedir que outro compossuidor 
exerça a posse exclusiva sobre o bem comum.
Neste sentido, descreve o TJSP em apelação 
(APL 9195928572005826 SP 9195928-
57.2005.8.26.0000): “Assim, não se pode afi rmar 
que a autora exercia exclusivamente a posse sobre 
o imóvel, em detrimento dos demais”, a composse 
fora instituída pelo falecimento do marido, restando 
fi lhos e o cônjuge supérstite como compossuidores 
(herdeiros).
Extinção da composse:
Termina pela divisão de direito, amigável ou 
judicial da coisa comum. Cessa a compossesão, 
contudo a posse continua, pois cada pessoa passa 
a possuir a parte certa. Com a partilha no processo 
de inventário, cada herdeiro pode receber o seu 
quinhão, desaparecendo a posse em comum. 
Não se deve confundir composse com concorrência 
ou sobreposição de posses. A concorrência de posses 
ocorre quando desdobra-se a posse em direta e 
indireta. 
AULA 12 - CLASSIFICAÇÃO DA POSSE 
(PARTE 4)
12.1 Posse justa e posse injusta 
O artigo 1.200 do Código Civil Brasileiro aponta a 
existência da fi gura jurídica da posse justa, ou seja, 
a posse isenta de qualquer vício: “justa a posse que 
não for violenta, clandestina ou precária”. 
De maneira clara, o direito não poderia ofertar 
vantagens para aquele que age de forma ilícita, ou 
seja, utilizando de outros artifícios que não sejam as 
admitidos pelo próprio direito e pelos usos e costumes, 
desde que não ofendam a moral e ao próprio costume 
local. Então, a posse justa é aquela que, além de 
não ser violenta, clandestina ou precária, é pública 
e contínua, para que o possuidor possa se valer dos 
meios de defesa admitidos em direito.
A posse justa não se reveste de forma alguma dos 
vícios externos. Em contraposição simples e de maneira 
inteligente, a posse denominada injusta é a posse 
que se reveste de alguns daqueles vícios (violência, 
clandestinidade ou abuso da precariedade). Então, 
para a compreensão da terminologia empregada pelo 
Teoria geral da posse
17
Código Civil (“justa” ou “injusta”), se faz necessário 
conhecer com profundidade o que seria violência, 
clandestinidade e a precariedade.
É violenta a posse tomada à força de alguém, 
ou seja, aquele que toma o objeto de alguém 
despojando-o à força, conforme ensina o Prof. 
Washington de Barros Monteiro.Também é violenta a 
posse tomada quando uma pessoa expulsa pelo uso 
da força o possuidor legítimo de seu imóvel urbano 
ou rural, para ocupá-lo como moradia ou outra 
destinação.
A violência pode ser física ou moral, “vis compulsiva” 
ou “vis absoluta”. Neste último caso, lembremo-nos 
da coação no cível, ou seja, a maneira como alguém 
vicia um negócio implantando métodos coativos para 
realizar a transação, com a devida adaptação à forma 
como alguém implanta temor em outrem para se 
afastar da posse a liberá-la ao coator.
A violência estigmatiza a posse, não trazendo 
efeitos jurídicos à mesma. Não se deve confundir 
violência com má-fé, pois a primeira pode 
tranquilamente ocorrer sem a segunda. Destarte, a 
posse violenta é aquela que se adquire pela força, 
por exemplo: quando um condômino expulsa outro 
do imóvel por meios violentos, com o objetivo de 
exercer a posse exclusiva.
 A posse que não é violenta denomina-se posse 
mansa, pacífi ca e tranquila. Mansa e pacífi ca é 
aquela em que na sua trajetória não sofreu ação 
judicial que contestaria sua situação de maneira 
séria. Nota-se que não se trata de posse isenta de 
discussão judicial, ou seja, uma ação reivindicatória 
julgada improcedente não nodoaria a mansidão, mas 
o imóvel sofre uma ação judicial.
Posse clandestina é aquela se estabelece às 
ocultas. É a posse que se constitui às escondidas, 
como aquele que furta um objeto ou ocupa um 
imóvel de outro às escondidas. Situação contrária à 
clandestinidade é a publicidade. 
O ladrão que furta com sutileza é um grande 
exemplo de como a posse clandestina se apresenta. 
Por outro lado, o ladrão que rouba pratica a posse 
violenta.
Posse precária é aquela que se origina do abuso 
de confi ança por parte de quem recebe a coisa com 
a obrigação de restituí-la, e depois se recusa a fazê-
lo. Como exemplo temos a recusa do comodante em 
devolver o bem ao comodatário após o vencimento 
do contrato de comodato.
Os três vícios possuem correspondência na 
tipifi cação do Direito Penal: furto, rouboe apropriação 
indébita. No Código Civil temos a caracterização pelo 
artigo 1.200, já citado, mas nada impede que as 
fi guras correlatas correspondam de alguma forma à 
violência, precariedade ou clandestinidade.
AULA 13 - POSSE DE BOA-FÉ E POSSE 
DE MÁ-FÉ (PARTE 1)
13.1 Questões sobre boa-fé no Código 
Civil
Miguel Reale apresenta que a boa-fé é um dos 
primados a serem considerados no momento da 
interpretação do novo Código Civil, e neste sentido 
escreve:
É a boa-fé o cerne em torno do qual girou 
a alteração de nossa Lei Civil, da qual destaco 
dois artigos complementares, o de nº 113, 
segundo o qual “os negócios jurídicos devem 
ser interpretados conforme a boa-fé e os usos 
do lugar de sua celebração”, e o Art. 422 que 
determina: “os contratantes são obrigados a 
guardar, assim na conclusão do contrato, como 
em sua execução, os princípios de probidade e 
boa-fé”. Como se vê, a boa-fé não constitui um 
imperativo ético abstrato, mas sim uma norma 
que condiciona e legitima toda a experiência 
jurídica, desde a interpretação dos mandamentos 
legais e das cláusulas contratuais até as suas 
últimas consequências. Daí a necessidade de 
Teoria geral da posse
18
ser ela analisada como conditio sine qua non 
da realização da justiça ao longo da aplicação 
dos dispositivos emanados das fontes do direito, 
legislativa, consuetudinária, jurisdicional e 
negocial. Em primeiro lugar, importa registrar 
que a boa-fé apresenta dupla faceta, a objetiva 
e a subjetiva. Esta última – vigorante, v.g., em 
matéria de direitos reais e casamento putativo 
– corresponde, fundamentalmente, a uma 
atitude psicológica, isto é, uma decisão da 
vontade, denotando o convencimento individual 
da parte de obrar em conformidade com o 
direito. Já a boa-fé objetiva apresenta-se como 
uma exigência de lealdade, modelo objetivo 
de conduta, arquétipo social pelo qual impõe o 
poder-dever que cada pessoa ajuste a própria 
conduta a esse arquétipo, obrando como obraria 
uma pessoa honesta, proba e leal.
A boa-fé recebe a preponderância entre os 
primados, atingindo todas as relações negociais, 
portanto não seria diverso nas relações que envolvem 
os bens, ou seja, no âmbito dos direitos patrimoniais.
No caso da posse, temos a posse de boa-fé e de 
má-fé, onde analisamos a posição psicológica do 
possuidor.
13.2 Posse de boa-fé
Posse de boa-fé é aquela em que o possuidor a 
exerce na crença, e na certeza de que é o possuidor 
da coisa, uma vez que desconhece qualquer vício ou 
impedimento para a sua aquisição. Nesse sentido, 
defi ne o artigo 1.201 do Código Civil: “É de boa-fé a 
posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo 
que impede a aquisição da coisa”.
É importante dizer que a lei apresenta uma 
ressalva, pois a posse deixará de ser de boa-fé 
quando a situação indicar que o possuidor tinha 
ciência de algum vício. 
Nesse sentido dispõe o artigo 1.202 do Código 
Civil: “A posse de boa-fé só perde este caráter no 
caso e desde o momento em que as circunstâncias 
façam presumir que o possuidor não ignora que 
possui indevidamente”.
Para que se presuma se o indivíduo teria – ou não 
– consciência dos vícios de sua posse, o referencial 
utilizado é o discernimento do homem médio. Essa 
noção determina que a pessoa tenha o necessário 
discernimento no exercício da posse, de forma que 
não seja tão somente uma atitude passiva e alienada. 
O homem médio age sem culpa e utiliza de todas 
as maneiras possíveis a busca da realidade. Dele, 
então, não seria exigida outra conduta além das que 
já haviam sido executadas.
Para analisar a posse de boa-fé e a posse de má-
fé deve-se levar em contra o aspecto subjetivo, a 
posição psicológica do possuidor. Então, concluímos 
sumariamente que posse de boa-fé é aquela em que 
o possuidor se encontra na convicção inabalável de 
que a coisa realmente lhe pertence. Esta é a crença do 
possuidor de se encontrar em sua situação legítima. 
O possuidor reputa-a como legítima e desconhece 
qualquer causa que impeça a aquisição do exercício 
sobre a coisa.
AULA 14 - POSSE DE BOA-FÉ E DE MÁ-
FÉ (PARTE 2)
Nessa conceituação de posse de boa-fé dois 
fenômenos se apresentam: a aquisição da coisa por 
usucapião e a questão dos frutos e benfeitorias da 
coisa possuída. 
A usucapião está balizada em vários institutos, 
ou melhor, em requisitos que a norma determina, 
tornando-os essenciais para que o requerimento da 
propriedade seja aceito. Um deles é a boa-fé. Se o 
possuidor utilizar a má-fé, em alguns casos não será 
concedida a propriedade, pela ausência do requisito.
Teoria geral da posse
19
Também a boa-fé é citada no momento da colheita 
dos frutos para aquele que semeou ou construiu 
em terreno alheio. Enfi m, a boa-fé se apresenta de 
vários modos no que concerne ao termo posse, como 
veremos mais adiante.
A posse de má-fé é aquela em que o possuidor 
tem o conhecimento da sua ilegitimidade, motivada 
no vício ou obstáculo ou seu exercício. O possuidor 
sabe que possui a coisa indevidamente. 
A má-fé vicia o negócio, a posse e as demais 
relações. Vejamos abaixo o extrato de um artigo 
extraído do site JusBrasil, de 29 de setembro de 2010, 
com o título “Banco é condenado a pagar indenização 
por lucros obtidos na posse de má-fé”, tendo como 
autoria o TRT da 3ª Região:
O artigo 1.216 do Código Civil estabelece que: 
O possuidor de má-fé responde por todos os frutos 
colhidos e percebidos, bem como pelos que, por 
culpa sua, deixou de perceber, desde o momento 
em que se constituiu de má-fé. Utilizando esse 
dispositivo legal para fundamentar sua sentença, 
o juiz Léverson Bastos Dutra, titular da 4ª Vara 
do Trabalho de Juiz de Fora, acentuou que 
esse instituto, apesar de ser próprio do Direito 
Civil, é compatível com o Direito do Trabalho, 
podendo ser aplicado em situações especiais. 
É que, quando o empregador é uma instituição 
fi nanceira, o crédito trabalhista sonegado aos 
empregados tende a se transformar em matéria-
prima para a ampliação dos ganhos da empresa, 
obtidos mediante aplicações fi nanceiras ou 
empréstimos a terceiros sob juros elevados. Foi 
essa a situação examinada pelo magistrado. 
No seu entender, agiu de má-fé o banco que, 
de forma intencional e sistemática, descumpriu 
obrigações trabalhistas óbvias, com o intuito 
de obter lucro fácil a partir do dinheiro que 
deveria ser destinado ao pagamento de parcelas 
salariais.
Verifi ca-se que a má-fé extrapola os limites do 
tema em questão, mas é um primado transversal 
– lembramos que a posse vicia quando o possuidor 
conhece de sua ilegitimidade. 
A boa-fé é presumida, a má-fé é provada.
Sobre presunção de boa-fé, o artigo 1.201, em seu 
parágrafo único cita que: “[...] o possuidor com justo 
título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova 
em contrário, ou quando a lei expressamente não 
admite essa presunção”. Portanto, o possuidor com 
um justo título (um contrato registrado, por exemplo) 
receberá a percepção que age de boa-fé, ou seja, é 
o legítimo possuidor do bem.
Justo título não é apenas o documento ou 
instrumento, mas é também o estado de aparência 
que leva a concluir que o sujeito goza de boa 
posse. Exemplo: o herdeiro aparente, cujo título e 
ignorância de outros herdeiros faz presumir ser ele 
justo possuidor. Trata-se do fato gerador do qual a 
posse deriva, como ocorre quando a concubina tem 
justo título na posse de bens comuns do casal quando 
o companheiro falece. 
Transferência da posse de boa-fé em posse de má-
fé é possível? O artigo 1.202 dispõe: “A posse de boa-
fé só perde este caráter no caso e desde o momento 
em que as circunstâncias façam presumir que o 
possuidor não ignora que possui indevidamente”. 
Exemplo: a citação em uma ação é uma dessas 
circunstâncias que demonstram a transformação da 
posse de boa-fé em posse de má-fé, poisem razão 
da citação, recebendo a cópia da petição inicial, o 
possuidor toma ciência dos vícios de sua posse (RTJ 
99:804; RJTJRS 69:393). 
O possuidor precário (comodato, depósito) sempre 
o será, salvo expressa concordância do possuidor 
pleno. Por isso é admitida prova em contrário. 
O locatário, por exemplo, somente poderá 
possuidor como proprietário se adquirir a coisa do 
Teoria geral da posse
20
proprietário (a isso parte da doutrina denomina 
inversão do título ou alteração do título da posse). 
AULA 15 - POSSE NOVA E POSSE VELHA 
É relevante o conhecimento e distinção da posse 
nova e da posse velha e quais são suas características. 
Suas defi nições, caras ao Código Civil de 1916, são 
simples: posse nova é a de menos de ano e dia e 
posse velha é a de mais de ano e dia.
O Código de 2002 não se refere expressamente 
a essa questão, mas de modo genérico a estas duas 
formas de posse. Porém, pelo Código de Processo 
Civil depreendemos sua importância em seu artigo 
924, que admite a questão da posse nova e posse 
velha. Este dispositivo (do Código de Processo Civil, 
artigo 924) possibilita a concessão de liminar initio 
litis ao possuidor despojado ou ameaçado em sua 
posse quando intentada a ação dentro de ano e dia 
da turbação ou esbulho. 
Não se deve confundir posse nova com ação de 
força nova, nem posse velha com ação de força 
velha. Classifi ca-se a posse, e não a ação, como nova 
ou velha quanto à sua idade. Todavia, para saber se 
a ação é de força velha ou nova, leva-se em conta o 
tempo decorrido desde a ocorrência do esbulho ou 
da turbação.
Se o turbado ou esbulhado reagiu logo em seguida, 
ou seja, buscou o caminho judicial para a solução do 
confl ito, poderá pleitear a concessão de liminar, por 
se tratar de ação de força nova. Passado este prazo, 
o procedimento será ordinário, sem direito a liminar, 
sendo ação de força velha.
Uma ação de força nova não se transforma em 
ação de força velha com o decurso do tempo, exceto 
o do próprio requisito, é o que dispõe o TJDF (AI 
409593 DF):
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO 
POSSESSÓRIA DE FORÇA NOVA COM PEDIDO 
LIMINAR. JUSTIFICAÇÃO PREPARATÓRIA. 
A MARCHA PROCESSUAL DEVE OBEDECER 
A FORMA PRECONIZADA NO RITO, SENDO 
OBRIGATÓRIO, APÓS A JUSTIFICAÇÃO EM 
PROCESSO INTERDITAL, A MANIFESTAÇÃO DO 
JUÍZO A RESPEITO DO PEDIDO DE PROTEÇÃO 
INITIO LITIS. A AÇÃO DE FORÇA NOVA NÃO 
TRANSFORMA COM O TEMPO, DEPOIS DE 
REGULARMENTE APARELHADA, EM AÇÃO DE 
FORÇA VELHA.
Também a Alta Corte Mineira apresenta questão 
que envolve a ação de força nova:
Quanto à ação com base em força velha, 
deve se processar pelo rito comum (ordinário 
ou sumário). Nas ações de força velha, fi rmo 
o entendimento de não é cabível a tutela 
antecipatória do mérito com base no artigo 
273 do CPC, posto que produz os mesmos 
efeitos da liminar possessória do rito especial 
(ação de força nova). A concessão dos efeitos 
da tutela ocasionaria, para a ação de força 
velha processada pelo rito comum, os mesmos 
resultados da ação de força nova, pelo que 
entendo não ser admissível. Não obstante meu 
entendimento acerca desta questão, no caso, 
encontra-se patente nos autos que a ação foi 
ajuizada após ter decorrido mais de ano e dia 
da data do esbulho, ou seja, trata-se de posse 
de força velha, portanto, entendo não estarem 
demonstrados os requisitos exigidos para a 
antecipação dos efeitos da tutela com base no 
art. 273 do CPC, notadamente fundado receio 
de dano irreparável. Assim, o risco de ocorrência 
efetiva de um dano de difícil reparação é requisito 
imprescindível à concessão da medida em caráter 
geral e antecipatória. A ausência de elementos 
que demonstrem “in limine” claramente o 
risco que impeça a efetividade da tutela fi nal 
impede, em princípio, a antecipação de efeitos 
a ela inerentes, pelo que entendo que a decisão 
proferida pela MMª. Juíza de primeira instância 
Teoria geral da posse
21
para cassar a decisão que deferiu a reintegração 
de posse em sede de antecipação dos efeitos da 
tutela e, via de consequência, a multa arbitrada. 
Com essas considerações, RECURSO PROVIDO 
para cassar a decisão proferida pela MMª. Juíza 
de primeira instância que deferiu a reintegração 
de posse em sede de antecipação dos efeitos 
da tutela, pelos fundamentos constantes deste 
voto.
Percebe-se que a posse nova não foi demonstrada 
e nem o risco iminente, razão pela qual não deferida 
à tutela.
Enfi m, embora de parco conceito, o tema posse 
nova e posse velha detém relevância ímpar em nosso 
ordenamento e no instituto posse.
AULA 16 - POSSE NATURAL OU POSSE 
CIVIL OU JURÍDICA
Segundo o professor Limongi-França, é a posse 
que se constitui pelo exercício de poderes de fato 
sobre a coisa, ou seja, que se assenta na detenção 
material e efetiva da coisa (ipsis).
Posse civil ou jurídica é a que se adquire por 
força de lei, sem necessidade de atos físicos ou de 
apreensão material da coisa.
O constituto possessório é um exemplo do seguinte 
caso: A vende sua casa a B mas continua no imóvel 
como inquilino, então B torna-se possuidor da coisa 
de modo indireto e A permanece na condição de 
possuidor direito, situação esta que já se encontrava 
antes da alienação.
A posse civil se transmite ou se adquire pelo 
título, adquirindo a posse por qualquer um dos 
modos admitidos. Lembramos que a jurisprudência 
considera válida a transmissão da posse por meio da 
escritura pública, então podemos concluir que em 
vários casos a posse jurídica é que se apresenta nas 
relações negociais.
Na esteira da posse natural, vem se evidenciado 
uma nova forma de posse, ou melhor, uma forma de 
posse que ainda não foi objeto de maiores ilações 
dos juristas: a realidade da Amazônia e arredores, 
com caracteres próprios de ocupação do solo rural 
(em contrariedade ao urbano, de fato são fl orestas), 
em que a posse foi abandonada pelos seus legítimos 
proprietários, fazendo-se ocupar por terceiros. Neste 
sentido, vejamos o trecho de artigo extraído no sítio 
virtual do Conselho Federal de Justiça:
Os principais elementos da posse 
agroecológica, devido a sua própria origem, 
advém da posse agrária, acrescidos de outros 
que lhe são peculiares, a saber:
a) Na posse agroecológica o trabalho 
também é valorizado como forma de adquirir a 
terra, consequentemente, é um fato social que 
têm transcendência econômica, pois a atividade 
agrária desenvolvida pelo possuidor constitui em 
um valor econômico. Além de visar uma função 
econômica e social, ela também tem por fi m 
tutelar os interesses culturais e ambientais;
b) Por ser um fenômeno possessório, ela só 
existe como uma ação concreta, um fenômeno 
real, visível e tangível. A posse agroecológica é 
dinâmica, exige a efetiva exploração da terra, 
porém a compreensão de exploração da terra 
está ligada a atividade agroextrativa, centrada 
no uso sustentável dos recursos naturais;
c) Posse agroecológica ocorre somente 
sobre um bem, não sobre um direito. Seus atos 
possessórios são exercidos sobre imóveis agrários 
e não sobre direitos ou bens móveis. Uma de 
suas características essenciais está exatamente 
no fato de que ela ocorre através da vinculação 
à terra, desenvolvida por meio de atividades 
agrárias, mas se manifesta através de uso 
coletivo dos recursos naturais, com a presença 
de práticas de trabalho familiar, baseadas no 
agroextrativismo. Há uma conjugação entre 
Teoria geral da posse
22
o apossamento familiar com o apossamento 
coletivo;
d) Outro elemento importante da posse 
Agroecológica é a área de uso comum, pois é 
em torno dela e para garantir o acesso e uso 
comum dos recursos naturais, que se estruturam 
a coesão e a cooperação do grupo social que 
dela se utiliza. Com o intuito de assegurar a 
área de uso comum são estabelecidas normas 
de caráter consensual, fundamentadasem uma 
legitimidade que o grupo vai construindo no 
processo histórico de apossamento da área;
e) A distinção entre o que é respeitado pelo 
grupo como sendo de uso comum e os espaços 
considerados de utilização familiar, se dá pelo 
trabalho. Toda atividade agrária (seja agrícola ou 
extrativa) que demanda trabalho e manutenção 
da área, para que nela se possa desenvolver uma 
atividade é considerada como posse familiar. 
Logo, casa, roça, capoeira, estrada de seringa 
ou castanha são espaços identifi cados a uma 
determinada família, pois são resultados de seu 
trabalho. (BENATTI, 1997, s/p).
AULA 17 - POSSE PRO DIVISO E POSSE 
PRO INDIVISO
O fenômeno da composse está caracterizado 
por dois pressupostos: pluralidade de sujeitos e a 
existência de uma coisa indivisa ou que se encontre 
em estado de indivisão.
A composse é prevista no artigo 1.199 do Código 
Civil de 2002. É também chamada de compossessão, 
posse comum ou simultânea.
O condomínio é um exemplo da composse, mas 
com alguns caracteres próprios. Podemos depreender 
que há, neste caso, 
• um domínio comum e posse exclusiva; 
• um domínio exclusivo e posse comum; 
• domínio comum e posse comum. 
Geralmente, o condomínio pressupõe a composse.
A regra geral descrita no Direito Civil afi rma que 
teremos a composse sempre que uma coisa for 
possuída simultaneamente por mais de uma pessoa:
• entre os cônjuges que, casados sob o regime 
da comunhão de bens, exercem uma posse comum 
sobre os bens que integram o patrimônio do casal;
• quando da abertura da sucessão e até o 
momento da partilha dos bens que integram o 
acervo hereditário, entre os herdeiros, por força do 
disposto do artigo 1.784 do Código Civil de 2002, que 
determina:
• “[...] na formação das sociedades, com a 
formação do patrimônio comum, entre outros”.
Relembramos o instituto composse para que 
fi xemos os conceitos abaixo, que envolvem a posse 
pro diviso e posse pro indiviso.
Na posse pro diviso o compossuidor exerce 
a posse sobre coisa certa, lugar determinado. A 
composse subsiste de direito, mas não de fato.
 Já na posse pro indiviso o compossuidor não 
exerce posse sobre qualquer trecho do imóvel, razão 
pela qual a composse existe tanto de direito quanto 
de fato. 
Na posse pro indiviso, o possuidor tem o 
direito de ser respeitado na porção da coisa que 
ocupa, inclusive pelos demais compossuidores.
Cessa a composse quando for extinta a relação 
jurídica que lhe deu causa ou for extinto o estado de 
indivisão da coisa que a determina. Assim, a partilha 
Teoria geral da posse
23
põe fi m à composse instituída por lei através do 
inventário, conforme prevê o artigo 1.784 do Código 
Civil.
Com a dissolução conjugal, extingue-se a 
composse sobre os bens comuns do casal ou da 
sociedade conjugal. Pela divisão da coisa ou de seu 
preço, caso se trate de bem indivisível, extingue-se 
o condomínio e, consequentemente, a composse 
também. 
Toda e qualquer divergência acaso existente 
entre os compossuidores, de como usar a coisa 
comum ou como assentar a posse exclusiva de cada 
compossuidor não será resolvida pelos interditos 
possessórios.
Abaixo vemos a transcrição parcial de uma decisão 
onde a posse pro diviso é apresentada. Alteramos 
alguns nomes ou termos para não comprometer as 
partes, embora esteja disponível ao público, vejamos: 
Argumentaram os agravantes, em síntese, 
que são legítimos cessionários de direitos 
hereditários e possuidores diretos de uma gleba 
de terras localizada em local denominado Fazenda 
XXX. Sustentaram que no total seriam 08 (oito) 
herdeiros, mas que adquiriram, mediante termo 
de cessão hereditária, as cotas dos demais 
herdeiros, menos a parte dos agravados, que 
estariam utilizando as partes do imóvel que 
agora pertencem aos agravantes. Aduziram 
que sofreram esbulho por parte dos agravados, 
e que sem a indispensável aquiescência dos 
agravantes realizaram um corte na cerca de 
propriedade deles, fazendo com que várias rezes 
de propriedade dos agravados adentrassem na 
área pertencente aos agravantes. Afi rmaram 
que têm o legítimo direito de serem reintegrados 
na posse do imóvel esbulhado. Alegaram que a 
posse, no caso, é pro diviso, vez que cada qual dos 
herdeiros possui área certa e delimitada, mesmo 
ausente a partilha judicial, pois já teria havido 
divisão cômoda pelos herdeiros. Ao fi nal, após 
apresentadas suas razões de inconformismo, os 
agravantes requereram o provimento do recurso 
para que seja reformada a r. decisão hostilizada. 
“Ausente o requisito da aparência do bom 
direito, porquanto, em princípio, verifi ca-se 
que há composse de terreno rural ainda não 
ofi cialmente dividido, INDEFIRO O PEDIDO DE 
LIMINAR RECURSAL, DE REINTEGRAÇÃO DE 
POSSE. 
MÉRITO 
Consta dos autos que os agravantes 
ajuizaram ação de reintegração de posse com 
pedido de liminar contra os agravados alegando 
terem sofrido a prática de esbulho possessório 
por parte dos agravados. Cinge-se o presente 
recurso ao inconformismo acerca da decisão 
do MM. Juiz de f. 48-TJ, que indeferiu a liminar 
pleiteada pelos autores, ora agravante. Constou 
da decisão: “Trata-se de pedido de liminar feito 
em sede de ação de reintegração de posse. Pela 
análise dos autos entendo que o direito não 
ampara a pretensão do requerente. Com efeito, 
aduz o autor na inicial que conjuntamente com 
o requerido, seu irmão, herdou uma gleba de 
terra de seu falecido genitor. No total seriam 
oito herdeiros, sendo que o autor adquiriu dos, 
mediante termo de cessão hereditária as cotas 
dos demais herdeiros, menos a parte que tocou 
para o requerido, o qual estaria utilizando partes 
do imóvel que teria fi cado para o autor, por 
força de uma divisão “cômoda” realizada pelos 
herdeiros. Ora, o requerido não concordou com 
a divisão feita pelos demais herdeiros segundo 
informou na audiência de justifi cação. Então, 
há de se perguntar: Para quem foi cômoda 
a divisão realizada? Talvez tenha sido para os 
sete herdeiros, mas não para o requerido, pois, 
caso contrário, já haveriam, inclusive, realizada 
a partilha de forma amigável. Sendo assim, nos 
precisos termos do artigo 1791 e seu parágrafo 
único do CC, e mais artigos 1.793 parágrafo 2º, 
tem se que os herdeiros possuem apenas parte 
ideal da herança até a realização da partilha 
judicial, ou, da amigável homologada pelo Juiz, 
Teoria geral da posse
24
mas não em partes individualizadas conforme 
informa o autor na inicial. Todos os herdeiros 
possuem o direito sobre o espólio como um todo, 
situação que somente terá fi m com a partilha, 
conforme acima dito. Sendo assim, o requerido 
não poderia estar usurpando ou esbulhando a 
própria posse. Portanto, inexiste, a meu ver o 
“fumus boni juris” para o deferimento da liminar” 
Em sua irresignação, os agravantes sustentaram 
que têm o legítimo direito de serem reintegrados 
liminarmente na posse do imóvel esbulhado 
ao argumento de que a posse, n o caso, é pro 
diviso, vez que cada qual dos herdeiros possui 
área certa e delimitada, mesmo face à ausência 
de partilha judicial. 
AULA 18 - AQUISIÇÃO DA POSSE
Quanto aos meios e formas de se adquirir a posse, 
o Código Civil de 2002 apresenta em seu artigo 1.204 
o momento da sua transmissão.
A posse é um mero estado de fato que pode 
ser demonstrado como diverso do que ocorre na 
propriedade onde esta deve ser provada. O artigo 
citado apresenta qual momento se deve fi xar para a 
compreensão do tema: “Adquire-se a posse desde o 
momento em que se torna possível o exercício, em 
nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes 
à propriedade”. A aquisição da posse, então, se dá 
no momento da manifestação do poder de exercício 
do titular perante o bem. A aquisição se manifesta 
por qualquer modo de concretização que seja lícito 
realizar, como por exemplo, a apreensão, aalienação, 
a tradição, ou seja, qualquer operação inter vivos ou 
causa mortis.
18.1 Modos originário e derivado de 
aquisição da posse: conceitos
A aquisição da posse se apresenta na forma 
derivada ou originária.
A forma derivada de aquisição da posse pressupõe 
a existência da posse anterior, ou seja, um possuidor 
transmite a posse a outro, pelos meios admitidos 
já citados. Neste caso, há anuência do possuidor 
anterior na transmissão. A tradição é precedida de 
negócio jurídico, transferindo a posse do alienante 
ao adquirente.
A aquisição originária, por outro lado, não pressupõe 
a transmissão, ou seja, não há translatividade de um 
possuidor para outro. É o que acontece no esbulho, 
onde o antigo possuidor não transmite a posse, isto 
é, não há consentimento nessa transmissão.
No modo de aquisição originário a posse pode 
conter vícios pois o apossamento de coisa da 
natureza, sem dono, não se apresenta na forma 
nodoada, mas em regra a aquisição de bens móveis 
e imóveis detém de algum modo uma contaminação, 
ou seja, o possuidor anterior estava na posse de 
má-fé por havê-la adquirido de modo violento. Tais 
vícios desaparecem ao ser ele esbulhado, desde que 
inexista qualquer relação negocial.
O mesmo não acontece na forma derivada – o vício 
é transmitido. O adquirente recebe todos os vícios 
que nodoavam a posse anterior, assim se o anterior 
desfrutava de uma posse clandestina, violenta ou 
precária, estas permanecerão como predicados da 
posse posterior, ou seja, aplicável o artigo 1.203 do 
Código Civil, em que a posse conservará o mesmo 
caráter de antes.
A defi nição de aquisição originária e derivada 
não é superfi cial, mas atinge a natureza jurídica do 
negócio. Veja o extrato de um artigo que compreende 
a aquisição originária nas arrematações judiciais 
(Pedro Miglioli em seu artigo Conceito de Aquisição 
Originária nas Arrematações Judiciais):
O entendimento doutrinário majoritário é 
no sentido de que qualquer das espécies de 
expropriação será sempre o modo de aquisição 
originário, o que signifi ca que o título de domínio 
do expropriante não deriva de um título anterior. 
Teoria geral da posse
25
Não há a transferência da propriedade do 
expropriado para o adquirente. Não há relação 
entre adquirente-expropriado-bem. A relação é 
linear (adquirente-bem).
Quando o modo é originário, surge uma nova 
situação de fato que pode ter outros defeitos, mas 
não os vícios anteriores, pois o mesmo artigo 1.207, 
em seu fi nal, apresenta a faculdade do sucessor 
singular unir sua posse à de seu antecessor, para os 
efeitos legais. Continuemos o tema no próximo item.
AULA 19 - MODOS DE AQUISIÇÃO DA 
POSSE
19.1 Aquisição originária
Defi ne-se apropriação do bem como a situação 
pela qual o possuidor passa a ter condições de dispor 
da coisa livremente, excluindo a ação de terceiros e 
exteriorizando o domínio.
A apreensão, segundo Maria Helena Diniz, é 
modo unilateral de aquisição da posse, pois estamos 
diante das coisas abandonadas (res derelictae) ou 
das coisas de ninguém (res nullius). Também ocorre 
apreensão com a existência de vícios, isto é, sem o 
consentimento, por meio da violência clandestina ou 
precariedade.
O exercício de direito é outra forma de aquisição 
originária da posse que tem por objetivo a utilização 
econômica, trata-se com relação ao objeto, no caso, 
a possessória com relação à servidão e ao uso, por 
exemplo.
Para entendermos o caso: se alguém ocupar 
terreno alheio para construir um aqueduto (exemplo 
da professora Maria Helena Diniz), utilizando-o sem 
oposição mas também sem consentimento, está 
diante de uma posse servidão, que por decorrência 
poderá abrigar-se no interditos, se necessário.
O exercício do direito não se confunde como gozo, 
temos naquele a possibilidade, ou melhor, o poder 
de usar o direito, utilizá-lo, ou seja, é a realização 
do poder que ele contém. A possibilidade de dispor 
da coisa é também um modo de exercício. Também 
constitui uma forma de exteriorização do poder em 
que o possuidor se apresenta como titular do direito, 
sendo assim consonante com os institutos que 
envolvem a posse.
19.2 Modo derivado de aquisição da 
posse
A aquisição derivada, também denominada 
bilateral é aquela em que o titular anterior 
consensualmente transmite a posse ao adquirente. A 
posse é transmitida pelo possuidor a outrem.
A transmissão pode ocorrer pela tradição, pelo 
constituto possessório e por meio da sucessão inter 
vivos e causa mortis. 
A tradição é um resultado de uma transação jurídica 
entre pessoas que transmitem a posse. É derivada de 
ato ou negócio jurídico de alienação, quer a título 
gratuito ou oneroso. Em regra a aquisição da posse 
ocorre pela tradição, que constitui modo bilateral, 
uma vez que pressupõe um consenso entre as partes 
envolvidas na aquisição e na perda da posse (por 
aquele que recebe e o que transmite a posse).
A tradição pode ser real, simbólica ou fi cta. Será 
real quando a coisa for realmente entregue a outra 
pessoa: por exemplo, quando a pessoa vai até 
uma loja, compra um sapato e este é entregue à 
compradora. Será simbólica quando um ato simbolizar 
a entrega da coisa, como ganhar um carro em um 
programa de televisão e receber do apresentador as 
chaves. A tradição fi cta é aquela em que a pessoa que 
já tinha posse direta da coisa torna-se proprietária, 
como o depositário fi el, possuidor direto da coisa 
que então torna-se proprietário. Apesar da grande 
importância da tradição, há situações em que ela 
pode ser dispensada:
Teoria geral da posse
26
• na abertura da sucessão legítima, ou 
testamentária aos herdeiros e legatários, em caso de 
coisa certa;
• na celebração do casamento realizado sob o 
regime de comunhão universal, em que a transferência 
do domínio efetua-se independentemente de 
tradição;
• por força dos pactos antenupciais, a contar 
da data do casamento, ao cônjuge adquirente; 
• no caso de contrato de sociedade de todos 
os bens, em que a transferência se opera com a 
assinatura do referido contrato, entendendo-se haver 
a tradição tácita; 
• da mesma forma na sociedade particular, em 
que a transferência se opera com a simples aquisição 
dos bens comunicáveis;
O eminente professor Carlos Roberto Gonçalves 
(2007) também lembra que: “[...] sendo a tradição 
ato complementar do negócio jurídico, para que 
gere o seu principal efeito, que é a transferência do 
domínio, necessário se torna que o negócio em tela 
seja válido [...]”. Se este é invalido, a tradição que 
nele se apoia não pode, tampouco, ganhar efi cácia.
AULA 20 - AQUISIÇÃO DA POSSE
20.1 Legitimidade para se adquirir a 
posse
O artigo 1.205 do novel Códex apresenta as 
pessoas que podem adquirir a posse:
A posse pode ser adquirida:
I - pela própria pessoa que a pretende ou por 
seu representante;
II - por terceiro sem mandato, dependendo 
de ratifi cação.
O Código Civil Português, em seu artigo 1.266 
dispõe que “[...] pode adquirir posse todos os que têm 
uso da razão, e ainda os que o não tem, relativamente 
às coisas susceptíveis de ocupação”, ou seja, a 
aquisição da posse não é mero negócio jurídico, mas 
uma aquisição acompanhada: o adquirente somado 
à capacidade jurídica.
O Código não se refere à aquisição por procurador, 
como era apresentado pelo Código de 1916. Apresenta 
a fi gura do “representante”, compreendido por uma 
fi cção legal de que a vontade do representante é a 
vontade do representado.s
Ainda sobre capacidade, observamos as questões 
que envolvem o nascituro, pois este não pode adquirir 
a posse por não possuir capacidade de direito, 
somente puras expectativas. Contudo, é possível que 
terceiros declinem bens ao nascituro por ato causa 
mortis ou inter vivos, lembrando a necessidade de 
nascimento com vida. Na mesma seara, vejamos

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