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Teoria geral da posse 1 Teoria geral da posse Professor Célio Egídio Teoria geral da posse 2 Aula 1- Apresentação 3 Aula 2 - Posse: breve histórico 4 Aula 3 - Distinção entre os direitos reais e obrigacionais (parte 1) 5 Aula 4 - Distinção entre direitos reais e obrigacionais (parte 2) 7 Aula 5 - Teorias sobre a posse 8 Aula 6 - Posse: conceituação 9 Aula 7 - Teoria geral da posse 10 Aula 8 - Natureza jurídica da posse 11 Aula 9 - Classifi cação da posse (parte 1) 12 Aula 10 - Classifi cação da posse (parte 2) 13 Aula 11 - Classifi cação da posse (parte 3) 14 Aula 12 - Classifi cação da posse (parte 4) 15 Aula 13 - Posse de boa-fé e posse de má-fé (parte 1) 16 Aula 14 - Posse de boa-fé e de má-fé (parte 2) 17 Aula 15 - Posse nova e posse velha 19 Aula 16 - Posse natural ou posse civil ou jurídica 20 Aula 17 - Posse pro diviso e posse pro indiviso 21 Aula 18 - Aquisição da posse 23 Aula 19 - Modos de aquisição da posse 24 Aula 20 - Aquisição da posse 25 Aula 21 - Perda da posse 26 Aula 22 - Revisão 27 Aula 23 - Revisão 28 Aula 24 - Efeitos da posse 28 Aula 25 - Legitimidade ativa e passiva 30 Aula 26 31 Aula 27 - Distinção entre juízo petitório e juízo possessório 32 Aula 28 - Fungibilidade dos interditos 33 Aula 29 - Procedimentos de força nova e de força velha 34 Aula 30 - Ações possessórias 35 Aula 31 - Ação de manutenção de posse 36 Aula 32 - Ação de manutenção de posse 37 Aula 33 - Ação de reintegração de posse (parte 1) 39 Aula 34 - Ação de reintegração de posse (parte 2) 40 SUMÁRIO Teoria geral da posse 3 Aula 35 - Interdito proibitório (parte 1) 42 Aula 36 - Interdito proibitório (parte 2) 44 Aula 37 - Outros efeitos da posse: ações possessórias atípicas 45 Aula 38 - Outros efeitos da posse: ações possessórias atípicas 47 Aula 39 - Revisão 48 Aula 40 - Revisão 49 Referências bibliográfi cas 50 SUMÁRIO Teoria geral da posse 4 AULA 1- APRESENTAÇÃO O eminente professor Clóvis Beviláqua (1975) defi ne direito das coisas como “[...] um complexo de normas reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas”, lembrando que o ilustre autor defi ne coisas como gênero, da qual a espécie é o bem, algo de interesse do homem e, por conseguinte, de interesse relevante para o Direito. Afi rmamos, então, que direito das coisas é o conjunto normativo que rege as relações jurídicas que envolvem os bens de interesse das pessoas, sejam eles tangíveis ou intangíveis. O Código Civil Brasileiro utiliza o título “Direito das Coisas” pela infl uência da lei germânica e também do Código Napoleônico (de 1804), principalmente no que diz respeito aos direitos que possuem a coisa como objeto imediato. Também é utilizada a expressão “Direitos Reais”, mas estes estão inseridos especifi camente pela norma e são numerus clausus. Nesse contexto é que se apresenta a posse, fenômeno jurídico de difícil defi nição que se insere no direito das coisas, pois afi nal se encontra na relação jurídica, pessoa-coisa (ou bem). É neste viés de compreensão das relações possessórias que delineamos o conteúdo que se apresenta para o início do curso de Direito Imobiliário. Inúmeras são as difi culdades que aparecem no estudo da posse. Muita doutrina já foi elaborada a respeito. Embora os pesquisadores da ciência jurídica tenham se debruçado ao redor do tema, ainda permanecem vários pontos controvertidos e nebulosos. O nosso direito protege a posse não só da mesma forma que protege a propriedade e outros direitos reais, mas também em virtude de suas características especiais, constituindo-se como fi gura de forma autônoma na topografi a do Código Civil (artigos 1.196 e seguintes). O professor Oliveira Ascensão, da Universidade de Lisboa, afi rma que a posse é uma das grandes manifestações do Direito, ou seja, o catedrático dissertava e alertava para a singularidade da relação existente no jus possessionis. Então, se alguém exercer poderes sobre uma coisa exteriorizando a titularidade de um direito, a ordem jurídica permite que sobre esse simples fato continue a exercê-lo, sem exigir maior justifi cação. O que se entende como titular, ou se apresenta como tal, permanecerá titular, sem a necessidade de se provar a titularidade. É a exteriorização de dono como posse, ou seja, o dono se apresenta como tal e assim é considerado. Obviamente, em dado momento lhe será inquirido sobre o modo de assunção como dono, sua legitimidade, a anterioridade do possuidor, entre outros pontos, mas deixaremos esta controvérsia para outro momento. Por ora, depreendemos que o direito de posse existe no qual o fato estriba o direito. A posse é protegida para evitar a violência e assegurar a paz social, porque a situação de fato aparenta ser uma situação de direito, ou seja, é uma situação de fato protegida pelo direito. A compreensão do instituto posse não poderia se afastar do conteúdo geral do novo Código Civil e sua composição de atendimento ao fi m social, a socialidade. Como toda propriedade, a posse deve buscar seu fi m social e econômico. Além assegurar a paz social, deve também atingir o interesse social da comunidade, conforme preconiza os primados que envolvem o direito privado após a vigência do novo Código Civil, em total consonância com a Constituição Federal. Não estamos distantes das demais legislações possessórias, pois o Código Civil Suíço assim apresenta o instituto posse (besitz), em seu artigo 919: “Aquele que tem o poder efetivo sobre uma coisa é seu possuidor” (DINIZ apud RAMOS, 2004). Também o artigo 920, em uma clara demonstração de que a posse no sistema de direito positivo suíço é passível de desdobramento – e, portanto, sujeita a conferir a condição de possuidor também àquele que não seja proprietário – distingue a posse originária Teoria geral da posse 5 (posse do proprietário), da posse derivada (posse do “não proprietário”). Portanto, o instituto posse recebe tratamento similar em legislações estrangeiras, sempre com o intuito de proteção e preservação da exteriorização do poder sobre algum bem. AULA 2 - POSSE: BREVE HISTÓRICO O homem, desde o seu surgimento, não foi diferente em relação ao ato volitivo de possuir coisas. Jamais saberemos quando e como surgiu a noção de posse, que em sua concepção primitiva é um vínculo estabelecido entre um indivíduo ou um grupo e um determinado bem da vida. Este vínculo pode ter um caráter exclusivamente individual, através do qual um indivíduo se reconhece com senhorio sobre um bem, ou pode apresentar a sua institucionalização (reconhecimento por terceiros). A própria noção de Direito é variável na história. Entretanto, utilizando a atual visão que temos do Direito, podemos afi rmar que a posse certamente esteve presente desde as mais primitivas formas de organização humana. Outras descobertas arqueológicas ainda muito mais antigas, que remontam a períodos de dezenas de milhares de anos, revelam a existência de uma relação de posse de indivíduos ou grupos em relação a objetos ou áreas. Mesmo a respeito do Direito Romano é preciso termos cuidado, já que sob esta categoria pode ser descrito o Direito de um período de aproximadamente doze séculos. Podemos afi rmar que a propriedade inicialmente era representada pela gens, surgindo posteriormente a propriedade do Estado. Com a propriedade estatal, surgiu o dominium, poder conferido peloEstado aos particulares sobre as terras, que tomavam a forma de concessões feitas através de um dos seguintes instrumentos: assignationes viritanae, por solicitação dos cidadãos, assignationes coloniae, visando à fundação de uma nova colônia, ou pelas agri questorii, através de venda em leilões pelos “questores”. A posse sobre a terra era exercida, assim, por três formas. Pelo exercício do dominium, pela ocupação de terras devolutas e por concessões que asseguravam a mera fruição, sem transferência do domínio (agri occupatori), mediante o pagamento de uma “pensão” paga ao Estado denominada vectigal. A posse na Europa medieval possui sua maior expressão na fi gura do feudo principal como unidade econômica, que se dividia em três partes: a propriedade privada do senhor (chamada de domínio ou manso senhorial, no interior do qual havia geralmente um castelo fortifi cado), o manso servil (porção de terras arrendadas aos camponeses e que eram divididos em lotes, chamados de tendências) e o manso comunal (constituído por terras coletivas em pastos e bosques, usadas tanto pelo senhor como pelos servos). Assim, a posse era primazia do senhor feudal e uma concessão aos seus servos. Após a Revolução Francesa, um novo conceito de posse se instala na Europa com a abolição do regime feudal. Este foi um dos grandes “motes” para a nova sociedade, e por consequência para a nova relação possessória. O Código Civil Francês, publicado em 1804, consolidou esta situação, priorizando uma visão privatista da propriedade e da posse. Na esteira do Código Napoleônico, surgiram os códigos austríaco (1811), neoirlandês (1838), saxão (1863) e italiano (1865). No mesmo sentido, a Constituição Americana apresenta o direito de propriedade e, por consequência, a liberdade no efeito posse. No Brasil, o Código Civil de 1916, de concepção liberal europeia, não fi cou imune à discussão doutrinária ocorrida no percurso histórico iniciado especialmente na segunda metade do século XIX Teoria geral da posse 6 no Brasil, e que acabou por estabelecer um eixo de análise para a posse – embora não exclusivo – em torno das ideias de Savigny e Ihering, além de certa infl uência de autores portugueses do fi nal do século XVIII e do século XIX. Para os doutrinadores do início do século XX, posse constitui a condição de fato da utilização econômica da propriedade. Assim, o direito de possuir é um elemento indispensável da propriedade. A posse é a porta que dá acesso à propriedade e por decorrência a proteção possessória apresenta-se como posição defensiva do proprietário, traçando os primeiros rumos da posse na era moderna, posição esta defendida até os dias atuais por alguns autores. O Código Civil de 2002, inovador e distante de um conceito liberal, defi nido por Ricardo Fiuza e Miguel Reale, apresentam a posse com instituto de relação de fato, não a defi nindo, mas apresentando quais os atributos de sua apresentação, ou melhor, de sua exteriorização perante os demais para se confi gurar a condição de futuro proprietário. “Considera-se possuidor, todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de alguns dos poderes inerentes à propriedade.” (art. 1.196, Código Civil Brasileiro). AULA 3 - DISTINÇÃO ENTRE OS DIREITOS REAIS E OBRIGACIONAIS (PARTE 1) Após um breve relato sobre a posse, retornamos às grandes distinções que envolvem as diversas classes de direitos intrínsecos no direito privado – mais precisamente no Direito Civil. 3.1 Introdução O direito das coisas é o ramo do Direito Civil que regula as relações jurídicas reais, entendidas estas como as que se estabelecem entre o titular de uma coisa e a sociedade em geral (os não titulares do bem). pessoa (titular) <-> bem <-> outras pessoas (sem direito ao bem) O homem, na busca de satisfazer suas necessidades, procura apropriar-se das coisas que encontra na natureza. Não tratamos aqui das coisas que se apresentam de forma abundante – mesmo considerando sua enorme utilidade –, como a água potável, o ar, entre outros. As coisas somente se tornam objetos de apropriação quando são úteis, raras e passam a constituir bens, pelos quais se estabelece o domínio, um vínculo jurídico entre as coisas e os homens. Entre titulares e não-titulares surgem direitos e deveres. Os deveres, chamados obrigações reais, traduzem-se na abstenção de qualquer ato prejudicial ao direito do titular. Em correspondência, existem os direitos do titular, tidos como direitos reais. Neste diapasão, o direito das obrigações tem como objeto os direitos creditícios, enquanto que o direito das coisas tem como objeto os direitos reais. 3.2 Distinção entre direitos reais e obrigacionais: teorias Com a intenção de diferenciar direitos reais e obrigacionais, surgiram teorias voltadas para este estudo. São elas: 3.2.1 Clássica ou realista Os direitos reais constituiriam o poder imediato sobre uma coisa; os obrigacionais, o poder de exigir que se dê, faça ou não se faça algo. A distinção desses direitos obedece a vários referenciais: a. Quanto aos elementos constitutivos: os direitos reais possuem dois (titular e objeto), enquanto os obrigacionais possuem três (sujeito ativo, passivo e objeto). Teoria geral da posse 7 b. Quanto às vantagens: nos direitos reais há poder de sequela (direito de sequela), de seguir a coisa onde quer que ela vá, direito de dono. Nos obrigacionais, nenhuma. c. Quanto à sanção: os direitos reais são oponíveis erga omnes, contra todos; os obrigacionais, contra uma certa pessoa, determinada – o devedor, único para quem o credor pode exigir o crédito. d. Quanto aos modos extintivos: os reais não têm prazo para se extinguir, podendo ser perpétuos, enquanto os obrigacionais duram até o pagamento. e. Quanto aos modos de aquisição: os direitos reais têm modos peculiares de aquisição. Assim, a propriedade, por exemplo, é adquirida pelo registro ou tradição, pela acessão e pela usucapião. Os direitos de crédito se adquirem pela ocorrência de fato, como um contrato ou ato ilícito. f. Quanto à posse: para os direitos reais, somente uma coisa pode ser possuída, por ser a posse o elemento externo da propriedade, enquanto para um direito obrigacional isso não é possível. g. Quanto aos caracteres gerais: os efeitos dos direitos reais são expressamente regulados em lei e estes são adquiridos de uma só vez, já os dos direitos de crédito podem ser estipulados em convenção e adquiridos em prestações. 3.2.2 Personalistas As teorias personalistas negam a possibilidade de haver uma relação jurídica entre um titular e um bem, defendendo que esta só existe entre pessoas. As teorias personalistas enxergam que a distinção entre direitos reais e obrigacionais aparece ora em função do sujeito passivo, ora em função do objeto, ora em função do vínculo. Vejamos: a. Primeira teoria personalista (Windscheid, Roguin e Planiol): tanto os direitos reais como os de crédito decorrem de relações obrigacionais entre pessoas. A diferença está no sujeito passivo: nos reais é universal, toda a sociedade; nos de crédito, uma ou várias pessoas determinadas, os devedores. b. Segunda teoria personalista (Michas e Quéru): a diferença existe em função do objeto, que no direito real é um bem, e no obrigacional, uma prestação. c. Terceira teoria personalista (Démogue): nenhuma das diferenças apresentadas é importante – o que existem são direitos fortes (reais) e fracos (creditórios). A diferença mais importante é a intensidade do vínculo jurídico. d. Quarta teoria personalista (Thon e Schlobman): os direitos de crédito são subjetivos, ao passo que os direitos reais são de necessidade social. 3.2.3 Teoria da instituição (Hauriou) Os direitos reais teriam sua fonte na própriainstituição social, e não nas relações pessoais ente os indivíduos. A coletividade organizada institucionaliza, cria seus mecanismos de defesa dos direitos individuais sobre suas coisas. 3.2.4 Obrigações propter rem As obrigações reais proter rem (em razão da coisa) ou in rem scriptae (gravadas na coisa) situam- se entre o direito real e o obrigacional. Surgem como obrigações pessoais de um devedor, por ser ele titular de um direito real. Porém, aderem mais à coisa do que propriamente ao seu titular. Exemplos: dívidas de impostos prediais, despesas de condomínios e hipoteca. Teoria geral da posse 8 AULA 4 - DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS REAIS E OBRIGACIONAIS (PARTE 2) 4.1 Conceito de direito real Segundo Lafayette Rodrigues Pereira (apud CARVALHINHO, 2005) é o que afeta a coisa direta e imediatamente, sob todos ou sob certos respeitos e a segue em poder de quem quer a detenha. É o direito que se prende à coisa, prevalecendo com a exclusão da concorrência de qualquer pessoa. Seu exercício independe da colaboração de outrem e confere ao titular a possibilidade de ir buscar a coisa onde ela se encontra para exercer seu direito sobre ela. Enfi m, o direito real apresenta-se como um vínculo entre pessoa e coisa, prevalecendo contra todos, conferindo ao seu titular a prerrogativa da sequela e a ação real. Ademais, é exclusivo e tem seu número limitado pela lei. 4.2 Características a. Relação entre a pessoa e a coisa; b. oponibilidade erga omnes; c. direito de sequela; d. direito de preferência; e. ação real; f. exclusividade; g. numerus clausus. 4.3 Os direitos reais enumerados pelo Código Civil Brasileiro O Código Civil Brasileiro, em seu artigo 1.225, enumera como direitos reais a propriedade, a superfície, as servidões, o usufruto, o uso, a habitação, o direito do promitente comprador do imóvel, o penhor, a hipoteca e a anticrese. Esse rol, pelo entendimento da maioria dos juristas, é numerus clausus, sendo a enumeração taxativa, e não meramente exemplifi cativa. São contrários a essa opinião, advinda do direito romano, Washington de Barros e Pontes de Miranda, entre outros. Como defensores, temos Serpa Lopes, Clóvis Beviláqua, César Fiuza, Maria Helena Diniz, Silvio Rodrigues etc. Obs.: a enfi teuse foi extinta pelo CC/2002, porém continua regulada pelo CC/1916, a respeito das já constituídas. 4.4 Classifi cação dos direitos reais Primeiramente, os direitos reais são classifi cados considerando o objeto que recai. Temos, assim, direitos reais sobre coisa própria (propriedade) e sobre coisa alheia (os demais). Os direitos reais sobre coisa alheia subdividem-se sob a ótica de sua fi nalidade: • Direitos reais de gozo (uso e fruição): servidões, superfície, usufruto, uso e habitação, enfi teuse. • Direitos reais de garantia: penhor, hipoteca, anticrese. • Direitos reais de aquisição: promessa irretratável de venda de imóvel. Teoria geral da posse 9 4.5 Princípios Principio da aderência Estabelece um vínculo, uma relação de senhorio entre a coisa e a pessoa (titular), não dependendo de nenhuma relação com terceiro. Princípio do absolutismo Os direitos reais se exercem erga omnes, ou seja, contra todos, que devem abster-se de molestar o titular, surgindo o direito de sequela ou o jus persequendi. Princípio da publicidade Os direitos reais, por serem imóveis, somente são adquiridos com o registro (cartório de registro de imóveis) e pela tradição, quando móveis. AULA 5 - TEORIAS SOBRE A POSSE O estudo da posse é rico em teorias que vêm a desvendar a sua real origem. Podemos reduzir as teorias que tentam explicar a posse em dois grupos. O primeiro se refere à teoria subjetivista da posse, proclamada por Friedrich Karl von Savigny, primeiro jusfi lósofo a tratar do tema na era moderna. Outro grande jus fi lósofo que tratou do tema Rudolf von Ihering, com a teoria objetivista. Temos ainda as teorias intermediárias, como a teoria eclética de Ferrini, onde a posse é um direito e um fato. 5.1 Teoria subjetiva de Savigny Savigny, em sua obra intitulada Tratado da Posse, pesquisa a dogmática romana no contexto da posse, afi rmando sua posição autônoma e de direitos exclusivos e estritamente resultantes da posse. O jus possessionis, para o autor, ou seja, a posse se caracterizava pela conjugação de dois elementos, o corpus e o animus. O primeiro consiste na detenção física da coisa, e o segundo no elemento volitivo, ou seja, no elemento subjetivo que se encontra na intenção, na vontade de exercer o direito sobre certa coisa. É o exercício da posse pelo possuidor – não a concepção de ser dono, mas a vontade de ter o bem como seu. Na visão do ilustre jurista, os dois elementos são indispensáveis para a compreensão da posse. Na falta do corpus, segundo sua teoria, inexistirá a fi gura da posse, e o mesmo ocorre na falta do animus. Então, Savigny desenvolveu a teoria de que a posse é o poder de dispor fi sicamente da coisa, com ânimo de considerá-la sua e defender contra terceiros. Em síntese: corpus - elemento material animus - propósito de ter a coisa, vontade animus rem sibi habendi Para Savigny, quando somente o animus está presente, o que existe é a mera detenção. Não houve base para a progressão de sua teoria. Com a fi gura do arrendatário e do locador, a teoria não foi assimilada pelo direito moderno. 5.2 Teoria objetiva de Ihering A teoria de Rudolf von Ihering é por ele batizada como objetiva, ou seja, não há elementos subjetivos que adornam a posse, pois não empresta a vontade ao animus. Portanto, basta o corpus para a caracterização da posse, ou seja, a relação física não é necessária – para Ihering, desde que haja por parte do possuidor a vontade de ser dono. A posse é a condição do exercício da propriedade. A distinção entre corpus e animus é irrelevante, pois a noção de animus já se encontra na de corpus pela maneira como o possuidor age em face da coisa, sua condição de possuidor depende disso. O lavrador que deixa sua colheita no campo não a tem fi sicamente, Teoria geral da posse 10 entretanto o conserva em sua posse. O madeireiro que lança à correnteza os troncos na montanha para que o rio os conduza à serraria não tem o poder físico, mas mantém a posse. A conduta de ser dono pode ser avaliada de madeira objetiva, sem a necessidade de se pesquisar a intenção. A posse, então, torna-se a exteriorização da propriedade. O Código Civil de 2002 aparenta adotar a Teoria de Ihering. AULA 6 - POSSE: CONCEITUAÇÃO O conceito de posse remonta ao período romano, embora tenha traços de outras civilizações mais antigas. Na Lei das Doze Tábuas, a posse é alcançada por via indireta, pois descreve em dados momentos a pena para aquele que retira algo de alguém, deduzindo que havia uma relação possessória entre um titular e seus bens, inclusive sobre sua mulher e escravos. Embora haja uma variedade de entendimentos, a posse, segundo a doutrina tradicional, está sempre na direção da compreensão da situação de fato. Posse - situação de fato Posse é a conduta de dono, segundo Ihering, adotada pelo nosso Código. O conceito de posse é dado no artigo 1.196 do Código Civil Brasileiro, que descreve as questões de exercício dos atributos da propriedade. Verifi camos que o legislador apresentou como nuclear a condição expressiva da posse, o animus em ser possuidor, na visão de João Batista Monteiro. A posse implica no exercício dos poderes de fato, não podendo recair sobre um direito real. Aduz o eminente autor que a posse está vinculada à expressividade de ser possuidor, e não na relação normativa que recai sobre os direitos reais. Lembramos que atos de mera permissão não induzem posse, como veremos adiante,assim como os atos violentos ou clandestinos. O titular da posse tem o interesse potencial em permanecer, conservar e proteger a mesma de qualquer tipo de molestação que porventura venha a ser praticada por outrem. Outros autores apresentam a formação do conceito de posse de forma indireta, utilizando outra técnica, mas que sempre caminharão para a conceituação posse-estado de fato-animus. Vejamos. Segundo o Prof. Silvio Rodrigues (2002): Um proprietário de um prédio se encontra em pleno gozo e uso, quando violentamente desapossado. Como o ordenamento jurídico repele a violência, ou seja, o esbulho, independentemente de ser proprietário, poderá propor a devida reintegração, estabelecendo a situação anterior, de fato. O Poder Judiciário restabelecerá a situação de fato anterior. Outro exemplo é daquele que adquire prédio de outrem que não é seu dono e nele se instala. Posteriormente, o verdadeiro proprietário vêm e pretende privar violentamente da posse que goza. Como a lei não permite tal situação, ou seja, “fazer justiça pelas próprias mãos”, permanece a situação de fato até que o verdadeiro proprietário, por via judicial, demonstre o direito. De ambos os casos retiramos a conclusão que o ordenamento jurídico visa à permanência da situação de fato até que se confi gure a situação de direito via sentença judicial, com o intuito de assegurar a paz social. Temos, portanto, a situação de posse protegida pelo ordenamento. Na relação material entre a pessoa e a coisa, a situação de fato que se estabelece entre ele e a coisa se justifi ca em um direito preexistente, de modo que sua posse decorre de um jus possidendi (Otávio Moreira Guimarães). A situação de fato poderá vir desacompanhada de um direito anterior, pois Teoria geral da posse 11 alguém pode ocupar terra alheia de modo manso e pacífi co por certo lapso temporal, adquirindo certa estabilidade até adquirir a própria propriedade. A posse é uma situação de fato protegida pelo ordenamento jurídico. É real na aparência e situação, sendo posse a exteriozação do jus utendi, jus fruendi, rei reividicatio e o jus disponendi. AULA 7 - TEORIA GERAL DA POSSE 7.1 Distinção de posse e propriedade A posse, como afi rmamos anteriormente, é uma relação de fato entre o sujeito e o bem protegida pelo ordenamento. Por sua vez, a propriedade é uma relação de direito, ou seja, a norma apresenta de modo claro situação topográfi ca da propriedade, inserta nos direitos reais, que em nosso ordenamento é considerado numerus clausus, ou seja, somente a lei poderá criar um direito real. A distinção, portanto, entre a posse e a propriedade é transparente, não necessita de maiores ilações, pois a propriedade é o mais amplo direito sobre a coisa, dando poder de usar, fruir, consumir e até mesmo destruir. A posse tem o poder de fato exercido por uma pessoa sobre uma coisa, relação esta que também é tutelada por lei, onde se revela a intenção de exercer o direito possessório. A posse do proprietário é consequência do seu direito de possuir, e esse direito pode ser conquistado por aquisição ou também por doação. Portanto, a posse consiste em uma relação de pessoa e coisa, criando mera relação de fato, e a propriedade é a relação entre pessoa e coisa que assenta na vontade objetiva da lei, onde é criada uma relação de direito. A propriedade é relação entre pessoa e coisa diante da lei, implicando poder jurídico e criando uma relação de direito. Em ambas há proteção legal. 7.2 Distinção entre posse e detenção O prof. Carlos Roberto Gonçalves exemplifi ca que o possuidor é aquele que exerce o poder de fato em razão de interesse próprio, enquanto o detentor, no interesse de outrem, é o caso típico dos caseiros e de todos aqueles que zelam por propriedades em nome dos donos. Podem ser mencionados, ainda, como exemplos de detenção a situação do soldado em relação às armas no quartel e a do preso em relação às ferramentas com que trabalha. Embora, portanto, a posse possa ser considerada uma forma de conduta que se assemelha a de dono, não é o possuidor um vigilante permanente da posse, possibilitando à norma a delegação para outro a conservar em seu lugar, desde o faça que sob suas orientações e ordens. É o típico caso, consagrado na doutrina, dos caseiros e de todos aqueles que de alguma forma zelam pelo patrimônio alheio. 7.3 Posse e quase posse A quase posse vem do direito romano, mas alertamos, desde já, que a teoria não foi adotada pelo Código Civil de 2002. Trata-se da compreensão de que os romanos não consideravam a posse emanada de uma relação de exteriorização somente do animus de dono. Para os romanos, a posse derivava da propriedade e a ela estava vinculada. Era exercida de um direito real menor ou de direitos reais sobre coisas alheias, tais como a servidão o usufruto. Desse modo, a posse ou poder de fato era emanado de um direito Teoria geral da posse 12 obrigacional ou pessoal, como na locação ou no comodato (atuais). Os direitos, segundo os romanos, que poderiam constituir objeto de uma quase posse eram: a. As servidões pessoais (usufruto e uso de escravos); b. As servidões prediais (ligadas ao imóvel); c. A superfície Observamos que tal distinção não passa de escorço histórico para a compreensão de temas atuais, pois o objeto da posse naquele período avançava dos bens para as pessoas, algo abominado pela sociedade ocidental moderna. O objeto da posse em quase todas as legislações modernas é o bem. AULA 8 - NATUREZA JURÍDICA DA POSSE Para aqueles que defendem a teoria subjetiva, a posse é ao mesmo tempo um fato e um direito. Aponta-se que se trata de um acontecimento casual que produz efeitos jurídicos. Na teoria objetiva, por outro lado, a posse é simplesmente um direito por representar um interesse juridicamente protegido. A doutrina moderna deve considerá-la um direito. O professor Caio Mario da Silva Pereira realça que o debate doutrinário desse aspecto não tem hoje grande importância, bastando dizer que após a posse ter origem em uma relação de fato, converte- se desde logo em uma relação jurídica. Admitida a posse como direito, perdura o dissenso sobre a natureza desse direito, isto é, se ele é pessoal ou real. Civilistas como Caio Mario da Silva Pereira, Orlando Gomes e Pontes de Miranda concluem que a posse é um direito real. Eles dão conta; realçam que a sujeição da coisa à pessoa é direta e imediata, e o direito do possuidor é exercitado “erga omnes”, como todo direito real. O Código de Processo Civil, no artigo 10, § 2º não reconhece que o direito de posse tem natureza real. O mesmo dispõe que, nas ações possessórias, a participação do cônjuge do litigante só será indispensável no caso de composse ou de atos praticados por ambos os cônjuges. A participação do casal em uma ação possessória não decorre da natureza jurídica da posse, mas da comunhão de direitos e obrigações. Quanto à natureza jurídica da posse, Savigny que a posse é ao mesmo tempo um direito e um fato. É um fato se considerada em si mesma. Considerada nos efeitos que gera, sendo eles usucapião e interditos, ela se apresenta como um direito. Para Ihering, a posse nada mais é que um direito. Parte ele de sua defi nição de direito subjetivo, segundo a qual aquele é o interesse juridicamente protegido. Há alguns doutrinadores que defendem ser a posse um direito real e não um estado de fato. Neste sentido, aduz Maria Helena Diniz que a posse é um direito real, posto que é a visibilidade ou desmembramento da propriedade. Pode-se aplicar o princípio de que o acessório segue o principal, visto que não há propriedade sem posse. Diniz argue, ainda, que o princípio contido no artigo 1.191 do nosso Código Civil,de que a tutela possessória do possuidor direto abrange a proteção contra o indireto, artigos 1.210 e 1.212 do Código Civil e nos artigos 920 e seguintes do Código de Processo Civil e, que é possível verifi car que o caráter jurídico da posse decorre da própria ordem jurídica que confere ao possuidor ações específi cas para se defender contra qualquer pessoa que o ameace, perturbe ou esbulhe. Teoria geral da posse 13 Prossegue a eminente professora acenando que na posse se encontram todos os caracteres dos direitos reais, tais como: - seu exercício direto, sem intermediário; - sua oponibilidade contra todos; Por outro lado, o jurista Silvio Salvo Venosa (2003) defende a natureza da posse como estado de aparência. Tal revela-se o posicionamento adotado pela doutrina majoritária e tradicional. Aduz este jurista que se um possuidor tiver sido desapossado da coisa, tendo que provar sempre e a cada momento sua propriedade ou outro direito real na pretensão de reaquisição do bem, teria sua devida tutela e prestação jurisdicional prejudicada em face da morosidade, instaurando-se desse modo a inquietação social. Deve-se levar em conta que esse estado de aparência, que pode originar-se sem conter qualquer substrato jurídico, poderá servir para a aquisição da propriedade, como no caso de usucapião. Por essas e outras razões, deve o direito fornecer meios de proteção àqueles que se mostram como aparentes titulares de direito. Segundo Silvio Rodrigues, não se pode considerar a posse direito real porque ela não fi gura na enumeração do artigo 1.225 do Código Civil de 2002, que é praticamente a mesma elencada no artigo 674 do Código Civil de 1916, posto que aquela regra é taxativa e não exemplifi cativa, tratando-se aí de numerus clausus. Alguns autores, que a natureza jurídica da posse é especial. AULA 9 - CLASSIFICAÇÃO DA POSSE (PARTE 1) Ao verifi carmos o texto legal de maneira objetiva, entende-se que a doutrina traduz que a posse pode ser classifi cada de várias maneiras, além do descrito na norma. Esta apresenta a posse exclusiva, a composse e posses paralelas: posse nova, posse velha e outras. Temos também as derivações para a posse de má- fé, boa-fé e outras modalidades que passaremos a descrever nas próximas aulas. 9.1 Posse direta e indireta A lei reconhece a possibilidade de existência de duas categorias simultâneas de possuidores, qualifi cando- os como possuidores diretos e possuidores indiretos. Embora seja exclusiva por sua natureza, a posse pode ser concebida pela norma como múltipla posse sobre a mesma coisa. Vejamos o que dispõe o artigo 1.197 do Código Civil: A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. Observamos que há convivência de vários institutos sobre o mesmo bem, ou seja, um possuidor direito e um indireto. Então, temos a existência de uma relação jurídica negocial ou legal entre possuidores – imediato (direto) e mediato (indireto) –, em um desdobramento da relação possessória. Dessa forma, ambos os possuidores podem valer-se das ações possessórias. O possuidor indireto, quando o titular se afasta por sua vontade, adquire a detenção da coisa e a posse é tranferida a outrem que inicia o exercício da posse direta. Teoria geral da posse 14 São exemplos de possuidores diretos: o usufrutuário, o depositário, o credor pignoratício, o locatário e o comodatário, pois todos detêm a coisa que lhes foi transferida pelo dono, mas este, ao transferir, conservou-se na condição de dono. Posse direta e indireta convivem harmoniosamente, segundo o ilustre professor Carlos Roberto Gonçalves, e não se colidem: “Possuidor direito, por ter o poder de fato sobre a coisa, objeto da posse direta, tem posse real e efetiva”. O desdobramento da posse em direta e indireta pode ocorrer em vários casos, como nos contratos de compra e venda com reserva de domínio (nesta, o alienante, embora tendo transferido ao adquirente a posse da coisa alienada, conserva o domínio sobre a mesma até ser paga a totalidade do preço). Nos casos de alienação fi duciária também fi guram o possuidor direito e o indireto (a alienação fi duciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse indireta da coisa móvel alienada, independentemente da tradição efetiva do bem, tornando-se possuidor o alienante ou devedor). No sentido contrário, temos a lavra do Professor José Paulo Cavalcanti, que afi rma que o possuidor indireto não seria um “possuidor efetivo” nem uma fi cção, mas deu-lhe uma legitimação extraordinária para propor ação possessória. Os desdobramentos da posse podem ser sucessivos. Se assim o primeiro for feito, poderá o possuidor direto efetivar novo desdobramento, e assim sucessivamente – como ensina Carlos Roberto Gonçalves. Enfi m, há uma coexistência entre vários “possuidores” sobre mesmo bem, diante da translatividade natural existente nos bens. AULA 10 - CLASSIFICAÇÃO DA POSSE (PARTE 2) 10.1 Princípio da continuidade: posse contínua A posse também pode se apresentar na sua forma contínua, ou melhor, a posse é um instituto contínuo. É o que se depreende do que dispõe o artigo 1.203: “[...] Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida”. Neste sentido a posse adquirida de boa-fé é estendida para o possuidor seguinte, da mesma forma na qual ocorre com a posse de má-fé, em que o vício se perpetua ao novo possuidor. Ninguém pode mudar, por si só, a causa ou o título de sua posse (nemo si ipsi causam possessionis mutare potest). A professora Sylvia Cristina Arinelli Gonçalves descreve, em artigo sobre transmissão da posse ou posse continuada, que a acessão é o fenômeno em que a posse poderá ser continuada, dos antecessores aos seus sucessores. Essa sucessão de posses abrange a sucessão e a união. O artigo 1.206 também cita que a posse será transmitida aos herdeiros e legatários. A mesma situação é encontrada no Código Civil Espanhol, em seu artigo 440: La posesion de los bienes hereditários se entiende transmitida al heredero sin interrupción y desde el momento de la muerte del causante, en el caso de que llegue a adirse la herencia. El que válidamente repudia una herencia se entiende que no la ha poseido em ningún momento. A simples mudança de vontade é incapaz de mudar a natureza da posse. Teoria geral da posse 15 10.2 Posse ad interdicta e posse ad usucapionem Toda posse que é defendida – ou que tem uma defesa plausível – pelas ações possessórias é denominada ad interdicta. Posse ad interdicta é a posse que possui meio de defesa. Para entender essa nomenclatura, primeiramente deve-se ter em mente que toda e qualquer posse enseja algum tipo de proteção, independentemente da sua qualidade. Isso signifi ca que mesmo uma posse injusta ou de má-fé em relação ao real possuidor poderá ser defendida da ação de terceiros por meio de ações judiciais denominadas possessórias. Assim, a posse ad interdicta é aquela que enseja proteção através dos interditos possessórios, ou seja, ações judiciais que visam proteger a posse. Em regra, todas as posses são ad interdicta. A posse ad usucapionem é aquela em que se é possível adquirir a propriedade por meio de uma ação denominada “usucapião”. Se certos requisitos legais forem obedecidos e certo tempo for cumprido, há viabilidade do possuidor adquirir sua propriedade. Toda posse é ad interdicta, mas nem toda a posse é ad usucapione. Em relação aos bens públicos, o mais correto é afi rmar que só pode haver a posse ad interdicta, pois há ações próprias para defendê-los.Contudo, no caso de aquisição de propriedade, fundada em bem público, isto não será possível, diante do primado da imprescritibilidade própria da seara pública. O Tribunal de Justiça de São Paulo, em julgado (TJSP - apelação com revisão n° 0110731-25.2007) apresenta a necessidade de conhecimento da natureza da posse, para que seja considerada ad usucapionem. O mesmo tribunal, em outra apelação, também cita a necessidade da natureza ad usucapionem, pois neste caso (APL 1248574620088260000SP 0124857-462— 8.8.26) houve a precariedade levada a efeito somada à ausência de autorização do proprietário. Sendo assim, reconhecer se a posse é ad usucapionem é de total relevância para prosseguimento do requerimento de usucapião, já a posse ad interdicta é passível para a proteção da posse em geral. AULA 11 - CLASSIFICAÇÃO DA POSSE (PARTE 3) 11.1 Posse exclusiva Posse exclusiva á aquela exercida por um único possuidor – pessoa natural ou jurídica – que tem sobre a posse sua plenitude, de modo direito ou indireto. Também a doutrina acresce que a posse exclusiva pode se apresentar da forma plena ou não. O professor Carlos Roberto Gonçalves afi rma que é plena a posse em que o possuidor exerce de fato todos os poderes inerentes ao domínio. A posse exclusiva é o contraponto da posse coletiva, composse ou outro termo que os doutrinadores emanaram sobre o assunto, pois a exclusiva no exercício por parte do titular possui concepção plena, já na composse a demanda de vários titulares sobre o mesmo bem é clara. É certo que em virtude de questões econômicas e do próprio fenômeno da urbanização, a composse vem se apresentando de maneira múltipla, e progressivamente sendo aplicada em maior diversidade de bens (tanto móveis como imóveis e demais mobiliários). 11.2 Composse Composse é a situação em que duas ou mais pessoas podem possuir a mesma coisa ao mesmo tempo. Simultaneamente temos mais de um titular sobre o mesmo bem. Diferentemente da posse direta e indireta, cujo exercício e utilização do bem Teoria geral da posse 16 ocorre sem a translatividade da titularidade, aqui de fato temos mais de um titular para o bem. Como foi apontado, nada impede que duas ou mais pessoas exerçam aos poderes da posse simultaneamente. Assim a lei admite a composse: “Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores”. Trata- se do artigo 1.199 do Código Civil, que apresenta a normatividade sobre a composse, autorizando a possibilidade dentro do ordenamento. O exemplo mais comum é a situação dos cônjuges no regime de comunhão de bens. Também podemos citar os coerdeiros antes da partilha de bens, na herança. Como a composse é uma exteriorização do domínio, admite-se a composse nos casos de condomínio. A proteção possessória é conferida ao compossuidor mesmo contra seu consorte, se este quiser impedir o exercício de sua posse. São também compossuidores os condôminos da parte indivisa, a parte comum dos apartamentos (corredores, estruturas, elevadores, hall de entrada, muros etc.). A composse extingue-se por vontade dos sujeitos, o que faz desaparecer o estado de indivisão, ou quando cessa a causa que a determinou – como na partilha quando morre um dos usufrutuários. Como citamos, qualquer um dos compossuidores pode valer-se do interdito possessório ou da legítima defesa da posse para impedir que outro compossuidor exerça a posse exclusiva sobre o bem comum. Neste sentido, descreve o TJSP em apelação (APL 9195928572005826 SP 9195928- 57.2005.8.26.0000): “Assim, não se pode afi rmar que a autora exercia exclusivamente a posse sobre o imóvel, em detrimento dos demais”, a composse fora instituída pelo falecimento do marido, restando fi lhos e o cônjuge supérstite como compossuidores (herdeiros). Extinção da composse: Termina pela divisão de direito, amigável ou judicial da coisa comum. Cessa a compossesão, contudo a posse continua, pois cada pessoa passa a possuir a parte certa. Com a partilha no processo de inventário, cada herdeiro pode receber o seu quinhão, desaparecendo a posse em comum. Não se deve confundir composse com concorrência ou sobreposição de posses. A concorrência de posses ocorre quando desdobra-se a posse em direta e indireta. AULA 12 - CLASSIFICAÇÃO DA POSSE (PARTE 4) 12.1 Posse justa e posse injusta O artigo 1.200 do Código Civil Brasileiro aponta a existência da fi gura jurídica da posse justa, ou seja, a posse isenta de qualquer vício: “justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária”. De maneira clara, o direito não poderia ofertar vantagens para aquele que age de forma ilícita, ou seja, utilizando de outros artifícios que não sejam as admitidos pelo próprio direito e pelos usos e costumes, desde que não ofendam a moral e ao próprio costume local. Então, a posse justa é aquela que, além de não ser violenta, clandestina ou precária, é pública e contínua, para que o possuidor possa se valer dos meios de defesa admitidos em direito. A posse justa não se reveste de forma alguma dos vícios externos. Em contraposição simples e de maneira inteligente, a posse denominada injusta é a posse que se reveste de alguns daqueles vícios (violência, clandestinidade ou abuso da precariedade). Então, para a compreensão da terminologia empregada pelo Teoria geral da posse 17 Código Civil (“justa” ou “injusta”), se faz necessário conhecer com profundidade o que seria violência, clandestinidade e a precariedade. É violenta a posse tomada à força de alguém, ou seja, aquele que toma o objeto de alguém despojando-o à força, conforme ensina o Prof. Washington de Barros Monteiro.Também é violenta a posse tomada quando uma pessoa expulsa pelo uso da força o possuidor legítimo de seu imóvel urbano ou rural, para ocupá-lo como moradia ou outra destinação. A violência pode ser física ou moral, “vis compulsiva” ou “vis absoluta”. Neste último caso, lembremo-nos da coação no cível, ou seja, a maneira como alguém vicia um negócio implantando métodos coativos para realizar a transação, com a devida adaptação à forma como alguém implanta temor em outrem para se afastar da posse a liberá-la ao coator. A violência estigmatiza a posse, não trazendo efeitos jurídicos à mesma. Não se deve confundir violência com má-fé, pois a primeira pode tranquilamente ocorrer sem a segunda. Destarte, a posse violenta é aquela que se adquire pela força, por exemplo: quando um condômino expulsa outro do imóvel por meios violentos, com o objetivo de exercer a posse exclusiva. A posse que não é violenta denomina-se posse mansa, pacífi ca e tranquila. Mansa e pacífi ca é aquela em que na sua trajetória não sofreu ação judicial que contestaria sua situação de maneira séria. Nota-se que não se trata de posse isenta de discussão judicial, ou seja, uma ação reivindicatória julgada improcedente não nodoaria a mansidão, mas o imóvel sofre uma ação judicial. Posse clandestina é aquela se estabelece às ocultas. É a posse que se constitui às escondidas, como aquele que furta um objeto ou ocupa um imóvel de outro às escondidas. Situação contrária à clandestinidade é a publicidade. O ladrão que furta com sutileza é um grande exemplo de como a posse clandestina se apresenta. Por outro lado, o ladrão que rouba pratica a posse violenta. Posse precária é aquela que se origina do abuso de confi ança por parte de quem recebe a coisa com a obrigação de restituí-la, e depois se recusa a fazê- lo. Como exemplo temos a recusa do comodante em devolver o bem ao comodatário após o vencimento do contrato de comodato. Os três vícios possuem correspondência na tipifi cação do Direito Penal: furto, rouboe apropriação indébita. No Código Civil temos a caracterização pelo artigo 1.200, já citado, mas nada impede que as fi guras correlatas correspondam de alguma forma à violência, precariedade ou clandestinidade. AULA 13 - POSSE DE BOA-FÉ E POSSE DE MÁ-FÉ (PARTE 1) 13.1 Questões sobre boa-fé no Código Civil Miguel Reale apresenta que a boa-fé é um dos primados a serem considerados no momento da interpretação do novo Código Civil, e neste sentido escreve: É a boa-fé o cerne em torno do qual girou a alteração de nossa Lei Civil, da qual destaco dois artigos complementares, o de nº 113, segundo o qual “os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”, e o Art. 422 que determina: “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. Como se vê, a boa-fé não constitui um imperativo ético abstrato, mas sim uma norma que condiciona e legitima toda a experiência jurídica, desde a interpretação dos mandamentos legais e das cláusulas contratuais até as suas últimas consequências. Daí a necessidade de Teoria geral da posse 18 ser ela analisada como conditio sine qua non da realização da justiça ao longo da aplicação dos dispositivos emanados das fontes do direito, legislativa, consuetudinária, jurisdicional e negocial. Em primeiro lugar, importa registrar que a boa-fé apresenta dupla faceta, a objetiva e a subjetiva. Esta última – vigorante, v.g., em matéria de direitos reais e casamento putativo – corresponde, fundamentalmente, a uma atitude psicológica, isto é, uma decisão da vontade, denotando o convencimento individual da parte de obrar em conformidade com o direito. Já a boa-fé objetiva apresenta-se como uma exigência de lealdade, modelo objetivo de conduta, arquétipo social pelo qual impõe o poder-dever que cada pessoa ajuste a própria conduta a esse arquétipo, obrando como obraria uma pessoa honesta, proba e leal. A boa-fé recebe a preponderância entre os primados, atingindo todas as relações negociais, portanto não seria diverso nas relações que envolvem os bens, ou seja, no âmbito dos direitos patrimoniais. No caso da posse, temos a posse de boa-fé e de má-fé, onde analisamos a posição psicológica do possuidor. 13.2 Posse de boa-fé Posse de boa-fé é aquela em que o possuidor a exerce na crença, e na certeza de que é o possuidor da coisa, uma vez que desconhece qualquer vício ou impedimento para a sua aquisição. Nesse sentido, defi ne o artigo 1.201 do Código Civil: “É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa”. É importante dizer que a lei apresenta uma ressalva, pois a posse deixará de ser de boa-fé quando a situação indicar que o possuidor tinha ciência de algum vício. Nesse sentido dispõe o artigo 1.202 do Código Civil: “A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente”. Para que se presuma se o indivíduo teria – ou não – consciência dos vícios de sua posse, o referencial utilizado é o discernimento do homem médio. Essa noção determina que a pessoa tenha o necessário discernimento no exercício da posse, de forma que não seja tão somente uma atitude passiva e alienada. O homem médio age sem culpa e utiliza de todas as maneiras possíveis a busca da realidade. Dele, então, não seria exigida outra conduta além das que já haviam sido executadas. Para analisar a posse de boa-fé e a posse de má- fé deve-se levar em contra o aspecto subjetivo, a posição psicológica do possuidor. Então, concluímos sumariamente que posse de boa-fé é aquela em que o possuidor se encontra na convicção inabalável de que a coisa realmente lhe pertence. Esta é a crença do possuidor de se encontrar em sua situação legítima. O possuidor reputa-a como legítima e desconhece qualquer causa que impeça a aquisição do exercício sobre a coisa. AULA 14 - POSSE DE BOA-FÉ E DE MÁ- FÉ (PARTE 2) Nessa conceituação de posse de boa-fé dois fenômenos se apresentam: a aquisição da coisa por usucapião e a questão dos frutos e benfeitorias da coisa possuída. A usucapião está balizada em vários institutos, ou melhor, em requisitos que a norma determina, tornando-os essenciais para que o requerimento da propriedade seja aceito. Um deles é a boa-fé. Se o possuidor utilizar a má-fé, em alguns casos não será concedida a propriedade, pela ausência do requisito. Teoria geral da posse 19 Também a boa-fé é citada no momento da colheita dos frutos para aquele que semeou ou construiu em terreno alheio. Enfi m, a boa-fé se apresenta de vários modos no que concerne ao termo posse, como veremos mais adiante. A posse de má-fé é aquela em que o possuidor tem o conhecimento da sua ilegitimidade, motivada no vício ou obstáculo ou seu exercício. O possuidor sabe que possui a coisa indevidamente. A má-fé vicia o negócio, a posse e as demais relações. Vejamos abaixo o extrato de um artigo extraído do site JusBrasil, de 29 de setembro de 2010, com o título “Banco é condenado a pagar indenização por lucros obtidos na posse de má-fé”, tendo como autoria o TRT da 3ª Região: O artigo 1.216 do Código Civil estabelece que: O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé. Utilizando esse dispositivo legal para fundamentar sua sentença, o juiz Léverson Bastos Dutra, titular da 4ª Vara do Trabalho de Juiz de Fora, acentuou que esse instituto, apesar de ser próprio do Direito Civil, é compatível com o Direito do Trabalho, podendo ser aplicado em situações especiais. É que, quando o empregador é uma instituição fi nanceira, o crédito trabalhista sonegado aos empregados tende a se transformar em matéria- prima para a ampliação dos ganhos da empresa, obtidos mediante aplicações fi nanceiras ou empréstimos a terceiros sob juros elevados. Foi essa a situação examinada pelo magistrado. No seu entender, agiu de má-fé o banco que, de forma intencional e sistemática, descumpriu obrigações trabalhistas óbvias, com o intuito de obter lucro fácil a partir do dinheiro que deveria ser destinado ao pagamento de parcelas salariais. Verifi ca-se que a má-fé extrapola os limites do tema em questão, mas é um primado transversal – lembramos que a posse vicia quando o possuidor conhece de sua ilegitimidade. A boa-fé é presumida, a má-fé é provada. Sobre presunção de boa-fé, o artigo 1.201, em seu parágrafo único cita que: “[...] o possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite essa presunção”. Portanto, o possuidor com um justo título (um contrato registrado, por exemplo) receberá a percepção que age de boa-fé, ou seja, é o legítimo possuidor do bem. Justo título não é apenas o documento ou instrumento, mas é também o estado de aparência que leva a concluir que o sujeito goza de boa posse. Exemplo: o herdeiro aparente, cujo título e ignorância de outros herdeiros faz presumir ser ele justo possuidor. Trata-se do fato gerador do qual a posse deriva, como ocorre quando a concubina tem justo título na posse de bens comuns do casal quando o companheiro falece. Transferência da posse de boa-fé em posse de má- fé é possível? O artigo 1.202 dispõe: “A posse de boa- fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente”. Exemplo: a citação em uma ação é uma dessas circunstâncias que demonstram a transformação da posse de boa-fé em posse de má-fé, poisem razão da citação, recebendo a cópia da petição inicial, o possuidor toma ciência dos vícios de sua posse (RTJ 99:804; RJTJRS 69:393). O possuidor precário (comodato, depósito) sempre o será, salvo expressa concordância do possuidor pleno. Por isso é admitida prova em contrário. O locatário, por exemplo, somente poderá possuidor como proprietário se adquirir a coisa do Teoria geral da posse 20 proprietário (a isso parte da doutrina denomina inversão do título ou alteração do título da posse). AULA 15 - POSSE NOVA E POSSE VELHA É relevante o conhecimento e distinção da posse nova e da posse velha e quais são suas características. Suas defi nições, caras ao Código Civil de 1916, são simples: posse nova é a de menos de ano e dia e posse velha é a de mais de ano e dia. O Código de 2002 não se refere expressamente a essa questão, mas de modo genérico a estas duas formas de posse. Porém, pelo Código de Processo Civil depreendemos sua importância em seu artigo 924, que admite a questão da posse nova e posse velha. Este dispositivo (do Código de Processo Civil, artigo 924) possibilita a concessão de liminar initio litis ao possuidor despojado ou ameaçado em sua posse quando intentada a ação dentro de ano e dia da turbação ou esbulho. Não se deve confundir posse nova com ação de força nova, nem posse velha com ação de força velha. Classifi ca-se a posse, e não a ação, como nova ou velha quanto à sua idade. Todavia, para saber se a ação é de força velha ou nova, leva-se em conta o tempo decorrido desde a ocorrência do esbulho ou da turbação. Se o turbado ou esbulhado reagiu logo em seguida, ou seja, buscou o caminho judicial para a solução do confl ito, poderá pleitear a concessão de liminar, por se tratar de ação de força nova. Passado este prazo, o procedimento será ordinário, sem direito a liminar, sendo ação de força velha. Uma ação de força nova não se transforma em ação de força velha com o decurso do tempo, exceto o do próprio requisito, é o que dispõe o TJDF (AI 409593 DF): AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO POSSESSÓRIA DE FORÇA NOVA COM PEDIDO LIMINAR. JUSTIFICAÇÃO PREPARATÓRIA. A MARCHA PROCESSUAL DEVE OBEDECER A FORMA PRECONIZADA NO RITO, SENDO OBRIGATÓRIO, APÓS A JUSTIFICAÇÃO EM PROCESSO INTERDITAL, A MANIFESTAÇÃO DO JUÍZO A RESPEITO DO PEDIDO DE PROTEÇÃO INITIO LITIS. A AÇÃO DE FORÇA NOVA NÃO TRANSFORMA COM O TEMPO, DEPOIS DE REGULARMENTE APARELHADA, EM AÇÃO DE FORÇA VELHA. Também a Alta Corte Mineira apresenta questão que envolve a ação de força nova: Quanto à ação com base em força velha, deve se processar pelo rito comum (ordinário ou sumário). Nas ações de força velha, fi rmo o entendimento de não é cabível a tutela antecipatória do mérito com base no artigo 273 do CPC, posto que produz os mesmos efeitos da liminar possessória do rito especial (ação de força nova). A concessão dos efeitos da tutela ocasionaria, para a ação de força velha processada pelo rito comum, os mesmos resultados da ação de força nova, pelo que entendo não ser admissível. Não obstante meu entendimento acerca desta questão, no caso, encontra-se patente nos autos que a ação foi ajuizada após ter decorrido mais de ano e dia da data do esbulho, ou seja, trata-se de posse de força velha, portanto, entendo não estarem demonstrados os requisitos exigidos para a antecipação dos efeitos da tutela com base no art. 273 do CPC, notadamente fundado receio de dano irreparável. Assim, o risco de ocorrência efetiva de um dano de difícil reparação é requisito imprescindível à concessão da medida em caráter geral e antecipatória. A ausência de elementos que demonstrem “in limine” claramente o risco que impeça a efetividade da tutela fi nal impede, em princípio, a antecipação de efeitos a ela inerentes, pelo que entendo que a decisão proferida pela MMª. Juíza de primeira instância Teoria geral da posse 21 para cassar a decisão que deferiu a reintegração de posse em sede de antecipação dos efeitos da tutela e, via de consequência, a multa arbitrada. Com essas considerações, RECURSO PROVIDO para cassar a decisão proferida pela MMª. Juíza de primeira instância que deferiu a reintegração de posse em sede de antecipação dos efeitos da tutela, pelos fundamentos constantes deste voto. Percebe-se que a posse nova não foi demonstrada e nem o risco iminente, razão pela qual não deferida à tutela. Enfi m, embora de parco conceito, o tema posse nova e posse velha detém relevância ímpar em nosso ordenamento e no instituto posse. AULA 16 - POSSE NATURAL OU POSSE CIVIL OU JURÍDICA Segundo o professor Limongi-França, é a posse que se constitui pelo exercício de poderes de fato sobre a coisa, ou seja, que se assenta na detenção material e efetiva da coisa (ipsis). Posse civil ou jurídica é a que se adquire por força de lei, sem necessidade de atos físicos ou de apreensão material da coisa. O constituto possessório é um exemplo do seguinte caso: A vende sua casa a B mas continua no imóvel como inquilino, então B torna-se possuidor da coisa de modo indireto e A permanece na condição de possuidor direito, situação esta que já se encontrava antes da alienação. A posse civil se transmite ou se adquire pelo título, adquirindo a posse por qualquer um dos modos admitidos. Lembramos que a jurisprudência considera válida a transmissão da posse por meio da escritura pública, então podemos concluir que em vários casos a posse jurídica é que se apresenta nas relações negociais. Na esteira da posse natural, vem se evidenciado uma nova forma de posse, ou melhor, uma forma de posse que ainda não foi objeto de maiores ilações dos juristas: a realidade da Amazônia e arredores, com caracteres próprios de ocupação do solo rural (em contrariedade ao urbano, de fato são fl orestas), em que a posse foi abandonada pelos seus legítimos proprietários, fazendo-se ocupar por terceiros. Neste sentido, vejamos o trecho de artigo extraído no sítio virtual do Conselho Federal de Justiça: Os principais elementos da posse agroecológica, devido a sua própria origem, advém da posse agrária, acrescidos de outros que lhe são peculiares, a saber: a) Na posse agroecológica o trabalho também é valorizado como forma de adquirir a terra, consequentemente, é um fato social que têm transcendência econômica, pois a atividade agrária desenvolvida pelo possuidor constitui em um valor econômico. Além de visar uma função econômica e social, ela também tem por fi m tutelar os interesses culturais e ambientais; b) Por ser um fenômeno possessório, ela só existe como uma ação concreta, um fenômeno real, visível e tangível. A posse agroecológica é dinâmica, exige a efetiva exploração da terra, porém a compreensão de exploração da terra está ligada a atividade agroextrativa, centrada no uso sustentável dos recursos naturais; c) Posse agroecológica ocorre somente sobre um bem, não sobre um direito. Seus atos possessórios são exercidos sobre imóveis agrários e não sobre direitos ou bens móveis. Uma de suas características essenciais está exatamente no fato de que ela ocorre através da vinculação à terra, desenvolvida por meio de atividades agrárias, mas se manifesta através de uso coletivo dos recursos naturais, com a presença de práticas de trabalho familiar, baseadas no agroextrativismo. Há uma conjugação entre Teoria geral da posse 22 o apossamento familiar com o apossamento coletivo; d) Outro elemento importante da posse Agroecológica é a área de uso comum, pois é em torno dela e para garantir o acesso e uso comum dos recursos naturais, que se estruturam a coesão e a cooperação do grupo social que dela se utiliza. Com o intuito de assegurar a área de uso comum são estabelecidas normas de caráter consensual, fundamentadasem uma legitimidade que o grupo vai construindo no processo histórico de apossamento da área; e) A distinção entre o que é respeitado pelo grupo como sendo de uso comum e os espaços considerados de utilização familiar, se dá pelo trabalho. Toda atividade agrária (seja agrícola ou extrativa) que demanda trabalho e manutenção da área, para que nela se possa desenvolver uma atividade é considerada como posse familiar. Logo, casa, roça, capoeira, estrada de seringa ou castanha são espaços identifi cados a uma determinada família, pois são resultados de seu trabalho. (BENATTI, 1997, s/p). AULA 17 - POSSE PRO DIVISO E POSSE PRO INDIVISO O fenômeno da composse está caracterizado por dois pressupostos: pluralidade de sujeitos e a existência de uma coisa indivisa ou que se encontre em estado de indivisão. A composse é prevista no artigo 1.199 do Código Civil de 2002. É também chamada de compossessão, posse comum ou simultânea. O condomínio é um exemplo da composse, mas com alguns caracteres próprios. Podemos depreender que há, neste caso, • um domínio comum e posse exclusiva; • um domínio exclusivo e posse comum; • domínio comum e posse comum. Geralmente, o condomínio pressupõe a composse. A regra geral descrita no Direito Civil afi rma que teremos a composse sempre que uma coisa for possuída simultaneamente por mais de uma pessoa: • entre os cônjuges que, casados sob o regime da comunhão de bens, exercem uma posse comum sobre os bens que integram o patrimônio do casal; • quando da abertura da sucessão e até o momento da partilha dos bens que integram o acervo hereditário, entre os herdeiros, por força do disposto do artigo 1.784 do Código Civil de 2002, que determina: • “[...] na formação das sociedades, com a formação do patrimônio comum, entre outros”. Relembramos o instituto composse para que fi xemos os conceitos abaixo, que envolvem a posse pro diviso e posse pro indiviso. Na posse pro diviso o compossuidor exerce a posse sobre coisa certa, lugar determinado. A composse subsiste de direito, mas não de fato. Já na posse pro indiviso o compossuidor não exerce posse sobre qualquer trecho do imóvel, razão pela qual a composse existe tanto de direito quanto de fato. Na posse pro indiviso, o possuidor tem o direito de ser respeitado na porção da coisa que ocupa, inclusive pelos demais compossuidores. Cessa a composse quando for extinta a relação jurídica que lhe deu causa ou for extinto o estado de indivisão da coisa que a determina. Assim, a partilha Teoria geral da posse 23 põe fi m à composse instituída por lei através do inventário, conforme prevê o artigo 1.784 do Código Civil. Com a dissolução conjugal, extingue-se a composse sobre os bens comuns do casal ou da sociedade conjugal. Pela divisão da coisa ou de seu preço, caso se trate de bem indivisível, extingue-se o condomínio e, consequentemente, a composse também. Toda e qualquer divergência acaso existente entre os compossuidores, de como usar a coisa comum ou como assentar a posse exclusiva de cada compossuidor não será resolvida pelos interditos possessórios. Abaixo vemos a transcrição parcial de uma decisão onde a posse pro diviso é apresentada. Alteramos alguns nomes ou termos para não comprometer as partes, embora esteja disponível ao público, vejamos: Argumentaram os agravantes, em síntese, que são legítimos cessionários de direitos hereditários e possuidores diretos de uma gleba de terras localizada em local denominado Fazenda XXX. Sustentaram que no total seriam 08 (oito) herdeiros, mas que adquiriram, mediante termo de cessão hereditária, as cotas dos demais herdeiros, menos a parte dos agravados, que estariam utilizando as partes do imóvel que agora pertencem aos agravantes. Aduziram que sofreram esbulho por parte dos agravados, e que sem a indispensável aquiescência dos agravantes realizaram um corte na cerca de propriedade deles, fazendo com que várias rezes de propriedade dos agravados adentrassem na área pertencente aos agravantes. Afi rmaram que têm o legítimo direito de serem reintegrados na posse do imóvel esbulhado. Alegaram que a posse, no caso, é pro diviso, vez que cada qual dos herdeiros possui área certa e delimitada, mesmo ausente a partilha judicial, pois já teria havido divisão cômoda pelos herdeiros. Ao fi nal, após apresentadas suas razões de inconformismo, os agravantes requereram o provimento do recurso para que seja reformada a r. decisão hostilizada. “Ausente o requisito da aparência do bom direito, porquanto, em princípio, verifi ca-se que há composse de terreno rural ainda não ofi cialmente dividido, INDEFIRO O PEDIDO DE LIMINAR RECURSAL, DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. MÉRITO Consta dos autos que os agravantes ajuizaram ação de reintegração de posse com pedido de liminar contra os agravados alegando terem sofrido a prática de esbulho possessório por parte dos agravados. Cinge-se o presente recurso ao inconformismo acerca da decisão do MM. Juiz de f. 48-TJ, que indeferiu a liminar pleiteada pelos autores, ora agravante. Constou da decisão: “Trata-se de pedido de liminar feito em sede de ação de reintegração de posse. Pela análise dos autos entendo que o direito não ampara a pretensão do requerente. Com efeito, aduz o autor na inicial que conjuntamente com o requerido, seu irmão, herdou uma gleba de terra de seu falecido genitor. No total seriam oito herdeiros, sendo que o autor adquiriu dos, mediante termo de cessão hereditária as cotas dos demais herdeiros, menos a parte que tocou para o requerido, o qual estaria utilizando partes do imóvel que teria fi cado para o autor, por força de uma divisão “cômoda” realizada pelos herdeiros. Ora, o requerido não concordou com a divisão feita pelos demais herdeiros segundo informou na audiência de justifi cação. Então, há de se perguntar: Para quem foi cômoda a divisão realizada? Talvez tenha sido para os sete herdeiros, mas não para o requerido, pois, caso contrário, já haveriam, inclusive, realizada a partilha de forma amigável. Sendo assim, nos precisos termos do artigo 1791 e seu parágrafo único do CC, e mais artigos 1.793 parágrafo 2º, tem se que os herdeiros possuem apenas parte ideal da herança até a realização da partilha judicial, ou, da amigável homologada pelo Juiz, Teoria geral da posse 24 mas não em partes individualizadas conforme informa o autor na inicial. Todos os herdeiros possuem o direito sobre o espólio como um todo, situação que somente terá fi m com a partilha, conforme acima dito. Sendo assim, o requerido não poderia estar usurpando ou esbulhando a própria posse. Portanto, inexiste, a meu ver o “fumus boni juris” para o deferimento da liminar” Em sua irresignação, os agravantes sustentaram que têm o legítimo direito de serem reintegrados liminarmente na posse do imóvel esbulhado ao argumento de que a posse, n o caso, é pro diviso, vez que cada qual dos herdeiros possui área certa e delimitada, mesmo face à ausência de partilha judicial. AULA 18 - AQUISIÇÃO DA POSSE Quanto aos meios e formas de se adquirir a posse, o Código Civil de 2002 apresenta em seu artigo 1.204 o momento da sua transmissão. A posse é um mero estado de fato que pode ser demonstrado como diverso do que ocorre na propriedade onde esta deve ser provada. O artigo citado apresenta qual momento se deve fi xar para a compreensão do tema: “Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade”. A aquisição da posse, então, se dá no momento da manifestação do poder de exercício do titular perante o bem. A aquisição se manifesta por qualquer modo de concretização que seja lícito realizar, como por exemplo, a apreensão, aalienação, a tradição, ou seja, qualquer operação inter vivos ou causa mortis. 18.1 Modos originário e derivado de aquisição da posse: conceitos A aquisição da posse se apresenta na forma derivada ou originária. A forma derivada de aquisição da posse pressupõe a existência da posse anterior, ou seja, um possuidor transmite a posse a outro, pelos meios admitidos já citados. Neste caso, há anuência do possuidor anterior na transmissão. A tradição é precedida de negócio jurídico, transferindo a posse do alienante ao adquirente. A aquisição originária, por outro lado, não pressupõe a transmissão, ou seja, não há translatividade de um possuidor para outro. É o que acontece no esbulho, onde o antigo possuidor não transmite a posse, isto é, não há consentimento nessa transmissão. No modo de aquisição originário a posse pode conter vícios pois o apossamento de coisa da natureza, sem dono, não se apresenta na forma nodoada, mas em regra a aquisição de bens móveis e imóveis detém de algum modo uma contaminação, ou seja, o possuidor anterior estava na posse de má-fé por havê-la adquirido de modo violento. Tais vícios desaparecem ao ser ele esbulhado, desde que inexista qualquer relação negocial. O mesmo não acontece na forma derivada – o vício é transmitido. O adquirente recebe todos os vícios que nodoavam a posse anterior, assim se o anterior desfrutava de uma posse clandestina, violenta ou precária, estas permanecerão como predicados da posse posterior, ou seja, aplicável o artigo 1.203 do Código Civil, em que a posse conservará o mesmo caráter de antes. A defi nição de aquisição originária e derivada não é superfi cial, mas atinge a natureza jurídica do negócio. Veja o extrato de um artigo que compreende a aquisição originária nas arrematações judiciais (Pedro Miglioli em seu artigo Conceito de Aquisição Originária nas Arrematações Judiciais): O entendimento doutrinário majoritário é no sentido de que qualquer das espécies de expropriação será sempre o modo de aquisição originário, o que signifi ca que o título de domínio do expropriante não deriva de um título anterior. Teoria geral da posse 25 Não há a transferência da propriedade do expropriado para o adquirente. Não há relação entre adquirente-expropriado-bem. A relação é linear (adquirente-bem). Quando o modo é originário, surge uma nova situação de fato que pode ter outros defeitos, mas não os vícios anteriores, pois o mesmo artigo 1.207, em seu fi nal, apresenta a faculdade do sucessor singular unir sua posse à de seu antecessor, para os efeitos legais. Continuemos o tema no próximo item. AULA 19 - MODOS DE AQUISIÇÃO DA POSSE 19.1 Aquisição originária Defi ne-se apropriação do bem como a situação pela qual o possuidor passa a ter condições de dispor da coisa livremente, excluindo a ação de terceiros e exteriorizando o domínio. A apreensão, segundo Maria Helena Diniz, é modo unilateral de aquisição da posse, pois estamos diante das coisas abandonadas (res derelictae) ou das coisas de ninguém (res nullius). Também ocorre apreensão com a existência de vícios, isto é, sem o consentimento, por meio da violência clandestina ou precariedade. O exercício de direito é outra forma de aquisição originária da posse que tem por objetivo a utilização econômica, trata-se com relação ao objeto, no caso, a possessória com relação à servidão e ao uso, por exemplo. Para entendermos o caso: se alguém ocupar terreno alheio para construir um aqueduto (exemplo da professora Maria Helena Diniz), utilizando-o sem oposição mas também sem consentimento, está diante de uma posse servidão, que por decorrência poderá abrigar-se no interditos, se necessário. O exercício do direito não se confunde como gozo, temos naquele a possibilidade, ou melhor, o poder de usar o direito, utilizá-lo, ou seja, é a realização do poder que ele contém. A possibilidade de dispor da coisa é também um modo de exercício. Também constitui uma forma de exteriorização do poder em que o possuidor se apresenta como titular do direito, sendo assim consonante com os institutos que envolvem a posse. 19.2 Modo derivado de aquisição da posse A aquisição derivada, também denominada bilateral é aquela em que o titular anterior consensualmente transmite a posse ao adquirente. A posse é transmitida pelo possuidor a outrem. A transmissão pode ocorrer pela tradição, pelo constituto possessório e por meio da sucessão inter vivos e causa mortis. A tradição é um resultado de uma transação jurídica entre pessoas que transmitem a posse. É derivada de ato ou negócio jurídico de alienação, quer a título gratuito ou oneroso. Em regra a aquisição da posse ocorre pela tradição, que constitui modo bilateral, uma vez que pressupõe um consenso entre as partes envolvidas na aquisição e na perda da posse (por aquele que recebe e o que transmite a posse). A tradição pode ser real, simbólica ou fi cta. Será real quando a coisa for realmente entregue a outra pessoa: por exemplo, quando a pessoa vai até uma loja, compra um sapato e este é entregue à compradora. Será simbólica quando um ato simbolizar a entrega da coisa, como ganhar um carro em um programa de televisão e receber do apresentador as chaves. A tradição fi cta é aquela em que a pessoa que já tinha posse direta da coisa torna-se proprietária, como o depositário fi el, possuidor direto da coisa que então torna-se proprietário. Apesar da grande importância da tradição, há situações em que ela pode ser dispensada: Teoria geral da posse 26 • na abertura da sucessão legítima, ou testamentária aos herdeiros e legatários, em caso de coisa certa; • na celebração do casamento realizado sob o regime de comunhão universal, em que a transferência do domínio efetua-se independentemente de tradição; • por força dos pactos antenupciais, a contar da data do casamento, ao cônjuge adquirente; • no caso de contrato de sociedade de todos os bens, em que a transferência se opera com a assinatura do referido contrato, entendendo-se haver a tradição tácita; • da mesma forma na sociedade particular, em que a transferência se opera com a simples aquisição dos bens comunicáveis; O eminente professor Carlos Roberto Gonçalves (2007) também lembra que: “[...] sendo a tradição ato complementar do negócio jurídico, para que gere o seu principal efeito, que é a transferência do domínio, necessário se torna que o negócio em tela seja válido [...]”. Se este é invalido, a tradição que nele se apoia não pode, tampouco, ganhar efi cácia. AULA 20 - AQUISIÇÃO DA POSSE 20.1 Legitimidade para se adquirir a posse O artigo 1.205 do novel Códex apresenta as pessoas que podem adquirir a posse: A posse pode ser adquirida: I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratifi cação. O Código Civil Português, em seu artigo 1.266 dispõe que “[...] pode adquirir posse todos os que têm uso da razão, e ainda os que o não tem, relativamente às coisas susceptíveis de ocupação”, ou seja, a aquisição da posse não é mero negócio jurídico, mas uma aquisição acompanhada: o adquirente somado à capacidade jurídica. O Código não se refere à aquisição por procurador, como era apresentado pelo Código de 1916. Apresenta a fi gura do “representante”, compreendido por uma fi cção legal de que a vontade do representante é a vontade do representado.s Ainda sobre capacidade, observamos as questões que envolvem o nascituro, pois este não pode adquirir a posse por não possuir capacidade de direito, somente puras expectativas. Contudo, é possível que terceiros declinem bens ao nascituro por ato causa mortis ou inter vivos, lembrando a necessidade de nascimento com vida. Na mesma seara, vejamos
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