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1 Análise do Comportamento e os Transtornos de Ansiedade e Personalidade Maria Zilah Brandão Instituto de Psicoterapia e Análise do Comportamento – PsicC e-mail: psicc@sercomtel.com.br 2 PROPOSTAS DO BEHAVIORISMO RADICAL PARA O TRATAMENTO CLÍNICO DOS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE E ANSIEDADE 3 Terapia analítico-comportamental: O trabalho clínico de base analítico- comportamental tem como principal foco a identificação e alteração de fatores ambientais responsáveis pela instalação e manutenção dos problemas apresentados pelo cliente como queixa (Zamignani, 2002). 4 Características: a) identificação da função do comportamento é pré-requisito para a intervenção; b) as (respostas) queixas foram selecionadas ao longo de uma história de interação com o ambiente; c) queixas podem ter funções diversas de acordo com o contexto; 5 deve-se investigar todas as possíveis conseqüências ambientais que mantém uma classe de respostas; modelo de seleção pelas conseqüências dá ênfase à ação do controle operante sobre as respostas; as técnicas devem considerar a função do comportamento no ambiente que pode ser diferente em cada caso. 6 Psicoterapia Funcional-Analítica (FAP): A FAP é uma forma de tratamento que enfatiza a análise da relação terapeuta-cliente, no contexto clínico – ou seja, na sessão, no momento em que ela ocorre. A ênfase dada por Kohlenberg (1987) está exatamente na análise desta relação e dos aspectos nela envolvidos. Esta análise passa a ser a própria intervenção, que conseqüentemente, produzirá mudanças de comportamento nas relações diárias dos clientes. Na relação terapêutica, é possível evocar e mudar padrões de comportamento (os chamados comportamentos- problema), identificados, também, como comportamentos clinicamente relevantes (CRBs). 7 Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) A ACT é uma proposta de terapia fundamentada no behaviorismo radical e nas pesquisas recentes na área de comportamento verbal. Acredita que não são os comportamentos problemáticos que devem ser mudados, mas sim o contexto socio-verbal onde ocorrem(Hayes,1993) 8 Análise Clínica do Comportamento (ACC): A ACC é o nome dado à prática de psicoterapia ambulatorial fundamentada na filosofia behaviorista radical. Enfoca no processo verbal entre o terapeuta e cliente dentro do consultório, como instrumento privilegiado de mudança terapêutico, e é indicada especificadamente para condições clínicas onde o terapeuta não tem acesso às contingências do cotidiano do cliente. Acredita-se que a FAP e a Terapia construcional, fariam parte da A.C.C. (Vandenberghe, 2003). 9 PERSONALIDADE Popularmente acredita-se que a pessoa possui uma personalidade a qual são atribuídas as causas do seu comportamento. Nessa concepção, por exemplo, o comportamento delinqüente, apresentado por um indivíduo, teria como causa a personalidade anti-social do mesmo. 10 Para os behavioristas radicais a personalidade é resultado da experiência de vida e história de reforçamento de cada pessoa. É o repertório comportamental do indivíduo - o conjunto de comportamentos que ocorre de forma consistente em muitas situações, resultado de contingências também consistentes ao longo do tempo. 11 Transtorno de Personalidade É um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é generalizado e inflexível, tem início na adolescência ou no começo da idade adulta, é estável ao longo do tempo e provoca sofrimento e prejuízo. 12 Critérios Diagnósticos para um Transtorno da Personalidade (DSM- IV) Um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo. Este padrão manifesta-se em duas (ou mais) das seguintes áreas: (1) Cognição (2) Afetividade (3) Funcionamento interpessoal (4) Controle dos impulsos 13 Critérios Diagnósticos para um Transtorno da Personalidade O padrão persistente é inflexível e abrange uma ampla faixa de situações pessoais e sociais. O padrão persistente provoca sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. O padrão é estável e de longa duração, podendo seu início remontar à adolescência ou começo da idade adulta. 14 Critérios Diagnósticos para um Transtorno da Personalidade O padrão persistente não é mais bem explicado como uma manifestação ou conseqüência de outro transtorno mental. O padrão persistente não é decorrente dos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma condição médica geral. 15 Transtorno de Personalidade na Análise do Comportamento A análise do comportamento não se prende somente a características descritivas e topográficas para fazer o diagnóstico de um transtorno de personalidade. O processo de categorizar os clientes de acordo com o DSM- IV é útil se ajudar os clínicos a observarem os Comportamentos Clinicamente Relevantes. 16 A análise do comportamento propõe identificar as variáveis de controle (as condições que dão origem e mantêm os comportamentos). Características descritivas, não contam sobre controlar variáveis, dificultando a análise funcional. 17 Com base na análise funcional, Kohlenberg e Tsai (1991), reconheceram as reações internas do terapeuta e seus sentimentos como centrais para o diagnóstico, e focalizaram o tratamento dos comportamentos problemáticos do cliente ocorrendo dentro da sessão. Em um sistema ideal, as reações do terapeuta para o comportamento problemático do cliente, seriam incluídas como ferramentas e critérios de diagnóstico. 18 O enfoque analítico funcional enfatiza o papel das contingências interpessoais na causa, tratamento e construção do sistema de classificação para os fenômenos comportamentais conhecidos como TP (transtornos de personalidade). 19 NOÇÃO DO SELF E BEHAVIORISMO RADICAL: O self é considerado como a construção da subjetividade via cultura, sendo produto de contingências filogenéticas, ontogenéticas e culturais (Rubio, 2004). 20 O behaviorismo radical vê o self como decorrente de uma aprendizagem que se tornou possível a partir do desenvolvimento da linguagem e dos treinos verbais na presença de uma pessoa que estimula essa noção por meio de repetições da palavra “eu” associada a diferentes verbos que indicam ações ou comportamentos. Assim, o conceito de self é entendido como produto da aprendizagem possibilitada pela comunidade verbal que utiliza a palavra “eu” diante de comportamentos de um indivíduo (Sousa, 2003). 21 O self, então, é resultado de estímulos externos em que a comunidade modela o comportamento de indivíduos. O eu depende de experiências públicas, mas à medida que ocorrem concomitantemente com evento privados, estes passam a controlar o uso da palavra “eu”, quando uma pessoa fala de si mesma. 22 Para um desenvolvimento normal, as afirmaçõesdo eu são, inicialmente, controladas por eventos públicos e, posteriormente, ficam sob controle de eventos privados. No entanto, pelo seu caráter complexo e impreciso, a aprendizagem do eu pode possuir falhas, e os indivíduos podem ser colocados sob controle apenas de eventos públicos o que leva a instabilidade do comportamento e dependência do ambiente. 23 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE Maria Zilah Brandão Instituto de Psicoterapia e Análise do Comportamento – PsicC e-mail: psicc@sercomtel.com.br 24 Os borderlines são vistos como clientes que não aproveitam bem a psicoterapia, desistem cedo do tratamento e facilmente recaem. São também conhecidos por sua ambivalência, isto é, por apresentarem sentimentos e ações contraditórias entre si, ou que se modificam muito rapidamente. Apresentam dificuldade para escolher e tomar uma decisão, podem tentar suicídio em função de um sofrimento inexplicável ou indefinível e, freqüentemente relatam crises de identidade 25 DSM – IV e Análise do Comportamento Behavioristas Radicais geralmente não fazem diagnóstico, nem usam o termo Transtorno de Personalidade, por acreditarem que descrições (topografias) pouco ajudam e que o “rótulo” (diagnóstico) atrapalha. Para a Análise do Comportamento na Clínica, não há uma desordem comum que explique uma série vasta de comportamentos: explicações devem considerar contextos. Os Behavioristas contemporâneos, Kohlemberg, Koer e Chauncey (2000), usam o behaviorismo como meio de compreender e promover a integração de métodos e conceitos utilizados em outros sistemas teóricos. 26 Diagnóstico tradicional e funcional Critérios diagnóstico do DSM IV De acordo com o DSM IV (APA,1995), no Transtorno de Personalidade Borderline o individuo apresenta um padrão instável no que ser refere a relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos, padrões constantes de impulsividade, que estão presentes em uma variedade de contextos, tendo inicio na idade adulta, preenchendo 5 ou mais dos critérios citados abaixo: 27 Esforços para evitar abandono real ou imaginário Padrões de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, em que a pessoa alterna entre extremos de idealização e desvalorização Perturbação de identidade Impulsividade em duas ou mais áreas(sexo, abuso de substancias, comer compulsivo, etc) Comportamentos, gestos ou ameaças de suicídio ou de comportamentos automutilantes 28 Instabilidade afetiva - oscilação freqüente de humor Sentimentos crônicos de vazio Raiva intensa ou dificuldade em controlar a raiva Episódio de ideação paranóide relacionado ao stress e a sintomas dissociativos intensos 29 A partir da análise funcional da queixa, incluindo observação do comportamento na relação terapêutica, chegar-se-ia às classes comportamentais que são padrões de comportamento reunidos por terem a mesma função ,a mesma causa. 30 Perturbações na identidade, relacionamentos instáveis e instabilidade afetiva poderiam ser visto, em determinado caso, como uma falta de responsividade a SDs internos, que indicaria uma história de falta de reforçamento e/ou punição para expressões do tipo: “eu sou”, “ eu gosto”, “ eu sinto”. 31 Kohlenberg sugere que a ausência de SDs internos poderia produzir um “self diferente”. O cliente costuma dizer por exemplo: “ sou um eremita”.Esta verbalização mostra que, para ele, a noção, mesmo que ruim, do “ self sozinho” é melhor que a instabilidade do self externo(presente, ausente, punitivo, reforçador). Estar sozinho poderia significar relaxar, não responder ao controle dos outros. É uma esquiva do controle excessivo dos outros. Outra forma de esquiva é não se envolver mesmo estando presente, ou retirar-se para o isolamento após contatos interpessoais intensos. 32 Outra fala comum entre os clientes é: “sinto-me dividido, como se houvesse dois eus”. Essa afirmação pode ser produto de contingências muito diferentes administradas pela família ou por outros e nas circunstancias em que está sozinho. 33 Segundo Kohlenberg e Tsai (2001) a noção de self inclui alguns atributos complexos: primeiro, ela se refere a algo diferente do corpo, o self não é físico; segundo, o self é modelado por estímulos externos, geralmente por outras pessoas; em terceiro lugar, há um self que é imutável e não mais sujeito ao controle dos outros, mas que nem sempre pode ser acessado. Esse terceiro atributo do self refere-se ao que Hayes (1984) chamou de perspectiva de ver-se. 34 Entendemos que esse self seria um estimulo privado que permite a qualquer individuo ver- se como diferente de seu repertório comportamental e ver-se como constante e continuo, a despeito das diferentes mudanças de contexto e ambientes as quais se expõem, ou mudanças de repertório, ou mesmo de tipo de controle (externo ou interno) ao qual está respondendo. 35 O “eu” que uma pessoa usa para falar de si mesmo é controlado parcialmente por eventos internos, mas pode haver experiências que não colocam o “eu” sob essas condições.Nesses casos, o “eu” passa a ser controlado apenas por eventos públicos, afetando sua estabilidade e independência, assim, alguns transtornos comportamentais podem ocorrer, como é o caso do Transtorno de personalidade Borderline . 36 Para a análise do comportamento o “eu” emerge a partir de repetições de frases que se iniciam com “eu”. O “eu” é uma perspectiva constante, imutável, a partir da qual você observa a si mesmo e ao mundo. Há, no entanto, pais que punem ou dificultam a aprendizagem do “eu”.Dessa forma, não valorizar as afirmações sob controle interno que começam com “eu quero”, “eu gosto”, “ eu sinto”, dificultam a formação desse lócus de analise ou ainda confundem a criança que passa a falar “eu” quando percebe a presença do desejo dos pais. Os pais reforçam ou punem as emissões verbais de acordo com os próprios sentimentos, não levando em conta os sentimentos privados da criança. 37 Kohlenberg e Tsai (2001) hipotetizam que a dificuldade em ter um “eu” sob controle privado levaria a criança ao desenvolvimento de um “eu” instável ou “ inseguro”, dependente da avaliação e presença do outro. Isso ainda poderia levar a falta de espontaneidade e criatividade. 38 A noção de self dos clientes borderlines geralmente é ausente ou frágil. Kohlenberg e Tsai (1995) apontam que o desenvolvimento do “eu” emerge inicialmente como uma unidade funcional separada, como por exemplo, “eu estou”, para unidades funcionais como “ estou com calor, estou com fome, estou aqui”, tendo em comum eu estou. Posteriormente emerge o eu como referencia, primeiro sob controle de estímulos públicos, depois privados 39 A história do desenvolvimento do transtorno da personalidade borderline aponta para um relacionamento parental caótico, em que, segundo Linehan(1991, apud Kohlenberg e Tsai,1993) os pais provavelmente invalidavam os relatos das crianças a respeito de suas próprias experiências das seguintes maneiras: 40 1.Invalidando relatos de experiências negativas2.Simplificando o controle de sentimento ou problema, bem como o esforço que a criança deveria fazer para lidar com ele 3.Criticando e punindo a criança quando ela expressasse sentimentos ou opiniões que divergissem das dos pais 41 Na visão comportamental de Linehan e Kerer (1993), a invalidação é a falta de reforço positivo para o controle privado das respostas da criança. Assim, a experienciação do self fica dependente de estímulos externos, deixando a pessoa, extremamente sensível ao humor e aos desejos dos outros. 42 Outra condição que pode existir decorrente disso, é que a noção de self perde-se ou modifica-se. A pessoa deixa de ter a percepção de constancia do self. Pode haver uma sensação de “ “vazio” ou de despersonalização, levando-a a pensar que o que ela sente não é ela mesma. Algumas pessoas podem passar a esquivar- se de forma física ou emocional de outras pessoas, de maneira a evitar que os outros possam exercer controle, mesmo que de maneira positiva, sobre seu self 43 Outras pessoas, podem desenvolver o medo de ficarem sozinhas. Kohlenberg e Tsai (1991) relatam que isso provavelmente ocorra porque passaram não apenas por condições invalidantes , mas também por situações de negligência extrema 44 Tratamento do Transtorno Borderline na FAP Identificar controle excessivo do “eu”para SDs externos. Reforçar verbalização sob o controle dos SDs privados. Ex.: eu gosto, eu sinto, eu quero O comportamento de responder excessivamente ao controle externo pode aparecer na sessão com aquele cliente que concorda com o terapeuta, age cautelosamente, é cortes e precisa muito da opinião do terapeuta. Kohlenberg e Tsai (1991), sugerem a técnica de associação livre: “conte-me tudo que entre na sua cabeça- todos os pensamentos, sentimentos e imagens”, esperar e modelar respostas que surjam sob controle interno. 45 Criar condições, na sessão, para que o cliente fale mais de si mesmo, sem o controle do terapeuta. Ajudar na organização geral da vida do cliente – estimular tomadas de decisão imediatas. Aumentar a freqüência de expressão emocional “verdadeira” ( que está sob o controle de SDs internos). Desenvolver vínculos afetivos – reforçamento natural na sessão (demonstração de carinho, interesse, afeto, atenção) 46 Fazer com que o cliente estabeleça confiança no terapeuta. Validar sentimentos ( inclusive os negativos): ensinar análise comportamental, ensinar auto observação, reforçar naturalmente opiniões, pensamentos, expressões negativas, ações e pequenas mudanças. Bloquear esquivas de sentimentos e promover exposição e aceitação emocional na sessão: lembrar as experiências passadas na sessão, estabelecer contingências positivas para o enfrentamento e aceitação, analisar funcionalmente o comportamento do outro 47 Fornecer critérios para que o cliente possa fazer mudanças, tomar decisões e analisar seus próprios comportamentos. Ajudar o cliente a perder o medo da vida e a ter esperança de ter momentos felizes. A análise funcional feita junto com o cliente é um importante estratégia de validação de suas experiências, já que demonstra que todos o comportamentos são normais e funcionais no contexto de vida do cliente, tanto os passados como os atuais Reforçar a capacidade para superar problemas também é importante 48 Como se faz “validação” na terapia Mostrar ao cliente que você ouviu, entendeu e organizou suas queixas. Dar feedback de que isso aconteceu. Reforçar respostas que são sensatas e que demonstram compreensão. O terapeuta deve mostrar que os comportamentos presentes e passados são funcionais. Reforçar esforços do cliente para melhorar Mostrar crença na relação terapêutica 49 Estudo de caso clínico História de vida O cliente tinha 31 anos no inicio da terapia, solteiro, pertencente a uma família de 5 irmãos, sendo ele o 4º filho. Seus pais são semi- analfabetos e sempre foram paupérrimos e ignorantes. Relatou ter sido maltratado e abusado fisicamente na infância além de ter passado fome e sofrido negligencia. Por necessidade começou a trabalhar aos 13 anos em um bar, onde começou a beber muito. Foi despedido aos 15 anos e arrumou outro emprego, na função de auxiliar de serviços gerais. 50 Teve bom desempenho, foi promovido, conseguiu estudar, se formar, fazer mestrado e arrumar um emprego bom. Seus relacionamentos afetivos neste período foram caóticos, conturbados e o último, profundo e fracassado. Suas amizades sempre foram superficiais e cheias de desconfianças, com apenas um único amigo real e constante. Sua família era um local de convivência sem nenhum vinculo afetivo entre a pessoas. Sentia-se infeliz e estranho, confuso, angustiado e estava bebendo muito. 51 Foi encaminhado para a psicoterapia após ter tentado suicídio, num momento de depressão, desespero e sentimentos de estar sendo perseguido por pessoas desconhecidas que estavam ao seu redor.Na primeira sessão o cliente relatou seus pensamentos paranóicos, sua vontade de morrer e sua dificuldade em enfrentar sua nova vida profissional, em uma cidade nova, com pessoas desconhecidas, pois havia ingressado, por concurso público, num órgão de pesquisa em outro estado. 52 Pontos relevantes A grande diferença entre auto-estima e auto confianças do cliente. O medo de não suportar o diferente, a imprevisibilidade do fato novo, mesmo que bom. A família longe e o medo de ficar sem referência, de não conseguir se ver mais como o mesmo. A dificuldade de ser alguém, para ele que considerava não ser nada. 53 O cliente relatou, nas sessões subseqüentes, seu desejo de largar tudo, e arrumar um sub-emprego em sua cidade natal. Lá ele tinha identidade, aqui não. O cliente achava que as pessoas olhavam estranho para ele e não tinha coragem de ter nenhum tipo de relacionamento, ele se relacionava apenas com prostitutas com objetivo puramente sexual. O cliente havia alugado uma casa na nova cidade mas não suportava ficar nela; a casa estava totalmente vazia porque ele não conseguia mobília-lá. 54 Como e quanto a auto-imagem do cliente dependia do que ele era na família, que lhe mostrava ser uma pessoa totalmente desprezível. A auto-imagem presa aos SDs externos e passados; como foi indiferente às muitas mudanças de sua vida nos últimos anos. Embora tivesse estudado e trabalhado sentia-se da mesma forma. Recusava algo bom como seu; sentia-se angustiado por estar nesta nova situação. 55 Com relação ao seu corpo, sentia-se feio, magro demais, estranho; achava impossível alguém deseja-lo, a não ser que fosse pior que ele. Mesmo querendo engordar, para ele comida era só para matar a fome, não comendo bem e não diferenciava paladares. Observa-se que havia forte predisposição para fugir dessa situação; não se envolver com o prazer para assegurar-se da sua identidade estabilidade; onde ele sempre foi bom: agüentar sofrer para sobreviver. A demonstração de sofrimento evitava punição do pai e também o livrava da esperança inútil de dias melhores. 56 O início da terapia constou de aconselhamentos para decisões importantes que o cliente deveria tomar e apoio para melhorar sua depressão.O cliente achava que não iria conseguir, não sabia avaliar seus trabalho, sentia-se observado e com medo de receber críticas, além de sentimentos de inferioridade. Pediu ajuda da T, depois de seis meses, para comprar roupas, comida, móveis, carro. A T elogiava suas decisões, valorizava pequenas iniciativas, comentava sua própria percepção de algo e pedia a opinião dele. Na fase de anorexia desenvolveu-se atividades para estimular o paladar, comer coisas boas na clínica, etc. 57 Aos poucos as contingências positivas para seus comportamentos melhoraram a autoconfiança e ele falava menos em ir embora. Aceitou a proposta da T para começar a sair de casa e fazer amigos e deu certo. Ficou com medo da intimidade dos amigos e cortou-os . Só depois de algum tempo se aproximou de outras pessoas e novamente foi bem sucedido. Começou a sais demais, a beber demais e piorou da depressão. Começou-se tudo de novo, devagar. 58 O cliente começa a mostrar afetividade pela T, que responde com reciprocidade, o cliente melhora no trabalho, mantém alguns amigos, troca idéias com a T e toma decisões. Ainda não consegue namorar e nem levar alguém para casa. Falou de sua inveja dos poderosos e da sua raiva do pai. Depois dessa fase foi iniciada exposição verbal às situações do passado, uma vez que cliente quis saber porque era assim. 59 Transtorno de Personalidade Esquiva Comportamento de Esquiva no Contexto Clínico 60 Definição segundo DSM-IV: Um padrão persistente de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade à avaliação negativa que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contexto, indicado por, pelo menos, quatro dos seguintes critérios: 61 Critérios Diagnósticos – DSM-IV Evita atividades que envolvam contato interpessoal significativo com outras pessoas devido ao medo da crítica, da desaprovação ou da rejeição. É incapaz de se envolver com as pessoas a menos que tenha certeza de que será aceito. Limitado a relacionamentos íntimos, devido ao medo de ficar envergonhado, ou do ridículo. 62 Preocupação de estar sendo criticado ou rejeitado em situações sociais. Inibido em novas situações de contato interpessoal em função de sentimentos de inadequação. Tem uma visão de si mesmo como socialmente inapto, sem atrativos pessoais ou inferior aos outros. Relutante a assumir riscos pessoais ou engajar-se em quaisquer novas atividades que possam resultar embaraço. 63 Análise do Comportamento “Nenhum ato particular define a esquiva, todos temos muitos tipos de barras para prevenir diferentes tipos de choques. Ainda assim, algumas formas de esquiva são mais problemáticas que outras, se quisermos entender e, talvez, fazer algo a respeito da esquiva, primeiro temos que reconhecê-la.” (Sidman,1989) 64 Definição: O Comportamento de Esquiva é definido, segundo Catânia (1999), como aquele que previne ou evita um estímulo aversivo pela apresentação de uma resposta. O indivíduo responde no sentido de evitar as contingências aversivas. 65 Visão de self Kohlenberg sugere que, nestes casos, a noção, mesmo que ruim, do “ self sozinho” é melhor que a instabilidade do sef externo (presente, ausente, punitivo, reforçador). Estar sozinho poderia significar relaxar, não responder ao controle dos outros. É uma esquiva do controle excessivo dos outros. Outra forma de esquiva é não se envolver mesmo estando presente, ou retirar-se para o isolamento após contatos interpessoais fortemente agradáveis 66 Descrição do Caso: Jovem, 29 anos, sexo masculino, procurou a terapia com queixa de Depressão. Não saía mais de casa, só ficava no quarto deitado, não se encontrava com os amigos, relatava ter um desânimo muito grande, não estava conseguindo realizar nenhum tipo de atividade e já havia tentado o suicídio. 67 Análise Funcional: Pode ser observar que os comportamentos de Esquiva apresentados pelo cliente eram mantidos pelo fato destes evitarem situações que indicavam compromissos e também responsabilidades. A “Depressão” relatada pelo cliente provavelmente já era produto de contingências aversivas das quais o cliente havia passado a se esquivar. 68 O fato do cliente deixar de freqüentar ambientes sociais ocorreu devido a relação estabelecida entre estes locais e os assuntos referentes à faculdade, trabalho e outros tipos de responsabilidades que eram evitados por parte do cliente. 69 Principais conseqüências da Esquiva: Perda do contato com reforçadores positivos; Recorrência de respostas emocionais ou sentimento negativos; Falta dos sentimentos positivos decorrentes do contato com novas situações; Aumento do potencial aversivo da situação evitada; Generalização de respostas emocionais para outras situações; 70 Tratamento: Durante o primeiro ano, foram reduzidos os comportamentos de esquiva frente às situações sociais, o que foi realizado com êxito. O cliente passou a sair mais vezes, deixou de ficar em casa e arrumou uma namorada. Decidiu, então, sair da casa de seus pais e passar a morar em uma cidade vizinha, com o objetivo de cursar uma faculdade. 71 Alteração nas contingências: Agora o cliente teria que assumir determinadas responsabilidades e compromissos, situação da qual ele evitava por ser muito aversiva. ANSIEDADE E ESQUIVA 72 A terapeuta começou a trabalhar a esquiva do cliente diante destas situações, as quais envolviam responsabilidades e compromissos. Os comportamentos observados eram: - faltar a faculdade - não estudar - chegar atrasado - desmarcar a sessão 73 O cliente justificava sua esquiva por meio de comportamento privados, como: “Não consigo estudar porque sou muito ansioso” “Não venho a terapia porque não tenho vontade” Sentimento Comportamento 74 A esquiva emocional pode ser observada e sinalizada pelo terapeuta. O cliente deve aprender a tolerar sua próprias reações emocionais e vivenciá-las ACEITAÇÃO 75 O que é a Aceitação? Aceitar, de acordo com Kohlemberg e Cordova (1994), significa tolerar as emoções associadas com um estímulo aversivo sem fugir, escapar ou atacar. É estar em contato com os estímulos que evocam sentimentos dolorosos. 76 O cliente foi encorajado a permanecer nas situações aversivas através de: Treino de relaxamento e respiração; Enfrentamento gradual da situação de estudo; Aceitação dos sentimentos evocados. 77 Bloqueio da Esquiva: Um outro procedimento adotado foi o de reapresentar ao cliente o estímulo discriminativo que, originalmente, evocou a esquiva. No caso, quando o cliente tentava justificar ou deixava de responder sobre o cumprimento de determinadas tarefas, novamente lhe era perguntado sobre o assunto, impedindo que a esquiva se fortalecesse. 78 A Importância do Contexto: O bloqueio da esquiva deve ser aplicado com moderação e em um contexto baseado primordialmentepor reforço positivo Funciona como estímulo aversivo e acarreta todos os efeitos indesejáveis a ele associados Esquiva do tratamento 79 Quando o bloqueio das esquivas de responsabilidades e compromissos tornou-se mais freqüente, e a terapia passou a assumir uma função semelhante às demais contingências do cliente, ou seja, de cobrança... 80 ...o cliente abandonou temporariamente o tratamento terapêutico. 81 Conclusão: Mesmo havendo deixado a terapia, este caso pode ser considerado de grande sucesso no que diz respeito ao enfrentamento das situações sociais. O cliente, até então, não havia mais apresentado crises de Depressão ou tentativa de suicídio. 82 Apesar de ser muito difícil o manejo do comportamento de esquiva no contexto clínico, ele é bastante freqüente e de possível alteração. O que pode ser realizado a partir do enfrentamento gradual destas situações e aceitação dos sentimento evocados por estas contingências. 83 Pontos a serem destacados no tratamento dos transtornos de Personalidade -Reforçar padrões adequados de comportamento, mesmo que incipientes. -Evitar feedback negativo para classes específicas de comportamento do cliente. -Descrever junto ao cliente aspectos de sua história de vida que levaram a aquisição das dificuldades atuais, sem criticar os comportamentos inadequados. -Validar expressão de sentimentos negativos e positivos. Mostrar compreensão e empatia. Para isso é importante não perder de vista a história de vida do cliente e a aquisição de tais comportamentos. 84 -Criar condições na sessão para a expressão do “eu” sob controle de estímulos privados. Fazer exercício de associação livre; responder questões pessoais, preferências por determinadas situações, estimular verbalização de sensações produzidas pelos cinco sentidos; pedir opinião do cliente para várias situações e valorizá-las, etc. -Reforçar emissões controladas pelo “eu” como estímulo privado. -Manter consistência em termos de relacionamento interpessoal e afetivo na sessão. -Manter consistência nas orientações. 85 -Mostrar que alguns comportamentos são inadequados, por exemplo, sensações de medo de estar sendo perseguido, separando sempre a compreensão do terapeuta de que o sentimento do cliente é real, mas que a perseguição não está acontecendo. Explicar que o medo proveniente de situações passadas, e a falta de aprendizagem de discriminações desses estados podem realmente levar a interpretações erradas. -Dar feedback a partir da análise funcional do contexto dilui ou elimina a aversividade da técnica. -Modificar a noção de causalidade do comportamento do cliente. A visão de que o comportamento foi aprendido retira a culpa do cliente. Investir nestas análises. 86 Enfatizar no que o indivíduo faz de melhor; Fazer muitas perguntas sobre padrões funcionais saudáveis. Examinar situações. Desenvolver o papel ativo do cliente na sessão: ajudar a procurar as causas de seu comportamento. Não desqualificar emoções internas e imprevisíveis do paciente, mas relacioná-las com suas ações e com as contingências das quais emergem, durante o processo de análise funcional. Utilizar descrição colaborativa. 87 Pontos comuns nas psicoterapias sobre os Transtornos de Personalidade(TP). Segundo Livesly (2005), resultados de estudos sugerem que terapias psicodinâmicas e cognitivas são igualmente efetivas. Isto implica que, tratamentos com visões diferentes podem ser mais produtivos, combinando os componentes mais eficazes de cada um, do que competindo. 88 TP envolve problemas centrais comuns a todos os casos, como também características especificas de acordo com os pacientes e a forma da desordem. Estratégias gerais são usadas durante todo o tratamento para dirigir- se ao problema principal do cliente . Intervenções especificas para cada caso são necessárias. Características centrais das TP envolvem um mau desenvolvimento do sistema do self e problemas interpessoais crônicos. 89 Postura mais apropriada para o tratamento de Desordens de Personalidade: prover suporte, empatia, e validação. O tratamento deve maximizar os efeitos dos fatores comuns Estes fatores têm componentes de suporte baseados no relacionamento terapêutico e na aprendizagem de novas experiências. 90 O progresso do tratamento pode ser descrito como uma série de fases: A primeira fase começa com o manejo da crise, onde o objetivo é assegurar a segurança do paciente e dos outros; A segunda fase, tem como objetivo estabilizar sentimentos e impulsos e restabelecer o controle comportamental, na maior parte das vezes usando as estratégias gerais de psicoterapia, complementando com medicação apropriada. 91 O terceiro estágio, controle e regulação, foca na redução dos sintomas e aprendizagem de habilidades de autocontrole de afetos e impulsos. Neste estágio as estratégias de tratamento geral são complementadas com intervenções comportamentais, cognitivas e farmacológicas. Na quarta fase Exploração e mudança,a idéia é diminuir regras mal adaptadas, comportamentos interpessoais e comportamentos como a auto invalidação e alteração da percepção sobre conseqüências traumáticas. 92 A última fase, integração e síntese, é um tratamento de longo-prazo. Este envolve a construção de um auto-sistema mais adaptativo e com representações integradas dos outros. 93 Estratégias terapêuticas propostas Intervenções genéricas são feitas no tratamento de TP de acordo com 4 estratégias: construir colaboração, manter consistência, validação, e construir motivação. Estas estratégias são utilizadas para modificar o problema central. Colaboração, por exemplo, ajuda a diminuir a desconfiança e modifica problemas de trabalho cooperativo. Similarmente, a consistência no relacionamento terapêutico modifica expectativas não previsíveis do inicio de relacionamentos. Validação ajuda a corrigir auto-injurias que retardam a formação de um self coerente. Finalmente, construir motivação ajuda a modificar a passividade e a baixa autoconfiança. 94 Transtornos de Ansiedade Maria Zilah Brandão Instituto de Psicoterapia e Análise do Comportamento – PsicC e-mail: psicc@sercomtel.com.br 95 Ansiedade : visão do behaviorismo radical Segundo Skinner (1994), a ansiedade é uma condição vivenciada “... quando um estímulo precede caracteristicamente um estímulo aversivo com um intervalo de tempo suficientemente grande para permitir a observação de mudanças comportamentais” (p.179). 96 As respostas eliciadas no indivíduo quando exposto ao estímulo aversivo original, podem ser transferidas a estímulos neutros que ocorram em um mesmo intervalo de tempo. Essas respostas passam então, a se manifestar em outras situações nas quais haja a presença daqueles estímulos que antecederam caracteristicamente a situação aversiva; Assim, a presença de estímulos anteriormente neutros, e então pareados a uma situação aversiva, passa a caracterizar uma ameaça, ou uma situação de risco potencial para o sujeito, gerando ansiedade. 97 OBSERVACÕES: As técnicas comportamentaisde exposição a estímulos ansiogênicos e prevenção de respostas de fuga-esquiva têm tido muito sucesso, mas o reforçamento negativo não parece ser o único processo que mantêm as respostas de ansiedade; 98 Contingências de reforçamento positivo para comportamentos problemáticos, controle por regras e baixa densidade de reforçamento para repertórios sociais podem também estar mantendo as respostas de ansiedade ou evitação; A Relação terapêutica reforçadora permite o descondicionamento inicial da ansiedade e o desenvolvimento de novos comportamentos (mais adequados e portanto passíveis de reforçamento) que permitirão a diminuição dos repertórios de fuga-esquiva. 99 Transtorno do Pânico I-Definições: É conceituado como medo aprendido de certas sensações corporais associadas com o Ataque de Pânico e a Agorafobia como uma resposta comportamental à antecipação de tais sensações ou sua evolução para um Ataque de Pânico completamente caracterizado (Craske & Barlow,1999). 100 De acordo com DSM-IV, o Transtorno do pânico é uma desordem de ansiedade, caracterizada por ataques de pânico recorrentes e que pelo menos um dos ataques de pânico seja seguido de outro dentro de um mês com uma das características que se seguem: a) preocupação persistente sobre ter um outro ataque; b) preocupação com as conseqüências de um ataque: medo de perder o controle, ter um ataque do coração, ficar louco e; c) uma mudança significativa no comportamento relacionado com os ataques. 101 II-Queixas do Cliente: aversividade da crise ansiedade antecipatória ou generalizada (medo de ter medo) medos subjetivos: de ficar louco; de morrer; das reações corporais; de pensamentos catastróficos medo de lugares de onde não possa fugir no caso de um ataque. 102 III-Conseqüências dos Ataques de Pânico: generalização dos medos para outras situações (situações novas, viagens, desconhecido ou imprevisível); aumento do repertório de fuga-esquiva; déficit de atividades e de reforçadores; queda na autoconfiança; depressão (pelo isolamento e reclusão); aumento da auto-observação corporal; 103 Algumas sensações corporais tornam-se indícios (eliciadores e discriminativos) de um futuro ataque de pânico e o cliente fica tentando livrar-se deles. 104 IV-LEITURA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL DO PÂNICO Vulnerabilidade genética + fatores ambientais desencadeadores (contato com estímulos aversivos) + ganhos secundários da queixa. Sensações corporais = estímulos pré- aversivos (indicam que algo ruim acontecerá) 105 1ª crise → sensações muito aversivas associadas a outras reações corporais mais leves e a situações ambientais levam a respostas antecipatórias de ansiedade → respostas de fuga-esquiva e agorafobia; Manutenção e exacerbação dessas crises pelo meio ambiente. Reforçamento de padrões disfuncionais. Ex.: indivíduo evita punição de algumas pessoas, evita trabalhos desagradáveis e ganha atenção e respeito. 106 Conseqüências para o cliente: diminui padrões adequados de interação e aumenta queixas relativas a sensações corporais e comportamentos de fuga-esquiva; Retomada do ciclo inicial: com o tempo, as pessoas se cansam e punem o comportamento do cliente e tendem a se afastar dele. 107 V-Tentativas de solucionar o problema: controlar os pensamentos catastróficos; controlar a ansiedade e as reações corporais associadas a elas; evitar ou fugir das situações que podem produzir ansiedade; buscar as razoes dos ataques de pânico. -Todas essas tentativas não funcionaram e não funcionarão. Por que? 108 VI- Procedimento: 1. Plano de Tratamento 30 a 50 sessões de cinquenta minutos cada – uma ou duas vezes por semana; 9 a 10 meses de tratamento; Acompanhamento psiquiátrico e psicológico. 2- Psicodagnóstico: Dinâmico, com o objetivo de identificar o problema (diferente da queixa), a especificidade de cada caso. 109 3- Tratamento: técnicas 3.1 Estratégias para lidar diretamente com componentes comportamentais dos ataques de pânico: 110 3.1 3.1.1. Ansiedade antecipatória ou medo de ter medo: a) Terapia de Aceitação e Tolerância Emocional. Uso da F.A.P. (Psicoterapia Analítico Funcional) e bloqueio das respostas de fuga-esquiva. b) Exercícios de relaxamento e treino em respiração para reduzir ansiedade por meios naturais; c) Exercícios de percepção corporal e discriminação de sensações e sentimentos; d) Exercícios sistematizados ou auto-programados de exposição interoceptiva (Paes da Barros, 1999) - 111 3.1.2. Sensações de despersonalização ou medo de ficar louco: a) Fortalecimento do “self” (perspectiva permanente de observação e análise exclusiva de cada um de nós), desenvolver o senso do self por meio da relação terapêutica. Demonstrar que a pessoa não é seu comportamento. (Hayes, 1987). b) Exercícios de discriminação entre pensamentos e realidade. “Separar o que é do que pensa que é”. Ex.: Eu vou morrer e morrer de fato. c) Exercícios para demonstrar que pensamento e sentimento não levam necessariamente a ação (perder medo dos pensamentos catastróficos). 112 Situação Pensamentos Sentimentos ou Ação Ex.: posso ter um ataque de pânico e não ter pânico. (Gentil, 1997) 3.1.3. Ausência de Informação do Problema a) Fornecer informação científica sobre aquisição e extinção de respostas condicionadas de ansiedade; 113 Fuga Aumenta Ansiedade Bloqueio de Esquiva e Enfrentamento = Extinção 114 Próximas Exposições a) Possibilitar compreensão dos aspectos filogenéticos do medo e da ansiedade. 3.1.4. Técnicas Comportamentais: a) Treino respiratório 115 b) Relaxamento - reduzir medo e ansiedade na medida em que o relaxamento produz senso de controle e domínio. O relaxamento e o treino em respiração são respostas incompatíveis com a tensão que ocorre durante o ataque de pânico. 116 c) Exposição - É a técnica utilizada para vencer a esquiva fóbica. Refere-se à confrontação ou aproximação repetida ao objeto ou situação temida, até que o medo ou a esquiva diminua de intensidade. Pode ser por inundação ou gradual (no caso constrói-se hierarquia de situações que causam ansiedade); pode ser por exposição interoceptiva ou situacional. Também pode se ao vivo ou por imagens. 117 3.2. Analise funcional do Problema: Identificar os eventos antecedentes e as mudanças ambientais decorrentes das crises ou queixas pertinentes ao pânico; Identificar outros padrões comportamentais associados a ele; Verificar em que direção o pânico mudou a vida do cliente; Levantamento de alternativas para satisfação das necessidades emocionais que concorram com a atenção dada ao problema. Diminui a resistência ao tratamento; 118 VII-Considerações finais: 1. O tratamento contextual e analítico funcional enfatiza: a) Exposição às próprias reações emocionais; b) A relação terapêutica c) A análise funcional do comportamento 119 VIII-Material para o clienteAnsiedade: Como lidar com esse problema Lembre-se que: 1. O pensamento é algo que existe e é um tipo de comportamento da pessoa, mas o pensamento é diferente da realidade. Aliás, o pensamento pode ter maior ou menor semelhança com a realidade dos fatos, mas ele nunca é o fato. Essa semelhança depende da situação atual, da história de vida da pessoa, do nível de ansiedade dela no momento e da forma como ela vê o mundo. 120 É importante, que ao sentir emoções negativas associadas a pensamentos catastróficos a pessoa tende diferenciar o pensamento negativo exagerado, da realidade dos fatos. Saber que está reagindo ao pensamento é importante e aumenta a chance da pessoa separar “o que é” do que “pensa que é”. 2. Os meus pensamentos e sentimentos por mais conturbados que estejam não desestruturarão o meu “self”. Eu sou mais do que eu sinto, preciso e faço. Eu sou (self) quem observa tudo isso. 121 3. Um outro comportamento importante quando se está ansioso é aceitar a ansiedade. Isto significa não ter medo das próprias ações corporais. Entenda-as como respostas normais e adequadas a situação perigosa ou ao pensamento amedrontador, como é o caso a que estamos nos referindo agora. 4. A última orientação refere-se à necessidade de relaxar a musculatura do corpo e a respirar corretamente nestas situações. Inspire pelo nariz (boca fechada) e solte o ar pela boca. 122 5. É fundamental você se lembrar que não dá para exercer controle absoluto sobre o mundo, sobre os fatos ou sobre si mesmo. Aceite o que foge ao seu controle. Não se esqueça desta frase: “Deus me dê força para controlar o que posso, humildade para aceitar o que não posso controlar e a sabedoria para perceber a diferença entre as duas primeiras”. (A.A.A.). 123 TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO. I-Introdução A analise do comportamento oferece uma proposta eficaz, experimentalmente embasada, de atendimento individual ou em grupo para o tratamento do TOC. É objetivo desse trabalho apresentar as principais técnicas para o tratamento do TOC, assim como contextualizar e discutir sua aplicação clinica. 124 II – DEFINIÇÃO (DSM-IV-TR): Transtorno Obsessivo-Compulsivo – caracteriza- se por obsessões (que causam acentuada ansiedade ou sofrimento) e/ou compulsões (que servem para neutralizar a ansiedade). OBSESSÕES: pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou sofrimento. 125 COMPULSÕES: comportamentos repetitivos (p.ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos encobertos (p.ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que a pessoa se sente compelida a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas. Visam prevenir ou reduzir o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos ou atos encobertos não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos. 126 III-Variáveis ambientais relacionadas com a instalação e manutenção do TOC: Reforçamento negativo: as respostas de esquiva no TOC (compulsões) têm a função de evitar a ocorrência das obsessões incômodas ou de evitar um evento/ estímulo de conotação ameaçadora. As variáveis que exercem controle operante sobre a emissão dessas respostas são estímulos pré- aversivos (ex. um ambiente no qual as obsessões geralmente ocorram), as quais as conseqüências punitivas tenham sido pareadas, e também algumas operações estabelecedoras (ex. ambiente rico em estimulação aversiva), por serem essas responsáveis pelo aumento do valor de reforçamento negativo contingente as esquivas bem sucedidas. 127 Também ocorre reforçamento negativo através da retirada de eventos aversivos, tais como tarefas e responsabilidades. 128 Reforçamento positivo: reforçadores sociais importantes como atenção, elogios, contato afetivo, podem controlar a emissão de respostas obsessivo-compulsiva. Isso por que essas respostas podem, em algumas circunstâncias, proporcionar um desempenho desejável pela sociedade. Por ex.: quando uma criança é reforçada pelos pais por manter seus cadernos impecáveis pelo excesso de cuidado. É importante ressaltar que, muitas vezes, esse esquema de reforçamento positivo é utilizado de forma inconsistente (intermitente), ou seja, ora a comunidade pune ora reforça fortalecendo ainda mais o comportamento. 129 Diminuição dos reforçadores sociais: isso ocorre quando a família, por exemplo, deixa de exigir do indivíduo o cumprimento de determinadas responsabilidades em função de sua “doença”, considerando, muitas vezes, a pessoa incapacitada para outras atividades. Assim, as ações dos clientes são minimizadas ainda mais, o que acaba por reduzir os contatos sociais possivelmente reforçadores. 130 Déficits de habilidades: podem ser o próprio resultado dos comportamentos obsessivo- compulsivos, bem como o elemento principal envolvido na manutenção e gênese do problema. Acredita-se que os déficits em algumas dessas habilidades dificultem o acesso a reforçadores que os comportamentos obsessivo-compulsivos permitem. No entanto, esta relação é precária, pois o TOC acaba, a médio e a longo prazo, trazendo outras dificuldades a vida do indivíduo como: perda de relacionamentos satisfatórios, diminuição de oportunidades, privação de contato com reforçadores importantes (agravamento do caso). 131 Nesse sentido, as respostas obsessivo- compulsivas podem ocorrer sob controle de reforçamento positivo e negativo, em configurações de contingências bastante complexas. Por esta razão, a atribuição da eliminação das obsessões como explicação para as compulsões seria insuficiente. 132 IV – PASSOS INICIAIS A) Avaliação do paciente em relação ao TOC e a seu funcionamento geral História de vida passada e atual História desenvolvimento do problema Levantamento do repertório comportamental atual Tratamentos anteriores Expectativas da Terapia B) Levar o paciente a reconhecer os possíveis prejuízos do TOC sem tratamento ( adesão) 133 C) Caracterização cuidadosa do TOC: Comorbidades; Tipos de obsessões e compulsões (freqüência , durações,etc); Situações que favorecem o TOC; Observações e eventual aplicação de escalas. 134 D) Estabelecimento de um relacionamento terapêutico sólido. Objetivos: Favorecer a adesão ao tratamento; Instalar esperança (contar os casos bem sucedidos, as pesquisas com bons resultados); Especial atenção para clientes mal-sucedidos em outras terapias – buscam auxílio pela última vez; Compensar a aversividade das técnicas. 135 E) Estabelecer objetivos do tratamento comportamental Construir vínculo terapêutico; Identificar as prováveis variáveis ambientais das quais o comportamento obsessivo- compulsivo é função Realizar Análise funcional do comportamento; Ensinar ao paciente e familiares sobre as características do TOC e sobre seu tratamento, apontando soluções, incentivando participação familiar e prevenindo desistências.136 V- TÉCNICAS A) Exposição a estímulos ansiogênicos e prevenção de respostas ritualísticas: É a técnica comportamental mais utilizada e que tem apresentado os melhores resultados; Pode ser ao vivo ou imaginária; gradual ou implosiva; Enriquecida pela visão analítico- comportamental. 137 Passos: a) Listar as situações que geram maior ansiedade e que levam ao aparecimento de obsessões e compulsões. Por ex: Uma paciente com medo de se sujar ou contaminar sua casa, evita entrar no seu quarto ou trocar de roupa sem antes tomar um banho demorado para desinfetar-se (3 horas de banho com 8 sabonetes). A mesma paciente não come depois do banho para não sujar-se ou contaminar-se novamente. 138 b) Listar o conteúdo das obsessões e compulsões. Ex : Mania de limpar tudo, pensamento de que pode haver contaminação. c) Hierarquizar as situações dos mais difíceis as mais fáceis para fazer enfrentamento ou exposição. Ex: Cliente que não come fora da cama e que não anda no seu próprio carro. Como começar? d) Persuadir o cliente da importância da exposição e da prevenção de respostas. Lembre-se : É um procedimento aversivo! 139 e) Levar o paciente a: Tolerar sensações e emoções provenientes do enfrentamento. Ele será levado a “ viver o que evita sentir”, “ fazer o que não faz” , “pensar no que não gosta”; f) Levar o paciente a correr os riscos potenciais que evita ao emitir esquivas e rituais, com ajuda do terapeuta e familiares. Questionar os riscos. 140 g) Levar o paciente a concluir, vivenciando, que o sofrimento (ansiedade ou obsessão) desaparecem lentamente, sem a emissão de rituais. Ex: Uma cliente que não dorme na sua própria cama, foi levada a fazê-lo com a ajuda da mãe, tendo ficado 3 horas seguidas com níveis altos de ansiedade e com pensamentos obsessivos de contaminação. Depois dormiu (na cama). 141 B) análise funcional: a) Identificar as função do TOC na vida do cliente e modelar comportamentos adequados que possam atingir os mesmos objetivos que as obsessões ou compulsões; b) Desenvolver repertórios comportamentais nunca antes adquiridos ou desaprendidos em função do TOC (estabelecer comportamentos concorrentes ao TOC); c) Modelar a visão analítico-comportamental no repertório do cliente; d) Analisar a relação terapêutica segundo a visão da psicoterapia analítico-funcional. 142 OBSERVAÇÕES: a) Em casos em que há apenas compulsão, sem identificação do pensamento obsessivo, a técnica permanece a mesma: impedir ou bloquear a compulsão e observar as situações onde ela ocorre. b) No caso de obsessões e compulsões “mentais”, forçar a manutenção do pensamento por meio de relatos verbais, história, gravações, até que a ansiedade desapareça. Ex: Cliente que sofre de modo patológico a perda de um relacionamento amoroso, tem que lembrar obsessivamente de fases boas do relacionamento, da seqüência delas no momento em que aconteceram, várias vezes. Cliente acredita que se entender e decorar tudo, vai parar de pensar no rapaz. 143 VI – OUTRAS TÉCNICAS EFICAZES: Modelagem (de comportamento de aproximação ou enfrentamento); Modelação (dos modelos de enfrentamento); Treinamento de mediadores e orientação familiar; Inundação associada a modelação – Terapeuta faz, depois leva o cliente a fazer; Indicar leituras, sites cientificamente atualizados e conversas com pessoas que se beneficiaram do tratamento; Técnicas de resolução de problemas, se necessário. 144 VII-OBSERVAÇÕES FINAIS: As técnicas comportamentais (TC) são as mais eficazes (exposição e prevenção de respostas); É essencial a Análise Funcional do caso; O modelo de fuga-esquiva é insuficiente, sendo necessário a leitura da funcionalidade do TOC na vida do cliente; 145 Cabe ao analista do comportamento investigar as possíveis variáveis que estão mantendo o comportamento-problema e atuar na modificação de contingências, buscando a diminuição do sofrimento do cliente, tratando-se de quaisquer comportamentos, inclusive os que tipicamente, caracterizam o TOC; Para a análise do comportamento, os comportamentos exibidos por uma pessoa, que levariam a afirmar que ela “possui um TOC”, foram selecionadas durante sua história de vida por processos idênticos aos que selecionaram os comportamentos ditos “normais”, de outras pessoas. 146 O QUE É TOC O QUE NÃO É TOC Adultos Crianças e adolescentes Adultos Crianças e adolescentes Um homem que lava suas mãos 100 vezes por dia, até elas ficarem vermelhas e em carne viva. Um garoto de 14 anos que se atrasa todo dia para ir à escola pois não consegue sair do chuveiro até que tenha se ensaboado e enxaguado exatamente 41 vezes. LIMPANDO LAVANDO Uma mulher que infalivelmente lava suas mãos antes de cada refeição. Uma garota de 16 anos que gasta 20 minutos lavando e cuidando de seus cabelos todos os dias antes de ir para a escola. Uma mulher que fecha e torna a fechar sua porta antes de ir para o trabalho todo dia por meia hora. Uma criança que checa inúmeras vezes se o interruptor da luz está desligado, mesmo parecendo ser óbvio que a luz está apagada. CHECANDO QUESTIONANDO VERIFICANDO Uma mulher que verifica e torna a verificar se a porta de casa e as janelas estão fechadas todas as noites antes de ir para a cama. Uma criança que verifica e torna a verificar se as luzes estão apagadas quando ela sai do quarto, exatamente como seus pais lhe ensinaram a fazer 147 O QUE É TOC O QUE NÃO É TOC Adultos Crianças e adolescentes Adultos Crianças e adolescentes Um homem que guarda por 19 anos jornais "por acaso" sem nenhum sistema de arquivamento ou busca. Uma criança que guarda fósforos usados para se proteger contra um eventual incêndio em sua casa. COLECIONANDO ACUMULANDO Uma mulher que dedica todo seu tempo livre e dinheiro para montar sua coleção de arte. Uma criança cuja parede do quarto está coberta com flâmulas de todos os seus times de esportes favoritos. Um estudante do colegial que necessita bater de leve na moldura da porta toda a aula, 14 vezes antes de entrar. Uma garota de 7 anos que não consegue parar de saltar sobre a guia da calçada até que ela tenha feito isso 99 vezes, pois ela teme que algo horrível possa acontecer com sua mãe se ela não o fizer. CONTANDO REPETINDO Um músico que repete uma passagem difícil várias e várias vezes até obter a perfeição. Uma garota de 5 anos que se diverte com seus amigos enquanto salta sobre pedras na calçada cantando a musica " pulando na pedra, terei minha mãe comigo" 148 O QUE É TOC O QUE NÃO É TOC Adultos Crianças e adolescentes Adultos Crianças e adolescentes Uma mulher que gasta horas colocando em ordem alfabéticatodos os itens do armário da cozinha, e necessita colocar todas as suas roupas organizadas por cor. Um garoto de 5ª série que não consegue deixar o vestiário da escola até que seu tênis esteja com o laço amarrado simetricamente. ARRANJANDO ORGANIZANDO Um executivo que não deixa seu escritório até que sua mesa esteja limpa e suas gavetas vazias. Um rapaz de 17 anos que gosta de arrumar as mercadorias na prateleira na loja onde trabalha Tabela retirada do site www.astoc.org.br - Associação de Portadores de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo-Compulsivo 149 Referências Bibliográficas APA (1995). DSM-IV-TR – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Trad. Dayse Batista. 4a ed. Porto Alegre: Artes Médicas. BARLOW, D. H. (1999). Manual clínico dos transtornos psicológicos. (M. R. B. Osório, Trad.) Porto Alegre: Artmed. CATANIA, A. C. (1999). Aprendizagem: Comportamento, linguagem. e cognição. Porto Alegre: Artes Médicas. CONTE, F.C.S, & BRANDÃO, M.Z.S. (2001). Psicoterapia Funcional-Analítica: O Potencial de Análise da Relação Terapêutica e de Personalidade. Em: Range, B. (org.) Psicoterapias Cognitivo-comportamentais: Um diálogo com a psiquiatria (pp. 19-33). Porto Alegre: Artmed Editora. 150 LIVESLEY, W. JOHN. Principles and Strategies for Treating Personality Disorder. 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Sobre Comportamento e Cognição: psicologia comportamental e cognitiva: questionando e ampliando a teoria e as intervenções clínicas e em outros contextos. – Org. Regina Christina Wielenska. 1a ed. Santo André, SP: ARBytes, 2000, v. 6.
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