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Ebook Contos de Fadas

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Prévia do material em texto

C�t� de
��ítica
Fad�
na Psic
ogia
 In�odução
 
 Durante toda a história da humanidade, o homem, mesmo não tendo consciência disso, procurou manter um relacionamento com 
o inconsciente coletivo e seus arquétipos. 
 Entre os povos antigos isso se dava por meio da interpretação dos sonhos e das estórias contadas ao redor de fogueiras. 
 Os contos de fada, assim como os mitos, as lendas e as fabulas, falam a linguagem da alma. São similares aos nossos sonhos e as 
nossas fantasias. 
 Observe qualquer menina quando tem o contato com os contos pela primeira vez. Elas se encantam com as princesas, com as fadas, 
com as rainhas. Elas vivem aquilo em suas brincadeiras, em sua fantasia. 
 Marie Louise Von Franz, uma das maiores expoentes no estudo dos contos de fada, diz que os contos são a expressão mais pura e 
mais simples dos processos psíquicos do inconsciente coletivo, pois eles representam os arquétipos na sua forma mais simples, plena e conci-
sa (Von Franz, 2005). 
 Quando nos tornamos adultos perdemos esse contato, dando primazia à consciência, e parte desse mundo arquetípico vai para o 
inconsciente. 
 Mas retomar a leitura e a compreensão dos contos, pode se tornar um refrigério para a alma. Neles podemos resgatar impulsos, 
sonhos e instintos perdidos.
 Em sua obra A interpretação dos contos de fada, ela distingue os contos dos mitos. 
 “Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais elaborado, atingimos as estruturas básicas da psique humana através 
de uma exposição do material cultural. Mas nos contos de fada existe um material cultural consciente muito menos específico e, conse-
qüentemente, eles espelham mais claramente as estruturas básicas da psique.” 
 Portanto, os contos estão em uma camada mais profunda da psique coletiva. Ainda na mesma obra Von Franz (2005) diz: 
 “Para mim os contos de fada são como o mar, e as sagas e os mitos são como ondas desse mar; um conto surge como um mito, e 
depois afunda novamente para ser um conto de fada. Aqui novamente chegamos à mesma conclusão: os contos de fada espelham a estru-
tura mais simples, mas também a mais básica — o esqueleto — da psique.”
 Mas as diferenças são ainda mais visíveis, pois nos contos o herói ou a heroína não agem em nome, ou sob a ação de algum Deus. 
Aliás, seu mundo não é governado por essas forças, mostrando que os contos estão destituídos do aspecto cultural. Além disso, nos mitos 
o herói geralmente é punido por haver desrespeitado alguma lei divina, já nos contos não há essa espécie de moralidade. O herói é impelido 
à ação por outros motivos, que podem ser até inusitados. 
 Entretanto Eliade (1972) aponta nem sempre é verdade que o conto indica uma "dessacralização" do mundo mítico, mas está mais 
para uma camuflagem dos motivos e dos personagens míticos; mostrando que houve uma "degradação do sagrado". Os deuses podem 
ser discernidos nas imagens dos protetores, adversários e companheiros dos heróis. Mesmo camuflados continuam cumprindo sua função. 
Os contos apesar de terem se tornado entretenimento para crianças atualmente apresentam um conteúdo que se refere a uma realidade 
séria: a iniciação, ou seja, a passagem, através de uma morte e ressurreição simbólicas, da ignorância e da imaturidade infantil para a idade 
espiritual do adulto. Neles encontramos temas como: provas iniciatórias, descida ao inferno e ascensão ao céu, morte e ressurreição, casa-
mento com a princesa ou príncipe. 
 No trabalho psicoterápico, as imagens dos contos servem para ilustrar situações de vida, nas quais as pessoas passam. Muitos se iden-
tificam com determinada situação ou personagem levando a uma compreensão do que deve ser feito no momento. Os contos possuem a 
mesma função dos sonhos. Eles podem confirmar, criticar, compensar e até mesmo curar uma atitude consciente, desde que o indivíduo se 
abra àquele ensinamento. 
 Nessas narrativas podemos observar que o inconsciente quer compartilhar conosco uma experiência original, ou seja, uma experiên-
cia arquetípica. 
 Segundo, Von Franz (2005), eles descrevem apenas um fator psíquico desconhecido chamado Self. Mas como ele é extremamente 
complexo são necessárias milhares de versões para que esse fato se manifeste na consciência e mesmo assim, quando se manifesta ainda 
não se esgota. 
 Como o conteúdo dos contos trata de um material tão afastado da nossa consciência, tão primevo, tão comum a humanidade que 
sua linguagem é muito diferente da qual a consciência está habituada. O que deixa sua interpretação mais difícil. 
 Por isso, o conto de fada, e seus personagens, sempre mostram um pouco de com cada um de nós, mesmo que não queiramos 
reconhecer as bruxas, ogros, madrastas e vilões dentro de nós, eles estão ali, nos mostrando nossas sombras, medos e conflitos internos.
 Essas estórias, portanto, trazem o mundo dos arquétipos para o nosso dia a dia, trazendo sentido à vida! Mostram-nos como viver o 
nosso destino, que passamos por momentos felizes, de conflitos, de perdas, mas que se nos abrirmos ao aprendizado desses momentos 
iremos encontrar o tesouro interno. Aquele que irá enriquecer as nossas vidas e nos encher de significado.
 Cada conto de fadas com sua linguagem simbólica possibilita que a psique se manifeste. Fornecendo às energias instintivas uma 
direção simbólica e um conteúdo cheio de sentido. Sua leitura reaviva conteúdos inconscientes, possibilitando sua integração na consciên-
cia, e assim apontando o caminho para a resolução de conflitos.
 Infelizmente hoje nossa sociedade está mais focada nas notícias do dia e nos problemas do momento, e nos esquecemos da literatura 
do espírito. Aquela que fala direto à alma. Perdemos com isso, algo de nossa infância que é a capacidade de nos encantar, de nos 
surpreender. 
 Se hoje os contos representam um divertimento ou uma evasão, é apenas para a consciência banalizada do homem moderno; pois 
na psique profunda, os enredos iniciatórios conservam sua seriedade e continuam a transmitir sua mensagem e a produzir mutações. 
 Portanto, os contos, assim como os mitos, oferecem um modelo para a vida, um modelo vivificador e encorajador que permanece 
no inconsciente contendo todas as possibilidades positivas da vida. Por essa razão, conhecer os contos nos ajuda compreender as nossas 
razões de viver e isso muda toda a nossa disposição de vida, podendo muitas vezes mudar nossa própria condição psicológica (Von Franz, 
2005). 
 Quando a pessoa se identifica com um conto passa a perceber que seu problema não é único e já foi resolvido de diversas formas ao 
longo da história da humanidade. Isso diminui a pretensão do ego, torna o indivíduo mais humilde e aberto as repostas do inconsciente e 
mesmo que o conto tenha muitos séculos de existência ele terá um efeito estimulante e novo na psique levando o indivíduo a uma com-
preensão e entendimento de seu conflito. Nos capítulos abaixo são analisados alguns contos de fadas clássicos que povoaram e povoam o 
imaginário humano a séculos.
rainha, isso é verdade, mas Branca de Neve possui mais beleza." 
 Cheia de inveja, a Rainha contratou um caçador e ordenou que ele matasse Branca de Neve e lhe trouxesse seu coração como prova, 
na esperança de voltar a ser a mais bela. O caçador ficou inseguro, mas aceitou o trabalho. Pronto para matar a bela princesa, o caçador 
desistiu ao ver que ela era a menina mais bela que já havia encontrado, e rapidamente a mandou fugir e se esconder na floresta; para enga-
nar a rainha, entregou a ela o coração de um jovem veado. A rainha assou o coração e o comeu, acreditando ser de Branca de Neve mas, 
ao consultar o espelho mágico, ele continuou a dizer que Branca de Neve era a mais bela. 
 Br�ca de Neve
 
 O conto Branca de Neve, na versão dos irmãos Grimm, guarda 
algumas diferenças das muitas versões que se popularizaram antes e 
após a compilação feita por eles em seu livro.No início da história contada pelos Grimm, uma rainha costurava, 
no inverno, ao lado de uma janela negra como o ébano. Ao lançar o 
olhar para a neve, picou o dedo com a agulha, e três gotas de sangue 
pingaram sobre a neve, o que a deixou admirada e a fez pensar que, se 
tivesse uma filha, gostaria que fosse "alva como a neve, rubra como o 
sangue e com os cabelos negros como o ébano da janela". Não tardou, 
e a rainha teve uma filha de descrições idênticas ao seu pedido: branca 
como a neve, com os cabelos negros como o ébano e os lábios vermel-
hos como o sangue. Mas, tão logo sua filha veio ao mundo, a rainha 
morreu. 
 O pai deu à filha o nome de Branca de Neve, e logo tornou a casar 
com uma mulher arrogante, esnobe e vaidosa, possuidora de um espel-
ho mágico que só falava a verdade. A rainha consultava seu espelho, 
perguntando quem era a mais bela do mundo, ao que ele sempre 
respondia: "Senhora Rainha, vós sois a mais bela". Quando Branca de 
Neve fez dezessete anos, e um dia a madrasta perguntou: "Quem é a 
mais bela de todas?", e o espelho não tardou a dizer: "Você é bela, 
 Branca de Neve fugiu pela floresta, até encontrar uma casinha e, ao entrar, descobriu que lá moravam sete anões. Como era muito 
gentil, limpou toda a casa e, cansada pelo esforço que fez, adormeceu na cama dos anões. À noite, ao chegarem, os anões levaram um 
susto, mas logo se acalmaram ao perceber que era apenas uma bela moça, e que a mesma tinha arrumado toda a casa. Como agradeci-
mento, eles cederam sua casa como esconderijo para Branca de Neve, com a condição de ela continuar deixando-a tão limpa e agradável. 
 A rainha não tardou a descobrir o esconderijo de Branca de Neve e resolveu matála; disfarçada em mascate, foi até a casa dos anõez-
inhos. Chegando lá, ofereceu um laço de fita a Branca de Neve, que aceitou. A rainha ofereceu ajuda para amarrar o laço em volta da cintu-
ra de Branca de Neve e, ao fazê-lo, apertou-o com tanta força que Branca de Neve desmaiou. Quando os anões chegaram e viram Branca 
de Neve sufocada pelo laço de fita, rapidamente o cortaram e ela voltou a respirar. 
 A rainha novamente descobriu que Branca de Neve não estava morta, e voltou a se disfarçar, mas desta vez como uma velha senhora 
que vendia escovas de cabelo, na verdade envenenadas. Ao dar a primeira escovada, Branca de Neve caiu no chão, desmaiada. Quando os 
anões chegaram e a viram, rapidamente retiraram a escova de seus cabelos e ela acordou. 
 A rainha, já enlouquecida de fúria, decidiu usar outro método: uma maçã enfeitiçada. Dessa vez, disfarçou-se de fazendeira e ofere-
ceu uma maçã; Branca de Neve ficou em dúvida, mas a Rainha cortou a maçã ao meio e comeu a parte que não estava enfeitiçada, e Branca 
de Neve aceitou e comeu o outro pedaço, enfeitiçado. A maçã engasgou na garganta de Branca de Neve, que ficou sem ar. Quando os 
anões chegaram e viram Branca de Neve desacordada, tentaram ajudá-la, mas não sabiam o que causara tudo aquilo, e pensaram que ela 
estava morta. Por achá-la tão linda, os anões não tiveram coragem de enterrá-la, e a puseram em um caixão de vidro.
 Certo dia, um príncipe que andava pelas redondezas avistou o caixão de vidro, e dentro a bela donzela. Ficou tão apaixonado, que 
perguntou aos anões se podia levá-la para seu castelo, ao que eles aceitaram e os servos do príncipe a colocaram na carruagem. No camin-
ho, a carruagem tropeçou, e o pedaço de maçã que estava na garganta de Branca de Neve saiu, e ela pôde novamente respirar, abriu os 
olhos e levantou a tampa do caixão.
 O príncipe a pediu em casamento, e convidou para a festa a rainha má, que compareceu, morrendo de inveja. Como castigo, ao sair 
do palácio, acabou tropeçando num par de botas de ferro que estavam aquecidas. As botas fixaram-se na rainha e a obrigaram a dançar; 
ela dançou e dançou até, finalmente, cair morta. 
 Branca de Neve (em alemão Schneewittchen) é um conto de fadas originário da tradição oral alemã, que foi compilado pelos Irmãos 
Grimm e publicado entre os anos de 1812 e 1822, num livro com vários outras fábulas, intitulado "Kinder-und Hausmaërchen" ("Contos 
de Fada para Crianças e Adultos"). Branca de Neve é um dos contos de fadas mais populares. 
 Nesse texto pretendo de dar um enfoque diferente. A análise do conto será focada na figura da madrasta a Rainha Má. A estória de 
Branca de Neve começa nos apresentando uma princesa que ao nascer perdeu sua mãe, e seu pai então se casa com uma nova mulher. Ao 
crescer a beleza da menina desperta em na Rainha inveja e motiva sua crueldade, a ponto de ela tentar cometer assassinato. Os contos de 
fadas costumam apresentar de forma simbólica sentimentos comuns a toda humanidade. E em Branca de Neve temos um sentimento 
básico em evidência: A inveja. 
 A Rainha, madrasta de Branca de Neve, inveja a beleza da menina, pois não se conforma com o envelhecimento e com a perda do 
posto de mais bela. Além disso, podemos ver Branca de Neve, o desenvolvimento da psique feminina. Como ela pode evoluir e se desen-
volver. 
 O ego das mulheres até certa idade se estrutura em torno da beleza e sedução. Não entrarei no mérito da questão, nem dizer o que 
é certo ou errado, mas nosso inconsciente coletivo está pautado nessa estrutura – basta observar que a indústria de cosméticos, moda e 
tudo aquilo que se liga à beleza é voltada em sua maioria esmagadora para a mulher. 
 Com o passar dos anos e a conseqüente degradação do corpo, a mulher que se encontra no processo de individuação já deveria estar 
em contato com outros aspectos da psique, como o animus e o Self. E nesse processo de amadurecimento o centro de sua psique deveria 
deixar de ser ego e passar a ser o Self e essa identificação com a beleza diminuída. Mas o que vemos atualmente em nossa sociedade é uma 
grande quantidade de mulheres, principalmente as ocidentais, onde a perda da juventude e da beleza é algo aterrorizante. 
 E esse é o drama da Rainha. Ela não possui um relacionamento com o inconsciente, estando completamente identificada com sua 
persona. Seu animus é quase inexistente, pois o marido é omisso na relação dela com a Branca de Neve, não exercendo a sua função de 
discernimento e reflexão. 
 Quantas mulheres atualmente em nossa sociedade, onde a imagem é privilegiada, não “assassinam” a sua própria criação em função 
de uma atitude unilateral. Elas cometem uma atrocidade com elas mesmas, fazendo da beleza e da juventude seus únicos atributos. 
 Mas a Rainha tem um caminho para o seu desenvolvimento, projetado em Branca de Neve. Através da princesa e sua jornada, a 
Rainha pode se desenvolver e sair da unilateralidade. 
 A Rainha então manda matar Branca de Neve, mas o caçador se compadece, salvando-a do destino trágico. 
 A figura do caçador que entrega a Rainha o coração de um veado, simboliza a figura do animus que começa a aparecer e a apresen-
tar vestígios de reflexão e de proteção, mesmo sendo considerado apenas um simples servo. 
 Após esse episódio, Branca de Neve vai viver em uma casa com os sete anões. Onde passa a cuidar da casa para eles, lavando, limpan-
do e cozinhando. 
 Nesse estágio, a princesa encontra o animus em sua forma múltipla. Ainda indiferenciado, e um tanto primitivo, mas que já apresenta 
um lado prestativo. E o mais importante Branca de Neve se relaciona com ele, vive com ele e negocia com ele: Ela cuida dos anões em troca 
de proteção. 
 A Rainha descobrindo o paradeiro de Branca de Neve tenta por três vezes matá-la. Na primeira vez ela amarra de uma forma violenta, 
uma fita ao redor da cintura da menina fazendo-a perder o fôlego, da segunda vez da um pente envenenado a menina e na terceira vez 
ela da à menina a tão famosa maçã envenenada. 
 Nota-se que as duas primeiras tentativas de matar Branca de Neve estão associadas à vaidade e a terceira à sedução, pois a maçã na 
mitologia grega está associada a da deusa do amor, da beleza e da sedução,Afrodite. E ela sucumbe a todas as tentativas, sendo auxiliada 
nas duas primeiras pelos anões e adormecendo na terceira. 
 Ou seja, Branca de Neve e a Rainha devem amadurecer em relação à beleza e sedução, o que equivale a perder a ingenuidade e 
desenvolver a capacidade critica provinda de seu animus. O desfecho é conhecido: um príncipe que andava pelas redondezas avistou o 
caixão de vidro feito pelos anões, ficando apaixonado. Ele leva o caixão para seu castelo. No caminho, a carruagem tropeça, e o pedaço de 
maçã que estava na garganta de Branca de Neve sai, e ela volta a respirar. O príncipe a pede em casamento, e convida para a festa a Rainha, 
que comparece, morrendo de inveja. Como castigo, ao sair do palácio, acabou tropeçando em um par de botas de ferro que estavam aque-
cidas. As botas fixaram-se na rainha e a obrigaram a dançar; ela dançou e dançou até, finalmente, cair morta. 
 Infelizmente a Rainha mantém sua atitude unilateral e não é transformada pela jornada da princesa, mantendo a inveja em relação 
a ela, que agora alcançou um desenvolvimento de sua personalidade e mantém um relacionamento com seu inconsciente, simbolizado 
pelo seu animus - príncipe. E a Rainha então encontra o destino de uma atitude radicalmente unilateral que é a morte. 
encontrou a torre, mas nenhuma porta. Foi retornando frequentemente, 
escutando a menina cantar, e um dia viu uma visita da bruxa, assim aprendendo como subir a torre. Quando a bruxa foi embora, pediu que 
Rapunzel soltasse suas tranças e, ao subir, pediu-a em casamento. Rapunzel concordou. Juntos fizeram um plano: o príncipe viria cada noite 
(assim evitando a bruxa que a visitava pelo dia), e trar-lhe-ia seda, que Rapunzel teceria gradualmente em uma escada. Antes que o plano 
desse certo, porém, Rapunzel tolamente delatou o príncipe. Rapunzel pergunta inocentemente porque seu vestido estava começando a 
ficar apertado em torno de sua barriga, revelando tudo para a bruxa (que soube que Rapunzel estava grávida, o que significava que um 
homem se encontrara com ela). 
 Ra�nzel
 
 Um casal sem filhos mendigos que queria uma criança, vivia ao 
lado de um buraco murado que pertencia a uma velha. A esposa, no fim 
da gravidez, viu uma árvore com suculentos frutos no buraco, e o dese-
jou obsessivamente, ao ponto da morte. Por duas noites, o marido saiu 
e invadiu o jardim da velha para recolher para a esposa, mas na terceira 
noite, enquanto escalava a parede para retornar para o buraco, a velha 
apareceu e acusou-o de furto. 
 O homem implorou por misericórdia, e a mulher velha concordou 
em absolvê-lo desde que a criança lhe fosse entregue ao nascer. Deses-
perado, o homem concordou; uma menina nasceu, e foi entregue à 
bruxa, que nomeou-a Rapunzel. O nome da planta que o marido 
roubou. 
 Quando Rapunzel alcançou doze anos, a bruxa trancou-a numa 
torre alta, sem portas ou escadas, com apenas um quarto no topo. 
Quando a bruxa queria subir a torre, mandava que Rapunzel estendesse 
suas tranças, e ela colocava seu cabelo num gancho de modo que a 
bruxa pudesse subir por ele. 
 Um dia, um príncipe que cavalgava no bosque próximo ouviu 
Rapunzel cantando na torre. Extasiado pela voz, foi procurar a menina, e 
 Em edições subseqüentes, Rapunzel perguntou distraidamente por que era tão mais fácil levantar o príncipe do que a bruxa. 
 Na raiva, a bruxa cortou cabelo de Rapunzel e lançou um feitiço, para que ela vivesse em um deserto. Quando o príncipe chegou 
naquela noite, a bruxa deixou as tranças caírem para transportá-lo para cima. O príncipe percebeu horrorizado que Rapunzel não estava 
mais ali; a bruxa disse que nunca mais a veria e empurrou-o até os espinhos de baixo, que o cegaram. Lá Durante meses ele vagueou através 
das terras infrutíferas do reino, e Rapunzel mais tarde deu à luz duas crianças gémeas. Um dia, ela estava bebendo água e começou a 
cantar com sua bela voz de sempre. O príncipe ouviua e encontrou-se com ela. As lágrimas de Rapunzel curaram a cegueira, e a família foi 
viver feliz para sempre no reino do príncipe.
 Rapunzel é uma princesa de um conto de fadas Alemão, dos Irmãos Grimm, publicado pela primeira vez em 1812 e compilado no 
livro Contos para a infância e para o lar. A história dos Irmãos Grimm é uma adaptação do conto de fadas Persinette escrito por Char-
lotte-Rose de Caumont de La Force e foi publicado originalmente em 1698. 
 Conta a estória de uma menina que ficou presa em uma torre sem portas e janelas por uma bruxa. Seu cabelo, nunca cortado cresce 
como uma imensa trança a qual a bruxa sobe todos os dias para ver a menina. Um dia, um príncipe passando pelo local, ouve Rapunzel can-
tando, e se apaixona, decidindo fugir com ela. Ao enfrentar a vilã, é castigado com uma cegueira e Rapunzel tem suas tranças cortadas e 
é expulsa para o deserto. Mas, no final da história, sua visão é recuperada pelas lágrimas da amada, e o casal alcança o esperado final feliz.
 A estória do Rapunzel nos mostra como uma mãe possessiva pode enclausurar a filha e transformando-a em seu bem mais precioso. 
O conto começa com um casal, cuja mãe grávida tem um desejo enorme de comer uma hortaliça que crescia no jardim de uma bruxa 
vizinha. O pai rouba duas vezes para a mulher insatisfeita, mas a bruxa o flagra e concorda em absolvê-lo desde que a criança lhe fosse ent-
regue ao nascer. 
 Uma das características mais marcantes no feminino é a insatisfação. E quando a mulher não desenvolve característica do seu animus, 
como a objetividade, ela se torna como a mãe de Rapunzel, que não avalia o perigo de roubar coisas e esta sempre insatisfeita, sua fome 
não tem fim. A mãe e a bruxa são na verdade a mesma pessoa e o pai de Rapunzel é um homem fraco que não consegue dizer não a 
mulher. Ou seja, o animus da mãe da menina não é desenvolvido. A mãe na verdade despreza o masculino e quer o bebê só para si, o 
homem é apenas um instrumento para a satisfação de seus desejos e não um companheiro. 
 Quantas mulheres modernas não fazem isso? Quantas não depositam em seus filhos toda a sua realização e felicidade? Aquele bebê 
simplesmente não pode crescer e abandoná-la! Além disso, muitas mulheres, infelizmente, afastam o marido do cuidado do filho, não per-
mitindo a sua participação e julgando-o incapaz. Mas a bruxa do conto não é uma bruxa comum. Ela não tem inveja da beleza da menina, 
ela não tem ressentimento nem quer se vingar, pelo contrário, ela é uma mãe extremamente devotada. Boa até demais! E ser uma mãe boa 
demais aprisiona o filho em uma simbiose. 
 Rapunzel foi presa em uma torre para que ninguém pudesse vê-la, pois aos 12 anos já estava se tornando atraente ao sexo oposto. 
Ainda hoje, muitas mães costumam “aprisionar” as filhas com medo da sexualidade delas. O interessante é que ocorre justamente o con-
trário.No conto original, Rapunzel ficava grávida do príncipe. O conto foi mudado devido a moral da época.
 
 Mas isso é extremamente comum, “prender demais” pode ter o mesmo efeito que “soltar demais”. Mas para se tornar independen-
te, a menina transgride. 
 E toda transgressão recebe uma punição. Nesse caso foi a expulsão do paraíso materno, com a simbologia do corte de cabelo, que 
pode ser analisado como o corte do cordão umbilical psicológico que prendia mãe e filha. E Rapunzel vai viver sozinha, no deserto, para 
amadurecer. No conto original, ela da luz a gêmeos, ou seja, ela passa de filha a mãe. 
 E só após passar um bom tempo na solidão para que possa desenvolver suas próprias capacidades internas de sobrevivência é que 
ela pode então se unir ao seu masculino. Pois ela está amadurecida, independente, segura, para receber esse masculino diferente da mãe. 
Para recebê-lo como seu companheiro de jornada no processo de individuação. 
 Um dia, o mercador perdeu toda a sua fortuna, com exceção deuma pequena casa distante da cidade. Bela aceitou a situação com dignidade, mas as duas filhas mais velhas não se conformavam em 
perder a fortuna e os admiradores, e descontavam suas frustrações sobre Bela, que humildemente não reclamava e ajudava seu pai como 
podia. 
 Um dia, o mercador recebeu notícias de bons negócios na cidade, e resolveu partir. As filhas mais velhas, esperançosas em enriquecer 
novamente, encomendaramlhe vestidos e futilidades, mas Bela, preocupada com o pai, pediu apenas que ele lhe trouxesse uma rosa. 
 A Bela e a F�a
 
 A Bela e a Fera é um tradicional conto de fadas francês. Original-
mente escrito por Gabrielle-Suzanne Barbot, A Dama de Villeneuve, em 
La Jeune Ameriquaine et les Contes Marins em 1740, tornou-se mais 
conhecido em sua versão de 1756, por JeanneMarie LePrince de Beau-
mont, que resumiu e modificou a obra de Villeneuve. Adaptada, filmada 
e encenada inúmeras vezes, o conto apresenta diversas versões que 
diferem do original e se adaptam a diferentes culturas e momentos soci-
ais. 
 A versão original de Villeneuve inclui alguns elementos omitidos 
por Beaumont. Segundo essa versão, a Fera foi um príncipe que ainda 
jovem perdeu o pai, e sua mãe partiu para uma guerra em defesa do 
reino. A rainha deixou-o aos cuidados de uma fada malvada, que tentou 
seduzi-lo enquanto ele crescia; quando ele recusou, ela o transformou 
em fera.
 De forma resumida, o conto "A Bela e a Fera" relata a história da 
filha mais nova de um rico mercador, que tinha três filhas e três filhos, 
porém, enquanto as filhas mais velhas gostavam de ostentar luxo, de 
festas e lindos vestidos, a mais nova, que todos chamavam Bela, era 
humilde, gentil, e generosa, gostava de leitura e tratava bem as pessoas. 
 Quando o mercador voltava para casa, foi surpreendido por uma tempestade, e se abrigou em um castelo que avistou no caminho. 
O castelo era mágico, e o mercador pôde se alimentar e dormir confortavelmente, pois tudo o que precisava lhe era servido como por 
encanto. 
 Ao partir, pela manhã, avistou um jardim de rosas e, lembrando do pedido de Bela, colheu uma delas para levar consigo. Foi surpreen-
dido, porém, pelo dono, uma Fera pavorosa, que lhe impôs uma condição para viver: deveria trazer uma de suas filhas para se oferecer em 
seu lugar. 
 Ao chegar em casa, Bela, mediante a situação se ofereceu para a Fera, imaginando que ela a devoraria. Mas ao invés de devorar a 
moça, a Fera foi se mostrando aos poucos como um ser sensível e amável, fazendo todas as suas vontades e tratando-a como uma princesa. 
Apesar de achá-lo feio e pouco inteligente, Bela se apegou ao monstro que, sensibilizado a pedia constantemente em casamento, pedido 
que Bela gentilmente recusava. 
 Um dia, Bela pediu que Fera a deixasse visitar sua família, pedido que a Fera, muito a contragosto, concedeu, com a promessa de 
Bela retornar em uma semana. O monstro combinou com Bela que, para voltar, bastaria colocar seu anel sobre a mesa, e magicamente 
retornaria. Bela visitou alegremente sua família, mas as irmãs, ao vê-la feliz, rica e bem vestida, sentiram inveja, e a envolveram para que sua 
visita fosse se prolongando, na intenção de Fera ficar aborrecida com sua irmã e devorá-la. 
 Bela foi prorrogando sua volta até ter um sonho em que via Fera morrendo. Arrependida, colocou o anel sobre a mesa e voltou imedi-
atamente, mas encontrou Fera morrendo no jardim, pois ela não se alimentara mais, temendo que Bela não retornasse.
 Bela compreendeu que amava a Fera, que não podia mais viver sem ela, e confessou ao monstro sua resolução de aceitar o pedido 
de casamento. Mal pronunciou essas palavras, a Fera se transformou num lindo príncipe, pois seu amor colocara fim ao encanto que o con-
denará a viver sob a forma de uma fera até que uma donzela aceitasse se casar com ele. O príncipe casou com Bela e foram felizes para 
sempre.
 O conto A Bela e a Fera traz muitos paralelos com o mito grego Eros e Psique. No mito Psique era uma bela moça que competia em 
beleza com Afrodite e que também possuía duas irmãs invejosas. Por rivalizar com a Deusa da beleza, Afrodite lhe lança uma maldição, a 
de não se casar. As irmãs mais velhas de Psique já haviam se casado, e a menina a despeito de sua beleza e da quantidade de adoradores 
não havia sido pedida em casamento. Seu pai preocupado procura um oráculo que diz que ela desposará um monstro. Ele então a leva ao 
alto de um rochedo e a deixa à própria sorte. Ela é conduzida pelo vento Zéfiro a um palácio magnífico, onde todos os seus pedidos são 
atendidos. Mas na verdade, o palácio pertence a Eros, filho de Afrodite, que sem querer se apaixona pela moça.
 “Na mais profunda experiência do feminino os temas das núpcias de morte, da virgem sacrificada a um monstro, feiticeiro, dragão 
ou espírito do mal, recontados em inúmeros mitos e lendas, são igualmente um hieròs gámos. O caráter de rapto, que o evento assume, 
expressa, relativamente ao feminino, a projeção — típica da fase matriarcal — do elemento hostil sobre o homem.” 
 O homem no conto é indiferenciado, ou é um ladrão como o pai e furta a feminilidade a matando, ou é uma fera assustadora. E com 
o pedido de casamento ela terá de enfrentar essa projeção de hostilidade em relação ao masculino, por isso Bela reluta em aceitar. 
 Mesmo a contragosto a Fera permite que Bela visite sua família, a qual ela sente saudades. Esse retorno ao lar de Bela pode represen-
tar uma regressão do ego ao inconsciente original, ao feminino, a mãe. Nessa regressão, Bela confronta projeções reprimidas matriarcais e 
sombrias suas inconscientes, representadas pelas irmãs. 
 As irmãs de Bela representam atitudes matriarcais sombrias onde o homem é visto como hostil e violador, e a mulher como espo-
sa-vítima do monstro. A despeito da inveja que elas sentem de Bela, elas trazem um desenvolvimento para a personalidade dela e um amad-
urecimento muito grande. 
 Mesmo sendo bem tratada Bela vive então em um estado de servidão inconsciente, e é justamente contra isso que a consciência fem-
inina deve protestar. Ela entra em conflito contra a fera, fica em dúvida se volta ou não, pois a hostilidade e protesto das irmãs correspon-
dem exatamente ao que se passa no interior da própria Bela. 
 Contudo é através dessa sombra feminina que Bela alcança autonomia em seu relacionamento, quebrando a simbiose com seu 
animus. E ao quebrar a sua simbiose e identificação a heroína sente falta do homem, e sincronicamente a Fera morre. O aspecto animal, 
hostil e assustador se vão e ela pode ver realmente quem é seu marido, e seu lado humano pode se manifestar. 
 Esse conto então, nos fala que a mulher, em termos coletivos, deve passar pela experiência de ficar presa ao seu animus fera (ou 
demônio), pois somente essa experiência o transforma em positivo. 
 A partir dessa vivência, o animus animalesco, se liberta dos braços regressivos da mãe e o feitiço que condenou o príncipe a viver 
como Fera é quebrado. E com isso então Bela pode realizara coniunctio, ou seja, o casamento sagrado com seu lado masculino, uma vez 
que sua feminilidade foi fortalecida. 
 A inveja e a rivalidade são sentimentos que toda criança costuma 
passar, e que não necessariamente são vividos entre irmãos de sangue. Eles podem se manifestar entre primos ou até mesmo entre amigos. 
Além disso, de certa forma, podemos afirmar que toda criança, em maior ou menor grau, em determinado momento, se sente preterida 
pelos pais. Ela passa a sentir que sua mãe é uma madrasta, pois há aquele momento que a criança deixa de ser um bebê e passa a ter algu-
mas obrigações. Ela não tem mais o colo materno quando chora e a mãe parece não ter mais paciência com ela.
 C�d�ela
 
 Cinderela, um dos contos de fadas mais popular da humanidade, 
ganhou recentemente uma nova versão para o cinema pela Disney. Com 
sua estréia em 2015, o interesse por esse contoganha cada vez mais 
força e apelo entre adultos e crianças. 
 A versão mais famosa de Cinderela, ou Gata Borralheira, é a do 
escritor francês Charles Perrault, de 1697, baseada em um conto italiano 
popular chamado La gatta cenerentola ("A gata borralheira"), com a 
famosa fada madrinha. Entretanto, a versão mais antiga é originária da 
China, por volta de 860 a.C. A versão dos irmãos Grimm, também é bas-
tante conhecida, entretanto nela não há a figura da fada-madrinha. E é 
sobre essa versão, que baseio a análise, uma vez que é mais rica em sim-
bologia. 
 Cinderela é uma princesa que faz muito sucesso entre as meninas, 
por tratar de temas muito comuns na adolescência, e também devido à 
superação do sofrimento vivido pela heroína, o que move um apelo 
emocional imenso a milhares de mulheres ao redor do mundo. 
 O tema central do conto é a rivalidade fraternal. A rivalidade entre 
irmãos é um tema bastante conhecido na Mitologia. Podemos citar 
como exemplo o mito bíblico de Caim e Abel.
 E é justamente esse lado infantil que faz birra e que ainda quer colo, mas que ainda habita em nós, que precisa ser superado para 
ocorrer o amadurecimento da personalidade. 
 Todavia observando o conto Cinderela veremos que a madrasta e as irmãs terríveis foram imprescindíveis para o desenvolvimento e 
crescimento da heroína. Sem elas, ela ainda estaria vivendo o anseio natural de ser reconhecida como especial, mas sem ser transportada a 
uma nova realidade superior e transcendente, como ocorre ao final do conto. O conto se inicia com a morte da mãe da menina, sendo sub-
stituída pela madrasta. 
 O pai de Cinderela só aparece no começo do conto e não é nem bom nem mau, é apenas um homem rico e comum. A trama, então, 
se desenvolve ao redor de personagens femininos, mostrando que a heroína deve trabalhar sua identidade enquanto mulher antes de se 
unir ao príncipe. 
 Nos contos de fadas, a morte da mãe simboliza aquele momento crítico na vida das crianças, chamado de perda do paraíso, como 
foi explicado anteriormente. 
 A boa mãe de Cinderela morre e sobre seu tumulo cresce uma árvore onde pousa uma pomba branca que aconselha a menina. Isso 
significa que alguma coisa sobrenatural sobrevive à morte da figura materna positiva e a substitui. Sendo uma espécie de fetiche a qual 
encarna o espírito da mãe. 
 A identificação com a mãe boa é um sério risco a individuação da mulher. Ela precisa ter um comportamento feminino autentico e 
não um modelo feminino típico. Dessa forma ela poderá mostrar a sua individualidade e a sua diferença no mundo. 
 A morte da mãe significa, pois, simbolicamente, que a menina toma consciência de que não pode mais se identificar com ela, ainda 
que a relação positiva essencial e afetiva permaneça. A morte da mãe é, portanto, o inicio do processo de individuação. 
 É muito mais difícil para a mulher esse processo de não seguir de um modelo feminino típico padrão. Desde pequena as meninas 
tendem, muito mais que os meninos, a seguir umas as outras em termos de roupas, penteados, música, comportamento, e isso as leva a 
se transformarem em um rebanho de ovelhas. Por essa razão chovem revistas femininas “ditando” moda e comportamento. 
 As que não se seguem a moda e os padrões são postas de lado e ai começa o que hoje se denomina bullying. Entretanto, quem sofre 
o bullying e é posto de lado tem muito mais chances de entrar na individuação. 
 Quanto mais inconsciente de sua própria personalidade é a mulher, mais ela tenderá a falar mal das outras e de pregar peças maldo-
sas, pois somente assim ela pode marcar diferença. No conto, a mãe e as irmãs simbolizam a mulher que não conseguiu ser ela mesma 
enquanto indivíduo. Não conhecem sua própria personalidade e não desenvolveram nenhum trabalho criativo e pessoal.
 Cinderela passa então a lavar, passar e cozinhar para a madrasta e as irmãs, e acaba dormindo entre as cinzas. Cinderela está se 
tornando uma personalidade única e por isso incomoda a família, que a vê como uma inimiga. Elas são como um rebanho que percebeu 
que um de seus membros deseja seguir seu próprio caminho. 
 Quando alguém empreende uma análise, é comum que a família inteira se agite e se irrite com esse indivíduo, pois é justamente essa 
pessoa que está tirando a todos do estado de inércia. 
 Um dos trabalhos de Cinderela é fazer a triagem de uma grande quantidade de grãos, simbolizando o esforço imenso que a con-
sciência deve fazer para se separar do desejo de seguir seus ancestrais. 
 As cinzas representam a humilhação e a contrição. A contrição é a forma mais profunda e eficaz de remorso, pois ela cura todos os 
pecados. Aqui o ego entra em contato com sua sombra, seu lado negativo. Ele é reduzido a pó e percebe que deve ceder a poderes e forças 
do inconsciente que são muito maiores que ele. Esse momento traz muita humildade.
 Cinderela também passa a ter ajuda de animais e da árvore onde sua mãe está enterrada para poder ir ao baile. Isso significa que Cin-
derela passa a confiar em aspectos do seu inconsciente ligados aos seus instintos e ao legado deixado pela Boa Mãe em sua psique. Mas o 
fato de se relacionar com figuras da natureza significa que ela ainda não está apta a se relacionar e estabelecer laços, o que é algo que faz 
parte da natureza do feminino.
 Cinderela vai três vezes ao baile, com uma bela carruagem, símbolo da realeza e de algo que a carrega em direção a sua verdadeira 
vida, mostrando que em breve ela se tornará uma rainha. Entretanto na última vez o príncipe, manda que passem piche na escadaria e, 
quando a moça passa, seu sapato do pé esquerdo fica grudado. O príncipe pega o sapatinho, que é pequenino, gracioso e todo de ouro. 
O sapato simboliza liberdade, pois ele que deixa nossos pés confortáveis e aquecidos para podermos nos locomover onde quisermos. Além 
disso, ele representa a vaidade feminina, uma vez que as mulheres são apaixonadas por sapatos. 
 O ouro simboliza aquilo que Carl Jung denominou de Self, ou si-mesmo, que representa o centro de nossa personalidade tanto con-
sciente quanto inconsciente e que ordena tudo. Ele é a imagem do potencial mais pleno do indivíduo, nossa autoridade interna e a posição 
central do destino de cada um de nós. 
 Portanto, o sapato, a leva ao encontro com o outro, a união com o lado masculino, que era ausente anteriormente, mas que agora 
se encontra disponível a auxiliá-la e a tirá-la da realidade conflituosa em que vive. Ele mostra a sedução e a beleza femininas que encantam 
o homem. 
 É por essa razão, que o ato de se apaixonar por alguém é sentido como destino, pois provém desse centro interior, o Self. 
 As irmãs não conseguem calçar os sapatos, chegando ao ponto de se mutilarem seus pés para poder caber no calçado. Isso significa 
que ninguém pode viver a vida de outro sem mutilar uma parte sua. O Self nos manda sempre aquilo que devemos viver a porção que nos 
cabe e que é somente nossa. 
 É comum nas mulheres o mutilar seus corpos para poderem se encaixar em padrões estabelecidos pela sociedade, principalmente 
quando esse padrão alcançou algum êxito visível. Mas vemos que esses padrões mutilam nossa autoestima e nossa personalidade mais pro-
funda. 
 Ao final, Cinderela alcança sua redenção e se casa com o príncipe e as irmãs malvadas são punidas tendo seus olhos furados por 
pombos. 
 As irmãs estão cegas. Cegas para si mesmas e para quem elas realmente são. Vão passar a vida tentando ser outra pessoa e tentando 
se encaixar em padrões. 
 Cinderela se tornar alguém da realeza mostrando que não é mais alguém comum. Ela encontrou a transcendência e sua realidade 
foi transformada, transmutada. Ela agora pode seguir sua personalidade mais profunda sem se importar com os padrões limitantes da socie-
dade e de sua família. 
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EBOOK ESCRITOPOR:
Hellen Reis Mourão
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
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_____________ A Natureza da Psique. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2009. VON FRANZ, M. L. A interpretação dos contos de fada. 5 ed. Paulus. São Paulo: 
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_________________ O feminino nos contos de fada. Vozes. São Paulo: 2010. 
_________________ A sombra e o mal nos contos de fada. 3 ed. Paulus. São Paulo: 2002.
________________ Animus e Anima nos contos de fada. Verus. Campinas: 2010.
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