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cordel atividade

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CANTANDO E CONTANDO HISTÓRIAS ATIVIDADE 4
 CARO MONITOR
Nessa atividade, tratamos da literatura de
cordel, associando o módulo 11 de Língua
Portuguesa com a aula 16 de Educação
Artística. É um assunto riquíssimo e pode
propiciar belos trabalhos produzidos pelos
alunos.
Inicialmente, procuramos mostrar que a
literatura de cordel não morreu e há cada
vez mais pessoas interessadas na sua prática.
Só em São Paulo há mais de 300 artistas
populares que se dedicam a essa literatura.
Então, aproveite a riqueza de textos
produzidos por nossos poetas e estimule seus
alunos a criar seus próprios versos. Explique
que, a princípio, as rimas podem não sair
tão perfeitas como as feitas pelos grandes
cordelistas, mas que a persistência
certamente vai levar ao aprimoramento das
estrofes.
Procure em sebos ou em feiras de produtos
regionais de sua cidade exemplares de
folhetos com temáticas variadas e leve-os
para a classe. Incentive os alunos a folhear
o material, escolher aqueles versos mais
criativos e observar com cuidado as
xilogravuras das capas.
Deixe bem claro para os estudantes as
diferenças entre cordel, repente e embolada.
O primeiro diz respeito aos versos impressos,
enquanto o repente é um improviso oral, feito
ao som de viola, surgido no sertão. A
embolada, por sua vez, é o conjunto de
versos ditos ao som de um pandeiro, típico
do litoral. No final da atividade,
apresentamos dois exemplos de emboladas:
um atual e outro mais antigo. Se houver
tempo disponível, proponha aos alunos que
se dividam em duplas e criem um desafio
semelhante ao do Cego Aderaldo (texto na
íntegra no site: http://jangadabrasil.com.br/
dezembro/cn41200c.htm). Certamente, eles
produzirão belíssimos repentes que, ao lado
dos cordéis desenvolvidos no decorrer da
atividade, podem formar uma rica
exposição.
Quer saber mais sobre literatura de cordel?
Consulte os seguintes links:
Academia Brasileira de Literatura de Cordel:
www.ablc.com.br
http://www.releituras.com/
cegoaderaldo_cantorias.asp
www.secrel.com.br/jpoesia/cordel.html
www.suapesquisa.com/cordel/
www.terrabrasileira.net/folclore/manifesto/
cordel.html
http://intervox.nce.ufrj.br/~edpaes/
cordel2.htm
Vamos lá!
CANTANDO E CONTANDO HISTÓRIAS ATIVIDADE 4
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Em algumas aulas de Língua Portuguesa e
na aula 16 de Educação Artística, você
estudou a literatura de cordel. Você acredita
que essa manifestação cultural ainda existe
em nosso país? Você já leu alguma história
da literatura de cordel? Qual?
Leia os textos a seguir para comparar com o
seu modo de pensar:
A literatura de cordel, que existe desde os
tempos medievais na Península Ibérica,
começou a ser divulgada na região Nordeste
do Brasil nos séculos XVI e XVII, trazida pelos
portugueses. O primeiro folheto de que se
tem notícia foi publicado na Paraíba por
Leandro Gomes de Barros, em 1893.
Acredita-se que outros poetas tenham
publicado antes, como Silvino Pirauá de Lima,
mas a Literatura de Cordel começou mesmo
a se popularizar no início do século XX.
Tendo sido transplantada para o nosso país
pelos colonizadores lusitanos, esta
manifestação popular evoluiu independente
e diversamente, num fecundo processo de
mestiçagem cultural, originando uma
literatura com características marcantes e
próprias – a nossa literatura de folhetos. Este
cordel brasileiro, que se fixou no Nordeste
com o aparecimento das pequenas
tipografias, firmou-se efetivamente –
juntamente com a cantoria –, segundo os
pesquisadores, no final do século XIX,
 CARO ALUNO definindo peculiaridades admiráveis, como
o capricho pela métrica, rima e oração
(desenvolvimento coerente de um assunto),
além da diversidade de temas escritos.
Mesmo com os constantes progressos
tecnológicos do terceiro milênio e o avanço
incansável dos meios de comunicação, o
cordel tradicional continua – em pleno século
XXI – como uma produção editorial firme e
forte, presente de Norte a Sul do nosso país,
e conquistando cada dia mais a admiração
e o respeito do público em geral (inclusive
estudiosos e colecionadores eruditos).
Atualmente, a Internet também propicia um
maior espaço e dinamismo para a divulgação
de trabalhos de grandes e modernos
cordelistas, servindo, assim, como fonte
imediata de ampla difusão da apreciadíssima
arte cordeliana.
http://www.secrel.com.br/jpoesia/rmarcelo14.html
Tragédia, romance, valentia: é o cordel,
unindo arte e poesia
Preste atenção por favor
Na história que eu vou contar
Ela explica o que é o cordel
Grande manifestação popular.
Os versos acima, como os demais
distribuídos por estas páginas, são inspirados
na riqueza poética da literatura de cordel,
uma poderosa manifestação da cultura
popular nordestina. As histórias do cotidiano,
que ficam ainda mais saborosas ao serem
lidas em voz alta, são ainda hoje impressas
de forma artesanal em papel jornal e
ilustradas com xilogravura. O material é
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vendido em feiras, mercados e locais onde
se aglomerem amantes da poesia.
“O cordel foi e continua sendo uma das
formas de comunicação mais autênticas nas
pequenas cidades da região Nordeste”,
explica a escritora Clotilde Tavares,
professora da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte e fundadora da Comissão
Estadual do Folclore, na terra de Câmara
Cascudo.
E eu vou dizer agora
Por que se diz esse nome
De onde veio o cordel
E quem é que o consome.
Assim que um fato relevante acontece – como
a vitória do Brasil em uma Copa do Mundo,
a morte de alguém famoso, uma grande
enchente ou mesmo um caso de adultério –,
os cordelistas produzem um relato extra-
oficial, popular e poético dos fatos. Em
poucas horas, o livreto é impresso, ilustrado
e colocado à venda nas feiras, pendurado
em cordões. Daí vem o nome: literatura de
cordel. O leitor, no entanto, se refere ao
livreto como “folheto”, “foieto”, ou “verso
de feira”.
A origem do cordel remonta à Idade Média
na Europa, quando nas praças os trovadores
divulgavam velhas histórias, especialmente os
romances de cavalaria que contavam as
epopéias do rei Carlos Magno e dos Doze
Pares de França. Narrativas de amor, guerra,
heroísmo, viagens e conquistas marítimas,
além dos fatos mais recentes do dia-a-dia,
eram os temas preferidos do público. Por
volta dos séculos 16 e 17, trazidas para o
Brasil na bagagem dos colonos portugueses,
as histórias eram decoradas por quem sabia
ler, transmitidas de forma oral e enriquecidas
pela memória do povo.
E depois de achar o mote
Que o cordelista procura
Qual o tamanho do verso
E como é sua estrutura?
Os folhetos de cordel possuem um número
variável de páginas: 8, 16, 32 ou 48. Os
dois primeiros tipos são geralmente
destinados a contar algo ocorrido na região,
os chamados versos noticiosos. Os mais
longos são os romances, que narram histórias
de ficção ou da carochinha. Os versos são
escritos em sextilhas – estrofes de seis linhas
com sete sílabas cada uma.
Já que junto com o cordel
sempre tem uma figura,
O que danada é essa imagem
Chamada xilogravura?
Cantoria de Viola (autoria desconhecida). Imagem
cedida pelo Museu de Arte da Universidade Federal do
Ceará (MAUC).
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As capas dos folhetos são tingidas em tons
de verde, amarelo, rosa e azul e trazem uma
xilogravura – resultado da impressão feita
com uma espécie de carimbo talhado numa
matriz de madeira. A técnica já era conhecida
na antigüidade e foi utilizada na Europa no
século 15 para ilustrar cartas de baralho e
imagens sacras. De lá veio para o Brasil em
1808, com a Imprensa Real Portuguesa.
No Nordeste, a artealcançou tal destaque
que muitos xilogravuristas se tornaram tão
famosos quanto os autores dos versos.
Artistas como os pernambucanos J. Borges e
Gilvan Samico são conhecidos em todo o
mundo. O primeiro, apontado como um
gênio da arte popular, já percorreu vinte
países europeus, onde ministrou oficinas e
palestras sobre xilogravura e cultura do cordel
com ajuda de tradutores. Já Samico foi
professor de xilogravura na Universidade
Federal da Paraíba e teve 200 peças de sua
produção reunidas em exposição na
Pinacoteca de São Paulo no último mês de
setembro.
E quais são os grandes temas
E os melhores autores
Dessa arte tão ferina
Que não poupa nem doutores?
Algumas temáticas são recorrentes na
literatura de cordel.
Estas são as mais expressivas:
• Romances: histórias de amor não-
correspondido, virtudes ou sacrifícios. Alguns
títulos: Os Sofrimentos de Eliza ou os Prantos
de uma Esposa e O Mal em Paga de Bem.
• Ciclo mágico e maravilhoso: histórias da
carochinha, que falam de príncipes, fadas,
dragões e reinos encantados. Os mais
famosos são O Pavão Misterioso e A Princesa
Que Não Torna.
• Ciclos do cangaço e religioso: apresentam
o imaginário nordestino ligado a figuras
como Lampião, Antônio Silvino, Padre Cícero,
Antônio Conselheiro e frei Damião.
• Noticiosos: funcionam como jornais.
Mesmo já sabendo o que aconteceu, a
população compra o folheto para ler a visão
do poeta. As Enchentes no Brasil no Ano
Setenta e Quatro e A Criação de Brasília
marcaram época.
Lampião e Maria Bonita (autoria desconhecida). Imagem
cedida pelo Museu de Arte da Universidade Federal do
Ceará (MAUC).
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• Histórias de valentia: apresentam
personagens lendários na região, como O
Sertanejo Antônio Cobra Choca e O Valente
Sebastião.
• Anti-heróis: falam de nordestinos que
vencem mais pela esperteza do que pela
força. João Grilo e Pedro Malazartes foram
imortalizados pelo cordel.
• Humorísticos e picarescos: os mais
populares. Contam fatos como A Dor de
Barriga de um Noivo e A Mulher Que Trocou
o Marido por uma TV em Cores.
• Exemplos morais: deixam uma lição. A
Moça Que Bateu na Mãe e Virou Cachorra
e A Mãe Que Xingou a Filha no Ventre e Ela
Nasceu com Rabo e Chifre em São Paulo
são títulos de destaque.
• Pelejas: relatos de cantorias entre
repentistas. Os textos são frutos da
imaginação do cordelista, como A Peleja de
João de Athayde com Raimundo Pelado.
http://intervox.nce.ufrj.br/~edpaes/cordel2.htm
VAMOS PRATICAR UM POUCO?
Identifique a temática presente nas
estrofes de cordel a seguir:
a) Tanto um como o outro
tiveram um fim desastrado
embora tenham morrido
um ao outro abraçado
Julieta assassinou-se
e Romeu envenenado.
b) A 24 de agosto
Quando o dia amanheceu
Um negro manto cobriu
Ligeiro o sol se escondeu
O mundo em peso chorou
Quando a notícia vagou
Getúlio Vargas morreu
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c) Eu vou contar uma história
De um pavão misterioso
Que levantou vôo na Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando uma condessa
Filha dum conde orgulhoso.
d) Moços que amais nessa vida,
O mundo é mau e falaz
Amai a Deus sobre tudo,
Honrai sempre vossos pais
Só Deus é amor e vida
Cristo é a imagem querida
Do amor que o céu nos traz.
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Vamos apreciar um cordel que fala da história
do cordel?
A saga heróica do cordel
(Ou “O cordel em cordel”) – Rubênio Marcelo
Está com mais de cem anos
A nossa Literatura
De Cordel, que no Brasil
Já é parte da Cultura;
Seu legado traz renovo
À alma do nosso povo,
Qual chama ardente e pura!
Está vivinho da silva
O nosso belo Cordel;
Já é tema de mestrado,
Estudado com laurel;
Cada dia, aumentam mais
Os prestígios triunfais
Do cantador-menestrel!
Cordel é luz, é paixão,
É uma réstia de paz!
É esta grande alegria,
Magia de encanto assaz;
Cordel é flama-canção
Que brota do coração
E flui em tons divinais...
Foram esses nordestinos,
Com outros lá do sertão,
Que difundiram o cordel
Para toda a Região.
Depois, pra São Paulo, a mil...
Enfim, pra todo Brasil:
Celeiro de tradição!
Cordel, folheto ou romance:
Popular Literatura!
Comunicação de massa
Que até hoje fulgura;
Páginas em parcos papéis;
E as capas, artes fiéis:
Clichês ou xilogravuras.
Qual sangue na minha veia,
O Cordel nutre meu ser.
Seus matizes pueris
Presentes no meu viver,
Sublimam meu coração.
Mostram-me sempre o perdão
Em cada amanhecer.
Foto: Rômulo Fialdine
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Você sabia?
Antônio Gonçalves da Silva, dito
Patativa do Assaré, nasceu a 5 de março
de 1909 na Serra de Santana, pequena
propriedade rural, no município de
Assaré, no Sul do Ceará. Filho de
pequenos proprietários rurais, inspirou
músicos da velha e da nova geração e
rendeu livros, biografias, estudos em
universidades estrangeiras e peças de
teatro. Também pudera. Ninguém soube
tão bem cantar em verso e prosa os
contrastes do sertão nordestino e a
beleza de sua natureza. Talvez por isso,
Patativa ainda influencie a arte feita hoje.
O grupo pernambucano da nova
geração ‘Cordel do Fogo Encantado’
bebe na fonte do poeta para compor
suas letras. Luiz Gonzaga gravou muitas
músicas dele, entre elas a que lançou
Patativa comercialmente, ‘A triste
partida’. Patativa morreu em 08 de julho
de 2002 na cidade que lhe emprestava
o nome.
Vamos soltar a imaginação!
Leia o cordel abaixo e, em seguida,
escolha um tema para criar, pelo menos, três
estrofes como no exemplo:
ABC do Nordeste Flagelado
A) Ai, como é duro viver
nos Estados do Nordeste
quando o nosso Pai Celeste
não manda a nuvem chover.
É bem triste a gente ver
findar o mês de janeiro
depois findar fevereiro
e março também passar,
sem o inverno começar
no Nordeste brasileiro.
B) Berra o gado impaciente
reclamando o verde pasto,
desfigurado e arrasto,
com o olhar de penitente;
o fazendeiro, descrente,
um jeito não pode dar,
o sol ardente a queimar
e o vento forte soprando,
a gente fica pensando
que o mundo vai se acabar.
C) Caminhando pelo espaço,
como os trapos de um lençol,
pras bandas do pôr do sol,
as nuvens vão em fracasso:
aqui e ali um pedaço
 vagando... sempre vagando,
quem estiver reparando
faz logo a comparação
de umas pastas de algodão
que o vento vai carregando.
 Antônio Gonçalves da Silva
(Patativa do Assaré)
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A gramática no cordel
Você gosta de estudar gramática? Lembra-se de alguma regra específica que lhe cause
muitas dúvidas?
Você sabia que um professor de Língua Portuguesa escreveu folhetos de cordel para
explicar regras gramaticais? Vamos conhecer esse poeta?
Há uma década, Janduhi Dantas Nobre dá aulas de Português em Patos, cidade a 300
quilômetros de João Pessoa, capital da Paraíba. Toda sexta-feira, depois do almoço, cumpre
um ritual que considera sagrado. Une-se aos filhos Mateus, de 12 anos, e Bianca, com 11,
para ler cordéis na rede. É uma de suas paixões – aos 40 anos, escreveu dez livretos. Uma
sexta-feira, no entanto, seus filhos dispensaram a tradicional sessão de leitura.
– Não é bom ler cordel esta semana, pai,
porque temos de estudar gramática – disse
Mateus, que cursa a 7ª série. Foi aí, diante
dos filhos,que lhe veio o estalo: fazer uma
gramática toda em cordel.
Veja uma das estrofes na introdução do livro:
Nisso me deu um estalo
e a luz da idéia acendeu:
eu disse – agora, meninos,
uma idéia me ocorreu:
cês vão aprender gramática
como nunca se aprendeu.
Quando preparava uma aula, começava a
cantarolar as lições e ilustrá-las com versos
nas aulas que dá em escolas de ensino
médio. Dantas reuniu 261 estrofes, 246 das
quais só com questões de morfologia, sintaxe,
Livro: Gramática no Cordel - Janduhi Dantas
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semântica e fonologia. Ele aproveitou a
oralidade tradicional do cordel para fazer
circular, de forma simples e interessante, as
normas às vezes complicadas da gramática:
“As rimas ajudam a memorizar e, como os
versos são geralmente engraçados, o
aprendizado se torna mais rápido e a aula,
eficiente”, garante o professor.
Para produzir sua gramática, ele venceu
adversidades editoriais. Em Patos, não há
xilogravuristas, que gravam desenhos na
madeira para a impressão das capas, e a
gráfica local não tinha papel-jornal para o
projeto. Do próprio bolso, bancou uma
edição de mil exemplares e ele mesmo vende
o produto em escolas da região. Com isso,
já foram três edições esgotadas desde
outubro do ano passado.
Sua gramática, se não representa um salto
na tradição dos cordéis e na reafirmação
anacrônica do homem nordestino, mostra
que um produto bem feito pode, em alguns
casos, unir o útil ao agradável.
(Revista Língua Portuguesa – Edição 1 – 2005)
Cantadores (autoria desconhecida). Imagem cedida pelo
Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC).
Vamos apreciar algumas estrofes do livro de
Janduhi Dantas?
Não basta a preposição
Há muita gente que pensa
Que basta a preposição
Para o a ser craseado.
Mas não é bem assim não:
Preposição mais artigo –
Crase só nessa união!
Antes do verbo, não
A crase antes do verbo
Não há como colocar:
Verbo não aceita artigo
(É por isso que não dá) –
“Com dinheiro a receber,
Tenho contas a pagar”.
Xeque X cheque
Há com “x” ou “ch”
Nesse nosso Português:
Quem dá um xeque com x
Dá um lance de xadrez;
Com ch, quem dá cheque
Paga a despesa que fez...
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Pião x peão
Pião com “i” é o brinquedo
Que rodopia no chão;
Com “e”, peça de xadrez,
Pedreiro da construção
Ou aquele que em rodeio
Faz sua apresentação.
www.teatroemcordel.com.br
Agora é a sua vez! Escolha um assunto de gramática (ortografia, morfologia, análise
sintática, por exemplo) e crie uma estrofe de cordel. Capriche na sua produção!
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CANTANDO E CONTANDO HISTÓRIAS ATIVIDADE 4
Embolada? Cantoria? Repente? Peleja?
No Brasil, a tradição medieval ibérica dos
trovadores deu origem aos cantadores – ou
seja, poetas populares que vão de região em
região, com a viola nas costas, para cantar
os seus versos. Eles apareceram nas formas
do cururu (São Paulo), do samba de roda
(Rio de Janeiro) e do repente nordestino. Ao
contrário dos outros, este último se
caracteriza pelo improviso – os cantadores
fazem os versos “de repente”, em um desafio
com outro cantador. Não importa a beleza
da voz ou a afinação – o que vale é o ritmo
e a agilidade mental que permita encurralar
o oponente com a força do discurso.
A métrica do repente varia, bem como a
organização dos versos: temos a sextilha
(estrofes de seis versos, em que o primeiro
rima com o terceiro e o quinto, o segundo
rima com o quarto e o sexto), a septilha (sete
versos, em que o primeiro e o terceiro são
livres, o segundo rima com o quarto e o
sétimo e o quinto rima com o sexto) e outras
variações mais complexas. O instrumental
desses improvisos cantados também varia:
daí que o gênero pode ser subdividido em
embolada (na qual o cantador toca pandeiro
ou ganzá), o aboio (apenas com a voz) e a
cantoria de viola.
Embora os instrumentos sejam diferentes,
embolada, repente e cantoria possuem
características comuns: um estribilho é
repetido, num intervalo maior ou menor por
um dos cantadores, enquanto o outro
improvisa. A letra é geralmente cômica,
satírica ou descritiva. A dicção, por vezes
complicada, torna-se mais difícil devido à
rapidez com que os versos são improvisados.
Nas feiras nordestinas, uma das principais
atrações é o encontro de dois emboladores,
empunhando o pandeiro ou o ganzá, um
instrumento de flandre, cheio de caroços de
chumbo. Vence o combate quem tiver mais
criatividade e agilidade mental na busca de
palavras que rimem de acordo com o tema
proposto. Com o advento do rádio e
especialmente a partir da invasão da música
nordestina nos anos 40, destacaram-se
diversos artistas cultores do gênero. Mais
recentemente, destacou-se a dupla Caju e
Castanha. Veja um trecho de uma famosa
embolada da dupla:
Esse trabalho é de 2003, portanto bastante
atual. No entanto, o que você acha de
apreciar algumas estrofes de uma peleja
bastante famosa de 1914? Trata-se do
desafio do Cego Aderaldo com Zé Pretinho:
Diz o ladrão sabido só rouba muito dinheiro
Rouba hoje no Brasil amanhã no estrangeiro
Se hospeda em cinco estrelas e ninguém sabe
seu roteiro
Quem é que vive mais o ladrão besta ou o
sabido
O besta morre logo e o sabido é garantido
Você vê o ladrão besta dorme até no meio
da praça
Rouba o relógio de um vende pra tomar
cachaça
Que quando a polícia pega volta pra mesma
desgraça
Quem é que vive mais o ladrão besta ou o
sabido
O besta morre logo e o sabido é garantido
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Então disse Zé Pretinho:
De perder não tenho medo
Este cego apanha logo
Falo sem pedir segredo
Tendo isto como certo
Botou os anéis no dedo
Eu lhe disse: seu José
Sei que o senhor tem ciência
Parece que és dotado
Da Divina Providência
Vamos saudar o povo
Com a justa excelência
P- Sai daí, cego amarelo
Cor de ouro de toucinho
Um cego da tua forma
Chama-se abusa vizinho
Aonde eu botar os pés
Cego não bota o toucinho
C- Já vi que seu Zé Pretinho
É um homem sem ação
Como se maltrata outro
Sem haver alteração
Eu pensava que o senhor
Possuísse educação
P- Esse cego bruto hoje
Apanha que fica roxo
Cara de pão de cruzado
Testa de carneiro mocho
Cego, tu és um bichinho
Que quando come vira o cocho
C- Seu José, o seu cantar
Merece ricos fulgores
Merece ganhar na sala
Rosas e trovas de amores
Mais tarde as moças lhe dão
Bonitas palmas de flores.
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CANTANDO E CONTANDO HISTÓRIAS ATIVIDADE 4
Você sabia?
Aderaldo Ferreira de Araújo, o Cego
Aderaldo, nasceu no dia 24 de junho
de 1878 na cidade do Crato, Ceará.
Logo após, mudou-se para
Quixadá, no mesmo estado. Aos
cinco anos começou a trabalhar,
pois seu pai adoeceu e não
conseguia sustentar a família. Quinze
dias depois que seu pai morreu (25
de março de
1896), quando
tinha 18 anos e
trabalhava como
maquinista na
Estrada de Ferro de
Baturité, sua visão
se foi depois de
uma forte dor nos
olhos. Pobre, cego
e com poucos a
quem recorrer, descobriu seu dom
para cantar e improvisar. Ganhou
uma viola a qual aprendeu a tocar e
começou a andar pelo sertão
cantando e recebendo por isso.
Percorreu todo o Ceará, partes do
Piauí e Pernambuco. Com o tempo
sua fama foi aumentando. Em 1914
se deu a famosa peleja com Zé
Pretinho (maior cantador do Piauí).
Voltou para Quixadá por volta de
1920 e só saiu dali em 1923, quando
resolveu conhecer o Padre Cícero.
Rumoupara Juazeiro onde o próprio
padre veio receber o trovador que já
tinha fama. Algum tempo depois foi a
vez de cantar para Lampião, que
satisfez seu pedido de ter um revólver
do cangaceiro.
Desde 1945, então com 67 anos, Cego
Aderaldo parou de aceitar desafios. Mas
também, já tinha rodado o sertão
inúmeras vezes, conseguira ser
reconhecido em todo lugar, cantara pra
muitas pessoas, inclusive muitas
importantes, tivera pelejas com os
maiores cantadores. E, na medida em
que a serenidade começou a dificultar
as disputas de peleja, ele resolveu passar
a cantar apenas para entreter a alma.
Faleceu em 1967.
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 GABARITO
a - Cordel de romance
b – Cordel noticioso
c – Cordel do ciclo mágico e maravilhoso
d – Cordel religioso
Resposta pessoal. (sugestão: peça para os alunos realizarem a atividade em pequenos
grupos)
Resposta pessoal. (sugestão: peça para os alunos realizarem a atividade em pequenos
grupos)
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