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1 LÍ NG UA P OR TU GU ES A/ AR TE S E IN GL ÊS CANTANDO E CONTANDO HISTÓRIAS ATIVIDADE 4 CARO MONITOR Nessa atividade, tratamos da literatura de cordel, associando o módulo 11 de Língua Portuguesa com a aula 16 de Educação Artística. É um assunto riquíssimo e pode propiciar belos trabalhos produzidos pelos alunos. Inicialmente, procuramos mostrar que a literatura de cordel não morreu e há cada vez mais pessoas interessadas na sua prática. Só em São Paulo há mais de 300 artistas populares que se dedicam a essa literatura. Então, aproveite a riqueza de textos produzidos por nossos poetas e estimule seus alunos a criar seus próprios versos. Explique que, a princípio, as rimas podem não sair tão perfeitas como as feitas pelos grandes cordelistas, mas que a persistência certamente vai levar ao aprimoramento das estrofes. Procure em sebos ou em feiras de produtos regionais de sua cidade exemplares de folhetos com temáticas variadas e leve-os para a classe. Incentive os alunos a folhear o material, escolher aqueles versos mais criativos e observar com cuidado as xilogravuras das capas. Deixe bem claro para os estudantes as diferenças entre cordel, repente e embolada. O primeiro diz respeito aos versos impressos, enquanto o repente é um improviso oral, feito ao som de viola, surgido no sertão. A embolada, por sua vez, é o conjunto de versos ditos ao som de um pandeiro, típico do litoral. No final da atividade, apresentamos dois exemplos de emboladas: um atual e outro mais antigo. Se houver tempo disponível, proponha aos alunos que se dividam em duplas e criem um desafio semelhante ao do Cego Aderaldo (texto na íntegra no site: http://jangadabrasil.com.br/ dezembro/cn41200c.htm). Certamente, eles produzirão belíssimos repentes que, ao lado dos cordéis desenvolvidos no decorrer da atividade, podem formar uma rica exposição. Quer saber mais sobre literatura de cordel? Consulte os seguintes links: Academia Brasileira de Literatura de Cordel: www.ablc.com.br http://www.releituras.com/ cegoaderaldo_cantorias.asp www.secrel.com.br/jpoesia/cordel.html www.suapesquisa.com/cordel/ www.terrabrasileira.net/folclore/manifesto/ cordel.html http://intervox.nce.ufrj.br/~edpaes/ cordel2.htm Vamos lá! CANTANDO E CONTANDO HISTÓRIAS ATIVIDADE 4 atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:431 2 Em algumas aulas de Língua Portuguesa e na aula 16 de Educação Artística, você estudou a literatura de cordel. Você acredita que essa manifestação cultural ainda existe em nosso país? Você já leu alguma história da literatura de cordel? Qual? Leia os textos a seguir para comparar com o seu modo de pensar: A literatura de cordel, que existe desde os tempos medievais na Península Ibérica, começou a ser divulgada na região Nordeste do Brasil nos séculos XVI e XVII, trazida pelos portugueses. O primeiro folheto de que se tem notícia foi publicado na Paraíba por Leandro Gomes de Barros, em 1893. Acredita-se que outros poetas tenham publicado antes, como Silvino Pirauá de Lima, mas a Literatura de Cordel começou mesmo a se popularizar no início do século XX. Tendo sido transplantada para o nosso país pelos colonizadores lusitanos, esta manifestação popular evoluiu independente e diversamente, num fecundo processo de mestiçagem cultural, originando uma literatura com características marcantes e próprias – a nossa literatura de folhetos. Este cordel brasileiro, que se fixou no Nordeste com o aparecimento das pequenas tipografias, firmou-se efetivamente – juntamente com a cantoria –, segundo os pesquisadores, no final do século XIX, CARO ALUNO definindo peculiaridades admiráveis, como o capricho pela métrica, rima e oração (desenvolvimento coerente de um assunto), além da diversidade de temas escritos. Mesmo com os constantes progressos tecnológicos do terceiro milênio e o avanço incansável dos meios de comunicação, o cordel tradicional continua – em pleno século XXI – como uma produção editorial firme e forte, presente de Norte a Sul do nosso país, e conquistando cada dia mais a admiração e o respeito do público em geral (inclusive estudiosos e colecionadores eruditos). Atualmente, a Internet também propicia um maior espaço e dinamismo para a divulgação de trabalhos de grandes e modernos cordelistas, servindo, assim, como fonte imediata de ampla difusão da apreciadíssima arte cordeliana. http://www.secrel.com.br/jpoesia/rmarcelo14.html Tragédia, romance, valentia: é o cordel, unindo arte e poesia Preste atenção por favor Na história que eu vou contar Ela explica o que é o cordel Grande manifestação popular. Os versos acima, como os demais distribuídos por estas páginas, são inspirados na riqueza poética da literatura de cordel, uma poderosa manifestação da cultura popular nordestina. As histórias do cotidiano, que ficam ainda mais saborosas ao serem lidas em voz alta, são ainda hoje impressas de forma artesanal em papel jornal e ilustradas com xilogravura. O material é atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:432 3 LÍ NG UA P OR TU GU ES A/ AR TE S E IN GL ÊS CANTANDO E CONTANDO HISTÓRIAS ATIVIDADE 4 vendido em feiras, mercados e locais onde se aglomerem amantes da poesia. “O cordel foi e continua sendo uma das formas de comunicação mais autênticas nas pequenas cidades da região Nordeste”, explica a escritora Clotilde Tavares, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e fundadora da Comissão Estadual do Folclore, na terra de Câmara Cascudo. E eu vou dizer agora Por que se diz esse nome De onde veio o cordel E quem é que o consome. Assim que um fato relevante acontece – como a vitória do Brasil em uma Copa do Mundo, a morte de alguém famoso, uma grande enchente ou mesmo um caso de adultério –, os cordelistas produzem um relato extra- oficial, popular e poético dos fatos. Em poucas horas, o livreto é impresso, ilustrado e colocado à venda nas feiras, pendurado em cordões. Daí vem o nome: literatura de cordel. O leitor, no entanto, se refere ao livreto como “folheto”, “foieto”, ou “verso de feira”. A origem do cordel remonta à Idade Média na Europa, quando nas praças os trovadores divulgavam velhas histórias, especialmente os romances de cavalaria que contavam as epopéias do rei Carlos Magno e dos Doze Pares de França. Narrativas de amor, guerra, heroísmo, viagens e conquistas marítimas, além dos fatos mais recentes do dia-a-dia, eram os temas preferidos do público. Por volta dos séculos 16 e 17, trazidas para o Brasil na bagagem dos colonos portugueses, as histórias eram decoradas por quem sabia ler, transmitidas de forma oral e enriquecidas pela memória do povo. E depois de achar o mote Que o cordelista procura Qual o tamanho do verso E como é sua estrutura? Os folhetos de cordel possuem um número variável de páginas: 8, 16, 32 ou 48. Os dois primeiros tipos são geralmente destinados a contar algo ocorrido na região, os chamados versos noticiosos. Os mais longos são os romances, que narram histórias de ficção ou da carochinha. Os versos são escritos em sextilhas – estrofes de seis linhas com sete sílabas cada uma. Já que junto com o cordel sempre tem uma figura, O que danada é essa imagem Chamada xilogravura? Cantoria de Viola (autoria desconhecida). Imagem cedida pelo Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC). atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:433 4 As capas dos folhetos são tingidas em tons de verde, amarelo, rosa e azul e trazem uma xilogravura – resultado da impressão feita com uma espécie de carimbo talhado numa matriz de madeira. A técnica já era conhecida na antigüidade e foi utilizada na Europa no século 15 para ilustrar cartas de baralho e imagens sacras. De lá veio para o Brasil em 1808, com a Imprensa Real Portuguesa. No Nordeste, a artealcançou tal destaque que muitos xilogravuristas se tornaram tão famosos quanto os autores dos versos. Artistas como os pernambucanos J. Borges e Gilvan Samico são conhecidos em todo o mundo. O primeiro, apontado como um gênio da arte popular, já percorreu vinte países europeus, onde ministrou oficinas e palestras sobre xilogravura e cultura do cordel com ajuda de tradutores. Já Samico foi professor de xilogravura na Universidade Federal da Paraíba e teve 200 peças de sua produção reunidas em exposição na Pinacoteca de São Paulo no último mês de setembro. E quais são os grandes temas E os melhores autores Dessa arte tão ferina Que não poupa nem doutores? Algumas temáticas são recorrentes na literatura de cordel. Estas são as mais expressivas: • Romances: histórias de amor não- correspondido, virtudes ou sacrifícios. Alguns títulos: Os Sofrimentos de Eliza ou os Prantos de uma Esposa e O Mal em Paga de Bem. • Ciclo mágico e maravilhoso: histórias da carochinha, que falam de príncipes, fadas, dragões e reinos encantados. Os mais famosos são O Pavão Misterioso e A Princesa Que Não Torna. • Ciclos do cangaço e religioso: apresentam o imaginário nordestino ligado a figuras como Lampião, Antônio Silvino, Padre Cícero, Antônio Conselheiro e frei Damião. • Noticiosos: funcionam como jornais. Mesmo já sabendo o que aconteceu, a população compra o folheto para ler a visão do poeta. As Enchentes no Brasil no Ano Setenta e Quatro e A Criação de Brasília marcaram época. Lampião e Maria Bonita (autoria desconhecida). Imagem cedida pelo Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC). atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:434 5 LÍ NG UA P OR TU GU ES A/ AR TE S E IN GL ÊS CANTANDO E CONTANDO HISTÓRIAS ATIVIDADE 4 • Histórias de valentia: apresentam personagens lendários na região, como O Sertanejo Antônio Cobra Choca e O Valente Sebastião. • Anti-heróis: falam de nordestinos que vencem mais pela esperteza do que pela força. João Grilo e Pedro Malazartes foram imortalizados pelo cordel. • Humorísticos e picarescos: os mais populares. Contam fatos como A Dor de Barriga de um Noivo e A Mulher Que Trocou o Marido por uma TV em Cores. • Exemplos morais: deixam uma lição. A Moça Que Bateu na Mãe e Virou Cachorra e A Mãe Que Xingou a Filha no Ventre e Ela Nasceu com Rabo e Chifre em São Paulo são títulos de destaque. • Pelejas: relatos de cantorias entre repentistas. Os textos são frutos da imaginação do cordelista, como A Peleja de João de Athayde com Raimundo Pelado. http://intervox.nce.ufrj.br/~edpaes/cordel2.htm VAMOS PRATICAR UM POUCO? Identifique a temática presente nas estrofes de cordel a seguir: a) Tanto um como o outro tiveram um fim desastrado embora tenham morrido um ao outro abraçado Julieta assassinou-se e Romeu envenenado. b) A 24 de agosto Quando o dia amanheceu Um negro manto cobriu Ligeiro o sol se escondeu O mundo em peso chorou Quando a notícia vagou Getúlio Vargas morreu 1 atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:435 6 c) Eu vou contar uma história De um pavão misterioso Que levantou vôo na Grécia Com um rapaz corajoso Raptando uma condessa Filha dum conde orgulhoso. d) Moços que amais nessa vida, O mundo é mau e falaz Amai a Deus sobre tudo, Honrai sempre vossos pais Só Deus é amor e vida Cristo é a imagem querida Do amor que o céu nos traz. atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:436 7 LÍ NG UA P OR TU GU ES A/ AR TE S E IN GL ÊS CANTANDO E CONTANDO HISTÓRIAS ATIVIDADE 4 Vamos apreciar um cordel que fala da história do cordel? A saga heróica do cordel (Ou “O cordel em cordel”) – Rubênio Marcelo Está com mais de cem anos A nossa Literatura De Cordel, que no Brasil Já é parte da Cultura; Seu legado traz renovo À alma do nosso povo, Qual chama ardente e pura! Está vivinho da silva O nosso belo Cordel; Já é tema de mestrado, Estudado com laurel; Cada dia, aumentam mais Os prestígios triunfais Do cantador-menestrel! Cordel é luz, é paixão, É uma réstia de paz! É esta grande alegria, Magia de encanto assaz; Cordel é flama-canção Que brota do coração E flui em tons divinais... Foram esses nordestinos, Com outros lá do sertão, Que difundiram o cordel Para toda a Região. Depois, pra São Paulo, a mil... Enfim, pra todo Brasil: Celeiro de tradição! Cordel, folheto ou romance: Popular Literatura! Comunicação de massa Que até hoje fulgura; Páginas em parcos papéis; E as capas, artes fiéis: Clichês ou xilogravuras. Qual sangue na minha veia, O Cordel nutre meu ser. Seus matizes pueris Presentes no meu viver, Sublimam meu coração. Mostram-me sempre o perdão Em cada amanhecer. Foto: Rômulo Fialdine atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:437 8 2 Você sabia? Antônio Gonçalves da Silva, dito Patativa do Assaré, nasceu a 5 de março de 1909 na Serra de Santana, pequena propriedade rural, no município de Assaré, no Sul do Ceará. Filho de pequenos proprietários rurais, inspirou músicos da velha e da nova geração e rendeu livros, biografias, estudos em universidades estrangeiras e peças de teatro. Também pudera. Ninguém soube tão bem cantar em verso e prosa os contrastes do sertão nordestino e a beleza de sua natureza. Talvez por isso, Patativa ainda influencie a arte feita hoje. O grupo pernambucano da nova geração ‘Cordel do Fogo Encantado’ bebe na fonte do poeta para compor suas letras. Luiz Gonzaga gravou muitas músicas dele, entre elas a que lançou Patativa comercialmente, ‘A triste partida’. Patativa morreu em 08 de julho de 2002 na cidade que lhe emprestava o nome. Vamos soltar a imaginação! Leia o cordel abaixo e, em seguida, escolha um tema para criar, pelo menos, três estrofes como no exemplo: ABC do Nordeste Flagelado A) Ai, como é duro viver nos Estados do Nordeste quando o nosso Pai Celeste não manda a nuvem chover. É bem triste a gente ver findar o mês de janeiro depois findar fevereiro e março também passar, sem o inverno começar no Nordeste brasileiro. B) Berra o gado impaciente reclamando o verde pasto, desfigurado e arrasto, com o olhar de penitente; o fazendeiro, descrente, um jeito não pode dar, o sol ardente a queimar e o vento forte soprando, a gente fica pensando que o mundo vai se acabar. C) Caminhando pelo espaço, como os trapos de um lençol, pras bandas do pôr do sol, as nuvens vão em fracasso: aqui e ali um pedaço vagando... sempre vagando, quem estiver reparando faz logo a comparação de umas pastas de algodão que o vento vai carregando. Antônio Gonçalves da Silva (Patativa do Assaré) atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:438 9 LÍ NG UA P OR TU GU ES A/ AR TE S E IN GL ÊS CANTANDO E CONTANDO HISTÓRIAS ATIVIDADE 4 atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:439 10 A gramática no cordel Você gosta de estudar gramática? Lembra-se de alguma regra específica que lhe cause muitas dúvidas? Você sabia que um professor de Língua Portuguesa escreveu folhetos de cordel para explicar regras gramaticais? Vamos conhecer esse poeta? Há uma década, Janduhi Dantas Nobre dá aulas de Português em Patos, cidade a 300 quilômetros de João Pessoa, capital da Paraíba. Toda sexta-feira, depois do almoço, cumpre um ritual que considera sagrado. Une-se aos filhos Mateus, de 12 anos, e Bianca, com 11, para ler cordéis na rede. É uma de suas paixões – aos 40 anos, escreveu dez livretos. Uma sexta-feira, no entanto, seus filhos dispensaram a tradicional sessão de leitura. – Não é bom ler cordel esta semana, pai, porque temos de estudar gramática – disse Mateus, que cursa a 7ª série. Foi aí, diante dos filhos,que lhe veio o estalo: fazer uma gramática toda em cordel. Veja uma das estrofes na introdução do livro: Nisso me deu um estalo e a luz da idéia acendeu: eu disse – agora, meninos, uma idéia me ocorreu: cês vão aprender gramática como nunca se aprendeu. Quando preparava uma aula, começava a cantarolar as lições e ilustrá-las com versos nas aulas que dá em escolas de ensino médio. Dantas reuniu 261 estrofes, 246 das quais só com questões de morfologia, sintaxe, Livro: Gramática no Cordel - Janduhi Dantas atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:4310 11 LÍ NG UA P OR TU GU ES A/ AR TE S E IN GL ÊS CANTANDO E CONTANDO HISTÓRIAS ATIVIDADE 4 semântica e fonologia. Ele aproveitou a oralidade tradicional do cordel para fazer circular, de forma simples e interessante, as normas às vezes complicadas da gramática: “As rimas ajudam a memorizar e, como os versos são geralmente engraçados, o aprendizado se torna mais rápido e a aula, eficiente”, garante o professor. Para produzir sua gramática, ele venceu adversidades editoriais. Em Patos, não há xilogravuristas, que gravam desenhos na madeira para a impressão das capas, e a gráfica local não tinha papel-jornal para o projeto. Do próprio bolso, bancou uma edição de mil exemplares e ele mesmo vende o produto em escolas da região. Com isso, já foram três edições esgotadas desde outubro do ano passado. Sua gramática, se não representa um salto na tradição dos cordéis e na reafirmação anacrônica do homem nordestino, mostra que um produto bem feito pode, em alguns casos, unir o útil ao agradável. (Revista Língua Portuguesa – Edição 1 – 2005) Cantadores (autoria desconhecida). Imagem cedida pelo Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC). Vamos apreciar algumas estrofes do livro de Janduhi Dantas? Não basta a preposição Há muita gente que pensa Que basta a preposição Para o a ser craseado. Mas não é bem assim não: Preposição mais artigo – Crase só nessa união! Antes do verbo, não A crase antes do verbo Não há como colocar: Verbo não aceita artigo (É por isso que não dá) – “Com dinheiro a receber, Tenho contas a pagar”. Xeque X cheque Há com “x” ou “ch” Nesse nosso Português: Quem dá um xeque com x Dá um lance de xadrez; Com ch, quem dá cheque Paga a despesa que fez... atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:4311 12 Pião x peão Pião com “i” é o brinquedo Que rodopia no chão; Com “e”, peça de xadrez, Pedreiro da construção Ou aquele que em rodeio Faz sua apresentação. www.teatroemcordel.com.br Agora é a sua vez! Escolha um assunto de gramática (ortografia, morfologia, análise sintática, por exemplo) e crie uma estrofe de cordel. Capriche na sua produção! 3 atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:4312 13 LÍ NG UA P OR TU GU ES A/ AR TE S E IN GL ÊS CANTANDO E CONTANDO HISTÓRIAS ATIVIDADE 4 Embolada? Cantoria? Repente? Peleja? No Brasil, a tradição medieval ibérica dos trovadores deu origem aos cantadores – ou seja, poetas populares que vão de região em região, com a viola nas costas, para cantar os seus versos. Eles apareceram nas formas do cururu (São Paulo), do samba de roda (Rio de Janeiro) e do repente nordestino. Ao contrário dos outros, este último se caracteriza pelo improviso – os cantadores fazem os versos “de repente”, em um desafio com outro cantador. Não importa a beleza da voz ou a afinação – o que vale é o ritmo e a agilidade mental que permita encurralar o oponente com a força do discurso. A métrica do repente varia, bem como a organização dos versos: temos a sextilha (estrofes de seis versos, em que o primeiro rima com o terceiro e o quinto, o segundo rima com o quarto e o sexto), a septilha (sete versos, em que o primeiro e o terceiro são livres, o segundo rima com o quarto e o sétimo e o quinto rima com o sexto) e outras variações mais complexas. O instrumental desses improvisos cantados também varia: daí que o gênero pode ser subdividido em embolada (na qual o cantador toca pandeiro ou ganzá), o aboio (apenas com a voz) e a cantoria de viola. Embora os instrumentos sejam diferentes, embolada, repente e cantoria possuem características comuns: um estribilho é repetido, num intervalo maior ou menor por um dos cantadores, enquanto o outro improvisa. A letra é geralmente cômica, satírica ou descritiva. A dicção, por vezes complicada, torna-se mais difícil devido à rapidez com que os versos são improvisados. Nas feiras nordestinas, uma das principais atrações é o encontro de dois emboladores, empunhando o pandeiro ou o ganzá, um instrumento de flandre, cheio de caroços de chumbo. Vence o combate quem tiver mais criatividade e agilidade mental na busca de palavras que rimem de acordo com o tema proposto. Com o advento do rádio e especialmente a partir da invasão da música nordestina nos anos 40, destacaram-se diversos artistas cultores do gênero. Mais recentemente, destacou-se a dupla Caju e Castanha. Veja um trecho de uma famosa embolada da dupla: Esse trabalho é de 2003, portanto bastante atual. No entanto, o que você acha de apreciar algumas estrofes de uma peleja bastante famosa de 1914? Trata-se do desafio do Cego Aderaldo com Zé Pretinho: Diz o ladrão sabido só rouba muito dinheiro Rouba hoje no Brasil amanhã no estrangeiro Se hospeda em cinco estrelas e ninguém sabe seu roteiro Quem é que vive mais o ladrão besta ou o sabido O besta morre logo e o sabido é garantido Você vê o ladrão besta dorme até no meio da praça Rouba o relógio de um vende pra tomar cachaça Que quando a polícia pega volta pra mesma desgraça Quem é que vive mais o ladrão besta ou o sabido O besta morre logo e o sabido é garantido atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:4313 14 Então disse Zé Pretinho: De perder não tenho medo Este cego apanha logo Falo sem pedir segredo Tendo isto como certo Botou os anéis no dedo Eu lhe disse: seu José Sei que o senhor tem ciência Parece que és dotado Da Divina Providência Vamos saudar o povo Com a justa excelência P- Sai daí, cego amarelo Cor de ouro de toucinho Um cego da tua forma Chama-se abusa vizinho Aonde eu botar os pés Cego não bota o toucinho C- Já vi que seu Zé Pretinho É um homem sem ação Como se maltrata outro Sem haver alteração Eu pensava que o senhor Possuísse educação P- Esse cego bruto hoje Apanha que fica roxo Cara de pão de cruzado Testa de carneiro mocho Cego, tu és um bichinho Que quando come vira o cocho C- Seu José, o seu cantar Merece ricos fulgores Merece ganhar na sala Rosas e trovas de amores Mais tarde as moças lhe dão Bonitas palmas de flores. atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:4314 15 LÍ NG UA P OR TU GU ES A/ AR TE S E IN GL ÊS CANTANDO E CONTANDO HISTÓRIAS ATIVIDADE 4 Você sabia? Aderaldo Ferreira de Araújo, o Cego Aderaldo, nasceu no dia 24 de junho de 1878 na cidade do Crato, Ceará. Logo após, mudou-se para Quixadá, no mesmo estado. Aos cinco anos começou a trabalhar, pois seu pai adoeceu e não conseguia sustentar a família. Quinze dias depois que seu pai morreu (25 de março de 1896), quando tinha 18 anos e trabalhava como maquinista na Estrada de Ferro de Baturité, sua visão se foi depois de uma forte dor nos olhos. Pobre, cego e com poucos a quem recorrer, descobriu seu dom para cantar e improvisar. Ganhou uma viola a qual aprendeu a tocar e começou a andar pelo sertão cantando e recebendo por isso. Percorreu todo o Ceará, partes do Piauí e Pernambuco. Com o tempo sua fama foi aumentando. Em 1914 se deu a famosa peleja com Zé Pretinho (maior cantador do Piauí). Voltou para Quixadá por volta de 1920 e só saiu dali em 1923, quando resolveu conhecer o Padre Cícero. Rumoupara Juazeiro onde o próprio padre veio receber o trovador que já tinha fama. Algum tempo depois foi a vez de cantar para Lampião, que satisfez seu pedido de ter um revólver do cangaceiro. Desde 1945, então com 67 anos, Cego Aderaldo parou de aceitar desafios. Mas também, já tinha rodado o sertão inúmeras vezes, conseguira ser reconhecido em todo lugar, cantara pra muitas pessoas, inclusive muitas importantes, tivera pelejas com os maiores cantadores. E, na medida em que a serenidade começou a dificultar as disputas de peleja, ele resolveu passar a cantar apenas para entreter a alma. Faleceu em 1967. atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:4315 16 GABARITO a - Cordel de romance b – Cordel noticioso c – Cordel do ciclo mágico e maravilhoso d – Cordel religioso Resposta pessoal. (sugestão: peça para os alunos realizarem a atividade em pequenos grupos) Resposta pessoal. (sugestão: peça para os alunos realizarem a atividade em pequenos grupos) 2 1 3 atividade 04.pmd 5/3/2007, 16:4316
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