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LIVRO. SAUDE DO TRABALHADOR

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Prévia do material em texto

Homens e atenção à
saúde no trabalho
Fabrício Augusto Menegon
Lizandra da Silva Menegon
Rodrigo Otávio Moretti Pires
Douglas Francisco Kovaleski
UFSC 2016
Homens e atenção à
saúde no trabalho
Fabrício Augusto Menegon
Lizandra da Silva Menegon
Rodrigo Otávio Moretti Pires
Douglas Francisco Kovaleski
Florianópolis
UFSC
2016
Catalogação elaborada na Fonte.
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável: 
Eliane Maria Stuart Garcez – CRB 14/074
U588p Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Curso de 
 Atenção Integral à Saúde do Homem – Modalidade a Distância.
 Homens e atenção à saúde no trabalho [recurso eletrônico] / Universidade Federal 
 de Santa Catarina. Fabrício Augusto Menegon [et al.] (Organizadores). — Florianópolis : 
 Universidade Federal de Santa Catarina, 2016.
 68 p. 
 Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br 
 Conteúdo do módulo: Saúde do trabalhador. Doenças e acidentes relacionados ao 
 trabalho. Ações de saúde do trabalhador na atenção básica..
 ISBN: 978-85-8267-088-0
 1. Saúde do homem. 2. Prevenção de doenças. 3. Doenças do trabalho. I. UFSC. 
 II. Menegon, Fabrício Augusto. III. Menegon, Lizandra da Silva. IV. Pires, Rodrigo Otávio 
 Moretti. V. Kovaleski, Douglas Francisco. VI. Título. 
CDU: 613.9
 5 
GOVERNO FEDERAL
Ministério da Saúde
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES)
Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES)
Coordenação Geral de Ações Estratégicas em Educação na Saúde
Secretaria de Atenção à Saúde (SAS)
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas
Coordenação Nacional de Saúde do Homem
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Reitor: Luis Carlos Cancellier de Olivo
Vice-Reitora: Alacoque Lorenzini Erdmann
Pró-Reitor de Pós-Graduação: Sérgio Fernando Torres de Freitas
Pró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto Soares
Pró-Reitor de Extensão: Rogério Cid Bastos
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Diretora: Isabela de Carlos Back
Vice-Diretor: Ricardo de Sousa Vieira
DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA
Chefe do Departamento: Antonio Fernando Boing
Subchefe do Departamento: Fabricio Menegon 
Coordenadora do Curso de Capacitação: Elza Berger Salema Coelho
EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
COORDENAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE DO HOMEM
Francisco Norberto Moreira da Silva
Cicero Ayrton Brito Sampaio
Créditos
 5 
Créditos
 6 
Juliano Mattos Rodrigues
Michelle Leite da Silva
Renata Gomes Soares
João Calisto Lobo Ameno
Lúcia Helena Pontes de Oliveira Lambert
Kátia Maria Barreto Souto
GESTORA GERAL DO PROJETO
Elza Berger Salema Coelho
EQUIPE DE PRODUÇÃO EDITORIAL
Carolina Carvalho Bolsoni
Deise Warmling
Elza Berger Salema Coelho
Larissa Marques
Sabrina Faust
EQUIPE EXECUTIVA
Gisélida Vieira
Patrícia Castro
Rosangela Leonor Goulart
Sheila Rubia Lindner
Tcharlies Schmitz
CONSULTORIA TÉCNICA
Eduardo Schwarz
AUTORIA DO MÓDULO
Fabrício Augusto Menegon
Lizandra da Silva Menegon
Créditos
 6 
CréditosCréditos
 7 
Rodrigo Otávio Moretti Pires
Douglas Francisco Kovalesk
REVISÃO DE CONTEÚDO
Revisor interno: 
Antonio Fernando Boing
Revisores externos: 
Helen Barbosa dos Santos
Igor Claber
ASSESSORIA PEDAGÓGICA
Márcia Regina Luz
ASSESSORIA DE MÍDIAS
Marcelo Capillé
DESIGN INSTRUCIONAL
Soraya Falqueiro
IDENTIDADE VISUAL E PROJETO GRÁFICO
Pedro Paulo Delpino
DIAGRAMAÇÃO
Paulo Roberto da Silva
ESQUEMÁTICOS, AJUSTES E FINALIZAÇÃO
Tarik Assis Pinto
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA E ABNT
Eduard Marquardt
Créditos
 7 
CréditosCréditos
 8  8 
 9  9 
Apresentação do módulo
Este módulo tem por objetivo colocar você em contato com aspectos teóricos e históricos 
da saúde do homem trabalhador, com a legislação brasileira em saúde do trabalhador, com 
a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora e com a discussão sobre os 
aspectos mais relevantes relacionados à saúde do homem no trabalho.
As transformações observadas nos modos de produção e nos padrões de consumo da so-
ciedade, principalmente das últimas décadas do século XX até os dias de hoje, condiciona-
ram o homem a novas formas de trabalhar e de se organizar no trabalho. Veremos, assim, 
que mais do que fonte de renda, o trabalho desempenha papel central na determinação da 
saúde e da doença. Além disso, detalhamos como e por que as doenças relacionadas e os 
acidentes de trabalho devem ser encarados como importante demanda referente à saúde 
do homem.
A saúde do trabalhador, enquanto campo de conhecimento, se preocupa em analisar, ava-
liar e intervir na relação saúde-trabalho, utilizando metodologias de base quantitativa e 
qualitativa para mergulhar na imbricada relação entre o mundo do trabalho e a saúde hu-
mana. Também, procura lançar um olhar ampliado sobre o tema, que avance para além das 
tradicionais teorias da segurança e higiene ocupacional, compreendendo a centralidade do 
trabalho na vida das pessoas e no desenvolvimento de suas potencialidades.
Veremos que, no entanto, caminhar por essa perspectiva nos obriga a romper com certos 
paradigmas e preconceitos historicamente construídos e socialmente legitimados. Exem-
plo disso é a noção de “ato inseguro” ou de “falha humana”, como fatores explicativos da 
 10  10 
ocorrência dos acidentes de trabalho. Perceberemos que, na maioria das vezes, a ocorrên-
cia destes eventos é circunstanciada por fatos pregressos acumulados ao longo do tempo, 
“democratizando” o risco entre aqueles que trabalham, e culminando num desfecho nega-
tivo: o acidente em si. Neste contexto, o homem atua ajustando os sistemas e absorvendo 
as variabilidades, condições frequentemente desconsideradas no planejamento das tarefas 
de trabalho.
A implementação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast) 
é a estratégia recente para a efetivação da atenção integral à saúde do trabalhador, e tem 
por objetivo integrar a rede de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) à assistência e à 
vigilância em saúde do trabalhador, além da notificação de agravos à saúde relacionados 
ao trabalho em rede de serviços sentinela. A Renast tem nos Centros de Referência em Saú-
de do Trabalhador (Cerest) o polo irradiador de saberes e práticas relacionados à atenção 
à saúde desta parcela significativa da população, congregando profissionais capacitados 
para o matriciamento e apoio às equipes de saúde, principalmente as da Estratégia de Saú-
de da Família (ESF).
Estes conhecimentos se voltam a uma abordagem aplicada ao cotidiano da saúde do traba-
lhador na Atenção Básica (AB), instrumentalizando você, profissional do SUS, para a cons-
trução de um olhar mais fiel à dura realidade vivida nas múltiplas dimensões da Saúde do 
Trabalhador no Brasil, dotando-o de mais instrumentos para cumprir o seu papel de agente 
de Estado, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida do homem trabalhador, e, por 
consequência, para a garantia de seu direito à saúde.
Apresentação do módulo
 11  11 
Objetivos de aprendizagem e carga horária
Este módulo busca trabalhar as questões 
envolvidas na saúde do homem trabalha-
dor mediante a Política Nacional de Saúde 
do Trabalhador e da Trabalhadora e o papel 
do profissional de saúde frente a esta po-
pulação. 
Objetivos de aprendizagem para este 
módulo
Ao final deste módulo, você será capaz de 
reconhecer os riscos à saúde, as doenças 
ocupacionais e do trabalho e as ações de 
saúde do trabalhador na Atenção Básica.
Carga horáriade estudo recomendada para 
este módulo
30 horas 12  12 
 13  13 
Sumário
Unidade 1 
Saúde do trabalhador 15
1.1 A evolução do conceito de saúde ocupacional: 
 da medicina do trabalho à saúde do trabalhador 21
1.2 Aspectos da legislação brasileira e políticas públicas 
 em saúde do trabalhador 27
1.3 Riscos à saúde do trabalhador 33
1.4 Recomendação de leituras complementares 36
Unidade 2 
Doenças e acidentes relacionados ao trabalho 37
2.1 Doenças profissionais ou doenças ocupacionais 42
2.2 Doenças no trabalho 45
2.3 Acidente de trabalho 48
2.4 Recomendação de leitura complementar 52
Unidade 3
Ações de saúde do trabalhador na Atenção Básica 53
3.1 Recomendação de leitura complementar 62
Resumo do módulo 63
Referências 65
Sobre os autores 67
 14 
UN1
Saúde do trabalhador
 16  16 
 17 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
O trabalho é uma atividade humana que 
acompanha o homem desde os primórdios 
de sua existência. Por meio do trabalho, 
o homem transforma o ambiente em que 
vive e por ele é transformado. No mundo do 
trabalho, as características físicas, cogni-
tivas e emocionais de cada pessoa são co-
locadas à prova em situações dinâmicas 
que demandam troca de saberes e experi-
ências acumuladas. Quando trabalhamos, 
podemos desenvolver ações individuais 
com vistas a alcançar objetivos previa-
mente estabelecidos. Essas ações indivi-
duais; no entanto, têm repercussão coleti-
va, pois nenhum ser humano está sozinho 
no planeta. Portanto, toda ação de traba-
lho interfere na vida e no trabalho de outras 
pessoas.
Dessa forma, assumimos o trabalho como 
componente central para a compreen-
são da sociedade, da saúde, das formas 
de sociabilidade e dos modos de pro-
dução da vida. Sendo o trabalho essen-
cial para a sobrevivência e também fator 
de reconhecimento e inclusão social, 
ele marca a identidade das pessoas e 
está diretamente ligado à qualidade de 
vida.
A temática relaciona-se diretamente com 
a Saúde do Homem na medida em que, se-
gundo a Politica Nacional de Atenção Inte-
gral à Saúde do Homem (PNAISH),
Uma questão apontada pelos homens 
para a não procura pelos serviços de 
saúde está ligada a sua posição de pro-
vedor. Alegam que o horário do funcio-
namento dos serviços coincide com a 
carga horária do trabalho. Não se pode 
negar que na preocupação masculina a 
atividade laboral tem um lugar desta-
cado, sobretudo em pessoas de baixa 
condição social o que reforça o papel 
historicamente atribuído ao homem de 

 18 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
ser responsável pelo sustento da famí-
lia. Ainda que isso possa se constituir, 
em muitos casos, uma barreira impor-
tante, há de se destacar que grande 
parte das mulheres, de todas as cate-
gorias socioeconômicas, faz hoje parte 
da força produtiva, inseridas no mer-
cado de trabalho, e nem por isso dei-
xam de procurar os serviços de saúde 
(BRASIL, 2012). 
A relação entre o trabalho e a saúde/doen-
ça constatada desde a Antiguidade, e exa-
cerbada a partir da Revolução Industrial, 
nem sempre se constituiu em foco de aten-
ção. No trabalho escravo ou no regime ser-
vil inexistia a preocupação em preservar a 
saúde dos que eram submetidos ao traba-
lho, pois este era considerado um castigo.
Para fazermos uma aproximação do campo 
da Saúde do Trabalhador, é necessário de-
finir qual conceito de saúde estamos falan-
do. O conceito de saúde proposto pela Or-
ganização Mundial da Saúde (OMS, 1947) 
entende-a como “um completo estado de 
bem-estar físico, mental e social e não ape-
nas a ausência de doenças”. Embora esse 
conceito já tenha sido aprimorado pela 
própria OMS, traz a noção de um estado de 
saúde estático, sem movimento, inerte, o 
que inviabilizava atingir um “completo es-
tado de bem-estar”. 
Ora, o homem é um ser vivo em constante 
movimento. É impossível pensar num es-
tado de bem-estar que desconsidere essa 
característica da natureza humana. Dejours 
(1986), ao criticar o conceito proposto pela 
OMS, destaca a contribuição da Fisiologia, 
da Psicossomática e da Psicopatologia do 
Trabalho para a compreensão do conceito 
de saúde.
A Fisiologia contribui com a noção de que 
o organismo humano vive em um esta-
do dinâmico, sendo importante observar 
que a condição de saúde depende deste 
movimento. O corpo deve ter movimen-
“Saúde do Trabalhador” é o termo usado para de-
marcar as ações de saúde relacionadas ao trabalho, 
e constitui um campo de estudo e atuação onde uma 
ampla gama de profissionais deve atuar de forma 
multidisciplinar. As relações entre trabalho e saúde 
têm sua origem e seguimento em cenários políticos 
e sociais (MENDES; DIAS, 1991). O processo saúde-
doença dos trabalhadores, como e por que adoecem 
e morrem, e como são organizadas e atendidas suas 
necessidades de saúde são construções sociais que 
mudam em cada sociedade e momento histórico 
(DIAS, 2000).
 19 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho

tos livres para o trabalho, evitando-se 
posturas rígidas e extremas. Aponta-se 
que existem relações substanciais entre 
corpo e mente, demonstrando que cada 
pessoa tem sua história, seu passa-
do, suas experiências, sua família, e que 
ter saúde significa ter também desejo e 
esperança. 
Importante! A Psicopatologia do Trabalho 
aponta o trabalho como um elemento funda-
mental para a saúde, sendo a organização do 
trabalho o aspecto de maior impacto no fun-
cionamento psíquico.
A redefinição do conceito de saúde da OMS 
proposta por Dejours (1986, p. 11) foi: 
A saúde para cada homem, mulher ou 
criança é ter meios de traçar um ca-
minho pessoal e original, em direção 
ao bem-estar físico, psíquico e social. 
Para o bem-estar físico é preciso a li-
berdade de regular as variações que 
aparecem no estado do organismo. O 
bem-estar psíquico é, simplesmente, a 
liberdade que é deixada ao desejo de 
cada um na organização de sua vida. 
O bem-estar social é a liberdade de se 
agir individual e coletivamente sobre a 
organização do trabalho, ou seja, so-
bre o conteúdo do trabalho, a divisão 
das tarefas, a divisão dos homens e as 
relações que mantêm entre si.
O conceito de saúde que pauta nosso en-
tendimento e as ações no Brasil, chama-
do conceito ampliado de saúde, conside-
ra que a saúde é influenciada por fatores 
condicionantes e determinantes, como 
o acesso à alimentação, condições de 
moradia, saneamento básico, meio am-
biente, condições de trabalho, renda, ní-
vel educacional, atividade física, meios de 
transporte, acesso ao lazer e aos bens e 
serviços essenciais para a vida (BRASIL, 
1990). Dessa forma, há uma visível supe-
ração do conceito da OMS, pois materia-
liza a saúde na vida das pessoas e coloca 
o trabalho em papel de destaque, valori-
zando assim a saúde do trabalhador. De-
vemos lembrar que a questão do homem 
no trabalho tem especificidades diferen-
tes em relação ao mundo do trabalho das 
mulheres. Isso demanda um enfoque dis-
tinto para a abordagem da saúde do tra-
balhador e da trabalhadora pelos profis-
sionais de saúde.
O trabalho também apresenta diferen-
tes definições. Adotamos a definição de 
Abbagnano (1999, p. 964), que afirma: 
o trabalho representa a atividade cujo 
fim é utilizar as coisas naturais ou mo-
dificar o ambiente e satisfazer as ne-
cessidades humanas. 
A capacidade humana de executar o tra-
balho foi chamada de força de trabalho. 

 20 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho

A força de trabalho enquanto capacida-
de de realizar trabalho físico e psíquico 
pelo homem adquiriu a dimensão de valor 
econômico e social. Enquanto valor eco-
nômico, a força de trabalho pode ser tro-
cada por salário e constituir-se em uma 
mercadoria.
Mercadoria > é tudo aquilo que é colocado no 
mercado para ser vendido.
Para Braverman (1980, p. 55), o trabalho, 
antes entendido como processo criador 
de valor útil para a sociedade, passou a 
ser produto de exploração do capital, com 
o objetivo direto de expansão de ganhos e 
criação do lucro.
No estudo da Saúde do Trabalhador é im-
portante compreendermos o processo de 
reestruturação produtiva que ocorreu ao 
longo dos últimos anos, e que gerou pro-
fundas transformações na forma de se tra-
balhar e de se viver.
A Reestruturação Produtiva ou capitalismo 
flexível foi um processo que se iniciou na 
segunda metade do século XX e que cor-
respondeu ao processo de flexibilização do 
trabalho na cadeia produtiva. Está associa-
da à Terceira Revolução Industrial, também 
chamada de Revolução Técnico-Científica 
Informacional, e ao processo de implemen-
tação do Neoliberalismo enquanto sistema 
econômico.
A flexibilização do trabalho > está relacionada 
à crise do sistema fordista/taylorista de produ-
ção. Assim, onde antes predominava o modo 
de produção caracterizado pelo trabalho repe-
titivo executado pelo trabalhador e o processo 
de produção em massa de mercadorias, agora 
se pratica a flexibilidade do trabalho, em que o 
mesmo empregado executa variadas funções 
no ambiente da empresa. 
Os objetivos da “Saúde no Trabalho” (OMS, 
1975) incluem o aumento da expectativa de 
vida, a minimização da incapacidade (do-
ença, dor, desconforto), a realização pesso-
al, a criatividade e a melhoria da capacida-
de mental e física. 
Mendes (2003), analisando a “Doença no Tra-
balho” inclui o estudo do agravo à saúde oca-
sionado pelo exercício cotidiano do trabalho. 
O conceito de doença transita entre o subjeti-
vo e o objetivo, entre o individual e o coletivo, 
entre o físico e o mental na história da huma-
nidade. Esse autor identifica duas dimensões 
das doenças: a primeira seria a dimensão in-
dividual, em que a ideia sobre o que é o dano 
ou agravo à saúde sofre influência de valores 
culturais, de acordo com o nível de sensibili-
dade e idiossincrasias de cada pessoa (o que 
pode ser agravo para um pode não ser para 
outro). A segunda é a dimensão populacional, 
que resulta das dimensões individuais. Essa 
dimensão é socialmente fundamentada na 
dinâmica de padrões culturais, econômicos, 
políticos, científicos e do conhecimento.

 21 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho

1.1 A evolução do conceito de saú-
de ocupacional: da medicina do 
trabalho à saúde do trabalhador
Veremos, a seguir, que a construção do 
conceito de saúde do trabalhador se dá 
por meio de um processo de amadureci-
mento do entendimento sobre os impac-
tos do trabalho na saúde do homem. Para 
descrever mais claramente por que o tra-
balho pode ser fonte de adoecimento, é 
necessário romper com pragmatismos té-
orico-práticos saturados e insuficientes. 
A este processo somam-se novas teorias 
que analisam o trabalho de maneira mais 
ampliada. 
1.1.1 A medicina do trabalho
A medicina do trabalho surge na Inglater-
ra, na primeira metade do século XIX, com 
a Revolução Industrial. Naquele momento, 
o consumo da força de trabalho, resultante 
da submissão dos trabalhadores a um pro-
cesso acelerado e desumano de produção, 
exigiu uma intervenção, sob pena de tornar 
inviável a sobrevivência e reprodução do 
próprio capitalismo (MENDES; DIAS, 1991).
Com o advento da Revolução Industrial, o 
trabalhador, “livre” para vender sua força 
de trabalho, tornou-se presa da máquina, 
de seus ritmos, do processo de produção 
que visava apenas à acumulação rápida de 
capital e ao máximo aproveitamento dos 
equipamentos, antes de se tornarem obso-
letos. As jornadas extenuantes em ambien-
tes extremamente desfavoráveis à saúde 
às quais se submetiam homens, mulheres 
e crianças eram incompatíveis com a vida. 
A aglomeração humana em espaços inade-
quados propiciava a proliferação de doen-
ças infecto-contagiosas, ao mesmo tem-
po em que a periculosidade das máquinas 
era responsável por mortes e mutilações 
(MINAYO-GOMEZ; THEDIM-COSTA, 1997).
Trabalhador “livre” > O termo livre, entre as-
pas, enfatiza uma liberdade condicionada: a 
única opção era submeter-se ao processo de 
trabalho tal qual estava configurado, não res-
tando a este homem a opção da escolha sobre 
como, onde e quando produzir.
As propostas de intervenção estatal nas 
indústrias expressavam uma sucessão 
de normatizações e legislações na Ingla-
terra. A presença de um médico no inte-
rior das unidades fabris representava um 
esforço em detectar os processos dano-
sos à saúde e um aliado do empresário 
para recuperação do trabalhador, visan-
do seu retorno à linha de produção. Ins-
taurava-se assim a Medicina do Traba-
lho, com suas características, em grande 
medida, mantidas até hoje: sob uma 
visão eminentemente biológica e indivi-
dual, no espaço restrito da fábrica, bus-
cam-se as causas das doenças e aciden-
tes (MINAYO-GOMEZ; THEDIM-COSTA, 
1997).
 22 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
A Medicina do Trabalho orienta-se pela uni-
causalidade: para cada doença, um agente 
causador. Transplantada para o trabalho, essa 
perspectiva isola riscos específicos e atua 
sobre suas consequências, medicalizando 
em função de sinais e sintomas associados a 
uma doença legalmente reconhecida. Como 
as doenças originadas no trabalho são per-
cebidas geralmente em estágios avançados, 
torna-se difícil identificar os processos que 
as geraram sob essa perspectiva reducio-
nista. Outro papel importante da Medicina do 
Trabalho é a detecção de doenças na seleção 
da força de trabalho, um recurso para impedir 
o recrutamento de indivíduos com problemas 
de saúde que possam ser percebidos, den-
tre tantas outras características (MINAYO- 
GOMEZ; THEDIM-COSTA, 1997).
A implantação de serviços de medicina do 
trabalho baseados no modelo da unicau-
salidade rapidamente se expandiu por ou-
tros países além da Inglaterra, assim como 
para os países capitalistas periféricos em 
função da transnacionalização das eco-
nomias. Esses serviços funcionavam para 
controlar e atrelar o trabalhador e seus fa-
miliares à indústria (MENDES; DIAS, 1991).
Figura 1 – A revolução industrial transformou as relações 
de trabalho
Fonte: Fotolia
A relação entre trabalho e doença foi esta-
belecida por Ramazzini, para 50 profissões, 
no clássico livro De Morbis Artificum Dia-
triba (“As Doenças dos Trabalhadores”), 
publicado em Módena, Itália, em 1700. Este 
médico viveu de 1633 a 1714, sendo consi-
derado o “Pai da Medicina do Trabalho”.
Uma contribuição da obra de Ramazzini foi 
sua visão sobre a determinação social da 
doença, mostrando a necessidade do estu-
do das relações entre o estado de saúde de 
uma dada população e suas condições ma-
teriais de vida, que são determinadas pela 
sua posição social e pelos os fatores que 
agem nos coletivos e nos indivíduos.
A abordagem utilizada por Ramazzini inclui 
a visita ao local de trabalho e entrevistas 
com trabalhadores. À abordagem clínico
-individual, Ramazzini agregou a prática da 
história ou anamnese ocupacional. Outraárea na qual esse médico deixou sua con-
tribuição foi a da sistematização e classifi-
cação das doenças segundo a natureza e o 
nexo com o trabalho.
As contribuições de Ramazzini continu-
am válidas até hoje, e são aprimoradas de 
acordo com o desenvolvimento de novas 
tecnologias de cuidado e diagnóstico.
 23 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
1.1.2 A saúde ocupacional
Historicamente, o capitalismo incorporou 
o trabalho da mulher, o infantil e o da ju-
ventude desde o primeiro ciclo da Revo-
lução Industrial, na Inglaterra, como for-
ma de ampliar a exploração, e aumentar a 
mais-valia, o que aumenta os ganhos dos 
empresários. No início do século XX são 
implantadas modificações dos processos 
de trabalho para ampliação da mais-valia, 
como o fordismo e a administração cientí-
fica do trabalho de Taylor.
Mais-valia > é uma expressão criada por Karl 
Marx no âmbito da Economia, e significa parte 
do valor da força de trabalho assalariada e que 
não é remunerado pelo patrão.
Fordismo > refere-se ao modelo de produção 
em massa de um produto, ou seja, uma linha 
de produção onde cada trabalhador realiza 
uma ação específica. O Fordismo foi criado 
pelo norte-americano Henry Ford, em 1914, 
revolucionando o mercado automobilístico e 
industrial da época.
O fordismo, como maneira de organização 
do trabalho, surge em 1914, quando Henry 
Ford introduz a jornada de oito horas a cin-
co dólares de recompensa para o trabalho 
em linha de montagem, e se expande pelo 
setor produtivo. Apresentando momentos 
de diferenciação em seu desenvolvimento, 
pode-se dizer queo fordismo atinge a ma-
turidade no período imediato ao pós-guer-
ra, persistindo até 1973. Sobre esse perío-
do, Antunes (1995) chama a atenção para o 
seguinte: 
O fordismo pode ser compreendido, 
fundamentalmente, como a forma pela 
qual a indústria e o processo de traba-
lho consolidaram-se ao longo deste 
século [...], e cujos elementos consti-
tutivos básicos eram dados pela pro-
dução em massa, através da linha de 
montagem e de produtos mais homo-
gêneos; através do controle do tem-
po e movimentos, pelo cronômetro 
taylorista e produção em série fordista 
(ANTUNES, 1995, p. 17).
O fordismo e o taylorismo, que predomina-
ram em grande parte da indústria capitalis-
ta, apresentam ainda como característica a 
separação sistemática entre quem pensa e 
quem executa o trabalho. Dessa forma, ob-
servam-se tarefas parceladas, repetitivas e 
alienantes, que caracterizam o advento da 
organização funcional da indústria (seto-
res, gerências e departamentos) (ANTUNES, 
1995). Estruturou-se, enfim, o novo sistema 
de reprodução da força do trabalho com a 
sociedade do consumo em massa.
Taylorismo > tem como base a fragmentação 
do processo de trabalho, em que cada traba-
lhador realiza uma atividade específica no 
sistema industrial. A organização passa a ser 
sistematizada e o tempo de produção passa a 
ser cronometrado.
A tecnologia industrial evoluiu de forma 
acelerada com o desenvolvimento de no-



 24 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
vos processos industriais, novos equipa-
mentos e com o rearranjo de uma nova 
divisão internacional do trabalho. Entre 
outros desdobramentos deste processo, 
a medicina do trabalho mostra-se insu-
ficiente para intervir sobre os proble-
mas de saúde causados pelos processos 
de produção. Cresce a insatisfação e o 
questionamento dos trabalhadores e dos 
empregadores, onerados pelos custos 
ocasionados pelos agravos à saúde dos 
trabalhadores.
Durante esse processo de expansão do 
capitalismo, o Estado desenvolve políti-
cas sociais e de emprego afinadas às exi-
gências de produtividade e lucratividade 
das empresas sob controle das mesmas. 
Essa intervenção regulacionista, longe de 
ser universal, é voltada unilateralmente 
para a força de trabalho economicamen-
te ativa e inserida no sistema produtivo 
(ABRAMIDES; CABRAL, 2003).
Considerando a intervenção do Estado no 
processo de expansão do capitalismo é que 
podemos definir o surgimento das ações 
de Saúde Ocupacional. Veja a seguir como 
isso foi definido pelo Comitê Misto da OIT
-OMS, em 1950.
A Saúde Ocupacional surge dentro das 
grandes empresas com o traço da interdis-
ciplinaridade, com a organização de equipes 
multiprofissionais e com ênfase na higiene 
industrial, refletindo a origem histórica dos 
serviços médicos e o lugar de destaque da 
a promoção e manutenção do mais alto grau de bem-estar físico, mental e 
social em todas as ocupações; 
a prevenção, entre os trabalhadores, de distanciamentos da saúde causados 
pelas condições de trabalho; 
a proteção dos trabalhadores em seus empregos de riscos resultantes de 
fatores adversos para a saúde; 
a colocação e manutenção do trabalhador num ambiente de trabalho adap-
tado aos seus equipamentos fisiológicos.
Para resumir: a adaptação do trabalho ao homem e cada homem à sua 
atividade (MENDES; DIAS, 1991).
A SAÚDE OCUPACIONAL DEVERIA TER 
COMO FOCO: 
 25 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
indústria nos países desenvolvidos. A ra-
cionalidade científica da atuação multipro-
fissional e a estratégia de intervir nos locais 
de trabalho, com a finalidade de controlar os 
riscos ambientais, refletem a influência das 
escolas de saúde pública. A saúde ocupa-
cional foi compreendida por Mendes e Dias 
(1991) como uma atividade de Saúde Públi-
ca dirigida para uma comunidade de traba-
lhadores, sejam os empregados de um es-
tabelecimento, ou os trabalhadores de uma 
região ou de uma categoria profissional.
A Saúde Ocupacional avança então como 
proposta interdisciplinar de atuação com 
base na Higiene Industrial, relacionando o 
ambiente de trabalho e seus efeitos sobre o 
corpo do trabalhador. Incorpora a teoria da 
multicausalidade, na qual um conjunto de 
fatores de risco é considerado na produção 
da doença, avaliada por meio da clínica mé-
dica e de indicadores ambientais e biológi-
cos de exposição e efeito. Utiliza dos funda-
mentos teóricos de Leavell & Clark, a partir 
do modelo da História Natural da Doença, 
simplificando em demasia o entendimento 
do processo saúde-doença como derivado 
da interação entre agente-hospedeiro-am-
biente. Essa concepção, no entanto, conti-
nua insuficiente para uma análise adequa-
da das relações entre o homem e o trabalho 
(MINAYO-GOMEZ; THEDIM-COSTA, 1997).
O enfoque da Saúde Ocupacional ampliou a 
atuação da medicina do trabalho, que ante-
riormente estava voltada basicamente para 
o tratamento dos doentes, passando a ava-
liar não apenas o indivíduo, mas o grupo de 
trabalhadores expostos e não expostos a 
agentes patogênicos, visando agir no nível 
de prevenção no ambiente de trabalho.
1.1.3 A saúde dos trabalhadores
A temática da saúde do trabalhador ganha 
reconhecimento nos países industrializa-
dos do mundo ocidental, notadamente Ale-
manha, França, Inglaterra, Estados Unidos e 
Itália, e se espalha mundo afora. Os anos da 
segunda metade da década de 1960 (tendo 
maio de 1968 como momento decisivo na 
compreensão desse período, pois foi o pe-
ríodo marcado pelas grandes mobilizações 
das lutas de massas populares, como o mo-
vimento operário e o movimento estudantil 
parisiense), marcados pelo questionamen-
to do sentido da vida, o valor da liberdade, 
o significado do trabalho na vida, o uso do 
corpo e a denúncia da corrosão dos valores. 
Esses questionamentos abalaram a con-
fiança no Estado e puseram em xequeo lado 
“sagrado” e “místico” do trabalho, cultivado 
nos pensamentos que aproximam o traba-
lho a questões religiosas e que se fazem ne-
cessários para a consolidação do modo ca-
pitalista de produção (MENDES; DIAS, 1991).
Esse processo ocorre associado ao avan-
ço dos movimentos sociais, que estimulam 
 26 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
maior participação dos trabalhadores nas 
questões de saúde e segurança no trabalho. 
Como resposta ao movimento social e dos 
trabalhadores, novas políticas sociais to-
man-se Leis, introduzindo significativas mu-
danças na legislação do trabalho e, em espe-
cial, nos aspectos de saúde e segurança. Na 
Itália, a Lei no 300, de 20 de maio de 1970, co-
nhecida como “Estatuto dos Trabalhadores”, 
incorpora princípios fundamentais da agenda 
do movimento de trabalhadores, tais como a 
não delegação da vigilância da saúde ao Es-
tado, a não monetização do risco, a validação 
do saber dos trabalhadores e a realização de 
estudos e investigações independentes, o 
acompanhamento da fiscalização e o melho-
ramento das condições e dos ambientes de 
trabalho (MENDES; DIAS, 1991).
Toda esta nova legislação tem como pila-
res comuns o reconhecimento do exercício 
de direitos fundamentais dos trabalhado-
res, descritos a seguir:
Quadro 1 – Direitos fundamentais dos trabalhadores
O direito ao conhecimento sobre a nature-
za dos riscos, as medidas de controle que 
estão sendo adotadas pelo empregador, os 
resultados de exames médicos e de avalia-
ções ambientais.
O direito à recusa ao trabalho em condi-
ções de risco à saúde. 
O direito à consulta prévia aos trabalhado-
res, pelos empregadores, antes de mudan-
ças de tecnologia, métodos, processos e 
formas de organização do trabalho.
O estabelecimento de mecanismos de par-
ticipação, desde a escolha de tecnologias 
até a escolha dos profissionais que irão 
atuar nos serviços de saúde voltados aos 
trabalhadores (MENDES; DIAS, 1991).
Fonte: Do autor (2016).
Ao lado deste processo de questionamen-
to da participação do Estado, na década de 
1970 ocorrem profundas mudanças nos 
processos de trabalho, como o início das 
terceirizações nos países desenvolvidos, 
o declínio do setor de produção industrial 
e o crescimento do setor de serviços com 
intensa mudança no perfil dos trabalhado-
res e nos processos de trabalho.
A saúde do trabalhador ampliou as con-
cepções hegemônicas no campo do traba-
lho e saúde e estabeleceu um vínculo cau-
sal entre a doença e um agente específico 
(medicina do trabalho), ou entre a doença e 
um grupo de fatores de risco presentes no 
ambiente de trabalho (saúde ocupacional) 
(MENDES; DIAS, 1991).
Com a nova visão do caráter histórico do 
processo saúde-doença o conceito da 
saúde ocupacional passou a ser criticado, 
pois o trabalho era visto apenas como um 
problema ambiental, em que o trabalhador 
está exposto a agentes físicos, químicos, 
biológicos e psicológicos. Laurell (1981) 
chama a atenção para o fato de que o tra-
 27 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
balho, enquanto categoria social, deve ser 
assim tratado em suas múltiplas determi-
nações, e não só como um fator de risco 
ambiental.
Já a saúde do trabalhador considera o tra-
balho, enquanto organizador da vida social, 
como o espaço de submissão do trabalhador 
pelo empregador, mas também de resistên-
cia e construção de novas perspectivas que 
colocam a qualidade de vida em evidência. 
Nessa perspectiva, os trabalhadores assu-
mem o papel de atores, de sujeitos capazes 
de pensar e de se pensarem, produzindo uma 
experiência própria no conjunto das represen-
tações da sociedade (MENDES; DIAS, 1991).
Um dos desafios atuais da saúde dos tra-
balhadores é a integração das ações com 
a Saúde Ambiental. A saúde ambiental se 
desenvolveu na saúde coletiva impulsio-
nada pelo controle de fatores biológicos e 
pelo desenvolvimento da engenharia sani-
tária e ambiental em torno de tecnologias 
de intervenção sobre fatores de risco am-
biental, que cada vez mais estão presentes 
na sociedade.
A Saúde do Trabalhador é, por natureza, 
um campo interdisciplinar e multiprofissio-
nal. As análises dos processos de trabalho, 
dada a sua complexidade, tornam a interdis-
ciplinaridade uma exigência intrínseca que 
necessita preservar a autonomia e a profun-
didade do conhecimento de cada profissio-
nal envolvido, bem como articular os frag-
mentos dos resultados das informações, 
ultrapassando e ampliando a compreensão 
pluridimensional dos objetos.
Entre as várias áreas de conhecimento e es-
pecialidades envolvidas na saúde do traba-
lhador, destacam-se as ciências sociais e hu-
manas (como psicologia, assistência social e 
sociologia), as ciências biomédicas (como a 
clínica e suas especialidades, a medicina do 
trabalho e a toxicologia), e áreas tecnológicas 
(como a higiene e engenharia de segurança 
do trabalho, a engenharia de produção e a er-
gonomia) (PORTO; ALMEIDA, 2002).
1.2 Aspectos da legislação brasileira e 
políticas públicas em saúde do tra-
balhador
A legislação em Saúde do Trabalhador no 
Brasil é ampla e sua evolução se deu por 
meio das conquistas históricas dos trabalha-
dores brasileiros. Evidentemente, o decurso 
histórico da construção do campo da saúde 
do trabalhador tem um papel fundamental no 
avanço da legislação, pois os fatos históri-
cos, acordos e tratados internacionais reper-
cutem positivamente, uma vez que os países 
se responsabilizam por cumprir o que foi de-
terminado nesses documentos. 
 28 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
1943 | Consolidação das Leis de Trabalho
• Direitos trabalhistas como: férias remuneradas, 13º salário, seguro desemprego, licença maternidade;
• Segurança no Trabalho;
• Medicina do Trabalho.
1975 | Lei nº 6.259 de 30 de outubro de 1975
• Notificação compulsória de várias doenças, incluindo os acidentes de trabalho.
1978 | Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego
• Notificação compulsória de várias doenças, incluindo os acidentes de trabalho.
1943
Consolidação das 
Leis de Trabalho
1975
Lei nº 6.259 de 30
 de outubro de 1975
1978
Normas Regulamentadoras 
do Ministério do Trabalho 
e Emprego
1988
Art. 200 
Constituição Federal
1990
Lei nº 8.080
1991
Lei nº 8.213
1993
Lei nº 8.689
1998
Portaria 
nº 3.908/GM
2012
Política Nacional de Saúde do 
Trabalhador e da Trabalhadora 
(Portaria nº 1.823)
2005
Portaria 
nº 2.427/MS
2002
RENAST
As diretrizes básicas que orientam as leis e políticas públicas 
em Saúde do Trabalhador no Brasil são as seguintes:
 29 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
1988 | Art. 200 Constituição Federal
• Coloca o SUS como responsável pela vigilância em Saúde do 
Trabalhador;
• Torna o SUS corresponsável pela proteção ao meio ambiente e ao 
ambiente de trabalho.
1990 | Lei Federal nº 8.080
SUS deve:
• atuar na proteção dos trabalhadores;
• recuperação e reabilitação da ST. 
1991 | Lei Federal nº 8.213
• Define o que é o acidente de trabalho;
• Responsabiliza as empresas pela adoção de medidas de segu-
rança aos trabalhadores; 
• Define acidente de trabalho, doença do trabalho e doença profis-
sional.
1993 | Lei Federal nº 8.689
• Extingue o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdên-
cia Social.
1998 | Portaria nº 3.908/GM
• Regulamenta os procedimentos para orientar e instrumentalizar 
as ações do SUS em ST.
2002 | RENAST
• Cria a Rede Nacional de AtençãoIntegral à Saúde do Traba-
lhador.
2005 | Portaria nº 2.427/MS
• Amplia a rede dos Centros de Referência em Saúde do Traba-
lhador; 
• Enfatiza a importância das ações de vigilância e o envolvi-
mento da Atenção Básica à saúde do Trabalhador.
2012 | Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da
 Trabalhadora (Portaria nº 1.823)
• Consolida a proposta política que deve ser adotada como 
ordenadora do cuidado à saúde da população trabalhadora.
 30 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
A Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) 
foi instituída no governo de Getúlio Vargas 
pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 
1943. Desde então, sofreu várias modifica-
ções e ajustes como resultado de conquis-
tas sociais dos trabalhadores, mas também 
com alguns retrocessos. 
A CLT compõe o conjunto de normas que 
regulam as relações individuais e coletivas 
de trabalho no Brasil. Dentre essas regula-
ções estão aquelas relativas à segurança 
e medicina do trabalho (redação alterada 
pela Lei no 6514/1977).
Em 1975, a Lei no 6.259 institui as ações de 
Vigilância Epidemiológica no Programa Na-
cional de Imunizações e estabelece normas 
relativas à notificação compulsória de do-
enças e dos acidentes de trabalho.
Aprovadas pela Portaria no 3.214/1978, as 
Normas Regulamentadoras do Ministério do 
Trabalho e Emprego constituem um conjunto 
de normatizações técnicas que objetivam a 
proteção e segurança dos trabalhadores em 
diversos contextos produtivos e atividades 
específicas. Regulam, também, as penalida-
des que podem ser impostas aos emprega-
dores que descumprirem estas normas.
As Normas Regulamentadoras (NR) determi-
nam a adoção de medidas de segurança e de 
medicina do trabalho. Estipuladas pelo Mi-
nistério do Trabalho e Emprego, e devem ser 
cumpridas por empresas privadas, públicas 
e órgãos públicos da administração direta e 
indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes 
Legislativo e Judiciário que possuam empre-
gados regidos pela Consolidação das Leis do 
Trabalho (CLT). Atualmente, existem 36 NRs 
que tratam de diversos assuntos relaciona-
dos ao trabalho. O processo de criação de 
uma NR depende, assim como a saúde do 
trabalhador, dos avanços e mudanças expe-
rimentadas no trabalho ao longo do tempo. 
Para conhecer todas as NRs existentes, acesse 
a página do Ministério do Trabalho e Emprego 
no endereço a seguir: <http://www.mte.gov.br/
seguranca-e-saude-no-trabalho/normatiza-
cao/normas-regulamentadoras>.
Algumas NRs merecem destaque: podem 
ser aplicadas a um grande contingente de 
trabalhadores no país, independente da si-
tuação produtiva ou função que exerçam.
São elas:
• NR 4: Serviços Especializados em Enge-
nharia de Segurança e em Medicina do 
Trabalho;
• NR 5: Comissão Interna de Prevenção de 
Acidentes (CIPA);
• NR 7: Programa de Controle Médico de 
Saúde Ocupacional;
• NR 9: Programa de Prevenção de Riscos 
Ambientais;
• NR 15: Atividades e Operações Insalubres;
• NR 16: Atividades e Operações Perigosas;
• NR 17: Ergonomia.

 31 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
Depois de um período de continuidade da 
ditadura Militar e de poucas novidades no 
cenário brasileiro a favor da classe traba-
lhadora inicia o período de redemocratiza-
ção, que culminou com a Constituição da 
República Federativa do Brasil, de 1988. 
Esse momento histórico e político do país 
foi marcado por uma forte reorganização 
dos movimentos sociais dos trabalhado-
res, que com auxílio dos deputados garan-
tiram, entre outras coisas, o artigo 200 da 
Constituição, que assegura a responsabi-
lização Sistema Único de Saúde com re-
lação à saúde do trabalhador. Consta no 
artigo 200 que 
compete, além de outras atribuições, 
nos termos da lei... II – executar as 
ações de vigilância sanitária e epide-
miológica, bem como as de saúde do 
trabalhador; ... VIII – colaborar na pro-
teção do meio ambiente, nele compre-
endido o do trabalho.
Ainda como resultante das mobilizações do 
período da redemocratização, a Lei no 8.080 
de 19 de setembro de 1990 dispõe sobre as 
condições para a promoção, proteção e re-
cuperação da saúde, a organização e o fun-
cionamento dos serviços correspondentes.
As atribuições do SUS em relação à Saúde 
do Trabalhador são estabelecidas na Lei no 
8.080/1990, ao definir no Art. 6o como um 
conjunto de atividades que se destina, 
através de ações de vigilância epide-
miológica e sanitária, à promoção e 
proteção dos trabalhadores, assim 
como visa à recuperação e reabilita-
ção da saúde dos trabalhadores sub-
metidos aos riscos e agravos advindos 
das condições de trabalho.
De outra forma, seriam:
• Ações de vigilância Sanitária em Saúde 
do Trabalhador;
• Promoção e Proteção à Saúde do Traba-
lhador;
• Recuperação e Reabilitação;
• Estudos e pesquisas em Saúde do Tra-
balhador;
• Informações ao trabalhador.
Em 1991 foi promulgada a Lei no 8.213, que 
trata dos benefícios da Previdência Social 
e define o que é o acidente de trabalho. Re-
centemente, alguns trechos desta lei foram 
alterados pela Lei Complementar no 150, de 
junho de 2015. Essa lei responsabiliza as 
empresas pela adoção de medidas indivi-
duais e coletivas de proteção e segurança 
aos trabalhadores e define o que a legisla-
ção considera como acidente de trabalho, 
doença do trabalho e doença profissional.
Mantendo-se na lógica da implementação 
do SUS e extinção dos serviços que antes 
ocupavam o seu lugar, a Lei no 8.689 de 1993 
extingue o Instituto Nacional de Assistência 


 32 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho

Médica da Previdência Social (Inamps). Des-
sa forma, a Medicina do Trabalho, hegemôni-
ca até então, perde força, pois o Inamps atu-
ava sob a lógica da relação de causalidade.
Figura 2 – Medidas de segurança devem ser obrigatoria-
mente adotadas
Fonte: Fotolia.
Mais recente, em 1998, a Portaria no 3.908/
GM propõe uma regulamentação impor-
tante, pois estabelece procedimentos para 
orientar e instrumentalizar as ações e ser-
viços de Saúde do Trabalhador no Sistema 
Único de Saúde (SUS), o que define e orien-
ta de forma mais concreta a atuação no 
SUS nesse setor.
Mas é apenas em 2002 que se institui legal-
mente a Rede Nacional de Atenção Integral 
à Saúde do Trabalhador (Renast) pela Por-
taria GM/MS no 1.679, de 19 de setembro 
de 2002, e redefinida pela Portaria no 2.728/
GM, de 11 de novembro de 2009. Considera-
da a principal estratégia para garantir uma 
estrutura melhorada de Atenção Integral à 
Saúde dos Trabalhadores e Trabalhadoras, 
possui como pressuposto o trabalho como 
determinante no processo saúde-doença.
A Renast é financiada por recursos do Fun-
do Nacional de Saúde, atuando desde 2003 
como estratégia principal para implemen-
tação da Política Nacional de Saúde do 
Trabalhador no SUS. A Renast está estru-
turada partir dos Centros de Referência em 
Saúde do Trabalhador (Cerest). No ano de 
2005, como resultado das deliberações da 
3a Conferência Nacional de Saúde do Tra-
balhador, foi publicada a Portaria no 2.427 
do Ministério da Saúde, que ampliou a rede 
dos Centros de Referência em Saúde do 
Trabalhador e enfatizou a importância das 
ações de vigilância e o envolvimento da 
Atenção Básica (AB).
Importante! Pinheiro et al. (2012) destacam 
que os Cerest têm a função de oferecer suporte 
técnico e científico às equipes de saúde, mas 
também devem ser centros disseminadores da 
ideia de centralidadedo trabalho na vida das 
pessoas, e de como este interfere na produção 
social de saúde e doença nos níveis de atenção 
e vigilância em saúde.
Completando um quadro de grandes avan-
ços legais na Saúde do Trabalhador, a Po-
lítica Nacional de Saúde do Trabalhador e 
da Trabalhadora foi instituída, após mais de 
 33 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
uma década de debates, por meio da Por-
taria no 1.823/2012 do Ministério da Saúde, 
e tem como finalidade definir os princípios, 
as diretrizes e as estratégias a serem obser-
vados pelas três esferas de gestão do SUS 
para o desenvolvimento da Atenção Integral 
à Saúde do Trabalhador, com ênfase na vigi-
lância, promoção e proteção da saúde dos 
trabalhadores e redução da morbimortalida-
de decorrente dos modelos de desenvolvi-
mento e dos processos produtivos.
Nesse longo processo histórico marcado 
por avanços do ponto de vista da legisla-
ção em defesa da saúde dos trabalhadores 
e das trabalhadoras do país, precisamos fi-
car atentos para a necessidade de lutas e 
mobilizações para que a atual Política Na-
cional de Saúde do Trabalhador, amparada 
pela Renast e Cerests, não fique apenas no 
papel. É preciso um adequado financiamen-
to dessa Política e da cooperação de todos 
os entes governamentais, empresas e so-
ciedade civil organizada. A vigilância sobre 
as conquistas históricas dos trabalhadores 
deve ser acentuada, pois muitas movimen-
tações em sentido contrário à ampliação 
ou manutenção dos direitos dos trabalha-
dores vêm acontecendo. 
Exemplo disso foi a promulgação da Lei no 
13.134, de 16 de junho de 2015, que restringe 
o acesso e o tempo de benefício dos traba-
lhadores ao seguro-desemprego. Com essa 
nova lei, o acesso ao seguro desemprego foi 
dificultado pela exigência de maior perma-
nência do trabalhador no mesmo emprego 
com carteira assinada para ter direito a este 
benefício, no caso de uma demissão. Ora, 
sabemos que a permanência do trabalhador 
no emprego depende também da realidade 
econômica do país. Nesse sentido, a altera-
ção nesta regra pode fazer com o que o di-
reito ao seguro desemprego vire moeda de 
troca para se manter empregado, aceitando, 
inclusive, redução de salário.
Outro direito dos trabalhadores que vem 
sofrendo constantes ataques é a Previdên-
cia Social Brasileira, vítima de um falacioso 
déficit arrecadatório que justificaria cortes 
nos benefícios e na redução dos direitos 
previdenciários.
1.3 Riscos à saúde do trabalhador
Para Assunção e Lima (2001), o risco é par-
te inerente da atividade humana e somente 
é possível avançar no domínio sobre a na-
tureza quando se assume uma parcela de 
risco. O risco seria, então, o tributo que se 
paga para o desenvolvimento da humani-
dade e a busca por melhores níveis de con-
forto e segurança. Entretanto, este argu-
mento abstrato não justifica a distribuição 
desigual dos riscos e das responsabilida-
des entre trabalhadores e empregadores, 
e não serve de suporte à ideia de que os 
acidentes ocorrem em nome do progresso 
econômico.
 34 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
As ações de vigilância em saúde do traba-
lhador devem considerar os diversos riscos 
ambientais e organizacionais a que estão 
expostos os trabalhadores. Estes riscos 
são influenciados pelas características dos 
processos produtivos e pela natureza da 
atividade de trabalho desenvolvida. 
Um trabalhador de uma linha de monta-
gem de automóveis pode estar exposto 
a alguns riscos semelhantes aos que se 
expõe um trabalhador de um frigorífico. 
Para exemplificar esta comparação, bas-
ta considerar o ruído no ambiente de tra-
balho, as posturas extremas e as sobre-
cargas físicas que podem estar presentes 
em ambas as situações.
Os riscos no ambiente de trabalho são 
classificados em cinco tipos, com base na 
Portaria no 3.214 do Ministério do Trabalho 
do Brasil, de 1978. Observe no esquemático 
a seguir.
Agora que já sabemos um pouco mais so-
bre os possíveis riscos à saúde dos tra-
balhadores, é preciso considerar que a 
natureza do trabalho varia bastante en-
tre as duas atividades do exemplo citado 
anteriormente, e isso implica, também, 
na existência de riscos específicos para 
cada atividade. Para exemplificar, há o 
A. Riscos de acidentes:
 Qualquer fator que coloque o trabalhador em situação vulnerável e possa afetar sua integridade 
e seu bem-estar físico e psíquico. Exemplos: as máquinas e equipamentos sem proteção, proba-
bilidade de incêndio e explosão, arranjo físico inadequado, armazenamento inadequado etc.
B. Riscos ergonômicos:
 Fator que possa interferir nas características psicofisiológicas do trabalhador, causando des-
conforto ou afetando sua saúde. São exemplos de risco ergonômico: o levantamento de peso, 
ritmo excessivo de trabalho, monotonia, repetitividade, postura inadequada de trabalho etc.
C. Riscos físicos:
 Consideram-se agentes de risco físico as diversas formas de energia a que possam estar ex-
postos os trabalhadores, tais como: ruído, calor, frio, pressão, umidade, radiações ionizantes e 
não-ionizantes, vibração etc.
D. Riscos químicos:
 Consideram-se agentes de risco químico as substâncias, compostos ou produtos que possam 
penetrar no organismo do trabalhador pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, ga-
ses, neblinas, névoas ou vapores; ou que seja de exposição, pela natureza da atividade, e possa 
ter contato ou ser absorvido pelo organismo através da pele ou por ingestão.
E. Riscos biológicos:
 Consideram-se como agentes de risco biológico as bactérias, vírus, fungos, parasitas, entre 
outros.
 35 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
risco de cortes e os efeitos provocados 
pela baixa temperatura do ambiente no 
trabalho em frigoríficos, que podem não 
estar presentes no trabalho na indústria 
automobilística.
Na mesma linha de raciocínio, é impor-
tante considerar a interação entre os ris-
cos, mesmo porque, na maioria das vezes, 
essa interação pode passar despercebida 
aos olhos de um observador menos aten-
to. A avaliação dos riscos relacionados 
ao trabalho deve transpor de relação uni-
causal entre o risco e o seu efeito direto. 
Nem todos os riscos podem ser identifi-
cados, quantificados e localizados fisica-
mente no ambiente de trabalho. Observe-
se, por exemplo, os riscos psicossociais. 
Eles não são diretamente mensuráveis. 
Sua identificação depende de uma análi-
se que considere o conteúdo do trabalho 
das pessoas (o que elas fazem e como 
elas fazem).
Figura 3 – Risco psicossocial 
Fonte: Fotolia.
A lógica tradicional da cultura de seguran-
ça se ancora na premissa de que existem 
relações unicausais entre os riscos e as 
consequências advindas da adoção dos 
chamados “atos inseguros”. É como se os 
acidentes de trabalho ocorressem pela fal-
ta de consciência do risco, na maioria das 
vezes por parte do trabalhador. Com base 
nessa lógica, se um trabalhador deixa de 
usar um equipamento de proteção indi-
vidual (EPI), ele estaria assumindo o ris-
co de sofrer algum evento adverso, como 
um acidente de trabalho. Essa concepção 
apresenta profundas limitações, uma vez 
que desconsidera as causas objetivas e as 
circunstâncias dinâmicas que levaram o 
trabalhador a adotar este comportamento.
Outro conjunto de riscos a que se tem dado 
bastante importância são os riscos psi-
cossociais. Há algumas décadas, a Orga-
nização Internacional do Trabalho (OIT) e 
a Organização Mundial da Saúde (OMS) já 
reconhecema importância do controle dos 
riscos psicossociais do trabalho como for-
ma de cuidar da saúde dos trabalhadores. 
Uma variedade de estressores, incluindo 
os relacionados ao ambiente de trabalho, 
conteúdo do trabalho e condições organi-
zacionais, interage com as características 
pessoais dos trabalhadores, sua cultura, 
 36 
UN1 Saúde do trabalhador Homens e atenção à saúde no trabalho
seus hábitos e suas condições de vida, in-
fluenciando seu desempenho no trabalho, 
nível de satisfação e condição de saúde 
(FISCHER et al., 1998; ASSUNÇÃO, 2003).
Como explica Alvarez et al. (2007), para 
além dos riscos à saúde, no que pese o 
processo de reestruturação produtiva das 
empresas de uma forma geral, a busca pela 
otimização da produção, redução de cus-
tos e melhoria dos resultados e terceiriza-
ção de serviços pode contribuir para a pre-
carização do trabalho e colocar em risco a 
coesão dos trabalhadores.
Para Abrahão e Pinho (2002), esse processo 
de reestruturação produtiva e organizacio-
nal aponta para um esgotamento do mode-
lo taylorista-fordista, no qual a tendência 
será o estabelecimento de novos cenários 
produtivos, identificados pelas transfor-
mações nas estratégias empresariais, que 
alteram as formas de organização, ges-
tão e controle do trabalho, e resultam em 
novas formas de competitividade entre os 
trabalhadores.
As intenções do campo da saúde do tra-
balhador se pautam na concepção de que 
a saúde no trabalho não significa ape-
nas a ausência de doenças ocupacionais 
e acidentes de trabalho, mas também, 
e principalmente, a transformação dos 
processos de trabalho em seus diversos 
aspectos, na direção de buscar não ape-
nas a eliminação de riscos pontuais que 
podem ocasionar agravos à saúde, e sim 
outra inserção do trabalhador no proces-
so produtivo, que seja potencializadora 
de saúde e de vida.
1.4 Recomendação de leituras 
complementares
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria no 
1.823, de 23 de agosto de 2012. Institui a Po-
lítica Nacional de Saú de do Trabalhador e da 
Trabalhadora. Diário Oficial da União. Brasília, 
n. 165, p. 46, 24 ago. 2012. Seção 1. Dispo-
nível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
sau delegis/gm/2012/prt1823_23_08_2012.
html>.
DETONI. Priscila. NARDI, Henrique Caeta-
no. Seguindo barragens: a itinerância de 
um contingente masculino. Fazendo Gê-
nero 9 - Diásporas, Diversidades, Desloca-
mentos. ago. 2010. Disponível em: <http://
www.fazendogenero.ufsc.br/9/resources/
anais/1278276065_ ARQUIVO_Trabalho-
completofazendoogenero.pdf> 

UN2
Doenças e acidentes relacionados 
ao trabalho
 38 
Homens e atenção à saúde no trabalho
 39  39 
UN2 Doenças e acidentes relacionados ao trabalho
As doenças relacionadas ao trabalho e os 
acidentes de trabalho sempre tiveram des-
taque no campo da saúde do trabalhador, 
principalmente por conta do alto gasto 
previdenciário direcionado ao pagamento 
de auxílios, aposentadorias e pensões ad-
vindas da ocorrência destes eventos. Além 
disso, há que se considerar que tanto os 
acidentes quanto as doenças diminuem a 
capacidade de trabalho do homem, poden-
do provocar perdas de ordem funcional, 
como restrições de movimentos, paralisias 
e desajustes orgânicos, e, no caso dos aci-
dentes de trabalho, também perdas de or-
dem material, como danos às instalações 
ou ao patrimônio das empresas.
A legislação brasileira caracteriza o aci-
dente de trabalho como 
o que ocorre pelo exercício do traba-
lho a serviço de empresa ou de empre-
gador doméstico ou pelo exercício do 
trabalho dos segurados referidos no 
inciso VII do art. 11 desta Lei, provo-
cando lesão corporal ou perturbação 
funcional que cause a morte ou a per-
da ou redução, permanente ou tempo-
rária, da capacidade para o trabalho 
(Art. 19 da Lei no 8.213 de 24 de julho 
de 1991, com redação dada pela Lei 
Complementar no 150 de 1o de junho 
de 2015).
A definição sobre a doença, dada pela mes-
ma lei, aparece subordinada à definição de 
acidente de trabalho e está caracterizada 
de duas maneiras (Art. 20 da Lei no 8.213 
de 24 de julho de 1991, incisos I e II):
Doença profissional (doença ocupacional), 
assim entendida a produzida ou desenca-
deada pelo exercício do trabalho peculiar a 
determinada atividade e constante da res-
pectiva relação elaborada pelo Ministério 
do Trabalho e da Previdência Social;

Homens e atenção à saúde no trabalho
 40  40 
UN2 Doenças e acidentes relacionados ao trabalho
Doença do trabalho, assim entendida a 
adquirida ou desencadeada em função de 
condições especiais em que o trabalho 
é realizado e com ele se relacione direta- 
mente [...].
Para fins de descrição e caracterização 
posteriores, padronizaremos a diferencia-
ção destes dois grupos de doenças em 
concordância com a denominação adotada 
pela legislação brasileira vigente, embora 
saibamos que podem ocorrer variações de 
terminologia na literatura.
Importante! As definições previstas em lei so-
bre os acidentes e doenças do trabalho, embo-
ra necessárias para dar ordenamento às deci-
sões jurídicas e previdenciárias, não excluem 
a possibilidade de ampliarmos o entendimento 
sobre o tema. 
Para Almeida e Vilela (2010), os acidentes 
de trabalho e as doenças relacionadas ao 
trabalho são eventos que se relacionam 
com a situação imediata de trabalho, ou 
seja, com as condições com que o trabalho 
é realizado (maquinários, tarefas, dispositi-
vos técnicos e materiais) e também com as 
relações e a organização do trabalho (regi-
mes de contratação, terceirizações, divisão 
social do trabalho, esquemas de turno, so-
brecargas, fadiga e estresse).
Essa definição parece mais realista e me-
nos “estéril” que a definição da Legislação, 
uma vez que considera o peso dos fatores 
organizacionais e da realidade de trabalho 
na contextualização dos acidentes e doen-
ças. De qualquer maneira, admitimos, aqui, 
a ideia proposta por Areosa (2012) de que 
os acidentes de trabalho são eventos com-
plexos desencadeados por eventos com 
estreita relação entre si e capazes de pro-
duzir efeitos indesejados.
Conforme já vimos na Unidade 1, o interes-
se do homem pela compreensão do adoe-
cimento é antigo. No século XVI, em 1556, 
foi publicada a obra De Re Metallica (Da 
Natureza dos Metais), da autoria de Georg 
Bauer (em latim, Georgii Agricolae). Nesta 
obra dedicada à descrição sistematizada 
da arte da mineração, Bauer relata também 
os riscos desta atividade e os problemas de 
saúde a que estavam sujeitos os minera-
dores. Entretanto, ele culpabiliza o próprio 
trabalhador sobre a ocorrência da doença 
ou do acidente, atribuindo sua ocorrência a 
falta do autocuidado com a segurança. 
Figura 4– Atividades em mineradoras apresentavam risco 
para os trabalores
Fonte: Fotolia

Homens e atenção à saúde no trabalho
 41  41 
UN2 Doenças e acidentes relacionados ao trabalho
Já no século XVIII, no ano de 1700, o italia-
no Bernardino Ramazzini, considerado o Pai 
da Medicina do Trabalho, publicou sua obra 
clássica De Morbis Artificum Diatriba (As 
Doenças dos Trabalhadores), considerada 
a base da medicina ocupacional e traduzida 
para vários idiomas, entre eles, o português. 
No Brasil, essa obra é publicada e comercia-
lizada pela Fundação Jorge Duprat Figuei-
redo de Segurança e Medicina do Trabalho 
– Fundacentro, órgão de pesquisa ligado ao 
Ministério do Trabalho e Previdência Social.
Sobre o adoecimento da populaçãotraba-
lhadora, o Manual de Procedimentos para 
os Serviços de Saúde sobre doenças rela-
cionadas ao trabalho, publicado pelo Minis-
tério da Saúde (Brasil, 2001) adverte para o 
fato de que:
Os trabalhadores compartilham os 
perfis de adoecimento e morte da po-
pulação em geral, em função de sua 
idade, gênero, grupo social ou inser-
ção em um grupo específico de risco. 
Além disso, os trabalhadores podem 
adoecer ou morrer por causas rela-
cionadas ao trabalho, como conse-
quência da profissão que exercem 
ou exerceram, ou pelas condições 
adversas em que seu trabalho é ou 
foi realizado. Assim, o perfil de ado-
ecimento e morte dos trabalhado-
res resultará da confluência desses 
fatores [...].
Esses fatores podem ser sintetizados em 
quatro grupos de causas:
• Doenças comuns, aparentemente sem 
qualquer relação com o trabalho;
• Doenças comuns (crônico-degenera-
tivas, infecciosas, neoplásicas, trau-
máticas etc.) eventualmente modifi-
cadas no aumento da frequência de 
sua ocorrência ou na precocidade de 
seu surgimento em trabalhadores, sob 
determinadas condições de trabalho. 
A hipertensão arterial em motoristas 
de ônibus urbanos, nas grandes cida-
des, exemplifica esta possibilidade;
• Doenças comuns que têm o espectro de 
sua etiologia ampliado ou tornado mais 
complexo pelo trabalho. A asma brôn-
quica, a dermatite de contato alérgica, 
a perda auditiva induzida pelo ruído 
(ocupacional), doenças musculoesque-
léticas e alguns transtornos mentais 
exemplificam esta possibilidade, na 
qual, em decorrência do trabalho, so-
mam-se (efeito aditivo) ou multiplicam-
se (efeito sinérgico) as condições pro-
vocadoras ou desencadeadoras destes 
quadros nosológicos;
• Agravos à saúde específicos, tipifica-
dos pelos acidentes do trabalho e pe-
las doenças profissionais. A silicose e 
a asbestose exemplificam este grupo 
de agravos específicos (MENDES; DIAS, 
1999).

Homens e atenção à saúde no trabalho
 42  42 
UN2 Doenças e acidentes relacionados ao trabalho
Silicose > é uma doença que afeta os pulmões. 
É causada pela inalação da sílica (quartzo), 
poeira livre e cristalina, proveniente, principal-
mente, da exploração de rochas na indústria de 
mineração e de beneficiamento de minerais. 
Atualmente, a silicose é considerada a princi-
pal pneumoconiose no Brasil.
Asbestose > é uma doença pulmonar causada 
pela inalação dos asbestos, também conheci-
dos como amianto, uma fibra natural utilizada 
para a fabricação de telhas, pastilhas de freio, 
isolantes térmicos, materiais de vedação, en-
tre outros produtos. No Brasil existe uma po-
lêmica discussão sobre a proibição ou não da 
exploração do amianto, uma vez que ele é re-
conhecidamente carcinogênico.
É possível perceber que os três últimos 
grupos constituem o universo das do-
enças relacionadas ao trabalho. Evi-
dentemente, a natureza dessa relação 
varia entre os grupos: I, II e III, confor-
me apresentados no esquemático a se-
guir. Schilling (1984) propôs uma clas-
sificação dos grupos de doenças, de 
acordo com sua relação para com o 
trabalho:
No grupo I, para os agravos específicos es-
tão incluídas as doenças profissionais, para 
as quais se considera que o trabalho ou as 
condições em que ele é realizado consti-
tuem a causa direta para sua ocorrência. 
Neste caso, a relação causal é direta e ime-
diata. Admite-se que a eliminação do agente 
causal (por exemplo, a sílica ou os asbes-
tos) por medidas de controle ou substituição 
pode assegurar a prevenção do agravo e a 
erradicação da doença (BRASIL, 2001).
2.1 Doenças profissionais ou doenças 
ocupacionais
As doenças profissionais ou ocupacionais 
são aquelas desencadeadas pela ativida-
de de trabalho em condições específicas. 

Doenças em que o trabalho é causa necessária, tipificadas pelas doenças profissionais propriamente 
ditas, e pelas intoxicações agudas de origem ocupacional. Exemplos: intoxicação por chumbo, 
silicose e outras doenças profissionais legalmente reconhecidas.
Doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco, contributivo, mas não necessário, exemplifica-
das pelas doenças comuns, mais frequentes ou mais precoces em determinados grupos ocupacionais 
e para as quais o nexo causal é de natureza eminentemente epidemiológica. A hipertensão arterial e 
as neoplasias malignas (cânceres) em determinados grupos ocupacionais ou profissões constituem 
exemplo típico. Exemplos: doença coronariana, doenças do aparelho locomotor, câncer e varizes dos 
membros inferiores.
GRUPO I: 
GRUPO II: 
GRUPO III: 
Doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio latente ou agravador de doença já estabele-
cida ou preexistente, ou seja, com causa, tipificadas pelas doenças alérgicas de pele, respiratórias e 
pelos distúrbios mentais em determinados grupos ocupacionais ou profissões. Exemplo: bronquite 
crônica, dermatite de contato alérgica, asma, transtornos mentais.
Homens e atenção à saúde no trabalho
 43  43 
UN2 Doenças e acidentes relacionados ao trabalho
Têm como característica o fato de serem 
patognomônicas, ou seja, estritamente re-
lacionadas com a presença de um agente 
causador específico que determina o diag-
nóstico para a doença.
No mundo do trabalho, as doenças pro-
fissionais são responsáveis por enor-
mes sofrimentos e perdas, mas perma-
necem obscurecidas pelos acidentes de 
trabalho. Estimativas da Organização 
Internacional do Trabalho (OIT) sobre 
as doenças profissionais dão conta de 
que elas continuam sendo as principais 
causas das mortes relacionadas com o 
trabalho.
De um total de 2,34 milhões de aci-
dentes de trabalho mortais a cada 
ano, somente 321.000 se devem a 
acidentes. Os restantes 2,02 milhões 
de mortes são causadas por diversos 
tipos de enfermidades relacionadas 
com o trabalho, o que equivale a uma 
média diária de mais de 5.500 mor-
tes. Trata-se de um déficit inaceitá-
vel [...] A ausência de uma prevenção 
adequada das enfermidades profis-
sionais tem profundos efeitos negati-
vos não somente nos trabalhadores e 
suas famílias, mas também na socie-
dade devido ao enorme custo gerado, 
particularmente no que diz respeito à 
perda de produtividade e a sobrecar-
ga dos sistemas de seguridade social 
(OIT, 2013).
Esta entidade alerta, ainda, para um fato 
bastante conhecido do setor saúde: o de 
que a prevenção continua sendo a melhor 
alternativa para o combate às doenças pro-
fissionais.
Os exemplos clássicos destas doenças são 
as pneumoconioses, causadas pela exposi-
ção à sílica e ao amianto (asbesto).
Pneumoconiose > O termo é largamente utili-
zado quando se designa o grupo genérico de 
pneumopatias relacionadas etiologicamente à 
inalação de poeiras em ambientes de trabalho 
(CAPITANI; ALGRANTI, 2006).
As pneumoconioses talvez sejam o me-
lhor exemplo para analisarmos a atenção 
à saúde do homem com relação às do-
enças profissionais. Tomemos agora por 
base o protocolo de complexidade dife-
renciada para as pneumoconioses (BRA-
SIL, 2006). 
Nele se afirma que é de responsabilidade 
de toda a rede do SUS, incluindo a rede 
hospitalar, estar assim preparada para 
identificar os possíveis casos de pneu-
moconioses por meio de protocolo úni-
co do sistema de identificação, contem-
plando dois programas-chave do SUS: a 
Estratégia de Saúde da Família (ESF) e o 
Programa de Controle da Tuberculose.


Homens e atenção à saúde no trabalho
 44  44 
UN2 Doenças e acidentes relacionados ao trabalho
Quanto ao papel da ESF, o monitoramento 
e reconhecimentode possíveis casos de 
pneumoconioses, no âmbito do território 
das unidades de saúde, devem ser reali-
zados pelo Agente Comunitário de Saúde 
(ACS), subsidiado por sua equipe de saúde. 
Na mesma linha, a operacionalização do 
Programa de Controle da Tuberculose tam-
bém envolve um papel de destaque para o 
trabalho do ACS, uma vez que por conta de 
sua proximidade com as famílias este pro-
fissional da Rede pode identificar pessoas 
que apresentem tosse e expectoração por 
três semanas ou mais, por meio do exame 
bacteriológico. 
No caso de indivíduos com história de expo-
sição às poeiras minerais, o ACS deve estar 
atento para a possibilidade de associação 
de tuberculose com pneumoconiose, ou 
mesmo pneumoconiose isolada. Portan-
to, nesse caso deve encaminhar o pacien-
te para realização de cultura de escarro e 
Pneumoconiose Agente(s) Causador(es) Processo Anatomopatológico
Silicose Sílica livre Fibrose nodular
Asbestose Todas as fibras de asbesto ou amianto Fibrose difusa
Pneumoconiose do traba-
lhador do carvão (PTC)
Poeiras contendo carvão mine-
ral e vegetal
Deposição macular sem fibrose ou com 
diferenciados graus de fibrose
Silicatose Silicatos variados Fibrose difusa ou mista
Talcose Talco mineral (silicato) Fibrose nodular e/ou difusa
Pneumoconiose por poeira 
mista
Poeiras variadas contendo me-
nos que 7,5% de sílica livre
Fibrose nodular estrelada e/ou fibrose di-
fusa
Siderose Óxidos de ferro Deposição macular de óxido de ferro asso-ciado ou não com fibrose nodular e/ou difusa
Estanose Óxido de estanho Deposição macular sem fibrose
Baritose Sulfato de bário (barita) Deposição macular sem fibrose
Antimoniose Óxidos de antimônio ou Sb me-tálico Deposição macular sem fibrose
Pneumoconiose por rocha 
fosfática Poeira de rocha fosfática Deposição macular sem fibrose
Pneumoconiose por abrasi- 
vos
Carbeto de silício (SiC)
Óxido de Alumínio (Al2O3) Fibrose nodular e/ou difusa
Beriliose Berílio Granulomatose tipo sarcóide. Fibrose durante evolução crônica
Pneumopatia por metais 
duros
Poeiras de metais duros (ligas 
de tungstênio, titânio, Tântalo 
contendo Cobalto)
Pneumonia intersticial de células gigantes. 
Fibrose durante evolução
Pneumonites por hipersen-
sibilidade (alveolite alérgica 
extrínseca)
Poeiras orgânicas contendo 
fungos, proteínas de penas, pe-
los e fezes de animais
Pneumonia intersticial por hipersensibili-
dade (infiltração linfocitária, eosinofílica e 
neutrofílica na fase aguda e fibrose difusa 
na fase crônica)
Fonte: Adaptado de Brasil (2006)
Quadro 2 – Pneumoconioses, agentes causadores e processos anatomopatológicos subjacentes.
Homens e atenção à saúde no trabalho
 45  45 
UN2 Doenças e acidentes relacionados ao trabalho
exame radiológico do tórax, com vistas a 
possível identificação de pneumoconiose.
Figura 5 – Tosse e expectoração por três semanas ou mais
Fonte: Fotolia
Essa operacionalização de ações remete 
à necessidade de que as equipes de saú-
de estejam atentas e ampliem sua visão 
para as relações sociais de produção, que 
envolvem a família, incluindo a vocação 
econômica da região ou município, os 
processos de trabalho relacionados ao 
núcleo familiar, ao trabalho formal e in-
formal, identificando os potenciais fato-
res de riscos existentes e notificando os 
casos de doenças profissionais que apa-
recerem nos serviços de saúde (BRASIL, 
2006). Essa prática contribuirá, sobrema-
neira, para qualificar o reconhecimento 
dos agravos em saúde do trabalhador de 
forma geral, ampliando também as ações 
da vigilância em saúde.
Atividades de trabalho que expõem os tra-
balhadores ao risco de inalação de poeiras 
causadoras de pneumoconioses são rela-
cionadas a diversos ramos de atividades, 
como mineração e transformação de mine-
rais em geral, metalurgia, cerâmica, vidros, 
construção civil (fabricação de materiais 
construtivos e operações de construção), 
agricultura e indústria da madeira (poeiras 
orgânicas), entre outros.
Além das pneumoconioses, outros exem-
plos de doenças profissionais incluem a 
leucopenia ocupacional, causada pela ex-
posição ao benzeno e comum em traba-
lhadores da indústria petroquímica e de 
refino de petróleo, o saturnismo, causado 
pela exposição ao mercúrio e comum nos 
garimpeiros, e o plumbismo, causado pela 
exposição ao chumbo e comum nos traba-
lhadores de fábricas ou de reconstituição 
de baterias automotivas.
2.2 Doenças no trabalho
As doenças do trabalho são aquelas pro-
duzidas ou desencadeadas em função das 
condições especiais em que a atividade de 
trabalho é realizada, podendo também se-
rem determinadas pelas condições ambien-
tais de trabalho. Exemplos de doenças do 
trabalho são as Lesões por Esforço Repe-
titivo ou Distúrbios Osteomusculares Rela-
cionadas ao Trabalho (LER/DORT), que em 
Homens e atenção à saúde no trabalho
 46  46 
UN2 Doenças e acidentes relacionados ao trabalho
linhas gerais são caracterizadas como ex-
pressões de desgaste das estruturas do sis-
tema musculoesquelético, como as tendini-
tes, tenossinovites, bursites e a síndrome do 
túnel do carpo. Sobre as LER/DORT, Salim 
(2003, p. 11), traz uma importante reflexão:
Abstraindo-nos de uma análise sobre as 
suas manifestações clínicas, pontua-se, 
no entanto, que, embora não sejam do-
enças recentes, as LER/DORT vêm, sem 
dúvida, assumindo um caráter epidêmi-
co, sendo algumas de suas patologias 
crônicas e recidivas, ou seja, de terapia 
difícil, porque se renovam precocemente 
quando da simples retomada dos movi-
mentos repetitivos, gerando uma inca-
pacidade para a vida que não se resume 
apenas ao ambiente de trabalho.
A teoria tradicional da segurança do trabalho 
afirma que as doenças do trabalho estão re-
lacionadas à exposição do homem trabalha-
dor aos riscos químicos, físicos, ergonômi-
cos e biológicos (abordados da Unidade 1), 
quando as medidas de controle e proteção 
individual ou coletiva não são adotadas de 
maneira eficaz (por exemplo, pelo não uso 
dos equipamentos de proteção individual 
– EPI). Em última análise, este argumento 
depositaria sobre o homem trabalhador a 
responsabilidade pelo controle sobre o sur-
gimento da doença, uma vez que a ele seria 
atribuída a obrigação de seguir a risca os 
procedimentos de segurança e a fazer uso 
correto dos equipamentos de proteção indi-
vidual disponibilizados pelo empregador.
É importante perceber que essa abordagem, 
embora útil para o estabelecimento de re-
gras de segurança nos ambientes de traba-
lho, não dá conta de circunscrever o universo 
de possibilidades relacionadas ao aconteci-
mento da doença. Conforme já estudamos 
na Unidade 1, esta abordagem não dá conta 
porque a doença do trabalho, mais do que a 
resultante da simples infringência às normas 
de segurança, tem na sua origem também os 
“aspectos invisíveis” do trabalho: as metas, o 
ritmo intenso, a organização das jornadas, a 
pressão pela produtividade, os conflitos hori-
zontais (entre colegas de trabalho) e verticais 
(superiores e subordinados), a necessida-
de de duplas ou triplas jornadas, e isso para 
exemplificarmos apenas alguns aspectos.
Figura 6 – Uso do EPI
Fonte: Fotolia.
Algumas doenças do trabalho são silen-
ciosas, de latência relativamente longa e 

Homens e atenção à saúde no trabalho
 47  47 
UN2 Doenças e acidentes relacionados ao trabalho
os sintomas aparecem somente depois de 
alguns anos de exposição do trabalhador 
aos fatores de risco ou às condições orga-
nizacionais em que o trabalho

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